O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O aquecimento global existe, ao que parece -- Editorial do WP

O Washington Post publica um editorial reforçando a posição dos "aquecimentistas" (desculpem o nome que acabo de inventar; eu sou um cético desabusado...) e reforçando o campo dos cientistas que batalham sob o calor...
Resta saber o que pretendem fazer os partidários da tese: todo esforço de contenção será rigorosamente inútil, ao que parece. Antes de se inverterem as tendências, talvez tenhamos, naturalmente, algum desaquecimento global.
Paulo Roberto de Almeida

The truth about global warming
Editorial - Washington Post
Monday, August 2, 2010

IN A DEPRESSING case of irony by juxtaposition, the death of climate change legislation in the Senate has been followed by the appearance of two government reports in the past week that underscore the overwhelming scientific case for global warming -- and go out of the way to repudiate skeptics.

First came a report on global climate from the National Oceanic and Atmospheric Administration, which confirmed that the 2000s were by far the warmest decade in the instrumental record -- as were, in their turns, the 1980s and the 1990s. Unlike year-to-year fluctuations, these 10-year shifts are statistically significant. Further, the report notes that it derived its conclusions from an array of data sources -- not just the land-surface readings that doubters challenge -- from ocean heat uptake to melting land ice to sea level rise.

"If the land surface records were systematically flawed and the globe had not really warmed, then it would be almost impossible to explain the concurrent changes in this wide range of indicators produced by many independent groups," the report said. "The warming of the climate system is unequivocal." The gases most likely responsible for that warming, such as carbon dioxide, continue to accumulate.

Second was a strongly worded response from the Environmental Protection Agency to petitions that it revoke its finding that "climate change is real, is occurring due to emissions of greenhouse gases from human activities and threatens human health and environment." As with much climate-change skepticism, the petitions were based "on selectively edited, out-of-context data and a manufactured controversy," EPA Administrator Lisa P. Jackson said. Among other things, the agency reviewed every document from the "Climategate" e-mail hack at a respected British climate research unit. The EPA found what four other independent studies did: that the e-mails contained some "candid" language but nothing that seriously discredits the scientific consensus on global warming.

Perhaps it is still too much to hope that Virginia Attorney General Ken Cuccinelli II will call off his misguided investigation of climate scientist Michael Mann, which seems to be based on the e-mail affair. Many climate-change skeptics will simply dismiss these reports as more evidence of a sprawling conspiracy instead of what they really are: yet more affirmation of the risks humanity runs if it continues to pump carbon into the atmosphere.

Do "ouro" de Moscou ao trafico de cocaina: o financiamento das guerrilhas na AL - Cesar Maia

"Ouro" era uma expressão: eram dólares, mesmo, entregues aos líderes dos partidos comunistas e às guerrilhas, desde que elas defendessem as posições da URSS. Depois da queda da União Soviética, a situação ficou difícil e alguns se reciclaram na criminalidade pura e simples, como os guerrilheiros colombianos, "prósperos" traficantes e sequestradores...
Foi o que restou. E tem gente que ainda os apoia, aqui mesmo no Brasil, não se sabe em nome do que. Um desses, por exemplo, tentou ser porta-voz, ou intermediário, das FARC. Em qalquer país decente, já teria sido chamado por uma comissão parlamentar. Menos neste país em que a ilegalidade se esconde (ou se exerce) nos lugares mais inesperados...

DE ONDE VINHA, E DE ONDE VEM AGORA O DINHEIRO DAS GUERRILHAS NA AMÉRICA LATINA!
Cesar Maia
Folha de S.Paulo, 31/07/2010

1. A questão central das guerrilhas sempre foi a de financiamento e logística. Afinal, armas e munição não caem do céu. A apropriação em combate no máximo conta-se em unidades. Por ideologia, a atração de recursos humanos e a motivação dos guerrilheiros podem ser resolvidas. Medicamentos, comida e uniformes, até se conseguem em ação. Nos anos 80 as guerrilhas de esquerda latino-americanas atingiam seu auge, inspiradas em Cuba, no Vietnã e na tomada de poder pelos sandinistas na Nicarágua em 1979.

2. Tive uma longa conversa, em Manágua, em 2006, com Éden Pastora -o mítico Comandante Zero-, que tomou o Palácio Nacional em 1978. Todo o encanto ideológico se desfez para ele no momento da ocupação do poder, quando as lideranças deram lugar aos parentes e amigos de Ortega, que governou até 1990 e voltou ao poder agora, num escabroso acordo.

3. O processo de paz com as guerrilhas de Guatemala, El Salvador e Honduras se deu na primeira metade dos anos 90, com celebração pela ONU. A entrega de armas e a paz seriam inevitáveis depois da queda do Muro de Berlim em 1989, da implosão do Pacto de Varsóvia e da desintegração da União Soviética em 1991. Com o término do subsídio soviético ao açúcar cubano e sem as fontes de financiamento da Europa Oriental, as guerrilhas centro-americanas foram perdendo fôlego. O processo de paz, liderado pela ONU, foi nesse sentido quase humanitário. A democratização veio com a superação das ditaduras de direita. As guerrilhas transformadas em partidos políticos.

4. Mas há exceções, ambas na América do Sul. As Farc e o ERP na Colômbia e o Sendero Luminoso no Peru. Nos três casos as fontes público-ideológicas de financiamento das guerrilhas foram substituídas por fontes "privadas". Primeiro as extorsões mediante sequestro, que passaram a somar milhares por ano, alcançando centenas de milhões de dólares. E em seguida o tráfico de cocaína. Inicialmente com as guerrilhas cobrando pedágio para a passagem da cocaína. E em seguida com elas mesmas dando proteção à produção de coca e cobertura aos traficantes.

5. A liquidação dos grandes cartéis de cocaína deu curso a sua pulverização, facilitando o "trabalho" das guerrilhas. Substituídas as fontes de financiamento públicas por "privadas", o "ouro de Moscou" pela cocaína, as guerrilhas se consolidaram nos anos 90, especialmente as da Colômbia. Que ainda estão aí oxigenadas pela cocaína.

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En Colombie, le nouveau président Santos défié par une attaque des FARC
Marie Delcas - Bogota, correspondante
Le Monde, 02.08.2010

Cinq policiers et un soldat colombien ont été tués vendredi dans le sud du pays, au cours d'une embuscade attribuée par les autorités aux Forces armées révolutionnaires de Colombie (FARC). Quelques heures plus tôt, dans une vidéo diffusée sur Internet, le chef de cette guérilla, Alfonso Cano, proposait d'engager des négociations de paix avec le futur gouvernement.

Cette attaque intervient alors que le président Juan Manuel Santos, élu le 20 juin, doit prendre ses fonctions le 7 août. "Les portes du dialogue ne sont pas fermées", a déclaré le futur vice-président Angelino Garzon. Il a toutefois posé comme condition à l'ouverture d'éventuels pourparlers avec la guérilla la libération de tous les otages et la cessation des violences.

"Alfonso Cano est un tueur qui joue les idéologues dans les médias", a déclaré dimanche le président sur le départ. Partisan de la manière forte, Alvaro Uribe continue de fustiger les guérilleros qu'il s'était juré d'anéantir. Mardi 27 juillet, il appelait ses concitoyens à déjouer "le piège de la paix, tendu par terroristes".

DES TENSIONS AVEC LE VENEZUELA
La proposition des FARC intervient en pleine crise diplomatique avec Caracas. En réponse aux accusations de Bogota concernant la présence de chefs et de camps guérilleros en territoire vénézuélien, le président Hugo Chavez a rompu les relations diplomatiques le 22 juillet.

M. Chavez qui affirme avoir militarisé la frontière accuse M. Uribe – "laquais des Américains" – de vouloir préparer une guerre contre le Venezuela. "Mon objectif suprême est de l'éviter", a martelé Hugo Chavez, dimanche 1er août. La Colombie dément toute intention offensive.

Réunie jeudi 29 juillet à Quito en session extraordinaire, l'Union des nations sud-américaines (Unasur) a échoué a régler le différend. Hugo Chavez a affirmé détenir un "plan de paix pour la Colombie", sans en révéler le contenu. Dimanche 25 juillet, il avait publiquement appelé les FARC – qui sont dans le maquis depuis plus de quarante ans – à déposer les armes.

Datée de "juillet 2010", la vidéo des FARC montre un Alfonso Cano vieilli mais tranquille. "Nous avons toujours été attachés à la recherche de solutions politiques", affirme Alfonso Cano qui, depuis 2008, dirige l'organisation. Selon lui, les précédentes tentatives de dialogue ont échoué faute de "volonté pour trouver des solutions". Et de rappeler que "les innombrables gouvernements qui ont promis d'en finir avec le conflit armé par la voie militaire ont également échoué".

L'ESSOUFFLEMENT DE LA GUÉRILLA
L'organisation armée veut discuter réforme agraire, réforme politique et modèle économique. "Rien de très nouveau si ce n'est que, cette fois, les FARC ne mettent pas de conditions à l'ouverture du dialogue, remarque l'analyste Leon Valencia. La guérilla a perdu l'illusion de prendre le pouvoir par les armes."

Huit ans d'une lutte sans merci menée par Alvaro Uribe ont affaibli les FARC, sans en venir à bout. De source officielle, les guérilleros sont aujourd'hui moins de 8 000 hommes en armes contre 20 000 en 2002. Dans le sud-ouest du pays, l'armée talonne Alfonso Cano depuis des semaines. Plusieurs campements de l'"anneau de sécurité" du grand chef des FARC ont été démantelés.

Sur ce dossier comme sur d'autres, M. Uribe a du mal à cacher son agacement face à "l'indépendance" – c'est le terme des médias – de son ex-ministre de la défense, héritier désigné et successeur. Juan Manuel Santos avait fait campagne en promettant de continuer l'œuvre de son mentor. "Si les FARC veulent la paix, ils doivent être capable de dire ‘c'en est fini de cette violence qui n'a plus de sens', déclare son vice-président Garzón. S'ils le font, soyez sûrs que le gouvernement de Juan Manuel Santos fera preuve d'une immense générosité pour construire la paix, le pardon et la réconciliation, tout en respectant les droits des victimes."

