terça-feira, 3 de junho de 2014

Crise do Capital e Fundo Publico: uma pesquisa recusada pela Capes, porser uma piada pronta...

...mas iria custar muito aos fundos publicos: mais de 430 mil reais do seu, do meu, do nosso dinheiro.
O argumento indignado dos autores do projeto aloprado representa uma confirmação do acertado da recusa da Capes.
Leiam.
Paulo Roberto de Almeida 

Compas
Divulgar amplamente
Abs [Fulana]


A tod@s
Todo apoio às (aos) companheir@s pesquisadorxs. Inadmissível uma Agência de fomento à pesquisa dar um parecer pautada em preconceito e negação de um método de conhecimento, análise e interpretação da realidade, o materialismo histórico e dialético. Sugiro além dos questionamentos à Capes, um posicionamento de nossas entidades contrários à essa postura obscurantista que nega a possibilidade do pluralismo, da crítica e da contribuição científica ao pensamento e à práxis.
Lamentável a postura dos pareceristas da CAPES, destituida de qualquer argumento científico Pela liberdade de expressão, manifestação e perspectiva crítica face a realidade social.
Professora Xxxxxxxxx Xxxxxxxxx - Coordenadora do NEAM-Núcleo de Estudos e Aprofundamentos Marxistas-Pós Graduação da PUCSP
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Prezados/as Pesquisadores/as do Serviço Social Brasileiro,

É com muita tristeza e indignação que socializamos com todos/as vocês o parecer da CAPES relativo ao Projeto "Crise do Capital e Fundo Públioco: Implicações para o Trabalho, os Direitos e as Políticas Sociais", apresentado ao Edital Procad 071/2013.
O Projeto envolve a UnB, UERJ e UFRN, 19 docentes, 09 doutorandos/as, 15 mestrandos/as e 27 graduados/as

Nossa indignação não se refere à não recomendação em si, mas à justificativa utilizada pelo parecerista: o projeto não teria mérito técnico-científico porque fundamentado no método dialético-materialista histórico, o qual o parecerista não considera científico. A partir deste posicionamento ideológico e político, e não científico, todos os demais quesitos foram desqualificados superficial e inconsistentemente pelo parecerista, como vcs podem ler no parecer que socializamos em anexo.

No dia 30 de maio, conforme o Edital, impetramos recurso na plataforma Sicapes. Contudo, o espaço disponível de apenas 5000 caracteres com espaço não nos permitiu a exposição de motivos que demonstra, em detalhes, o caráter anticientífico, sectário e desrespeitoso para com as Ciências Humanas e Sociais, o projeto e seus autores. Por isso, enviamos um documento de recurso mais detalhado ao presidente da CAPES e o socializamos em anexo. 
 
A equipe de docentes do Projeto decidiu denunciar este inaceitável patrulhamento ideológico e tratamento desrespeitoso a todos que adotam o método crítico dialético, dentro e fora da nossa área.  

Vocês verão que não se trata apenas de recusar um projeto, mas de desqualificar qualquer pesquisa fundada nessa perspectiva, tratada como não científica e, portanto, desprovida de mérito técnico científico.

Neste momento, nos importa fundamentalmente denunciar esse impropério e defender veementemente a pluralidade, liberdade ideopolítica e o respeito ao método dialético marxista, e a todo seu legado científico, que tanto vem contribuindo para pensar criticamente a sociedade brasileira, a crise contemporânea e seus dilemas.

Vale registrar, também, que nenhum projeto do Serviço Social foi aprovado neste Edital, e que dos 62 aprovados, mais de 90% são das áreas de exatas e biomédicas.

Por fim, pedimos que este email e seus anexos sejam amplamente divulgados nas ciências sociais em geral, pois este fato mostra o ambiente hostil ao pensamento crítico.

O parecer: 

Instituição Proponente: Crise do Capital e Fundo Público: implicações para o trabalho, os direitos e a política social
Valor solicitado: R$ 437.203,37

Etapa realizada: Análise de Mérito
Observação do item: Projeto afirma basear-se no método marxista histórico-dialética. Julgo q a utilização deste método não garante os requisitos necessários para que se alcance os objetivos do método científico

Observação do item: Considerando a metodologia a ser empregada - cujos requisitos científicos não tem unanimidade - a proposta pode ser considerada pouco relevante.

Item: Contribuição para a Educação Básica
Observação do item: Não se aplica
Item: Formação e aperfeiçoamento de recursos humanos
Observação do item: Sim, entretanto, a formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição 'a ciencia brasileira parece duvidosa.
Item: Importância do projeto em níveis institucional, regional e nacional
Observação do item: O consenso sobre a importância científica do projeto não é consensual

Observações da Coordenação: Justificativa para a não recomendação da proposta: as equipes proponentes e associadas acabaram de participar de um PROCAD com duração de 4 anos; diante do elevado número de propostas com mérito que ainda não participaram do Programa, parece de bom senso que esta não seja contemplada.

O recurso das "pesquisadoras": 

Recurso ao Parecer de Análise de Mérito Emitido pela CAPES/PROCAD ao Projeto “Crise do
capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais”

Ref. Edital n. 071/2013 – Programa Nacional de Cooperação Acadêmica 2013
Projeto: Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais
N0 da Proposta: 163936

