Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 8 de julho de 2013
Hannah Arendt: Eichmann in Jerusalem, a debate over a report and a movie
BNDES: seu desmantelamento na gestao companheira
Patrimônio do BNDES recua 38% com dividendos ao governo e perda na Bolsa
Em dois anos, patrimônio líquido do banco caiu de R$ 75,6 bilhões para R$ 46,8 bilhões, o que, segundo economistas, pode ter impacto no mercado de crédito
domingo, 7 de julho de 2013
Egito: os dilemas de El Baradei (WP)
By Max Fisher
The Washington Post, July 6, 2013
Mohamed ElBaradei, the 71-year-old Nobel Peace Prize winner, former head of the United Nations’ nuclear agency and Egyptian opposition figure has just added a new line to his resume: He’s been appointed the interim prime minister of Egypt. ElBaradei is in some ways a good choice: He’s well-known, internationally respected, old enough that he’s perhaps more likely to cede power willingly, and seen as too much of a statesman to indulge in the self-serving power grabs that have marked the tenures of past Egyptian leaders. And ElBaradei is likely to do well with international institutions such as the IMF, which now-deposed president Mohamed Morsi had rebuffed.
In other ways, though, the decision to appoint ElBaradei and his decision to accept the post are strange choices for Egypt at this moment. Here are a few.
(1) Little natural constituency, likely to alienate key groups
Egypt has more than a few serious problems right now, sadly, but one of the biggest is its political divisions, which are so wide and bitter that any single leader or group would struggle to govern. Maybe ElBaradei can unite the country, but he is not ideally situated for the task.
This is a moment when the Muslim Brotherhood and other Islamists, who are not few in Egypt, are probably asking themselves whether they should even bother participating in this government or just dedicate themselves to undoing it. ElBaradei is seen as associated with Egypt’s relatively small population of well-off, well-educated, secular, liberal urbanites - or, worse, associated with Westerners. When I looked for a photo to illustrate this post, the first one that popped up showed ElBaradei smiling alongside Angelina Jolie, on stage at the Berlin International Film Festival.
ElBaradei is almost perfectly positioned to further enrage and alienate Islamists, who are popular among Egypt’s many rural and low-income communities. While he had a warm relationship with the group before the revolution, making common cause with it against then-President Mubarak, he is so much the opposite of everything the Muslim Brotherhood stood for while Morsi was in power that the group could see him as anti-Brotherhood choice.
Shadi Hamid, who follows Egyptian politics for the Brookings Institution, told USA Today that ElBaradei and the Brotherhood are now “arch enemies of sorts.” And it’s not just Islamists. Hamid wrote on Twitter that ElBaradei “was the man pro-army nationalists seemed to hate most not too long ago.”
(2) Has not proved to be a charismatic or populist leader
This also gets to the challenge of uniting Egypt, an urgent and difficult task for the country’s post-Morsi government. ElBaradei, for all his considerable credibility, seems most comfortable giving interviews to reporters or posting to Twitter, not speaking before crowds.
On Jan. 30, 2011, as protests against Mubarak’s government gained steam, ElBaradei landed at a still-idealist Tahrir Square. The protest movement was then the closest it would be to matching his vision; his name was already floating around as a possible leader for this leaderless movement. The crowds should have been putty in his hands. But his visit was strangely brief and disappointingly uninspiring, an opportunity lost for ElBaradei. It will only be more difficult now for him to champion the movement, and these are the people who should be his natural base.
(3) Compromising his democratic ideals
Even if the military coup that deposed Morsi and dissolved the constitution ends up being a good thing for Egypt’s democracy in the long term, it’s hard to think of anything more anti-democratic than a coup. ElBaradei, whatever his faults, has remained so untarnished in the two-and-a-half difficult years since Mubarak’s fall in large part because of his adherence to the democratic idealism of those first revolutionary days. In January 2012, he quit Egypt’s first post-Mubarak presidential race, announcing, “My conscience does not permit me to run for the presidency or any other official position unless it is within a democratic framework.”
Yet, strangely enough, as the military stepped in to remove Morsi on July 3, ElBaradei was there on Egyptian state TV, implicitly blessing the anti-democratic act that has now installed him in power. Maybe, from ElBaradei’s perspective, the coup was inevitable or necessary and that shouldn’t force him to turn down the prime ministerial appointment just for the sake of consistency. But it’s a sad bit of irony that, by taking the job, ElBaradei sacrifices some of the democratic credibility that got him there in the first place.