A estupidez de aumentar os impostos (especialmente sobre os ricos)

Com o devido perdão às almas sensíveis, que não podem ler uma expressão tão chocante quanto "estúpida" (ou idiota, em outros contextos), mas não posso pensar em outra palavra para designar a atitude daqueles que pensam arrecadar um pouco mais de recursos "dos mais ricos" para redistribuir aos mais pobres (o que é uma ilusão, pois a maior parte das receitas adicionais fica no próprio Estado), com base em alíquotas mais pesadas para os estratos de mais renda.
Para os que não sabem, Arthur Laffer é um dos mais famosos economistas americanos, autor da famosa "curva de Laffer", que demonstra como as receitas diminuem relativamente (e por vezes até absolutamente) com o aumento nominal das alíquotas de imposto sobre a renda direta. Parece matemático, mas é uma simples reação humana, muito humana. Quem não acredita pode procurar no Google ou na Wikipedia (ou no Google Scholar, se pretender ler o artigo acadêmico que o consagrou).
Trata-se de uma boa lição para todos os redistributivistas "enragés", que acham que vão financiar suas boas obras sociais taxando os ricos, e que só conseguem produzir menos investimento, menos emprego, menor criação de renda e riqueza.
Os atuais defensores da política econômica "que está aí" acreditam que o Brasil esteja vivendo um momento "rooseveltiano", o que só revela a dupla ignorância em que vivem: nem Roosevelt tirou de verdade os EUA da depressão (talvez ele tenha aprofundado e prolongado a depressão, segundo vários economistas), nem o Brasil pratica e promove, a qualquer título políticas rooseveltianas (e, se o faz, faz de forma errada, estupidamente errada, mesmo sem ter consciência disso).
Basta ler o que Laffer diz sobre o período Roosevelt para constatar o que já é sabido entre os economistas mais bem informados dos EUA.
A começar pelo salário mínimo, as pretensas políticas de previdência, de promoção dos direitos dos trabalhadores e outras medidas, todas elas promovem, na verdade, menor bem estar, maior desemprego, menor investimento, menor renda.
Se o Brasil não tivesse salário mínimo oficial, o desemprego seria, provavelmente, menor do que 3% da mão-de-obra, mas isso as máfias sindicais não podem permitir, elas que são amigas e produtoras de desemprego para as massas.
Fiquem com um bom artigo de opinião, historicamente embasado.

* OPINION
The Soak-the-Rich Catch-22
By ARTHUR LAFFER
The Wall Street Journal, August 2, 2010

Tax reduction thus sets off a process that can bring gains for everyone, gains won by marshalling resources that would otherwise stand idle—workers without jobs and farm and factory capacity without markets. Yet many taxpayers seemed prepared to deny the nation the fruits of tax reduction because they question the financial soundness of reducing taxes when the federal budget is already in deficit. Let me make clear why, in today's economy, fiscal prudence and responsibility call for tax reduction even if it temporarily enlarged the federal deficit—why reducing taxes is the best way open to us to increase revenues.
—President John F. Kennedy,
Economic Report of the President,
January 1963

If only more of today's leaders thought like JFK. Sadly, in the debate over whether to extend the 2001 and 2003 tax cuts, and if so whether the cuts should be extended to those people who are in the highest tax bracket, there is a false presumption that higher tax rates on the top 1% of income earners will raise tax revenues.

Anyone who is familiar with the historical data available from the IRS knows full well that raising income tax rates on the top 1% of income earners will most likely reduce the direct tax receipts from the now higher taxed income—even without considering the secondary tax revenue effects, all of which will be negative. And who on Earth wants higher tax rates on anyone if it means larger deficits?

Since 1978, the U.S. has cut the highest marginal earned-income tax rate to 35% from 50%, the highest capital gains tax rate to 15% from about 50%, and the highest dividend tax rate to 15% from 70%. President Clinton cut the highest marginal tax rate on long-term capital gains from the sale of owner-occupied homes to 0% for almost all home owners. We've also cut just about every other income tax rate as well.

During this era of ubiquitous tax cuts, income tax receipts from the top 1% of income earners rose to 3.3% of GDP in 2007 (the latest year for which we have data) from 1.5% of GDP in 1978. Income tax receipts from the bottom 95% of income earners fell to 3.2% of GDP from 5.4% of GDP over the same time period. (See the nearby chart).

These results shouldn't be surprising. The highest tax bracket income earners, when compared with those people in lower tax brackets, are far more capable of changing their taxable income by hiring lawyers, accountants, deferred income specialists and the like. They can change the location, timing, composition and volume of income to avoid taxation.

Just look at Sen. John Kerry's recent yacht brouhaha if you don't believe me. He bought and housed his $7 million yacht in Rhode Island instead of Massachusetts, where he is the senior senator and champion of higher taxes on the rich, avoiding some $437,500 in state sales tax and an annual excise tax of about $70,000.

Howard Metzenbaum, the former Ohio senator and liberal supporter of the death tax, chose to change his official residence to Florida just before he died because Florida does not have an estate tax while Ohio does. Goodness knows what creative devices former House Ways and Means Chairman Charlie Rangel has used to avoid paying taxes.

In short, the highest bracket income earners—even left-wing liberals—are far more sensitive to tax rates than are other income earners.

When President Kennedy cut the highest income tax rate to 70% from 91%, revenues also rose. Income tax receipts from the top 1% of income earners rose to 1.9% of GDP in 1968 from 1.3% in 1960. Even when Presidents Harding and Coolidge cut tax rates in the 1920s, tax receipts from the rich rose. Between 1921 and 1928 the highest marginal personal income tax rate was lowered to 25% from 73% and tax receipts from the top 1% of income earners went to 1.1% of GDP from 0.6% of GDP.

Or perhaps you'd like to see how the rich paid less in taxes under the bipartisan tax rate increases of Presidents Johnson, Nixon, Ford and Carter? Between 1968 and 1981 the top 1% of income earners reduced their total income tax payments to 1.5% of GDP from 1.9% of GDP.

And then there's the Hoover/Roosevelt Great Depression. The Great Depression was precipitated by President Hoover in early 1930, when he signed into law the largest ever U.S. tax increase on traded products—the Smoot-Hawley Tariff. President Hoover then thought it would be clever to try to tax America into prosperity. Using many of the same arguments that Barack Obama, Nancy Pelosi and Harry Reid are using today, President Hoover raised the highest personal income tax rate to 63% from 24% on Jan. 1, 1932. He raised many other taxes as well.

President Roosevelt then debauched the dollar with the 1933 Bank Holiday Act and his soak-the-rich tax increase on Jan. 1, 1936. He raised the highest personal income tax rate to 79% from 63% along with a whole host of other corporate and personal tax rates as well. The U.S. economy went into a double dip depression, with unemployment rates rising again to 20% in 1938. Over the course of the Great Depression, the government raised the top marginal personal income tax rate to 83% from 24%.

Is it any wonder that the Great Depression was as long and deep as it was? Whoever heard of a country taxing itself into prosperity? Not only did taxes as a share of GDP fall, but GDP fell as well. It was a double whammy. Tax receipts from the top 1% of income earners stayed flat as a share of GDP, going to 1% in 1940 from 1.1% in 1928, but at what cost?

We all know that there are lots of factors influencing tax revenues from the rich, but the number one factor has to be the statutory tax rates government tells the rich they have to pay. Not only do the direct income tax consequences of higher tax rates on those in the highest brackets lead to higher deficits, the indirect effects magnify the tax revenue losses many fold.

As a result of higher tax rates on those people in the highest tax brackets, there will be less employment, output, sales, profits and capital gains—all leading to lower payrolls and lower total tax receipts. There will also be higher unemployment, poverty and lower incomes, all of which require more government spending. It's a Catch-22.

Higher tax rates on the rich create the very poverty and unemployment that is used to justify their presence. It is a vicious cycle that well-trained economists should know to avoid.

Mr. Laffer is the chairman of Laffer Associates and co-author of "Return to Prosperity: How America Can Regain Its Economic Superpower Status" (Threshold, 2010).

Mediocrizacao do ambiente academico: nao so no Brasil, tambem nos EUA

Quando escrevi um ensaio sobre a mediocrização da vida acadêmica brasileira não imaginei, por certo, que o fenômeno (se o termo se aplica) se restringisse ao Brasil. Estou certo que o mesmo acontece em dezenas de universidades e faculdades na América Latina, e até mesmo nos EUA.
Não me lembro, porém, de ter lido nenhum alerta, no Brasil ou na região, contra essa situação.
Talvez o "fenômeno" também seja comum aos EUA, como se depreende da matéria abaixo.
Mas, lá, temos pelo menos um exemplo de análise crítica e bisturi analítico que não é complacente com a estabilidade e (no caso deles) os altos salários e baixa produtividade das academias americanas.
Cabe refletir sobre o "fenômeno". Espero que algum acadêmico mais sensato escreva algo a respeito no Brasil e proponha reformas, mas estou duvidando seriamente de que isso tenha alguma chance de ser feito any time soon.
Paulo Roberto de Almeida

BOOKSHELF
Higher Education?
By Andrew Hacker and Claudia Dreifus
(Times Books, 271 pages, $26)

Ignorance By Degrees
By Mark Bauerlein
The Wall Street Journal, August 2, 2010

Colleges serve the people who work there more than the students who desperately need to learn something.

Higher education may be heading for a reckoning. For a long time, despite the occasional charge of liberal dogma on campus or of a watered-down curriculum, people tended to think the best of the college and university they attended. Perhaps they attributed their career success or that of their friends to a diploma. Or they felt moved by a particular professor or class. Or they received treatment at a university hospital or otherwise profited from university-based scientific research. Or they just loved March Madness.

Recently, though, a new public skepticism has surfaced, with galling facts to back it up. Over the past 30 years, the average cost of college tuition and fees has risen 250% for private schools and nearly 300% for public schools (in constant dollars). The salaries of professors have also risen much faster than those of other occupations. At Stanford, to take but one example, the salaries of full professors have leapt 58% in constant dollars since the mid-1980s. College presidents do even better. From 1992 to 2008, NYU's presidential salary climbed to $1.27 million from $443,000. By 2008, a dozen presidents had passed the million-dollar mark.

Meanwhile, tenured and tenure-track professors spend ever less time with students. In 1975, 43% of college teachers were classified as "contingent"—that is, they were temporary instructors and graduate students; today that rate is 70%. Colleges boast of high faculty-to-student ratios, but in practice most courses have a part-timer at the podium.

Elite colleges justify the light teaching loads of their professors—Yale requires only three courses a year, with a semester off every third year—by claiming that the members of their faculty spend their time producing important research. A glance at scholarly journals or university-press catalogs might make one wonder how much of this "research" is advancing knowledge and how much is part of a guild's need to credentialize its members. In any case, time spent for research is time taken away from students. The remoteness of professors may help explain why about 30% of enrolling students drop out of college only a few months after arriving.

At the same time, the administrator-to-student ratio is growing. In fact, it has doubled since 1976. The administrative field has diversified into exotic specialties such as Credential Specialist, Coordinator of Learning Immersion Experiences and Dietetic Internship Director.

In "Higher Education?" Andrew Hacker and Claudia Dreifus describe such conditions in vivid detail. They offer statistics, anecdotes and first-person accounts— concerning tuition, tenure and teaching loads, among much else—to draw up a powerful, if rambling, indictment of academic careerism. The authors are not shy about making biting judgments along the way.

