...como nunca antes na história do mundo, nossa diplomacia generosa sempre salva perseguidos e oprimidos em qualquer contexto (falta cuidar de alguns milhões de norte-coreanos).
Em todo caso, aqui vai o registro da matéria:
Lula influenciou decisão de suspender execução de iraniana, diz Amorim
O Estado de S.Paulo, 08 de setembro de 2010
Segundo o chanceler, 'gestões' do presidente tiveram 'peso' na decisão de Teerã.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta quarta-feira que as "gestões" do presidente Luiz Inácio da Silva em contato com o governo do Irã tiveram "peso" na suspensão da sentença de apedrejamento de Sakineh Ashtiani.
"Não podemos atribuir só a nós, mas certamente as gestões do presidente Lula terão tido um peso, como creio que já tiveram até agora, inclusive no que já aconteceu até hoje", disse o chanceler, em Brasília.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã anunciou nesta quarta-feira que a sentença de morte por apedrejamento contra Sakineh Ashtiani foi suspensa, embora seu caso continue sendo analisado e ela ainda possa ser executada.
Aos 43 anos e mãe de dois filhos, a iraniana foi condenada pela Justiça à morte por prática de adultério e a dez anos de prisão por participação no assassinato de seu marido.
Amorim voltou a defender o diálogo com o governo de Mahmoud Ahmadinejad, acusado por organismos internacionais de não respeitar os direitos humanos.
O governo brasileiro tem sido criticado internamente e por entidades internacionais em função de sua aproximação com o Irã e por supostamente ignorar possíveis abusos em direitos humanos no país.
"A maneira de defender a melhora real das pessoas não é com estridências e com condenações fáceis. É mantendo o diálogo, que é o que nós fazemos", disse o ministro. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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Por outro lado, tem sempre gente desagradável, que não acredita nas palavras do nosso chanceler:
Amorim: a mistificação ornada pela adulação subserviente. Ou: ele apedreja a verdade!
Reinaldo Azevedo, 9.09.2010
Lula tem uma penca de ministros que seguem, assim, mais ou menos o seu padrão moral. Mas poucos, talvez nenhum outro, são tão exímios na arte da mistificação, ornada pela adulação subserviente, quanto Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores.
A proximidade de Lula com Ahmadinejad calcinou a imagem internacional do petista. Por que o governo brasileiro foi tão longe nesse apoio? Esse, para mim, ainda é um dos grandes mistérios da República. Como vocês viram, a tirania iraniana suspendeu a condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani. Leiam agora o que vai no G1. Volto em seguida:
Por Iara Lemos:
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirmou na tarde desta quarta-feira (8) que “as gestões do presidente Lula” tiveram um peso na decisão das autoridades iranianas de suspender a sentença de morte por apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada por adultério. Durante as negociações com o Irã, o governo brasileiro chegou a oferecer asilo político para Sakineh. Apesar da oferta, a proposta foi rejeitada pelo governo iraniano. Ashtiani, 43 anos, foi condenada à morte por apedrejamento sob a acusação de adultério e a dez anos de prisão por cumplicidade no assassinato de seu marido.
“Não podemos atribuir só a nós, mas certamente as gestões do presidente Lula terão tido um peso, como creio que já tiveram até agora, inclusive no que já aconteceu até hoje”, afirmou o chanceler. Segundo Amorim, o governo Brasileiro foi comunicado oficialmente da suspensão da sentença de morte da iraniana pelo governo do Irã ainda nesta manhã. O ministro considerou como positiva a decisão.
Mesmo assim, afirmou que suspensão por parte do governo é apenas “um passo”. Nesta manhã, Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria iraniana, afirmou que o veredito sobre o caso foi suspenso, mas que está sendo revisto. “Eu acho que é positivo que tenha sido suspenso. Evidentemente isso é apenas um passo. Nós sempre atuamos nisso com muito cuidado, porque a maneira real de defender a melhora real das pessoas não é com estridências, não é com condenações fáceis, mas mantendo uma atitude de diálogo como sempre fizemos. Se der certo, ótimo”, disse o chanceler brasileiro.
Amorim reafirmou que é necessário, contudo, respeitar a soberania dos países. Mesmo assim, ele se mostrou confiante em que o governo iraniano suspenda em definitivo a condenação de Sakineh. “Vamos respeitar a soberania dos países e ao mesmo tempo esperar que um assunto como esse, que tocou na sensibilidade do mundo inteiro, possa ter uma boa conclusão”, afirmou.
Comento [Reinaldo Azevedo]:
Viram? Sempre contem com o governo brasileiro para apoiar uma ditadura e impedir que os ditadores matem as pessoas por apedrejamento. Lula pode abraçar tiranos que prendem as pessoas por crimes de opinião. Juta-se àqueles que os deixam morrer à míngua nas prisões. Mas apedrejamento? Ah, isso não!
Bem, ao ponto: Amorim está só tentando pegar uma carona num fato que tem repercussão mundial. A influência brasileira nessa história é nenhuma! Na entrevista ao Jornal da Globo no dia 1º, Dilma Rousseff já havia afirmado que Lula atuara para libertar prisioneiros políticos de Cuba. Mentira! Lula apoiou os irmãos Castro. Quem pressionou em favor da libertação dos presos foram o governo espanhol e a Igreja Católica.
O governo Lula tem, de fato, muitas características únicas, que não repetem as de antecessores: nunca antes nestepaiz um governo foi capaz de mentir com tamanha cara-de-pau. Nisso, eles são absolutamente inimitáveis, inigualáveis, insuperáveis.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Cuba - Fidel: "apagar tudo e comecar outra vez..."
Bem, não foi exatamente o que ele disse, mas esta é a conclusão lógica a tirar das declarações de Fidel, abaixo transcritas. Em todo caso, ele está um pouco atrasado ao reconhecer algo que qualquer inteligência mediana teria detectado muito antes. Um atraso de meio século, aproximadamente...
'Modelo cubano não funciona mais nem mesmo para nós', diz Fidel
Do G1, em São Paulo, 8.09.2010
Ex-presidente admitiu que o modelo não tem apelo para ser exportado.
Especialista diz que declaração deve abrir espaço para reformas em Cuba.
