segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática

Uma triste reflexão sobre os descaminhos de uma política externa regional que já foi mais sensata, num passado não muito distante. Vamos para um buraco negro diplomático?

Paulo Roberto de Almeida (19/10/2020, 08:00)


 Essa vitória da esquerda na Bolívia também representa uma grande derrota para a diplomacia bolsolavista, que sempre apoiou a extrema-direita. 

Aguardem que o capitão vai começar a xingar a “esquerdalha” de lá, dizendo que MT e MS vão virar uma nova Roraima. Querem apostar? Não costuma falhar.

O homem não se contém e costuma ser estimulado pelo chanceler acidental, que ainda exacerba nas agressões verbais.

Triste fim de uma outrora bem sucedida liderança diplomática natural, de natureza sobretudo moral e puramente política, do Brasil na região. Nunca antes em nossa história diplomática fomos o contrário do que deveríamos ser na política externa regional e na construção de um espaço econômico unificado, pelo menos no Cone Sul Latinoamericano.

Desde 2019, o Brasil se descolou inteiramente da América do Sul: vive em outro planeta, na Trumplândia, situado numa galáxia a anos-luz de distância de qualquer processo de integração que se possa conceber.

Quando esse planetinha medíocre e patético cair no buraco negro da derrota eleitoral de 3 de novembro, o Brasil da Bolsolândia estará singularmente sozinho no universo de sua própria mediocridade diplomática. 

Quem vai lhe fazer companhia na solitude? Orban? Modi? O UKIP do Brexit? Salvini no seu desterro italiano?

Sequer a direita racional de Lacalle e Pinera lhe fazem companhia, num isolamento que nunca existiu desde o Segundo Reinado.

Nunca o Brasil ficou tão só num continente que é a nossa circunstância orteguiana.

Desde Rosas e as intervenções entre Blancos e Colorados, ou talvez desde a Cisplatina, os entreveros diplomáticos foram tão grandes num contexto geográfico que deveria ser de construção, não de destruição de pontes diplomáticas. 

O Bolsolavismo diplomático desmantelou até a capacidade do Brasil ser o mediador que sempre foi nos problemas regionais, pelo menos desde Oswaldo Aranha, este até mais do que o Barão.

Este terrível parênteses de mediocridade diplomática vai estar tristemente registrado nos anais de nossa história regional dos últimos 150 anos, desde o final da Guerra da Tríplice Aliança. 

Certos retratos não deveriam figurar em paredes de uma galeria que já hospedou algumas mediocridades, mas raramente, ou nunca, capachos desequilibrados.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 19/10/2020

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