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terça-feira, 13 de junho de 2023

Diplomacia partidária da China acena ao PT - Marcelo Ninio (O Globo)

 Diplomacia partidária da China acena ao PT

A diplomacia partidária da China é uma forma de promover o modelo de governança do país para ampliar sua influência

Por Marcelo Ninio — Pequim
O Globo, 13/06/2023

Uma delegação do Partido dos Trabalhadores (PT) com 20 integrantes desembarcou nesta segunda-feira em Pequim para uma visita de 12 dias, a convite do governo chinês. É a reabertura de mais um canal na aproximação com o Brasil, após o aquecimento das relações obtido com a visita do presidente Lula à China em abril. A viagem se encaixa na diplomacia partidária praticada pelo Partido Comunista da China desde a década de 1950, para reforçar os laços com grupos políticos afinados ideologicamente.

É uma das maiores delegações partidárias do Brasil que já participaram desse tipo de viagem, em novo sinal da importância que Pequim tem dado ao país desde a volta ao poder do “velho amigo” da China, como a mídia estatal chama Lula. Chefiado pelo secretário-geral nacional do PT, Henrique Fontana, o grupo inclui vários dirigentes do partido e o senador Humberto Costa (PE), além de três deputados federais e um estadual.

Em Pequim, o grupo irá conhecer “a formação política dos quadros e da base e o processo de organização” do PC chinês, informou em suas redes sociais Camila Moreno, da Direção Executiva Nacional do PT, que integra o grupo. O roteiro inclui ainda cidades que são vitrines do milagre econômico chinês, como Cantão e o polo tecnológico de Shenzhen.

A política partidária chinesa ganhou novo impulso com a chegada de Xi Jinping à liderança, em 2012, como forma de promover o modelo de governança do país e ampliar sua influência global. O projeto é uma das principais atribuições do Departamento de Ligação Internacional (DLI), criado em 1951 para articular as relações com partidos comunistas ao redor do mundo. O leque se ampliou e, hoje, o PCC mantém “contato regular” com mais de 600 partidos de 160 países, segundo a mídia estatal.

Enquanto no Ocidente a política externa de Xi Jinping é cada vez mais vista como um instrumento agressivo da ascensão chinesa, com os países em desenvolvimento há meios mais sutis de interação, além da oferta de investimentos em infraestrutura. Um deles é a diplomacia partidária. Sem precisar representar o governo em atritos com outros países, o DLI pode se concentrar no lado positivo do modelo chinês, cativando os países emergentes com o que eles mais necessitam: eficiência e desenvolvimento.

Um exemplo são os treinamentos oferecidos a políticos de outros países. Milhares de estrangeiros já passaram pelas escolas do PC chinês, em cursos com previsível teor doutrinário, mas empacotados em linguagem pragmática, que enfatiza a importância do planejamento central para atingir as metas desenvolvimentistas. No ano passado, o conceito cruzou as fronteiras da China e se instalou na Tanzânia, onde foi inaugurada uma escola de liderança construída com aporte de US$ 40 milhões oferecido pela China.

O PC chinês insiste que não almeja exportar seu modelo de governança. Mas ao compartilhar histórias de sucesso, como no combate à pobreza, o objetivo implícito é oferecer uma alternativa descolada do Ocidente. Apesar da admiração que Lula tem demonstrado pelas conquistas do sistema chinês, o país é motivo de divergências históricas no PT, devido ao descaso com os valores democráticos.

Em 1989, o partido aprovou a moção “Não ao massacre do povo chinês”, após a brutal repressão ao movimento pró-democracia da Praça da Paz Celestial. Desde então a China virou referência em desenvolvimento, mas continua longe de ser modelo em direitos humanos.