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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (19): Wisconsin e Michigan, dos vidros ao lago


Across the Empire, 2014 (19): Wisconsin e Michigan, dos vidros ao lago

Paulo Roberto de Almeida

Entre a terça-feira 16 e a quarta 17, estivemos em transição, em vários sentidos: paisagística, humana, geográfica, cultural e de fusos horários. Depois de viajar desde as montanhas até as planícies do Mid-West, de Rapid City, SD, até Worthington, no Minnesota, saindo do fuso horário da montanha para a zona central, decidimos alterar o roteiro de viagem, deixando de lado Minneapolis e St. Paul, que nos pareceram duas cidades sem grandes atrativos culturais ou naturais: terra de homens de negócios e cidades de concreto. Decidimos fazer uma visita a um museu de artes em vidro, para o qual minha atenção tinha sido chamada mais de um ano atrás, numa visita ao Arts Institute de Chicago. No basement desse museu, há uma bela coleção de pesos de papel, em vidro decorado, em vários estilos. Numa pequena nota aposta na soleira de um batente, li que haveria mais pesos de vidro em dois museus especializados: um o da cidade de Corning, no limite entre os estados de New York e Pennsylvania, que visitamos logo em seguida, e ficamos maravilhados com a riqueza e a diversidade dos objetos, mais de 35 mil, desde a pré-história (sim, havia vido na pré-história, talvez até feito “naturalmente”) até os dias atuais, com as mais variadas peças artísticas representadas, ateliê, etc. Recomendo vivamente uma visita.
O outro era um pequeno museu, cujo nome anotei em minha caderneta, mas sem sequer saber onde ficava. Depois descobri que ficava no Wisconsin, mas bem acima de Chicago, o que inviabilizou a visita ainda numa segunda vez que fomos a Chicago (para o congresso da LASA, em maio deste ano). Pois bem, ao decidir deixar Minneapolis de lado, nossa intenção era seguir direto para Detroit e depois Toronto, fazendo estadas mais largas nessas duas cidades grandes, aliás já inscritas no roteiro, com pelo menos dois dias a cada vez. Mas, seguindo meus instintos e minhas lembranças, retirei dos meus alfarrábios eletrônicos (sim, eu tinha transferido o nome do museu na minha agenda de Notes, do iPhone). Uma rápida consulta ao iPad me revelou o local: a cidadezinha de Neenah, acima de Oshkosh, no lago Winnebago, já no Wisconsin. Deixamos, portanto Worthington, terminamos de atravessar o Minnesota por uma estrada secundária, e fomos direto na terça-feira para Neenah; chegamos no final do dia, mas já identificamos o local do museu e depois fomos buscar hospedagem no Holiday Inn da cidade: qual o quê! Tudo lotado, e segundo as recepcionistas não encontraríamos nada na cidade, o que parecia ser verdade.
Tivemos então de tomar a estrada mais uma vez, em direção ao norte, na cidade de Appleton, um pouco maior. Nova incursão no Holiday Inn e nova decepção: tudo lotado. Acabamos ficando numa cadeia que não conhecíamos: Grand Stay, que se revelou tão boa quanto os bons hotéis que frequentamos habitualmente. Repouso, janta frugal e partida nesta quarta-feira para nosso objetivo principal, novamente estrada abaixo para Neenah, uma simpática localidade, aliás bastante rica, por sinal, a julgar pelas casas que fomos encontrando no caminho do museu.
O Museu Bergstrom-Mahler (e vocês procurem na internet todas as informações sobre os fundadores e o museu) possui a mais diversificada coleção de pesos de papel em vidro que já vimos em toda a vida. O de Corning talvez tenha uma maior quantidade, mas o de Neennah é amplamente representativo dessa arte, desde as origens até as mais modernas construções artísticas. Havia uma exposição especial das obras de Paul Stankard, um artista que começou na “vidraçaria” científica, ou industrial, e que depois enveredou pela arte, muito conhecido por suas construções florais, e de pequenos animais absolutamente espetaculares. Vocês devem achar algumas imagens de suas obras na internet, já que não pudemos tirar fotos dessa exposição especial. Aliás, não compramos nada dele na loja do museu, pois os objetos expostos eram ainda mais caros do que as obras do Chihuly que tínhamos visto em Denver, e depois em Seattle novamente: vários milhares de dólares. Compramos pequenos objetos, comensuráveis ao nosso posicionamento na escala de renda.
Mas o museu não tinha só isso: preciosos jarros, copos, vasos europeus (da Silésia, da Baviera, da Tchecoslováquia, de Bacarat, etc.), de séculos atrás, e muitas, muitas obras de arte modernas. Não vou falar de tudo o que vimos nas duas horas que passamos ali, mas permito-me reproduzir duas fotos de uma preciosidade impar: uma pequena biblioteca toda em vidro, com dois leitores atentos.



Na saída do museu, já depois do almoço, nossa intenção era retomar o roteiro inicial, e contornar o lago Michigan pelo sul, atravessando as estradas sempre engarrafadas em torno de Chicago e seguir para Detroit, sem muita certeza de que chegaríamos hoje a noite (a não ser com um esforço extraordinário, o que não valia a pena, pois estamos adiantados em quase uma semana em relação ao planejamento inicial, em parte devido a nosso espírito prático, em parte também devido a este motorista abusado, que aproveita os momentos de distração de Carmen Lícia para pisar fundo no acelerador (mas sempre atento aos automóveis políticas nas curvas e elevações das estradas). Pois já tínhamos descido mais de 30 milhas ao sul, já antevendo a chateação de contornar Chicago e suas estradas densas de carros e caminhões, quando me lembrei que bem poderíamos ir por onde nunca fomos: contornar o lago Michigan pela parte norte, quase no Canadá (onde eventualmente vamos entrar). Pois fizemos meia volta e passamos novamente por Neenah, a caminho do grande norte americano, terra de alces, ursos e outras coisas (mosquitos, por exemplo).
Pouco antes de Escanaba, nas margens do lago, cruzamos mais uma linha do tempo, quero dizer, um fuso horário, saindo da zona central para o horário do leste, já com apenas uma hora de diferença em relação ao Brasil. Continuamos subindo pelas margens do lago, até parar para descansar e dormir na pequena cidade de Manistique, antes de chegar à junção entre os lagos Michigann e Huron. Acima de nós fica o lago Superior, mas não vamos esticar até ele, pois só tem alce e urso pelo caminho...
Abaixo coloco o roteiro dos últimos dois dias, saindo de Worthington, até Neenah, e agora chegando em Manistique. Também coloquei o roteiro de amanhã, descendo o estado de Michigan até Detroit, onde contamos passar dois dias.

No curso desse trajeto, até aqui, fizemos 400 milhas na terça-feira, e mais 293 no dia de hoje, ou seja, um total de quase 700 milhas, ou 1.120km. Ainda temos mais 382 milhas (ou 611km) até chegar a Detroit. Dali pretendemos passar uns dias em Toronto, para visita um museu que está abrindo nesta quinta-feira 18: Aga Khan Museum, de arte islâmica, além de várias outras coisas nessa grande cidade canadense. O frio já começou a bater por aqui, mas ainda não vimos neve, e espero que não haja até o final da viagem.
Bem, agora preciso voltar ao trabalho em torno do livro The Drama of Brazilian Politics, que estou editando com meu amigo brasilianista Ted Goertzel. Depois darei os detalhes. Até a próxima.

Paulo Roberto de Almeida
Manistique, Michigan, 17 de setembro de 2014

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