sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Protecionismo nao protecionista, ou promovendo o bem estar (logica a parte...)

Não sei se vocês entenderam, mas eu deduzo que o Brasil está inventando uma fórmula genial para inovar a teoria econômica (e as práticas econômicas), ao criar um protecionismo não protecionista.
Ele também está revolucionando a lógica formal, e criando silogismos não silogistas, se vocês me entendem...
Tudo em nome do bem estar dos brasileiros, que poderão ficar contentes ao saber que estão pagando mais caro pelos seus automóveis, mas que isso é em seu próprio benefício, que isso, na verdade, aumentará a sua renda e lhes trará melhor e maior satisfação.
Mais uma vez inovamos no plano mundial, desta vez com sérias chances a um Prêmio Nobel (ou pelo menos o prêmio IgNobil...).
Paulo Roberto de Almeida

Mantega nega que governo tome medidas protecionistas
DCI, 23/09/2011

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem que o Brasil esteja tomando medidas protecionistas e disse que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) continuarão trabalhando para evitar que isso ocorra. Para o ministro, o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos não é uma medida que vai no sentido contrário. "Não, não é uma medida protecionista. É uma medida que estimula investimentos locais em tecnologia", disse o ministro em meio a risos e comentários de dezenas de jornalistas presentes durante entrevista coletiva após reunião dos BRICS.

Pouco antes, Mantega havia dito que é preciso evitar cair na tentação do protecionismo. "Sempre que a economia mundial entra em crise temos depreciação dos mercados e aumenta a tentação do protecionismo. Devemos combater e temos combatido isso. Deveremos continuar defendendo a liberdade de comércio para evitar o protecionismo", disse.

E acrescentou: "Entre os BRICS, estamos combinando que devemos intensificar o comércio, portanto eliminar eventuais barreiras comerciais entre nós". Mantega voltou a tratar como normal a forte desvalorização do real ante o dólar e das demais moedas emergentes.

Ontem, em nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) informou que a decisão judicial (liminar) obtida pela Montadora Chery na Justiça Federal do Espírito Santo, já está sendo combatida tanto pela Procuradoria Regional da Fazenda Nacional no Rio de Janeiro, como pela Procuradoria da Fazenda Nacional no Espírito Santo, através das medidas judiciais cabíveis perante o Tribunal Regional Federal da Segunda Região (RJ).

Sobre a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin 4.661), ajuizada ontem pelo Partido Democratas (DEM), junto ao Supremo Tribunal Federal, a PGFN comunicou que já elabora subsídios para atuação da Advocacia Geral da União, perante o STF, na defesa da constitucionalidade dos arts. 5º e 6º da MP 540 e Decr. 7.567/2011, que reduziram as alíquotas de IPI para os fabricantes de carros nacionais.

O Brasil brilhou na ONU - Editorial do Estadao

Um editorial positivo (contrastando com o que havia antes...)

A presidente impressionou

Editorial O Estado de S.Paulo, 23/09/2011
De volta ao hotel onde estava hospedada em Nova York, depois de pronunciar, como compete ao Brasil, o discurso de abertura de nova sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, a presidente Dilma Rousseff fez uma breve pausa antes de se preparar para a etapa seguinte de sua agenda - encontros bilaterais com os chefes de governo do Chile, Colômbia, França e Grã-Bretanha - e compartilhou uma Veuve Clicquot com membros de sua comitiva. Havia, de fato, o que comemorar. Durante 25 minutos, diante de líderes e representantes diplomáticos de 194 países, ela fizera um pronunciamento que impressionou pela limpidez, correção e maturidade, para expor a posição do País em relação às questões centrais da atualidade mundial.
Poderia se ressaltar ainda o vigor de sua fala, mas esse atributo, por si só, não torna mais respeitáveis os argumentos desfiados. É o caso do ranço ideológico que permeava, ano após ano, a contundente oratória do então presidente Lula naquela mesma tribuna. Foi um alívio não ouvir de Dilma, por exemplo, a descrição maniqueísta do mundo dividido entre a cupidez do Norte e os padecimentos do Sul, marca registrada da visão simplória de seu antecessor sobre a natureza e a solução dos problemas internacionais. Já para Dilma, mais importante do que execrar os culpados pela presente crise econômica é promover "um novo tipo de cooperação" entre países emergentes e desenvolvidos. Porque a crise, indicou, é também de "governança e coordenação política".
Trata-se de "substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo". De mais a mais, se os Estados Unidos são em boa parte responsáveis pela situação, "que pode se transformar em uma grave ruptura política e social", entre outras coisas porque permitem que conflitos partidários sustem a aprovação de projetos para revitalizar a economia, a China adota uma política cambial (mantendo o yuan artificialmente baixo) que desequilibra as relações de troca entre os países e, por extensão, retarda a recuperação econômica global. Lula pensaria duas vezes antes de fazer críticas ao governo com o qual imaginava, bisonhamente, celebrar uma aliança contra o capitalismo loiro, de olhos azuis.
Dilma não fez o Brasil de vítima da recessão que avança no exterior. Mas observou que, embora o País ainda tenha sido pouco afetado, "nossa capacidade de resistência não é ilimitada", o que reforça o sentido de urgência de seu apelo para a redefinição dos compromissos que regem as relações internacionais. Não foi apenas ao discorrer sobre a economia que ela - a primeira mulher a abrir uma temporada de debates no plenário da ONU - se guardou de separar os países entre "bons" e "maus". Respeitando os fatos, apontou que violações de direitos humanos existem em toda parte, sem exceção. "Reconheçamos esta realidade e aceitemos, todos, as críticas", exortou.
Como era de prever, reiterou a posição brasileira pela reforma do Conselho de Segurança, com a inclusão de representantes dos países em desenvolvimento entre os seus membros permanentes, defendendo explicitamente a aspiração do País a um lugar no colegiado. Também como se esperava, apoiou a reivindicação palestina ao reconhecimento do seu Estado e ao seu ingresso na ONU como membro de pleno direito - o tema principal desta 66.ª sessão do organismo. "Apenas uma Palestina livre e soberana", raciocinou, "poderá atender os legítimos anseios de Israel por paz com seu vizinhos, segurança em suas fronteiras e estabilidade política em seu entorno." Foi uma paráfrase da clássica tese de que Israel não terá para si o que insiste em negar à Palestina.
Escaldada, talvez, pelo fracasso da pretensão de Lula de mediar o conflito, Dilma se absteve de entrar nos meandros de sua eventual solução, salvo para consignar que o Brasil já reconhece o Estado palestino nas fronteiras de 1967. Com o pouco que disse, foi mais coerente do que o americano Barack Obama. Ele nem sequer aludiu a esse ponto, como se já não o tivesse endossado, ao condenar a iniciativa palestina no seu discurso mais pró-Israel desde que chegou à Casa Branca - onde espera continuar depois de 2012.

