Foi pelo menos isso que se pode reter, e assim foi visto por mim e por meu amigo Mario Machado, da cerimônia de formatura da turma que homenageou uma colega diplomata morta em função do cumprimento do dever, homenageada por ser mulher, por ser negra, e por ser do Acre, mais exatamente de Rio Branco, a capital do estado (antigo território) que leva o nome do negociador que incorporou o território então boliviano à jurisdição soberana do Brasil, num processo conduzido por aquele que era, digamos assim, oposto à presença de mulheres e de negros na diplomacia brasileira.
Transcrevo abaixo o post colocado pelo Mario no seu blog Coisas Internacionais, que também traz link para os discursos pronunciados na ocasião.
Se ouso acrescentar um último comentário, seria este: se o Itamaraty só tem um quarto de mulheres em seu corpo diplomático, a culpa é da instituição, dos exames, do processo de seleção. Deveria haver, além da cota para deficientes físicos (constitucional), das bolsas exclusivas para afrodescendentes e da cota para os mesmos, na primeira fase do concurso, uma outra cota para mulheres? Ou uma cota para negros? Para não nascidos na capital? Estranho...
Outros discursos foram pautados pelo tema da justiça social.
Quando ouvimos essa palavra, é inevitável que pensemos em alguém, saint-simoniano, na melhor das hipóteses, fabiano, na média hipótese, ou bolchevique, na pior, que pretende impor um pouco mais de igualdade pelo velho remédio mais rápido: tirar de quem tem muito para dar aos que supostamente não têm nada. No plano internacional, é a velha conversa da transferência de tecnologia e da assistência ao desenvolvimento.
As pessoas não percebem o quanto estão sendo contraditórias: mesmo a oradora da turma falou em aumento da cooperação técnica brasileira para ajudar no desenvolvimento "autônomo" de outros países, menos desenvolvidos. Pois é...
Mas vários equívocos foram cometidos nos pronunciamentos, a começar pela afirmação de que o mundo está cada vez mais desigual, o que é exatamente o contrário da realidade. O Brasil também foi apontado como país diferente, que está retirando pessoas da pobreza, quando diversos outros países estão fazendo isso mais rapidamente e melhor.
Bem, completo aqui o post com esta transcrição.
O Mário, como eu, escreve rápido, na própria janela, daí pequenos erros de redação, digitação, acentuação, por vezes concordância.
Eu ainda cometo erros mais terríveis, ao misturar palavras francesas ou inglesas com o português, aportuguesando alguns conceitos que foram involuntariamente ou inconscientemente pensados em outras línguas, como esse diabo de "frequentação". Assim acontece com quem faz muitas coisas ao mesmo tempo.
Como não sou candidato à Academia, não me preocupo, mas de vez em quando vem algum purista -- na verdade inimigo -- me condenar por escrever errado. Esses comentaristas devem ser membros de alguma academia, a dos "chatos", como diria Guilherme de Figueiredo.
Basta cosí, como diriam os italianos...
Paulo Roberto de Almeida
Formatura do Rio Branco ou lá vou eu meter mão em cumbuca
Curiosas essas constatações que o Itamaraty é majoritariamente branco e masculino. A culpa é da instituição, de alguém em particular? Os exames são sexistas, racistas, discriminatórios?Essa versão politicamente correta, que busca responsáveis por nossas deficiências e "vias rápidas" para corrigir o que se entende seja uma "deformação do sistema" -- quem sabe até uma das muitas perversidades da sociedade capitalista, elitista, e outros vícios mais -- e que pretende sanar os problemas pela "inclusão dos excluídos", sempre me pareceu uma tremenda demagogia, e um atentado notório ao princípio da igualdade e do mérito. Todas as pessoas, a partir de uma certa idade, têm condições de se preparar para um exame reconhecidamente difícil como o do Itamaraty.Ainda que se reconheça que certas pessoas -- pelo background familiar, pela freqüentação das péssimas escolas públicas, por uma série de outros fatores desfavoráveis -- enfrentam dificuldades adicionais nesse tipo de exame extremamente rigoroso, a única recomendação que se poderia fazer seria que as universidades, o próprio Itamaraty, entidades supostamente comprometidas com a "igualdade racial" e a "inclusão social" mantenham cursos preparatórios gratuitos, abertos preferencialmente aos que não dispõem de renda, sob declaração de honra, para pagar os cursos comerciais.Bolsas para afrodescendentes são inerentemente discriminatórias e racistas, e não deveriam existir nessa forma, com base na cor.Mas a voz dos "excluídos" é bem mais forte quando enrolada na bandeira da cor, e da suposta desigualdade da antiga escravidão.