Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Verdade. Muitos ucranianos ficaram do lado nazista durante a II Guerra Mundial. Isso dá aos russos o direito de invadir o país vizinho?
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO CORREIO BRAZILIENSEE NO SITE DO AUTOR, www.jaimepinsky.com.br
A bandeira da Ucrânia tem as cores azul e amarela. Já o grupo nacionalista direitista Pravy Sector usa a mesma bandeira, mas com as cores preta e vermelha. Este grupo se organizou a partir de 2013/14 quando promoveu manifestações contra seu governo, aliado da Rússia, conseguiu depô-lo e acabou por mergulhar o país em um caos político, econômico e étnico. A situação só se equilibrou a partir da surpreendente eleição do atual presidente, Vladimir Zielensky. Ele competiu como um “azarão”, entre os partidários da Rússia e os ultra-direitista. Para surpresa de todo mundo e do mundo todo ele venceu as eleições, tornou-se popular e acabou tendo que sustentar uma guerra contra Putin que não se conformou com sua vitória, uma vez que desejava um governante submisso aos seus desejos.
Todos devem se lembrar que no início do atual governo brasileiro grupos bolsonaristas referiam-se a “ucranizar” o Brasil. Seu objetivo declarado era promover uma guinada para a direita. Mas não seria errado supor que tinham a intenção de destituir poderes da República, algo promovido pelo grupo ucraniano que lhes servia de modelo (em 2014). A ultra direita ucraniana era chauvinista, francamente antirrussa, antissemita e antiglobalização. Além do que, é bom lembrar que agrupamentos políticos como o Pravy Sector promoviam treinamento militar, que ofereciam a correligionários de outros países. A militante bolsonarista, muito evidente no início do mandato presidencial atual, Sara Winter, proclamava a quem queria ouvir e a quem não queria também, que ela própria teria recebido treinamento na Ucrânia, com esse pessoal.
Putin e seu circulo de apoiadores alega que ao derrubar, em 2014, um presidente legalmente eleito, os ucranianos tiveram uma atitude fascista, de nacionalismo extremo, com caráter de antiglobalização, além de chauvinista. De fato, esse perfil político tem se manifestado em muitos países, podendo ser uma ameaça séria às instituições democráticas. Contudo, a invasão russa não se deu por aqueles que poderíamos chamar de “bons motivos”. Em nenhum momento o governo russo preocupou-se com a democracia, mesmo porque o próprio presidente russo não é um exemplo acabado de democrata radical… Ele manipulou e manipula as leis e os tribunais russos, colocando-os a serviço de seus interesses, não do interesse do aperfeiçoamento da democracia russa, muito menos do sistema democrático como concepção e prática política. Aristóteles já dizia, há mais de dois mil anos, que o sistema democrático baseia-se, antes de tudo, em “governar por turnos”, isto é, em haver revezamento de indivíduos e correntes políticas no poder. Oferecer veneno e cadeia aos adversários – o que tem acontecido na Rússia – não é, exatamente, a melhor maneira de estimular o desenvolvimento da democracia, convenhamos.
Não deixa de ser irônico que Putin não esperava por Zelinsky no poder. Um não político (era ator, antes de ser presidente, imitava e caricaturava presidentes na tevê, entre outras atividades artísticas) no poder, um cidadão com antecedentes familiares judaicos, não podia e não pode ser chamado de fascista ou de antissemita. Mas, como a lógica formal não é problema para governos autoritários, Putin e seu círculo de poder fingem que o presidente ucraniano é de extrema direita. Não é. E agora, para coroar a falta de sentido de algumas acusações, além de garantirem que os governantes ucranianos podem ser antissemitas e judeus (!) um ministro russo acaba de afirmar que Zelinsky pode ser fascista, embora judeu, pois até Hitler tinha sangue judaico. O absurdo é evidente. Mas, não se trata apenas de atentado à lógica. É também um atentado às milhões de vítimas do nazismo. Além de infeliz, imbecil, grosseira, agressiva, a frase de uma autoridade russa fere todas as pessoas de bom senso no mundo, as de bom caráter, as sensíveis, todas as que têm compromisso com verdade. E, devo deixar muito claro, sou um apreciador da cultura russa, amo seus escritores – vários assassinados por Stalin – seus músicos, suas orquestras, seus cineastas, seus dançarinos.
Contudo, como neto de imigrantes, que só escaparam das câmaras de gás nazistas, perpetradas pelo mesmo Hitler a quem o ministro russo se refere como tendo sague judeu, eu me sinto no direito e no dever moral de solicitar pedido formal de desculpas por parte dessa autoridade. Minha avó Sara só escapou do Holocausto, com seus nove filhos, porque o Brasil permitiu que para cá ela viesse. Foi um bom investimento do país: hoje somos, entre netos, bisnetos e tataranetos dela mais de duzentos bons brasileiros que trabalham aqui como médicos, professores, empresários, técnicos, dentistas, editores, artistas, ente outras profissões.