Of the 3,015 papers delivered at the 2007 meeting of the American Sociological Association, the authors say, few "needed to be written." As for one of the most prestigious universities in the world, "the mediocrity of Harvard undergraduate teaching is an open secret of the Ivy League." Much of the research for scholarly articles and lectures is "just compost to bulk up résumés." College presidents succeed not by showing strong, imaginative leadership but "by extending their school's terrain." Indeed, "hardly any of them have done anything memorable, apart perhaps from firing a popular athletic coach." For all the high-minded talk, Mr. Hacker and Ms. Dreifus conclude, colleges and universities serve the people who work there more than the parents and taxpayers who pay for "higher education" or the students who so desperately need it.

Take the adjunct issue. Everyone knows that colleges increasingly staff courses with part-time instructors who earn meager pay and no benefits. But who wants to eliminate the practice? Administrators like it because it saves money, professors because it saves them from teaching labor-intensive courses. And adjuncts themselves would rather continue at minimum wage than leave the profession altogether. In a "coda," Mr. Hacker and Ms. Dreifus declare that "it is immoral and unseemly to have a person teaching exactly the same class as an ensconced faculty member, but for one-sixth the pay." Perhaps so, but without a united faction mobilized against it, such "immorality" won't stop anytime soon.

But some change may still be possible. A lot of criticism of academia hasn't stuck in the past, Mr. Hacker and Ms. Dreifus imply, because people have almost unthinkingly believed in the economic power of the degree. Yes, you didn't learn a lot, and the professors blew you off—the reasoning went—but if you got a diploma the job offers would follow. But that logic may no longer be so compelling. With the economy tightening and tales of graduates stuck in low-paying jobs with $50,000 in student loans, college doesn't look like an automatic bargain.

We need some hard cost accounting and comparisons, Mr. Hacker and Ms. Dreifus argue, and so they end "Higher Education?" with capsule summaries of, as they put it, "Schools We Like"—that is, schools that offer superior undergraduate educations at relatively low cost. The list includes Ole Miss, Cooper Union, Berea College, Arizona State and Western Oregon University. "We think a low cost should be a major determinant in any college decision," the authors wisely conclude, for "a debt-free beginning is worth far more than a name-brand imprimatur."

Mr. Bauerlein, the author of "The Dumbest Generation: How the Digital Age Stupefies Young Americans and Jeopardizes Our Future," teaches at Emory University.

Tentando diminuir a ignorancia (modesta e lentamente)...

Recomendo a leitura deste ensaio:

What Social Science Does—and Doesn’t—Know
Jim Manzi
City Journal, Summer 2010

Our scientific ignorance of the human condition remains profound.

do qual extraio apenas a parte final:

But what do we know from the social-science experiments that we have already conducted? After reviewing experiments not just in criminology but also in welfare-program design, education, and other fields, I propose that three lessons emerge consistently from them.

First, few programs can be shown to work in properly randomized and replicated trials. Despite complex and impressive-sounding empirical arguments by advocates and analysts, we should be very skeptical of claims for the effectiveness of new, counterintuitive programs and policies, and we should be reluctant to trump the trial-and-error process of social evolution in matters of economics or social policy.

Second, within this universe of programs that are far more likely to fail than succeed, programs that try to change people are even more likely to fail than those that try to change incentives. A litany of program ideas designed to push welfare recipients into the workforce failed when tested in those randomized experiments of the welfare-reform era; only adding mandatory work requirements succeeded in moving people from welfare to work in a humane fashion. And mandatory work-requirement programs that emphasize just getting a job are far more effective than those that emphasize skills-building. Similarly, the list of failed attempts to change people to make them less likely to commit crimes is almost endless—prisoner counseling, transitional aid to prisoners, intensive probation, juvenile boot camps—but the only program concept that tentatively demonstrated reductions in crime rates in replicated RFTs was nuisance abatement, which changes the environment in which criminals operate. (This isn’t to say that direct behavior-improvement programs can never work; one well-known program that sends nurses to visit new or expectant mothers seems to have succeeded in improving various social outcomes in replicated independent RFTs.)

And third, there is no magic. Those rare programs that do work usually lead to improvements that are quite modest, compared with the size of the problems they are meant to address or the dreams of advocates.

Experiments are surely changing the way we conduct social science. The number of experiments reported in major social-science journals is growing rapidly across education, criminology, political science, economics, and other areas. In academic economics, several recent Nobel Prizes have been awarded to laboratory experimentalists, and leading indicators of future Nobelists are rife with researchers focused on RFTs.

It is tempting to argue that we are at the beginning of an experimental revolution in social science that will ultimately lead to unimaginable discoveries. But we should be skeptical of that argument. The experimental revolution is like a huge wave that has lost power as it has moved through topics of increasing complexity. Physics was entirely transformed. Therapeutic biology had higher causal density, but it could often rely on the assumption of uniform biological response to generalize findings reliably from randomized trials. The even higher causal densities in social sciences make generalization from even properly randomized experiments hazardous. It would likely require the reduction of social science to biology to accomplish a true revolution in our understanding of human society—and that remains, as yet, beyond the grasp of science.

At the moment, it is certain that we do not have anything remotely approaching a scientific understanding of human society. And the methods of experimental social science are not close to providing one within the foreseeable future. Science may someday allow us to predict human behavior comprehensively and reliably. Until then, we need to keep stumbling forward with trial-and-error learning as best we can.

Integra, neste link.

Preocupante: professores de direito acham que o Estado é uma cornucopia infinita, e que a ONU tem uma varinha magica para distribuir favores

Estou preocupado com o futuro da humanidade.
OK, não vou ser tão dramático.
Digamos que estou preocupado com o futuro do Brasil, embora uma coisa tem a ver com a outra.
Tenho registrado uma evolução preocupante, em professores e estudantes de direito (ou de Direito, se eles desejarem, mas eu não daria um D maiúsculo a quem não sabe a diferença entre coisas essenciais), tendente a ignorar completamente duros fatos econômicos, em troca de uma inconsciência distributiva que expressa, nada mais, nada menos do que pura e simples ignorância econômica (e um igualmente descomunal desconhecimento da História, aqui com H maiúsculo).

Esses "praticantes" do Direito acham que é possível extrair riqueza do ar, tirar recursos no nada, enfim, distribuir o que não foi previamente produzido.
Eles saem por aqui criando novos direitos -- ao emprego, à habitação, enfim a qualquer coisa que requer uma oferta prévia -- sem sequer indagar de onde vão sair os bens e serviços que eles alegremente inscrevem em tratados, em constituições, em protocolos internacionais, enfim em qualquer folha de papel rabiscada com suas ideias inconsistentes com as realidades econômicas.
Existe até um Senador, que passa por pessoa inteligente, que pretende inscrever o direito à "felicidade" na Constituição. Eu me pergunto se ele não estaria melhor escrevendo livros de poesia (e pagando para vê-los editados e publicados).

O mundo vem de uma miséria ancestral de milhares de anos, tendo construído aos poucos (não o mundo, mas as pessoas, se possível inteligentes) sociedades mais eficientes, ou seja, mais produtivas do que outras.
O que se tem hoje é justamente isto: sociedades ricas, afluentes, até exageradamente, ao lado de sociedades pobres, miseráveis, algumas ao extremo.
Não existe nenhuma diferença fundamental, estrutural, entre umas e outras, a não ser a capacidade produtiva de suas respectivas populações. As primeiras têm pessoas educadas, produtivas, as segundas pessoas desprovidas dos rudimentos mínimos do trabalho produtivo.
Curioso é recordar que as pessoas nascem absolutamente iguais, ou seja, totalmente ignorantes, zero de conhecimento, uma página em branco.
Se retirarmos um bebê da Somália e o entregarmos a uma família americana (ou escandinava), ele vai se desenvolver e se tornar uma pessoa tão produtiva quanto a média americana ou escandinava. Inversamente, retire um bebê de uma família de classe média americana e deixe-o com uma família de camponeses da Somália; com menos de 15 anos ele terá feito um curso completo de abordagem e pirataria, e provavelmente morrerá antes dos 20 anos, de uma violência qualquer.

No meio, temos alguns professores de direito (não só do Brasil, claro), mais a ONU, que pretendem dar aos somalianos o "direito ao desenvolvimento" e inscrevem isso em protocolos rapidamente ratificados por todos os Estados dos países em desenvolvimento (em face da recusa, ou da abstenção, claro, dos perversos americanos).
Acredito que deveríamos juntar os professores de direito e os burocratas da ONU, e mandar todos para a Somália, para que eles assegurem o "direito ao desenvolvimento" dos somalianos.
Aposto como eles vão logo reclamar "recursos" (obviamente de países ricos, como os EUA), ou então uma Tobin Tax, que recolha um pouquinho das riquezas canalizadas pelos mercados financeiros (que como todos sabem exploram os pobres somalianos).

Esses professores de direito e esses burocratas da ONU poderiam ser chamados de idiotas, mas não vou fazê-lo, por que isso choca algumas almas sensíveis que frequentam este blog, e que se impressionam com a minha linguagem contundente.
Tenho certa dificuldade em NÃO chamar ideias idiotas de idiotas, mas vou me conter desta vez.

Vou apenas designar esses professores de direito (e seus alunos) e os burocratas da ONU de ignorantes em Economia e de primários em História.
Enfim, nada de muito dramático, como se sabe: basta ler, estudar um pouco e todo esse pessoal será capaz de corrigir deficiências técnicas facilmente superáveis.
As mesmas deficiências técnicas que impedem um somaliano de ser tão produtivo quanto um americano ou escandinavo. Basta estudar, e manter a mente aberta.

Isso é simples, aliás mais simples para estudantes e professores de direito no Brasil do que para simples somalianos miseráveis: basta abrir os livros, consultar a internet (o Google está aí para isso mesmo) e se dispor a mudar ideias emboloradas por argumentos que apresentem um minímo de consistência.

Talvez eles pudessem começar por uma ideia muito simples: NINGUÉM tem o direito (com d minúsculo) de atribuir um Direito a ALGUÉM sem que se tenha também definido QUEM vai ser responsável pela atribuição (ou CONCESSÃO) desse direito (sem qualquer viés).
Ou como já disse alguém, em linguagem mais simples: there is no free lunch...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 2.08.2010)

domingo, 1 de agosto de 2010

Sobre a ignorancia letrada: algumas consideracoes pessoais

A Ignorância Letrada: ensaio sobre a mediocrização do ambiente acadêmico
Paulo Roberto de Almeida

[Antecipo, em absoluta primeira mão, em vista dos recentes "debates" (vale as aspas) neste blog, um texto que está sendo publicado nos próximos dias. Não chamo ninguém de idiota, mas acho que deveria...PRA]

Resumo: Ensaio sobre a crescente deterioração da qualidade da produção acadêmica brasileira na área de humanas, examinando a natureza do problema, suas causas, suas consequências mais evidentes e as evidências disponíveis, de modo indireto. Ademais das pedagogias freireanas, que estão na raiz da tragédia educacional nos dois primeiros ciclos de ensino, o sistema de educação superior padece de viseiras mentais criadas por ideologias supostamente progressistas que deformam a percepção da realidade e contribuem para a erosão de qualidade nos diferentes ciclos de ensino.

