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quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Começa a transição no Itamaraty com uma nomeação sugestiva - Lauro jardim (O Globo)

 Começa a transição no Itamaraty com uma nomeação sugestiva

Por Lauro Jardim
09/11/2022 08h27  Atualizado há 38 minutos

Começou a ser montado o gabinete de transição no Itamaraty. E sugestivamente o coordenador será Audo Faleiro, o embaixador que foi afastado por Ernesto Araújo da chefia da Divisão de Europa do Itamaraty, apenas quatro dias depois de ter sido nomeado.

Tudo indica que a exoneração tenha sido uma clássica caça às bruxas bolsonarista: numa de suas muitas funções na carreira, assessorou Marco Aurélio Garcia, ex- assessor internacional de Lula.


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Relação de Lula com ditaduras virou pedra no sapato histórica (FSP)

Era o que eu vinha dizendo desde o primeiro mandato. Apoiar ditaduras é atirar contra o pé.

Relação de Lula com ditaduras virou pedra no sapato histórica
Folha de S.Paulo | Mundo
20 de outubro de 2022

Petista foi próximo ideologicamente de líderes autoritários e firmou parcerias econômicas com regimes

ELEIÇÕES 2022

A relação de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT com regimes autoritários da América Latina é uma das principais pedras no sapato do ex-presidente em corridas eleitorais e com frequência é usada por opositores para atacá-lo - ora com fatos, ora com desinformação.

Quando esteve no Planalto, de 2003 a 2010, Lula foi próximo de Fidel Castro (19262016), líder da ditadura de partido único de Cuba, e Hugo Chávez(1954-2013), na Venezuela. Alas do PT também mantêm laços com grupos como os sandinistasda Nicarágua - que capitanearam a democratização do país até iniciarem guinada autoritária.

Lula foi eé questionado por não se opor a cooptaçáo de instituições nessas e em outras nações. O PT reiteradamente responde com o mesmo argumento: o de que é preciso respeitar a soberania e a autodeterminação dos povos.

Veja a seguir breve histórico das relações do petista com lí deres e regimes autoritários.

Venezuela
Lula assumiu em 2003 gestão que, sob a batuta de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), já aprofundava ligações com Caracas. O petista estreitou laços econômicos e se tomou próximo de lideranças do regime.
Ele apoiou Nicolás Maduro na corrida ao Palácio de Miraflores. Em 2013, ohoje ditador disse que Lula e Chávez eram como irmãos e que o petista era espécie de pai. O ex-presidente recentemente disse discordar da política econômica do regime venezuelano e defendeu a alternância de poder: "Não há presidente insubstituível". Celso Amor im afirmou que, caso eleito, Lula retomará relações com Caracas.

Cuba
Ainda que em 1998 criticasse a ditadura de partido único da ilha, Lula manteve relação próxima com os irmãos Fidel e Raúl Castro. Em seu governo, o BNDES financiou a construção do porto de Mariel. Em meados de 2021, quando Cuba teve os maiores protestos contra o regime, Lula saiu em defesa de Havana. "Os problemas de Cuba serão resolvidos pelos cubanos." Na repressão aos atos, 1400 foram detidos.

Lula sobre protestos em 2021 contra a ditadura de Havana: 
"Os problemas de Cuba serão resolvidos pelos cubanos."

Nicarágua
Alas do PT são próximas à Frente Sandinista de Liberta ão Nacional, partido que ajuou a derrubar a ditadura de Anastasio Somoza em 1979. Os partidos atuam juntos no Foro de São Paulo, que reúne legendas de esquerda da América Latina e do Caribe. Com a guinada autoritária dos sandinistas, com eleições de fachada e prisão de opositores, alas petistas distanciaram-se deles. Outras nem tanto. Lula aconselhou o ditador Daniel Ortega a "não abrir mão da democracia". Em janeiro, cúpula da campanha petista foi contra prisões políticas lá.

Rússia
A aproximação entre Moscou e Brasília cresceu após a criação do Brics, em 2009. Em maio, Lula disse que Volodimir Zelenski, o presidente da Ucrânia, é tão responsável pela guerra em seu país quanto oliderrusso, Vlaaimir Putin, que mais e mais se aproxima de um autocrata. Após o episódio, foi acusado por Kiev de fazer propaganda russa.

Angola e Guiné
Com agenda externa que priorizava o Sul Global, o governo de Lula aproximou- se economicamente de nações da África, em especial as de língua portuguesa. Algumas de las são lideradas por autocratas, como Guiné Equatorial, na qual o petista tinha relações próximas com Teodoro Obiang. Lula também era próximo de José Eduardo dos Santos, que governou Angola de 1979 até 2017, em regime marcado por corrupção. Na era petista, obras de empresas brasileiras proliferaram no país com apoio do governo.

China
Como nações emergentes, o país se aproximou de Pequim, maior parceiro comercial brasileiro desde os anos finais do governo Lula. A relação estava baseada em aliança econômica, não ideológica. Em 2021, Lula disse à imprensa chinesa que a China tem "um partido forte e um governo forte".

