O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 11 de junho de 2022

Academia.edu: trabalhos mais acessados nos últimos 30 dias - Paulo Roberto de Almeida

 Trabalhos mais acessados de Paulo Roberto de Almeida na plataforma Academia.edu, no período de 12/05/2002 a 11/06/2022

(apenas acima do limite de 10 acessos, num total de 1890 vistos e 969 downloads)

 

Title

30 Day Downloads

All-Time Views

All-Time Downloads

043) A globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo (2004)

23

383

157

Marxismo e Socialismo (2019)

18

2,275

972

O Itamaraty na Cultura Brasileira (2001)

16

484

141

O Estudo das Relacoes internacionais do Brasil: um dialogo entre a diplomacia e a academia (2006)

16

464

279

047) O Brasil e o processo de formação de blocos econômicos: conceito e história, com aplicação aos casos do Mercosul e da Alca (2005)

16

325

207

1820) Mercosul e América do Sul na visão estratégica brasileira: revisão histórica e perspectivas para o futuro

15

1,584

160

530) Brasil e OCDE: uma interacao necessaria - tese CAE (1996)

14

1,792

254

Miseria da diplomacia: a destruicao da inteligencia no Itamaraty (Ed. UFRR, 2019)

12

881

388

Política externa brasileira em debate: dimensoes e estratégias de inserçao internacional no pós-crise de 2008

12

827

471

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

12

4,872

357

O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia (2022)

11

74

32

O estudo das relacoes internacionais do Brasil (1999)

11

452

284

14) O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (2006)

11

1,855

671

2723) Produção intelectual sobre relações internacionais e política externa do Brasil (1954-2-14)

10

1,195

247

012) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (1999)

10

2,010

178

 

Compilado por Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de junho de 2022

 

Assédio Institucional no Brasil: Avanço do Autoritarismo e Desconstrução do Estado - livro; capitulo PRAlmeida

 


4051. “Assédio institucional no Itamaraty: breve abordagem e depoimento pessoal”, Publicado in: José Celso Cardoso Jr., Frederico A. Barbosa da Silva, Monique Florencio de Aguiar, Tatiana Lemos Sandim (orgs.), Assédio Institucional do Brasil: Avanço do Autoritarismo e Desconstrução do Estado. Brasília: Afipea; João Pessoa: Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2022, capítulo 9, p. 389-427 (livro disponível no link: https://afipeasindical.org.br/content/uploads/2022/05/Assedio-Institucional-no-Brasil-Afipea-Edupb.pdf). Relação de Publicados n. 1448.


Meu próximo Kindle, sobre a miragem do Brics, já tem capa definitiva - Paulo Roberto de Almeida

 

A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira


Índice

 

Prefácio: Brics: uma ideia em busca de algum conteúdo

1. O papel dos Brics na economia mundial

O Bric e os Brics

A Rússia, um “animal menos igual que os outros”

A China e a Índia

E o Brasil nesse processo?

 

2. A fascinação exercida pelo Brics nos meios acadêmicos

Esse obscuro objeto de curiosidade

O Brasil, como fica no retrato?

Russia e China: do comunismo a um capitalismo especial

O fascínio é justificado?

O que os Brics podem oferecer ao mundo?

 

3. Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil

Introdução: a caminho da Briclândia

Radiografia dos Brics

Ficha corrida dos personagens

De onde vieram, para onde vão?

New kids in the block

Políticas domésticas

Políticas econômicas externas

Impacto dos Brics na economia mundial

Impacto da economia mundial sobre os Brics

Consequências geoestratégicas

O Brasil e os Brics

Alguma conclusão preventiva?

 

4. A democracia nos Brics

A democracia é um critério universal?

Como se situam os Brics do ponto de vista do critério democrático?

Alguma chance de o critério democrático ser adotado no âmbito dos Brics?

 

5. Sobre a morte do G8 e a ascensão do Brics

Sobre um funeral anunciado

Qualificando o debate

O que define o G7, e deveria definir também o Brics e o G20

Quais as funções do G7, que deveriam, também, ser cumpridas pelo G20?

 

6. O Bric e a substituição de hegemonias

Introdução: por que o Bric e apenas o Bric?

Bric: uma nova categoria conceitual ou apenas um acrônimo apelativo?

O Bric na ordem global: um papel relevante, ou apenas uma instância formal?

O Bric e a economia política da nova ordem mundial: contrastes e confrontos

Grandezas e misérias da substituição hegemônica: lições da História

Conclusão: um acrônimo talvez invertido

 

7. Os Brics na crise econômica mundial de 2008-2009

Existe um papel para os Brics na crise econômica?

Os Brics podem sustentar uma recuperação financeira europeia?

A ascensão dos Brics tornaria o mundo mais multipolar e democrático?

 

8. O futuro econômico do Brics e dos Brics

Das distinções necessárias

O Brics representa uma proposta alternativa à ordem mundial do G7?

O que teriam os Brics a oferecer de melhor para uma nova ordem mundial?

O futuro econômico do Brics (se existe um...)

Existe algum legado a ser deixado pelo Brics?

 

9. O Brasil no Brics: a dialética de uma ambição

O Brasil e os principais componentes de sua geoeconomia elementar

Potencial e limitações da economia brasileira no contexto internacional

A emergência econômica e a presença política internacional do Brasil

A política externa brasileira e sua atuação no âmbito do Brics

O que busca o Brasil nos Brics? O que deveria, talvez, buscar?

 

10. O lugar dos Brics na agenda externa do Brasil

Uma sigla inventada por um economista de finanças

Um novo animal no cenário diplomático mundial

Existe um papel para o Brics na atual configuração de poder?

