sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

1716) Von Blog: Clausewitz e a estrategia blogueira da defesa

Clausewitz, o militar e teórico prussiano do fenômeno militar, que ele analisava pelo seu lado social e político, considerava a boa preparação para a defesa como uma condição necessária para se vencer uma guerra. Ou seja, a dissuasão, baseada numa excelente defesa, já constituia, por si só, boa parte de uma estratégia militar consequente e efetiva.
Ele também valorizava a meritocracia, e se posicionava contra a aristocracia e seu monopólio dos postos superiores no exército prussiano, onde qualquer aristocratazinho incompetente poderia ser nomeado oficial, em detrimento das patentes inferiores, com melhor preparação no terreno, mas que não ascendiam por falta de "sangue azul" (ou pedigree).

Pois bem, aplicada ao fenômeno blogueiro, o que os ensinamentos de Clausewitz querem dizer?

Um blog é como uma linha de defesa, uma trincheira de resistência contra ataques inimigos.
No caso específico deste blog, imagino-o como uma trincheira clausewitziana, isto é, meritocrática, contra a insensatez, a burrice, a desonestidade intelectual, a má fé, a fraude deliberada, a enganação dos incautos e dos mal-informados, enfim, uma barreira contra a submissão indevida e eticamente duvidosa a idéias erradas e atitudes moralmente condenáveis.
Por exemplo: defender ditaduras, me parece uma atitude não apenas suspeita, mas moralmente abjeta. Observar um tratamento seletivo dos direitos humanos também me parece não apenas questionável, como digno de repúdio e de censura moral.

Tenho a impressão de que Clausewitz concordaria com os meus argumentos e estaria de acordo em que eu use este blog de acordo com o seu manual sobre a guerra.
Minha guerra é contra a mediocridade, a estupidez, a mentira, a fraude e a falta de transparência nos assuntos públicos.

Como não tenho tropas, a não ser minha própria capacidade de pensar e escrever, com a ajuda de minhas únicas armas que são dois computadores, fico na minha trincheira fazendo meu trabalho de defesa de certos valores e princípios.
Não tenho sequer capacidade de dissuasão, apenas o poder do convencimento pela aplicação de algumas evidências evidentes (se me permitem a redundância), a lógica elementar, a observação dos fatos, a reflexão ponderada, e a exposição de argumentos que espero condizentes com a realidade do mundo; la verità effetuale delle cose, como diria Maquiavel.

Meu blog é uma trincheira clausewitziana da verdade...

5 comentários:

  1. Vejo este blog como um canal de comunicação direto de um intelectual com o público leigo. Trata-se de um espaço democrático(fruto não da tecnologia, mas do autor) onde são propostas discussões por meio de um mix de matérias jornalísticas, comentários e textos acadêmicos. A celeridade dos posts e das respostas é impressionante, convidando à visita diária. Ouvindo tuas entrevistas na CBN me lembrei do prof. Williams Gonçalves da UERJ que sempre se dispôs a comentar as relações internacionais no programa da Lúcia Leme na TVE, o qual infelizmente acabou.

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  2. Professor,

    Nesse sentido, faltou repercutir o relatorio da Comissao de Direitos Humanos da OEA, nao?

    http://www.guardian.co.uk/world/2010/feb/25/oas-report-chavez-human-rights

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  3. Grato pela referência, mas este meu post era mais conceitual do que prático: não se destinava a tratar de nenhuma ditadura ordinária ou de graves atentados aos direitos humanos e às liberdades civis, e sim estabelecer posições, apenas isto.
    O que eu penso, creio que já está explícito e implícito, também.
    O relatório pode ser uma "arma de ataque", mas essa não era a minha intenção: a finalidade de meu post era tão somente o de estabelecer o contorno de minha trincheira clausewitziana...

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  4. Ricardo,
    Grato pelo seu comentário gentil. Confesso a você que não sei de onde fui tirar essa idéia de aproximar o meu blog do famoso Von Krieg, do Clausewitz, o que constitui, obviamente, uma aproximação indevida e totalmente despropositada. Acho que eu estava percorrendo alguma referência histórica sobre trincheiras, e me lembrei de consultar novamente o famoso militar prussiano. Não tive tempo de procurar nada de concreto sobre trincheiras, mas aí veio a ideia de fazer a comparação, muito em função do ambiente que vivemos atualmente, de necessidade de resistência a certas atitudes absolutamente inaceitáveis no plano da moral política.
    Só consigo reagir com palavras e com escritos, este é o meu mundo, mas não tenho a pretensão de ser influente ou exercer algum papel político.
    Minha única dedicação é a didática, com o esclarecimento dos mais jovens, e meu único comprometimento é com a defesa de certos valores.
    Infelizmente o Brasil caminha atualmente para um estado de degradação moral, de mediocrização intelectual e de criminalização da inteligência que só pode nos deixar profundamente preocupados. Os mais pessimistas podem ficar até deprimidos; mas eu sou um otimista por natureza: acredito que os bons valores devem triunfar ao final, mesmo à custa de muito sacrifício e algum sacrifício: eliminar Hitler demorou certo tempo, e custo milhões de vítimas inocentes, mas a humanidade ficou melhor depois disso.
    Estou certo de que eliminaremos os tiranos, os demagogos, os mentirosos e os corruptos também.
    Paulo Roberto de Almeida
    (26.02.2010)

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  5. Prezado Ricardo,
    suas colocações foram extremamente oportunas, pois aqui as pessoas além de aprender um pouco mais sobre a realidade, também, se instruem no sentido de não mais aceitar o ensino tendencioso da academia brasileira. Assinando abaixo de suas palavras, acrescento que todo acadêmico que frequenta este blog (independente do nível, mestrado, doutorado ou pos-doc), se torna um questionador do seu próprio aprendizado.
    E seria de mais valia para o ensino superior brasileiro, se os muitos que compõe o corpo docente, seja das universidades públicas ou privadas tivessem o comprometimento que o autor deste blog tem com os que aqui frequentam. Ainda que os embates dialéticos possam acontecer fervorosamente, o que é estimulante para todos, este blog deveria receber um certificado governamental de "Utilidade Pública", o que seria plenamente merecido, se fosse factível.
    Sendo assim, parabéns por suas colocações.
    Continuo em minhas observações acadêmicas...

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