sexta-feira, 13 de julho de 2012

O colapso do Mercosul - Luiz Carlos Cunha


Zero Hora, 11/07/2012

O Mercosul, aliança de comércio entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, foi consagrado na reunião de seus presidentes em 1995. As contradições entre Brasil e Argentina vieram apontando e recrudescendo ao correr dos anos, no confronto de suas indústrias concorrentes. Sempre sucedidas de mesuras diplomáticas e panos quentes na tentativa mútua de acomodar os conflitos de interesse. Sem os resolver. Politicamente, entretanto, as características coloridas de esquerdismo dos governos coevos da presidência de Lula serviram para adulcorar uma unidade contraditória.
Brasil X Argentina, Uruguai X Argentina, Brasil X Paraguai. O Chile socialista ficou de observador. Resguarda seus acertos comerciais independentes do Mercosul com os Estados Unidos e nações asiáticas. Isto desde a era Pinochet que os socialistas preservaram. O ingresso da Venezuela bolivariana no clube vinha sendo protelado pela reação legal do parlamento paraguaio. Rejeitava-o por razões bem fundamentadas: aquela república desrespeita as condições básicas da carta de constituição do organismo americano, o respeito às liberdades de imprensa e opinião. Mantém exótica e suspeita relação com a ditadura dos aiatolás do Irã, firmada em convênios completamente alheios aos ideais sul-americanos. Com ênfase a considerar o confronto demagógico antiamericano, quando interesses nacionais brasileiros permanecem vigorosos aliados aos EUA. O governo da Sra. Dilma veio a golpear a estabilidade do Mercosul, quando pontificou a punição do Paraguai, considerando “golpe” o impedimento do ex-presidente Lugo pelo Legislativo paraguaio, aprovado quase unânime, dentro da legalidade democrática e constitucional daquele país. E quais as razões que levaram seu parlamento a alijar do cargo o presidente Lugo? O desrespeito contumaz ao princípio constitucional da propriedade. Ele atiçava seus correligionários do movimento “sem terra” a invadir as fazendas dos brasileiros ali instalados há mais de três décadas, que transformaram as terras inóspitas fronteiriças do Brasil em lavouras produtivas de soja e milho; lugarejos sem destino em fazendas produtivas geradoras de milhares de empregos. Brasileiros que compraram terras a convite e chancela do governo paraguaio em meados de 70. Atentai leitores, 400 mil brasileiros transformaram a economia da região, e geraram o maior volume exportador da nação. Dezenas de patrícios nossos durante o governo Lula foram abandonados a esmo nos lindes de Mato Grosso. Agricultores expulsos de suas terras no Paraguai. Não tínhamos – como ainda nos falta – um Barão do Rio Branco a proteger e dignificar os interesses do Brasil nas relações diplomáticas com nossos irmãos do continente. A gota d’água da tolerância do parlamento e da Justiça paraguaia para com o ex-presidente Lugo bateu no episódio do choque entre a polícia que cumpria ordem judicial de desocupação de fazenda legal de propriedade legal de brasileiro. Depois do afastamento de Lugo, quatro fazendeiros brasileiros foram mortos pelos invasores. Do confronto, 17 pessoas morreram – sete policiais e dez invasores. Compreende-se, embora não se admita, que autoridades brasileiras prefiram a tolerância e o desrespeito às determinações judiciais em episódios similares, como sói acontecer no Brasil, sintam-se à vontade para suspender o Paraguai do Mercosul e substituí-lo pela Venezuela.

Luiz Carlos da Cunha é escritor

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