O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Companheiros conseguem tornar o Brasil mais desigual, e mais pobre! Parabens!

VEJA.com, 18/09/2014

A redução da pobreza foi, ao longo dos últimos vinte anos, não só uma conquista da sociedade brasileira, mas também resultado da estabilidade econômica e de investimentos em educação e saúde feitos desde a década de 1990. Mas os limites desses esforços começam a aparecer. Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) de 2013, divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, pelo terceiro ano consecutivo, o indicador que mede a desigualdade de renda, chamado Índice de Gini, não mostra melhora significativa.

O índice, que é usado mundialmente, leva em conta o número de pessoas em um domicílio e a renda de cada um, e mostra uma variação de zero a um, sendo que quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade. O IBGE calculou em 2013 que o Brasil marcou 0,498 no indicador que leva em conta a renda de todo os membros de cada família. Em 2012, o resultado havia ficado em 0,496, enquanto em 2011, era de 0,499. A leve oscilação não permite ao órgão concluir que houve uma piora significativa na distribuição de renda no Brasil. Contudo, ela é clara em mostrar que os efeitos da desaceleração econômica já fazem com que a barreira entre ricos e pobres pare de ceder.
Tal piora é explicada não só pelo baixo crescimento da economia, mas também pela menor oferta de vagas de trabalho, ambas mostradas pelo IBGE por meio do levantamento das Contas Nacionais, que calcula o Produto Interno Bruto (PIB), e da própria Pnad, que mede a taxa de desocupação no país.
Segundo dados divulgados nesta quinta, a taxa de desemprego passou de 6,1% em 2012 para 6,5% em 2013. Percebe-se, portanto, uma situação em que a economia cresce pouco (o avanço em 2013 foi de 2,3%) e o mercado de trabalho sente o impacto. Diante isso, até mesmo as políticas de transferência de renda consolidadas no governo Lula mostram perda de vigor. Como seu impacto no PIB é limitado (de apenas 0,5%), tais mecanismos não são suficientes para estimular o crescimento em momentos de crise. Para 2014, a previsão é de que o PIB fique muito próximo de zero e que o mercado de trabalho avance, no mínimo, 30% menos que em 2013. Com isso, economistas esperam impacto mais significativo na medição da distribuição de renda para o ano que vem.
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PNAD 2013: Fim de uma Era?

Blog do Roberto Ellery, 18/09/2014

Comecei este blog em julho de 2013, na época disse que estava fazendo o blog como minha pequena contribuição para denunciar a reversão da política econômica inciada de forma modesta por Lula em 2005/06 e aprofundada por Dilma em 2011, se alguém quiser ver o post de abertura e apresentação do blog o link está aqui, para os que não tem paciência para tanto eu destaco um trecho daquele post de abertura do blog:

"A estabilidade econômica foi considerada um valor em si, as privatizações foram feitas, iniciou-se um processo de abertura da economia e uma agenda de reformas buscando a eficiência. O resultado foi um período de crescimento modesto, porém maior que o dos anos 1980, e um processo de desconcentração de renda sem paralelos em outros períodos com disponibilidade de dados. Pela primeira vez em muitos anos os pobres participavam dos ganhos gerados pelo crescimento. A reversão destas políticas coloca em risco todas estas conquistas." 
De lá para cá coreu mais de um ano e blog teve mais de cem mil acessos, o governo Dilma, acuado pelo povo nas ruas, perdeu a confiança nas suas decisões de 2011 e mostrou sinais que poderia recuar nas contra-reformas, mas ficou no meio do caminho. Desistiu de encontrar o câmbio de equilíbrio da indústria, os que bem querem ao Brasil disseram para desistir da busca inútil, mas o governo demorou a desistir. Insistiu no uso de transferências de renda para indústria e apostou em uma estratégia sem pé nem cabeça de aumentar o gasto e tentar esconder o aumento da população, uma medida que, para dizer o mínimo, foi idiota. Ameaçou combater a inflação, mas acabou recuando e ficou em um perigoso meio do caminho. Os resultados da aventura econômica do governo estão em praticamente todos os indicadores econômicos: o menor crescimento desde a estabilização, o primeiro governo a ter uma inflação média maior que o anterior desde a estabilização, redução na taxa de investimento, aumento do déficit público, aumento da dívida pública e tantos outros indicadores preocupantes que frequentam as estatísticas oficiais. Faltava cair um bastião: o lado social. Os números da PNAD mostram um aumento do desemprego e o fim da queda na concentração de renda, o último bastião parecer estar caindo (link aqui). O gráfico abaixo mostra a parada no processo de concentração de renda durante os três primeiros anos do governo Dilma.




A redução do emprego pode não ser uma notícia ruim, é preciso olhar os dados com cuidado, se a redução decorrer de jovens saindo do emprego para estudar por mais tempo a notícia é boa. O fim da queda da concentração de renda me parece um resultado pior e mais difícil de explicar para o governo. Pior porque o governo se apresentava como um governo que iria reduzir a concentração de renda, difícil de explicar porque se eu e muitos outros críticos do desenvolvimentismo estivermos certos foi a política que Dilma aprofundou em 2011 que causou o fim da queda da concentração de renda. A verdade é que, gostem ou não, desenvolvimentismo implica em transferência de renda para indústria e, na sua vertente brasileira, implica em muita transferência de renda para os industriais. A transferência de para os industriais enriquece os 1% mais ricos (tratei do tema aqui) mas não necessariamente leva a um aumento da concentração de renda. É a transferência de renda para a industria que gera uma força significativa na direção do aumento da concentração de renda, o motivo é simples, os trabalhadores da indústria (colarinhos azuis ou brancos) recebem salários maiores que os salários recebidos pela média dos brasileiros. Transferir recursos para a industria é transferir renda para faixas de renda mais altas, eis uma verdade inconveniente que os desenvolvimentistas se esforçam para ocultar. Infelizmente nomes bonitos, leis e teoremas não mudam a realidade, os números da PNAD mostram isto.



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