A erosao do BNDES - Editorial Folha
Editorial Folha de São Paulo, 06/07/2013
Há décadas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social tem papel essencial no financiamento de investimentos de longo prazo. Para preservar essa função, é importante que o BNDES se mantenha disciplinado e bem capitalizado --o que vem se perdendo.
Em 2011, a cada R$ 100 emprestados, o BNDES tinha R$ 20,6 em patrimônio. No ano passado, essa proporção caiu para R$ 15,4. Embora próxima da média dos bancos privados e acima do piso definido pelo Banco Central (R$ 11), ela preocupa por sinalizar a rápida redução do colchão patrimonial.
As razões para tal mudança são conhecidas: pressa em expandir o crédito e algumas práticas contábeis duvidosas que fragilizam o balanço da instituição.
Historicamente, os empréstimos do banco são alimentados principalmente por recursos captados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e retenção de lucros. O crescimento do crédito sempre foi ancorado nessas contas, que tendem a aumentar gradualmente.
Nos últimos anos, o governo, a fim de acelerar a economia, mudou os critérios. Cresceram os aportes do Tesouro, que emite papéis de dívida pública e os repassa ao BNDES. Inflado o balanço, sua capacidade de emprestar aumenta.
A manobra traria ainda benefícios ao governo: com maiores lucros contábeis, o banco pagaria mais dividendos ao Tesouro. Assim, melhoraria o superavit primário (soma de receitas e despesas do governo antes de pagar juros), aparentando controle fiscal.
Desde 2009, o BNDES recebeu mais de R$ 300 bilhões por essa via e pôde emprestar mais --os desembolsos foram de R$ 91 bilhões em 2008 para R$ 156 bilhões em 2012.
Mas a impressão de vigor é em parte ilusória. Verifica-se erosão da qualidade do capital do banco e piora dos indicadores de solidez.
O governo tem forçado o BNDES a absorver ações de estatais como capital --cerca de 40% do total já seria formado por esses papéis, cujos preços têm derretido na Bolsa.
Não há sinais de que a estratégia esteja no caminho certo. Nesta semana, o Tesouro injetou mais R$ 15 bilhões no banco para manter o ritmo de expansão de crédito, algo temerário a esta altura.
Por seu turno, a prática de emprestar grandes montantes a pretensos campeões nacionais tem se mostrado pouco eficaz.
Finalmente, seguem fragilizadas as próprias contas do governo, cuja saúde depende cada vez mais dos dividendos pagos pelo BNDES e por outras estatais.
Governo vende pele de urso antes...
A proposta apresentada pela presidente Dilma de usar os recursos arrecadados com os royalties do petróleo para turbinar os investimentos na educação — o projeto aprovado esta semana, no Congresso, também destina 25% do montante para a área da saúde — pode demorar a surtir efeitos práticos para a maioria dos municípios.
Apesar do grande volume arrecadado com a extração, e da expectativa de aumento da produção em novas áreas, a regra atual mantém cerca de 80% da riqueza nos estados produtores, casos do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de São Paulo, em menor escala.
Apenas os contratos futuros representarão rendas extras para se investir na educação e na saúde nas outras unidades da Federação, pois a discussão sobre o mérito da lei aprovada, que torna a divisão mais equilibrada, está parada no Supremo Tribunal Federal (STF).
(da coluna diária do jornalista gaúcho Políbio Braga, 6/07/2013)
A real agenda de problemas do Brasil real - Editorial O Globo
Editorial O Globo, 06/07/2013
Enquanto o debate é alimentado por uma espécie de factoide — o plebiscito da reforma política —, a vida real segue o curso, e problemas muito concretos vão se avolumando.
O próprio governo parece ter caído na armadilha da invenção diversionista da “constituinte exclusiva” — origem do plebiscito, ao se constatar a ilegalidade da ideia —, lançada como suposta medida de atendimento às manifestações de rua, mas cujo objetivo primordial é afastar o Planalto do centro da crise e transferir responsabilidades para o Congresso. Que há problemas de representatividade política, não se discute. Resumir o mau momento do Brasil a isto é exagero.
Impossível prever até quando o truque funcionará. Até porque as dificuldades econômicas aumentam e tendem a funcionar cada vez mais como amplificador da voz das ruas. A inflação de junho, divulgada ontem, medida pelo IPCA, foi de 0,26%, abaixo da de maio (0,37%). Mas, como em junho do ano passado havia ficado quase estável (0,08%), o IPCA anualizado novamente ultrapassou o teto superior da meta de inflação (6,5%), fechando em 6,7%.