Reportagem da revista "Atlantic" com a entrevista de Fidel Castro publicada na internet nesta quarta-feira (8).
O ex-presidente cubano Fidel Castro admitiu que o "modelo cubano" não tem mais apelo para ser exportado para outros países. A declaração faz parte de uma longa entrevista que concedeu à revista americana "The Atlantic Monthly", cuja segunda parte foi publicada nesta quarta-feira (8). Questionado pelo o jornalista Jeffrey Goldberg se achava que o modelo cubano ainda poderia ser exportado para algum lugar, Fidel respondeu: "O modelo cubano não funciona mais nem mesmo para nós".
Segundo Julia Sweig, diretora de pesquisas sobre a América Latina no Council of Foreign Relations, que acompanhou o jornalista em sua viagem a Cuba, "ele não rejeitou as ideias da revolução", mas apenas admitiu que sob o "modelo cubano" o Estado tem um papel grande demais na vida econômica do país. Segundo ela, trata-se de uma forma de abrir espaço para que Raúl Castro, irmão de Fidel que está no poder desde que ele saiu da Presidência, faça as reformas necessárias para abrir a economia do país.
=============
Bem, parece que os cubanos vão ter de começar outra vez...
Como se diz em espanhol: "borrón y cuenta nueva", ou seja, vamos apagar tudo e começar de novo. Talvez eles tenham de retornar a 1958.
Já poderiam ter feito há mais de duas décadas, segundo o modelo chinês, mas para isso eles não poderiam ter tido Fidel, apenas tecnocratas normais, como os mandarins chineses, que são muito eficientes para administrar a transição ao capitalismo. Talvez os cubanos queiram importar alguns mandarins para ensiná-los como fazer...
Transcrevo aqui algumas mensagens já mandadas aos irmãos Castro:
Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu
Via Política (16.11.2009).
Relação de Originais n. 2061; Publicados n. 933.
Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo
Via Política (17.08.2009).
Relação de Originais n. 2033; Publicados n. 918.
A História não o Absolverá: Fidel Castro e seus amigos brasileiros: um caso de renúncia à inteligência?
Espaço Acadêmico (Maringá, a. VI, n. 64, set. 2006).
Relação de Trabalhos n. 1661; Publicados n. 695.
E agora um trabalho sobre a ilha, propriamente, e seu processo econômico e político:
Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 94, março 2009).
Reproduzido, sob o titulo de “Os Mitos da Revolução Cubana”, na revista Acadêmica Espaço da Sophia (ano 2, n. 25, p. 1-17, março de 2009).
Relação de Originais n. 1986; Originais n. 894.
'Modelo cubano não funciona mais nem mesmo para nós', diz Fidel
Do G1, em São Paulo, 8.09.2010
Ex-presidente admitiu que o modelo não tem apelo para ser exportado.
Especialista diz que declaração deve abrir espaço para reformas em Cuba.
Reportagem da revista "Atlantic" com a entrevista de Fidel Castro publicada na internet nesta quarta-feira (8).
O ex-presidente cubano Fidel Castro admitiu que o "modelo cubano" não tem mais apelo para ser exportado para outros países. A declaração faz parte de uma longa entrevista que concedeu à revista americana "The Atlantic Monthly", cuja segunda parte foi publicada nesta quarta-feira (8). Questionado pelo o jornalista Jeffrey Goldberg se achava que o modelo cubano ainda poderia ser exportado para algum lugar, Fidel respondeu: "O modelo cubano não funciona mais nem mesmo para nós".
Segundo Julia Sweig, diretora de pesquisas sobre a América Latina no Council of Foreign Relations, que acompanhou o jornalista em sua viagem a Cuba, "ele não rejeitou as ideias da revolução", mas apenas admitiu que sob o "modelo cubano" o Estado tem um papel grande demais na vida econômica do país. Segundo ela, trata-se de uma forma de abrir espaço para que Raúl Castro, irmão de Fidel que está no poder desde que ele saiu da Presidência, faça as reformas necessárias para abrir a economia do país.
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Bem, parece que os cubanos vão ter de começar outra vez...
Como se diz em espanhol: "borrón y cuenta nueva", ou seja, vamos apagar tudo e começar de novo. Talvez eles tenham de retornar a 1958.
Já poderiam ter feito há mais de duas décadas, segundo o modelo chinês, mas para isso eles não poderiam ter tido Fidel, apenas tecnocratas normais, como os mandarins chineses, que são muito eficientes para administrar a transição ao capitalismo. Talvez os cubanos queiram importar alguns mandarins para ensiná-los como fazer...
Transcrevo aqui algumas mensagens já mandadas aos irmãos Castro:
Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu
Via Política (16.11.2009).
Relação de Originais n. 2061; Publicados n. 933.
Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo
Via Política (17.08.2009).
Relação de Originais n. 2033; Publicados n. 918.
A História não o Absolverá: Fidel Castro e seus amigos brasileiros: um caso de renúncia à inteligência?
Espaço Acadêmico (Maringá, a. VI, n. 64, set. 2006).
Relação de Trabalhos n. 1661; Publicados n. 695.
E agora um trabalho sobre a ilha, propriamente, e seu processo econômico e político:
Falácias acadêmicas, 6: o mito da Revolução Cubana
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 94, março 2009).
Reproduzido, sob o titulo de “Os Mitos da Revolução Cubana”, na revista Acadêmica Espaço da Sophia (ano 2, n. 25, p. 1-17, março de 2009).
Relação de Originais n. 1986; Originais n. 894.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
O dueto Brasil-China - Rolf Kuntz
O dueto Brasil-China
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 8 de setembro de 2010
As contas externas são o ponto mais frágil da economia brasileira neste momento. De janeiro a agosto as exportações de mercadorias foram 28% maiores que as de um ano antes. O valor importado ficou 48,6% acima do registrado nos oito meses correspondentes de 2009. A tendência havia sido observada na fase de rápido crescimento até 2008, foi interrompida na recessão e voltou a manifestar-se com a recuperação da atividade. Embora involuntariamente, o Brasil vem cumprindo o papel proposto para os emergentes pelo Grupo dos 20 (G-20) e pelos principais dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI): os superavitários deveriam depender mais do mercado interno e importar mais. A mensagem foi dirigida principalmente à China, a maior potência exportadora, mas também o Brasil acabou seguindo o caminho recomendado.
