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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Entre Stiegler e Friedman, com quem voce ficaria? Um debate imperdivel...

Recolho, do site do Empiricus, este diálogo que precede à publicidade de seus serviços de aconselhamento financeiro. Deixo a publicidade de lado para transcrever apenas a pequena lição de história.
Paulo Roberto de Almeida
    
Quer tomar um café com Friedman?
Empiricus, 10 Abril 2016

O ano era 1968.

Na cafeteria do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Chicago, dois dos maiores economistas da história batiam um papo informal, quase despretensioso.
Na época, Milton Friedman tinha 56 anos.
George Stigler era um ano mais velho.
Milton ficou mundialmente conhecido como o defensor do livre mercado.
Em paralelo, Stigler levantava a espada contra abusos do governo.
Ambos já despontavam para os alunos de Chicago como monstros sagrados da teoria econômica.
Seriam agraciados com o Nobel apenas tempos depois (Friedman em 1976 e Stigler em 1982), embora ninguém duvidasse disso nos corredores universitários de 1968.
Ouvi essa conversa do relato da Professora Deirdre McCloskey, que a presenciou pessoalmente.
Tomo aqui a liberdade de traduzi-la, preservando o que compete à forma e ao sentido.

#

George: Milton, você parece um pregador religioso! Se as pessoas quiserem livre comércio, terão livre comércio. Mas, se elas não quiserem, nenhum discurso econômico será suficiente para fazê-las mudar de ideia.

Milton: Ah, é justamente aí que eu e você nos distinguimos, Goerge. Nós somos ambos admiradores do livre mercado, mas você acha que o livre mercado já está funcionando desde sempre.

George: E por que não estaria? Os indivíduos são guiados por seus próprios interesses, e votam de acordo com isso - é o que basta para o livre mercado funcionar. Se os eleitores acabam comprando tarifas maiores de importação, provavelmente é o que desejavam ter.

Milton: Não é assim que acontece; os eleitores perseguem vontades, mas frequentemente não sabem quais são exatamente essas vontades. As pessoas precisam de educação. O cidadão médio não tem ideia de como uma tarifa adicional pode machucá-lo.

George: Educação?! Tente então educar um lobista trabalhando a serviço da indústria têxtil [a quem as tarifas de importação beneficiariam].

Milton: Conforme eu disse,  aí nos distinguimos. Sou um professor. Acredito que as pessoas fazem certas coisas simplesmente porque ignoram sua lógica econômica e suas últimas consequências.

George: E eu sou um cientista, um cientista econômico. As pessoas fazem o que fazem porque são sábias.

#

A conversa de café entre Stigler e Friedman sintetiza um debate fundamental na Economia e nas Finanças.

Há economistas que assumem, de antemão, que somos todos racionais. Agindo por conta própria, alcançamos rapidamente a melhor situação possível. Esses são os stigleritas.

Outros, apelidados de friedmanitas, também estão certos de que podemos alcançar a melhor situação possível, DESDE que nos esforcemos para aprender como as coisas funcionam.
(...)
Empiricus

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Milton Friedman, Free To Choose (em portugues) no YouTube

Segue o link para um dos capítulos (1) da série A liberdade de escolher do renomado Milton Friedman, com comentários agregados por personalidades da atualidade, que não constavam no seriado original.

 
Grato ao colega da Rede Liberal

                 Uilson de Jesus Carvalho              Arquiteto Reg.CAU - A12676-4/RJ
          Consultor Imobiliário - CRECI RJ 49742/O

 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Mercado Popular oferece quatro textos de Milton Friedman - Carlos Goes (MP)

Brilhante iniciativa e todos os encômios a Carlos Goes, de Mercado Popular.
Para facilitar o acesso a todos os links constantes do arquivo original, vá direto à postagem feita em Mercado Popular:
http://mercadopopular.org/2014/11/quatro-textos-para-voce-entender-milton-friedman/
Paulo Roberto de Almeida

Economia, Filosofia

Quatro textos para entender Milton Friedman

Esse texto recomenda quatro artigos e livros para que você comece a entender a extensa obra de Milton Friedman. Os textos são resumidos e, quando disponíveis, colocamos alguns links para que você possa ter acesso aos textos originais quando disponíveis pela rede.

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CAPITALISMO E LIBERDADE, com Rose Friedman (baixe em português). Este é um dos livros de Friedman para o público geral – e não para economistas. Mas isso não o impede de tratar de temas profundos e controversos. O livro começa relatando como a liberdade econômica e a liberdade política são duas faces da mesma moeda. O exemplo que Friedman usa é: imagine que você vive em um país onde em tese há liberdade de manifestação, mas onde tudo é do governo. Você pode protestar contra o governo, mas você teria que convencer o gerente da gráfica do governo a publicar seus panfletos, o chefe da seção de locação de caminhões do governo a lhe emprestar um carro de som e o diretor da rádio do governo a divulgar sua marcha contra o governo… No fim das contas, você teria que convencer diversas partes do governo a deixar que você tente mudá-lo. Interesses privados e corporatistas impediriam toda mudança. Neste livro, Friedman também advoga o fim das licenças governamentais para advogados e médicos como método de aumentar a concorrência e baixar preços – o que significaria o fim da Ordem dos Advogados do Brasil e do Conselho Federal de Medicina aqui no Brasil. Ele também introduz a ideia de substituir o sistema de assistência social tradicional por um modelo de “imposto de renda negativo”, em que as pessoas que tivessem renda menor a determinado patamar recebessem impostos ao invés de pagar. Esse modelo de política social pró-mercado é tido como a inspiração para o Bolsa Família – inclusive pelo ex-Senador Eduardo Suplicy. Por fim, ele traz uma de suas grandes contribuições: a ideia de que a educação estatal pode ser substituída por vouchers educacionais em que os pais podem ir ao mercado escolher em qual escola privada eles querem matricular seus filhos. Esse modelo foi implementado por países tão diversos quanto Colômbia, Chile, Estados Unidos e Suécia.

k746UMA HISTÓRIA MONETÁRIA DOS ESTADOS UNIDOS, com Anna Schwartz (baixe em português). A História Monetária é provavelmente o livro acadêmico mais influente de Milton Friedman. Ele revolucionou a interpretação padrão que se dava às causas da Grande Depressão. Até a publicação deste livro, predominavam a visão de que a Grande Depressão tinha sido causada por “crises de superprodução” (na linha de JK Galbraith) ou por erros naturais causado pelas irracionalidades dos investidores (de acordo com John Maynard Keynes). Friedman e Schwartz mostram que a Grande Depressão foi causada por erros políticos do Banco Central americano (Fed). Ao invés de perseguir uma regra de política monetária que mantivesse a quantidade de dinheiro circulante na economia estável (ou ligeiramente crescente), o Fed fez com que essa quantidade caísse fortemente – e transformou o que seria uma recessão breve na maior crise econômica da história. Em 2002, o próprio ex-presidente do Fed Ben Bernanke reconheceu isso, ao dizer: “Milton e Anna, vocês estavam certos. Nós somos responsáveis – e devemos desculpas.”

newINFLAÇÃO E DESEMPREGO. (palestra de aceitação do Prêmio Nobel em Economia): (baixe em inglês). Nesse texto, Milton Friedman resume sua refutação teórica à teoria econômica prevalente à época que era utilizada como justificativa para inflação mais alta e mais intervenção governamental discricionária: a Curva de Phillips. A Curva de Phillips presume uma associação negativa entre desemprego e inflação (o que implica em que crescimento econômico necessariamente deveria ser acompanhado de inflação mais alta). Friedman demonstrou que no longo prazo o desemprego não responde à inflação e é possível haver recessão econômica e inflação. Durante os anos 1970, os EUA entraram em recessão inflacionária (chamada de “estagflação”) e as teses de Friedman e seus amigos de Chicago (Ed Prescott, Bob Lucas e Ed Phelps) se mostaram corretas.