Nota preliminar 1: Sempre me lembro de um aforismo de Ferreira Gullar quando vou escrever um texto a partir do zero, sem notas e sem preparação: “A crase não foi feita para humilhar ninguém”. Pois bem: este ensaio não foi feito para humilhar nenhum acadêmico, nem para ofender a categoria, de modo geral. Apenas desejei externar uma reflexão feita inteiramente a partir do que constato nos ritos e nas práticas acadêmicas, com base na interação com outros professores, no exame de artigos submetidos ao meu parecer e também formada na leitura de muitos artigos publicados. O uso do conceito de “mediocrização”, em relação à academia, e não simplesmente em conexão com a televisão aberta, por exemplo, ou, de maneira geral, com a cultura de massas no Brasil, pode parecer exagerado e indevido, mas me pareceu necessário nas circunstâncias atuais. Em qualquer hipótese, a mediocridade reinante não é obra de um ou dois acadêmicos; ela é um empreendimento coletivo de longa duração, que já vem desde algum tempo no passado recente e que promete se estender por um tempo ainda indefinido no futuro da academia brasileira.

Nota preliminar 2: Talvez o adjetivo “letrada” pudesse ser substituído por um equivalente mais culto, “ilustrada” digamos, para caracterizar a ignorância ostentada na “parte alta” da sociedade, isto é, naquela supostamente dedicada ao conhecimento de alto nível. No meu conceito, porém, essa ignorância não merece a caracterização “ilustrada”, pois se trata mesmo, apenas e tão somente, de cultura “letrada”, na sua acepção mais elementar. Com estes “avisos” a toda a comunidade, agora começo.

1. O problema
A universidade brasileira, como todos sabem, é uma construção tardia. Talvez alguma sumidade acadêmica atribua seus evidentes traços negativos ao chamado “capitalismo tardio” em nosso país, qualquer que seja o significado desse conceito histórico naturalmente anacrônico (pois que todo processo complexo e multissecular, como o capitalismo, apresenta defasagens temporais em suas manifestações concretas, em cada situação social determinada); mas a verdade é que a mediocrização também é uma obra tardia, pois o fenômeno só surge depois que a universidade foi inteiramente construída. Formada a partir de escolas e faculdades isoladas na primeira metade do século 20, a universidade brasileira só começou a erigir um sistema de pós-graduação a partir do final dos anos 1960: a “substituição de importações” nessa área foi um processo lento, ainda não de todo acabado, mas já bastante consolidado para os padrões habituais dos países em desenvolvimento. Pode-se dizer que, do ponto de vista dos procedimentos administrativos e das técnicas de formação e de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior, a missão foi razoavelmente bem cumprida, muito embora as “importações” ainda permaneçam como um componente importante em várias áreas do sistema (o que é absolutamente natural e necessário).
Essa construção se deu basicamente sob o regime militar (1964-1985), não ocorrendo depois, na redemocratização e no período recente, nenhuma “revolução” no terceiro ciclo, pelo menos não comparável ao processo de rupturas registrado durante a fase autoritária. Os governos posteriores se limitaram a expandir o sistema, por vezes de forma anárquica, abrindo novos espaços ao setor privado, na ausência de investimentos estatais no setor, ou na incapacidade de governos estaduais e do próprio governo central fazê-lo de modo compatível com as necessidades detectadas. Essa expansão se deu de forma mais “elástica” do que sistêmica, bem mais do lado quantitativo do que qualitativo, embora se possa dizer que a produção ampliada também melhorou sensivelmente de qualidade em muitas áreas.
O que a redemocratização trouxe de diferente foi, justamente, um simulacro de “democratização” das instituições universitárias, sob a bandeira da “autonomia”. Na verdade, um aumento extraordinário e uma forte consolidação do corporativismo e do sindicalismo em todas as faixas profissionais, ambos os fenômenos dominados por partidos e movimentos de esquerda e pelo chamado “baixo clero” (e, portanto, já tendente ao que chamei de mediocrização das instituições). Não existe novidade nesse tipo de “evolução”, mesmo quando não aceitamos a legitimidade de uma cultura de “elite”; o romancista americano James Fenimore Cooper – mais conhecido entre nós por seu romance histórico bem pesquisado O Último dos Moicanos – já tinha detectado a crescente mediocrização da vida intelectual nos Estados Unidos desde o início do século 19, sociedade que não pode ser tida como exemplo de elitismo aristocrático, ao contrário: ele indicava o fenômeno como coetâneo ao processo de democratização social, em forte ascensão naquele país recentemente independente.
Sem ter apoio em pesquisas específicas ou estudos setoriais empiricamente embasados – correndo o risco, nesse particular, de algum subjetivismo – é possível afirmar-se que o crescimento e a expansão do terceiro ciclo ocorreram paralelamente ao enorme crescimento quantitativo e à perda de qualidade dos dois primeiros ciclos de ensino. Existem muitas evidências prima facie de que esses dois processos paralelos e aparentemente contraditórios – embora concordantes no aspecto quantitativo – aconteceram ao longo das quatro últimas décadas e meia, ou seja, nos 21 anos do regime militar e nos 25 anos decorridos desde a redemocratização. Ao longo desse processo de inegável democratização de oportunidades sociais – embora insuficiente e longe de ter sido completada, sobretudo devido ao estrangulamento do secundário – os dois movimentos se reforçaram mutuamente e consolidaram seus traços mais negativos, evidenciados justamente no elemento característico que constitui o elemento central desta análise: a perda de qualidade e a mediocrização geral do ensino no Brasil, em especial em sua vertente “superior”.

2. As causas
Como para todo fenômeno complexo, a perda de qualidade do ensino público em geral, no Brasil, possui múltiplas causas, diversas variáveis intervenientes e diferentes tipos de condicionantes, que foram se alterando ao longo do tempo. Pode-se, no entanto, tentar isolar algumas causas aparentes que foram interagindo entre si desde os anos 1960 e que se reforçaram conjuntamente no final do período, ou seja, atualmente, e que prometem continuar agindo no futuro previsível.
Tudo tem início na geração precedente e no movimento pela reforma do ensino e de reforço da escola pública, começado na sequência da Revolução de 1930, continuado na implantação do Estado autoritário no Brasil, em 1937, e em sua consolidação nos anos seguintes, movimento que se prolongou na República de 1946. Os líderes militares e civis que comandaram esses processos nos trinta anos seguintes à Revolução de 1930 foram bem sucedidos em criar um sistema de escolas públicas de qualidade, ainda que bastante seletivo em sua capacidade de recrutamento – basicamente a classe média urbana – e tendente a um mínimo denominador comum – horários reduzidos e reforço limitado de mecanismos extra-escolares – mais do que à ampliação progressiva dos conteúdos e metodologias.
Essa escola “republicana” funcionava razoavelmente bem, ainda que de modo restrito, quando os militares tomaram o poder e decidiram fazer uma revolução nas carências educacionais mais sentidas no Brasil dessa época: criar uma universidade compatível com as necessidades industrializantes e, sobretudo, operar a implantação de programas de pós-graduação. Os militares provavelmente partiram do pressuposto de que a escola pública já estava montada e funcionando adequadamente, e que os esforços mais importantes deveriam ser dirigidos, portanto, para a graduação universitária, em especial para a pós-graduação. Recursos foram maciçamente direcionados a esses dois sistemas, ao mesmo tempo em que os dois primeiros ciclos recebiam os influxos de milhões de novas crianças e adolescentes, sob o impacto do crescimento demográfico e da urbanização, bastante rápidos no Brasil dos anos 60 aos 80. As entidades de fomento cresceram, as bolsas se multiplicaram, os salários dos professores universitários eram relativamente elevados.
Paradoxalmente, um dos principais fatores da perda progressiva de qualidade do ensino público nos dois primeiros ciclos foi a concentração – e a centralização e a reconcentração – dos recursos públicos no terceiro ciclo, este ultra-privilegiado pelas autoridades em relação aos dois primeiros ciclos e, por isso mesmo, capaz de “produzir” universidades relativamente dinâmicas ao longo das últimas três décadas (sem prejulgar aqui e agora quanto à sua capacidade de produzir boa ciência). O Brasil representa verdadeira anomalia internacional, provavelmente universal, sob a forma de uma pirâmide invertida de gastos entre os ciclos. É absolutamente único na desproporção inusitada, e aberrante, com que são alocados os recursos no topo da educação (na verdade transformado em base superior da pirâmide), em detrimento dos “primos pobres” dos dois ciclos de base (e da educação técnico-profissional, também). Isso em flagrante contraste com o que acontece na maior parte dos países (notadamente naqueles de melhor performance educacional e de maior produtividade no sistema econômico de maneira geral).
Essa desigualdade distributiva não explica tudo, porém, sendo necessário completar o quadro mediante um fator causal de natureza mais qualitativa, representado pelas orientações políticas e pedagógicas adotadas nos cursos de formação de professores, especialmente nas faculdades de pedagogia (que formam formadores, eventualmente também formadores de formadores). Não é segredo para ninguém que o ensino no Brasil, em geral, e os cursos de pedagogia, em particular, são tremendamente influenciados – se não dominados – pelas ideologias tidas por “progressistas” (as aspas indicam obviamente o subjetivismo da expressão), com ênfase naquelas aproximadas ao marxismo; bem como pelas correntes pedagógicas identificadas de perto ou de longe com modismos da área (entre eles o chamado “construtivismo”) e com um amálgama já difuso a partir da cepa original “freireana”, ou seja, a chamada “pedagogia do oprimido” produzida por Paulo Freire.
Dito assim, com essa simplicidade redutora, parece que se trata de um aspecto desimportante no mar de problemas – materiais, curriculares, humanos – da educação brasileira, embora ele seja, do ponto de vista da abordagem adotada neste ensaio, um dos problemas mais sérios envolvidos nos processos gerais e específicos da deterioração da qualidade do ensino no Brasil (em vários níveis). As pedagogias freireanas estão no centro da tragédia educacional brasileira. Ponto, parágrafo.
Estou plenamente consciente de que as próprias corporações engajadas no ofício (e no comércio) educacional no Brasil – em qualquer ciclo – tendem a enfatizar os fatores pecuniários – insuficiência dos orçamentos públicos, no plano institucional, modéstia ou mesmo depressão salarial dos professores, no plano individual – como estando na origem de todas as mazelas da educação brasileira. Não descarto, obviamente, essa linha explicativa – embora eu prefira enfatizar o escândalo da pirâmide invertida da distribuição de gastos educacionais; mas os fatores políticos e ideológicos são para mim bem mais relevantes, e mesmo determinantes, na erosão qualitativa de todos os níveis da educação e de todo o ensino (público ou particular) no Brasil.