Líbia
Lula manteve relação com o ditador Muammar Gaddafi (1942-2011). Fez viagens ao país do norte da África e até chamou o autocrata de "amigo e irmão". Gaddafi comandou com braço de ferro o país do final da década de 1960 até 2011, quando foi morto.


domingo, 2 de janeiro de 2022

José Genoino e a esquerda do PT que se opõe aos ukases do chefão de todos eles - Paulo Roberto de Almeida

José Genoino e a esquerda do PT que se opõe aos ukases do chefão de todos eles

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com) 

 

Leio o seguinte na coluna do sempre bem-informado e levemente irônico jornalista Carlos Brickmann (1/01/2022):

 

Claro, claro

Tudo bem, cada petista pode pensar o que quiser, desde que faça o que seu ídolo máximo, o ex-presidente Lula, determina que seja feito. Mas vale como curiosidade: José Genoíno é um dos petistas que mais resistem à união entre Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Tem prestígio no partido, do qual foi fundador e presidente; quando enfrentou dificuldades enfrentou-as sozinho, não delatou ninguém.

Sem dúvida o partido fará o que Lula quiser. É interessante ler os argumentos de Genoíno (expressos numa live com gente do PSOL) e, mais interessante ainda, entendê-los: "O que está em jogo é se a esquerda socialista será protagonista do enfrentamento do neoliberalismo ou se a esquerda será domesticada, domada para um projeto de melhorismo por dentro de um neoliberalismo com feição progressista”.”

 

PRA: José Genoíno sempre foi e continua sendo um grande quadro da esquerda, não necessariamente por uma vocação política esquerdista e mais por sua postura digna e consequente, em relação ao despotismo pouco esclarecido do grande chefe de todos os petistas e pretendente a líder tirânico de todas as esquerdas e, agora, de todas as vias opostas ao grande psicopata.

Mas ele demonstra, igualmente, uma visão estreita e sectária não só do jogo político — que ele pretende situar limitadamente no campo exclusivo de uma esquerda também sectária —, mas sobretudo no terreno da política econômica, que ele pretende que seja oposta a um “neoliberalismo” que jamais existiu no Brasil, a não ser como slogan totalmente equivocado de uma esquerda que jamais conseguiu renegar sua adesão a um estatismo que sempre serviu maravilhosamente bem aos interesses da burguesia e os de todos os donos do grande capital, na indústria, na agricultura e nos serviços (especialmente os do setor financeiro e bancário). 

Essa esquerda que José Genoíno representa revelou-se incapaz de realizar um aggionamento ao estilo do Bad Godesberg do SPD alemão, do PSF sob Mitterrand e do Labour sob Blair e sempre conduziu o Brasil ao velho estatismo das esquerdas anacrônicas que subsistem no mundo, em especial na AL. 

José Genoíno faz muito bem em se opor aos decretos autoritários e personalistas do chefão mafioso, mas sua visão política e econômica é ainda mais embotada e equivocada do que a do Guia Genial dos Povos, que pelo menos demonstra certo realismo — e evidente oportunismo — com relação ao processo, atualmente em curso no Brasil, de oposição consequente ao horror que representa o projeto bolsonarista para o Brasil. José Genoíno pretende ancorar o PT e as esquerdas ao mundinho limitado dos grupelhos de esquerda, que ainda por cima são totalmente ignorantes em matéria de políticas econômicas avançadas e em relação ao funcionamento da economia global. Eles são o que eram o SPD, o PSF e o Labour antes de suas bem-sucedidas conversões a uma socialdemocracia moderna, arejada e sobretudo destituída dos cacoetes do passado estatista.

Se adesão ao estatismo capitalista funcionasse — em total conluio das esquerdas tradicionais com os mais belos representantes do capitalismo industrial e agrícola— o Brasil e a maior parte da AL seriam exemplos de potências econômicas e de prosperidade social no contexto da economia global, não da miséria social e campeões da desigualdade que efetivamente são e foram, no passado, no presente e no futuro previsível. Essas esquerdas são tudo o que o capitalismo mais predatório e o corporativismo mais exacerbado sempre desejaram para si e para os seus objetivos continuístas limitados ao campo das desigualdades distributivas. Ironicamente e paradoxalmente, elas pensam como o equivocado representante do distributivismo igualitarista que é o economista socialista francês Piketty, para quem a solução da desigualdade social consiste em taxar mais os ricos para distribuir o maná do 1% dos bilionários aos pobres e remediados, como se essa fosse a solução do problema distributivo. É o contrário do que seria a mais nobre missão dos economistas, que seria conceber maneiras eficientes de enriquecer os mais pobres, e não propor formas equivocadas e não funcionais para empobrecer os mais ricos.

 

Paulo Roberto de Almeida

2 janeiro 2022, 2 p.