Divida-EBITDA-oilO GOVERNO TEM ALGUMA FUNÇÃO EM GERIR A MOEDA?, com Anna Schwartz (baixe em inglês). Neste artigo, que faz uma interessantíssima revisão do pensamento monetário de dois séculos, passando por Alfred Marshall e Friederich Hayekos autores explicam porque eles acham que um sistema privado de moedas não existe, embora eles entendam que provavelmente este seria mais eficiente do que um sistema de moedas monopolísticas. A conclusão é que barreiras políticas, o costume histórico da população e a vantagem de ter um único meio para trocas é o que leva a uma tendência ao status quo. Mas ele dizia que isso podia mudar no futuro – e até previu em 1999 que surgiria algo como Bitcoins para substituir o papel moedaAo contrário do que dizem alguns dos críticos de Friedman, ele não preferia o sistema de bancos centrais governamentais – afinal, ele construiu sua carreira apontando os maiores erros históricos do Fed. Ele simplesmente tentava sugerir as melhores políticas a partir da presunção de que ele não poderia alterar a base do sistema monetário. E este texto mostra isso claramente.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Pinochet e Friedman, o ditador e o economista - Brian Doherty (Ordem Livre)

O Economista e o Ditador

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O falecido autocrata chileno Augusto Pinochet é responsável por proibir a oposição política, por fazer "desaparecer" inimigos políticos (“desaparecendo” com alguns deles até em Washington, DC), por ordenar milhares de mortes e transformar estádios de futebol em sombrios centros polivalentes de detenção em que prisioneiros políticos eram torturados e mortos.
O falecido economista e jornalista Milton Friedman é responsável por insights inovadores em economia e apoiava a defesa pela liberdade dos indivíduos de escolher como viver suas vidas, livres da interferência do governo.
E ainda, tanto na vida quanto na morte, Pinochet e Friedman tem sido aceitos por muitos como dois lados “negros” de uma direita malvada em que o despotismo, a tortura, e  o livre mercado irrestrito estão intimamente ligados. O colunista do The New York Times Anthony Lewis declarou em 1975 que "a política econômica da junta chilena é baseada nas idéias de Milton Friedman (...) e sua Escola de Chicago (...) se a teoria econômica “pura” de Chicago pode ser realizada no Chile apenas sob o preço da repressão, deveriam os seus autores sentir alguma responsabilidade?" Tais atitudes assombraram Friedman até sua morte e além.
A reação de alguns dos conservadores usuais até a morte de Pinochet não ajudou a desmarcarar esta infeliz associação. Já que Pinochet era um autocrata pró-americano, que honrou um plebliscito e renunciou, parte da direita americana sempre teve um afeto doentio pelo general. A revista National Review realizou um simpósio e um relatório oficial organizado pelo ex-editor John O'Sullivan marcando o falecimento de Pinochet, sem muita indignação pelos crimes do ditador. O'Sullivan disse, explicitamente, em uma troca de acusações morais e bizarras que disputas partidárias costumam gerar, que é claro, Pinochet deveria sofrer por sua vilania – mas somente se Castro e Allende também o fossem.
Mas se os comunistas imorais são hipócritas por apenas se opor à tirania quando se trata de não-comunistas, como a direita é tão ágil em denunciar, no que se tornam os direitistas quando fazem isso, quando só parecem opor-se à tirania quando se trata de comunistas (ou muçulmanos)? Uh, bem ... Ei, olhem lá! Castro! Não o deixe escapar!
Sim, é verdade, Friedman deu conselhos a Pinochet. Mas não diziam respeito a como encontrar o melhor lugar no oceano para despejar os corpos dos inimigos políticos assassinados. Apesar das multidões enfurecidas de estudantes que perseguiram Friedman em todos os lugares de Estocolmo (a sua cerimônia de aceitação do Nobel em 1976 foi marcada pela presença dos estudantes) a Chicago porque eles o consideravam uma espécie de mestre-de-marionetes das sinistras políticas chilenas, a realidade das “ligações” de Friedman com Pinochet é muito menos dramática.
Durante anos, a Universidade de Chicago tinha um programa em parceria com a Universidade Católica do Chile no qual concedia bolsas para os chilenos estudarem em Chicago. Os conselheiros econômicos de Pinochet foram, assim, treinados pela Universidade de Chicago, e conhecidos como “Chicago Boys”. Mas o único contato direto de Friedman com o Chile foi quando ele foi convidado pelo seu colega, também professor da Universidade de Chicago, Arnold Harberger – que estava mais envolvido com o programa chileno – a dar uma semana de palestras e participar de debates públicos no Chile em 1975.
Enquanto esteve lá, Friedman teve um encontro com Pinochet, por menos de uma hora. Pinochet pediu a Friedman que lhe escrevesse uma carta sobre as suas opiniões sobre como a política econômica chilena deveria ser gerida, o que Friedman fez. Ele defendeu cortes rápidos e severos nos gastos do governo e inflação, bem como instituições mais abertas ao comércio internacional e políticas para "estabelecer o alívio de qualquer dificuldade real e angústia entre as classes mais pobres." Ele não escolheu essa como uma oportunidade de censurar Pinochet por qualquer uma de suas políticas repressivas, e muitos dos admiradores de Friedman, inclusive eu, teria se sentido melhor se ele o tivesse feito.
Mas essa foi a extensão de seu envolvimento com o regime chileno – e que se encaixa com um padrão recorrente na carreira de Friedman de aconselhar todos os que o quisessem ouvir. Não era um sinal de aprovação ao autoritarismo militar. Friedman, ao se defender contra as acusações de cumplicidade com, ou aprovação do governo de Pinochet, disse em uma carta em 1975 para o jornal da Universidade de Chicago que ele "nunca ouviu queixas" sobre ter dado ajuda e conforto para governos comunistas com quem tinha se comunicado, e que "eu não aprovo nenhum desses regimes autoritários, nem os regimes comunistas da Rússia e da Iugoslávia, nem os regimes militares do Chile e do Brasil. Mas eu acredito que posso aprender observando-os e que, na medida que a minha análise pessoal de sua situação econômica permita-lhes melhorar o seu desempenho econômico, é provável que isso promova e não retarde um movimento na direção de maior liberalismo e da liberdade. "
Se você acredita que é um dever moral boicotar criminosos no governo, sem restrições, então Friedman fez a coisa errada em falar com Pinochet e escrever-lhe uma carta. Mas se qualquer chileno teve uma vida melhor devido a qualquer reforma de livre mercado que Friedman ou os conselheiros de Pinochet treinados em Chicago ajudaram a tornar realidade, esse é um preço pequeno a pagar por qualquer dano à reputação de Friedman.
Mas será que algum chileno teve de fato uma vida melhor por causa das políticas de livre mercado? É uma questão de fé entre a esquerda que o Chile teve de fato a sua economia destruída pelo “Friedmanismo” galopante. Em um excelente artigo (não disponível online) que apareceu em 1983 na edição de agosto da revista Inquiry, durante a primeira recessão grave do Chile após algumas reformas de mercado iniciais, chamado "Será que Milton Friedman realmente arruinou o Chile?", Jonathan Marshall salientou que tanto Friedman, que foi muito rápido em declarar a vitória definitiva da reforma de livre mercado no Chile, e seus detratores, que achavam que suas políticas haviam levado a nação à ruína, estava esquecendo alguns detalhes importantes: "os próprios protegidos de Friedman abandonaram a economia de viés laissez-faire em certas conjunturas, e foram estes desvios, não um monetarismo doentio, que produziram o sofrimento do Chile."
Marshall salientou a grande insistência “não-Friedmaniana” do Chile no que se refere à fixação do preço do peso chileno em dólares americanos no início dos anos 80, acarretando em uma sobrevalorização do peso que devastou o mercado exportador chileno. Ele também notou que a continuação do sistema capitalista de camaradagem no Chile, no qual aqueles que contavam com influências tinham crédito especial do governo, bem como resgates quando os riscos do livre mercado os prejudicavam. Esses tipos de políticas, bem como um colapso mundial nos preços do cobre, a principal exportação do Chile, foram responsáveis pela recessão do Chile no início dos anos 80, não uma corrida maluca em prol do livre mercado.
De qualquer forma a tendência de reformas de livre mercado – especialmente quando incorporada com intervenções contínuas de vários tipos – não é garantia de resultados imediatos. Muitos das críticas (denúncias) populares da idéia de que as reformas de mercado ajudaram o Chile residem em procurar por pontos fixos do passado, como se eles resolvessem a questão sobre qualquer benefício no longo prazo. Se Friedman foi rápido demais em rotular a economia do Chile como um milagre instantâneo, como fez em uma coluna na revista Newsweek em 1982 (salientando que é um "mito" que "somente um regime autoritário pode implementar com sucesso uma política de livre mercado", já que um livre mercado é "o contrário" do autoritarismo militar), seus adversários foram bem mais rápidos em condená-lo como um desastre.
Alguns delas tiveram pontos fortes, particularmente sobre as taxas de crescimento nos anos 70 e 80 que eram, possivelmente, resultados tanto da recuperação do terreno perdido devido às recessões como produto do novo e sustentável crescimento de longo prazo. Mas as estatísticas da última década e meia mostraram um Chile que, no longo prazo tem superado, do ponto de vista econômico, a maioria da América Latina – inflação mais baixa, maior  crescimento real per capita do PIB, bem menor incidência de pobreza extrema e menos dependência do FMI.
Nenhum sucesso econômico do Chile serve de desculpa ou minimiza os crimes de Pinochet. Mesmo os defensores libertários ferrenhos de Friedman podem questionar a conveniência de sua associação, por mais breve ou tênue, com o ditador. Como o economista austríaco Peter Boettke me disse uma vez, muitos economistas de sua geração – muitos dos quais são libertários na sua essência – têm a noção de trabalhar em até mesmo algo inócuo como finanças públicas de mau gosto – como uma "ajuda para a máfia". Friedman não sentia tal repugnância visceral pelo governo ou por quem governa. Ele era realista sobre a política, e tentou lidar com o mundo como ele era – lubrificando com seu radicalismo político as engrenagens do poder do jeito que era possível.
Friedman estava pronto e disposto a dizer às pessoas responsáveis por todas as políticas erradas do mundo o que elas precisavam fazer para acertar as coisas, o que significava que ele tinha que dialogar com eles, fazendo ataques abertos a seus crimes imprudentes. Ele tentou mover o mundo em uma direção mais livre do ponto em que a realidade se apresentou.
"Não tenho nada de bom a dizer sobre o regime político que Pinochet impôs", disse Friedman em 1991. "Foi um terrível regime político. O verdadeiro milagre do Chile não é o quão bem ele foi economicamente, o verdadeiro milagre do Chile é que uma junta militar estava disposta a ir contra seus princípios e apoiar um regime de livre mercado projetado por seguidores dos princípios de um mercado livre... No Chile, o impulso para a liberdade política que foi gerado pela liberdade econômica e o conseqüente sucesso econômico ao final resultou em um referendo que introduziu a democracia política."
Poderia ter sido mais gratificante moralmente não ter nenhuma relação com Pinochet, simplesmente condená-lo de longe. Mas optando por deixar seus conselhos econômico  acima de revolução política, Friedman quase certamente ajudou o Chile a longo prazo – mas é importante lembrar que os "Chicago boys" foram mais responsáveis do que o próprio Friedman, e que eles não estavam seguindo suas prescrições implacavelmente ou sob a sua instrução direta.
Indubitavelmente, a decisão de Friedman de interagir com os funcionários de governos repressivos cria tensões desconfortáveis aos seus admiradores libertários; eu poderia, e na maioria das vezes, preferiria que ele não o tivesse feito. Mas dado o que provavelmente significou para a riqueza econômica e a liberdade no longo prazo para o povo do Chile, esta é uma reação egoísta. As políticas econômicas de Pinochet não amenizaram seus crimes, apesar daquilo que seus admiradores de direita dizem. Mas Friedman, como conselheiro econômico para todos os que o ouviram, não cometeu os crimes de ninguém, nem admirou nenhum criminoso.
* Publicado originalmente em 22/11/2012.
Brian Doherty é editor sênior da revista Reason e autor de diversos livros, entre eles, Radicals for Capitalism: A Freewheeling History of the Modern American Libertarian Movement.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A escola de Chicago, e algumas frases de Milton Friedman - Rubem Freitas Novaes