3. As consequências

A tese principal deste ensaio provocador – deliberadamente focado nas áreas de humanidades – é a de que, depois de ter se beneficiado – e beneficiado a sociedade – com a construção de um sistema universitário relativamente completo, e aparentemente eficiente, com a formação de recursos humanos de melhor qualidade que aqueles previamente existentes, a universidade brasileira deu início a um processo de introversão autosustentada, o que a levou a se isolar da sociedade e a desenvolver comportamentos entrópicos e autistas que, ao fim e ao cabo, redundaram no referido processo de mediocrização atual (aliás, em crescimento e expansão).
De fato, esse processo apresenta, pelo lado das humanidades, um aspecto de ignorância letrada que surpreende pela sua extensão e profundidade. Ele não é, exclusivamente, o resultado das ditas pedagogias freireanas – que explicam mais diretamente a perda de qualidade dos ciclos iniciais de ensino; mas ele é a consequência de anos, mais exatamente décadas, de ideologias “educativas” marcadas pelo que existe de mais atrasado na teoria social contemporânea. Ademais da ausência de controles de qualidade, da falta de sistemas de metas fixadas e resultados cobrados – que explicam sua falta de produtividade – o que mais distingue a área de humanidades, no Brasil, é uma adesão acrítica a correntes e movimentos típicos do capitalismo atrasado que aqui vigora. (Parêntese rápido: obviamente meu comentário não vale para os que professam a fé religiosa nas alternativas socialistas ao capitalismo, mas estes já pararam de ler este meu ensaio desde o começo, se é que começaram; quanto a mim, estou certo de que o Brasil é um país capitalista, ainda que atrasado, mas “condenado” a se desenvolver no âmbito do capitalismo, ponto.). As concepções dessas correntes de “pensamento” são as de um anticapitalismo instintivo, as de um forte sentimento antimercado, um estatismo exacerbado, enfim, uma crença ingênua nas virtudes da “engenharia social”, características, aliás, bastante disseminadas em diversas universidades da região; e, até, em muitas universidades de países perfeitamente capitalistas (como exemplo a França, por isso mesmo em declínio intelectual e com baixa produtividade geral nos terrenos aqui focados).
Aqui existe uma correlação circular e cumulativa de fatores causais: os ignorantes letrados e as corporações sindicais se multiplicam e se reforçam mutuamente, disseminando tentáculos por todos os poros universitários. Os que alcançam funções “pedagógicas” formam as pedagogas freireanas que, por sua vez, vão formar os professores do primário e do secundário – qualquer que seja a estrutura e os títulos desses cursos –, que se tornam, no momento devido, seus pupilos e orientandos, uma audiência cativa (muitas vezes passiva) dos novos mandarins universitários. Nos vários componentes dessa complexa equação, pedagogas freireanas, sinecuras acadêmicas, sindicalismo de baixa extração e ideologias anticapitalistas e antimercado se combinam e se reforçam para destruir a educação brasileira, pelo menos naquelas funções iluministas que ela deveria exibir, colocando em seu lugar esses elementos característicos da ignorância letrada.
No curto prazo, o resultado global é o aprofundamento da mediocridade que já vinha marcando as áreas de humanidades do sistema universitário – tanto público quanto privado – nos últimos anos (possivelmente nas duas últimas décadas), contribuindo, no médio e no longo prazo, para reforçar as tendências brasileiras à estagnação ou ao atraso relativo. Essas características não são percebidas, obviamente, pelos que integram o próprio sistema, sobretudo por aqueles que vivem exclusivamente a vida universitária brasileira, em tudo o que ela apresenta de autista e de entrópico. Os acadêmicos que já viajaram, que já conviveram com universidades estrangeiras – refiro-me, obviamente, às boas universidades americanas, e algumas boas europeias – e que já se utilizaram de serviços e mercados nesses países, devem ter perfeita consciência, se tiverem as mentes abertas, para o verdadeiro atraso em que vive o Brasil, mesmo com todos os seus sinais de aparente modernidade. O Brasil é um país que caminha lentamente, que praticamente se arrasta, penosamente, em direção à modernidade.
Esse lento caminhar no sentido dos avanços científicos e tecnológicos mais dinâmicos da contemporaneidade é evidente, mesmo comparando o Brasil a outros países emergentes que se integram aos mercados globais da atualidade, sobretudo na Ásia. Não se trata apenas ou exatamente de dificuldades em aceitar os requerimentos do progresso em suas diversas expressões materiais e culturais; afinal de contas, como já dizia Mário de Andrade mais de setenta anos atrás, “progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade”. Trata-se, sobretudo, de bloqueios burocráticos e materiais a um progresso mais rápido: qual é o país emergente que possui uma carga fiscal típica de país rico: 38% do PIB? (Atenção: essa é a taxa média nos países da OCDE, sendo que alguns estão abaixo de 30% e que sua renda per capita ultrapassa 40 mil dólares, mais de seis vezes a brasileira.) Qual é o país no qual a atividade empreendedora é tão cercada de entraves e dificuldades? (No que o Brasil empata, talvez, com a Índia, outro país capitalista atrasado. Atualmente, mesmo aquele outro grande país burocrático, que é a China, é mais capitalista que o Brasil.)

4. As evidências
Independentemente dos lentos progressos materiais que o Brasil consiga realizar nos terrenos vinculados a mercados capitalistas – no que ele vem sendo superado por países de crescimento e de modernização mais rápidos – o fato é que o panorama acadêmico vem experimentando nítido declínio de qualidade no âmbito das humanidades, o que é revelado, por exemplo, pela forma e substância dos artigos publicados ou apresentados para publicação nos veículos da área (muitos deles existindo apenas e tão somente para cumprir requisitos de pontuação estabelecidos de forma puramente quantitativista pelos organismos de fomento acadêmico).
O problema vai muito além do que já tinha constatado, desde 1985, Edmundo Campos Coelho, em seu aclamado (e pouco lido) A sinecura acadêmica: a ética universitária em questão (São Paulo: Vértice, 1985), já que atingindo bem mais do que bancas de seleção de professores, cargos comissionados, apoios financeiros e prebendas institucionais de modo geral. Ele transformou-se num problema sine cura, alcançando o próprio núcleo do sistema de produção acadêmica, ou seja, sua própria substância, que é a capacidade de produzir obras originais, em linguagem acessível a um público mais vasto, mas dentro de rigorosos padrões acadêmicos de qualidade.
Com efeito, um dos aspectos mais preocupantes dessa involução no período recente, aliás, estimulada em grande medida pelas próprias autoridades da área, é a tendência ao enclausuramento acadêmico, à diminuição dos esforços de cooperação com o Norte e, no sentido contrário, o reforço de intercâmbios variados com países do Sul, numa discriminação política que não faz sentido no plano científico; dificilmente se poderá sustentar que entidades de pesquisa da América Latina ou de continentes assemelhados possuam maior e melhor substância científica do que seus equivalentes do Norte. Não existe maior demonstração da vontade de autocondenar-se a viseiras mentais do que a frase sumamente imbecil, bastante repetida em certos meios, que proclama que o “Sul é o nosso Norte”. Toda e qualquer ciência, toda e qualquer abordagem acadêmica que se autodireciona para um lado, ignorando todos os outros, é por definição estúpida e autolimitativa em termos estritamente científicos.
Acadêmicos defensores dessa postura se orgulham de exibir uma proclamada “latinoamericanidad” que não faz o menor sentido no plano das metodologias e das pesquisas de ponta, como se o fato de pertencer ao mesmo arco cultural ou a uma mesma zona geográfica representasse qualquer garantia de qualidade acadêmica. O “indigenismo” ingênuo e canhestro presente em algumas dessas novas experiências de cooperação introduz um elemento totalmente estranho nas tradições de pesquisa brasileira, já que referidos a um universo civilizatório que não tem nada a ver com os componentes antropológicos ou culturais da formação histórica e social do Brasil.
A busca sôfrega por identidades nessas áreas, certamente forçada, mas intensamente praticada nos últimos anos, representa um atraso e uma dispersão de esforços que vão, inevitavelmente, cobrar um preço na produção acadêmica brasileira. As interpretações classistas e “campesinas” da história social e do desenvolvimento econômico na região, a adesão pouco refletida a supostas causas de “oprimidos” e de “injustiçados” reforçam os componentes do atraso acadêmico; interpretações, aliás, que vêm acompanhadas de um inacreditável apoio a uma das experiências políticas mais nefastas já assistidas em todo o mundo, que é a construção progressiva de um fascismo tido supostamente por ser de esquerda, apenas porque o caudilho promotor emite invectivas “anti-imperialistas”. Uma falsa noção de segurança e de soberania alimentar condena a atividade primário-exportadora como sendo negativa do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, quando ela é o sustentáculo da modernidade no campo, independentemente de considerações ad hoc sobre as dimensões regionais das propriedades ou seus vínculos com o mercado externo.
São muitos os exemplos de posturas anacrônicas no plano das humanidades, assim como são muitos os componentes da mediocridade universitária, entre eles um “gramscianismo” instintivo e até ignaro (já que não corresponde a uma verdadeira leitura aberta da obra original). Esses exemplos podem até corresponder a uma atitude militante compatível com preferências manifestas na vida civil; mas jamais aos requisitos do trabalho acadêmico tal como reconhecido pelos padrões normais da pesquisa científica. Todos eles vão reforçar as deficiências metodológicas, a ignorância letrada e o atraso substantivo nas pesquisas relevantes para o progresso e o desenvolvimento do Brasil. Em algum momento, o ambiente acadêmico vai emergir das camisas de força ideológicas e buscar a atmosfera mais arejada da pesquisa de boa qualidade. Mas esse processo promete ser longo e custoso, tendo em vista os equívocos e desvios já incorridos no cenário universitário brasileiro.
Quero crer, também com base em evidências subjetivas, que o atraso é apenas relativo, e não absoluto, pois em algumas áreas ou situações específicas a racionalidade tem condições de se impor contra as ideologias ingênuas. No cômputo geral, contudo, a situação atual nas humanidades da academia brasileira aparece como quase desesperadora, necessitando, praticamente, o estabelecimento de um quilombo de resistência intelectual contra os assaltos à racionalidade mais elementar por parte de tribos crescentes de ignorantes letrados. Gostaria de estar errado, e de ser apenas um pessimista elitista (não: não tenho nenhuma vergonha em buscar a elite do saber). Gostaria de registrar uma rápida correção da academia brasileira em direção de padrões de comportamento institucional mais consentâneos com sua vocação humanista e, sobretudo, constatar uma produção intelectual à altura dos requisitos de modernidade e progresso que estamos no direito de esperar de um país inserido na globalização do conhecimento. Não é o que tenho observado até aqui.
Esperemos que seja um fenômeno passageiro, embora meu pessimismo realista tenha sólidas razões para existir: afinal de contas, o otimismo da vontade, ou da prática, não consegue prevalecer num ambiente de mentes fechadas, o que só alimenta o pessimismo da razão, ou do intelecto. O problema parece estar em que os acadêmicos gramscianos só pretendem ler Gramsci, jamais as críticas que lhe são feitas, mesmo as de um intelectual socialista (embora liberal) como Norberto Bobbio, por exemplo. As viseiras mentais daqueles mesmos que posam de sumidades acadêmicas de relevo, e que são lidos e repetidos nas universidades brasileiras, chegam a ser assustadoras, inclusive e sobretudo porque parecem ter assegurado o seu próprio sucesso continuado, a julgar pela bibliografia distribuída e pelos trabalhos produzidos nessas esferas.
Não é preciso, aqui, citar nomes e ensaios publicados, pois é muito fácil deduzir quem, ou quais são as “vacas sagradas” do processo de mediocrização da universidade brasileira. Talvez dois pequenos trechos retirados de texto de um dos gurus da nova ignorância sejam representativos do que estou analisando: “Entra governo, sai governo, as leis do mercado parecem dominar irreversivelmente o mundo, o estilo de vida norte-americano devasta espaços nunca antes alcançados – seja na China ou na periferia das grandes metrópoles do sul do mundo...”; “A crise da URSS não deu lugar a um socialismo superador dos problemas desse modelo e, ao contrário, disseminou o neoliberalismo nas terras de Lênin. O capitalismo abandonou seu modelo keynesiano por um modelo de extensão inaudita da mercantilização de todos os rincões do mundo.” Um acadêmico capaz de escrever tamanha bobagem é capaz de qualquer impostura intelectual, que ele aliás não cessa de praticar.
Os quilombos de resistência intelectual a esses processos de indigência acadêmica e de desonestidade no plano das ideias – o que ocorre sempre quando os argumentos exibidos estão longe de corresponder à realidade mais evidente – são ainda muito tênues e pouco numerosos. A esperança é que eles se multipliquem nos anos à frente e possam superar os imensos pântanos de mediocridade que se espalham de modo preocupante pela universidade brasileira. Estou sendo muito pessimista?