Sim, a Ucrânia talvez não possa se vangloriar de seu passado democrático, de ser um país aberto para minorias culturais e étnicas. Sim, durante a II Guerra Mundial nem sempre colaborou com as democracias; na verdade, esteve mais perto da Alemanha nazista e há casos terríveis de massacres perpetrados por ucranianos contra minorias nessa época e até antes da guerra. Contudo, ter ficado do “lado certo” contra o nazismo não dá à Rússia carta branca para invadir seus vizinhos, estados independentes, mesmo que não goste de seus governantes. E inventar mentiras contra ucranianos e outros povos não é digno de um país e um povo tão relevantes quanto o russo.
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JAIME PINSKY: Historiador, professor titular da Unicamp, autor ou coautor de 30 livros, diretor editorial da Editora Contexto. Autor de vários livros sobre preconceito, cidadania e escravidão. Organizador e coautor do livro “Novos Combates da História“.
O fim da carreira na França e o futuro da diplomacia no Brasil
Por Pedro de Abreu e Lima Florêncio*
Revista Interesse Nacional, maio 2022
Decisão de Macron de extinguir formação específica do corpo diplomático francês a fim de dar mais dinamismo à atuação externa do país abre questionamento sobre o ainda importante lugar dos diplomatas, mas não deve ser replicada em países como o Brasil
Em abril, antes das eleições presidenciais, Emmanuel Macron, como parte de sua reforma administrativa, extinguiu a carreira diplomática na França. Isso significa que, desde então, não se exige mais formação específica para o corpo diplomático francês, que passará a ser composto por funcionários de diversos ministérios e admitirá a possibilidade, inclusive, de funcionários recrutados do setor privado.
A decisão, que teve parca repercussão na mídia tradicional na França, contou com fortes reações no Ministério das Relações Exteriores. Diversos diplomatas prontamente reagiram com críticas contundentes. O receio maior seria a perda de excelência no serviço prestado pelos prestigiosos funcionários franceses. Macron quis, com a decisão, dar mais dinamismo à atuação externa do país, e ter a possibilidade de contar com corpo de funcionários com leque de expertise em diversos ramos do conhecimento e com histórico profissional mais amplo e variado em termos de atribuições. Esse objetivo, no entanto, para a maior parte dos críticos, causará prejuízo incomensurável no desempenho específico da função diplomática, que requer, para eles, profundos e dedicados anos de especialização.
Críticos dizem que medida causará prejuízo no desempenho específico da função diplomática, que requer profundos e dedicados anos de especialização
Será que não seria importante para o diplomata contar com formação e carreira específicas par o seu ofício? O que pode prenunciar essa decisão do governo francês?
Não se sabe ao certo quando exatamente surgiram os primeiros diplomatas, mas pode-se inferir com razoável grau de precisão que a função está intimamente vinculada com a premência de se evitar guerras. Os primeiros relatos de algum nível de especialização datam da necessidade do estabelecimento de regras mínimas para o envio de mensagens entre reinos e povoados distintos. Imprescindível preservar a segurança dos mensageiros para garantir que a mensagem chegaria. Com o tempo, os embaixadores passam a ser os próprios mensageiros, normalmente emissários de um rei específico com propostas de paz, de aliança, e quiçá algum matrimônio entre príncipes para consolidá-los. Normalmente esses funcionários eram pessoas de alta confiança dos mandatários e detinham ocupações prestigiosas nas cortes.
Com o maior intercâmbio entre países ocorre progressiva especialização do ofício diplomático e, na primeira metade do século XX, o Brasil e diversos outros países já passam a contar com carreira específica, com método de seleção meritocrático e curso de aperfeiçoamento próprio. Em 1945 cria-se o Instituto Rio Branco com a dupla missão de formar, promover o aperfeiçoamento dos diplomatas brasileiros e de constituir núcleo de estudos sobre a diplomacia e relações internacionais.
Em função da excelente formação de nossos diplomatas e do rigoroso processo seletivo, esses funcionários rapidamente destacam-se no seio da administração pública e no exterior. Nos anos 1980 e 1990, um giro rápido nos gabinetes dos altos escalões da esplanada dos ministérios em Brasília era garantia certa de encontro com embaixadores, ministros de segunda classe e conselheiros. Nos fóruns internacionais, da ONU à OMC, imperavam absolutos representando com competência, desenvoltura, independência e altivez os interesses nacionais. Nossa diplomacia era razão de orgulho, ilha de excelência da administração pública e reflexo da política acertada de investimento em carreiras típicas de Estado bem desenhadas, meritocraticamente selecionadas e com formação de qualidade.