Excelente palestra esta de Rubem Freitas Novaes sobre a Escola de Chicago em Economia e seus principais expoentes, que acrescentou diversos elementos que eu já conhecia sobre as contribuições dos economistas do Departament of Economics da The University of Chicago através deste livro de Johan Van Overtveldt: The Chicago School: How the University of Chicago Assembled the Thinkers Who Revolutionized Economics and Business
Aliás, acho que comprei esse livro na própria cidade de Chicago, na Powell's da Lincoln Avenue, por um preço chicagoano...
Recomendo a leitura completa da palestra, da qual transcrevo apenas a introdução mais abaixo, não sem antes selecionar algumas frases memoráveis de Milton Friedman, que já fazem parte das grandes citações da civilização contemporânea.
Paulo Roberto de Almeida

MILTON FRIEDMAN:
-“Não existe almoço grátis”.
- “Nada é mais permanente que um programa temporário de governo”.
- “Se você coloca o governo federal para administrar o Saara, em 5 anos haverá escassez de areia”.
- “Uma sociedade que coloca a igualdade acima da liberdade acabará sem as duas”.
- “Só nas transações privadas, onde o olho do dono está presente, se atenta para os custos e para os benefícios dos recursos movimentados. Quando os recursos vêm de terceiros e são destinados a terceiros, como é o caso de recursos gerenciados pelo governo, não se cuida adequadamente nem dos custos nem dos benefícios envolvidos”.



A Escola de Chicago através de seus expoentes

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por Rubem de Freitas Novaes*

Registro minha homenagem póstuma ao mestre liberal e amigo Og Francisco Leme, que me iluminou os caminhos para Hyde Park, Chicago.