 

terça-feira, 26 de outubro de 2021

O diabo não desiste - Editorial, O Estado de S. Paulo (24/10/2021)

 O diabo não desiste

Editorial, O Estado de S. Paulo (24/10/2021)


O PT não se desculpa por seus erros, e aqueles que o partido não pretende repetir, julga ter poder de apagar

Desde que o PT precipitou a maior crise econômica, política e moral da Nova República, a população esperou em vão por um mísero mea culpa. Após o impeachment de Dilma Rousseff, a única bandeira a unificar seus correligionários foi a denúncia ao “golpe”, logo substituída pelo slogan “Lula Livre”. O PT se opôs a reformas modernizantes como a da Previdência, opõe-se a outras, como a administrativa, e não oferece alternativas construtivas aos desmandos que acusa. Em campanha eleitoral, o partido se mostra incapaz de propor uma agenda positiva para o futuro, muito menos de reconhecer os erros do passado. Ao contrário, afirma que vai repeti-los, por exemplo, implodindo o teto de gastos que estancou a hemorragia fiscal deflagrada no governo Dilma Rousseff. 

Ainda pior, o PT não só pretende repetir seus erros de gestão, como julga ter poder de apagar os crimes dos quais foi cúmplice. Em entrevista coletiva, a sua presidente, Gleisi Hoffmann, afirmou que nunca houve “corrupção sistêmica”, superfaturamento ou desvio de dinheiro na Petrobras.

Boa parte desses delitos foi confessada pelos próprios delinquentes, que devolveram bilhões desviados à Petrobras. Com base em uma auditoria da PriceWaterhouseCoopers, a própria Petrobras admitiu no balanço de 2014 que US$ 2,5 bilhões foram pagos a mais a “um conjunto de empresas que, entre 2004 e abril de 2012, se organizaram em cartel para obter contratos com a Petrobras, impondo gastos adicionais nestes contratos e utilizando estes valores adicionais para financiar pagamentos indevidos a partidos políticos, políticos eleitos ou outros agentes políticos, empregados de empreiteiras e fornecedores, ex-empregados da Petrobras e outros envolvidos no esquema de pagamentos indevidos”.

Segundo Gleisi Hoffmann, a PriceWaterhouse foi obrigada pela Lava Jato a atestar as perdas. Não há evidências disso. Por outro lado, é notório que à época o PT pressionou a diretoria da Petrobras comandada por Maria das Graças Foster, executiva de confiança de Dilma Rousseff, a não publicar os dados auditados, levando a um impasse e finalmente à renúncia de Foster e outros diretores. Depois, a Petrobras participou dos processos judiciais como assistente de acusação do Ministério Público, recuperando mais de R$ 6 bilhões superfaturados pelos cartéis.

O Tribunal de Contas da União (TCU), atuando independentemente da Lava Jato, expôs uma série de ilicitudes nos contratos da Petrobras. Na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, o TCU identificou que o orçamento inicial de US$ 13,4 bilhões foi majorado para US$ 26,3 bilhões. Ao mesmo tempo que o custo final foi dobrado, a refinaria produz apenas metade dos 230 mil barris de petróleo inicialmente previstos. O TCU estimou que as perdas da Petrobras apenas em Abreu e Lima acumularam US$ 19 bilhões.

Similarmente, o TCU verificou que a torre Pirituba, em Salvador, inicialmente orçada em R$ 320 milhões, foi construída pela OAS e a Odebrecht por R$ 1,3 bilhão, e que a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – jamais concluída – gerou perdas de US$ 12,5 bilhões.

É conhecida a candura com que a ex-presidente Dilma Rousseff expôs os métodos petistas: “Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Ironicamente, o PT, ciente de que ninguém fez mais do que Dilma para arruinar o suposto legado de Lula, a incluiu no rol dos erros a serem esquecidos. O ex-poste de Lula é hoje uma ausência garantida nos discursos e comícios do demiurgo de Garanhuns. 

Lula, por sinal, afetou melindres em suas redes sociais: “Eu sou de um tempo onde a disputa era apenas eleitoral. Você não estava numa guerra. Seu adversário não era um inimigo”. Que o diga a ex-petista Marina Silva, sordidamente vilanizada pelos marqueteiros do PT nas campanhas de 2014, ou todos os brasileiros vilipendiados como “fascistas” simplesmente por recusarem o culto a Lula da Silva.

O despudor com que o PT tenta reescrever a história do País para edulcorar sua trágica passagem pelo poder rivaliza com o sistemático embuste bolsonarista, o que permite prever que a campanha de 2022, mantido o favoritismo de Lula e Bolsonaro, fará corar o próprio Pinóquio.