Contestação ao Parecer Geral
A equipe do Projeto “Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais” - composta por 03 Instituições de Ensino Superior Públicas (UnB, ERJ e UFRN), 19 docentes pesquisadores (sendo 4 pesquisadores bolsistas PQ do CNPq), 09  doutorandos/as, 15 mestrandos/as e 27 discentes da graduação, vem apresentar recurso ao parecer negativo à recomendação da proposta apresentada.
O parecer da análise do mérito não recomenda a Proposta sob a seguinte justificativa: “as equipes proponentes e associadas acabaram de participar de um PROCAD com duração de 4 anos; diante do elevado número de propostas com mérito que ainda não participaram do Programa, parece bom senso que esta não seja recomendada”. A nota atribuída à Proposta foi 77,5.
Este parecer foi repetido nas “Observações da Coordenação” e validado pela Coordenação Geral, que se pronuncia: “De acordo com o parecer de mérito”. Ou seja, com base no disposto no parecer disponibilizado na plataforma SICAPES, fica evidente que a avaliação de mérito foi emitido por um (ou mais de um, o que não fica claro no formulário) parecerista e avalizado por duas instâncias de Coordenação da CAPES.
A equipe considera que o argumento acima apontado não tem fundamentação legal, além de ser improcedente, e não pode ser utilizado para justificar a não recomendação da referida Proposta, pelos seguintes motivos:
1. O Edital 071/2013 não apresenta como critério de recomendação e/ou não recomendação a participação anterior em outros editais PROCAD. Se a CAPES tivesse por política priorizar grupos e/ou docentes que não tiveram projetos aprovados por mérito em outros editais, este deveria ser um item estabelecido neste edital. Nenhum concurso público, seleção ou edital público pode se reger pelo “bom senso”, de caráter eminentemente subjetivo. Introduzir o “bom senso” como critério de não recomendação ao final do processo, inclusive penalizando...

(seguem mais páginas e páginas de besteirol, inclusive o que vai abaixo)

Parecer: “Sim, entretanto, a formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição `a ciência brasileira parece duvidosa” (erro de digitação está no texto do parecer)
Questionamento: A natureza deste parecer é absolutamente tendenciosa, ideologicamente posicionada e preconceituosamente desrespeitosa com as ciências humanas e sociais e sua incorporação histórica do método dialético materialista. Não podemos aceitar que a CAPES mobilize pareceristas e avaliadores que desconheçam a importância de contribuições históricas fundadas neste método para a compreensão da realidade brasileira e mundial. E mais do que isso, que avalize posições que negam, desconsideram e desrespeitam uma importante tradição teórico-metodológica no Brasil e no mundo. Não se trata aqui de solicitar que o parecerista e a CAPES concordem com tal abordagem, mas de questionar o desconhecimento e/ou desrespeito a este Método. Já argumentamos suficientemente sobre seu caráter científico quando questionamos o item 1 do parecer. Aqui, vamos nos deter na argumentação que afirma que o uso deste método teria uma contribuição “duvidosa” para a ciência brasileira. Podemos começar perguntando à CAPES o que seria das ciências sociais e do estudo da Formação Social, Econômica e Política Brasileira se não dispusessem de obras de autores como Florestan Fernandes, Caio Prado, Octávio Ianni, Paulo Freire, Carlos Nelson Coutinho, Francisco de Oliveira, Leandro Konder, Roberto Schwarz, Antonio Cândido, Jacob Gorender, Nelson Werneck Sodré, Marilena Chauí, Emir Sader e José Paulo Netto, para citar alguns autores que fizeram e fazem ciência social baseados no Método do Materialismo Histórico
Dialético? São autores reconhecidos mundialmente como essenciais na formação de gerações que pensam criticamente a realidade social e contribuíram e contribuem enormemente para desvendar o Brasil e as reais e múltiplas determinações da desigualdade econômica e social, para explicar os processos de estratificação social e concentração de propriedade, renda e poder, além do amplo universo de reivindicações de direitos presentes em praticamente todas as cidades brasileiras, bem como em nível mundial.

Por aí vai...
Assim anda a nossa academia...
Paulo Roberto de Almeida 



Itamaraty wikileaks: pois e', nao havia nada a esconder...

Atenção, este comentário jornalistico é de seis dias atrás.
Pois é, parece que tinha algo a esconder. Mas tudo suposições, claro...
Paulo Roberto de Almeida 
Parece que o ataque dos hackers ao Itamaraty se limitou mesmo aos e-mails de funcionários. Informações consideradas sigilosas pelo Itamaraty teriam sido preservadas. O problema inicial teria sido o mais simples para simplórios: supostas mensagens de colegas com anexos maliciosos — uma vez abertos, os cavalos de troia se instalam. Então tá.
Que bom a gente descobrir que informações consideradas sigilosas foram preservadas. Seria muito triste a gente constatar que o Itamaraty não tem nada a esconder. Todas as suas escolhas vergonhosas, convenham, são feitas mesmo às claras, não?
Querem um exemplo? Quando o Brasil participou da patuscada que impediu a deputada venezuelana Maria Corina de falar na OEA, a decisão não foi tomada às escondidas! Não! Foi tudo feito assim, à luz do dia. Ela foi cassada pela ditadura comandada por Nicolás Maduro sem que o Brasil desse um pio. Mais de 40 pessoas assassinadas sob o silêncio cúmplice do governo Dilma.
Pior: o Brasil tomou como sua uma nota oficial emitida pelo Mercosul — sob a presidência rotativa da Venezuela — que censurava apenas a oposição e endossava a ação repressiva do governo. E não tomou essas decisões no escurinho, não! Isso quer dizer que a nossa política externa é feita, como direi?, sem nenhuma vergonha. A gente não tem mesmo nada a esconder.

As relacoes paranoicas entre os EUA e o Brasil - David Rothkopf (Foreign Policy)

Elas já eram paranoicas. Com os companheiros deram um passo à frente... na paranoia...
Paulo Roberto de Almeida

Folha de S.Paulo, 2/06/2014

Brasil e EUA precisam resolver suas "paranoias" recíprocas se quiserem ter uma parceria mais produtiva. "Hoje, quando os dois presidentes se encontram, só falam de ninharias", diz o publisher da revista "Foreign Policy", influente publicação americana sobre assuntos internacionais, David Rothkopf, 58.
Crítico duro do governo Barack Obama, apesar de ser democrata, Rothkopf acha que Brasil e EUA têm visões "caricaturais" um do outro e que a memória da Guerra Fria tem peso excessivo.
"Se a China desacelerar, se houver uma seca de capitais rumo aos emergentes, o que [a presidente Dilma Rousseff] vai fazer?", pergunta.
Seu próximo livro, a ser lançado em outubro, será sobre a política externa de Bush e Obama "na era do medo".
Ele recebeu a Folha em seu escritório em Washington.

