Quem sabe com um empurrão?
A estagnação da
Petrobrás
Editorial O
Estado de S.Paulo, 9 de julho de 2012
A incapacidade
da Petrobrás de atingir as metas de extração de petróleo e gás fixadas por sua
administração superior se tornou uma marca do modelo de gestão da empresa desde
que o PT passou a controlá-la. De 2003, primeiro ano do governo Lula, até 2011,
já no governo Dilma, em nenhum ano as metas foram alcançadas. Trata-se de
incapacidade gerencial sistemática, que produz fracassos igualmente
sistemáticos. Com a produção praticamente estagnada nos últimos três anos -
período em que o PIB brasileiro cresceu mais de 10% -, a empresa está montando
um plano de emergência para tentar recuperar sua eficiência.
O choque de
realismo nos programas e nas metas da Petrobrás, anunciado por sua presidente
Graça Foster, é uma boa indicação de que uma nova orientação está sendo
imprimida à gestão da estatal. Mas será difícil e demorado remover o peso da
herança deixada pelo governo Lula, que usou a empresa para alcançar objetivos
políticos. Planos mirabolantes foram anunciados, mas quase nunca executados -
e, quando isso ocorreu, os atrasos e os aumentos de custo foram muito grandes.
À lista de
fracassos como o descumprimento das metas de extração, mostrado em reportagem
do Estado (1/7), podem ser acrescentados vários outros. Anunciados para agradar
a governadores e políticos das regiões que seriam beneficiadas, os planos de
construção do complexo petroquímico do Rio (Comperj) e das refinarias do
Maranhão, do Ceará e de Pernambuco renderam ao ex-presidente a oportunidade de
lançar pedras fundamentais e aparecer como grande realizador de obras, mas nada
renderam para a população.
Passados vários
anos da exploração política da necessidade de ampliar a capacidade de refino da
Petrobrás, pouca coisa avançou. As refinarias do Maranhão e do Ceará mal saíram
do papel. A Comperj é um imenso canteiro de obras que não têm prazo de
conclusão.
A Refinaria
Abreu e Lima, em Pernambuco, foi anunciada como resultado da sociedade entre a
Petrobrás e a venezuelana PDVSA, de acordo com os delírios terceiro-mundistas e
bolivarianos do ex-presidente. Mas até agora o presuntivo sócio venezuelano não
aplicou nenhum tostão nessa obra que está muito atrasada (deveria ter sido
inaugurada em 2011, mas só ficará pronta em 2014) e que deveria custar US$ 4
bilhões, mas exigirá US$ 17 bilhões.
A Petrobrás perdeu
eficiência e não ampliou sua produção nem sua capacidade de refino. Ela tem
sido obrigada a importar cada vez mais combustíveis para abastecer o mercado
doméstico. A reação imediata dos investidores diante do quadro real da empresa
apresentado por sua presidente, no cargo há apenas cinco meses, não poderia ser
outra senão a decepção e a desconfiança.
A estagnação de
sua produção, que a está forçando a adotar um plano de emergência, é apenas uma
das faces das múltiplas consequências da gestão imposta à empresa de 2003 até o
início deste ano. Buscam-se explicações técnicas para a situação a que ela
chegou. Atribuiu-se à queda da eficiência operacional na Bacia de Campos - a
principal do País e responsável por até 85% do petróleo consumido internamente
- o problema hoje enfrentado pela Petrobrás. Na semana passada, sua presidente
se referiu a essa questão ao expor o Plano de Negócios da empresa para os
próximos cinco anos. "É preciso que aumentemos urgentemente a eficiência
operacional da Bacia de Campos", disse Graça Fortes.
A ação tornou-se
urgente porque nada foi feito desde que surgiram os sinais de que a produção de
óleo e gás de grandes áreas produtoras da Bacia de Campos, como o Campo de
Marlim, vinha diminuindo, com o aumento da proporção de água no volume de
hidrocarbonetos extraídos. Para enfrentar o problema, a empresa anunciou a
adoção do Programa de Aumento de Eficiência Operacional (Proef), voltado
especificamente para a Bacia de Campos.
Ao declínio da
taxa de recuperação de óleo e gás, normal em campos maduros, é muito provável
que tenha se somado a perda de eficiência - que agora, sob os olhos ainda
desconfiados dos investidores, sua direção anuncia que pretende recuperar -
decorrente do uso político da empresa.
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