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

A corrupção na era do PT - Antonio Queirós Campos

 A corrupção na era do PT

Antonio Queirós Campos

Foi assim: a corrupção começou com o dossiê de Celso Daniel sobre corrupção do PT na prefeitura de Santo André com a paixão e morte ☠️ do citado prefeito . Depois , teve as mutretas do companheiro Palloci na prefeitura de Ribeirão Preto envolvendo empresas de recolhimento do lixo municipal . Em seguida , o negócio do namoro petista com o alheio prosperou na compra de deputados para votarem com a máfia petista , no que ficou conhecido como mensalão , com o concurso de banqueiros e publicitários .A tecnologia da corrupção do PT então decolou de vez e atingiu a casa dos bilhões com o Petrolao , aparelhamento do BNDES  , BB, CEF, Correios , Eletrobras e financiamento de ditaduras africanas e centro-americanas com um capilé de troco para o partido . Ao fim desse estágio, a corrupção ja orçava em trilhões . Mas , vejam bem como o ótimo é inimigo do bom :quando parecia que nada mais poderia expandir o negócio , que já superava tudo o que o Ocidente já vira e experimentara a respeito da grande criminalidade política , aí veio o clímax , algo jamais tentado ou imaginado possível até então em sangria de dinheiro público : surgiu a palavra nova em megacorrupção e em dissolução completa dos costumes político -administrativos , o ponto de não -retorno e insuperável do banditismo destruidor do tecido social , o non plus ultra da espoliação e vampiririzacao da economia popular : veio ( pasmem os que são de pasmar e tremam os que são de tremer )o empréstimo de 500 pratas da doceira presidencial !!!!!! Aí veio o Piketty e decretou o fim da história ! Que , aliás ,começou ontem com a sinistra trama da Maria Amélia com a primeira Dama . Corre o pano !! Só acho .

sábado, 2 de outubro de 2021

Micro história do PT: das intenções às promessas e às realizações - Paulo Roberto de Almeida

Micro história do PT: das intenções às promessas e às realizações  

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

O PT veio ao mundo com as melhores intenções e as mais elogiáveis promessas: eliminar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais e “resgatar a ética na política”, como prometia de modo retumbante, talvez já com algumas doses de hipocrisia.

Mas ele tinha os seus pecados originais: sindicalistas mafiosos no seu comando, secundados pelos “guerrilheiros reciclados” retornados do exílio um ano antes, destinados a servirem de quadros orgânicos de um projeto gramsciano de poder, e um imenso caudal de devotos seguidores da “teologia da libertação”, que atuaria como base eleitoral e como canais de disseminação das promessas salvacionistas dos novos true believers da política, os verdadeiros crentes na mensagem grandiosa dos novos emissários do bem. Os mais poderosos eram, obviamente, os mafiosos sindicais e os apparatchiks neobolchevique, que montaram uma máquina que faria inveja ao jovem Stalin, quando ele assaltava agências de correio e bancos do interior para financiar o PSODR. 

Na montagem do partido e das suas estruturas de implantação social, regional e nacional, não faltaram “contribuições” dos cubanos, dos sindicatos simpáticos às promessas do sindicalismo alternativo – centrais francesas (CGT e CFDT), da Alemanha (DGB, metalúrgicos e entidades vinculadas ao SPD) e até americanas (AFL-CIO). Continuou o recolhimento do dízimo dos militantes e membros, o desvio de recursos das comunidades eclesiais de base, dos fundos legais do imposto sindical generosamente repassado pelo MTb e outras fontes de recursos, como poderiam ser os pequenos roubos e falcatruas em prefeituras do interior, daquele jeito meio artesanal dos primeiros tempos: transporte urbano, recolhimento de lixo, merenda escolar e todas as demais possibilidades dos modestos orçamentos que puderam controlar (uma capital aqui e ali, um estado eventualmente). Não esquecer alguma grana das FARC e também do Chávez, entre 1999 e 2002 (depois pagas in kind).

Quando o PT chegou ao poder, depois de mentir bastante sobre a “herança maldita” do “neoliberalismo tucano”, foi como se eles deixassem aquela vida difícil de navegantes do deserto para a grande sorte da loteria: a assunção do governo representou uma espécie de caverna de Ali Babá com seus tesouros infinitos, nunca antes vistos: além da vaca petrolífera, tinha todo o aparelhamento do Estado, que foi feito de forma imediata (e o dízimo aumentou para 30% para os que tinham cargos eleitos ou funções DAS), todas as estatais e contratos públicos que podiam ser ordenhados à vontade, a extorsão sobre grandes capitalistas e banqueiros, a fraude e o desvio sobre todos os desembolsos obrigatórios e novos saques em projetos feitos especificamente para roubar – como a Sete Brasil, novas estatais – e o uso de qualquer projeto de medidas governamentais para “doações voluntárias” (ou seja, perfeitamente “legais”) ao partido e a inevitável mochila do seu tesoureiro, passando expressamente e especialmente depois de cada novo negócio para recolher o cash dos dirigentes e a propina ilegal. 