Vínculos e efeitos futuros: um exercício especulativo

 

11. Contra as parcerias estratégicas: um relatório de minoria

Introdução: o que é um relatório de minoria?

O que é estratégico numa parceria?

Quando o estratégico vira simplesmente tático

Parcerias são sempre assimétricas, estrategicamente desiguais

A experiência brasileira de parcerias: formuladas ex-ante

A proliferação e o abuso de uma relação não assumida

 

Posfácio: O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia


Indicações bibliográficas

Nota sobre o autor


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Putin se compara a Pedro, o Grande, e fala em 'devolver' territórios à Rússia - Estadão

Putin pretende se basear na história para apoiar suas pretensões a territórios vizinhos. Ele acha que pode se igualar a Pedro o Grande. Pode terminar como Nicolau II. Em todo caso, ele se engana redondamente sobre a Ucrânia, predecessora da Rússia em termos históricos.

Vou postar algo a respeito.

Paulo Roberto de Almeida


Putin se compara a Pedro, o Grande, e fala em 'devolver' territórios à Rússia

Estadão, 10/06/2022 | 10:12

 

O presidente russo, Vladimir Putin, comparou-se ao czar Pedro, o Grande, na quinta-feira, 9, tentando relacionar o passado imperial da Rússia à atual campanha militar na Ucrânia. "Pedro, o Grande, travou a Grande Guerra do Norte por 21 anos. Parece que ele estava em guerra com a Suécia, que ele tirou algo deles. Ele não tirou nada deles, ele recuperou (o que era da Rússia)", declarou Putin após visitar uma exposição dedicada aos 350 anos do czar.

"Aparentemente, também coube a nós devolver (o que é da Rússia) e fortalecer (o país). E se partirmos do fato de que esses valores básicos formam a base de nossa existência, certamente conseguiremos resolver os objetivos que enfrentamos", completou Putin em um comentário televisionado.

Em resposta, um conselheiro sênior do presidente ucraniano Volodmir Zelenski rejeitou o que chamou de tentativa de justificar a invasão e tomada do território.

"O Ocidente deve traçar uma linha vermelha clara para que o Kremlin entenda o preço de cada próximo passo sangrento... vamos libertar brutalmente nossos territórios", disse Mikhailo Podoliak.

Putin é natural de São Petersburgo, cidade que leva o nome do czar. Pedro expandiu os contornos da Rússia, transformando o país em um império e se declarando imperador. Na virada do século 18, ele lançou a Grande Guerra do Norte, um conflito de mais de duas décadas com o Império Sueco que terminou com a tomada da Rússia de uma faixa do Báltico.

O czar, cujo legado é amplamente popular entre o público russo, é o modelo de líder autocrático que Putin há muito aspira ser, disse Kyle Wilson, que serviu como diplomata australiano na União Soviética.

Putin deixou claro que está "revivendo o sonho imperial russo", disse Wilson. "E o homem que fez da Rússia um império foi Pedro, o Grande."

Nos últimos anos, as menções de Putin sobre a história da Rússia aumentou cada vez mais em suas aparições públicas. Em abril de 2020, quando a Rússia entrou em seu primeiro lockdown pela covid-19, ele comparou a pandemia às invasões nômades turcas do século IX da Rússia medieval.

Em julho de 2021, o Kremlin publicou um longo ensaio de Putin em que o presidente argumentou que a Rússia e a Ucrânia eram uma nação, dividida artificialmente. Ele lançou as bases para o envio de tropas para a Ucrânia.

No período que antecedeu o que a Rússia chama de "operação militar especial", Putin culpou Lenin, o fundador da União Soviética, por criar a Ucrânia no que disse ser um território historicamente russo. 

Em contrapartida, ele elogiou Josef Stalin por criar "um estado fortemente centralizado e absolutamente unitário", mesmo reconhecendo o histórico de repressão "totalitária" do ditador soviético.


https://www.dgabc.com.br/Noticia/3869932/putin-se-compara-a-pedro-o-grande-e-fala-em-devolver-territorios-a-russia

 

Pequena observação sobre a miséria da política no Brasil - Paulo Roberto De Almeida

Em abril postei o seguinte: 

"quinta-feira, 7 de abril de 2022

Pequena observação sobre a miséria da política no Brasil

Paulo Roberto de Almeida 

Parte da bizarra 3a via (sem Ciro Gomes) promete marchar unida no 1o turno, mas isso foi feito em um simples conchavo de caciques partidários, num acordo SEM QUALQUER PROGRAMA, SEM IDEIAS OU PROPOSTAS, apenas com base em “pesquisas eleitorais”. 

É uma confissão indireta da FALÊNCIA TOTAL da política e dos partidos na nossa “democracia” de baixíssima qualidade.

Os caciques não se deram sequer ao trabalho — certamente muito difícil para homens que só manipulam os indecorosos fundos Partidário e Eleitoral — de elaborar as bases mínimas de uma plataforma de campanha VOLTADA PARA O BRASIL!

Eles só pensam na conquista da máquina do Estado, o principal instrumento do estamento político para à continuidade do patrimonialismo predatório no qual se converteu o sistema político-partidário do Brasil: programa? Para que programa?

Isso é totalmente dispensável e talvez até inútil, para esses fraudadores da democracia e da própria dignidade pessoal.

O candidato, se houver, dessa vergonhosa “3a via” não será definido ao cabo de laboriosas discussões programáticas, pelas quais se poderá (ou se poderia) chegar a uma plataforma de campanha eleitoral e a um PROGRAMA DE GOVERNO PARA O BRASIL! 

NÃO! Isso não existe para esses caciques pilantras: o Brasil não lhes importa o minimo!