David Rothkopf, especialista em relações internacionais, ressalta relação difícil entre Brasil e EUA
*
Folha - O Brasil pode ficar isolado se os dois blocos comerciais estimulados pelos EUA, com a Europa e com os países do Pacífico, saírem do papel?
David Rothkopf - Não parece que ninguém do governo brasileiro esteja preocupado com isso, senão fariam algo.
Dilma vai enfrentar muitos problemas domésticos em relação à economia. Se a China desacelerar, se os estímulos à economia americana forem reduzidos, se houver seca de capitais rumo aos emergentes, o que ela vai fazer?
Ela não mostrou apetite pela arena global. O Brasil tem seguido a política de fazer seus próprios negócios, desde que não sejam negócios com os Estados Unidos.
Por quê?
Todo país é colorido por sua história e tem suas paranoias. O Brasil é paranoico em ser dominado pelos EUA. Tem uma reação negativa anormal a qualquer projeto de cooperação com os EUA.
Como meu irmão é casado com brasileira, minha mulher já trabalhou lá e tenho muitos amigos brasileiros, acho que posso ser franco. Já os EUA são paranoicos com a ascensão brasileira e regularmente suas políticas na região querem deixar o Brasil de fora.
Depois da crise causada pela espionagem da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA), o sr. vê a possibilidade de reconstruir a confiança?
Se hoje os dois líderes se encontram, vão falar sobre o quê? Só de ninharia. Não conseguimos falar nem de liberar os vistos reciprocamente, nem de facilitar alfândega.
O melhor momento recente foi a relação entre [George W.] Bush e Lula. Veja só. Lula fez algo admirável, construindo em cima das fundações deixadas por Fernando Henrique Cardoso, que estabilizou a economia. Transformou o Brasil em um ator global.
Se eu fosse os EUA, cansado de guerras e querendo ter novos aliados no mundo, priorizaria essa gigante democracia no nosso hemisfério, com quem compartilhamos a diversidade cultural. Mas Dilma não é Lula.
É comum detectar antiamericanismo de um lado e um antiesquerdismo do outro. Vai demorar essa aproximação?
A memória da Guerra Fria tem um papel grande demais nos dois lados. Temos um problema aqui nos EUA: muitos dos nossos latino-americanistas foram educados na Guerra Fria e têm uma atitude automática contra a esquerda. Tratam igual, seja Cristina [Kirchner], [Evo] Morales, [Rafael] Correa, seja quem estiver à frente da Venezuela.
Onde estão hoje os líderes inovadores da América Latina? Na esquerda. Lula foi talvez o mais importante lider latino-americano dos últimos cem anos, e a reação inicial a ele foi negativa. Hoje, há um líder mais inovador do que [José] Mujica?
Do lado americano, é comum a reclamação de que o Brasil não se comporta como aliado, abstendo-se na crise da Ucrânia ou da Síria. O acordo com o Irã é lembrado até hoje.
O Irã foi "nonsense" (absurdo), mas Brasil e Turquia estavam por trás do acordo, e fizemos as pazes com a Turquia rapidinho por termos interesse. E olha que [Recep Tayyip] Erdogan não era tão legal quanto pensávamos.
Mas, se Dilma for reeleita, ela tem de pensar em como será a relação com Hillary Clinton ou com Jeb Bush, os favoritos para a sucessão de Obama. Há oportunidades para cooperação em ciência, energia, mudança climática.
Mas não parece que a América Latina esteja entre as prioridades do governo Obama.
Há 20 crises simultâneas, então só o que é problema vira prioridade. É a política velha, por inércia.
O mundo parece dar um suspiro de alívio quando um presidente americano, como Obama, diz preferir a diplomacia ao uso da força. Por que o sr. acha que não devemos comemorar?
Podemos celebrar o fim do uso exagerado da força dos anos Bush, mas Obama faz um governo minimalista. A menor ação possível, criando a ilusão de fazer muita coisa. Precisamos de uma combinação de diplomacia, pressão política e econômica, cooperação militar, ação legal, ação multilateral.
Obama não está de mãos atadas por uma opinião pública que não quer saber de guerra nem de intervenções no exterior e por um Congresso onde ele não tem maioria?
Não precisava ser binário –ou usamos força ou não fazemos nada. O povo americano não quer mais guerra, mas quer que o país lidere, que o mundo não se torne mais perigoso, que não sejamos cúmplices por inação pelo massacre na Síria. Ou pelo crescimento do terrorismo, ou por encorajar [Vladimir] Putin, ou por a China invadir vizinhos ou ilhas.
Falta liderança, energizar a opinião pública, identificar objetivos, convencer aliados. Obama é cauteloso demais e sem experiência de política externa. Sua equipe se tornou ainda mais fraca, com menos poder, no segundo mandato que no primeiro. Centraliza tudo na Casa Branca.
Quando os EUA falam em contenção de China ou Rússia, não acaba provocando reação de ambos, por se sentirem "cercados" pelos EUA?
A "contenção" é maior que os EUA admitem, mas menor do que os chineses reclamam. Os vizinhos da China não têm uma relação tão boa e não a querem como chefe por lá. É uma questão de avançar nossos interesses, de proteger nossos aliados. A China tem uma estratégia, dá a volta ao mundo com o talão de cheques na mão, cria interdependência. Nós não temos estratégia.
Os EUA perderam a moral para denunciar a pirataria cibernética chinesa?
Ambos espionam e admitem. Os EUA dizem "vocês roubam segredos industriais para dar às suas empresas, nós cuidamos da segurança nacional", mas a China retruca que os EUA querem benefícios comerciais e que espionaram a [empresa] Huawei.
Na Guerra Fria, o preço do conflito ficou tão alto com a possibilidade de guerra nuclear que não lutamos porque seria a destruição. Já os ataques cibernéticos, assim como os drones, sem humanos, são baratos demais. O perigo é não pararem nunca. Em que ponto veremos que fomos longe demais?
A crise da NSA também demonstrou como os governos ainda conhecem pouco a segurança digital?