Além da montagem do roubo sistemático de todos os recursos públicos e privados que estivessem ao seu alcance, o PT cumpriu fielmente a “tese” do Engels da mudança da quantidade em qualidade – que está no medíocre Dialética da Natureza –, passando do “modo artesanal de produção da corrupção”, para uma etapa superior do capitalista petista, o “modo industrial de produção de corrupção”, elevando a um grau nunca antes visto na história da política nacional a barganha, a chantagem e as fraudes entre Executivo e Legislativo, e entre o primeiro e todas as agências públicas e provedores privados (não esquecer as ONGs e “entidades sociais”), todos mobilizados para o grande assalto ao Estado pagador. Uma nota especial deve ser dedicada aos megaprojetos internacionais, que permitiam escapar da moeda nacional e dos controles institucionais paras se lançarem no maravilhoso mundo dos paraísos fiscais, das contas secretas, dos laranjas em dólar e toda sorte de falcatruas que era possível combinar com sócios privilegiados (os bolivarianos continentais e os ditadores africanos, por exemplo), com capitalistas cooperativos e banqueiros complacentes (que tinham perfeito conhecimento e domínio dos canais paralelos aos circuitos oficiais) e toda sorte de oportunistas ocasionais, que sabiam onde estavam os bons negócios com refinarias decrépitas, poços de petróleo comprados e logo vendidos por meio de estatais das petroditaduras, e outras grandes possibilidades em dólares. 

Houve, sim, a montagem de uma imensa máquina de extração, desvio e saques perpetrados contra os Estados (do Brasil e dos sócios), contra os privados (que também lucravam barbaramente) e sobretudo em todas as instâncias institucionais abertas ao engenho e arte dos “planejadores financeiros” do partido neobolchevique (teve um que confessou tudo e revelou que 9 de cada 10 medidas governamentais tinham embutida alguma forma de extração de recursos públicos ou privados). 

Ao lado disso, teve a benesse da grande demanda chinesa por todas as commodities brasileiras de exportação – soja a 600 dólares a tonelada, minério de ferro a quase 200, e muitas outras –, o que representou um oceano de dólares pingando no laguinho do PT, que logo regurgitou de recursos abundantes, com os quais foi possível montar negócios legais ainda mais interessantes (um pouco como fizeram as máfias americanas em cassinos, no imobiliário, em companhias de transporte, e até respeitáveis escritórios de advocacia, pelos quais era possível contratar deputados, senadores e até chefes de polícia). O PT se transmutou de pequeno partido idealista em uma gigantesca corporação de “executivos” especializados em crimes econômicos e tributários, dos quais apenas uma pequena parte foi revelada por diversas operações de investigação policial ou de procuradores estaduais e federais, das quais o maior exemplo foi a Lava Jato, conduzida de forma improvisada e atabalhoada por novos “salvadores da pátria”, paladinos da Justiça, aparentemente impolutos. Esses esforços, por mais meritórios que tenham sido, soçobraram nos ataques combinados ou independentes de corruptos da direita e da esquerda, uma colusão de honoráveis barões da política oficial. 

Pequenos acidentes de percurso são inevitáveis quando se começa a tratar com bandidos não profissionais, e quando a ambição por mais participação nos negócios abre os olhos de colaboradores eventuais, em nada ideológicos ou comprometidos com as “boas causas” do partido justiceiro e amigo dos pobres. Surgem as denúncias, e de repente uma bola de neve se forma para atrapalhar a delicada maquinaria da corrupção. Tem também o caso de dirigentes estúpidos que podem precipitar uma crise financeira, alta da inflação, descontrole das contas públicas, deslize no dólar e outras fatalidades dos negócios. Surgem então os contratempos e uma travessia do deserto, lambendo as muitas feridas causadas pela ambição extremada e a inexperiência nos métodos da cleptocracia de alto coturno.  

Mas, não é preciso fazer autocrítica: o povinho miúdo sabe que todos os políticos roubam, que todos são corruptos, então é melhor um partido que se lembre pelo menos que ele existe e enfrenta qualquer dificuldade para prover o maná que representa muitas vezes a diferença entre a vida e a morte para os muitos miseráveis da nossa terra. Basta a boa palavra, a propaganda hábil em. disfarçar o roubo e o comprometimento com a justiça social, para trazer a redenção tão esperada da próxima vez. É isso o que muitos esperam, sobretudo os ratos esfaimados que perderam suas boquinhas no Estado. 

Será esta a próxima etapa da jangada do Brasil? Voltaremos ao mesmo porto?

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3991: 2 outubro 2021, 3 p.

Divulgado no blog Diplomatizzando (link: ).

 

 

domingo, 20 de junho de 2021

Em 2017, Palocci confirmou tudo aquilo que os petistas dizem que não existiu, mas que os tribunais confirmaram

 Depois que o aprendiz de feiticeiro do Facchin cancelou os processos contra Lula — não na substância, apenas por razões de foro —, os petistas dizem que nada está provado contra o chefão da malta. Eles são cspazes de desmentir tudo o que foi revelado pelo verdadeiro executivo da quadrilha, que devolveu algumas dezenas de milhões das centenas de milhões roubados pelo PT?

Paulo Roberto de Almeida

Em carta (2017), Palocci pede desfiliação do PT: 'Somos um partido ou uma seita guiada por uma pretensa divindade?' 

Político foi preso pela Operação Lava Jato e respondia a processo administrativo da legenda, por falas feitas contra o ex-presidente Lula.