Felizmente a carreira diplomática manteve a excelência, mas deixou de ser ilha, e o modelo foi replicado. Ao longo dos anos 1990, surgem diversas carreiras específicas em inúmeros ministérios. Carreiras bem estruturadas, em funções típicas de Estado, selecionadas por intermédio de competitivos concursos públicos e com programas de formação e aperfeiçoamento. O quadro da administração pública federal passa a progressivamente contar com servidores muito bem qualificados e formados, muitos com excelentes conhecimentos em línguas, e mestrado e doutorado em prestigiosas instituições no Brasil e no mundo.
Como resultado, hoje há menos diplomatas, em termos proporcionais, nos gabinetes de alto escalão da esplanada. Hoje eles concorrem nessas funções com analistas de comércio exterior, especialistas em políticas públicas e gestão governamental, analistas de planejamento e orçamento, funcionários do Banco Central e do Tesouro Nacional. No exterior, por sua vez, cada vez menos a performance do Brasil em fóruns internacionais depende do diplomata, cada vez menos necessário que ele avalie em profundidade o mérito dos assuntos, o conteúdo. Hoje é comum vermos em reuniões internacionais diversos funcionários do governo brasileiro comunicarem-se com desenvoltura e precisão sobre temas técnicos específicos da área de suas respectivas carreiras.
‘Ninguém melhor do que o diplomata para divulgar e representar o país perante nações amigas com pleno conhecimento de causa’
Isso significa que o ocorrido na França é um possível prenúncio de desdobramentos semelhantes no Brasil?
Provavelmente não. As dificuldades para eventual decisão nesse sentido são diversas. Em primeiro lugar, há determinadas tarefas específicas e particulares de negociação e de representação do país que dependem muito de conhecimento e formação especializada, e a burocracia brasileira tem ciência e valoriza isso. No auge de uma negociação de acordo regional de suma importância, por exemplo, logicamente que, munido da informação técnica de áreas específicas, caberá ao embaixador desenhar e implementar a estratégia mais efetiva para os interesses nacionais. Por outro lado, ninguém melhor do que o diplomata para divulgar e representar o país perante nações amigas com pleno conhecimento de causa.
Além disso, a retirada da formação direcionada e a possibilidade de nomeações de outros funcionários públicos pode dar margem a excessiva politização de uma carreira que prima pela excelência profissional. Outra dificuldade é de como ensejar racionais e eficazes mecanismos de progressão funcional para um corpo técnico que pode ter origens muito díspares.
Mas a resposta à questão formulada, acima, também vai depender muito de como os interesses e os embates das carreiras de Estado ocorrerão. Inevitável, por um lado, que as carreiras mais novas, empoderadas e com cada vez mais domínio e proeminência sobre áreas de conhecimento técnicas especializadas projetem-se ao exterior. Por outro lado, não se espera, tampouco, que os excelentes quadros do Itamaraty se contentem a cada vez menos se debruçar sobre o mérito de assuntos de suma importância para os interesses nacionais.
A situação, caso não resolvida, pode gerar constrangedores impasses. Suponhamos, hipoteticamente, o seguinte caso: Deve o Brasil, por exemplo, baixar suas tarifas de bens de capital, se isso gera maior eficiência a toda cadeia produtiva nacional? Um gestor federal ou analista de comércio exterior poderia dizer que sim, munido por análise técnica de impacto na economia nacional. Um diplomata, premido pela lógica da estratégia e do poder de barganha em negociações internacionais, pode alegar que a medida é precipitada, uma vez que o país se encontra em diversos fóruns de negociação. Não deveríamos, portanto, “ceder” sem antes de obtermos algo em troca. Logicamente que ambas “rationales” têm sua validade nos seus devidos ofícios e na lógica de pensamento própria das formações especificas.
O problema é justamente como acomodar essas lógicas distintas. A solução perpassa, como na maioria das situações concretas do dia-a-dia, por algum nível de contemporização. A acomodação racional e menos traumática demanda, por uma lado, que as novas carreiras de Estado, valorizem e respeitem o ofício da representatividade tradicional, estratégica e especializada, essencial, sem sombra de dúvida. Por outro lado, fundamental também que os diplomatas aceitem que na complexidade do mundo globalizado e interdependente de hoje, cada vez mais ele depende do conhecimento técnico específico de qualidade, que não pode dominar na íntegra.