Há grandes possibilidades de o índice recuar até o final do ano. A curto prazo, até como reflexo do corte de tarifas, forçado pelas manifestações. Mas num setor-chave para o bolso da população, o de serviços, a inflação continua a rodar na velocidade de 8% ao ano.
Mesmo assim, e apesar do discurso do governo — um dos pactos propostos pela presidente Dilma trata do tema —, a política fiscal continua expansionista, aumentando a temperatura do consumo, fator de pressão sobre os preços.
Mantém-se o uso irresponsável da “contabilidade criativa”, para injetar recursos de endividamento público em bancos públicos, como BNDES e CEF, a fim de o dinheiro voltar sob o disfarce de dividendos e embonecar o superávit primário, como se houvesse uma austeridade que na realidade inexiste.
Chegou-se à situação escalafobética de a Caixa pagar mais dividendos à União do que teve de lucro (R$ 7,7 bilhões contra R$ 6,1 bilhões). Tanto é que começa a cair em descrédito mesmo a nova meta, mais baixa, de 2,3% do PIB de superávit. Enquanto aumenta a expectativa de efetivo rebaixamento da classificação do país em agências de avaliação de risco.
O jogo de espelhos para melhorar números também chegou à balança comercial, encerrada no primeiro semestre com um déficit de US$ 3 bilhões, o pior resultado em 18 anos. E isso porque ajudou nos números a contabilização de US$ 1,5 bilhão de uma exportação fictícia de três plataformas da Petrobras. Elas apenas foram registradas em subsidiária no exterior. A operação é legal, mas só faz aumentar a desconfiança crescente na administração da economia num momento como este. Inflação elevada, economia em desaquecimento — a indústria retrocedeu 2% de abril para maio — e empresário pouco motivado.
As manobras políticas deveriam ceder espaço na agenda do Planalto para questões mais relevantes relacionadas a esta conjuntura.
Brasilia, capital de extraterrestres; o Plebiscito de Veja
Paulo Roberto de Almeida
Veja condena perguntas de Dilma. Leia quais são as 10 perguntas de Veja.
Plebiscito de Veja
O conjunto de questões reflete inquietações do dia a dia dos brasileiros, com o objetivo de demonstrar o despropósito de convocar plebiscito para debater e resolver impasses que qualquer governo e qualquer parlamento civilizado já deveriam ter resolvido.
1) Os brasileiros trabalham cinco meses do ano só para pagar impostos e agora o governo quer que paguemos também todas as campanhas eleitorais dos políticos. Você concorda?
2) Se bem gasto, o dinheiro dos impostos seria mais do que suficiente para prover de educação, saúde e segurança os brasileiros. No entanto, a população tem de pagar uma segunda vez por escolas privadas, médicos e seguranças. Você concorda?
3) Você concorda em proibir o uso de jatinhos da FAB por políticos e, com o dinheiro economizado, investir na melhoria do transporte coletivo urbano e na saúde?
4) Aos 16 anos, um(a) brasileiro(a) já pode votar e se casar. Caso ele(a) cometa crimes bárbaros, deve ser julgado(a) como se fosse uma criança?
5) Você concorda que Brasília deveria abandonar a galáxia distante onde vive e voltar para o Brasil?
6) Você concorda que deveria acabar a alegação de "réu primário" uma vez que isso beneficia quem mata pela primeira vez, mesmo que de maneira cruel e sem chance para a vítima?
7) Você aceita ceder aos caciques dos partidos políticos seu direito de escolher o candidato em quem votar?
8) Você concorda que deveriam ser fechadas as embaixadas brasileiras na Coreia do Norte, Cuba, Azerbaijão, Mali, Timor-Leste, Guiné Equatorial, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, Botsuana, Nepal, Barbados e em outros países sem a menor expressão, e o dinheiro gasto com elas investido nos hospitais públicos no Brasil?
9) Você concorda que quem recebe dinheiro do governo federal poderia ter o direito de se declarar impedido de votar por óbvio conflito de interesses?
10) O governo tem 39 ministérios e nenhum deles resolveu sequer um problema relevante do Brasil. Você fecharia a maioria deles?