Eles sequer se darão o trabalho de discutir princípios, valores, programas e propostas de governo. Nada disso importa.

O candidato será “escolhido” para eles pelas consultas eleitorais conduzidas por institutos de pesquisas, algumas delas possivelmente manipuladas e distorcidas!

Isso é a FALÊNCIA da democracia no Brasil.

Nunca esperei que chegássemos a esse descalabro completo dos valores da democracia!

Paulo Roberto de Almeida

Porto Alegre, 7/04/2022 "


Em 10 de junho continuo pensando o mesmo.


quinta-feira, 9 de junho de 2022

Guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: entrevista com presidente Volodimyr Zelensky (Financial Times)

Roula Khalaf, Editor 
June 9, 2022

Eleições 2022: Bolsonaro abandonou o Brasil à fome - Editorial Estadão

 O Brasil foi abandonado

Bolsonaro e seus sócios do Centrão largaram o País à própria sorte para cuidar de seus interesses eleitorais. Resultado: 33 milhões de brasileiros com fome

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo 

09 de junho de 2022 | 03h00 

O País voltou a ser assombrado pelo espectro da fome em uma escala que não se via desde a década de 1990. De acordo com os dados do 2.º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, divulgados ontem, são 33,1 milhões de brasileiros que dormem e acordam todos os dias sabendo que não terão o que comer. Além desse inacreditável contingente de nossos concidadãos vivendo em condições sub-humanas, equivalente às populações da Bélgica, de Portugal e da Suécia somadas, mais da metade da população brasileira (58,7%) está submetida a algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave). 

Aí está a dimensão do retrocesso patrocinado por um dos piores presidentes da história brasileira. O nome de Jair Bolsonaro estará indelevelmente ligado à degradação da dignidade de milhões de seus governados, seja por sua comprovada incapacidade moral e administrativa para o cargo, seja por sua notória aversão ao trabalho. A fome já seria inadmissível mesmo que fosse algo localizado; sendo verificada em larga escala, mesmo em um país em que há fartura de alimentos, trata-se de uma atrocidade. 

Bolsonaro e seus sócios do Centrão no Congresso abandonaram o País à própria sorte porque não estão interessados no bem-estar dos brasileiros a não ser na exata medida de seus objetivos eleitoreiros. Por essa razão, há profunda desconexão entre as prioridades da atual cúpula do Estado e as da esmagadora maioria dos cidadãos – a começar pela mais primária delas, a de fazer três refeições por dia. 

Um governo que fosse digno do nome, com apoio de um Legislativo igualmente cioso das necessidades mais prementes daqueles a quem cumpre representar, estaria empenhado dia e noite em garantir o bem-estar de seus governados antes de qualquer coisa, proporcionando-lhes as condições mínimas para uma vida digna por meio de políticas públicas responsáveis, bem elaboradas e implementadas. Mas não é isso o que acontece.  

Desde que assumiu o cargo, Bolsonaro só tem olhos para a reeleição. Nunca governou de fato o País nem jamais demonstrou interesse em fazê-lo. Populista, toma decisões sempre de supetão e sem qualquer planejamento, para responder a questões imediatas, deixando para depois ou simplesmente ignorando problemas de longo prazo. Assim chegamos à fome. 

Os presidentes das duas Casas Legislativas, por sua vez, também parecem estar mais preocupados com a recondução aos cargos na próxima legislatura do que em aliviar o padecimento real da população. Só isso explica a chancela às teses estapafúrdias de Bolsonaro, como essa obsessão em torno dos combustíveis, como se a causa raiz para o aumento do número de brasileiros passando fome do ano passado para cá (mais 14 milhões de pessoas) fosse o preço do litro do diesel e da gasolina. 

A fome que dói nesses tantos milhões de brasileiros não decorre diretamente da pandemia de covid-19, da delinquência de Vladimir Putin ao invadir a Ucrânia nem da alta dos preços dos combustíveis. A fome é o resultado mais perverso da acefalia governamental do País há quase quatro anos. É corolário desse arranjo macabro engendrado por um presidente da República extremamente fraco que, para não ser ejetado do poder, se viu obrigado a vender sua permanência no cargo a oportunistas no Congresso, franqueando-lhes nada menos que o controle sobre parte do Orçamento sem a necessidade de prestar contas. 

A pusilanimidade do presidente da República, portanto, explica muita coisa. Mas, em defesa de Bolsonaro, é bom dizer não se teria chegado ao atual estado de coisas inconstitucional sem a colaboração decisiva de parte considerável da classe política, que ignora o que vem a ser interesse público.  

Conforme a Constituição, a “dignidade da pessoa humana” é fundamento da República Federativa do Brasil (artigo 1.º, III), e um dos objetivos dessa República é “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (artigo 3.º, III). Além disso, o artigo 6.º cita a “alimentação” como um dos direitos sociais. Para o consórcio político que sustenta o bolsonarismo, essas determinações são letra morta. 


Desaparecimento de jornalista e indigenista expõe ao mundo a política destrutiva de Bolsonaro

 Quando desemarcar em Los Angeles, todos vão querer saber o que está acontecendo com os indígenas brasileiros, e com a própria floredta.

 

The New York Times – 9.6.2022

Threats, Then Guns: A Journalist and an Expert Vanish in the Amazon

Dom Phillips, a British journalist, and Bruno Pereira, a Brazilian expert on Indigenous groups, have not been seen since Sunday. They faced threats before they disappeared.

Jack Nicas, Ana Ionova and André Spigariol

 

Rio de Janeiro -  The Javari Valley in the Amazon rainforest is one of the most isolated places on the planet. It is a densely forested Indigenous reserve the size of Maine where there are virtually no roads, trips can take a week by boat and at least 19 Indigenous groups are believed to still live without outside contact.