Lógico que atualmente não há nenhuma perspectiva de mudança no Brasil da carreira que, de acordo com Raymond Aron, congrega as funções públicas por excelência, junto com os militares. Além das razões acima, o prestígio e a tradição também são fatores preponderantes. Vale, no entanto, manter acompanhamento constante dos resultados da reforma francesa, que podem trazer louváveis ensinamentos, no futuro, para o Brasil.
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*Pedro de Abreu e Lima Florêncio é especialista em políticas públicas e gestão governamental do Ministério da Economia, atualmente em exercício no CADE. Formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP), e em direito pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Possui mestrado em direito econômico internacional pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, e doutorado em direito, com ênfase em regulação e direito econômico, pela mesma instituição.
Um novo paper que complementa dois outros sobre o tema do momento:
4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na íntegra na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/O_Brasil_e_a_guerra_de_agressão_da_Rússia_contra_a_Ucrânia_2022_)
O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia
Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022)
Introdução: o panorama mundial nas primeiras décadas do século XXI
Vamos partir da seguinte constatação: o mundo andava muito aborrecido, com tudo de ruim que andava acontecendo desde a Grande Recessão dos países desenvolvidos na primeira década deste século, a partir de 2008. O mundo tinha se emocionado um pouco com as crises financeiras dos países emergentes nos anos finais do século e do milênio anterior: crise no México, nos países asiáticos, no próprio Brasil, moratória russa, falência do modelo cambial argentino e, para coroar o século XX, e o milênio anterior, o bug do ano 2000, que foi mais um blimp do que um bang. Depois entramos numa modorra capaz de adormecer os economistas, que sempre foram capazes de prever dez das três crises que efetivamente ocorreram: a China começou a crescer vertiginosamente, em seguida à sua admissão na OMC, em 2001, e todo mundo ficou contente, inclusive o Big Brother americano: as empresas ocidentais estavam ganhando dinheiro como nunca com a produção barata no gigante econômico chinês, o historiador Niall Ferguson previa a consolidação da Chimerica, a estreita complementaridade recíproca entre China e Estados Unidos, e o Brasil de Lula era inundado com um oceano de dólares, com a soja a 600 dólares a tonelada e o minério de ferro a quase 200. Um mundo chato, que parecia crescer indefinidamente, tanto que economistas respeitados passaram a prever um ciclo inédito de crescimento em moto perpétuo.
(...)
As grandes rupturas nos equilíbrios internacionais e os novos arranjos pós-Ucrânia
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O Brasil, o direito internacional e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia
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O Brasil e o processo multilateral em torno do conflito na Ucrânia
(...)
Pronunciei-me sobre a posição adotada pelo Brasil desde o início do conflito num artigo publicado pelo blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association, que abordava igualmente outras questões de direito internacional e de posições adotadas pelo Brasil: “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil” (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/).
Nesta próxima sexta-feira, eu e meu antigo chefe em diversos postos no Itamaraty e no exterior, o embaixador Rubens Barbosa, mais o economista Juliano Ferreira, discutiremos sobre o impacto da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia no Brasil.
Estou preparando um texto para a ocasião, como sempre faço, mas não o lerei.
Tomar lições de democracia de um país que sempre se vangloriou de ser a maior democracia estável do mundo, há mais de dois séculos, mas que atualmente enfrenta problemas com o seu próprio sistema político-eleitoral, contestado por uma imensa maioria do GOP, o partido Republicano, pode ser instrutivo, mas também pode ser humilhante para o Brasil, que possui uma democracia de menor qualidade, mas um sistema eleitoral dos mais seguros e efetivos do mundo.
Os americanos estão dizendo para confiarmos em nossos sistema. Não precisariam, se não fosse um chefe de Estado e de governo que se esforça, todos os dias, para lançar dúvidas sobre esse sistema que o elegeu muitas vezes, assim como toda a sua família, para cargos que talvez não mereçam...
Paulo Roberto de Almeida
Queremos eleições livres e justas no Brasil, diz subsecretária de Estado dos EUA
Crédito, EPA - Legenda da foto: Militantes de direita pedem golpe militar na Avenida Paulista durante manifestações do 7 de setembro
No momento em que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) volta a lançar dúvidas sobre o processo eleitoral, sugerindo que os militares deveriam supervisionar a contagem de votos do pleito presidencial de 2022, a subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland, afirmou em entrevista exclusiva à BBC News Brasil que, no Brasil, "o que precisa acontecer são eleições livres e justas, usando as estruturas institucionais que já serviram bem a vocês (brasileiros) no passado".