No segundo trimestre, as importações brasileiras de mercadorias foram 56% maiores que as de um ano antes, enquanto as exportações ficaram 29% acima das de igual período de 2009. No caso da China, as diferenças em relação ao ano anterior foram, respectivamente, 44% e 41%. Proporcionalmente, a resposta do Brasil ao apelo do FMI e dos países mais desenvolvidos foi maior que a chinesa. Na Índia, as taxas quase empataram: 33% mais para as importações e 32% mais para as exportações.
Só um dos Brics, a Rússia, tomou caminho diferente, faturando 43% mais que no segundo trimestre do ano passado e gastando 33% mais com as compras de produtos estrangeiros. Ninguém pode acusar o Brasil de não colaborar para a recuperação da economia mundial – embora a China tenha sido a principal potência beneficiada pelas importações brasileiras.
Também a conta de serviços tem piorado, principalmente por causa da valorização do real. Essa conta inclui, entre outros itens, as viagens ao exterior, agora mais baratas por causa do dólar barato. No segundo trimestre, a contribuição do setor externo – transações com mercadorias e serviços – foi negativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), com receitas 7,3% superiores às de abril a junho de 2009 e despesas 38,8% mais altas.
O descompasso entre importações e exportações foi apontado como o principal motivo de preocupação pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em seu comentário sobre as contas nacionais do período de abril a junho.
A redução do crescimento econômico para um ritmo equivalente a 4,9% ao ano foi avaliada como boa notícia pelos analistas do instituto, assim como pelos economistas do governo. Embora ainda vigorosa, é uma expansão mais sustentável que a do trimestre anterior. Mas por quanto tempo será sustentável, se o balanço de pagamentos continuar em deterioração?
As projeções do mercado financeiro e das consultorias para as transações correntes continuam sombrias. No último relatório Focus, baseado em pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC), o déficit estimado para este ano aumentou ligeiramente, para US$ 50 bilhões. A previsão estava em US$ 49 bilhões duas semanas antes. Para 2011 o valor projetado foi mantido em US$ 58 bilhões.
De janeiro a julho, o déficit na conta corrente, US$ 28,3 bilhões, superou o de todo o ano passado, US$ 24,3 bilhões. Em 12 meses, o valor chegou a US$ 43,8 bilhões, equivalentes a 2,2% do PIB. Entre 2003 e 2007 a conta havia sido superavitária.
Nos 12 meses até julho entraram US$ 26,7 bilhões de investimento direto estrangeiro. O resto do buraco foi coberto com outros tipos de financiamento – empréstimos e aplicações especulativas -, menos estáveis e menos saudáveis para o País.
Segundo a análise do Iedi, a piora das contas externas é atribuível ao câmbio valorizado e a outros fatores “enormemente” prejudiciais à competitividade da produção nacional.
Não se discutem no texto esses fatores, mas são em geral bem conhecidos e compõem o chamado “custo Brasil”. Para eliminar ou atenuar esses problemas, o próximo governo terá de trabalhar duramente. Parte da solução dependerá de inovações legislativas e do aumento da eficiência do setor público. Tudo isso vai exigir muita disposição para negociar, principalmente quando se tratar da alteração de impostos estaduais e da racionalização dos gastos da União. Desse esforço poderão depender também a política de juros e, indiretamente, a evolução do câmbio. O dólar barato tem contribuído para a contenção da alta de preços. Se a situação do câmbio mudar, o governo terá de cuidar de outros fatores inflacionários, a começar pelo desequilíbrio de suas contas.
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 8 de setembro de 2010
As contas externas são o ponto mais frágil da economia brasileira neste momento. De janeiro a agosto as exportações de mercadorias foram 28% maiores que as de um ano antes. O valor importado ficou 48,6% acima do registrado nos oito meses correspondentes de 2009. A tendência havia sido observada na fase de rápido crescimento até 2008, foi interrompida na recessão e voltou a manifestar-se com a recuperação da atividade. Embora involuntariamente, o Brasil vem cumprindo o papel proposto para os emergentes pelo Grupo dos 20 (G-20) e pelos principais dirigentes do Fundo Monetário Internacional (FMI): os superavitários deveriam depender mais do mercado interno e importar mais. A mensagem foi dirigida principalmente à China, a maior potência exportadora, mas também o Brasil acabou seguindo o caminho recomendado.
No segundo trimestre, as importações brasileiras de mercadorias foram 56% maiores que as de um ano antes, enquanto as exportações ficaram 29% acima das de igual período de 2009. No caso da China, as diferenças em relação ao ano anterior foram, respectivamente, 44% e 41%. Proporcionalmente, a resposta do Brasil ao apelo do FMI e dos países mais desenvolvidos foi maior que a chinesa. Na Índia, as taxas quase empataram: 33% mais para as importações e 32% mais para as exportações.
Só um dos Brics, a Rússia, tomou caminho diferente, faturando 43% mais que no segundo trimestre do ano passado e gastando 33% mais com as compras de produtos estrangeiros. Ninguém pode acusar o Brasil de não colaborar para a recuperação da economia mundial – embora a China tenha sido a principal potência beneficiada pelas importações brasileiras.
Também a conta de serviços tem piorado, principalmente por causa da valorização do real. Essa conta inclui, entre outros itens, as viagens ao exterior, agora mais baratas por causa do dólar barato. No segundo trimestre, a contribuição do setor externo – transações com mercadorias e serviços – foi negativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), com receitas 7,3% superiores às de abril a junho de 2009 e despesas 38,8% mais altas.
O descompasso entre importações e exportações foi apontado como o principal motivo de preocupação pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em seu comentário sobre as contas nacionais do período de abril a junho.
A redução do crescimento econômico para um ritmo equivalente a 4,9% ao ano foi avaliada como boa notícia pelos analistas do instituto, assim como pelos economistas do governo. Embora ainda vigorosa, é uma expansão mais sustentável que a do trimestre anterior. Mas por quanto tempo será sustentável, se o balanço de pagamentos continuar em deterioração?
As projeções do mercado financeiro e das consultorias para as transações correntes continuam sombrias. No último relatório Focus, baseado em pesquisa divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC), o déficit estimado para este ano aumentou ligeiramente, para US$ 50 bilhões. A previsão estava em US$ 49 bilhões duas semanas antes. Para 2011 o valor projetado foi mantido em US$ 58 bilhões.