Por Marcelo Rocha e Samuel Nunes, RPC Curitiba 

 


Palocci envia carta ao PT com duras críticas e pedido de desfiliação 


O ex-ministro Antonio Palocci enviou nesta t

Na carta, Palocci diz que:

  • Defende um acordo de leniência na Lava Jato para o PT
  • As declarações dadas no depoimento a Moro “são fatos absolutamente verdadeiros”, situações que presenciou, acompanhou ou coordenou, “normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula”
  • Diz ter certeza que Lula irá confirmar tudo, “como chegou a fazer no ‘mensalão’” em entrevista na França
  • Houve uma evolução e acúmulo de corrupções nos governos a partir do segundo mandato de Lula
  • Foi um choque ter visto “Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo”
  • Que foi um erro eleger e reeleger um mau governo, que destruiu “cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados”
  • Que Lula encomendou sondas e propinas em uma reunião com Dilma e José Sérgio Gabrielli no Palácio da Alvorada, “na cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história"
  • Que passou a ser alvo de “um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT” ao falar a verdade
  • Questiona “até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do ‘homem mais honesto do país’”
  • Questiona se “somos partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?”
  • Que mesmo nos melhores anos do governo Lula “já se via a peçonha da corrupção se criando para depois tomar conta do cenário todo”

Palocci respondia a um processo aberto pelo diretório municipal de Ribeirão Preto, em São Paulo, em que era acusado de trair a fidelidade partidária. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, ele foi alvo de uma comissão de ética pelas declarações feitas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no dia 6 de setembro.

Na ocasião, ele disse que Lula mantinha um “pacto de sangue” com o empresário Emílio Odebrecht, o que incluía um pacote de R$ 300 milhões em propinas para o PT, além de agrados ao ex-presidente.

Na carta, Palocci faz uma série de críticas ao PT e ao ex-presidente Lula. O ex-ministro diz que estranhou o processo aberto contra ele, não pela condenação que já recebeu na Lava Jato, mas pelas declarações contra Lula. "Pensava ser normal que o partido procurasse saber as razões que levaram a tal condenação e minhas eventuais alegações. Mas nada recebi sobre isso", escreveu o ex-ministro.

Ele reafirma que todo o conteúdo do depoimento criticado pelo PT trata apenas da verdade dos fatos. O ex-ministro não entra em detalhes sobre o que sabe a respeito de ilegalidades, porque ainda negocia um acordo de delação com a Justiça. "De qualquer forma, quero adiantar sobre as informações prestadas em 06/09/2017 (compra do prédio para o Instituto Lula, doações da Odebrecht ao PT, ao Instituto Lula, reunião com Dilma e Gabrielli sobre as sondas e a campanha de 2010, entre outros) são fatos absolutamente verdadeiros", afirma.

Ele diz acreditar que, em breve, "o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer com o 'mensalão', quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições do Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os partidos".

Palocci diz que participou ativamente de todas as realizações do partido. "Sei dos erros e ilegalidades que cometi e assumi minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política, nos melhor dos momentos do seu governo", diz.

"Até quando vamos fingir acreditar na autoproclamação do 'homem mais honesto do país' enquanto os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!!) são atribuídos à Dona Marisa? Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?", questiona.

Críticas ao jeito de governar

Além das críticas a Lula, o ex-ministro também falou sobre as gestões petistas e atacou o modo com que o PT conduziu as decisões governamentais. 

"Alguém já disse que quando a luta pelo poder se sobrepõe à luta pelas ideias, a corrupção prevalece. Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um mau governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados, sobrando poucas boas lembranças e desnudando toda uma rede de sustentação corrupta e alheia aos interesses do cidadão", disse em referência a Dilma.

Palocci diz que o PT acabou deixando uma herança ruim ao país. "Nós, que nascemos diferentes, que fizemos diferente, que sonhamos diferente, acabamos por legar ao país algo tão igual ao pior dos costumes políticos", afirmou.

Por fim, ele relembra a atuação política desde a fundação do PT e dos mandatos que recebeu. "Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e nossa deterioração moral. Assumo toda as minhas responsabilidades quanto a isso, mas lamento dizer que, nos acertos e nos erros, nos trabalhos honrados nos piores atos de ilicitudes nunca estive sozinho", diz.

Leniência partidária

Apesar das críticas, Palocci também fez sugestões ao PT. Ele diz acreditar que o melhor caminho para o partido é reconhecer os erros e buscar um acordo com as autoridades. "Há pouco mais de um ano, tive a oportunidade de expressar essa opinião de uma maneira informal a Lula e Rui Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade transmitia uma proposta apresentada por João Vaccari, para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava Jato", diz.

Ele diz que ainda acredita na proposta do PT, mas defende que o partido deva se rejuvenescer. "Depurar e rejuvenescer o partido será tarefa para nossos novos e jovens líderes. Minha geração talvez tenha errado mais do que acertado. Ela está esgotada. E é nossa obrigação abrir espaço a novas lideranças, reconhecendo nossas graves falhas e enfrentando a verdade. Sem isso, não haverá renovação", afirma.

O que Lula disse a respeito?

Quando Lula foi ouvido por Sérgio Moro, no dia 13 deste mês, ele afirmou que Palocci é mentiroso e inventou a história do “pacto de sangue” para agradar os responsáveis da Lava Jato com os benefícios de uma possível delação, ainda em análise. Para a defesa do ex-ministro, Lula é "dissimulado" e mudou de opinião após Palocci ter decidido "falar a verdade".