Nuland, responsável por assuntos políticos na diplomacia americana comandada por Antony Blinken, esteve há poucas semanas no Brasil, junto a uma delegação americana de alto nível. Os diplomatas dos dois países trataram, entre outros temas, de cooperação na área de defesa e de agricultura.
Na ocasião, os americanos voltaram a expressar "confiança na democracia brasileira". Segundo Nuland, no entanto, ela alertou o governo e a oposição sobre o risco de interferência russa nas eleições deste ano.
Na semana passada, a agência de notícias Reuters noticiou que, em julho de 2021, o diretor da agência de inteligência americana, a CIA, William Burns, teria advertido assessores diretos de Bolsonaro de que o presidente, que àquela altura já levantava dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral, deveria deixar de questionar a integridade das eleições no país.
Tanto Bolsonaro como o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que teria estado presente na conversa, negam que ela tenha acontecido.
Crédito, Divulgação/Departamento de Estado; Legenda da foto: Victoria Nuland, subsecretária de Estado dos EUA
Questionada sobre o que os EUA fariam em caso de uma tentativa de golpe no país, Nuland afirmou: "Queremos eleições livres e justas em países ao redor do mundo e, particularmente, nas democracias. Julgamos a legitimidade daqueles que se dizem eleitos com base em se a eleição foi livre e justa e se os observadores, internos e externos, concordam com isso. Então, queremos ver, para o povo brasileiro, eleições livres e justas no Brasil".
Ao citar observadores externos, Nuland toca indiretamente em mais um ponto sensível no atual debate político brasileiro. Depois que o TSE remeteu dezenas de convites para instituições estrangeiras acompanharem o pleito, em outubro, o Itamaraty reclamou do convite à União Europeia, e o TSE teve de recuar. Bolsonaro também disparou críticas públicas à presença dos observadores, que acompanham eleições brasileiras ao menos desde 1994.
Brasil e EUA vivem uma "recalibragem" de suas relações, depois do mal-estar causado nos americanos pela visita do presidente brasileiro a Moscou em fevereiro, dias antes de o líder russo Vladimir Putin ordenar a invasão da vizinha Ucrânia. Entre diplomatas brasileiros existe a expectativa de que Bolsonaro e Biden se falem pela primeira vez pessoalmente em Los Angeles (EUA), em junho, durante a Cúpula das Américas.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista, editada por concisão e clareza.
BBC News Brasil - Os EUA mudaram recentemente de tom em relação à Rússia: falam em 'enfraquecer' o país, enviam altos funcionários e parlamentares (como a presidente da Câmara, Nancy Pelosi) a Kiev, estão treinando soldados ucranianos. Não existe o risco de que essa nova postura contribua para o discurso de Putin de que esta é uma guerra do Ocidente contra a Rússia e aumente as chances de uma guerra nuclear? O que há para os EUA ganharem com essa nova abordagem?
Victoria Nuland -Eu diria que nosso tom em relação à Rússia é uma resposta direta ao fato de que Putin e seus militares invadiram a Ucrânia e à agressão cruel que estão perpetrando no país, incluindo os tipos de crimes de guerra que temos visto em Bucha e Kramatorsk etc. E os Estados Unidos, junto com o Brasil e muitos outros países, 141 países, foram ao Conselho de Segurança da ONU e à Assembleia Geral da ONU e disseram 'não' à agressão da Rússia.
Portanto, temos que chamar as coisas pelos seus nomes, e isso não é apenas uma guerra cruel contra a Ucrânia, mas uma violação de todos os princípios da carta da ONU e da soberania e integridade territorial dos países. Estamos defendendo o Estado de Direito, as regras globais que levaram à paz e à segurança por tantos anos e que a Rússia está violando flagrantemente agora.
Crédito, Reuters Legenda da foto: Biden e Putin se reuniram em Genebra em meados de 2021, em uma que reunião durou menos do que era previsto e não impediu o início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022
BBC News Brasil - O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, favorito para vencer as eleições de 2022 segundo pesquisas eleitorais, deu uma entrevista recente à revista Time em que critica o presidente dos EUA Joe Biden por não ter embarcado em um avião para Moscou para tentar dissuadir o líder russo Vladimir Putin da guerra. Como os EUA recebem essa crítica?
Nuland - Bem, em primeiro lugar, o presidente Biden falou com o presidente Putin duas, três, quatro vezes antes desta guerra, argumentando com ele. Como você deve se lembrar, os EUA descobriram esses planos de guerra no final de outubro e começaram a alertar o mundo em novembro, dezembro, janeiro, fevereiro que Putin tinha esses planos.