Desgraca pouca e' bobagem: as agruras do Brasil
Editorial O Estado de São Paulo, 06/07/2013
A governante em fim de mandato, já diziam os velhos políticos, nem cafezinho é servido. A presidente Dilma Rousseff tem ainda um ano e meio de mandato pela frente, a copa do Planalto continua às suas ordens, mas a cada dia fica mais evidente o processo de fervura a que está sendo submetida. Não admira. Chacoalhando na ribanceira das pesquisas de opinião, conseguiu ser a um só tempo oportunista e estabanada ao tentar desviar as atenções gerais do descalabro dos serviços públicos, denunciado nas ruas a plenos pulmões, apresentando-se, para recuperar a popularidade perdida, como padroeira de uma redentora reforma política mediante plebiscito - como se essa fosse a demanda central das manifestações que espocaram por todo o País.
Agindo de novo como a dona da verdade que imagina ser, ignorou o vice-presidente e jurista Michel Temer, para não falar dos líderes da base aliada, e jogou na mesa o curinga de uma consulta popular para a convocação de uma Constituinte apartada do Congresso com a exclusiva incumbência de reescrever as regras do sistema político e eleitoral. O lance, que a seu juízo decerto parecia genial, sucumbiu em menos de 24 horas, ao ficar escancarada a sua ilegalidade. Dilma não se deu por achada: alegou, descaradamente, que o que propusera não era bem isso e voltou à carga com a feitiçaria de outro plebiscito para obrigar os políticos a fazer a reforma a tempo de entrar em vigor já nas eleições de 2014. E, para mostrar quem é que manda, enviou ao Congresso cinco "sugestões" de mudança, como se nunca antes elas tivessem sido cogitadas por deputados e senadores.
O açodamento, combinado com a soberba, a cegou para os obstáculos que fariam a mágica desandar. Antes de mais nada, não previu que a Justiça Eleitoral exigiria 70 dias de prazo, a contar da aprovação do teor do plebiscito no Legislativo, para providenciar a sua realização. Nem que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), respaldado pelos titulares dos 27 tribunais regionais, alertasse que não pode autorizar consultas sobre temas a que o eleitorado não pode responder ou acerca dos quais não esteja suficientemente esclarecido. Na primeira categoria está a Constituição, insuscetível de ser alterada nas urnas. O prazo estipulado pelo TSE caiu do céu para os presidentes peemedebistas da Câmara e do Senado e as respectivas lideranças nas duas Casas, que se opõem ao plebiscito, ainda que alguns o tenham endossado da boca para fora.
Reunidos com o vice (e presidente licenciado do PMDB) Michel Temer e uma trinca de ministros, líderes de oito partidos aliados reiteraram que não seria possível aprovar os termos do plebiscito, justificar na TV posições a favor ou contra cada um deles, efetuar a consulta e transformar em lei os seus resultados, tudo antes de 5 de outubro, quando devem estar definidas as normas da eleição cujo primeiro turno se realizará na mesma data de 2014. Temer, cuja lealdade primeira é com o PMDB e que não há de ter digerido a marginalização a que a presidente o submeteu no episódio da Constituinte, disse que "não havendo condições temporais (sic) para fazer a consulta", é preciso aceitar o "inexorável" - reforma política só para as eleições subsequentes. O que se seguiu foi uma patética demonstração de que Dilma só faz correr atrás dos prejuízos para a sua autoridade que ela mesma se encarrega de causar.
A presidente pediu a Temer que voltasse atrás, e ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que reforçasse o recuo. Eles divulgaram notas ladinas, repetindo que o "ideal" continua sendo um plebiscito para valer em 2014. O episódio apenas acentua a solidão política de Dilma, enquanto o seu mentor se vê obrigado a negar a toda hora que tenha parte com o "volta, Lula". O coro cresce na razão direta das "barbeiragens" da sua escolhida, como ele teria qualificado a ideia da Constituinte exclusiva. Ontem, a colunista Dora Kramer, do Estado, revelou que a presidente desabafou com um político: "Ninguém me defende". Informado, o titular do Senado, Renan Calheiros, retrucou: "Ela tentou jogar a crise no colo do Congresso". É de lembrar o clássico Ninguém me ama, de Antônio Maria: "… E quem me abraça não me quer bem".
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Inesgotável criatividade
Editorial(OESP)
Desde que, em desastrada tentativa de responder aos clamores dos brasileiros que saíram às ruas, a presidente Dilma Rousseff propôs um "pacto pela responsabilidade fiscal", entre outras tantas medidas desnecessárias ou inviáveis, sabia-se que tudo não passava de uma cortina de fumaça para tentar encobrir a irresponsabilidade da atual política fiscal. Mas se havia algo de que o governo não precisava diante da notória corrosão de sua credibilidade era ele próprio confirmar a falácia da proposta da presidente.
