Chanceler afirma que Rússia é parceiro 'estratégico e confiável', ao falar sobre compra de diesel
Em Nova York, Carlos França disse que Brasil comprará 'tanto quanto formos capazes' para abastecer o agronegócio e os motoristas brasileiros
Por Eliane Oliveira — Brasília
O Globo, 12/07/2022
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, afirmou nesta terça-feira que a Rússia é um parceiro estratégico e confiável do Brasil, ao explicar os motivos pelos quais o governo brasileiro comprará óleo diesel daquele país. Os russos são alvo de sanções econômicas aplicadas por Estados Unidos e várias nações europeias, por terem invadido a Ucrânia, em fevereiro deste ano.
— A Rússia é um parceiro estratégico do Brasil. Somos parceiros do BRICS (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) — disse França a jornalistas, após participar de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York.
— Temos que ter certeza que teremos diesel suficiente para o agronegócio brasileiro e, claro, para os motoristas brasileiros. É por isso que estamos procurando fornecedores de diesel seguros e muito confiáveis, e a Rússia é um deles — ressaltou o chanceler.
Na última segunda-feira, o presidente Jair Bolsonaro anunciou, em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, que está quase certo um acordo para a compra de diesel mais barato da Rússia.
Os retrocessos no Brasil em 2022
O presidente não deu detalhes sobre a operação, mas ele já havia falado sobre essa possibilidade no fim do mês passado, após uma conversa por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
França enfatizou que o Brasil não depende apenas de diesel, mas também de fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia — país que também sofre sanções econômicas, por ter um governo acusado de violar os direitos humanos. O chanceler lembrou que os russos são grandes fornecedores de petróleo e gás.
— Você pode perguntar à Alemanha sobre isso, você pode perguntar à Europa sobre isso. No Brasil, estamos com falta de diesel — disse França.
Indagado se houve alguma reação das potências ocidentais sobre a intenção do Brasil de comprar diesel dos russos, o ministro respondeu que “estamos na mesma página”. Também perguntado sobre quanto e quando ocorrerá a compra, ele respondeu:
—Tanto quanto formos capazes. Os negócios estão sendo fechados.
França foi, ainda, questionado sobre a interpretação de que o Brasil estaria financiando uma guerra, que foi condenada nas Nações Unidas, e se isso não seria uma violação da carta da ONU.
— Talvez você devesse perguntar ao sr. Scholz (Olaf Scholz, primeiro ministro da Alemanha) sobre isso e então eu respondo.
https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2022/07/chanceler-afirma-que-russia-e-parceiro-estrategico-e-confiavel-ao-falar-sobre-compra-de-diesel.ghtml
Bolsonaro vai resistindo às pressões de Biden para romper com Putin
Governo brasileiro busca mais combustível russo, e diplomacia de Moscou vê 'perspectivas muito sérias de cooperação'
12.jul.2022 às 17h38
Em textos no New York Times, a Casa Branca repisa que vive "fadiga da guerra". Mas ainda "o governo Biden está focado em conquistar os indecisos: Brasil, China, Índia e outros que não aderiram à campanha para isolar a Rússia".
Conseguiu de Bolsonaro um telefonema, daqui a uma semana, para Zelenski. Mas o que ecoa da Bloomberg às agências Tass e Reuters é que ele e seu chanceler prometeram mais contratos para compra de combustível russo.
Entrevistado nesta terça (12) pelo canal de notícias Rússia-24, o diplomata Alexei Labitsky afirmou que Rússia e Brasil "hoje interagem em vários campos", com uma "dinâmica positiva", e "têm perspectivas muito sérias de cooperação".
Bolsonaro já teria resistido a uma pressão maior de Biden, semanas atrás, após a reunião de ambos nos EUA. Foi quando saiu a informação, formalmente do serviço de inteligência holandês, de que um agente russo estava detido no Brasil.
Sites como Bellingcat, baseado na Holanda e que o jornalista Glenn Greenwald descreve como "braço da CIA", veicularam com detalhes e arquivos próprios que o suposto espião do serviço russo GRU queria infiltrar um órgão da ONU, se passando por brasileiro.
Porém, "sob o comando do general Augusto Heleno, a inteligência brasileira viu dedo da CIA e tentativa de minar a relação de Bolsonaro com Putin", informa o site Metrópoles. E o palácio ordenou não comprar a versão de espionagem.
VENDEDOR DE ARMAS
No alto do Wall Street Journal, "Biden vai visitar uma Arábia Saudita mais próxima do que nunca da Rússia". E que, "afirmam autoridades sauditas, não planeja ajudá-lo bombeando mais petróleo".
Por outro lado, segundo notícia "exclusiva" da Reuters, "o governo Biden avalia suspender a proibição da venda de armas ofensivas dos EUA para a Arábia Saudita".
INHOTIM INSPIRA MBS
No WSJ, "a Arábia Saudita volta aos holofotes, estimulada pela viagem de Biden", a começar do Vale das Artes (acima), "um impulso multibilionário" de Mohammad bin Salman, o "príncipe" MBS.
Ambiciona "tornar-se local de peregrinação para os amantes da arte, à altura do parque na selva do Brasil, Inhotim". Aliás, "o curador de Inhotim, Allan Schwartzman, está assessorando a comissão saudita".
Também recrutada, Iwona Blazwick, da Whitechapel Gallery, de Londres, "disse que não acredita que boicotes políticos devam se estender a esforços culturais, então não se concentrou no debate sobre direitos humanos" no país.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2022/07/bolsonaro-vai-resistindo-as-pressoes-de-biden-para-romper-com-putin.shtml
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