The reserve is also plagued by illegal fishing, hunting and mining, a problem exacerbated by government budget cuts under President Jair Bolsonaro. Now local Indigenous people have started formally patrolling the forest and rivers themselves, and the men who exploit the land for a living have responded with increasingly dire threats.

That tension was the kind of story that has long attracted Dom Phillips, a British journalist in Brazil for the past 15 years, most recently as a regular contributor to The Guardian. Last week, Mr. Phillips arrived in the Javari Valley to interview the Indigenous patrols for a book. He was accompanied by Bruno Araújo Pereira, an expert on Indigenous groups who had recently taken leave from the Brazilian government in order to aid the patrols.

About 6 a.m. Saturday, the two men were with a patrol, stopped along a snaking river, when another boat approached, according to officials at Univaja, a Javari Valley Indigenous association that helps organize the patrols. The approaching vessel carried three men known to be illegal fishermen, Univaja said, and as it passed, the men showed the patrol boat their guns. It was the kind of threat that Univaja had been recently reporting to authorities.

The following morning, Mr. Phillips, 57, and Mr. Pereira, 41, began their journey home, traveling on the Itaquí River in a new boat with a 40-horsepower engine and enough fuel for the trip. They were scheduled to arrive in Atalaia do Norte, a small city on the border with Peru, at about 8 a.m. Sunday.

The men and their boat have not been seen since.

Over the past three days, various search crews, from Indigenous groups to the Brazilian Navy, have scoured the area; Brazilian politicians and celebrities have called for more action to find the men; and their disappearance has led the morning newspapers and nightly news across the country.

On Wednesday, state police officials said they were questioning a suspect and had seized a boat and illegal ammunition from him. Officials said the suspect’s green speedboat with a visible Nike symbol was seen traveling behind Mr. Phillips and Mr. Pereira’s boat Sunday morning.

The suspect was one of the fishermen who showed the patrol their guns on Saturday, according to Soraya Zaiden, an activist who helps lead Univaja, and Elieseo Marubo, Univaja’s legal director. They said the man had shot at a Univaja patrol boat months earlier.

“We will continue the search,” Ms. Zaiden said. “But we also know that something serious, very serious, may have happened.”

Mr. Phillips, who

 also wrote regularly for The New York Times in 2017, has dedicated much of his career to documenting the struggle between the people who want to protect the Amazon and those who want to exploit it. Mr. Pereira has spent years defending Indigenous groups under the resulting threat. Now fears are growing that their latest journey deep into the rainforest could end up as one of the grimmest illustrations of that conflict.

Univaja said that Mr. Pereira “has profound knowledge of the region,” and local officials said that if the men had gotten lost or faced mechanical issues, they likely would have already been found by search crews. Univaja said Mr. Pereira had faced threats in the region for years.

Violence has long been common in the Amazon, but it has largely been between locals. From 2009 through 2020, there were 139 killings of environmental activists and defenders in the Amazon, according to data compiled by a journalism project called Tierra de Resistentes. But hardly any of those attacks were against Brazilian government officials or journalists who were outsiders in the region.

In 2019, a Brazilian government worker was shot and killed in apparent retaliation for his work combating illegal activity in the Javari Valley.

The 1988 murder of Chico Mendes, Brazil’s most famous conservationist at the time, helped spark an environmental movement in the country to protect the Amazon. That movement has faced significant headwinds lately, particularly under Mr. Bolsonaro, who has vowed to open the Amazon to 

Deforestation has increased during his presidency, as his government has weakened many of the institutions designed to protect the forest.

On Tuesday, Mr. Bolsonaro said he prayed that Mr. Phillips and Mr. Pereira would be found. He also questioned their journey. “Two people in a boat, in a completely wild region like this, is an adventure that isn’t recommendable,” he said. “An accident could happen, they could have been executed, anything.”

Politics also cast a shadow over the government’s response, which many politicians, journalists and other public figures widely criticized as inadequate and slow.

Ms. Zaiden said that Univaja alerted federal authorities to the men’s disappearance midday Sunday. It then took a full day for Brazil’s Navy to send a search team, which consisted of a single boat, when an aircraft would have been far more effective and efficient for searching such a vast, remote area.

By Monday evening, the army said it was still awaiting authorization from the “upper echelons” of the Brazilian government to join the search, before eventually saying it was sending a team.

Alessandra Sampaio, Mr. Phillips’s wife, pleaded with authorities to intensify the search in a video posted online Tuesday morning.

“We still have some hope,” she said. “Even if we don’t find the love of my life alive, they have to be found, please. Intensify these searches.”

On Tuesday, the navy and army said they had deployed aircraft, as well as additional boats in the search. The Ministry of Defense said that the armed forces started assisting the search “as soon as the first information about the disappearance was released.” On Wednesday, a Brazilian judge ruled that the government had failed to protect the reserve and must use aircraft and boats to search for the missing men.

Mr. Phillips and Mr. Pereira knew each other well. In 2018, Mr. Phillips joined a 17-day journey led by Mr. Pereira deep into the Javari Valley — 590 miles by boat and 45 miles on foot — for a story about the Brazilian government’s search for signs of isolated Indigenous groups. “Wearing just shorts and flip-flop as he squats in the mud by a fire,” Mr. Phillips wrote in The Guardian, Mr. Pereira “cracks open the boiled skull of a monkey with a spoon and eats its brains for breakfast as he discusses policy.”