[Dubai-SãoPaulo, 17/07/2010; Shanghai, 30/07/2010]

Sobre ideias inteligentes, Thomas Sowell, por exemplo

A proposito de recente debate acrimonioso neste blog (isso costuma acontecer com frequencia, revelando que certas verdades chocam pessoas...), meu leitor Rubens enviou em comentário um trecho do intelectual americano (não preciso chamá-lo de negro, pois este seria um qualificativo totalmente dispensável no caso dele) Thomas Sowell, que cabe destacar devidamente:

Rubens disse...
Caro Professor, recomendo que não se ocupe de responder longamente os ataques ad hominem. Basta denunciar a falácia argumentativa usada pelo interlocutor.
Aproveito o tema da ignorância letrada, um dos meus favoritos, para deixar algumas frases avulsas do Thomas Sowell:

"Socialism in general has a record of failure so blatant that only an intellectual could ignore or evade it."
"The problem isn't that Johnny can't read. The problem isn't even that Johnny can't think. The problem is that Johnny doesn't know what thinking is; he confuses it with feeling."
"Nothing as mundane as mere evidence can be allowed to threaten a vision so deeply satisfying."
"This must be the golden age of presumptuous ignorance."
"There are few talents more richly rewarded with both wealth and power, in countries around the world, than the ability to convince backward people that their problems are caused by other people who are more advanced."
"What “multiculturalism” boils down to is that you can praise any culture in the world except Western culture—and you cannot blame any culture in the world except Western culture."


E uma outra que li em uma resenha de Intellectuals and Society, do mesmo Sowell:

"An intellectual is a self-inflated, self-congratulatory, lover of self; a person so in thrall to beautiful theories that he is incapable of correction and impervious to evidence. Superman had kryptonite, but an intellectual’s shield of self-assurance cannot be breached by any known substance, especially fact."

PRA: Não tenho mais nada a agregar, apenas agradecer ao Rubens, e recomendar que outras pessoas leiam Sowell. Ele tem site, tem blog, tem dezenas de artigos livremente disponíveis na internet, e também tem muitos livros publicados, sendo esse, sobre os "intelectuais" (valem as aspas), um dos melhores...
Paulo Roberto de Almeida

Sobre blogs, sobre conteudo e sobre formas: o meio nao é a mensagem

Um blog não é exatamente uma revista de divulgação científica. Ele é um instrumento de divulgação e debate de ideias, eventualmente de informações também.
Boa parte dos blogs são anônimos, o que para mim denota um sério desvio de personalidade.
Em todo caso, este blog debate ideias, e acredito que o faz de modo honesto, expondo primeiro as posições de quem quer que seja e depois emitindo uma opinião, geralmente fundamentada, por vezes, reconheço, em linguagem contundente, pois sua função é exatamente esta: chamar a atenção para certas ideias, boas ou más, e acredito que ele consegue, tanto é verdade que recebo muitos comentários, nem todos publicáveis.

Também publico informações, simples matérias de imprensa, geralmente precedidas de poucos comentários pessoais meus, emitindo minha opinião sobre o assunto.

Surpreende-me, portanto, que a MAIOR PARTE dos comentários se dirija não às ideias expressas, mas à forma usada nessa expressão, quando não à personalidade ou à situação do emitente, no caso eu mesmo.
Creio que as pessoas tem alguma obsessão com a personalidade do emitente, e se esquecem, ou não conseguem, debater as ideias em si.

Considero que esse tipo de atitude é também, de certa forma, um desvio de personalidade. As pessoas se revelam incapazes de se concentrar no objeto central, e se contentam em focar no periférico.
Seria como se, num concurso de tiro, as pessoas se esforçassem para escapar do alvo, atirando a esmo, apenas para justificar uma eventual incapacidade de acertar no centro do alvo.

Surpreende-me também que as pessoas pretendam vincular este meu blog, expressão de uma personalidade livre, absolutamente independente, a uma qualquer condição pessoal ou profissional, o que revela uma incapacidade de separar ideias de situações de vida. Alguns sociólogos, ou psicólogos, chamariam isso de "personalidade autoritária", ou seja, achar que um cidadão qualquer não tem direito a ter ideias proprias, independente de sua condição social ou profissional. Ser livre, justamente, é poder emitir uma opinião, sem estar cingido por qualquer autoridade que seja. Que os outros se sintam obrigados a defender ideias de outros, de seu patrão, eventualmente, isso é problema deles, uma servidão voluntária que eu não considero aceitável num mundo de liberdade. Não costumo ser escravo de ninguém, vivo ou morto, autoridade ou não. Ponto.

A despeito de uma forma por vezes contudente, meu blog está destinado, como expresso no banner de entrada, a discutir IDEIAS.
Minha seção de comentários também traz a mesma advertência: focar no tema do post, apenas isso. Acho que não é pedir muito.
Acho que as pessoas esquecem, ou não conseguem...
Não adianta atirar no mensageiro, pois a mensagem está lá, e continua lá.

Apreciaria que as pessoas retivessem estas pequenas recomendações...

Paulo Roberto de Almeida

Diplomacia da demagogia: revisando posicoes em funcao do publico...

O demagogo é aquele que pretende estar sempre junto do povo, ou da opinião pública (numa versão mais seletiva). Ele não hesita em renegar a si próprio, em mudar de posição, se isso lhe favorece politicamente.
Demagogia existe em todas as esferas, interna e externa.
Eu, por exemplo, teria ojeriza a expressar "carinho" por outro demagogo (entre outras qualidades).
Acho que é isso...
Paulo Roberto de Almeida

Lula oferece abrigo a iraniana que pode ser apedrejada
Agência Estado, 31/07/2010

Mulher de 43 anos está presa acusada de um suposto adultério. Em evento ao lado de
Dilma Rousseff, Lula aproveitou para atacar seus adversários políticos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu neste sábado (31), durante comício em prol da candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, em Curitiba, abrigo político para a iraniana Mohammedi Ashitiani, de 43 anos, condenada à morte por apedrejamento em razão de suposto adultério.

"Eu tenho que respeitar a lei de um país, mas se vale minha amizade e o carinho que tenho pelo presidente do Irã (Mahmoud Ahmadinejad) e pelo povo iraniano, se esta mulher está causando incômodo, nós a receberíamos no Brasil", afirmou.

O presidente tocou no assunto quase ao final do discurso, após criticar os Estados Unidos por repudiar sua tentativa de negociar a paz no Oriente Médio. "Parece que tem mais gente trabalhando contra a paz do que trabalhando pela paz", destacou.

"Já que minha candidata é uma mulher, eu queria fazer um apelo a meu amigo Ahmadinejad, ao líder supremo do Irã e ao governo do Irã." Logo depois, explicou a centenas de pessoas que se postaram na Boca Maldita, no centro de Curitiba, para ouvi-lo, que no Irã o adultério é punido com a morte por apedrejamento. Ele reconheceu que estava em
situação difícil porque se tratava de falar da soberania de um país.

Quarta-feira passada, Lula havia dito que não tomaria nenhuma atitude em relação à decisão do Irã, justificando que as leis de cada país precisam ser respeitada sob risco de virar "avacalhação". "Acho que é coisa muito grave o que está acontecendo", disse. "Nada justifica o Estado tirar a vida de alguém, só Deus dá a vida e só Ele é que
deveria tirar a vida."

Lula disse que já tinha feito outros apelos a favor de brasileiros condenados à morte, em favor de uma francesa também no Irã e em favor de americanos. "Mas os americanos também tem que liberar companheiros do Irã", ponderou. Em entrevista, mais tarde, Dilma elogiou o presidente por sua "sensibilidade".

Sobre propostas idiotas e comentários perifericos: à falta de argumentos, atire no mensageiro...

Certos posts meus, pelo chocante dos temas ou pelo inusitado da minha linguagem, contundente ao ponto de parecer grosseira, chamam mais a atenção do que outros posts, o que é normal.
O que eu não acho normal é o fato de que as pessoas tenham de se esconder no anonimato para poder comentar sobre esses posts, como se elas tivessem medo de que eu vá agredi-las fisicamente, ou quem sabe fuzilá-las com alguma arma virtual.
Um espaço público como este chama naturalmente a controvérsias, e é natural que assim seja. Tanto não temo críticas a respeito de minhas posições que, nos casos mais relevantes, eu as retiro de sua semi-obscuridade em que elas repousariam, enquanto notas de rodapé que efetivamente são, para lhes trazer à luz de um novo post, ainda que seus autores se resguardem sob um confortável anonimato, que em outras circunstâncias poderia ser classificado como covardia, ou incapacidade de se expor para defender ideias proprias.
Digo isto a proposito do mesmo assunto, abordado em dois posts meus (ambos de sexta-feira, 30 de julho de 2010), como referido a seguir:

Como ser um(a) debiloide pos-doutoral, sem sequer perceber isso...

e

Novas consideracoes sobre a ignorancia letrada (a propósito de algumas ideias idiotas)

Pois bem, uma Anônima indignada escreveu o que segue:

Anônimo disse...
Prezado Paulo Roberto de Almeida, suas ponderações são pertinentes e até certo ponto inteligíveis, mas o seu grande problema é a falta de ética e o demérito ao trabalho da tal pós-doutora.
Ou talvez seja até uma certa inveja dela estar na ONU e você não.
Criticar é uma coisa ! Falta de ética é outra. Insultar e injuriar uma profissional como fez neste post não leva à acadêmia a pensar melhor, mas tão somente a uma produção intelecto-educacional nefanda para muitos jovens que aqui frequentam e que não precisam deste tipo de discurso.
Mas como o senhor já está em fim de carreira e frustrado por não pertencer a ONU, levaremos seu discurso como a materialização de uma pessoa idosa que já não sabe mais o que diz e que talvez já esteja até caducando.
Além disso, insisto estude DIREITO direito, para entender o âmago do conceito utilizado pela pós doutora, para após sim, crítica-la com embasamento científico e não COM ACHISMOS....
Muito triste de ver um profissional de sua estirpe acabar deste jeito...