De janeiro a julho, o déficit na conta corrente, US$ 28,3 bilhões, superou o de todo o ano passado, US$ 24,3 bilhões. Em 12 meses, o valor chegou a US$ 43,8 bilhões, equivalentes a 2,2% do PIB. Entre 2003 e 2007 a conta havia sido superavitária.
Nos 12 meses até julho entraram US$ 26,7 bilhões de investimento direto estrangeiro. O resto do buraco foi coberto com outros tipos de financiamento – empréstimos e aplicações especulativas -, menos estáveis e menos saudáveis para o País.
Segundo a análise do Iedi, a piora das contas externas é atribuível ao câmbio valorizado e a outros fatores “enormemente” prejudiciais à competitividade da produção nacional.
Não se discutem no texto esses fatores, mas são em geral bem conhecidos e compõem o chamado “custo Brasil”. Para eliminar ou atenuar esses problemas, o próximo governo terá de trabalhar duramente. Parte da solução dependerá de inovações legislativas e do aumento da eficiência do setor público. Tudo isso vai exigir muita disposição para negociar, principalmente quando se tratar da alteração de impostos estaduais e da racionalização dos gastos da União. Desse esforço poderão depender também a política de juros e, indiretamente, a evolução do câmbio. O dólar barato tem contribuído para a contenção da alta de preços. Se a situação do câmbio mudar, o governo terá de cuidar de outros fatores inflacionários, a começar pelo desequilíbrio de suas contas.
Irresponsabilidade fiscal - Marcelo de Paiva Abreu
Democracia e responsabilidade fiscal
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 6.9.2010
Depois de longo período em que prevaleceram políticas macroeconômicas sérias, houve significativa deterioração da política fiscal ao final do segundo mandato do presidente Lula, especialmente durante o atual processo eleitoral. Clara indicação de que o governo está disposto a ser imprudente para garantir o sucesso nas urnas. Os sinais de deterioração são conhecidos: transferências maciças de recursos a bancos públicos para a concessão de empréstimos subsidiados de prioridade discutível e aumento de gastos de custeio, inclusive os injustificáveis, no quadro de políticas anticíclicas, para citar só dois exemplos notórios.
E, no entanto, os mercados relevantes têm deixado de refletir integralmente essas preocupações. Não seria o primeiro episódio em que visões de curto prazo prevalecem sobre a prudência que se deveria impor com base em análises de prazo mais longo. Nessas circunstâncias viceja o comportamento de manada, e o que seria normalmente classificado como otimismo infundado toma a forma de demonstração compulsória de patriotismo.
Para os que têm memória longa, é só lembrar a euforia empresarial que marcou a posse do ministro Delfim Netto em 1979, vitorioso em seu embate com o prudente, e impopular, Mário Henrique Simonsen. Ao final, deu "xabú" na planejada fuite en avant: a economia cresceu espetacularmente no ano seguinte, mas, depois, espetaculares mesmo foram a recessão e a aceleração inflacionária.
Outra razão para que os mercados reflitam de forma inadequada as vulnerabilidades de prazo mais longo tem que ver com o sucesso da política econômica prudente. Há grande folga para acomodar erros futuros de política econômica. Isso não quer dizer, entretanto, que os danos deixem de ser significativos e não possam afetar o crescimento futuro da economia.
As manifestações dos dois principais candidatos à Presidência da República tendem a agravar as preocupações. O candidato da oposição, ao manifestar desde cedo na pré-campanha as suas reservas quanto à política monetária, abriu espaço para que a candidata oficial ilegitimamente se apresentasse como defensora de um Banco Central prudente. O candidato adotou a mesma postura de 2002: no melhor dos casos, reticência quanto às conquistas do governo Fernando Henrique Cardoso no terreno econômico. Em linha com a sua relutância em relação ao Plano Real, com sua atitude protecionista e sua discordância quanto a aspectos essenciais das políticas monetária e fiscal então propostas pelo Ministério da Fazenda. Na verdade, uma razão importante para explicar as dificuldades da sua candidatura é a falta de continuidade entre o que o governo do PSDB fez no período FHC e o que o governo do PSDB se propõe a fazer depois de 2010. Agora, já em meio à campanha, houve menções à necessidade de conter o aumento da carga tributária. Parece bem pouco e muito tarde.
A candidata da situação vem demonstrando crescente segurança nas suas manifestações sobre a economia. Desafortunadamente, a segurança não é justificada pela substância do que tem a dizer. Recentemente, perguntada sobre a necessidade de um ajuste fiscal, reagiu com veemência. "Sou contra que se faça ajuste fiscal agora no Brasil." "Déficit fiscal é regime de caixa." "Na despesa você sai cortando: aumento de salário mínimo, aumento de salário." "Tem um lado da receita que todo mundo esquece. Sabe o que você faz? Você aumenta imposto."
Nessa memorável "explicação" a referência essencial é a aumento da receita. Desde o início da década de 1990 a carga tributária tem aumentado - hoje excede 34% do PIB. No governo Lula cresceu em média 0,4% do PIB ao ano. É um peso substancial, especialmente quando se leva em conta a qualidade dos serviços prestados pelo Estado. E tenderá a aumentar rapidamente, especialmente se forem implementadas as ideias da candidata quanto ao Estado no setor produtivo e ao relançamento de taxação vinculada a gastos na área de saúde.
Em outros períodos da história brasileira, foi difícil a convivência entre democracia e responsabilidade fiscal. Na Terceira República, entre 1945 e 1964, déficits públicos crescentes foram financiados de forma inflacionária. Houve enorme complacência quanto às finanças públicas e prevalência de visões de curto prazo com resultados desastrosos, primeiro econômicos, depois políticos. A lição a ser aprendida é que responsabilidade fiscal é condição necessária à preservação da democracia.
Sempre será possível continuar aumentando a carga tributária e enfrentar os custos econômicos e políticos que decorrerão da decisão. Mas não parece o caminho mais acertado. A capacidade de escolher entre objetivos alternativos é requisito fundamental para o exercício da Presidência da República. Para conter o ritmo de crescimento da carga tributária será necessário escolher entre despesas. A candidata deveria ter visão menos rudimentar do que seja ajuste fiscal. Um governo responsável vai ter, sim, de fazer ajuste fiscal. Aceitar os custos de curto prazo para obter os benefícios de longo prazo.
