Across the Empire (15): Adieu Vancouver
(mas
prometemos voltar)
Paulo Roberto de Almeida
Hoje (ou melhor, ontem) foi um dia de passeios aos extremos (não do
Canadá, mas nas cercanias). De manhã saímos do West End de Vancouver, exatamente
da English Bay Beach, atravessamos a ponte em direção ao norte, e fomos pela
Marine Drive até North Vancouver, e daí a West Vancouver, num ancoradouro
chamado Horseshoe Bay, onde almoçamos.
Carmen Lícia me fez uma foto e eu
uma dela, mas valeu mesmo pelo lugar aprazível de veraneio dos canadenses
(inclusive quebecois, e vários americanos) e pelo patê de lagosta que comprei
nessa lojinha em frente à qual Carmen Lícia está fotografada.
Tomei um
expresso, e comprei um Lobster Paté (paté de homard, como explicam os
politicamente corretos canadenses da Sea Change Seafoods), que degustei
inteiramente sozinho (Carmen Lícia não quis, a despeito de meus oferecimentos),
noite adentro, com torradas e a meia garrafa de Valpolicella que tinha sobrado
de ontem (ainda estou acordado apesar disso).
De tarde, invertemos o itinerário, e fomos até o ponto extremo mais a
oeste que nos foi dado chegar nesta viagem, onde está a Universidade de British
Columbia, um lugar aprazível, entre os bosques. Diferente das universidades
americanas, onde o álcool e tabaco são banidos, lá pudemos tomar vinho e
cerveja, acompanhando um prato de queijos (um que não soubemos identificar, mas
que parecia um dos vidros do Dale Chihuly).
Antes tínhamos passado no Stanley
Park (aliás, o nome da cerveja tipo belga, amber, que escolhi tomar), onde fomos visitar os totens indígenas feitos especialmente para sua
inauguração, algumas décadas atrás. Não sou muito de fetichismos (em todo caso
não no sentido marxiano), mas conheço a minha antropologia, e logo me lembrei
dos escritos de Marcel Mauss sobre o potlacht dos índios canadenses, um
oferecimento ritual que os marxistas adoram, pois vai no sentido
anticapitalista da coisa, se é que vocês me entendem. Enfim, não vou explicar
agora (pois o vinho está fazendo efeito: quem não sabe, procure ler Marcel
Mauss).
Antes de voltar ao hotel, ainda passamos em vários outros lugares, como
um pequeno promontório onde havia um museu (já fechado), um planetário, e umas
tendas sendo preparadas para o Festival Shakespeare da cidade (não estaremos
mais aqui para degustar o bardo, que eu acho genial, mesmo se nunca o li no
original, apenas resumos e transcrições curtas, mas eu sempre o considerei o
Maquiavel da dramaturgia).
Vancouver foi o ponto alto desta viagem (so far), e certamente uma das
melhores cidades do mundo para se viver, mas é verdade que só estivemos aqui no
final do verão (mas dizem que tem um microclima especial, o que a torna menos
inclemente do que as outras cidades canadenses, com menos 40, na média). A
cidade é excelente, em todos os aspectos, para todos os gostos, mas não vi
muitas livrarias, e nem frequentei bibliotecas, que para mim são dois critérios
absolutos de civilização (junto com duchas decentes, não esquecendo). O hotel
em que ficamos, English Bay Hotel, é modesto para os padrões a que estamos
habituados, mas foi excelente sob todos os aspectos: na verdade, devia ser um
antigo edifício de apartamentos (e estamos em um, de quatro peças, como disse),
que foi transformado em hotel pelos chineses (ou seja lá quem for, mas é
administrado por chineses). Tudo quase perfeito, com ampla cozinha e dois
quartos, bem numa esquina de comércio, e garagem segura. Com a praia do lado.
Eu que não sou de praia, nem de natureza, apreciei, ainda assim, a
natureza do Canadá: bem comportada, bem recortada, entretida, pintada de verde
e sem mosquitos. Carmen Lícia aparece nesta foto do Rose Garden da British
Columbia University, onde fomos em busca do Museu de Antropologia.
Na verdade,
ficamos no Wine Bar, Sage, da Universidade, tomando vinho, cerveja, e comendo
um pequeno prato de queijos.
Despedimo-nos do Canadá já com certa nostalgia: eles são simpáticos os
canadenses, e sobretudos de tamanho normal: agora voltamos aos XX large size do
outro lado da fronteira, e o jeito americano de ser. Enfim, ninguém é perfeito,
mas o Canadá se aproxima muito do modelo de país que eu pretenderia para o
Brasil, sob vários aspectos (menos o frio, claro). Acho que vamos demorar mais
uns 150 anos para nos aproximarmos do modelo canadense, mas se eu posso fazer
um conselho eleitoral aos nossos candidatos, eu diria: estudem o modelo
canadense, e tentem fazer igual. Não custa nada, ou melhor, só deve custar
vergonha na cara e mais 150 anos de civilização.
O meu blog funcionou, o tempo todo, com o .cn ao final, mas amanhã deve
voltar ao imperialismo americano, onde não existe um único .us que eu tenha
encontrado (deve existir, mas eles não usam; para quê: para eles existe só os
USA, ou America, como eles dizem, e o resto do mundo é the rest of the world,
ou seja, não existe; e precisa?). Os estadounidenses, como diriam os
companheiros, são simpaticamente arrogantes, não porque desprezem o mundo, mas
porque não precisam dele, embora vivam de mensalão chinês e adorem um foie
gras...
Já os canadenses são modestos, e essencialmente bons, para si mesmos e
para o mundo. Acho que o mundo seria melhor se o império universal fosse mais
canadense e menos americano, mas acho que não daria certo. A Suíça, por
exemplo, é muito agradável para se viajar, para se visitar, mas seria ainda
mais agradável se tivesse menos suíços alemânicos e mais italianos (mas acho
que também não daria certo; ela não seria a Suíça, pois teria menos eficiência
helvética e mais organização italiana, que às vezes é pior que a brasileira,
sem exageros).
Adieu Vancouver; prometemos voltar,
Carmen Lícia e eu, de alguma forma.
Paulo
Roberto de Almeida
Vancouver,
12/09/2014
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