OBS: Antes que inicie sua metralhadora cheia de mágoas, eu não me identifiquei para não ter que ser insultada como o faz quando tem suas idéias contrariadas, pois apesar de dizer que este blog é democrático, talvez esta seja a sua maior FALÁCIA...apenas por isso.


Retomo (PRA):
A Anônima em questão não parece ter lido a matéria com atenção, pois seu comentário permanece completamente alheio ao tema em debate.
Incapaz de rebater argumentos substantivos com outros argumentos substantivos, ela perpetra o mais comum dos atos típicos dos que se sentem carentes disso mesmo: atirar sobre o mensageiro, em lugar de discutir suas ideias.
A despeito de eu ter chamado a pós-doutora em questão de idiota, eu me dirigi sobretudo a seus argumentos em favor de um direito à "não-pobreza", como sendo especialmente nefasto ao futuro comum da humanidade.
A Anônima em questão não consegue discutir esse problema e se vinga ao acusar-me de falta de ética (!!!???). Como?, se eu fui aberto e totalmente transparente ao classificar as ideias de sua autora,e a própria, de idiotas?
Isso é sinceridade, e pode até ser chamado de agressividade, mas ética é outra coisa: seria falta de, se eu, por exemplo, atacasse essa autora de maneira anônima, como faz essa comentarista que não parece ter lido os materiais com atenção.
Nem a pós-doutora em questão está na ONU, como ela considera equivocadamente, nem eu jamais cogitei trabalhar num dinossauro perdulário, repleto de ideias malucas como essas expostas no post.
Só posso recomendar a Anônima em questão que leia com atenção os posts, para não sair por aí atirando no que pensa que viu e que não existe.
Também recomendo que estude um pouco de economia, para não incorrer nas mesmas bobagens que a "onusiana" que ela vislumbrou equivocadamente.
Bons argumentos independem de idade, posição social, condição profissional, status acadêmico.
Dependem apenas de raciocínio lógico, fundamentação empírica e honestidade intelectual.
Eu tenho por hábito expor claramente o que penso. E assinar embaixo. Assumo responsabilidade pelo que digo, pelo que escrevo e pelo que publico. E me submeto ao escrutínio público, sem qualquer outro instrumento de defesa do que a escrita.
Pena que nem todos possam ou pretendam fazer o mesmo, assinando embaixo do que escrevem.
Mas cada um é ético à sua maneira...
Paulo Roberto de Almeida
(1.08.2010)

Cotas: polarizacao em torno do racismo oficial

O debate, já por si acrimonioso, promete continuar dividindo o país, criando aliás duas nações opostas: os defensores de cotas e seus opositores.
Triste destino para um país que se pretendia misturado, o fato de ter agora de dividir artificialmente sua população em "negros" e todo o resto, ou seja, os "não-negros", sendo que os primeiros, supostamente, totalizam mais da metade da população do país (isto segundo os dados da PNAD, já que 53% da população se auto-declararou "afro-descendente", pessoas que, obviamente, estão de olho nas cotas e outras facilidades oficiais, mesmo sem que anteriormente elas se considerassem negras ou afro-descendentes a qualquer título; agora elas o são, por oportunismo).
Caminhamos para o Apartheid, o que estimulará ainda mais o racismo, ainda que invertido.
Paulo Roberto de Almeida

Cotas: polarização continua
Marcelo Medeiros
Jornal da Ciência, 30.07.2010

O sistema de cotas deve ou não ser adotado nas universidades públicas do país? E por quê? As perguntas deram a tônica da sessão "Ciência em Ebulição" desta quinta-feira, penúltimo dia da 62ª Reunião Anual da SBPC
A favor da reserva de vagas estava o antropólogo José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB), idealizador do sistema daquela instituição. De outro, Daltro José Nunes, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Enquanto o professor da universidade gaúcha embasava-se em afirmações de igualdade de competição entre indivíduos, apontando ser injusto oferecer condições favoráveis a uns e não a outros em um concurso público, Carvalho apontava a necessidade de reparação da opressão histórica à qual os negros brasileiros foram submetidos.

Para Nunes, o problema da desigualdade no acesso às universidades públicas é estrutural e não racial. Segundo ele, a diferença na qualidade da educação nas escolas públicas e privadas afeta a entrada no ensino superior. Caso ignorada, esta diferença poderia representar ameaças à excelência das universidades públicas. "Com as cotas, as universidades tendem, em média, a perder qualidade, pois alunos menos preparados tiram lugar de mais preparados", afirmou.

Logo, segundo ele, a questão deve ser debatida como provocador de política pública de melhoria da educação como um todo. "As cotas atacam o efeito [dessa falta de política] e não a causa. Os governos são os verdadeiros culpados, mas as universidades repassam a culpa para os indivíduos", argumentou.

Para o professor de informática, a função da universidade não deve ser reparar injustiças, mas formar bons profissionais, independente de classe social ou cor. "Não me interessa se meu médico é negro, branco ou índio, desde que ele seja bom", provocou.

Nunes não se furtou a apresentar uma solução para resolver o problema da entrada na universidade enquanto o acesso se torna universal. Para ele, o vestibular deveria dar lugar a um sistema de seleção baseado não no conhecimento de disciplinas básicas, mas na capacidade cognitiva do estudante. "Avaliaríamos o raciocínio para ver o quanto ele é capaz de apreender novos conteúdos e superar deficiências", explicou.

Carvalho, por sua vez, lembrou da importância da discussão do sistema de cotas para levantar a questão do acesso à universidade. "Os primeiros debates aconteceram em 1999, na UnB. As cotas geraram um forte debate sobre a inserção dos pobres no ensino superior, onde está a camada dirigente do país", afirmou.

O antropólogo se mostrou contrário a soluções uniformes e defendeu a pluralidade de sistemas, desde que voltados para a garantia de um mínimo de vagas para negros. "A questão é complexa, mas o foco da discussão deve ser o debate", ressaltou. Isso porque, em sua análise, argumentos favoráveis à inserção por níveis de renda e origem escolar apenas esconderiam o racismo estrutural existente na sociedade brasileira e, principalmente, nas universidades.

Apresentando dados que mostram que em nenhuma instituição de ensino superior pública a quantidade de professores negros ultrapassa 1% do total, o professor foi além do tradicional discurso em prol de ações afirmativas na graduação. "Precisamos de cotas na pós. Ou por acaso os negros não chegam à pós-graduação?", questionou. "Temos um passivo muito grande a compensar".

Mostrando que o tema ainda está distante de ser consensual no país, a plateia se dividiu em críticas e elogios. Alguns presentes contaram histórias pessoais para ilustrar a complexidade do tema. As principais questões faziam referências a definições de cor, reparação histórica e injustiça, mas os professores reafirmaram seus argumentos.

EUA: plano de recuperacao funcionou, segundo economistas

Two economists say in new paper that TARP worked
By Ezra Klein
The Washington Post, Sunday, August 1, 2010; G01

TARP is horribly unpopular. The stimulus is pretty unpopular. But does that mean they were bad policies? Not according to a new paper by Mark Zandi, Moody's chief economist and a former adviser to both the McCain and Obama campaigns, and Alan Blinder, a Princeton economist who has served as vice chairman of the Federal Reserve's Board of Governors.

Zandi and Blinder offer the first comprehensive estimate of our full response to the crisis: Absent the financial rescue and the stimulus, "GDP in 2010 would be about 6 ½ percent lower, payroll employment would be less by some 8 ½ million jobs, and the nation would now be experiencing deflation." I spoke to both men last week about how they got to their estimates, why the economy is so bad if the response was so good, and where we go from here. What follows are edited excerpts from the two interviews.

Q. This paper is heavily based on the model Moody's uses for economic forecasting. But these models have come under some criticism: Some say that they're just abstract equations and that you can get whatever answer you want by tweaking the numbers. So what is this thing? Who uses it?

Mark Zandi: I developed the model almost 20 years ago. I'm an economic consultant. I've got clients in many large, private-sector institutions. And we provide macroeconomic forecasts for them. The model has been used by banks to stress test themselves. Bank of America, J.P. Morgan, SunTrust and others used it to run scenarios on their solvency under different conditions. The business community uses it to figure out how to account for macroeconomic changes in their own budgeting and planning.

And how is it built? What are the numbers based on?

Zandi: I've gone back to every recession and depression and looked at the policy efforts to address the downturn, and try to at least capture the different ways in which policymakers have tried to generate a recovery. And what we've done in the Great Recession, some of it is unique, but most of it has been done many times before. Tax cuts, emergency unemployment benefits, aid to state government: These are things we've done every single time.

Alan Blinder: Different models do give different answers. That's why we say we welcome others to try and estimate this. But you can't make anything come out that you want. These models are fitted to real data. They're not just made up. They describe how the U.S. economy worked in the past.

And the model says that what we did this time broadly worked. In particular, it says the financial rescue worked. In other words, George W. Bush, Hank Paulson and Ben Bernanke deserve some credit for what they did in the immediate aftermath of the crisis.

Zandi: Absolutely! I think TARP was incredibly important. The mistake was for Congress to vote it down initially. That eviscerated confidence and took the equity market down to a whole other level and exacerbated our problems. By that time, the damage was so serious that the intent of TARP had to shift. Originally, it was about buying bad assets, which would've been more graceful. But because of the "no" vote and the damage it did, they had to make TARP a source of capital for the financial system. The capital purchase program was ultimately the one key thing that was necessary for stabilizing the financial system and the economy.

So why is TARP so horribly unpopular then?

Blinder: People feel it was successful in ways they're not happy with: That is, the bankers are making a lot of money now. That part of the bailout cost the government less than nothing, as the government is turning a profit on it. But in some moral sense, these bankers did not deserve to be saved. The problem was that if they went down with the ship, we were going down, too. The right way to think about the banker benefits was collateral damage in a war to save the economy. Had we not done that, things would've been horribly worse for everybody. So I don't hesitate. To me, it's not close.

Do you think it was well-designed?