E durante esse período, o presidente Biden trabalhou muito para tentar convencer o presidente Putin a não ir à guerra, e em vez disso, seguir um caminho diplomático, trabalhar conosco, trabalhar com aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), trabalhar com a Ucrânia, negociar quaisquer preocupações que ele tinha sobre as visões de segurança russas na Ucrânia. E nos oferecemos para ajudar. Tivemos uma rodada de conversas.
Enviamos uma proposta de dez páginas analisando todos os tipos de coisas, como preocupações (russas) com armas ocidentais, etc. Mas, em vez de vir à mesa diplomática, o presidente Putin optou por invadir e invadir de uma maneira muito, muito sangrenta. Portanto, não acreditamos que ele esteja ouvindo alguém.
BBC News Brasil - O presidente brasileiro Bolsonaro sugeriu ao governo turco recentemente uma missão conjunta a Moscou para participar das negociações para o fim da guerra. Os EUA diriam que essa tentativa é bem-vinda?
Nuland -Não temos dificuldade com nenhum líder global tentando convencer Putin a acabar com esta guerra. E vários já tentaram. O presidente Putin não está ouvindo. Esse é o problema. Então, torna-se uma questão de, se ao ir a Moscou você não for muito cuidadoso, parece estar dando apoio à guerra de Putin, especialmente visto que ele não mostrou nenhuma evidência de mudança de rumo com telefonemas e visitas recentes.
BBC News Brasil - Cerca de uma semana antes do início da guerra na Ucrânia, dois grandes líderes da América Latina, os presidentes da Angentina e do Brasil, foram a Moscou para se encontrar com Putin. O que isso diz sobre as relações dos EUA com esses países da região?
Nuland -Sabíamos que essas visitas iriam acontecer. Exortamos tanto o Brasil quanto a Argentina a darem a Putin a mesma mensagem que o presidente Biden estava enviando a ele e aos funcionários russos em todos os níveis, pública e privadamente, de que esta guerra seria um desastre, não apenas para a Ucrânia, mas para a Rússia, para a liderança de Putin e para sua economia e sua posição militar. E nosso entendimento é que em ambas as visitas, ambos os líderes, tentaram argumentar com Putin, mas ele não estava ouvindo. Então este é o problema, Putin não está ouvindo ninguém.
BBC News Brasil - Teremos eleições presidenciais este ano no Brasil. Os EUA têm alguma preocupação ou motivo para acreditar que os russos tentarão interferir ou se intrometer no processo?
Nuland - Obviamente, temos preocupações. Vimos a Rússia se intrometer em eleições em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos e na América Latina. Por isso, em minha recente visita ao Brasil, exortei o governo a ser extremamente vigilante, e a oposição também, para garantir que forças externas não estejam manipulando seu ambiente eleitoral de forma alguma. Isso precisa ser uma eleição de brasileiros para brasileiros, sobre seu próprio futuro.
Crédito, Reuters Legenda da foto: Assim como aconteceu com Trump 2020 nos EUA, o presidente Bolsonaro está lançando dúvidas sobre o processo eleitoral no Brasil antes do pleito
BBC News Brasil - Assim como aconteceu em 2020 nos EUA, Bolsonaro está lançando dúvidas sobre o processo eleitoral no Brasil de antemão, exigindo a participação do Exército na apuração dos votos e dizendo que pode não reconhecer os resultados. Como os EUA veem esse tipo de declaração?
Nuland -Acreditamos que o Brasil tem um dos sistemas eleitorais mais fortes da América Latina. Vocês têm instituições fortes, salvaguardas fortes, uma base legal forte. Então, o que precisa acontecer são eleições livres e justas, usando suas estruturas institucionais que já serviram bem a vocês no passado. Temos confiança no seu sistema eleitoral. Os brasileiros também precisam ter confiança.
BBC News Brasil - O que os EUA fariam caso alguma tentativa de subversão dos resultados eleitorais acontecesse no país?
Nuland -Queremos eleições livres e justas em países ao redor do mundo e particularmente nas democracias. Julgamos a legitimidade daqueles que se dizem eleitos com base em se a eleição foi livre e justa e se os observadores, internos e externos, concordam com isso. Então, queremos ver, para o povo brasileiro, eleições livres e justas no Brasil. Vocês têm uma longa tradição nisso. E isso é o mais importante para manter a força do Brasil daqui para frente.
BBC News Brasil - Os fertilizantes são um suprimento crítico para a produção de alimentos e o Brasil enfrenta a falta do produto, importado principalmente da Rússia. Os EUA apoiariam a criação de algum corredor seguro ou um salvo-conduto para navios russos carregados de fertilizantes para o Brasil, como o presidente brasileiro solicitou recentemente à diretora da Organização Mundial do Comércio?