Não há tanta gente no governo, especialmente em altos cargos, que entenda o mundo cyber. Sete bilhões de pessoas terão celular, e o fluxo de dados já é mais importante que o de capital. Privacidade é uma nova prioridade, e não temos uma doutrina cibernética, nem debate, nem normas globais.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A morte do dinheiro? Ja vai tarde... Mas vamos pagar a conta! Esta bem assim?

Como sempre faço quando vou numa livraria, pego os últimos lançamentos da minha área para ver se vale a pena comprar, mas não imediatamente, pois eles costumam custar entre 25 e 35 dólares. Não que eu não possa pagar, mas eu teria de comprar também novas estantes, pois os livros vão se acumulando no chão, lidos pela metade, enquanto outros se acumulam em cima. Geralmente compro os que me interessam entre 3 e 6 meses, quando já estão na Abebooks, praticamente novos a um preço entre 3 e 5 dólares (e com frete grátis...).
Assim fiz com o livro famoso de Thomas Piketty, O Capital no Século XXI, de levíssima inspiração marxiana, mas de pouca consistência metodológica. A Economist acaba de refazer novas críticas aos seus dados, mas não contesta a validade geral de suas teses (o que eu contesto, não por ter feito exercícios econométricos, mas apenas por instinto contrarianista; acha que ele se engana no essencial, mas não tenho como provar, pois não consigo quantificar a evolução relativa de todas as formas de capital ao longo do tempo).
Em todo caso, desconfio que não são as mesmas pessoas que detêm essas várias formas de capital ao longo de duas ou três gerações e daí resulta que NÃO SE PODE falar em concentração, a não ser que se use esse fantasmagórico 1 por cento dos mais ricos. E daí? Os de hoje são os mesmos de um século atrás? Duvido.
Bem, hoje andei lendo este livro:
The Death of Money: The Coming Collapse of the International Monetary System
James Rickards

Embora ache que ele tenha razão no geral, acho que as intenções catastrofistas são um pouco exageradas. Aliás, o sistema monetário internacional, se existiu durante brevíssimo tempo (apenas no início dos anos 1960, e olhe lá), já não existe mais há muito tempo...
Vejamos:

The next financial collapse will resemble nothing in history...
Uau!

Estamos nada menos do que a um passo de um novo colapso geral da economia e do dólar, que vai ser pior do que em 1914, em 1939, em 1979, e sabe-se lá quando mais.
Tudo começou em 1971, claro, com aquele conservador do Nixon chutando o pau da barraca do sistema monetário internacional. O dólar caiu, o ouro se valorizou, a tendência se inverteu com a política de Paul Volcker de aumentar os juros para 19%, mas depois o declínio continuo, até chegar novamente na derrocada em 2008.
Alguns remendos foram feitos -- o tal de tsunami financeiro -- que só aumentaram a chance da derrocada próxima e segura.
Vamos ter: guerras financeiras, inflação, deflação, o colapso dos mercados, um dilúvio de perigos e talvez a volta da polio e do escorbuto.
Enfim, tem desgraça para todo e, como estamos no Brasil, elas virão em dobro, pois aqui os políticos ajudam a piorar bastante as coisas, assessorados por keynesianos de botequim.

Acho que o autor vai ganhar dinheiro com esse livro, tanto quanto ganhou com o seu anterior, Currency Wars, mas o mundo não vai acabar, e o dólar vai continuar sendo a base desse não-sistema monetário internacional, inclusive porque não tem nenhum outro instrumento disponível, e ninguém parece disposto a, ou ser capaz de, voltar ao padrão ouro.
Tudo é uma questão de confiança, sempre, e não é que as pessoas confiem no dólar. Não, elas não confiam, mas o problema é que elas confiam menos ainda nas demais moedas.
E o ouro, dirão alguns?
Essa relíquia bárbara, no dizer de Keynes?
Não acho que seja o substituto ideal.
A não ser o Tio Patinhas, ninguém fica nadando em moedas ou lingotes de ouro.
Coisa de especuladores, nada mais do que isso.
Melhor especular sobre o preço da soja, que pelo menos dá para comer (ugh!).
Paulo Roberto de Almeida

OCDE sobre universidades publicas: sim ao pagamento, nao as cotas

OCDE critica cotas e propõe mensalidade em universidades públicas
Relatório do organismo diz que a lei trata apenas de um sintoma e 'não do problema como um todo' e põe ações afirmativas na berlinda
2 de junho, 2014

De acordo com o relatório “Investing in Youth: Brazil” (Investir na Juventude: Brasil), publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), “não é possível dizer que as cotas são o melhor caminho para reduzir disparidades sociais na educação superior do Brasil, nem está claro que a medida acabe com a raiz do problema”.
Segundo a organização, ao invés de políticas afirmativas, o governo deveria considerar a cobrança de mensalidade em universidades federais daqueles que dispõem de recursos, mantendo a isenção para os estudantes que apresentem limitação financeira.