I – INTRODUÇÃO
Sem favor algum, pode-se dizer que a Escola de Chicago não foi superada em produção acadêmica e prestígio por nenhuma outra Escola de Economia no século que passou. É verdade que Cambridge sobressaiu-se até a segunda guerra mundial, por conta da influência exercida por Lord Keynes, principalmente. Mas, a partir da segunda metade do século XX, foi Chicago que dominou a profissão, o que pode ser constatado pelo impressionante número de professores laureados com o Prêmio Nobel e pelo expressivo volume de citações de seus maiores mestres na literatura técnica e política nas últimas décadas.
Cabe notar que o prêmio Nobel em economia começou a ser concedido em 1969. Nestes 45 anos que se passaram, nada menos que 30 economistas de alguma forma associados a Chicago (professores, ex professores e ex alunos) foram contemplados com a homenagem. Harvard, a segunda colocada no ranking de laureados, está bem distante de Chicago, quando tratamos de professores exercendo a cátedra no momento da premiação. Nas citações na literatura, por outro lado, Milton Friedman e Von Hayek, ex professores de Chicago, só ficam atrás de Karl Marx, Adam Smith e John Maynard Keynes, o que os coloca entre os cinco economistas mais influentes da História.
A Universidade de Chicago foi criada, sob os auspícios de John D. Rockefeller, em 1892. Antes houve uma outra Universidade de Chicago, administrada pela Igreja Batista, que faliu. Os batistas da cidade procuraram então o mais rico dos batistas para financiar um novo projeto, agora em bases mais profissionais. Rockefeller, desejoso de criar algo positivo para sua imagem, acatou a sugestão e convenceu-se de que o ambiente mais calmo da cidade de Chicago fazia dela local mais apropriado que Nova Iorque para um grande projeto educacional (Al Capone ainda não havia nascido, ressalte-se). Doou assim 600 mil dólares sob as condições de que a presidência ficasse com William Harper, reputado professor e administrador, e de que os batistas locais investissem 400 mil dólares suplementares bem como conseguissem terreno apropriado para o campus. Marshall Field, comerciante riquíssimo, doou o terreno, Harper aceitou o desafio e os batistas locais arrecadaram o dinheiro. Assim, estava criada The University of Chicago (com o artigo), em Hyde Park, onde se encontra até hoje.
Até a década de 30 não havia lá um pensamento relativamente homogêneo, traços de união que pudessem caracterizar uma Escola de Economia. Não era nítida uma metodologia dominante, nem uma visão comum de abordagem do fato econômico. E, no terreno ideológico, coexistiam, no Departamento Econômico, liberais, intervencionistas empedernidos e até socialistas convictos, lembrando que Oskar Lange, professor da Escola, veio a ser ministro no governo comunista polonês do pós guerra. A partir dos anos 40, no entanto, a influência de Frank Knight, Theodore Schultz e Jacob Viner foi dominante e algumas características comuns a quase todos os professores passaram a marcar a Escola. Destas características, eu destacaria:
- Defesa da economia de mercado e desconfiança em relação a intervenções do governo.
- Uso da Teoria Neoclássica fundada na lei da escassez, na racionalidade da ação humana e na análise marginalista.
- Utilização do instrumental econômico para a análise de diversos aspectos da vida.
- Ênfase no teste empírico de hipóteses.
- Importância da moeda na macroeconomia.
Em termos do desenvolvimento da Teoria Econômica, a Escola de Chicago teve particular destaque nas áreas de: capital humano, econometria, contrarrevolução monetarista, economia internacional, sociologia e economia, direito e economia, expectativas racionais, hipótese do mercado financeiro eficiente, mechanism design, entre outras.
Muitos se indagam sobre as razões de tanto sucesso. É certo que Chicago sempre primou pela competitividade, pelo trabalho duro e pela meritocracia, mas há outros elementos, apontados por quem conhece diversos ambientes universitários, que fazem a diferença. Um é o sistema de workshops, onde estudantes mais avançados rumo ao doutorado e professores submetem suas ideias e pesquisas à dura crítica dos seus companheiros. O outro ponto destacado é o estilo de vida praticado. A Universidade fica distante do centro da cidade, onde existem as distrações. De um lado do bairro onde se situa, fica o Lago Michigan, com seu vento quase sempre gelado. Do outro lado, não muito distante, fica um bairro pobre e perigoso. Espremidos numa faixa estreita, alunos e professores comem, bebem e dormem Economia 24 horas por dia. Ou seja, é imersão total, mesmo para os professores, não encontrável, por exemplo, na vida charmosa da Costa Leste ou da Califórnia.
Nesta palestra tentarei dar uma amostra do que foi e é a Escola de Chicago, pinçando alguns nomes que, na minha opinião, mais contribuíram para a teoria e prática da Ciência Econômica bem como para o prestígio da Escola. Ao falar destes expoentes e de sua obra, muita coisa será deixada de lado. Sinto especialmente deixar de fora os nomes de Theodore Schultz, Ronald Coase, Robert Fogel, Robert Mundell e James Heckman, todos premiados com o Nobel. Mas, ao falar de Frank Knight, Friedrich Von Hayek, George Stigler, Milton Friedman, Gary Becker e Robert Lucas penso estar na companhia dos melhores entre os melhores, la crème de la crème.

Continue a ler neste link: http://ordemlivre.org/posts/a-escola-de-chicago-atraves-de-seus-expoentes

*O autor nasceu no Rio de Janeiro, em 22 de agosto de 1945. É economista formado na UFRJ com mestrado e doutorado na Universidade de Chicago. Foi professor da EPGE/FGV-Rio, Chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional da Indústria, Assessor Especial da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, Presidente do SEBRAE e Diretor do BNDES. No setor privado, exerceu atividades de consultoria e ocupou diversos cargos executivos em instituições financeiras.
** Palestra proferida perante o Conselho Técnico da CNC, em 16/09/2014

sábado, 11 de outubro de 2014

A Utopia pouco Concreta dos orfaos do socialismo - Jean-Francois Revel (book)


Abri, nesta sexta-feira este livro de Jean-François Revel, Last Exit to Utopia: The Survival of Socialism in a Post-Soviet Era (New York: Encounter Books, 2009), que havia encomendado uma semana antes no site da Abebooks: me custou 20 dólares menos do que o preço marcado na orelha do livro, para venda de exemplar novo em livraria: US$ 23.95 (mais o frete, exatamente igual ao preço do livro, ou seja, um total de menos de 8 dólares; ele custa 75 reais no site da Livraria Cultura).
Eu tinha conhecimento da edição francesa do livro, La Grande Parade. Essai sur la survie de l'utopie socialiste (Paris: Plon, 2000), mas não o encontrei nas livrarias quando morei em Paris em 2012. Devia ter comprado outros, pois, pois agora, os preços em euros e de frete da Abebooks.fr são bem menos competitivos do que a rede americana.
O título em inglês traduz exatamente o significado da obra, já que o título original não se adaptaria bem a uma tradução literal, dados os significados múltiplos de parade, e o tradutor americano, Diarmid Cammell, -- que já tinha traduzido L'Obsession Anti-américaine, que eu li em Português --, realizou uma obra admirável, deixando vários conceitos em francês mas explicando ao leitor americano o seu significado em footnotes.

Mas, o que interessa aqui, depois dos lamentáveis debates eleitorais do primeiro turno, seria recuperar o conceito de utopia, já que uma candidata -- que precisa estudar muito muito antes de se candidatar a qualquer outra coisa, começando por síndica do seu condomínio; vejam esta brincadeira séria que fizeram de sua ignorância enciclopédica alunos inteligentes da UnB: http://www.brasilpost.com.br/2014/09/22/luciana-genro-entrevista_n_5865358.html -- se referiu várias vezes a suas crenças (sim, crenças) como sendo uma "utopia concreta".

Ora, este livro do conhecido polemista francês -- cujos primeiros livros eu tinha conhecido muito cedo, quando eu ainda era um estudante esquerdista ao recém chegar na Europa e me deparar com o seu Ni Marx, Ni Jesus -- se dedica justamente a desmantelar as utopias socialistas que conseguiram sobreviver ao desmantelamento do muro de Berlim, do império soviético e da própria experiência histórica do socialismo real. O que sobrou, ele reconhece, foram ideias, e ideias são bem mais resistentes do que as construções humanas, como já tinha reconhecido paralelamente François Furet, um grande historiador liberal, tocquevilleano, mas que tinha vindo, como muitos, do marxismo, e até do PCF, que ele abandonou logo depois do massacre de Budapeste e do XX congresso do PCUS. Eu fiz uma grande resenha do seu livro Le Passé d'une Illusion, que pode ser lida neste post.

O socialismo deu dois suspiros e depois morreu, a despeito de remanescentes ridículos aqui e ali -- pequenas ilhas de miséria, uma vez que a China é um imenso experimento de capitalismo autocrático, o que pode parecer uma contradição anti-Friedmaniana, de Capitalism and Freedom -- mas ainda sobraram, justamente no terreno das (más) ideias, esses órfãos do socialismo, todos eles burgueses ou pequenos burgueses vivendo confortavelmente no capitalismo, e que insistem em continuar propagando utopias, na verdade muito pouco concretas.

Esse pessoal se reagrupou na última fortaleza inexpugnável do socialismo, o terreno da utopia. O socialismo em si, como explica Revel, não é imune a críticas. Mas a utopia está além e acima de qualquer recriminação. Ela é simplesmente inatacável, já que não se reporta a nenhum sistema existente, mas a uma vaga aspiração a um porvir melhor.
O socialismo sempre pode ser criticado, pelas falhas dos seus promotores -- eles "não fizeram direito o serviço", houve defeitos aqui e ali, se não fosse o capitalismo, mas o "ideal sempre foi válido" -- mas a utopia está fora do alcance de críticas concretas.

Pois bem, mas quando a candidata desmiolada e ignorante -- mas que ainda assim amealhou um bocado de votos, e não se sabe se os seus eleitores eram igualmente desmiolados e ignorantes, mas ela certamente era -- se referiu à sua "utopia concreta", não me lembro de alguém ter-lhe perguntado o que, exatamente, ela pretendia dizer com isso. Acho que ninguém, e nem mesmo ela saberia explicar, pois a verdade é que ela não sabe, não tem a menor ideia e nem pretende ter, pois não tem tempo de estudar, como lhe recomendaram os estudantes (que eles, sim, estudaram o socialismo e viram que não dá certo, o que Ludwig von Mises já tinha comprovado desde 1919).

Não sei se este livro de Revel já foi traduzido para o Português (qualquer um) e publicado no Brasil ou em Portugal, mas deveria: eu poderia oferecer um exemplar a essa candidata ignorante, se ela se comprometesse a lê-lo, o que eu duvido que faria, pois poderia abalar as suas convicções.