At the time, Mr. Pereira helped lead the government’s efforts to identify and protect such groups. After Mr. Bolsonaro became president in 2019, Mr. Pereira’s department faced cuts and shifting orders from the top, said Antenor Vaz, a former official in the department, stopping them from carrying out the expeditions once critical to protecting the reserve.

“It is a region that is extremely dangerous, especially since 2019 when the illegal actions of loggers, prospectors, fishermen and hunters surged,” Mr. Vaz said.

Mr. Pereira eventually took a leave from his post to help Indigenous groups in the Javari Valley fill the vacuum of enforcement. Those patrols have focused in part on documenting and reporting fishermen who illegally catch pirarucu, a freshwater fish that can weigh as much as 440 pounds and is considered endangered in Brazil.

As the Indigenous patrols organized by Univaja became a front line of enforcement in the Javari Valley, they began to face threats. In April, one man accosted several Univaja workers, telling one that if he didn’t stop reporting illegal activity, “he’d put a bullet in his face,” according to a police report that Univaja filed with local authorities.

Ms. Zaiden shared a letter Univaja received that threatened Mr. Pereira by name, accusing him of sending Indigenous people to “seize our engines and take our fish.” The letter added, “I’m just going to warn you once that if it continues like this, it will get worse for you.”

She said the organization had reported many of the threats to local authorities, asking for help. Marcelo Ramos, a congressman from the region, said that he had confirmed with federal authorities that the group had reported threats within the past week.

“We’ve been demanding action, but unfortunately there’s been no reaction,” Ms. Zaiden said. “Now our greatest fear is that this is the reason for Bruno and Dom’s disappearance.”


Editorial da FSP: o PT de sempre (programa econômico que afundou o Brasil)

 O PT perdeu o pelo, mas mantém os hábitos de lobo? Acho que não perdeu nem o pelo. E se tinham alguns neurônios, seus dirigentes provam que perderam todos ao criar o psicopata perverso com essas mesmas políticas que pretendem recriar.

Paulo Roberto de Almeida




100 dias de Guerra de Agressão da Rússia na Ucrânia: um pequeno depoimento - Paulo Roberto de Almeida (Instituto Montese)

Não sou, nunca fui, de me apresentar para falar sobre qualquer coisa para público indeterminado, Geralmente, no meu "natural reservoso" – como diria o coronel Ponciano de Azeredo Furtado, do genial "O Coronel e o Lobisomem", de José Candido de Carvalho –, prefiro ficar no meu canto de biblioteca, lendo, refletindo e escrevendo (nessa ordem), eventualmente dando aulas ou palestras também, quando me convidam, e depois publicando o que faço, se julgo adequado, apropriado e consistente. Não me convidei para falar neste evento: 

Mas, como insistiram em ter a minha opinião, eu a dei, mas não a tenho, pois foi gravada e será exibida na sexta-feira, 14hs, no Canal YouTube do Instituto Montese, um nome evocativo de uma das grandes batalhas da FEB na campanha da Itália.

Eventualmente, como sempre faço, para "aclarar as ideias" – alguns julgariam racista essa expressão –, eu também preparei um pequeno texto, que resume um pouco, mas muito pouco, do que penso sobre a maior tragédia do nosso tempo: um ditador sanguinário, genocida e criminoso de guerra tentando obliterar um povo e um país, pois que não obteve a sua submissão à sua tirania. Depois do fracasso dos primeiros dias da "operação militar especial" – na verdade, um campanha de extermínio –, Putin só tem três objetivos na sua guerra de agressão: destruir, matar, transformar a Ucrânia em Estado falido pelos próximos dez anos (na metade desse prazo a Ucrânia será admitida na UE, mas não precisa entrar na OTAN, nem é recomendável).

Meu texto, provisório, segue abaixo, para complementar o que eu terei falado nesse evento, gravado antecipadamente. Não vou recomendar que "divirtam-se", pois seria um escárnio na atual situação. 

Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas para exposição oral resumida no quadro do webinar do Instituto Montese sobre “100 dias de Guerra na Ucrânia”, dia 10 de junho, 14hs.

  

Agradeço o convite do Instituto Montese para manifestar minha opinião, na condição de simples cidadão brasileiro, e também professor, mas não como diplomata brasileiro, sobre os 100 dias do que foi chamado de “Guerra na Ucrânia”. Gostaria, antes de mais nada, de fazer uma observação terminológica e factual, e aqui vou ser extremamente objetivo quanto aos termos e o significado preciso dos conceitos: não existe uma “guerra na Ucrânia”, e sim uma guerra de agressão da Rússia, mais especificamente uma guerra de seu ditador, contra o governo, o povo e o território de um país soberano, a vizinha Ucrânia. A designação é essa, pois a isso nos leva uma leitura do Direito Internacional, que é o foco desta contribuição; não tenho nenhuma competência para me pronunciar sobre o lado militar da questão.

Que a “operação militar especial”, tal como designada enganosamente pelo ditador russo, seja, de fato, uma guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia está meridianamente claro, a partir de uma leitura dos artigos 1º e 2º da Carta das Nações Unidas, estabelecida em San Francisco, ao término do mais cruel e mortífero conflito global em toda a história da humanidade. Assim também decidiu, preliminarmente, o julgamento de 13 juízes da Corte Internacional de Justiça, em 17 de março de 2022, contra apenas dois – por acaso os da Rússia e da China –, ordenando expressamente que a Rússia interrompesse imediatamente a guerra contra a Ucrânia e cessasse completamente as operações bélicas no território do vizinho país. A CIJ não tem, obviamente, nenhum poder sobre o lado militar dessa guerra de agressão, que já completou 100 dias, pois mesmo para se pronunciar apenas sobre os aspectos de Direito Internacional a ela ligados, a Corte dependeria de resoluções do Conselho de Segurança. Apenas esta peculiaridade da conformação do processo decisório no âmbito das Nações Unidas explica que resoluções aprovadas com ampla maioria naquele Conselho ou na Assembleia Geral permaneçam letra morta, ainda que a condenação moral é muito clara.

