Paulo Roberto de Almeida
No nosso caso, acreditamos na importância de o Brasil participar ativamente das cadeias globais de produção e sabemos que será impossível o país ser competitivo em todos os setores da economia, ou seja, não adianta querer se integrar ao resto do mundo e ser competitivo em tudo como parece acreditar alguns economistas do governo. Queremos viabilizar os meios para que o Estado possa investir mais em educação e saúde. Infelizmente, e aqui confesso uma falha nossa, não sabemos como o governo pode aumentar a oferta de serviços públicos para o padrão de primeiro mundo sem crescimento. Na nossa visão, política social e crescimento andam juntas e mente quem diz que a “população não come PIB”. Sem crescimento da economia, o resgate da nossa dívida social será mais lento.
O grupo de economistas por trás da candidata Marina Silva é um grupo brilhante com dois grandes problemas. Primeiro, às vezes usam metáforas -empresários serão desmamados, Dilma trata empresários como prostitutas, etc.- que aumenta a “zona de vulnerabilidade” deles à ataques do governo.
Ontem em seminário na FGV-SP foi justamente isso que aconteceu quando o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, perguntou em tom de brincadeira ao presidente da FIESP se ele estava pronto para ser “desmamado”. Meus colegas do PSB precisam compreender que o Ministro da Fazenda Guido Mantega está em plena campanha eleitoral, usa e abusa de sua condição como Ministro para fazer propaganda eleitoral no melhor estilo terrorista (o terrorismo é tão grande que acho que não poderá mais entrar nos EUA). Assim, meus colegas do PSB precisam tomar mais cuidado com as metáforas porque o adversário gosta de dar caneladas.
O outro problema dos meus colegas do PSB é a visão ingênua do setor público e da estrutura do gasto público. Não há como o Governo Central produzir um superávit primário de 2% do PIB em um ano pelo corte da despesa. Vou escrever sobre isso depois. Mas o que eles falam centenas de outros economistas mais velhos e com experiência de governo continuam falando. No caso dos meus colegas do PSB, como são inteligentes, em um ou dois meses aprenderiam rapidamente. O mesmo não se pode falar de economistas que ainda acham que não houve evolução na teoria econômica depois de 1936, quando Keynes publicou a Teoria Geral.
Agora chegamos ao terceiro grupo, o de economistas por trás do partido do governo. Esse grupo de economistas tem a seu favor a crise mundial. Eles usam e abusam da crise mundial para esconder os seus erros no governo, erros que decorrem de uma visão ingênua e arrogante de micro gerenciamento da economia. Isso não vai mudar e há grande chances de piorar, pois eles continuam achando que conhecem a indústria mais do que os próprios empresários e esses economistas não aprendem. Passam anos no governo e continuam falando a mesma coisa antes e depois. Não há “learning by doing” e nem “learning by studiyng”.
Há ainda algo muito pior neste grupo de economistas que é o processo de autodestruição a que estão submetidos. Eles vivem sempre em conflito interno. Alguns deles condenam as praticas heterodoxas da gestão fiscal, outros acreditam que essas práticas são normais; quase todos gostariam de uma taxa de câmbio mais desvalorizada e acham que taxa de câmbio de equilíbrio decorre da boa ou má vontade do Banco Central; todos aceitam normal uma inflação de 6% ao ano, criticam o Banco Central seja independente ou não como o grande mal da economia, querem resolver todos os nossos problemas de orçamento com o aumento da dívida, e, por fim, fogem da paternidade da Nova Matriz Econômica como o diabo foge da cruz. Hoje vivemos a situação sui generis de uma política econômica órfã.
Alguns desses economistas fazem uma mea culpa capenga, reconhecem a necessidade de ajustes e dizem que haviam alertado antes para a necessidade de correção de rumo para o seu colega de sala ou de ministério. Mas talvez o mais desonesto é quando promovem a visão que o que está em jogo nesta eleição é o debate entre o bem e o mal, entre os economistas que se preocupam com a redução da desigualdade e com a indústria versus outros economistas que representam o mercado financeiro.
Um grupo grande de economistas do governo ainda está preso na luta de classes do pós-guerra e tem uma visão ingênua dos capitalistas. Os da indústria têm que ser estimulados e controlados e, os do setor financeiro, precisam ser eliminados. Falam de uma tal “grande capital” como se esse ente abstrato fosse o responsável pelo atraso na definição dos marcos regulatórios, excesso de intervenção na economia, etc.
Em resumo, eu me preocupo muito com os “economistas do governo” e tenho zero de preocupação com os economistas que assessoram os candidatos de oposição. O ex-presidente Lula falou ontem que a candidata Marina deveria proibir os seus economista de falarem bobagens. O correto deveria ser o ex-presidenrte “proibir” o governo federal de fazer bobagens, em especial, as bobagens que tiverem início no segundo mandato do ex-presidente Lula e se intensificaram no governo Dilma.
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