Inicialmente, o estudo analisou o caminho seguido pelo estudante até o mercado de trabalho. Em um capítulo dedicado ao panorama da educação no Brasil, a OCDE afirma que o acesso ao ensino superior de qualidade no país é “extremamente desigual”. Para a organização, não há diferença entre cotas sociais e cotas raciais, já que nenhuma delas resolve o problema.
“Se por um lado as cotas podem ajudar a elevar a participação das minorias raciais no ensino superior, por outro elas tratam apenas de um sintoma e não do problema como um todo. Na realidade, o problema surge muito antes: nos baixíssimos níveis educacionais das minorias raciais que só têm acesso aos piores serviços de educação que a rede pública oferece”, explica o economista Stijn Broecke, um dos pesquisadores da OCDE que elaboraram o relatório.
O Ministério da Educação (MEC) discorda da avaliação OCDE. Para o ministro José Henrique Paim, o mecanismo assegura vagas aos mais pobres e a minorias étnicas. “A Lei das Cotas assegura a mudança no perfil dos estudantes brasileiros, com a inclusão dos mais pobres, indígenas e negros”, considera o ministro.
A OCDE é reconhecida mundialmente por gerar indicadores e pesquisas de mercado e educacionais de excelência, como o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), do qual o Brasil participa. A organização foi fundada em 1961 por 34 países, para estimular o progresso econômico.

Lemann Foundation provides scolarships to Foreign studentes desiring to make academic visits to Brazil

Dear All:  

Since 2012, the Lemann Foundation has been supporting the Science without Borders (SWB) program with the goal of contributing towards strengthening the government's investment, assuring an increasing number of students from Brazil at universities of excellence such as Columbia, as well as establishing long lasting academic partnerships between U.S. academic institutions and Brazilian institutions.

As part of this initiative, the Lemann Foundation is offering Faculty Travel Grants to go to Brazil and make academic connections with Brazilian faculty.  Following are the details of this grant.

How to apply?
The application process is quite simple, with 3 simple questions. If you are interested, please apply here: https://pt.surveymonkey.com/s/brazilswb
Application deadline
June 30th 2014 (for 3-day trips between September 1 – December 15, 2014)
Objectives:
·         student recruitment: meet excellent Brazilian students in STEM fields with scholarships for Ph.D. (1-year or full) and Postdoctoral programs;
·         connections: fostering academic cooperation with Brazilian top universities for long-lasting research collaboration;
·         research grants: building and/or consolidating connections with Brazilian scientists for future research grants in Brazil.
How does it work?
The Faculty Travel Grant sponsors a trip to Brazil to visit top Brazilian universities and research centers. The program will include meetings with faculty, department heads and deans, and meetings with potential students at the graduate level (Ph.D., visitor Ph.D.) and Postdoctoral scientists. The Lemann Foundation will offer:
·         3-day trip: to São Paulo, and other cities depending on the area of study;
·         expenses covered: international flight, domestic flights, accommodation, and transportation;
·         meetings arranged: the Lemann Foundation will help identifying and contacting key people at target institutions.

For more information please contact the Foundation at CienciasemFronteiras@fundacaolemann.org.br.

Politica externa do governo: criticas de analistas - Luciana Lima (IG)

Com orçamento apertado, Dilma freia pilares da política externa de Lula

Por Luciana Lima - iG Brasília 

Presidente enfrenta críticas por ter desempenho diferente de Lula na área internacional: viajou menos, recebeu menos chefes de Estado e enfrenta queixas na área de direitos humanos

O governo da presidente Dilma Rousseff tem sido criticado, inclusive internamente, por não dar o mesmo protagonismo à política externa brasileira que marcou a administração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Com restrições de orçamento, Dilma deixou de fazer repasses a órgãos multilaterais de defesa de Direitos Humanos, não depositou o que havia prometido de ajuda humanitária para refugiados da Síria, viajou menos e também recebeu menos chefes de Estado em visita ao Brasil. Além do aperto fiscal, alegado pelo próprio Planalto, a pouca desenvoltura de Dilma com as questões mundiais é reconhecida por integrantes do próprio governo como “estilo Dilma”.

Agência Brasil
Dilma vem sendo criticada por não dar o mesmo protagonismo à política externa brasileira que marcou a administração de Lula

