terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

1358) Cronica do racismo ordinario

Sexta-feira última, dia 12 de fevereiro de 2010, estava eu como de hábito pesquisando na Biblioteca do Itamaraty-Brasília, quando fui surpreendido com a consulta de um senhor, visivelmente mulato (mas isso só veio a ter importância depois, como constatei), que me perguntou sobre a existência de estudos sobre a preparação e a formação do diplomata.
Tentei alinhar a bibliografia que eu conhecia de cabeça e responder às muitas indagações do "pesquisador", quando descobri que se tratava de um funcionário da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República (aquela mesma do PNDH-3, de funesta existência), e que ele estava ali tentando visualizar meios e procedimentos para acelerar, ou facilitar, segundo seus argumentos, o acesso de negros à carreira diplomática.

Mencionei então o "programa de ação afirmativa", consistente no fornecimento de bolsas a candidatos afrodescendentes, o que ele conhecia amplamente, embora não tenha sido, aparentemente, o sucesso esperado. Informei inclusive que eu tinha participado voluntariamente do programa, enquanto tutor de um grupo de bolsistas afrodescendentes de Brasilia, nos anos de 2004 e 2005, mas que depois não tinha mais sido procurado.

Como a conversa enveredou para os méritos do programa, fui absolutamente sincero ao dizer que eu era contra aquele programa, pois ele discriminava contra brancos pobres, ou contra índios ou outros candidatos merecedores que não se enquadrassem no critério racialista do programa, que inclusive acabava premiando "negros" de classe média, que eram os que aparentemente dispunham de maiores chances de ingresso na carreira. Portanto, o programa não se destinava apenas e tão somente a corrigir uma injustiça social, mas a "colorir" o Itamaraty, o que para o meu interlocutor representava a "reparação de uma injustiça social".

Discordei imediatamente, posto que programas desse tipo corriam o risco de criar um novo racismo no Brasil, ou um Apartheid racial, já que separando absoltuamente negros (ou assimilados a tal) dos brancos ou outros.
Meu argumento é que o racismo devia ser combatido pela mestiçagem generalizada e pela educação de qualidade nos estratos mais pobres da população, se preciso com bolsas e outros apoios aos necessitados, o que fatalmente recolheria uma vasta proporção de negros e mulatos.

Esta não era a intenção de meu intelocutor, que contra toda evidência, pretendia se classificar como negro, quando ele era manifestamente um mestiço, um mulato, um pardo, ou seja lá o que for, isto é, um brasileiro típico, misturado.
Ele pretendia me fazer acreditar que os problemas dos negros eram de racismo e discriminação, no que eu concordava apenas em parte.

Reconheço racismo no Brasil, posto que algumas pessoas são racistas, mas considero que não se deve criar leis racialistas, pois isto introduziria justamente as sementes do racismo oficial no Brasil.

Foi conversa perdida: meu intelocutor insistia em se declarar negro, e como todos os negros ele achava que havia racismo no Brasil, e que por causa disso, não havia diplomatas negros.

Terminei a conversa por ali, convencido de que se está criando um monstro no Brasil, que se chama racismo oficial, que são todas essas politicas de promoção de "negros", estimuladas por militantes, que não pretendem se misturar com os brancos, e por isso são racistas declarados.

Acho que estamos enveredando por um caminho muito ruim para o nosso país...

Paulo Roberto de Almeida (16.02.2010)

Um comentário:

  1. Dr.Paulo,

    a propósito das leis raciais e políticas públicas em bases raciais estarei na Audiência Pública convocada pelo S.T.F. nos dias 3,4 e 5 de março. Há um flagrante desequilíbrio pois são 20 expositores a favor e somente 12 contrários. Espero que tenhamos sucesso já que o Supremo é a última barreira para essa ´onda´ racialista internacionalista.

    http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=119782

    A respeito desse programa do Instituto Rio Branco, o senhor possui os números do que tem sido?

    Agradeço a atenção,

    J. Roberto Militão, adv. Comissão de Assuntos AntiDiscriminatórios - CONAD-OAB/SP.

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