Em nota ao Jornal Nacional nesta terça-feira, o ex-presidente declarou que Palocci inventa acusações sem provas para obter um acordo de delação premiada. A defesa do ex-presidente afirmou, ainda, que o depoimento prestado por Palocci à Justiça, no começo de setembro, é repleto de contradições com relação ao depoimento que o ex-ministro já tinha prestado em maio deste ano e que a carta divulgada nesta terça-feira segue na mesma direção.

O que diz o PT?

Em nota, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou que Palocci mente. Para ela, o ex-ministro já está fora do partido "política e moralmente". "A forma desrespeitosa e caluniosa como se refere ao ex-presidente Lula demonstra sua fraqueza de caráter e o desespero de agradar seus inquisidores", afirma. Veja a íntegra da nota.

Leia abaixo a íntegra da carta de Palocci à presidente do PT

Carta Palocci — Foto: Reprodução
Carta Palocci — Foto: Reprodução 
Carta Palocci 2 — Foto: Reprodução
Carta Palocci 2 — Foto: Reprodução 
Carta Palocci 3 — Foto: Reprodução
Carta Palocci 3 — Foto: Reprodução 
Carta Palocci 4 — Foto: Reprodução
Carta Palocci 4 — Foto: Reprodução


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

As fraudes do FIES e do ProUni, obras do PT (Veja)

 O PT dilapidou recursos públicos — dos pobres, pois são os que mais pagam impostos no Brasil — para enganar jovens estudantes com a ilusão de um diploma do ensino “superior” (qualquer diploma, mesmo de Faculdades Tabajara) e para dar mais dinheiro ainda a quem já é rico, que foi o que mais o partido fez na presidência, sabendo que parte desse dinheiro voltaria para o partido.

Desde o início me pronunciei contrariamente à demagogia, mas não sabia que ela também tinha provocado uma FRAUDE BILIONÁRIA. 

Paulo Roberto de Almeida

Copio do blog do Orlando Tambosi, 25/02/2021


Dois escândalos do FIES e a farsa da "universidade para todos"


Era óbvio e previsível que muitas faculdades seriam abertas apenas com a intenção de receber recursos do Ministério da Educação, sem qualquer preocupação com a qualidade do ensino. Coluna de Luciano Trigo para a Gazeta do Povo:


A revista “Veja” noticiou nesta semana uma fraude de R$ 1 bilhão no FIES, o programa criado para financiar graduações de alunos carentes em universidades privadas. Segundo a revista, auditores da CGU (Controladoria-Geral da União) identificaram fortes indícios de que recursos do Fundo de Financiamento Estudantil foram desviados para lobistas, servidores e um grupo de instituições de ensino. A Polícia Federal já abriu inquérito.

Há dois escândalos aí.

O primeiro escândalo:

Vamos ao primeiro, o escândalo da fraude, detalhado pela reportagem de “Veja”. O caso teve pouca repercussão e nem chegou a chocar e surpreender, dada a frequência com que a corrupção anda de mãos dadas com o dinheiro público no nosso país. Deveria, sim, causar muita indignação, porque cada real roubado da educação representa um prejuízo muito maior lá na frente – mas, enfim, estamos no Brasil.

Pois bem, mais de R$ 1 bilhão teria sido repassado de forma ilegal para instituições impedidas de participar do FIES por terem dívidas gigantescas junto à Receita Federal e ao Tesouro Nacional. Sempre segundo a revista, a fraude envolveu a ação de lobistas, a falsificação de documentos e a cumplicidade de servidores do MEC: no final do processo, 30% dos valores repassados às universidades pelo Ministério voltavam para Brasília, na forma de propina.

O absurdo não para aí. Suspeita-se que 20 universidades de pequeno e médio porte inventaram estudantes-fantasmas para vitaminar o aporte de recursos públicos: a “Veja” cita o caso de duas faculdades abertas em 2012 em Mato Grosso, que em cinco anos receberam mais de R$ 20 milhões do FIES.

A revista conclui a matéria com uma declaração do ex-ministro da Educação Cristovam Buarque que merece reflexão: “Socialmente, o FIES foi ótimo, economicamente tem sido um desastre, do ponto de vista pedagógico o resultado não é o esperado e, sem dúvida, é maravilhoso para os donos das faculdades”.

Por fim, a reportagem informa, en passant, que o FIES acumula atualmente um prejuízo de... R$ 13 bilhões, provocado pela inadimplência dos alunos que solicitaram o financiamento e, depois de formados, não tiveram condições de pagar a dívida.

É isso mesmo. O valor da inadimplência no FIES é 13 vezes maior que o surrupiado pela corrupção: R$ 13 bilhões. E chegamos assim ao segundo escândalo.