O ditador russo não deslanchou apenas uma guerra de agressão contra o território ucraniano, um país soberano, como tal reconhecido pelas Nações Unidas desde quando ele foi desmembrado da finada União Soviética no início dos anos 1990. Putin, ao invadir a Ucrânia, sem qualquer provocação ou gesto belicoso desse país, não apenas violou a Carta da ONU, mas destruiu mais de quatro séculos de difícil construção de uma ordem internacional baseada na força do Direito, e não no direito da força. Ele começou violando os tratados de Westfália (1648), sobre o reconhecimento recíproco da soberania dos Estados nacionais, cada um possuindo o direito de estabelecer o seu próprio regime político e a sua religião. Também violou princípios implícitos decididos no Congresso de Viena (1815), sobre a legitimidade dos Estados nacionais e o reconhecimento de seus enviados diplomáticos, como canais de diálogo e de consulta entre dois ou mais soberanos. Ele violou o Tratado de Paris (1856), que estabeleceu a paz entre os contendores da primeira guerra da Crimeia, de 1853 a 1855. Da mesma forma, agiu contrariamente às decisões das negociações de paz de Paris (1919), que estabeleceu a Liga das Nações, com disposições relativamente similares às da Carta de San Francisco sobre a proibição das guerras de agressão. Se colocou frontalmente contrário aos poucos dispositivos do Pacto Briand-Kellog (1928), de renúncia à guerra e de recursos aos meios pacíficos de solução de conflitos, depois incorporados à Carta das Nações Unidas.

Ou seja, Putin é um violador serial dos principais instrumentos multilaterais que foram sendo acordados dentro do espírito e da letra do Direito Internacional nos últimos quatro séculos. Pelas suas ações, registradas e devidamente avaliadas por observadores da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional, Putin já incorreu nos mesmos crimes de que foram acusados os dirigentes civis e militares nazistas no Tribunal de Nuremberg, em 1946: crime contra a paz, crimes de guerra e contra a humanidade. Putin mereceria um Nuremberg só seu, mas sobre isto a História se pronunciará no futuro curso dos eventos. Não vou me estender mais sobre os aspectos multilaterais da questão, e sim tratar da relação entre o Brasil e o Direito Internacional, que me parece seriamente comprometida. 

O Brasil sempre demonstrou, até recentemente, uma adesão inquestionável aos valores e princípios do Direito Internacional, tal como foram sendo elaborados e acatados nos últimos duzentos anos pela sua diplomacia, ainda que nem sempre o país tenha sido um seguidor fiel de alguns de seus dispositivos. Por exemplo, o compromisso assumido no âmbito do Congresso de Viena, na condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarve, de fazer cessar o tráfico escravo, não foi traduzido na prática, como tampouco ocorreu, já como Estado independente, depois de assinar tratados bilaterais com a Grã-Bretanha prometendo fazê-lo em breves anos à frente. Mas, mesmo defendendo, até o Segundo Reinado, o nefando comércio, sua diplomacia, então guiada por Paulino Soares de Souza, argumentou de modo correto no plano jurídico, ao protestar contra o Bill Aberdeen, que equiparava o tráfico à pirataria, passível, portanto, de severa punição, indo até mesmo à pena de morte. Como escreveu em nota diplomática o Visconde do Uruguai, o tráfico não ameaçava o comércio internacional como a pirataria o fazia, e, de toda forma, não havia nenhum tratado internacional proibindo o horrível comércio de carne humana. Argumento bastante lamentável no plano moral, mas juridicamente correto.

O Brasil, por essa época, interferia nos assuntos internos do Uruguai, sob a justificativa de que do Uruguai partiam ataques contra o patrimônio de brasileiros em território nacional, num contexto de diferendos bem mais amplos com a Argentina de Rosas e com o Paraguai de Solano Lopes, que resultaram em duas guerras no espaço de duas décadas. Tampouco havia, a despeito do “espírito de Westfália”, um compromisso formal de não interferência nos assuntos internos de outros Estados, esporte ao qual se dedicavam todas as potências europeias da época. Desde a Guerra do Paraguai, e independentemente dos progressos feitos no terreno do Direito Internacional, assim como no âmbito de sua própria Constituição – a de 1891, por exemplo, proibiu terminantemente o recurso à guerra –, o Brasil se manteve integralmente fiel ao espírito e à letra dos instrumentos internacionais que foram sendo progressivamente incorporados aos edifícios hemisféricos e multilaterais dos dispositivos formais e informais regendo a ordem internacional. 