*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular do Departamento de Economia da PUC-Rio.
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 6.9.2010
Depois de longo período em que prevaleceram políticas macroeconômicas sérias, houve significativa deterioração da política fiscal ao final do segundo mandato do presidente Lula, especialmente durante o atual processo eleitoral. Clara indicação de que o governo está disposto a ser imprudente para garantir o sucesso nas urnas. Os sinais de deterioração são conhecidos: transferências maciças de recursos a bancos públicos para a concessão de empréstimos subsidiados de prioridade discutível e aumento de gastos de custeio, inclusive os injustificáveis, no quadro de políticas anticíclicas, para citar só dois exemplos notórios.
E, no entanto, os mercados relevantes têm deixado de refletir integralmente essas preocupações. Não seria o primeiro episódio em que visões de curto prazo prevalecem sobre a prudência que se deveria impor com base em análises de prazo mais longo. Nessas circunstâncias viceja o comportamento de manada, e o que seria normalmente classificado como otimismo infundado toma a forma de demonstração compulsória de patriotismo.
Para os que têm memória longa, é só lembrar a euforia empresarial que marcou a posse do ministro Delfim Netto em 1979, vitorioso em seu embate com o prudente, e impopular, Mário Henrique Simonsen. Ao final, deu "xabú" na planejada fuite en avant: a economia cresceu espetacularmente no ano seguinte, mas, depois, espetaculares mesmo foram a recessão e a aceleração inflacionária.
Outra razão para que os mercados reflitam de forma inadequada as vulnerabilidades de prazo mais longo tem que ver com o sucesso da política econômica prudente. Há grande folga para acomodar erros futuros de política econômica. Isso não quer dizer, entretanto, que os danos deixem de ser significativos e não possam afetar o crescimento futuro da economia.
As manifestações dos dois principais candidatos à Presidência da República tendem a agravar as preocupações. O candidato da oposição, ao manifestar desde cedo na pré-campanha as suas reservas quanto à política monetária, abriu espaço para que a candidata oficial ilegitimamente se apresentasse como defensora de um Banco Central prudente. O candidato adotou a mesma postura de 2002: no melhor dos casos, reticência quanto às conquistas do governo Fernando Henrique Cardoso no terreno econômico. Em linha com a sua relutância em relação ao Plano Real, com sua atitude protecionista e sua discordância quanto a aspectos essenciais das políticas monetária e fiscal então propostas pelo Ministério da Fazenda. Na verdade, uma razão importante para explicar as dificuldades da sua candidatura é a falta de continuidade entre o que o governo do PSDB fez no período FHC e o que o governo do PSDB se propõe a fazer depois de 2010. Agora, já em meio à campanha, houve menções à necessidade de conter o aumento da carga tributária. Parece bem pouco e muito tarde.
A candidata da situação vem demonstrando crescente segurança nas suas manifestações sobre a economia. Desafortunadamente, a segurança não é justificada pela substância do que tem a dizer. Recentemente, perguntada sobre a necessidade de um ajuste fiscal, reagiu com veemência. "Sou contra que se faça ajuste fiscal agora no Brasil." "Déficit fiscal é regime de caixa." "Na despesa você sai cortando: aumento de salário mínimo, aumento de salário." "Tem um lado da receita que todo mundo esquece. Sabe o que você faz? Você aumenta imposto."
Nessa memorável "explicação" a referência essencial é a aumento da receita. Desde o início da década de 1990 a carga tributária tem aumentado - hoje excede 34% do PIB. No governo Lula cresceu em média 0,4% do PIB ao ano. É um peso substancial, especialmente quando se leva em conta a qualidade dos serviços prestados pelo Estado. E tenderá a aumentar rapidamente, especialmente se forem implementadas as ideias da candidata quanto ao Estado no setor produtivo e ao relançamento de taxação vinculada a gastos na área de saúde.
Em outros períodos da história brasileira, foi difícil a convivência entre democracia e responsabilidade fiscal. Na Terceira República, entre 1945 e 1964, déficits públicos crescentes foram financiados de forma inflacionária. Houve enorme complacência quanto às finanças públicas e prevalência de visões de curto prazo com resultados desastrosos, primeiro econômicos, depois políticos. A lição a ser aprendida é que responsabilidade fiscal é condição necessária à preservação da democracia.
Sempre será possível continuar aumentando a carga tributária e enfrentar os custos econômicos e políticos que decorrerão da decisão. Mas não parece o caminho mais acertado. A capacidade de escolher entre objetivos alternativos é requisito fundamental para o exercício da Presidência da República. Para conter o ritmo de crescimento da carga tributária será necessário escolher entre despesas. A candidata deveria ter visão menos rudimentar do que seja ajuste fiscal. Um governo responsável vai ter, sim, de fazer ajuste fiscal. Aceitar os custos de curto prazo para obter os benefícios de longo prazo.
*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular do Departamento de Economia da PUC-Rio.
Brasil-EUA: o rato e o elefante - uma outra versao da historia...
Bem, para a questão do mito, algo já está respondido aqui, sem necessariamente o concurso de um zoologista (mas talvez de quem entenda de outras espécies de ratos).
Quanto ao caso em si, também está feita a retificação: parece que a submissão só foi até 2001: em 2002 já éramos valentes, quem diria?!
Talvez os diplomatas tenham sentido os ares da mudança e criaram coragem.
Nada como um candidato macho para induzi-los a agir, mesmo sendo submissos...
Lulismo: a auto-referência a serviço da propagação da ignorância. Ou: de ratos e elefantes
Reinaldo Azevedo, 08.09.2010
Nem sempre a gente tem um exemplo tão claro, tão evidente, como no texto que vai abaixo, de como Lula, o Depredador de Instituições, seqüestra a história alheia, rouba para si o mérito de terceiros e ainda fala mal daquele que foi espoliado. E tudo com freqüente ajuda da imprensa. Leiam o que informa Fábio Amato na Folha Online. Volto em seguida.