Mesmo pressionado para que pratique o que cobra de outros, o governo acaba de publicar um decreto que lhe permitirá distorcer ainda mais suas demonstrações contábeis, apropriando-se de mais dinheiro vivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na forma de dividendos, em troca de títulos da dívida pública. Manobra semelhante está sendo feita com a Caixa Econômica Federal (CEF), que recebeu aporte de R$ 8 bilhões em títulos públicos - justificado como cobertura de risco de inadimplência e de subsídios com os empréstimos concedidos pelo programa Minha Casa Melhor - e, assim, poderá repassar dinheiro vivo ao Tesouro, também como dividendos. Ainda que legais, esses atos demonstram continuado descaso com a responsabilidade fiscal.
De nada adianta o Ministério da Fazenda anunciar um corte adicional de R$ 15 bilhões no Orçamento, insuficiente para compensar o crescimento de outras despesas, se, ao mesmo tempo, aumenta artificialmente sua receita. Pois não passa de simples artifício contábil - mais um entre tantos de que o governo já lançou mão nos últimos meses - a pequena mudança no estatuto social do BNDES que permite o pagamento antecipado de dividendos ao Tesouro.
Publicado em edição extra do Diário Oficial da União, o decreto que permite esse pagamento torna ainda mais nebulosas as contas do governo e pode ter consequências duradouras sobre a higidez financeira da instituição. Ele inclui novas reservas de lucro para aumento de capital da instituição entre os recursos que geram dividendos complementares, antes que essas reservas tenham atingido os limites definidos em lei. Além disso, permite que, a qualquer tempo, os saldos dessas reservas "sejam distribuídos a título de dividendos", desde que sejam compensados por instrumento que possa ser utilizado como capital para o cumprimento das normas bancárias.
Ou seja, de um lado, o governo se apropria de mais dinheiro vivo, que engorda suas receitas e o ajuda no cumprimento da meta de superávit primário, e, de outro, dá à instituição papéis que, embora façam crescer a dívida bruta, não são contabilizados entre as despesas.
Por meio da "contabilidade criativa" que transformou no padrão de sua política fiscal, o governo vem usando cada vez mais as instituições financeiras como fonte de receita artificial, sem levar em conta o real desempenho dessas instituições. No ano passado, por exemplo, embora tenha contabilizado lucro de R$ 8,2 bilhões, o BNDES pagou R$ 10,6 bilhões em dividendos. A CEF, com lucro de R$ 6,1 bilhões, pagou R$ 7,7 bilhões em dividendos.
O pagamento de dividendos nesse montante pelos dois bancos foi um dos truques contábeis que o governo utilizou em 2012 para alcançar a meta de superávit primário (a economia feita para o pagamento dos juros). Portarias do Ministério da Fazenda editadas no último dia útil de 2012, mas só publicadas no início deste ano, permitiram, além da apropriação antecipada de dividendos do BNDES, a troca de ações da Petrobrás que compunham o Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização por títulos da dívida pública, no total de R$ 8,84 bilhões. Outras manobras envolveram o desconto, da coluna de despesas, de gastos com o PAC.
No exame crítico das contas de 2012 do governo Dilma, o Tribunal de Contas da União chegou a lembrar o que ocorre na Argentina, onde os dados econômicos do governo perderam totalmente a credibilidade.
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A presidente se afunda enganando a si mesma
ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo
Mentir para os outros pode ser pecado. Pode também ser crime, em algumas circunstâncias. Mentir para si mesmo é insânia. Os brasileiros, têm, portanto, mais um sério motivo para se inquietar. O governo, tudo parece indicar, mente para si mesmo e continuará mentindo para se isolar da realidade. É muito difícil explicar de outra forma a reação da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe às manifestações de rua e ao tsunami de más notícias. O governo tentou, mas como deslocar os problemas para o Congresso, quando até fontes oficiais continuam despejando informações assustadoras sobre a economia? Até os aliados, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, têm resistido à manobra, Mesmo sem essa resistência, a situação desastrosa do País continuaria atraindo as atenções.
O Banco Central (BC), uma das fontes oficiais, diminuiu de 3,1% para 2,7% o crescimento econômico projetado para o ano, além de reduzir de US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões o saldo comercial estimado. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reestimou de 3,2% para 2% a expansão do produto interno bruto (PIB). Na semana passada estava em 2,4% a mediana das projeções do mercado financeiro. Não só as bolas de cristal mostram cenários tenebrosos. Os dados já conhecidos alimentam no dia a dia as previsões negativas.