Os pilares dessa diplomacia nacional estritamente respeitadora da soberania nacional e de fiel cumprimento de instrumentos jurídicos internacionais foram impulsionados pela política externa do Segundo Reinado, consolidados pelos dois Rio Branco, pai e filho, e magnificamente sustentados por Rui Barbosa por ocasião da segunda conferência internacional da paz da Haia, em 1907; contrariando muitas vezes sozinho a arrogância das grandes potências, Rui Barbosa defendeu o princípio da igualdade soberana de todos os Estados, conceito que se converteu no eixo central do multilateralismo contemporâneo. O mesmo Rui Barbosa clarificou a observância da neutralidade em casos de guerra e procedeu a uma vigorosa tomada de posição em defesa do direito de neutralidade em situações de conflito, e sua violação, na famosa conferência feita em Buenos Aires, em 1916, doutrina sistematizada na obra Princípios Modernos do Direito Internacional, mais vulgarmente conhecida como Os Deveres dos Neutros

O Brasil, estritamente neutro, justamente, com respeito aos dois grandes conflitos globais da primeira metade do século XX, a Grande Guerra de 1914-18 e a Segunda Guerra, de 1939 a 1945, avançou para uma declaração formal de status bélico apenas quando foi covardemente atacado por forças marítimas do Império alemão e do Reich nazifascista, respectivamente. Participamos ativamente da construção da ordem econômica e política contemporânea, mesmo não concordando em San Francisco com o direito de veto que se atribuiu aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 

Mas, o Brasil e sua diplomacia começaram a falhar no acatamento aos princípios do Direito Internacional desde que aqui se inaugurou uma política externa partidária, quando da diplomacia lulopetista praticada de 2003 a 2016. O presidente Lula ignorou completamente dispositivos da Convenção de Viena de 1961, sobre relações diplomáticas, relativos à não interferência nos assuntos internos de outros Estados, aliás incorporados explicitamente ao artigo 4º da Constituição de 1988, junto com vários outros princípios, que correspondem às cláusulas mais importantes observadas nas relações internacionais contemporâneas, coincidentes com os grandes instrumentos multilaterais que regem as relações entre Estados soberanos. Lula violou sistematicamente tais dispositivos ao interferir em praticamente todas as disputas eleitorais em Estados vizinhos, apoiando candidatos pertencentes ao mesmo arco político-ideológico do seu partido. Mais grave ainda: quando da nacionalização dos recursos em hidrocarburos da Bolívia, em 1/05/2006, ela mesma uma violação grave de um tratado bilateral Brasil-Bolívia e de um acordo do governo boliviano com a Petrobras, mediante inclusive o uso da força pelo presidente Morales, a diplomacia de Lula – que pessoalmente deveria saber antecipadamente dessa iniciativa de seu companheiro de postura política, mas que provavelmente desconhecia o emprego do exército boliviano para ocupar as instalações da Petrobras – não apenas concordou com a expropriação, como soltou uma nota apoiando o gesto ilegal do governo do país vizinho. Militares nacionalistas poderiam eventualmente considerar tal postura como o equivalente de uma traição à pátria. De forma geral, a diplomacia partidária tendeu a favorecer aliados políticos, na região e fora dela, mesmo em detrimento dos interesses nacionais, em alguns casos implicando e violação de acordos bilaterais (no caso de Itaipu) ou regionais (no caso do ingresso da Venezuela no Mercosul).

Outro episódio grave, ainda no plano do direito internacional, ocorreu quando da invasão do território ucraniano em 2014, sob as ordens do mesmo Putin, e a anexação ilegal da península da Crimeia: a diplomacia lulopetista, então sob comando da presidente Dilma Rousseff, não emitiu sequer um comunicado condenando a grave violação da soberania da Ucrânia, o que tampouco ocorreu quando da derrubada de um avião da Malásia sobrevoando a região da Ucrânia oriental, já em conflito justamente devido à ocupação ilegal daquele setor por forças russas não devidamente identificadas. Optou-se por uma postura totalmente inerte no plano da política externa e da diplomacia brasileira, contrastando com a obrigação pelo menos moral de defesa do direito internacional e dos princípios da Carta da ONU, num momento em que diversos países ocidentais protestavam vigorosamente contra a invasão e introduziam sanções contra a Rússia. A presidente Dilma se manifestou apenas quando cobrada pela imprensa, dizendo que o Brasil não se envolveria (sic) em assuntos de outros países, como se fosse esse o problema no caso. Uma provável razão pela inação vergonhosa do ponto de vista dos princípios sempre defendidos pela diplomacia profissional pode ter sido a parceria entre o Brasil e a Rússia no âmbito do Brics, uma construção claramente artificial, e totalmente política, entre quatro, depois cinco, países sem grandes convergências no plano da política internacional.

O caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, desde 24 de fevereiro de 2022, depois que o ditador russo passou semanas denegando a invasão, é infinitamente mais grave, ainda que o Brasil tenha supostamente aderido às resoluções votadas na ONU – no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral – e no seu Conselho de Direitos Humanos, condenando a Rússia pelos atos cometidos desde então, mas com explicações de voto que traduzem claramente a decisão do chefe de Estado brasileiro de evitar acusar diretamente a Rússia pelas transgressões bárbaras perpetradas em território ucraniano. Sem adentrar nas minúcias da Carta da ONU, dos grandes princípios do Direito Internacional, assim como dos protocolos existentes sobre as leis de guerra, cabe registrar apenas algumas observações sobre a postura política do Brasil, não apenas no tocante às resoluções votadas no âmbito da ONU e do Conselho de Direitos Humanos, mas refletindo igualmente a atitude geral das autoridades políticas brasileiras com respeito ao posicionamento geral em relação à guerra de agressão.