*
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que os EUA e a União Européia aprenderam a respeitar o Brasil depois de disputas comerciais travadas na OMC (Organização Mundial do Comércio) assim como um elefante “tem medo e se borra” de um rato.
A declaração foi feita quando o presidente discursava no evento de inauguração de um armazém de grãos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em Uberlândia (MG). De acordo com Lula, no seu governo o Brasil passou a “brigar” contra nações mais desenvolvidas e influentes, contrariando pensamento de seus antecessores que diziam que o país não poderia enfrentar economias como a dos EUA por que “são muito grandes.”
“Um elefante é daquele tamanhão, a tromba dele vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto de um elefante para ver como o bicho tem medo e se borra”, disse Lula, depois de relatar as disputas travadas pelo Brasil na OMC envolvendo temas como açúcar e algodão.
“Eu acho que o que nós fizemos foi dizer para os americanos: nós respeitamos vocês, queremos vocês como parceiro privilegiado nosso, mas nós queremos também ser respeitados”, declarou o presidente, completando que o mesmo recado foi dado à União Européia.
O presidente ainda disse que “o Brasil nunca teve condições de andar de cabeça erguida como agora” e criticou seus antecessores ao afirmar que, antes dele, o país era governado por pessoas com a “mente colonizada.”
Em novembro de 2009, a OMC autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em até US$ 830 milhões em resposta aos subsídios concedidos por aquele país aos produtores de algodão. A medida determina que US$ 591 milhões sejam de produtos que terão a tarifa de importação reajustada e cerca de US$ 240 milhões em propriedade intelectual, que envolve marcas, patentes e direitos autorais que podem ser quebrados pelo Brasil.
A retaliação deveria ter começado em abril, mas foi adiada primeiro em duas semanas e depois em dois meses para que, a partir de um aceno americano com medidas paliativas, os dois países fechassem um acordo definitivo.Em junho, porém, o governo brasileiro decidiu suspender por mais dois anos e meio o processo de retaliação comercial a produtos e propriedade intelectual dos Estados Unidos, diante de um acordo provisório que prevê a diminuição até 2012 dos subsídios ilegais ao algodão.
Comento [Reinaldo Azevedo]:
Não estou culpando esse ou aquele, o repórter tampouco. Estou apontando um estado de coisas, caracterizando um tempo. Quem lê o texto acima na Folha Online, além de ser informado da boçalidade vocabular do “guia” de Elio Gaspari — com sua vocação para a escatologia —, imagina que a autorização dada pela OMC para o Brasil retaliar os EUA derivou de uma ação do governo Lula.
Pois é… Quem recorreu à OMC contra os subsídios que o governo americano dava a seus produtores de algodão foi… atenção!, O GOVERNO FHC. Aconteceu em 2002, e o julgamento definitivo só se deu no dia 2 de junho de 2008, com a autorização para a retaliação. Em vez de partir para o confronto, o governo Lula tem postergado a reação, tentando negociar, o que é o certo, diga-se — já escrevi aqui a respeito. Mas imaginem o que os “economistas” do PT não estariam dizendo agora caso fosse FHC a evitar “a punição” aos EUA. Seria acusado de se subordinar ao imperialismo.
Assim vai se construindo uma farsa, nos seus pequenos detalhes. Quanto ao “elefante” que “se borra” (ai, ai…) de medo do “rato”, dizer o quê? Desconstruindo a metáfora em si, é preciso deixar claro: Lula está veiculando uma mentira. O Brasil tem hoje, no comércio mundial, praticamente a participação que tinha em 2002: variou de 1,1% para 1,2%. O valor das commodities é que cresceu brutalmente, o que foi bom para nós, mas Lula não tem nada com isso.
Quanto à coisa em si, É MENTIRA QUE ELEFANTES TENHAM MEDO DE RATOS. Trata-se de um mito, pura expressão de ignorância. Alguém deve ter visto alguma vez o pesado animal tentando pisar na minúscula e ágil criatura e supôs tratar-se de medo. O primeiro registro dessa bobagem em livro é de Plínio, o Velho, na enciclopédia “História Natural”. Segundo ele, o ódio do paquiderme pelo bichinho é tal que chega a recusar o feno em que o rato tenha passado. Plínio também achava que os elefantes tinham respeito pela religião.
Lula deve imaginar que o elefante de fato teme que o rato lhe entre tromba adentro — provável origem dessa tolice, temor idêntico, na seara política, que o EUA teriam do Brasil. Huuummm… Lula bem que tentou “entrar na tromba” de Obama no caso do Irã e até de Honduras. E levou uma trombada que o jogou a alguns metros de distância.
O lulismo é isto: a auto-referência a serviço da propagação da ignorância.
Quanto ao caso em si, também está feita a retificação: parece que a submissão só foi até 2001: em 2002 já éramos valentes, quem diria?!
Talvez os diplomatas tenham sentido os ares da mudança e criaram coragem.
Nada como um candidato macho para induzi-los a agir, mesmo sendo submissos...
Lulismo: a auto-referência a serviço da propagação da ignorância. Ou: de ratos e elefantes
Reinaldo Azevedo, 08.09.2010
Nem sempre a gente tem um exemplo tão claro, tão evidente, como no texto que vai abaixo, de como Lula, o Depredador de Instituições, seqüestra a história alheia, rouba para si o mérito de terceiros e ainda fala mal daquele que foi espoliado. E tudo com freqüente ajuda da imprensa. Leiam o que informa Fábio Amato na Folha Online. Volto em seguida.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que os EUA e a União Européia aprenderam a respeitar o Brasil depois de disputas comerciais travadas na OMC (Organização Mundial do Comércio) assim como um elefante “tem medo e se borra” de um rato.
A declaração foi feita quando o presidente discursava no evento de inauguração de um armazém de grãos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), em Uberlândia (MG). De acordo com Lula, no seu governo o Brasil passou a “brigar” contra nações mais desenvolvidas e influentes, contrariando pensamento de seus antecessores que diziam que o país não poderia enfrentar economias como a dos EUA por que “são muito grandes.”
“Um elefante é daquele tamanhão, a tromba dele vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto de um elefante para ver como o bicho tem medo e se borra”, disse Lula, depois de relatar as disputas travadas pelo Brasil na OMC envolvendo temas como açúcar e algodão.