Um bom exemplo: a produção industrial caiu 2% de abril para maio, depois de modesta recuperação nos meses anteriores, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O saldo comercial do trimestre foi um déficit de US$ 3 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento. Mas o número seria bem pior sem as exportações fictícias de plataformas de petróleo no valor de US$ 2,4 bilhões.
A inflação continua elevada e especialistas apontam um resultado próximo de 6% até o fim do ano. A desinflação dos alimentos acabou e o custo das matérias-primas poderá em breve pressionar de novo os preços ao consumidor.
Em junho, o índice oficial de inflação, o IPCA, calculado pelo IBGE, perdeu impulso e subiu 0,26%, principalmente por causa da menor pressão dos preços dos alimentos. Mas no atacado os preços agrícolas aumentaram 1,46%, depois de recuarem 0,75% em maio, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também no atacado a alta dos preços industriais chegou a 0,62%. Ainda em junho, o índice de commodities do BC, o IC-Br, subiu 5,34%, com variação de 5,72% para agropecuária, 4,3% para metais e 4,39% para energia.
O repasse desses aumentos ao varejo dependerá de fatores como o nível de emprego, a renda e a disposição dos consumidores, a possibilidade de substituição de bens, as condições do crédito e, naturalmente, a situação das contas públicas. Os consumidores andam mais ressabiados e cautelosos. Mas o emprego permanece elevado, os salários ainda acumulam ganhos reais, embora menores que os dos últimos anos, o crédito ainda aumenta e a política fiscal permanece, como afirma o pessoal do BC, "expansionista".
Nas ruas, manifestantes protestaram contra as tarifas e a qualidade do transporte urbano e cobraram melhores padrões de serviços essenciais, como educação e assistência à saúde. Diante dessas pressões a presidente propôs um plebiscito fora de hora, sobre temas políticos, e convocou os ministros para exigir maior empenho na execução de seus programas - os mesmos programas condenados nas ruas pela baixíssima qualidade de seus resultados.
Os ministros da área econômica estavam prontos, como sempre, para esse tipo de jogo. Afinal, continuam prometendo mais do mesmo - uma péssima gestão das finanças públicas, mal disfarçada com novos lances de contabilidade criativa, já famosa até na imprensa estrangeira. A quem pensam enganar? Só podem enganar a si mesmos, é claro, porque até os muito trouxas acabam percebendo, embora com algum atraso, os sinais do desarranjo.
A presidente, dizem fontes de Brasília, está isolada. De certa forma, sempre esteve. Desde o começo de seu mandato cercou-se de assessores incapazes - por incompetência ou por falta de coragem - de ajudá-la a examinar os fatos e a planejar as ações de governo com base em diagnósticos realistas.
A maior parte de sua política administrativa e econômica é mero desdobramento da herança deixada por Luiz Inácio Lula da Silva. Nenhuma alteração essencial ocorreu na diplomacia econômica. Na prática, as prioridades têm sido as mesmas. O País continua amarrado ao mundo estreito e medíocre do Mercosul. Enquanto isso, negociam-se novas alianças e novas perspectivas de comércio e integração econômica são abertas em quase todas as regiões, incluída a América Latina. A Aliança do Pacífico é um bom exemplo.
A administração continua tão ineficiente quanto na fase do antecessor, quando o Brasil foi arrastado pela prosperidade mundial e o País pareceu tornar-se uma potência de peso. A grande novidade, naquele período, foi a rápida incorporação de massas ao mercado consumidor. Como nada se fez para modernizar o País e fortalecer sua capacidade produtiva, a mágica da expansão do mercado se esgotou. A dramática perda de produtividade geral da economia deixou o País desarmado para enfrentar a concorrência estrangeira.
Os resultados são evidentes nas contas externas, mesmo com algum disfarce. Aparentemente sem perceber esses fatos, a presidente insistiu numa política baseada principalmente no estímulo ao consumo. O resultado foi uma combinação de piora das contas fiscais, erosão do balanço de pagamentos, inflação sempre alta e indústria estagnada. Na administração federal, direta e indireta. aparelhamento e loteamento continuam predominando. Vai-se consertar tudo isso com um plebiscito improvisado?
sábado, 6 de julho de 2013
Eixo China/Russia contra os EUA - Leslie Gelb (NYT)
A New Anti-American Axis?