O segundo escândalo:

Este é um escândalo a céu aberto: desde a criação do FIES, a inadimplência só faz aumentar, mas sempre se fez de conta que o problema não existe. Talvez porque não pegue bem chamar a atenção para um fato desagradável: o que essa inadimplência bilionária revela é o equívoco estrutural e conceitual do programa – que, contrariamente às aparências, longe de reduzir a desigualdade, apenas alimenta e reproduz uma dinâmica social perversa e excludente.

O FIES é um programa complementar ao PROUNI – Programa Universidade para Todos, cujo objetivo está explícito no próprio nome: garantir acesso ao ensino superior a todos os brasileiros, independente do mérito, do esforço ou da vocação. Mas o que, à primeira vista, parece muito bonito, bem intencionado e justo do ponto de vista do papel redistributivo do Estado – usar recursos públicos para ampliar o acesso de estudantes carentes ao ensino superior, reduzindo o fosso que separa os mais pobres das universidades – na prática não funciona.

O principal efeito do PROUNI foi, sobretudo nos governos do PT, estimular a criação de centenas de “Uni-esquinas” Brasil afora, instituições caça-níqueis que oferecem cursos de péssima qualidade e distribuem diplomas a rodo sem qualificar ninguém – sem falar no terreno fértil aberto para esquemas de corrupção como o apontado pela reportagem de “Veja”.

Ora, desde sempre era óbvio e previsível que muitas faculdades seriam abertas apenas com a intenção de receber recursos do Ministério da Educação, sem qualquer preocupação com a qualidade do ensino.

Mas talvez a intenção de alguns envolvidos na gestão do programa fosse esta mesmo: não a melhoria e democratização do ensino superior, mas a conquista demagógica de mais votos em troca de diplomas e ilusões. Na prática, recursos acabaram sendo redistribuídos, sim, mas dos pobres – a imensa maioria dos contribuintes – para os ricos – aqueles empresários, políticos e burocratas mal intencionados, sempre dispostos a encontrar uma forma de levar vantagem e usar o sistema a seu favor.

No sistema de educação de qualquer país próspero, como a Coreia do Sul, existe um sistema de seleção que faz com que cheguem à universidade apenas os alunos mais preparados

Mas, mesmo que contasse com a honestidade de todos (não contam) e fossem programas à prova de desvios e de corrupção (não são), o FIES e o PROUNI jamais teriam como dar certo, porque partem de uma premissa errada. Em nenhum país do mundo se cogita garantir, com recursos públicos, universidade para todos – não por maldade ou por aversão aos pobres, mas porque o mercado não absorve esse batalhão de recém-formados que as universidades despejam todos os semestres na vida real – aliás, cada vez mais despreparados.

No sistema de educação de qualquer país próspero, como a Coreia do Sul, existem um afunilamento natural e um sistema de seleção que fazem com que cheguem à universidade apenas os alunos mais preparados, e em quantidade adequada às demandas e a capacidade de absorção do mercado. Se é injusto (e é) que essa competição seja desigual, o caminho é lutar por uma educação básica universal e de qualidade, que mitigue essa diferença de preparo e busque garantir oportunidades iguais para todos os estudantes que quiserem disputar uma vaga, independentemente da sua classe social.

Só quem não tem a mínima noção de como a economia funciona no mundo real pode acreditar que a solução para a educação é uma intervenção do Estado que garanta vagas e diplomas para todos, com o pretexto de proteger os pobres e oprimidos. O resultado dessa intervenção é a mediocrização da qualidade do ensino superior – inevitável, em função das sequelas trazidas do ensino básico ruim.

Somente na utopia de uma sociedade planificada seria possível imaginar que é função do Estado financiar bolsas de ensino superior para toda a população do país. Mas a História demonstra que sociedades planificadas sempre terminam em desastre.

No Brasil, em vez de atacar o problema no ponto de partida – a educação básica – tenta-se resolvê-lo na linha de chegada – garantindo a distribuição de diplomas por meio de cotas e programas de financiamento (na verdade, dinheiro a fundo perdido, já que a inadimplência, como vimos, é bilionária).

“Ain, mas tem que ter vaga para todos sim! Nenhum direito a menos!” Se o objetivo for apenas ter um diploma debaixo do braço, tudo bem: que se abram mais Uni-esquinas e se criem vagas para todos no ensino superior, financiadas com o dinheiro do contribuinte.

Mas qual será o resultado concreto disso? Um exército de desempregados, jovens sem nenhuma qualificação que podem ostentar seu diploma em selfies no Instagram, mas que não encontram emprego nem foram capacitados para competir no mercado. Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o índice de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos já está em 30% (índice muito superior ao do do país, que era de 13,3% na época da pesquisa). E vai piorar.

Não adianta tentar enxugar gelo na linha de chegada: não há cotas nem bolsas que consertem o mal que foi causado no ensino básico. O PROUNI e o FIES podem até criar a ilusão de que uma injustiça histórica e social está sendo reparada, mas na prática o modelo apenas reproduz uma estrutura geradora de desigualdade, mal maquiada pelo discurso de que será distribuindo diplomas universitários que se corrigirá o problema da educação no Brasil. Universidade para todos é uma ilusão. O uso político dessa ideia deveria ser um escândalo.