Nuland -O fato de haver uma escassez global de fertilizantes - e uma escassez no Brasil - é resultado direto da decisão de Putin de lançar essa guerra. No meu entendimento, a única coisa que impede o fertilizante russo de chegar ao mercado é a guerra que Putin lançou.
Então, o que os Estados Unidos estão tentando fazer é trabalhar com países como o Brasil. E o secretário Blinken terá uma reunião, para a qual o Brasil está convidado, em algumas semanas sobre alimentação, segurança e fertilizantes etc., para ajudar países como o Brasil que precisam de fertilizantes. E então, com fertilizantes, podemos ajudar a alimentar o mundo, porque também temos muitos países com insegurança alimentar que dependem de grãos vindos da Ucrânia.
Quando eu estive no Brasil, nós trabalhamos em um projeto do Departamento de Agricultura dos EUA, para ver como vocês usam os fertilizantes nas lavouras (brasileiras). Estamos tentando aumentar a produção de fertilizantes nos EUA.
Estamos trabalhando com o Canadá e outros países que podem ajudar, para acelerar isso, para que vocês tenham uma safra muito forte, para poder alimentar a si mesmos e seus parceiros de exportação habituais, mas também possa ajudar a alimentar o mundo, (para o Brasil) ser generoso com alimentos, como já foi com o petróleo, com o aumento da produção brasileira de petróleo neste momento de necessidade para o mundo.
Henry Kissinger ‘We are now living in a totally new era’
Henry Kissinger Cold war strategist discusses Russia, the Ukraine war and China at the FTWeekend Festival in Washington Henry Kissinger says there is insufficient discussion about the risk of nuclear weapons
Interview conducted by Edward Luce in Washington
This is the edited transcript of a discussion between Henry Kissinger, former US secretary of state and national security adviser, and Edward Luce, Financial Times US national editor, which took place on May 7 in Washington.
Financial Times: Earlier this year, we commemorated the 50th anniversary of the Nixon visit to China, the Shanghai communique. You, of course, were the organiser, the orchestrator of this Sino-US agreement. And it was a major shift in the cold war: you split China from Russia. It feels like we’ve gone 180 degrees. And now Russia and China are back in a very tight relationship. My opening question to you is: are we in a new cold war with China?
Henry Kissinger: At the time we opened to China, Russia was the principal enemy — but our relations with China were about as bad as they could be. Our view in opening to China was that it was unwise, when you have two enemies, to treat them exactly alike. What produced the opening were tensions that developed autonomously between Russia and China. [Former Soviet Union head of state Leonid] Brezhnev could not conceive that China and the United States could get together. But Mao, despite all his ideological hostility, was ready to begin conversations. In principle, the [Sino-Russian] alliance is against vested interests, it’s now established. But it does not look to me as if it is an intrinsically permanent relationship.
FT: I take it that it would be in America’s geopolitical interest to encourage more distance between Russia and China. Is this wrong?
HK: The geopolitical situation globally will undergo significant changes after the Ukraine war is over. And it is not natural for China and Russia to have identical interests on all foreseeable problems. I don’t think we can generate possible disagreements but I think circumstances will. After the Ukraine war, Russia will have to reassess its relationship to Europe at a minimum and its general attitude towards Nato. I think it is unwise to take an adversarial position to two adversaries in a way that drives them together, and once we take aboard this principle in our relationships with Europe and in our internal discussions, I think history will provide opportunities in which we can apply the differential approach. That doesn’t mean that either of them will become intimate friends of the west, it only means that on specific issues as they arise we leave open the option of having a different approach. In the period ahead of us, we should not lump Russia and China together as an integral element.
FT: The Biden administration is framing its grand geopolitical challenge as being democracy versus autocracy. I’m picking up an implicit hint that it's the wrong framing?
HK: We have to be conscious of the differences of ideology and of interpretation that exists. We should use this consciousness to apply it in our own analysis of the importance of issues as they arise, rather than make it the principal issue of confrontation, unless we are prepared to make regime change the principal goal of our policy. I think given the evolution of technology, and the enormous destructiveness of weapons that now exist, [seeking regime change] may be imposed on us by the hostility of others, but we should avoid generating it with our own attitudes.
FT: You have probably more experience than any person alive of how to manage a stand-off between two nuclear-armed superpowers. But today’s nuclear language, which is coming thick and fast from [Russian president Vladimir] Putin, from people around him, where do you put that in terms of the threat we are facing today?
HK: We are now [faced with] with technologies where the rapidity of exchange, the subtlety of the inventions, can produce levels of catastrophe that were not even imaginable. And the strange aspect of the present situation is that the weapons are multiplying on both sides and their sophistication is increasing every year. But there’s almost no discussion internationally about what would happen if the weapons actually became used. My appeal in general, on whatever side you are, is to understand that we are now living in a totally new era, and we have gotten away with neglecting that aspect. But as technology spreads around the world, as it does inherently, diplomacy and war will need a different content and that will be a challenge.