Embora a presidente tenha adotado a postura de continuidade dos eixos implantados por Lula – de busca da liderança na América Latina, de estreitamento das relações com a África e de fortalecimento da relação com países do hemisfério sul, a chamada cooperação sul-sul – o desempenho da presidente, para muitos agentes da política externa brasileira, não teve o mesmo destaque. E isso, afirmam, tem contribuído para reduzir a influência do país perante a comunidade internacional.
“Eu diria que houve uma redução da intensidade do relacionamento com os países da América do Sul, apesar dela ter cumprido os compromissos”, analisou o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty.
“Não há a mesma intensidade de contatos que havia no passado. Embora não haja como dizer que houve mudança de rota, de princípios”, reforçou Guimarães, que chegou a participar do governo do ex-presidente Lula, conduzindo a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Visitas e viagens
O estilo de Dilma se reflete nos números. Nos três primeiros anos de governo, a presidente recebeu 21 visitas de chefe de Estado, sendo algumas repetidas, como a da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, da Argentina, e do presidente do Uruguai, José Mujica, que Dilma chegou a receber informalmente para um jantar no Palácio da Alvorada. Já o ex-presidente Lula, em seus três primeiros anos de governo, recebeu 63 visitantes, mais até que Fernando Henrique Cardoso, que recebeu 50 visitantes em seus primeiros três anos de governo.
Dilma também viajou bem menos que Lula. Comparando os três primeiros anos de seu mandato, Dilma visitou 31 países. Nos primeiros três anos de Lula, ele visitou 49 nações e, nos três primeiros anos do segundo mandato, esteve em mais 59 países. Em comparação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que pegou fama de quem viajava demais, os dois petistas superaram sua marca. FHC visitou nos três primeiros anos de seu primeiro mandato 26 países e no segundo mandato, mais 27.
Para a África, continente priorizado por Lula em sua atuação internacional, Dilma reduziu pela metade as visitas. Nos primeiros três anos de seu primeiro mandato Lula fez 15 viagens ao continente. Já no segundo mandato, Lula fez mais 14 viagens à África. Dilma, por sua vez, fez 7 viagens ao continente africano.
Dilma cumpriu a agenda na opinião de membros do governo. Viajou à China no primeiro ano de governo, em uma visita com forte cunho empresarial, não faltou a nenhuma reunião de cúpula dos Brics (bloco de cooperação formado por Brasil, Rússia, Índia, China a África do Sul) e da Celac (Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos) e esteve na África.
Contraste de estilos
O estilo “menos atuante” que antes era atribuído por diplomatas brasileiros ao ex-ministro Antonio Patriota, hoje é atribuído a própria presidente. Patriota deixou o cargo após o desastrado episódio da fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil. Em seu lugar, Luiz Alberto Figueiredo Machado assumiu o cargo, mas não se sentiu mudança no ritmo do Itamaraty.
Para Samuel Pinheiro Guimarães, a política externa brasileira sofre o impacto do contraste entre a desenvoltura de Lula com as questões internacionais, adquirida mesmo antes de se tornar presidente, e a falta de afinidade de Dilma como tema.
“Antes de ser eleito presidente, Lula já tinha feito inúmeras viagens ao exterior para atender compromissos da internacional socialista, dos sindicatos, de modo que ele tinha uma prática internacional extraordinária. Ele já tinha sido coordenador do Foro de São Paulo dos movimentos de esquerda da América Latina e, neste processo, ficou conhecido pessoalmente por muitos líderes, não só na América Latina, como no mundo todo”, disse Guimarães.
“Lula tinha uma desenvoltura, uma tranquilidade para este tipo de tema devido ao seu relacionamento anterior. Sempre que líderes estrangeiros vinham ao Brasil, para visitar a Dilma, muitas vezes pediam audiência com Lula e ele estava em São Bernardo”, exemplificou. “Ele ficou conhecido pessoalmente por esses líderes, de modo a facilitar muito esta relação”, ponderou.
Guimarães, no entanto, destaca a posição firme que a presidente apresentou perante a crise no Paraguai, na defesa do ingresso da Venezuela no Mercosul, e também perante as denúncias de espionagem feita pelos Estados Unidos que atingiram, inclusive, dados pessoais da presidente.
O jeito discreto dos ministros de Dilma na política externa também reforça o contraste. Hoje, ministro da Defesa, Celso Amorim foi um dos ministros de Lula e é tido no meio diplomático como uma figura que opinava mais em sua área de atuação e influenciava mais nas questões políticas. O mesmo não se diz dos ministros de Dilma. Enquanto Figueiredo pouco tem opinado sobre política externa, Amorim acabou imprimindo no Ministério da Defesa um pouco da relação intensa que já tinha com outros países durante o governo Lula.
Em dois anos à frente da pasta, ele viajou a todos os países da América do Sul, esteve em Angola, Namíbia, Moçambique e em Cabo Verde, países africanos onde o Brasil auxilia com cooperação na área de Defesa. No âmbito da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Amorim coordenou a iniciativa brasileira de formar um Conselho Sul-americano de Defesa que reúne ministros da Defesa de todos os países do bloco.
Direitos Humanos
Ao assumir o governo, Dilma disse que daria mais importância às questões de Direitos Humanos e que adotaria este tema como eixo da política externa. No entanto, as críticas à sua atuação se avolumam também nesta área. Nenhuma doação foi feita pelo governo brasileiro nos últimos quatro anos para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA), que sobrevive com recursos doados pelos Estados signatários e instituições internacionais.
As últimas doações, embora modestas se comparadas com as de outros países, ocorreram em 2006, no valor de US$ 98,5 mil dólares; em 2008, no valor de US$ 300 mil e, em 2009, quando o Brasil contribuiu com US$ 10 mil.
Na opinião da coordenadora do Programa de Política Externa e Direitos Humanos da Conectas Direitos Humanos, Camila Assano, a falta de doações indica “falta de compromisso do governo brasileiro com o tema de direitos humanos, apesar do discurso contundente de crítica às violações de direitos”, observado tanto no governo de Lula, quanto de Dilma. “O Brasil tem demonstrado que é bom em apontar onde está o problema. Falta, no entanto, fazer parte efetiva da solução dos problemas”, criticou. “Existia um protagonismo maior do Brasil. É sensível perceber que houve redução”, disse.
Um exemplo citado por Camila Assano de “pouca disposição” do Brasil em ajudar com recursos financeiros refere-se ao anúncio feito pelo governo, em janeiro deste ano, na II Conferência de Doadores do Kuwait, na qual se comprometeu a doar US$ 300 mil para o alívio da crise humanitária na Síria. “Foi o menor valor dentre todos os países que estiveram no Kuwait e Montreux”, critica. Na ocasião, o anfitrião Kuwait fez a maior doação, no valor de US$ 500 milhões e os Estados Unidos se comprometeram em doar US$ 380 milhões. “Só para compararmos, o México doou US$ 3 milhões”, criticou Camila Assano.
Apesar do valor considerado baixo em comparação com os demais países, os recursos ainda não constam do site da ONU, após mais de quatro meses da promessa. O dinheiro teria que ser repassado para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e para o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) para serem usados no atendimento a crianças deslocadas pela guerra civil na Síria.
De acordo com o Itamaraty, também nesse caso, o repasse ainda não foi feito devido a “restrições orçamentárias”. O governo informou ainda que não há data prevista para o depósito e que isso será feito tão logo haja condições para o repasse.
Outro episódio que, na opinião de defensores de direitos humanos, demonstrou descaso do Brasil com o tema ocorreu também em janeiro deste ano. O Brasil foi o único a não enviar o chanceler para a Conferência de Paz na Síria, ocorrida em Montreux, na Suíça. A pedido de Dilma, Figueiredo ficou no Brasil para prepará-la para sua viagem para o Fórum Econômico de Davos, do qual ela participaria pela primeira vez. Restou ao Itamaraty enviar o número dois na hierarquia, o secretário-geral da pasta, o embaixador Eduardo dos Santos. “Isso indica descaso. Demonstra que o Brasil não está preocupado à altura com a questão”, comentou Camila Assano.
Mulheres
Outra atitude do governo de Dilma Rousseff que gerou um clima de frustração em entidades defensoras de direitos humanos foi a de manter a posição de abstenção, perante a Organização das Nações Unidas (ONU), em relação a violações de direitos humanos no Irã. “Antes de tomar posse, Dilma chegou a discordar da posição tomada pelo governo de Lula de se abster. No entanto, o governo brasileiro fez a mesma coisa em 2011, 2012 e em 2013”, afirmou Camila Assano.
A resolução da ONU, votada pela primeira vez em novembro de 2010, condena o Irã pela adoção de pena morte por apedrejamento de mulheres condenadas por adultério. Na época, o governo brasileiro, comandado por Lula, adotou a posição de abstenção por não considerar que o tema teria que ser discutido pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU e não na Assembleia Geral.
A posição contrária de Dilma foi colocada em entrevista ao jornal norte-americano Washington Post, na qual ela disse que não concordava com a forma que o Brasil havia votado e que não mudaria de opinião após sua posse.