“Eu acho que o que nós fizemos foi dizer para os americanos: nós respeitamos vocês, queremos vocês como parceiro privilegiado nosso, mas nós queremos também ser respeitados”, declarou o presidente, completando que o mesmo recado foi dado à União Européia.
O presidente ainda disse que “o Brasil nunca teve condições de andar de cabeça erguida como agora” e criticou seus antecessores ao afirmar que, antes dele, o país era governado por pessoas com a “mente colonizada.”
Em novembro de 2009, a OMC autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em até US$ 830 milhões em resposta aos subsídios concedidos por aquele país aos produtores de algodão. A medida determina que US$ 591 milhões sejam de produtos que terão a tarifa de importação reajustada e cerca de US$ 240 milhões em propriedade intelectual, que envolve marcas, patentes e direitos autorais que podem ser quebrados pelo Brasil.
A retaliação deveria ter começado em abril, mas foi adiada primeiro em duas semanas e depois em dois meses para que, a partir de um aceno americano com medidas paliativas, os dois países fechassem um acordo definitivo.Em junho, porém, o governo brasileiro decidiu suspender por mais dois anos e meio o processo de retaliação comercial a produtos e propriedade intelectual dos Estados Unidos, diante de um acordo provisório que prevê a diminuição até 2012 dos subsídios ilegais ao algodão.
Comento [Reinaldo Azevedo]:
Não estou culpando esse ou aquele, o repórter tampouco. Estou apontando um estado de coisas, caracterizando um tempo. Quem lê o texto acima na Folha Online, além de ser informado da boçalidade vocabular do “guia” de Elio Gaspari — com sua vocação para a escatologia —, imagina que a autorização dada pela OMC para o Brasil retaliar os EUA derivou de uma ação do governo Lula.
Pois é… Quem recorreu à OMC contra os subsídios que o governo americano dava a seus produtores de algodão foi… atenção!, O GOVERNO FHC. Aconteceu em 2002, e o julgamento definitivo só se deu no dia 2 de junho de 2008, com a autorização para a retaliação. Em vez de partir para o confronto, o governo Lula tem postergado a reação, tentando negociar, o que é o certo, diga-se — já escrevi aqui a respeito. Mas imaginem o que os “economistas” do PT não estariam dizendo agora caso fosse FHC a evitar “a punição” aos EUA. Seria acusado de se subordinar ao imperialismo.
Assim vai se construindo uma farsa, nos seus pequenos detalhes. Quanto ao “elefante” que “se borra” (ai, ai…) de medo do “rato”, dizer o quê? Desconstruindo a metáfora em si, é preciso deixar claro: Lula está veiculando uma mentira. O Brasil tem hoje, no comércio mundial, praticamente a participação que tinha em 2002: variou de 1,1% para 1,2%. O valor das commodities é que cresceu brutalmente, o que foi bom para nós, mas Lula não tem nada com isso.
Quanto à coisa em si, É MENTIRA QUE ELEFANTES TENHAM MEDO DE RATOS. Trata-se de um mito, pura expressão de ignorância. Alguém deve ter visto alguma vez o pesado animal tentando pisar na minúscula e ágil criatura e supôs tratar-se de medo. O primeiro registro dessa bobagem em livro é de Plínio, o Velho, na enciclopédia “História Natural”. Segundo ele, o ódio do paquiderme pelo bichinho é tal que chega a recusar o feno em que o rato tenha passado. Plínio também achava que os elefantes tinham respeito pela religião.
Lula deve imaginar que o elefante de fato teme que o rato lhe entre tromba adentro — provável origem dessa tolice, temor idêntico, na seara política, que o EUA teriam do Brasil. Huuummm… Lula bem que tentou “entrar na tromba” de Obama no caso do Irã e até de Honduras. E levou uma trombada que o jogou a alguns metros de distância.
O lulismo é isto: a auto-referência a serviço da propagação da ignorância.
Brasil-EUA: o rato e o elefante que se borra de medo...
A imagem do rato e do elefente é tradicional, mas ainda não a tinhamos visto aplicada às relações Brasil-EUA. Aliás, eu não tenho certeza de que os elefantes tem medo de ratos: pode ser mito, mas talvez algum zoólogo, ou ratólogo (elefantólogo também serve) poderia confirmar...
Quanto ao fato de todo mundo no Brasil, especialmente no Itamaraty, ser colonizado antes de 2003, parece que nunca antes neste país alguém tinha se lembrado de ser independente; éramos todos colonizados, assim por gosto de ser submisso, dependente, servil. Foi preciso vir um presidente muito macho para ordenar que parássemos de ser colonizados. Ainda bem...
Paulo Roberto de Almeida
Disputa na OMC
Lula compara EUA a um elefante que se 'borra' de medo de rato
Luiza Damé, enviada especial
O Globo, 08/09/2010 às 15h04m
"Um elefante é daquele tamanhão, a tromba do elefante vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto do elefante para ver como o bicho tem medo e se borra."
UBERLÂNDIA (MG) - Na inauguração de um armazém graneleiro da Conab, nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou os Estados Unidos a um elefante que tem medo de rato - o Brasil. Lula falava dos contenciosos do Brasil e dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre algodão e açúcar, afirmando que foi criticado por comprar briga com um país maior. Segundo Lula, o elefante é maior, mas "se borra" de medo do rato.
- Um elefante é daquele tamanhão, a tromba do elefante vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto do elefante para ver como o bicho tem medo e se borra. Eu acho que o que nós fizemos foi dizer para os americanos: nós respeitamos vocês, queremos como parceiro privilegiado nosso, mas queremos também ser respeitados. Dissemos para os europeus a mesma coisa. O Brasil nuca teve condições de andar de cabeça erguida como agora - afirmou Lula.
Segundo Lula, antes do seu governo havia uma mentalidade colonizada nos governantes brasileiros. Lula disse que houve um tempo em que o Brasil foi governado por "pessoas que pareciam inteligentes, mas tinham mentalidade colonizada" e seguiam as orientações dos Estados Unidos e da Europa.
- A independência que nós conquistamos em 1822, na verdade, ultrapassou o século 19 porque a mentalidade das pessoas ficou colonizada. Hoje o Brasil respeita os Estados Unidos, respeita a Europa, mas o Brasil é dono de seu nariz, anda de cabeça erguida e nós queremos competir em igualdade de condições - afirmou.