Blinder: TARP should've come with more strings attached -- a lending requirement, for instance. If banks were going to get this money, they should've had to lend with it. I would've put restrictions on banks' ability to pay dividends, and tougher restrictions on executive pay. I also think it was a very big mistake for Secretary Paulson to force this money on banks that didn't want it. I can hardly say his theory without laughing: He wanted to reduce the stigma of taking it. The market knew who was strong, and the strong banks, like JP Morgan, went to the media and loudly said that the government is forcing this down our throats.

And what about the stimulus? Famously, the Obama administration predicted it would keep us beneath 8 percent unemployment. That obviously didn't happen. Does that mean it was a failure?

Zandi: The original forecast was just a bad forecast. The unemployment rate was already at 8 percent by the time stimulus passed. We just didn't know it because the data lags. What really matters is what the unemployment rate would've been if we didn't do stimulus, and in my view, it would clearly have been higher.

If the response to the crisis was effective, then why do we seem to have stalled out in recent months? Since May, the recovery has been lagging, hiring hasn't been very strong, and there's a general sense that the economic momentum we saw earlier in the year has dissipated a bit.

Blinder: Well, I know why it is, though it pushes the question back one level: Given the growth of GDP and the amount of spending that's come online, the number of jobs created has been puny. That's mitigating the usual virtuous circle where spending creates jobs and those people spend and that creates jobs and so on. That process is going on, but not at the level we expected. That pushes the question back to how come there's not more hiring. My speculation is that it's doubts about the durability of the recovery and firms not wanting to hire more permanent workers until they're more confident this is for real.

So what would you do going forward?

Blinder: I would do two things, both aimed at jobs. I would do the so-called new jobs tax credit on a much bigger and better scale than the HIRE Act, which was a baby step. The second thing I would do is a WPA-like program of temporary, direct, public hiring. People could work in parks, in maintenance, the many paper-shuffling jobs there are in government. You could save a lot of state and local jobs that would otherwise be terminated.

Zandi: If the unemployment rate was peaking at 7 percent, I'd say no worries, no need for more stimulus. But I'm nervous about 9.5 percent unemployment when you have a zero percent interest rate and a huge deficit. If we're all wrong and we go into recession, we've got no policy response. So I think it's prudent to err on the side of doing too much rather than too little. And we can do that. We're not Greece or Britain or Germany. We have a 3 percent 10-year Treasury yield. We have always solved our fiscal problems, and the world has faith we will solve our future ones. So we have the resources.

Uma lagrima para... um grande economista

UM SENHOR ECONOMISTA.
Direto do obituário da FOLHA DE S. PAULO, com pesar, postamos a morte nesta semana do excepcional DIONÍSIO DIAS CARNEIRO(1945-2010) - Mentor de grandes economistas

Por 30 anos Dionísio Dias Carneiro deu aulas no Departamento de Economia da PUC-Rio, que ajudou a criar.

Formou alunos que hoje fazem parte do primeiro time da economia brasileira, como Gustavo Franco, Eduardo Loyo e Ilan Goldfajn.

Nas palavras do ex-aluno e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga: " Foi um grande mentor, um brasileiro com visão pública capaz de pensar os temas mais importantes para o país ".

Formado em economia pela UFRJ e considerado um dos grandes macroeconomistas do Brasil, Carneiro era conhecido por análises competentes e equilibradas.

Era sócio-diretor da Galanto Consultoria e um dos fundadores do Instituto de Estudos em Política Econômicada Casa das Garças.

O instituto é um centro de estudos formado por economistas da PUC-Rio destinado ao debate de temas da política econômica nacional e internacional.

Para Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, era um dos principais membros da geração de economistas que revolucionou o ensino de pós-graduação em economia no Brasil.

Além da PUC-Rio, foi professor também da UnB e da FGV e vice-presidente da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos do governo federal.

Atuou como conselheiro e consultor de empresas e era membro do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica Nacional.

Morreu ontem, aos 64, no Rio de Janeiro, após sofrer um derrame e ter descoberto um tumor no cérebro. Era viúvo e deixa três filhos e uma neta.

Economia da droga: o lado da demanda

O grande, enorme, consumidor de drogas no mundo, os Estados Unidos, tem conduzido, desde os anos 1970, basicamente uma luta de retaguarda contra esse mal que consome o país: a chamada supply-side drug economy, ou seja, o combate aos centros produtores. Ora, como reconheceria qualquer economista iniciante, enquanto houver demanda, ricamente abastecida, haverá centros produtores, qualquer que seja o nível de esforço militar para suprimir essa oferta.
O livro abaixo retraça alguns aspectos da economia da droga nos EUA.
Paulo Roberto de Almeida

Drug of Choice
By ROBERT PERKINSON
The New York Times Review of Books, July 30, 2010

COCAINE NATION: How the White Trade Took Over the World

By Tom Feiling
351 pp. Pegasus Books. $27.95

The Drug Enforcement Administration Museum and Visitors Center may be America’s most uninspiring attempt at war commemoration. Its low-budget displays, stuffed into a sterile building near the Pentagon, strive for a good-versus-evil story line but exude uncertainty. Snapshots of officers atop piles of impounded narcotics fail to convey the urgency of battle. Confiscated drug paraphernalia showcase wily ingenuity as much as social menace. But across the Potomac, next to Congressional Cemetery, rises a more fitting tribute to the “war on drugs”: Washington’s city jail, through which 18,000 inmates pass each year, 89 percent of them black and three-quarters of them incarcerated for nonviolent of­fenses. With its X-shaped towers surrounded by razor wire, the sprawling complex devours resources but, most criminologists agree, does comparably little to protect the public. It stands as a monument to punitive government bloat.

Now four decades old, America’s drug war, initiated in its modern form by Richard Nixon, has burned through $1 trillion and helped make the United States the most locked-down country on earth. Yet victory still recedes from view. In 1970, some 20 million Americans had experimented with illegal drugs; by 2007, 138 million had. While drug purity has increased, street prices over the long term have dropped — precisely the opposite trajectory promised by drug warriors. Small wonder that a growing number of skeptics, from George Will to George Soros, have called for a serious change of course.

With a new regime in Washington, led by a president who admits to having used cocaine in his youth and a drug czar who rejects martial metaphors, this is a good time to look back on America’s first “war without end” and its pre-eminent target, as the documentary filmmaker Tom Feiling does in “Cocaine Nation.”

An impassioned and wide-ranging if occasionally jumbled survey of “the white trade” and its enemies, Feiling’s book (published last year in Britain as “The Candy Machine”) begins with the extraction of the ancient coca leaf’s most potent alkaloid, cocaine, in the mid-19th century. Possessing wondrous qualities — a pharmaceutical company boasted that cocaine could “make the coward brave, the silent eloquent, and render the sufferer insensitive to pain” — the product swept the globe as an additive to medicine, wine (Ulysses S. Grant was an early quaffer) and, of course, Coca-Cola, whose red and white colors, Feiling writes, pay homage to the Peruvian flag.

This initial cocaine craze petered out in the first half of the 20th century, in the wake of pharmacy regulation, drug control protocols and consumers’ second thoughts. But another, larger wave rose in the 1970s, as hedonists from Hollywood to Wall Street turned cocaine into “the Champagne of drugs,” as The New York Times declared in 1974. Because most users of the stimulant never became addicted, and because they had “upper-class cachet,” Feiling notes, its resurgence was at first greeted with a shrug by government. Gerald Ford’s White House observed that cocaine “does not usually result in serious social consequences, such as crime, hospital emergency room admissions or death.”

But when suppliers introduced a down-market product, crack cocaine, in the 1980s — “cocaine for poor people,” as one dealer described it to Feiling — social panic ensued. Crack is pharmacologically identical to powder cocaine, but its smokable rocks produce quicker, more intense highs (and harder falls). Attracting legions of users in decaying urban centers, it contributed to property crime, child neglect, homicidal turf battles and, not least, political reaction. Brandishing a bag of crack in the Oval Office, the first President Bush called illegal drugs “the gravest domestic threat facing our nation.” No-knock police raids and mandatory minimum sentencing followed. The drug war became total war, overstuffing jails and exacerbating racial inequality but failing to create a “drug-free America.”

This domestic tale of destruction has been well chronicled by journalists, social scientists and addicts-turned-memoirists. What sets Feiling’s book apart is his analysis of how America’s insatiable appetite for narcotics and its zealous determination to quash those cravings have spread misery and violence across the globe.

During cocaine’s postwar renaissance, mafiosi based in Cuba met demand in the United States, the world’s largest cocaine market. But after the revolution, coca capitalists dispersed, chartering new organizations, establishing new labs and supply lines, and demonstrating remarkable adaptability in response to law-enforcement pressure. Production shifted from Peru to Bolivia to Colombia, and is now shifting back to Peru. Snuffed out in one area, cocaine surges in another.

Feiling vividly describes the supply side of the cocaine business, which, he argues, “thrives on the poverty not just of individuals and communities, but of governments.” In Colombia, which remains the world’s leading producer of cocaine despite the $5 billion in anti-narcotics and counterinsurgency aid the United States has fed into the country since 2000, Feiling profiles campesinos in the rural Putumayo district whose primary source of income is coca, although they receive relatively little for their crops. In a region where markets are distant, roads are poor and the prices for legal produce like yucca and plantains are low, the coca farmers “become slaves of the mafia,” a Colombian congressman tells Feiling — the rural correlates of low-level street dealers in America who risk death and imprisonment to earn “roughly the federal minimum wage.” At the top of the cocaine hierarchy, drug barons make millions, but their careers tend to be short, their fortunes soaked with blood. Because of the violence perpetrated by traffickers and insurgents, and the more pervasive violence committed by right-wing paramilitaries and the government, Colombia’s population of internally displaced people ranks second only to Sudan’s.

As radar surveillance has pushed smuggling routes from the sky and sea to the land, the drug war’s front lines have moved to Mexico, where trafficking-­related violence has claimed more than 22,000 lives since 2007. Although the Mexican government’s latest offensive may yet constrict supply, curtail corruption and reduce rather than provoke carnage, the length and complexity of the United States-Mexico border (and the money to be made breaching it) presents a daunting challenge. “Americans consume roughly 290 metric tons of cocaine a year,” Feiling writes, a load that “could be carried across the U.S.-Mexican border in just 13 trucks. Instead, it seeps in in thousands of ingenious disguises.”

Although Feiling doesn’t soft-pedal the harm of drug dependence — to addicts, mainly, but also to their families and communities — he argues convincingly that the remedy promoted most aggressively by the United States has proved far worse than the disease. As an alternative, he develops a lengthy brief for a solution he admits stands little chance of implementation: legalization. There would be costs, he acknowledges, including, perhaps, wider experimentation and addiction, but he contends that restrictions on marketing, elevated vice taxes and a proliferation of treatment beds instead of jail cells could hardly fail more spectacularly than has prohibition. Hard as it is to imagine, the least ruinous solution to the white scourge may be the white flag of surrender.

Robert Perkinson is the author of “Texas Tough: The Rise of America’s Prison Empire.”
A version of this review appeared in print on August 1, 2010, on page BR21 of the Sunday Book Review.