Estou lendo, para resenhar para o meu tradicional Prata da Casa, este livro aqui:
Lauro Escorel:
Introdução
ao Pensamento Político de Maquiavel
(3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro
Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0)
Escrito em
1956, publicado pela primeira vez em 1958, novamente em 1979, este clássico da
maquiavelística brasileira é agora apresentado por um acadêmico e complementado
por uma conferência de 1980 do autor, que se tornou “maquiavélico” ao servir na
capital italiana em meados dos anos 1950.
Para Escorel, “as observações de
Maquiavel sobre a política externa dos Estados continuam a apresentar... uma
extraordinária atualidade” (p. 329-30). O florentino foi o primeiro grande teórico
da política do poder.
Mas no plano
interno também, Escorel segue Maquiavel no sentido em que a política é um “regime de
precário equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal, em que estas
muitas vezes superam aquelas...” (34). Os dois colocam o “problema cruciante
das relações da política com a moral”, que está no centro da obra do italiano.
Escorel argumenta, em sua introdução escrita em Roma, em 1956, que a política "é uma técnica e, como tal, está voltada naturalmente para um objetivo prático: o êxito na obtenção de seus fins específicos, que são a conquista e a manutenção do poder. Mas é uma técnica que deve servir a uma finalidade ética: a aplicação efetiva do poder em benefício da comunidade. Um político imoral, portanto, é aquele que utiliza a técnica política para satisfazer objetivos particularistas egoístas, caso em que serea também um político incompentente, uma vez que estará agindo em detrimento da comunidade a que deve servir" (36).
"Na medida em que a política é uma técnica e uma arte, dotadas de características e exigências peculiares, pode-se dizer que Maquiavel a conheceu e analisou como ninguém, legando ao mundo moderno a mais lúcida e implacável análise que jamais foi realizada de sua natureza ambígua e contraditória" (36-37).
Eu também procurei, como Maquiavel, embora numa escala bem mais modesta, ir em busca da verità effetualle della cosa, escrevendo um "O Príncipe, revisitado: Maquiavel para os contemporâneos" (disponível em edição Kindle), como informado abaixo. As circunstâncias dessa "reflexão no deserto", ou no ostracismo, foram mais ou menos similares, embora menos dramáticas as minhas do que as do florentino, torturado pelo novo regime que tomou o poder na sua cidade natal. No meu caso não era minha cidade natal, e a "tortura" assumiu outras formas...
Mudanças de regime são sempre desafiadoras para os que buscam certo equilíbrio entre a moral e a política, em face de novos donos do poder simplesmente imorais...
Paulo Roberto de Almeida
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