Eleicoes 2014: um academico analisa a plataforma externa de Campos-Marina

Internacional

Análise

A chapa Campos-Marina e a política externa

As propostas de Marina entram em choque com posições históricas do PSB. Como a candidatura vai resolver essa questão? Por Sebastião Velasco
por Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais — Carta Capital, 28/05/2014 14:46
Eduardo Campos e Marina Silva
Eduardo e Marina na filiação dela ao PSB. Nas questões internacionais a posição dela contrasta com algumas bandeiras do PSB
José Cruz/ Agência Brasil
Por Sebastião Velasco
Convenhamos, não é trivial. Como construir uma posição claramente diferenciada, sólida o bastante para resistir aos embates e chegar ao final da disputa com alguma chance de sucesso? Em outras palavras, como escapar à lógica binária que há décadas vem se afirmando com tal força na política brasileira? E como fazer isso quando esta lógica comanda também as estratégias dos concorrentes?
Tivemos um exemplo prático dessa verdade durante o encontro recente de Aécio Neves (PSDB-MG) e de Eduardo Campos (PSB-PE) com grupo seleto de empresários, em um resort na Bahia. Suas manifestações a respeito dos temas de suas respectivas plataformas não tem tanta importância – afinal de contas, elas estão ainda em processo de elaboração, e mesmo depois de anunciadas haverá tempo suficiente para retificá-las se for o caso. Seja como for, pouco se falou desse aspecto da conversa. O que restou do convescote foi a declaração de Aécio de que não conseguia ver em Campos um adversário, e a foto antológica dos dois estendendo a bandeira brasileira para os fotógrafos, qual capitães de times. Com este detalhe: do mesmo clube, o time titular e o reserva.
Não surpreende que esse episódio tenha feito disparar a sirene de alarme no QG marino-campista. O reposicionamento a que assistimos nos últimos dias – tímido ainda, desigual, desajeitado – é expressão do reconhecimento tardio de Eduardo Campos de que não haverá futuro para a chapa que ele encabeça se o desafio de afirmar a sua identidade própria não for enfrentado.
As manifestações de desacordo com Aécio em questões programáticas, e as indicações de que a aliança PSB-Rede disputará os governos de inúmeros estados – São Paulo e Minas inclusive – com candidatos próprios manifestam a disposição de lutar por esse objetivo.
Mas serão os esforços nesse sentido bem sucedidos?
Além da força da inércia e das artimanhas dos adversários, um fator extrínseco contribui para reforçar a lógica bipolar na política brasileira: a extrema concentração da mídia, sua tendenciosidade e a relativa homogeneidade ideológica que a caracterizam. Com grande capacidade de pautar o debate público, essa mídia não é simplesmente anti-governista: a crítica sistemática que ela despeja diuturnamente mantém sintonia fina com o discurso da oposição demo-tucana. Para a coligação que busca credenciar-se como uma terceira via, a questão é de como furar a barragem do senso comum assim produzido e interpelar o eleitor descontente com uma proposta que enquadre os problemas e as prioridades do país em uma visão ampla, diferente e persuasiva.
A tarefa de separar as águas seria mais simples se Campos e Marina Silva (PSB-AC) estivessem correndo em raias próprias. Nesse caso, seria possível selecionar algumas chaves temáticas e fazer delas o elemento discriminante. Foi o que vimos em 2010, quando Marina apresentou-se como arauto do novo – uma nova forma de fazer e viver a política – e associou essa imagem a posições características sobre temas substantivos com forte apelo para parcelas não desprezíveis da população – o desenvolvimento sustentável – tudo embalado em uma concepção de mundo um tanto etérea, que ela entoava em prosa poética. De gosto duvidoso, mas espontânea e aparentemente sincera.
Agora, como dar credibilidade à retórica da nova política quando a primeira voz no dueto é de alguém que ingressou na política como herdeiro de um patrimônio familiar antigo e exerce sobre o seu partido um estilo de mando acentuadamente personalista Como defender a opção pelas fontes renováveis de energia, quando o companheiro de chapa está nos jornais como o patrono da refinaria Abreu e Lima, tendo ademais na defesa do nuclear um item importante em seu currículo?
Dúvidas da mesma ordem assaltam o observador atento quando ele se volta para os temas da política externa, que nos interessam mais de perto aqui.
Na eleição passada, Marina demarcou-se do campo governista, nesse plano, pela crítica à timidez no posicionamento do Brasil face às denúncias de violações de direitos humanos em países próximos (caso da Venezuela e de Cuba), e não tão próximos assim (caso do Irã). Justificada às vezes por declarações infelizes, a discrição da diplomacia brasileira correria o risco de resvalar para a pura e simples conivência, ela advertia.
Pouco, para o eleitor mais exigente. Mas o seu programa de governo, divulgado em 27 de julho daquele ano, ia muito além dessa postura meramente negativa. Fazendo uma contraposição forte entre “valores” e “interesses”, ação ditada pelas “conveniências imediatas” e aquela guiada por “sólidos princípios”, o programa marinista defende uma política externa capaz de projetar o Brasil como “uma nação coerente, que abraça as causas corretas, respeita o Direito Internacional, lidera pelo exemplo”. Além de adequada de um ponto de vista normativo, essa conduta recomenda-se ainda por ser o meio pelo qual o Brasil “fortalece seu poder de persuasão e a sua influência no cenário internacional.
