O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

domingo, 22 de agosto de 2010

Economistas tambem tem o direito de ficar bebados...

Eles só não têm (ou pelo menos não deveriam ter) o direito de escrever bêbados.
Esse economista, que eu até reputava sério, responsável, liberal e mais próximo da mainstream economics do que do surrealismo de certas correntes muito disseminadas pelo continente, acaba de dar uma escorregada muito séria no artigo abaixo.
Só pode ter sido por efeito da bebida, ou de algum remédio que o tenha deixado eufórico, não sei exatamente o que pode ter sido.
O que ele escreve, da primeira até a última linha, não só não faz nenhum sentido econômico, nas circunstâncias atuais (e no futuro próximo) da América do Sul, como não guarda a mínima conexão com a realidade das coisas, no plano político, social, das simples constatações de base do que seja a América do Sul atualmente.
Ele começa por onde a Europa levou 40 anos para atingir: a moeda única. E acha que ela vai operar maravilhas nas políticas macroeconômicas e setoriais dos países da região.
Ele só pode estar delirando.
Vou perdoá-lo desta vez e nem vou traçar um quadro mais realista demonstrando como o que ele propõe não tem o menor embasamento na realidade, e tampouco faz qualquer sentido econômico. Vou aguardar seu próximo artigo, para depois chegar a uma conclusão.
Paulo Roberto de Almeida

A popularidade de Lula a serviço da modernização
Paulo Guedes
Revista Época, Sábado, 21 de agosto de 2010

Um economista tem, por vício deformação, a mania de buscar a eficiência no uso de recursos. É, portanto, normal pensar no uso de um recurso humano de extraordinária importância como o presidente Lula. O que fazer com ele após a eleição? Lula goza de extraordinária popularidade no Brasil, tem reconhecimento global e é, possivelmente, uma unanimidade na América Latina. Depois de deixar a Presidência, como ele poderia melhor servir ao país?

Volto a um tema que me parece extremamente importante para o futuro desempenho econômico da América Latina: a integração econômica da região sob a égide de uma moeda comum. Apesar dos frequentes tropeços da diplomacia externa brasileira, e de sua visível parcialidade, apoiando governos retrógrados que não respeitam direitos humanos aqui e acolá, Lula tem cacife político pessoal para a empreitada. Com a bandeira da integração econômica, ele pode desencadear uma avalanche de modernização no continente.

A ideia central é a integração econômica continental em direção ao peso-real num prazo de até oito anos. Por que oito anos? Pelo inegável gigantismo da tarefa e também para que o próprio Lula possa entregar o resultado. O mais importante são os desdobramentos da busca pela moeda única regional.

A Venezuela e a Argentina, por exemplo, estão sem moeda confiável. A criação da moeda regional seria uma âncora de estabilidade para os países que se perderam no turbilhão demagógico de Hugo Chávez e do casal Kirchner. Seria uma boia lançada a venezuelanos e argentinos, uma garantia de estabilidade futura.

O que temos nós, brasileiros, a ganhar com isso? Tudo. Pois, entre os desdobramentos da busca da moeda única, está a convergência de regimes fiscais, previdenciários e trabalhistas, problemas que a social-democracia brasileira nunca ousou enfrentar. Penduramos o combate à inflação apenas sobre o Banco Central. Praticamos uma perversa combinação de juros explosivos e dólar barato, duas lâminas decepando a produção e o emprego. Falta ao Brasil um regime fiscal compatível com o crescimento sustentável.

O Chile e o Peru já fizeram profundas reformas em seus regimes trabalhista e previdenciário. Lucram agora com o crescimento acelerado. Enquanto isso, nossos elevados encargos sociais e trabalhistas deixam mais de 50 milhões de brasileiros excluídos do mercado formal e, consequentemente, sem contribuir para a Previdência Social.
Temos muito a ganhar com a integração regional. Haveria convergência para práticas mais eficientes

A livre mobilidade de trabalhadores através das fronteiras, uma exigência da moeda única, requer a convergência das práticas previdenciárias e trabalhistas em direção às mais eficientes, ampliando a criação de empregos e o ritmo de investimentos. Imagine um Tratado de Mar del Plata, a exemplo do Tratado de Maastricht, que consagrou a União Europeia. Imagine também um ex-presidente Lula defendendo a modernização da legislação trabalhista e do regime de previdência em nome do crescimento.

Os eurocéticos indicam a crise da Grécia como uma condenação à moeda única continental. Mas os críticos esquecem que, nas devidas proporções, o Brasil teria o papel da Alemanha nessa configuração continental. Como estaria a Venezuela no papel da Grécia. Os alemães podem se aborrecer com a ideia de ter de ajudar os gregos, mas se beneficiam com sua economia voando, ao exibir seu papel de alicerce de toda a integração continental.

Como estaria o Brasil se, após as reformas modernizantes, Chávez continuar fazendo barulho? Podemos imaginar a economia brasileira com encargos sociais cortados a 20% sobre a folha de pagamentos, taxa de juros reduzida a 5% ao ano, taxa de poupança ampliada para 25% do PIB, inflação comportada por volta de 2% ao ano e o preço do dólar em torno de R$ 3 ou R$ 4, tanto mais alto quanto mais barulho fizesse Chávez. No saldo final, teríamos motivos para dar vivas a nossa Grécia latino-americana.

PAULO GUEDES é economista e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

4 comentários:

JGould disse...

Caro Sr.,

Isto é puro Wishful thinking! Uma pena!
Obrigado pela resposta ao meu questionamento anterior(Paraguai). Como sou presenteando com seus "insights" diariamente, gostaria de contribuir com algo, caso o Sr. já não tenha lido, claro!

http://www.spiegel.de/international/world/0,1518,712068,00.html

Paulo Roberto de Almeida disse...

Grato Marcelo, ja estou lendo e vou postar, pois tendo a concordar com muito do que ele disse.
Também é um decepcionado com a ajuda, depois de anos tentando ajudar...
A Africa nao precisa de ajuda: precisa de abertura comercial, inserção na economia mundial, governos decentes...
Paulo R. Almeida

Carlos disse...

Nossa mais uma decepção numa semana repleta de fatos negativos no país.Ele parece acreditar que a configuração política regional e a agenda latino-americana é idêntica ao que era em 1990. Poxa, com excessão do Chile e da Colômbia, a tendência é de reversão das (poucas) conquistas institucionais alcançadas na década de 1990. Na verdade, não é de todo estranho imaginar que cairemos, se a atual tendência continuar por muito tempo, num cenário econômico semelhante ao dos anos 80, com crises de pagamento, inflação e estados falidos depois de tanto crescer e gastar inutilmente. Do ponto de vista do competitividade do setor privado aliás já vemos empresários nacionais pedindo escancaradamente o aumento do já excessivo protecionismo. As perspectivas não são nada animadoras.

Rafael A. Alves disse...

Caro Professor,

Realmente, é totalmente infame as propostas desse articulista. Os governos do Mercosul sequer conseguiram fazer com que a tarifa única funcionasse de fato, criando uma lista de exceções à TEC que, de fato, desclassifica o bloco como uma união aduaneira.
Outro ponto, o caso da Grécia pode ser encarado como um risco à estabilidade da moeda única, pois levanta a dúvida de até que ponto é vantajoso para uma economia pequena colocar em risco sua capacidade de elaborar sua política monetária em momentos de desequilíbrio das contas externas. Há muito o que pode ser discutido no âmbito do Mercosul, certamente a adoção de um modelo de SMU não é uma pauta.

Grande abraço!