Mas, pelo que vejo pelos debates online nas redes de comunicação social acho isso impossivel. O pessoal que é true believer, ou seja, os criacionistas políticos, que são os órfãos do socialismo, são totalmente infensos a qualquer raciocínio lógico que venha a negar as suas crenças mais arraigadas, exatamente como os criacionistas, que acham que o mundo só tem um pouco mais de 4 mil anos e que os dinossauros (que conviveram obviamente com os homens, pois que também foram criados por deus em algum momento de distração) só não sobreviveram porque não couberam na arca de Noé.

Esse pessoal está além, acima, fora do escopo de qualquer argumento histórico, lógico, filosófico, experimental, simplesmente behaviorista (que elas chamariam de positivista, como se soubessem do que se trata), e estão completamente perdidos em sua nave da utopia.

São esses que sustentam a candidata desmiolada -- a verdadeira, não a utópica -- a despeito de reconhecerem que ela não é exatamente o ideal com quem sonhavam, e são esses que  inventam todas as mentiras que depois vão servir aos menos informados (que estão em todas as regiões do país) como prova de que estão fazendo o melhor possível neste governo possível.
Eles são impossíveis.

Mas, se você não é um true believer, se você não é um criacionista político, você vai gostar de Jean-François Revel, de qualquer livro dele, embora este seja um dos mais adaptatados à nossa época e aos nossos problemas. Ele vai curá-lo de um monte de bobagens que você vai ouvir (ou já ouviu) de seu professor em classe, como também de candidatos que precisariam voltar para as salas de aula, como aquela candidata da utopia concreta que não teve vergonha de afirmar verdadeiras barbaridades nas suas aparições de TV. E o pior é que ela acreditava estar dizendo coisas geniais. Mais pior ainda, como diria o chefe da quadrilha, é que um monte de "babacas" se deixaram levar pelas suas palavras e ainda votaram no estupor.
Se eles tivessem lido este livro, não correriam esse risco.
Acho que se comprarem na Abebooks, mesmo pagando 11 ou 15 dólares de frete, ainda sai mais barato do que comprar na Cultura. Recomendo.
Boa noite, sem utopias...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 11 de outubro de 2014.

PS: Recomendo uma visita ao site dedicada a ele e sua obra, que tem, inclusive, algumas referências em Português:

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um pouco da historia do neoliberalismo, Hayek, Friedman, and the others - Book review

Published by EH.Net (December 2013)

Angus Burgin:
The Great Persuasion: Reinventing Free Markets since the Depression
Cambridge, MA: Harvard University Press, 2012. v + 303 pp. $30 (hardcover), ISBN: 978-0-674-05813-2.
Reviewed for EH.Net by Ross B. Emmett. James Madison College, Michigan State University.

Neo-liberalism has had several histories written recently. Daniel Stedman Jones (2012) linked the stories of F.A. Hayek and Milton Friedman to the rise of Margaret Thatcher and Ronald Reagan, crossing intellectual history with political history. Phil Mirowski and Dieter Plehwe (2009; see also Mirowski, 2013) provided us with the account of a unitary social movement – a “thought collective” as they called it. Stedman Jones’ account fell short because he lacked a clear understanding of how ideas are translated into institutions and rules via political entrepreneurship (see Leighton and López, 2012 for one model of how political entrepreneurship works). His account both underestimated the subtleties of the ideas of theorists in their academic setting, and overestimated the role of political leaders in translating ideas into the political realities. Mirowski and Plehwe brought the social movement emerging from Mont Pelerin to life. But all too often in the essays inc!uded in their volume the ideas and actions of the individuals within the movement were evaluated solely in terms of the outcomes of the movement as a whole – outcomes that were perceived to be threats to all good things; like democracy, human welfare, freedom and the like.
Angus Burgin also sets a lofty objective; but he gives us a much more subtle and nuanced history than either of two accounts mentioned above. “The history of the Mont Pèlerin Society (MPS) can, and to some extent should, be read as an extended plea for the relevance of the history of ideas to the history of politics” (p. 224), he tells us in his conclusion. Agreed. Yet, unlike the one-dimensional, and uni-directional, studies cited above, the historical “relationship between theory and praxis” among members of MPS that he narrates for us reveals the nuanced subtleties of “the dynamic nature of a historical transformation” (p. 224); a transformation in the way we configured the relationship between the state and markets during the latter half of the twentieth century. In Burgin’s account, living, breathing human beings communicate, argue, negotiate, pontificate, and yes, even conspire in their efforts to encourage and preserve “capitalist modes of social organization” (p. 225).
What “capitalism” meant was itself a question. Frank Knight, one of the contributors to the discussion who rightly figures in Burgin’s narrative as a key participant in the early years, never used the word “capitalism” in his little textbook The Economic Organization (2013). Yet Knight’s book did much to revitalize acceptance among the future members of MPS of the benefits of social organization via the price mechanism in an “exchange system” (Knight, 2013, p. 23-24). One of the reasons Knight (in contrast, say, to Ludwig von Mises) figures so prominently in Burgin’s account is that he could never settle on a simple account of the complex relationship among the political, social, economic, and even moral aspects of a society which decided (consciously? or simply as a result of accepting other things like the rule of law, family control of property, certain social customs, etc.) to allow markets to play a central role in social organization (see ! p. 112-122). Knight’s concerns were shared, to a greater or lesser extent, by other MPS members: Bernard de Jouvenel, Wilhelm Röpke, and Albert Hunold (who served as secretary for the Society in its early years, but eventually left it) for example. And even Hayek, whose intellectual leadership is central to Burgin’s account, reconfigured his understanding of the relation between markets, the state, and various forms of social organization several times.
If anyone is the “hero” in Burgin’s narrative, it is Milton Friedman, who took over leadership of the MPS at the moment when conflict over the relation between capitalism defined narrowly in market terms, and capitalism defined in terms of individual liberty, came to a head. It was to Friedman that Jouvenel wrote his famous letter of resignation from the Society, and it was Friedman that wrote the polemic Capitalism and Freedom (2002) that replaced Hayek’s Road to Serfdom (1994) as the call-to-arms for the next generation of MPS members. Interestingly, Capitalism and Freedom was originally published in the same year that Hayek left Friedman’s lair in Chicago for retirement back on the continent, at the University of Freiburg. Capitalism and Freedom articulated a liberal social philosophy that was “less conflicted than those of the leading figures in the early Mont Pèlerin Society” (p. 177). Unlike his predecessors, who wrote general accounts of the benefits of a liberal society, “Friedman’s consistent preference for unconstrained markets combined with his methodological orientation toward empiricism to inspire him to propose an astonishing range of specific alterations to governmental practice” (p. 178). Among conservative policy-makers in America and Europe, the MPS had been held at arms-length, admired at a distance, and kept away from the practice of policy making. Friedman changed all that. His academic reputation and willingness to engage the public in their own terms “made him a formidable figure in the conservative intellectual world.” But he also possessed a toolbox equipped with novel, explicit ideas “that were clearly derived from and representative of a singular worldview” (p. 184). The combination of these qualities provided him with the means to change the public debate over markets in America, and eventually around the world.
As important as Friedman’s ideas became, and as narrowly focused on the efficiency gains from adopting market-based solutions to social problems the MPS became, there were always those who asked the Society to recall the broader dimensions of social and moral inquiry that had so animated its early members. Burgin spends the penultimate chapter of the book on this debate over the moral capital of the Society, concluding that the Friedman shift – dare I call it a version of the Samuelson’s “F-Twist” (1963)? – may have captured the spirit of an age, but it left a Society that had abandoned the very “questions of value that Hayek had established [it] to address” (p. 213).
Earlier I said that, in Burgin’s account, we see human beings communicating and acting to encourage society’s re-engagement with capitalism. And yet, as I walk away from the book, it is his account of those human beings’ thinking that most captivates me. Thinking in the midst of praxis, I’m tempted to say, because it is not thought leading to action; nor action leading to thoughts. It is both together, and more. Burgin ends by urging modern MPSers to return to the critical openness of the early MPS to engagement with a broader understanding of capitalism in all its dimensions. Can modern proponents of capitalism engage the discontent with liberalism that troubled Knight and Jouvenel, Michael Oakeshott and Röpke? “We have accepted the virtues of markets but failed to determine how to integrate them into life as we wish it to be” (p. 226).
References:
Friedman, M. (2002). Capitalism and Freedom: Fortieth Anniversary Edition. Chicago: University of Chicago Press.
Hayek, F. A. (1994). The Road to Serfdom: Fiftieth Anniversary Edition. Chicago: University of Chicago Press.
Knight, F. H. (2013). The Economic Organization. New Brunswick, NJ: Transaction Publishers.
Leighton, W. and López, E. (2012). Madmen, Intellectuals and Academic Scribblers: The Economic Engine of Political Change.  Stanford, CA: Stanford University Press.
Mirowski, P. (2013). Never Let a Serious Crisis Go to Waste: How Neoliberalism Survived the Financial Meltdown. London: Verso.
Mirowski, P. and Plehwe, D. (Editors) (2009). The Road from Mont Pelerin: The Making of the Neoliberal Thought Collective. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Samuelson, P. A. (1963). “Problems of Methodology – Discussion,” American Economic Review, Vol. 53, No. 2 (Papers and Proceedings): 231-36.
Stedman Jones, D. (2012). Masters of the Universe: Hayek, Friedman, and the Birth of Neoliberal Politics. Princeton, NJ: Princeton University Press.
Ross B. Emmett’s publications include Frank Knight and the Chicago School in American Economics, Routledge (2009).
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Apresentação de dois dos livros citados na bibliografia no site Abebooks.com:
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Masters of the Universe: Hayek, Friedman, and the Birth of Neoliberal Politics (Hardback)