FT: You’ve met Putin 20 to 25 times. The Russian military nuclear doctrine is they will respond with nuclear weapons if they feel that the regime is under existential threat. Where do you think Putin’s red line is in this situation?
HK: I have met Putin as a student of international affairs about once a year for a period of maybe 15 years for purely academic strategic discussions. I thought his basic convictions were a kind of mystic faith in Russian history . . . and that he felt offended, in that sense, not by anything we did particularly at first, but by this huge gap that opened up with Europe and the east. He was offended and threatened because Russia was threatened by the absorption of this whole area into Nato. This does not excuse and I would not have predicted an attack of the magnitude of taking over a recognised country. I think he miscalculated the situation he faced internationally and he obviously miscalculated Russia’s capabilities to sustain such a major enterprise — and when the time for settlement comes all need to take that into consideration, that we are not going back to the previous relationship but to a position for Russia that will be different because of this — and not because we demand it but because they produced it.
FT: Do you think Putin’s getting good information and if he isn’t what further miscalculations should we be preparing for?
HK: In all these crises, one has to try to understand what the inner red line is for the opposite number . . . The obvious question is how long will this escalation continue and how much scope is there for further escalation? Or has he reached the limit of his capability, and he has to decide at what point escalating the war will strain his society to a point that will limit its fitness to conduct international policy as a great power in the future. I have no judgment when he comes to that point. When that point is reached will he escalate by moving into a category of weapons that in 70 years of their existence have never been used? If that line is crossed, that will be an extraordinarily significant event. Because we have not gone through globally what the next dividing lines would be. One thing we could not do in my opinion is just accept it.
FT: You’ve met [Chinese president] Xi Jinping many times and his predecessors — you know China well. What lessons is China drawing from this?
HK: I would suspect that any Chinese leader now would be reflecting on how to avoid getting into the situation in which Putin got himself into, and how to be in a position where in any crisis that might arise, they would not have a major part of the world turned against them.
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Type:
Call for Papers
Date:
May 20, 2022
Rethinking International Communism Conference: History and Legacies
Friday 2 - Saturday 3 September 2022
Liverpool John Moores University, Liverpool, UK
The AHRC-funded research network Rethinking International Communism aims to bring together scholars from a variety of disciplinary backgrounds who are engaged in the study of international communism and the Communist International (Comintern) between the world wars. Taking stock of recent trends in the literature, and examining new research agendas, the network provides a forum to reflect upon the past, the present and the future of Comintern studies.
This two-day conference in Liverpool invites participants to contribute to this reassessment of the history and legacies of the Comintern. We welcome papers of 20 minute duration which explore any aspect of Comintern history, and/or which address the legacies of the Communist International in the post-1945 era.
The conference keynote address will be delivered by Professor Brigitte Studer, Institute of History, University of Bern.
While for many years the history of the Comintern tended to trace a familiar path, with discussion dominated by the ‘centre-periphery’ debate, in more recent times scholarly attention has been increasingly drawn to new problems, informed by new approaches and methodologies. Pathbreaking work has been undertaken in the fields of anti-colonialism and anti-racism, and into the efforts of various Comintern organisations, and individuals, to construct a new international proletarian culture as a necessary step towards global revolution. Researchers too have continued to transform our understanding of the language, symbolism and practices of internationalism within national communist movements and parties. Increasingly, the old paradigms for making sense of the Comintern are proving inadequate. Bringing together a range of scholars across disciplinary boundaries, this conference aims to provide a step toward a new global reassessment of international communism.
Despite the dissolution of the Comintern in 1943, communist internationalism did not, of course, cease. Yet, the Comintern’s disciplined organisational model, and its ‘script for revolution’, appear to have been rapidly jettisoned by those seeking to effect radical political and social change. However, in this field too, scholars have increasingly emphasised important continuities. In contrast to the historical curiosity to which it has long been relegated, researchers have in recent years opened up new paths for understanding both the short and longer term legacies of the Communist International. This has notably been the case in the study of various specific political, social, cultural and aesthetic campaigns and movements in the post-1945 era which, at least in part, owed their existence to Comintern organisations and activists.
300 word abstracts, together with a brief 1 page CV, should be submitted to Comintern2022@ljmu.ac.ukby the extended deadline of Friday 20 May 2022. Successful applicants will be informed soon thereafter.
Contact Info:
Dr Thomas Beaumont, Liverpool John Moores University