By LESLIE H. GELB and DIMITRI K. SIMES
The New York Times, July 6, 2013
On his first foreign trip as president of China, Xi Jinping was welcomed to Russia by President Vladimir V. Putin in March.
THE flight of the leaker Edward J. Snowden from Hong Kong to Moscow last month would not have been possible without the cooperation of Russia and China. The two countries’ behavior in the Snowden affair demonstrates their growing assertiveness and their willingness to take action at America’s expense.
Beyond their protection of Mr. Snowden, Chinese-Russian policies toward Syria have paralyzed the United Nations Security Council for two years, preventing joint international action. Chinese hacking of American companies and Russia’s cyberattacks against its neighbors have also caused concern in Washington. While Moscow and Beijing have generally supported international efforts to end Iran’s nuclear weapons program, they clearly were not prepared to go as far as Washington was, and any coordinated shift in their approach could instantly gut America’s policy on the issue and endanger its security and energy interests. To punctuate the new potential for cooperation, China is now carrying out its largest ever joint naval exercises — with Russia.
Russia and China appear to have decided that, to better advance their own interests, they need to knock Washington down a peg or two. Neither probably wants to kick off a new cold war, let alone hot conflicts, and their actions in the case of Mr. Snowden show it. China allowed him into Hong Kong, but gently nudged his departure, while Russia, after some provocative rhetoric, seems to have now softened its tone.
Still, both countries are seeking greater diplomatic clout that they apparently reckon they can acquire only by constraining the United States. And in world affairs, there’s no better way to flex one’s muscles than to visibly diminish the strongest power.
This new approach appears based in part on a sense of their growing strength relative to America and their increasing emphasis on differences over issues like Syria. Both Moscow and Beijing oppose the principle of international action to interfere in a country’s sovereign affairs, much less overthrow a government, as happened in Libya in 2011. After all, that principle could always backfire on them.
They also don’t like watching the West take action against leaders friendly to them, like President Bashar al-Assad of Syria. As this sense of common interests becomes entrenched, increasing Russian-Chinese cooperation could pose grave risks for America and the world.
Their conduct suggests that they see less cost in challenging the United States and fewer rewards for acting as a partner. These calculations stem from two dangerous perceptions.
First, they see American decline and decadence. In their view, the United States is on the wrong side of history, holding on to ties with Europe and parts of Asia, while losing economic leverage and moral authority in the rest of the world. American disengagement from Iraq and Afghanistan without victory contributes to a related impression that America’s unquestioned military superiority isn’t worth much in terms of achieving policy objectives on the ground.
Second, many Russian and Chinese elites consider American foreign policy objectives fundamentally hostile to their vital interests. Neither group views American democracy promotion as reflecting any genuine commitment to freedom; instead, both perceive it as a selective crusade to undermine governments that are hostile to the United States or too powerful for its comfort.
Meanwhile, Russian and Chinese leaders make clear that Washington’s support for their neighbors in practically every dispute involving Beijing or Moscow is less a matter of respect for international law than a form of dual containment that seeks to curtail the regional and global influence of these two major powers.
American backing for Georgia and the former Soviet republics of Central Asia bothers Russia. Likewise, China views American support for Vietnam and the Philippines in their maritime disputes with Beijing as a menace.
No wonder Xi Jinping of China made his first international trip as China’s president to Moscow, where he told his counterpart, Vladimir V. Putin, that Beijing and Moscow should “resolutely support each other in efforts to protect national sovereignty, security and development interests” and promised to “closely coordinate” on regional and international issues. Mr. Putin reciprocated by saying that “the strategic partnership between us is of great importance on both a bilateral and global scale.” While the two leaders’ words may have generated more of an impression of collusion than was necessary, it’s safe to assume they knew exactly the message they were sending.
POLICY makers in Washington must carefully assess the growing chumminess between China and Russia and what it means for America. To ignore it would be foolish.
Yes, China and Russia continue to be divided by a history of mutual distrust as well as by conflicting economic interests and Chinese territorial ambitions. China’s concerns about North Korea exceed Russia’s, and Moscow’s stake in Syria is greater than Beijing’s. And in Central Asia, the two nations are outright competitors. Moreover, China is a rising superpower and Russia is fighting to stay in the big leagues, which gives them different perspectives on world affairs.
That said, both countries share a strong interest in maintaining partnerships with the United States and the European Union, their main trading partners and the custodians of the international financial system, in which each has a major stake. These are powerful reasons for staying on good working terms with Washington, but the United States should not assume that they will halt the new anti-American tack in Beijing and Moscow. That would be a dangerous misreading of history.