Daniel Stedman Jones
(Gloucester, ., United Kingdom)
Quantity Available: 1

Book Description: Princeton University Press, United States, 2012. Hardback.
How did American and British policymakers become so enamored with free markets, deregulation, and limited government? This book - the first comprehensive transatlantic history of the rise of neoliberal politics - presents a surprising answer. Based on archival research and interviews with leading participants in the movement, "Masters of the Universe" traces the ascendancy of neoliberalism from the academy of interwar Europe to supremacy under Reagan and Thatcher and in the decades since. Daniel Stedman Jones argues that there was nothing inevitable about the victory of free-market politics. Far from being the story of the simple triumph of right-wing ideas, the neoliberal breakthrough was contingent on the economic crises of the 1970s and the acceptance of the need for new policies by the political left. "Masters of the Universe" describes neoliberalism's road to power, beginning in interwar Europe but shifting its center of gravity after 1945 to the United States, especially to Chicago and Virginia, where it acquired a simple clarity that was developed into an uncompromising political message.Neoliberalism was communicated through a transatlantic network of think tanks, businessmen, politicians, and journalists that was held together by Friedrich Hayek and Milton Friedman. After the collapse of Bretton Woods in 1971, and the "stagflation" that followed, their ideas finally began to take hold as Keynesianism appeared to self-destruct. Later, after the elections of Reagan and Thatcher, a guileless faith in free markets came to dominate politics. Fascinating, important, and timely, this is a book for anyone who wants to understand the history behind the Anglo-American love affair with the free market, as well as the origins of the current economic crisis.
Mirowski, P. and Plehwe, D. (Editors) (2009). The Road from Mont Pelerin: The Making of the Neoliberal Thought Collective. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Book Description: HARVARD UNIVERSITY PRESS, United States, 2009. Hardback. 
What exactly is neoliberalism, and where did it come from? This volume attempts to answer these questions by exploring neoliberalism's origins and growth as a political and economic movement. Although modern neoliberalism was born at the 'Colloque Walter Lippmann' in 1938, it only came into its own with the founding of the Mont Pelerin Society, a partisan 'thought collective', in Vevey, Switzerland, in 1947. Its original membership was made up of transnational economists and intellectuals, including Friedrich Hayek, Milton Friedman, George Stigler, Karl Popper, Michael Polanyi, and Luigi Einaudi. From this small beginning, their ideas spread throughout the world, fostering, among other things, the political platforms of Margaret Thatcher and Ronald Reagan and the Washington Consensus. "The Road from Mont Pelerin" presents the key debates and conflicts that occurred among neoliberal scholars and their political and corporate allies regarding trade unions, development economics, antitrust policies, and the influence of philanthropy.The book captures the depth and complexity of the neoliberal 'thought collective' while examining the numerous ways that neoliberal discourse has come to shape the global economy.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ideias tem consequencias: Lord Acton e Milton Friedman - Instituto Liberal

Duas frases, em dois continentes distintos, mas revelando um mesmo universo de princípios, uma mesma concepção de valores, que seriam altamente recomendáveis para o caso do Brasil, embora aparentemente estejamos a anos-luz de distância desses valores, numa galáxia distante, separada das concepções encarnadas pelas frases desses dois homens, aliás separados no tempo e no espaço:

Ideias têm consequências

Lord Acton [10 de janeiro de 1834 —  19 de junho de 1902]

“Toda vez que um único e determinado objetivo torna-se o fim supremo do Estado, seja a vantagem de uma classe, a segurança ou o poder do país, a maior felicidade do maior número de pessoas, ou o apoio a qualquer ideia especulativa, o Estado torna-se por um tempo, inevitavelmente, absolutista. A liberdade, por si só, exige, para sua realização, a limitação da autoridade pública porque a liberdade é o único objetivo que beneficia a todos da mesma forma, e não provoca nenhuma oposição sincera.”
(Lord Acton, in “Nationality” [1862], in Essays in the History of Liberty) 
.

Milton Friedman  [31 July 1912 – 16 November 2006]

Acho que a solução do governo para um problema normalmente é tão ruim quanto o problema e, em geral, torna o problema pior.
I think the government solution to a problem is usually as bad as the problem and very often makes the problem worse.
  • An Economist’s Protest (1975), p. 6; normalmente citada como “A solução do governo para um problema é normalmente tão ruim quanto o problema.” [Wikiquote]
Retirado do blog do Instituto Liberal: http://institutoliberal.org.br/blog/?page_id=3254

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Rodrigo Constantino: entrevista em Paginas Amarelas da revista Veja

Rodrigo Constantino, jovem revelação de economista: “Esfolar os ricos em nome de melhorar a vida dos pobres é uma falácia. E a defesa do mercado não deve ser confundida com a defesa dos empresários”

"As estatais são ineficientes porque não precisam obter lucros. Quando há problemas, o governo sempre coloca mais dinheiro" (Foto: Instituto Millenium)
"As estatais são ineficientes porque não precisam obter lucros. Quando há problemas, o governo sempre coloca mais dinheiro" (Foto: Instituto Millenium)
Entrevista concedida a Giuliano Guandalini, publicada em edição impressa de VEJA

Um dos mais produtivos economistas da nova geração aponta as contradições, os riscos e a ineficiência resultantes do aumento da interferência do governo na economia
“Se puserem o governo federal para administrar o Deserto do Saara, em cinco anos faltará areia.” A frase é do economista americano Milton Friedman (1912-2006), ganhador do Nobel de 1976 e o maior expoente do liberalismo nos últimos cinquenta anos.
Essa corrente de pensamento preconiza a abertura econômica dos países e a redução, ao mínimo possível, da interferência do governo no funcionamento dos mercados, favorecendo o investimento privado em um ambiente de competição acirrada. A frase de Friedman serve de epígrafe para o livro Privatize Já, de Rodrigo Constantino, lançado pela editora Leya.
Constantino, de 36 anos, faz parte de uma nova geração de economistas brasileiros que valorizam o pensamento liberal clássico e denunciam o peso excessivo do estado na economia. No livro, ele defende a “agenda esquecida” das privatizações. O economista recebeu VEJA em seu escritório, numa empresa de investimentos, no Rio de Janeiro.
As empresas de celulares estão entre as campeãs de queixas entre os consumidores brasileiros, apesar de serem extremamente rentáveis. Nas estradas privatizadas, as reclamações recaem sobre o valor dos pedágios. Não são sintomas de que a privatização nem sempre funciona?
No fundo, se procurarmos bem, sempre haverá a impressão digital do governo nessas falhas atribuídas ao mercado. No caso dos celulares, há muitas reclamações, em primeiro lugar, por causa do grande aumento no número de usuários depois da privatização do sistema Telebrás. Antes nem adiantava reclamar, porque era um serviço caro e raro.
Reconheço que existem problemas. Mas os impostos arrecadados pelo governo encarecem as tarifas e reduzem os investimentos. O sinal das chamadas é ruim porque faltam antenas, e o grande entrave para ampliar o número de antenas são os governos, que demoram a conceder as licenças de instalação.
As pessoas reclamam do preço do pedágio, porém o que deveria ser objeto de revolta são os milhões arrecadados em impostos, como o IPVA, que não são investidos nas ruas e rodovias.
As privatizações, obviamente, não são uma panaceia se feitas de maneira escusa. Acompanhei o processo de desestatização na Rússia, depois da queda do regime soviético. As privatizações ocorreram sem nenhum arcabouço institucional minimamente decente, sem transparência nas informações. Privatização, assim, não faz milagre.