Essa tomada de posição de sabor “idealista” leva em conta uma tendência que vem transformando as relações entre os Estados no mundo contemporâneo: a “globalização do Direito”, por meio da proliferação e do fortalecimento de organizações e regimes internacionais.” Fiel à sua atitude básica, o documento verde agrega à constatação do fato, seu complemento normativo – “Nesse novo cenário, a relação entre Estados deve ser regida pela cooperação e pelo respeito às regras e instituições criadas em conjunto pelas nações, e não pelo uso da força
Criticando as limitações presentes nesse novo quadro, no essencial positivo – os mecanismos de governança global ainda insuficientes – o programa propõe que o Brasil se destaque como “veemente defensor da democratização das organizações e regimes internacionais.
Ao apontar alguns dos alvos da ação transformadora reclamada, o documento aproxima-se às vezes da orientação adotada tradicionalmente pelo Itamaraty – “pesos desequilibrados dos poderes de voto (como no caso do FMI e do Banco Mundial), existência de poderes de veto sem adequada representação (como no Conselho de Segurança da ONU) e desigualdade no cumprimento de obrigações internacionais (como ocorre com as metas de desarmamento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares).” Afasta-se dela, porém, ao sugerir que o Brasil avalie a participação em organizações das quais não faz parte atualmente (a OCDE e a Convenção sobre Munições de Fragmentação), e ao apoiar a incorporação de cláusulas sócio-ambientais no regime internacional de comércio  (“Os direitos trabalhistas e sociais previstos na Constituição e o esforço brasileiro para a criação de uma economia de baixo carbono não podem ser sacrificados”; “o Brasil deve defender a criação de novas regras sobre esses temas no âmbito da OMC”).
Mas é ao abordar a questão da paz e dos direitos humanos que o documento de Marina assume tom explicitamente crítico. Exaltando a busca da paz como princípio básico tradicional da política externa brasileira, ele volta a cobrar “uma postura crítica com relação a países que violem esses direitos”, e fecha o tópico com este juízo: “ao contrário do que tem acontecido, o país não deve relativizar esses princípios em suas relações de Estado.”
Haveria muito a comentar sobre esses enunciados aparentemente singelos. Mas o que importa aqui é a pergunta: o que sobrará deles no programa de governo marino-campista?
Não se trata de uma dúvida genérica, daquelas que poderíamos ter sobre o conteúdo final de um texto qualquer ainda não redigido. Ela tem origem e direção bem definidas. É que o sentido geral da proposta de Marina contrasta fortemente com o teor do debate sobre a política externa nas hostes socialistas.
Convém insistir nesse ponto, não as posições defendidas por Campos, mas as opiniões predominantes em seu partido.
Em que pese sua passagem pelo Congresso e pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, a trajetória de Eduardo Campos é a de um político regional, para quem os temas de política externa (ou internacional) têm escassa relevância. O mesmo, porém, não é verdade para a agremiação que ele preside. O PSB tem uma tradição longa de militância na área e conta com um núcleo de quadros bem preparados com forte interesse nessa matéria e posições muito firmes. Seja qual for a importância reservada ao tema por seus pares, são eles que falam em nome da tradição, e são eles também que definem nesse particular as posições do partido.
O problema é que essa tradição não se afina com o discurso de Marina. Se na análise do mundo contemporâneo este salienta o papel das organizações internacionais e o avanço da regulação jurídica, o pensamento que se expressa na fala dos socialistas põe em relevo as relações de força internacionais e as estratégias de dominação das potências imperialistas. Se um mira o ideal e nos convida a sonhar, o outro confronta a realidade para domá-la e nos adverte para seus perigos. Se o horizonte do primeiro é cosmopolita, o solo do segundo é a nação, e o pano de fundo o nacionalismo.
Essas diferenças de perspectiva ficam patentes na definição de prioridades e na tomada de posição sobre temas específicos. Prioridades: a importância conferida ao desenvolvimento de tecnologias sensíveis (nuclear e espacial, por exemplo) e à política de defesa nos documentos do PSB, em geral elípticos no tocante a temas caros ao grupo de Marina, como os debates em curso sobre o regime de direitos humanos (“responsabilidade de proteger”), para ficar em um deles. Posições discrepantes: a cobrança de uma crítica explícita à Cuba por parte de Marina, e o profundo comprometimento de expoentes do PSB com o movimento de solidariedade a esse país, a começar pela senadora Lídice da Mata (PSB-BA), que exerce o papel de presidente da Frente Parlamentar Brasil-Cuba, desde de março próximo passado.
Tendo em vista o pequeno destaque dado às questões de política internacional em nossas campanhas eleitorais, o observador desencantado poderia desprezar essas diferenças, dando como certo que os dois grupos venham a fazer uma conta de chegar e acabarão por cobrir esse item da pauta com generalidades pouco comprometedoras.
Pode ser. Mas isso não depende apenas da vontade dos interessados. A política eleitoral tem a sua lógica própria, e os fatos da política internacional às vezes se intrometem nela mesmo sem serem chamados.
A propósito, dentro em breve Vladimir Putin deve estar no Brasil, para a VI Cúpula dos BRICS, que será aberta em Fortaleza, no dia 15 de julho.
Será um momento privilegiado para o debate da política externa. E um bom teste para a nossa dupla.
*Sebastião Velasco é professor titular da Universidade Estadual de Campinas e membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).

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