Before World War I, many assumed that mutual economic entanglement and the huge costs of war would prevent conflict among key European powers. On the eve of World War II, Communist Russia and Nazi Germany seemed the unlikeliest of allies, until the two-year-long nonaggression treaty known as the Molotov-Ribbentrop pact left Europe in ruins and many millions dead.
President Obama should see China and Russia as neither enemies nor friends, but as significant powers with their own interests, as the Snowden affair showed. Initially, Mr. Obama railed publicly and ineffectually at both, urging them to extradite Mr. Snowden. Only when he softened his public stance and hardened his private line did Beijing and Moscow begin to see the advantages of avoiding further confrontation.
Washington needs to understand that most security threats around the world — from Syria to Iran to North Korea — can’t be managed safely and successfully without Russia’s and China’s cooperation. With respect to Syria, this approach would mean appreciating Moscow’s historical connection to the country’s Alawite leaders as well as Russia’s concern over the fate of Syria’s Christians, especially Orthodox Christians. In dealing with Beijing, it would mean strongly protecting American trade interests while understanding that Chinese leaders face real obstacles in tackling their own domestic economic problems.
To gain the respect of Russia and China, the White House must first demonstrate that American leadership is essential to solving key world problems, including those vital to China and Russia. America can’t be seen as passive.
Relations with Russia and China deserve to be given priority, but the United States mustn’t be afraid to stand firm in some cases or, in others, to partner with these two authoritarian but ultimately pragmatic powers. To do otherwise would be a folly of historic proportions.
Leslie H. Gelb, a former columnist, editor and correspondent for The New York Times, is president emeritus of the Council on Foreign Relations. Dimitri K. Simes is president of the Center for the National Interest and publisher of its magazine, The National Interest.
O Aspone do Aspone companheiro: enfim descoberto
A má gestão dos governos do PT não se refletem apenas no alto grau de empreguismo da companheirada e tampouco na falta de conhecimento, talento, aptidão e disposição para o trabalho dos nomeados, porque ainda pior é a falta de pudor e o histrionismo dos novos protagonistas da era lulo-petista.
Aí ao lado, você pode examinar um exemplo da falta de senso do ridículo da atual administração federal, que chega ao paroxismo de encontrar o inédito cargo de chefe de gabinete do chefe de gabinete.
Clique ao lado para ver melhor.
(da coluna diária do jornalista Políbio Braga, 5/07/2013)
Pausa para... The Piaui Herald... o blog mais elegante do Brasil
Dilma contrata 30 mil jornalistas cubanos
03/07/2013 15:45 | Categoria: BrasilJornais noticiaram o amplo apoio popular a Aloizio MercandanteGRANMA - Preocupada com a queda de popularidade, a presidenta Dilma Rousseff reuniu a imprensa para anunciar a contratação imediata de 30 mil jornalistas cubanos. "Proporei um plebiscito à Nação, no qual movimentos sociais cooptados poderão se manifestar sobre a propriedade de uma reforma ampla e profunda no Partido da Imprensa Golpista", exaltou-se a mandatária, mordendo um exemplar da revista Veja. E logo emendou: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo".
Já à tarde, os articulistas cubanos Reynaldo Azedón, Merbalo Pereyo, Juan Miguel Pondé e Denito Rosenfielde receberam cargos comissionados nos principais meios de comunicação do país.
Numa primeira leitura, Arnaldo Jabor criticou duramente a medida. Depois, voltou atrás, para logo adiante, numa última pirueta, classificar o ato como "um tapa na cara dos babacas pseudo-anarquistas que, cheirosinhos, chafurdam no lamaçal ignoto da sociedade paternal alienada". No início da noite, foi substituído por um cineasta cubano aposentado.
Os jornais amanheceram destacando a liderança carismática de Dilma, a coragem de José Dirceu e o bigode de Mercadante.
Animada com o resultado, Dilma cogitou importar 30 mil vereadores suecos.Leia também
China: the debate over economic policy, from export led to consumer led growth
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- How much pain?
sexta-feira, 5 de julho de 2013
"O projeto do PT e' retrogrado" - Andre Lara Resende
O mal-estar contemporâneo
O projeto do PT no governo revelou-se flagrantemente retrógrado. É essencialmente a volta do nacional-desenvolvimentismo.
Nenhuma liderança soube captar e expressar o mal-estar contemporâneo. Este é provavelmente o seu elemento novo: a internet viabiliza a mobilização antes que surjam as lideranças