"Para privatizar a Petrobras, precisaríamos ter uma Margaret Thatcher, um estadista disposto a enfrentar os grupos de interesses localizados" (Foto: Petrobras)
"Para privatizar a Petrobras, precisaríamos ter uma Margaret Thatcher, um estadista disposto a enfrentar os grupos de interesses localizados" (Foto: Petrobras)
Se a venda de estatais obteve resultados positivos, por que nenhum político no Brasil defende abertamente a privatização da Petrobras?
As resistências são gigantescas. Para privatizar a Petrobras, precisaríamos ter uma Margaret Thatcher, um estadista disposto a enfrentar os grupos de interesses localizados. Será impossível vender o controle da estatal enquanto imperar a ideia de que seria a “entrega” de um patrimônio público.
Basta ver a dificuldade dos tucanos em defender o seu legado, no geral favorável, de privatizações. Elas foram feitas mais por necessidade, porque as estatais estavam quebradas, do que por convicção. Foi preciso que gente como eu, um liberal convicto e crítico da social-democracia dos tucanos, saísse em defesa das privatizações.
A Petrobras não é uma empresa grande demais para ser privatizada e não existiria o risco de substituir um monopólio estatal por um privado?
Nesse aspecto, estou com Milton Friedman. Entre um monopólio estatal e um privado, prefiro o privado. Sempre há formas de regulação para equilibrar uma eventual falta de concorrência. Ademais, não acredito que a Petrobras deva ser monopolista. A concorrência pode e deve ser incentivada, atraindo novos investidores.
O petróleo não é nosso, como argumentam os defensores do monopólio estatal? Perfeito, então nada melhor que entregar a cada brasileiro a sua fatia na empresa. Cada um faria o que quisesse com as suas ações. Em parte, seria a repetição em grande escala da compra de ações com o uso do FGTS.
Infelizmente, o comando da Petrobras fica a cargo de políticos, pessoas sem o menor foco na gestão.
Quais seriam os benefícios de uma Petrobras privatizada?
Os acionistas privados, interessados na rentabilidade, pressionam a empresa a ser mais eficiente. Seriam reduzidas as ingerências políticas e manipulações, como o controle no preço da gasolina para evitar o impacto na inflação. O Brasil já seria autossuficiente em combustíveis. A produção do pré-sal estaria em um estágio muito mais avançado.
Como paralelo, basta observar a revolução em curso atualmente nos Estados Unidos com o intenso desenvolvimento da produção do gás de xisto. O seu processo de extração é complexo, e para torná-lo economicamente viável foram necessárias muitas pesquisas e inovações, feitas por diversas empresas.
É um exemplo daquilo que Schumpeter (Joseph Alois Schumpeter, economista austríaco, morto em 1950) chamou de destruição criadora. Não se pode vislumbrar esse tipo de inovação surgindo em uma economia predominantemente estatal, fechada e sem concorrência.
Não existem estatais eficientes?
São raras. As estatais tendem à ineficiência porque não precisam obter lucros para se perpetuar. Seus diretores podem fazer atrocidades financeiras, mas mesmo assim as estatais continuarão existindo, porque, quando houver problemas, o governo acabará lhes dando mais dinheiro.
É o que ocorre, enquanto falamos, com os bancos públicos. Os bancos privados, temendo o aumento na inadimplência e o risco de perdas, reduziram o ritmo na liberação de financiamentos. Já os bancos públicos, por determinação do governo, estão injetando na economia um volume crescente de empréstimos. Eles sabem que serão salvos pelo governo se essa política der errado.
A atuação dos bancos públicos não contribui para a queda nas taxas de juros cobradas pelo setor financeiro, estimulando assim o crescimento econômico?
Esse é um efeito de curto prazo, atendendo a interesses essencialmente políticos. Acusam, com certa razão, o setor privado pela crise financeira de 2008, mas se esquecem da contribuição do setor público.
Nos governos de Bill Clinton e de George W. Bush, a Casa Branca sofreu pressões para incentivar o crédito habitacional, usando como instrumento as agências semiestatais de financiamento. Essa foi a origem da bolha imobiliária.
Os governos são os maiores interessados em pôr em foco políticas de curto prazo e lançar a conta para a frente. Por cálculo eleitoral, os governos são míopes. Se um político não olha para o curto prazo, ele perde a eleição. Então os governos tendem a estimular a formação de bolhas, postergando qualquer tipo de ajuste.
A internet e o GPS resultaram de investimentos públicos na área da defesa, e o Vale do Silício talvez não existisse sem os gastos americanos na indústria militar e aeroespacial. No Brasil, a Embraer nasceu de um investimento do governo. Esses não seriam exemplos de intervenções estatais positivas?
Tudo isso é verdade, mas recorro a Bastiat (Frédéric Bastiat, teórico liberal francês do século XIX), segundo o qual, em economia, existem os efeitos vistos e os não vistos. Sempre haverá exemplos de sucesso resultantes de intervenções estatais. Um economista mais cético, entretanto, deverá perguntar: e aquilo que não se vê?
Como seria o país se o governo não desviasse recursos escassos para esses fins? Ninguém tem essa resposta. Se o governo não tivesse criado a Embraer e a mantido por anos e anos, mesmo dando prejuízo, talvez os recursos pudessem ter sido usados de maneira mais produtiva pela iniciativa privada. O governo nunca é um bom empresário.
Origem da bolha imobiliária dos EUA está na pressão do governo e atuação de semiestatais no financiamento (Foto: Images Money)
"A origem da bolha imobiliária dos EUA está na pressão do governo e atuação de semiestatais no financiamento" (Foto: Images Money)