Lula inaugurou um graneleiro com capacidade para armazenar 100 mil toneladas de grãos e defendeu o fortalecimento da Conab. Para Lula, a empresa é fundamental para manter os estoques reguladores de alimentos no país.
Quanto ao fato de todo mundo no Brasil, especialmente no Itamaraty, ser colonizado antes de 2003, parece que nunca antes neste país alguém tinha se lembrado de ser independente; éramos todos colonizados, assim por gosto de ser submisso, dependente, servil. Foi preciso vir um presidente muito macho para ordenar que parássemos de ser colonizados. Ainda bem...
Paulo Roberto de Almeida
Disputa na OMC
Lula compara EUA a um elefante que se 'borra' de medo de rato
Luiza Damé, enviada especial
O Globo, 08/09/2010 às 15h04m
"Um elefante é daquele tamanhão, a tromba do elefante vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto do elefante para ver como o bicho tem medo e se borra."
UBERLÂNDIA (MG) - Na inauguração de um armazém graneleiro da Conab, nesta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou os Estados Unidos a um elefante que tem medo de rato - o Brasil. Lula falava dos contenciosos do Brasil e dos Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre algodão e açúcar, afirmando que foi criticado por comprar briga com um país maior. Segundo Lula, o elefante é maior, mas "se borra" de medo do rato.
- Um elefante é daquele tamanhão, a tromba do elefante vale uns dez ratos, mas coloca um ratinho perto do elefante para ver como o bicho tem medo e se borra. Eu acho que o que nós fizemos foi dizer para os americanos: nós respeitamos vocês, queremos como parceiro privilegiado nosso, mas queremos também ser respeitados. Dissemos para os europeus a mesma coisa. O Brasil nuca teve condições de andar de cabeça erguida como agora - afirmou Lula.
Segundo Lula, antes do seu governo havia uma mentalidade colonizada nos governantes brasileiros. Lula disse que houve um tempo em que o Brasil foi governado por "pessoas que pareciam inteligentes, mas tinham mentalidade colonizada" e seguiam as orientações dos Estados Unidos e da Europa.
- A independência que nós conquistamos em 1822, na verdade, ultrapassou o século 19 porque a mentalidade das pessoas ficou colonizada. Hoje o Brasil respeita os Estados Unidos, respeita a Europa, mas o Brasil é dono de seu nariz, anda de cabeça erguida e nós queremos competir em igualdade de condições - afirmou.
Lula inaugurou um graneleiro com capacidade para armazenar 100 mil toneladas de grãos e defendeu o fortalecimento da Conab. Para Lula, a empresa é fundamental para manter os estoques reguladores de alimentos no país.
Venezuela: ou vai ou racha, em direcao ao socialismo
Não foi exatamente isso que disse el comandante (outro...), mas foi algo equivalente.
Em todo caso, a hora se aproxima, e de fato será o tradicional "ou vai ou racha"...
Venezuela: Chávez exige un “viraje estratégico radical” para reforzar el sistema socialista
Infolatam, Caracas, 6 de septiembre de 2010
"Han intentado hacer una campañita de que soy antijudío (...); en verdad, respetamos y queremos al pueblo judío", dijo Chávez.
El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, exigió a sus seguidores, especialmente a sus ministros y viceministros, “un viraje estratégico radical” a favor del “poder popular”, convencido de que de ello depende su proyecto socialista.
“Exijo que a partir de este mismo instante hagamos un viraje estratégico radical en esto de las formación de las comunas (…); el éxito del proyecto socialista depende de muchos factores, pero uno de ellos, uno de los más sólidos, de los más grandes, de los más impactantes, es el proyecto de los consejos comunales y las comunas: el poder popular”, dijo en Táchira, estado fronterizo con Colombia.
Tras una jornada dominical de manifestaciones, acompañado de prácticamente todos sus ministros, de cara a las elecciones parlamentarias del próximo día 26, y de visitas a diversas organizaciones populares y empresas comunales, urbanas y rurales de la zona, el gobernante admitió que ha constatado que en organización popular “todavía no hemos avanzando lo hay que avanzar”.
Con el poder popular organizado se logrará, dijo Chávez, “evitar que los capitalistas vuelvan a tomar los gobiernos”.
“Lo que más debemos cuidar no es lo que hasta ahora hemos logrado. Lo que hemos logrado es positivo, pero es muy poco comparado con lo que vamos a lograr en el futuro. Entonces, lo que más debemos cuidar es el futuro”, insistió.
Em todo caso, a hora se aproxima, e de fato será o tradicional "ou vai ou racha"...
Venezuela: Chávez exige un “viraje estratégico radical” para reforzar el sistema socialista
Infolatam, Caracas, 6 de septiembre de 2010
"Han intentado hacer una campañita de que soy antijudío (...); en verdad, respetamos y queremos al pueblo judío", dijo Chávez.
El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, exigió a sus seguidores, especialmente a sus ministros y viceministros, “un viraje estratégico radical” a favor del “poder popular”, convencido de que de ello depende su proyecto socialista.
“Exijo que a partir de este mismo instante hagamos un viraje estratégico radical en esto de las formación de las comunas (…); el éxito del proyecto socialista depende de muchos factores, pero uno de ellos, uno de los más sólidos, de los más grandes, de los más impactantes, es el proyecto de los consejos comunales y las comunas: el poder popular”, dijo en Táchira, estado fronterizo con Colombia.
Tras una jornada dominical de manifestaciones, acompañado de prácticamente todos sus ministros, de cara a las elecciones parlamentarias del próximo día 26, y de visitas a diversas organizaciones populares y empresas comunales, urbanas y rurales de la zona, el gobernante admitió que ha constatado que en organización popular “todavía no hemos avanzando lo hay que avanzar”.
Con el poder popular organizado se logrará, dijo Chávez, “evitar que los capitalistas vuelvan a tomar los gobiernos”.
“Lo que más debemos cuidar no es lo que hasta ahora hemos logrado. Lo que hemos logrado es positivo, pero es muy poco comparado con lo que vamos a lograr en el futuro. Entonces, lo que más debemos cuidar es el futuro”, insistió.
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