É notoriamente conhecido que o Brasil, como país e como diplomacia, se encontra atualmente singularmente isolado no plano internacional, aliás desde o início de 2019, tendo em vista, basicamente, a postura, digamos heterodoxa, do chefe de Estado e de governo no seu relacionamento externo, tanto regional, quanto internacional ou multilateral. Tal situação de isolamento internacional decorreu das políticas domésticas do governo Bolsonaro, notadamente no domínio ambiental, mas também por repetidos ataques às instituições – Congresso e Suprema Corte) –, aos meios de comunicação, às organizações da sociedade civil (não governamentais) das áreas de defesa do meio ambiente, dos direitos indígenas, de ação social em geral. Ademais, o chefe de Estado hostilizou parceiros estrangeiros, com destaque para os líderes europeus, o presidente peronista da Argentina e dirigentes tidos de esquerda de maneira geral. De forma bastante evidente buscou relações unicamente com colegas de direita ou extrema-direita, além de prestar submissão ao anterior presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

Foi nessa situação de extremo isolamento que o presidente buscou realizar uma visita de trabalho a um dos poucos líderes mundiais que poderia recebê-lo, o presidente da Rússia, provavelmente já antecipando conquistar um aliado para o que já pretendia fazer poucos meses à frente. Quando se decidiu tal viagem bilateral, entre os dois chanceleres, Serguei Lavrov e Carlos França, no início do último trimestre de 2021, não estavam claros, ainda, os preparativos para a planejada ofensiva russa contra o país vizinho, o que foi feito por meio da acumulação de tropas russas na fronteira comum nos últimos dois meses daquele ano. Ao tomar conhecimento desse planejamento, a chancelaria brasileira recomendou que o presidente adiasse ou cancelasse a viagem, o que ele se recusou a fazer, mesmo com manifestações de alerta vindas do próprio presidente americano, Joe Biden (a partir de dados da inteligência dos EUA). A visita, ocasião na qual o presidente brasileiro declarou sua “solidariedade” ao presidente russo e justificada pela necessidade de importação de fertilizantes russos, foi feita oito dias antes de efetivada a invasão, que foi até minimizada pelo presidente.

Independentemente de palavras e gestos do presidente, a postura oficial do Brasil que vale para fins de política externa e de legitimação junto à comunidade internacional são as declarações feitas junto às Nações Unidas, cujos órgãos principais, o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral, se ocuparam da questão da Ucrânia nas semanas seguintes à guerra de agressão da Rússia. Não cabe aqui reproduzir a íntegra das declarações da delegação do Brasil em Nova York e em Genebra (Conselho de Direitos Humanos), todas eles disponíveis no site do Itamaraty, ou a partir dos registros da ONU. O que cabe é sinalizar pormenores dessas declarações que revelam, se preciso fosse, o contorcionismo verbal da diplomacia profissional para evitar de responsabilizar claramente a Rússia pela guerra de agressão. Podem ser destacados quatro elementos nessas declarações que tornam evidente a postura do chefe de Estado no sentido de continuar apoiando objetivamente a postura de Putin. 

Em primeiro lugar, sem condenar explicitamente a violação flagrante da Carta da ONU, a delegação brasileira instou as partes à “cessação de hostilidades”, como se estas fossem recíprocas, ou seja, uma guerra empreendida por decisão de ambas as partes, e não uma guerra unilateral sem qualquer provocação da parte agredida e invadida. Em segundo lugar, a delegação também pediu negociações entre elas, tendo em vista as “preocupações de segurança das partes”, como se a Ucrânia tivesse ameaçado, em algum momento, a segurança da Rússia. Em terceiro lugar, mesmo votando pela condenação da Rússia na Assembleia Geral – uma votação de toda forma inoperante, dado uso abusivo do poder de veto em defesa do próprio transgressor da Carta da ONU –, a delegação brasileira se opôs terminantemente à imposição de sanções contra a Rússia, a pretexto de que qualquer punição agravaria a situação econômica no mundo inteiro, o que significa, implicitamente, que o agressor pode se safar impune das ilegalidades e crimes perpetrados. Em quarto e último lugar, a delegação também se pronunciou contrariamente ao fornecimento de armas à Ucrânia, a pretexto de não provocar maior número de vítimas, o que se traduz num simples “convite” a que um governo soberano renuncie à defesa do seu povo e território. 

Os quatro posicionamentos da delegação brasileira não são a rigor, ilegais, do ponto de vista do Direito Internacional, mas são altamente hipócritas, tendo em vista a acumulação de crimes de guerra e até, possivelmente, crimes contra a humanidade, perpetrados pelas tropas russas de ocupação. A hipocrisia puramente política – não teoricamente contrária ao direito internacional – se estende inclusive à oposição do Brasil à imposição de sanções à Rússia, a pretexto de que elas seriam “unilaterais”, e não aprovadas pelo CSNU, como se este pudesse fazê-lo não obstante o veto russo a qualquer medida contrária a seus interesses. No que concerne as sanções, cabe registrar que elas se conformam inteiramente ao espírito e à letra dos artigos 41 e 42 da Carta da ONU, que regulam tal faculdade. Ou seja, os países estão apenas aplicando as medidas previstas na Carta de San Francisco, numa situação em que – da mesma forma como ocorre nas cortes quando juízes se declaram impedidos de atuar em casos nos quais eles possam incorrer em qualquer conflito de interesse – o veto da Rússia não poderia ser aplicado em seu próprio favor, dado o fato de que ela é a parte agressora, aquela que violou as disposições mais relevantes do instrumento máximo do Direito Internacional. 

Ao se conformarem os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, neste dia 4 de junho de 2022, a diplomacia brasileira apresenta, por nítida pressão da presidência, um triste quadro de contorcionismo verbal e subterfúgios retóricos para evitar de se colocar, como geralmente fez ao longo de sua história de dois séculos, sob o espírito e a guarda de sagrados princípios do Direito Internacional, e até mais do que isso, da moralidade. A restauração da credibilidade e da legitimidade da diplomacia brasileira terá de aguardar a própria reconstrução de uma política externa coerente e condizente com as próprias cláusulas de relações internacionais que figuram no Artigo 4º de sua Constituição e que integram o seu patrimônio histórico de conformidade ao Direito Internacional em todas as circunstâncias.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4165: 3 junho 2022, 7 p.