A redução da pobreza não deve ser uma missão eminentemente do governo, sobretudo em um país com bolsões miseráveis como o Brasil?
Sinceramente, acredito que o Estado contribui mais para concentrar a riqueza do que para distribuí-la. Brasília, a capital com a segunda maior renda per capita do país, é um ótimo exemplo dessa concentração de renda patrocinada pelo governo. Não me convence o discurso segundo o qual a justiça social depende de um Estado grande e inchado.
O governo brasileiro cobra um pedágio muito alto em nome dessa distribuição de igualdade e, no fim, o resultado é uma concentração. O governo deveria concentrar os seus gastos na melhora da qualidade do ensino e também na infraestrutura. É o inverso do que existe hoje.
O governo consome o equivalente a quase 40% do PIB e investe apenas 1% do PIB. É preciso investir muito mais, sem, é claro, desativar uma rede de proteção social mínima.
Os países europeus argumentam que o estado de bem-estar social contribui para a coesão na sociedade, reduzindo o risco de levantes populares e rupturas políticas. Qual a sua avaliação?
Concordo em parte. Como disse, nenhuma nação civilizada deve se conformar com o fato de uma parcela de sua sociedade ter ficado para trás, seja por um infortúnio, seja por outro problema qualquer. Essas pessoas não podem ficar desamparadas. Na Europa, porém, o básico já foi atendido há muito tempo.
Para os europeus de agora, todos devem ter direito a tudo. Essa é uma bandeira marxista: a todos de acordo com a sua necessidade; de todos de acordo com a sua capacidade. No limite, essa política leva todos a ter necessidade de tudo, e todos a ter capacidade de nada.
O estado de bem-estar social solapa incentivos cruciais. Ninguém estará disposto a labutar de sol a sol para deixar 60% ou até 70% de sua renda na mão do governo. Esfolar os ricos em nome de melhorar a vida dos pobres é uma falácia.
Por quê?
A economia não é um jogo de soma zero, no qual João, para ficar rico, precisa tirar de José. O mesmo vale para países. É pura propaganda defender a ideia de que alguns países ficaram ricos apenas por ter explorado os pobres. Essa mentalidade mercantilista é que leva a conclusões absurdas como a de que as importações são prejudiciais ao país.
Não é importante proteger da concorrência externa empresas nascentes e, assim, desenvolver o parque industrial?
Absolutamente não. Quantas décadas ainda serão necessárias para a indústria automobilística sair da infância? Setenta anos não foram suficientes? Essa ideia de incentivar os campeões nacionais deveria ter sido enterrada já nos tempos da desastrada Lei da Informática, no governo militar. Mas, infelizmente, muitos economistas ainda usam esse argumento e dispõem de amplo espaço no debate público.
O liberalismo econômico e o estado mínimo não tendem a favorecer os já estabelecidos, os donos de propriedades, em detrimento dos pobres?
Falso. Hayek (Friedrich Hayek, economista liberal austríaco, morto em 1992) mostrou que o liberalismo é o maior aliado dos pobres, porque ele incita a concorrência e oferece igualdade de oportunidades. Sem concorrência, os grandes empresários se revezam na tentativa de conquistar mais privilégios do governo.
O capitalismo de Estado, a simbiose de empresários e governo, é o modo mais injusto de organização econômica. Nesse modelo, o interesse do homem comum, do consumidor, está sempre subordinado ao estado e às suas empresas preferidas. A defesa do mercado não deve ser confundida com a defesa dos empresários.
O mercado é muito mais amplo que isso. O mercado é um mecanismo impessoal de mediação constante dos interesses e demandas de milhares e milhares de entidades e pessoas.
Os liberais, particularmente no Brasil, costumam ser tachados de reacionários e conservadores. Como o senhor se classifica?
Nelson Rodrigues dizia que era um reacionário: reagia contra tudo aquilo que não presta. Eu sou um conservador: quero conservar tudo aquilo que presta. Um liberal é um sujeito cético, desconfiado da natureza humana e do custo das utopias. Encara o estado como um mal necessário.
Sabe que não existe vida civilizada sem governo, mas defende a tese de que o melhor mecanismo de incentivo ao desenvolvimento é a descentralização do poder estatal em um ambiente de livre mercado.
Para nós, liberais, o que realmente serve de garantia ao interesse público são as instituições sadias em pleno funcionamento, e não um governante iluminado dando canetadas no palácio, pensando ser capaz de resolver tudo apenas pela vontade.

domingo, 5 de agosto de 2012

Keynes, Friedman e Krugman, o Pinocchio - Donald J. Boudreaux


Donald Boudreaux: Was Milton Friedman a Secret Admirer of Keynes?

Liberals misread the great free-market scholar in order to hijack his legacy.

The Wall Street Journal, Opinion, August 3, 2012
With the possible exception of Adam Smith, no person in history is more widely recognized as ably championing free markets than Milton Friedman. Justly so: For more than 60 years until his death in 2006, he pressed the case for capitalism and freedom with impeccable scholarship, good cheer, impressive vigor and unmatched clarity.

Related Video

George Mason University economist Donald Boudreaux on why those who say Milton Friedman's attitude toward government is similar to Keynes's are wrong. Photo: Getty Images
Despite his clarity, there are a handful of people whose inability or unwillingness to grasp Friedman's arguments leads them to misrepresent his writings and policy recommendations.
Consider British journalist Nicholas Wapshott. He used the occasion of the 100th anniversary of Friedman's birth (July 31) to claim, in the Daily Beast, that Friedman's attitude toward government was much closer to that of pro-interventionist John Maynard Keynes than to that of Keynes's famous free-market opponent, Friedrich A. Hayek.
Mr. Wapshott says that Friedman really was quite sanguine about a large and constitutionally unrestrained state, based on the alleged contents of a supposedly "lost" essay by Friedman. Contrary to the naive Hayek—who worried that power concentrated in big government inevitably corrupts politicians and invites its own misuse—Mr. Wapshott says, the essay (which was originally published in 1989) shows Friedman believed "that big government is not evil so long as it is honestly administered." He adds that the essay "calls into question whether those today who rail against the size of the state are blaming the system when they should be rooting out corrupt politicians and public officials instead."
So Milton Friedman was really a good-government progressive? No.
Friedman's essay, "John Maynard Keynes," was never lost. The original article, first published in German translation in a volume of commentaries on Keynes's "General Theory," was translated and republished in 1997 by the Richmond Federal Reserve Bank in its quarterly magazine, and it is readily available on the bank's website.
The essay shows beyond a shadow of doubt what Friedman really thought about Keynes's views on government: "I conclude that Keynes's political bequest has done far more harm than his economic bequest and this for two reasons. First, whatever the economic analysis, benevolent dictatorship is likely sooner or later to lead to a totalitarian society. Second, Keynes's economic theories appealed to a group far broader than economists primarily because of their link to his political approach."
Friedman here articulates concerns long expressed by Hayek in the latter's 1944 book, "The Road to Serfdom," that big government of the sort that Keynes demanded is poisonous to freedom and prosperity. He saw clearly that Keynes's "political bequest" was so dangerous that no amount of rooting out of corrupt officials would prevent a government armed with unlimited discretionary economic power from becoming tyrannical.
There's an even more egregious misrepresentation of Friedman, this one by Paul Krugman, the economist and New York Times columnist. A few months after Friedman's death in November 2006, Mr. Krugman penned an essay in the New York Review of Books, "Who Was Milton Friedman," accusing him of being "intellectually dishonest." He doubled down on this charge in a letter to the editor of the New York Review responding to critics of the essay.
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Economist Milton Friedman
The dishonesty, in Mr. Krugman's telling, consists in an alleged contradiction. On one hand, Friedman the scholar claimed in his famous "Monetary History of the United States" that the Great Depression was worsened by the Fed's failure to keep the money supply from falling. But, on the other hand, Friedman the public figure claimed that the Depression likely would have been far less severe in the absence of the Fed. "I'm sorry," Mr. Krugman wrote in the letter, "but those are contradictory positions."
Mr. Krugman's charge is silly. Friedman understood that, without the Federal Reserve, private bank-clearinghouse associations—market institutions that were displaced by the Fed—would likely have prevented the money supply from collapsing and, hence, might well have kept the depression from becoming "great." But Friedman also understood that the Fed, having substituted its own technocratic discretion for the market adjustments of clearinghouses, then had a responsibility to manage the money supply properly. It failed to do so. Friedman (and his co-author Anna Schwartz) properly criticized the Fed for this terrible failure.
Friedman's argument here is no more contradictory or dishonest than would be the argument of, say, a physician who, having unsuccessfully warned a patient not to rely for medical care upon a witch doctor, points to the witch doctor's failure to administer appropriate mouth-to-mouth resuscitation as the cause of the patient's death.
Milton Friedman combined soaring academic credentials with a remarkable virtuosity at explaining to the public why free markets are economically and ethically superior to even well-intentioned government plans and regulations. He was throughout his long life and career a special target of those who would preserve what he and his wife, Rose, called "the tyranny of the status quo." This status quo consists of interest groups, bureaucrats and politicians who—with help from cheerleaders in the media and the academy—use government to enlarge their own pocketbooks and to stroke their own egos, all at the expense of the general public.
If Friedman was secretly upbeat about powerful government or, worse, misleading the public, then the voice of one of history's greatest advocates of free markets would be silenced. In fact, Milton Friedman's advocacy of free markets was as principled, consistent and honest as it was brilliant.
Mr. Boudreaux is professor of economics at George Mason University and author of "Hypocrites and Half-Wits" (Free To Choose Press, 2012).
A version of this article appeared August 4, 2012, on page A15 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: Was Milton Friedman a Secret Admirer of Keynes?.