Mais inflacao e mais protecionismo pela frente: promessas explicitas...

Tudo o que se pode deduzir das palavras, ou do artigo em questão, é que teremos mais inflação, menos crescimento, e mais protecionismo pela frente. Ou seja, vamos continuar pagando caro pelos produtos e serviços que adquirirmos no Brasil.
Não existe nenhum risco de que o Brasil deixe de ser o Brasil no futuro previsível.
Vamos esperar mais uma ou duas décadas...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma critica os 'manipuladores de moeda' em artigo no 'FT'

Cristiano Romero - Valor Econômico, 23/09/2011
BRASÍLIA - Em artigo que será publicado amanhã no jornal inglês "Financial Times", a presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil vai “lutar contra os manipuladores de moeda”. Em tom duro e direto, a presidente afirmou que países em desenvolvimento que adotam regimes de câmbio flutuante, como o Brasil, estão sendo “ameaçados” e forçados a adotar medidas prudenciais para proteger suas economias e moedas nacionais.
“Não vamos sucumbir às pressões inflacionárias vindas de fora”, advertiu Dilma, para em seguida deixar claro que, neste momento, a redução da inflação não é um valor absoluto em si. O governo não abrirá mão do crescimento da economia. “Com firmeza e serenidade, vamos manter a inflação sob controle, sem ter que desistir do crescimento econômico, que é essencial se nós formos promover inclusão social.”
Em outro trecho do artigo, a presidente fez defesa enfática da presença do Estado na economia. “O país fortaleceu empresas controladas pelo Estado, como a Petrobras, a Eletrobrás e os bancos públicos, para induzir o desenvolvimento”, assinalou.
Dilma, que está fazendo neste momento, em Nova York, sua estreia num palco multilateral (a Assembleia-Geral das Nações Unidas), criticou os países ricos que, segundo ela, têm usado suas moedas-reserva para aumentar a liquidez internacional, “sem um sentido de bem coletivo”.
“Eles estão se valendo de taxas de câmbio desvalorizadas para assegurar sua participação nos mercados globais. Essa onda de desvalorizações competitivas, unilaterais, cria um círculo vicioso que leva ao protecionismo cambial e comercial”, acusou a presidente no artigo do FT.
Por fim, Dilma atacou o protecionismo, mas, ao mesmo tempo, defendeu a adoção de mecanismos de defesa comercial, amparados nas regras da Organização Mundial do Comércio (ONU), uma clara referência às medidas adotadas pelo governo na semana passada para banir a importação de carros da China e da Coreia do Sul. Segundo a presidente, o Brasil “não permitirá que sua indústria seja prejudicada pela competição desleal”.

 

Tentando entender declaracoes economicas: se alguem entendeu, me ajude, por favor...

Ainda estou tentando entender certas frases pronunciadas assim como quem está saindo da praia e se preparando para entrar no chuveiro. Ou como quem está chegando agora, de penetra, numa festa cujo anfitrião não é lá muito conhecido.
Ou quem desembarca de Marte, da Lua, wherever...
Vejamos: o que isto quer dizer?:
"...o governo enfrenta a volatilidade do dólar com tranquilidade, e avisou que “ainda” não foram adotadas medidas extraordinárias para acalmar o nervosismo do mercado."
PRA: O governo vai acalmar o nervosismo do mercado? My God: nosso governo é mais poderoso do que todo o G20 reunido...
E isto aqui?
"Também ainda não compramos dólares em quantidade, porque acredito que as coisas vão se ajustar. Mas estamos prontos, completamente prontos."
PRA: Ou seja: senhores especuladores, preparem-se. Podem vir quentes que eu estou fervendo. Portanto, tragam seus dólares, ao preço que for, que eu compro. Quanto mais melhor. E saibam que se aplicarem em títulos do nosso governo sempre tão generoso, vocês têm direito a uma gorda remuneração, cinco ou seis vezes do que vocês poderiam ganhar em qualquer outro mercado. Portanto, venham, seus felizardos...
E ainda esta aqui, sobre a Grécia?:
"Além de vender o Parthenon, o que mais que ela pode vender? As ilhas gregas? Não acho que essa solução seja correta. Eu não posso te convidar para uma festa de debutantes e não deixar você comer o bolo."
PRA: Bolo? Eu também quero. Mas a Grécia pretende ter o bolo e também comer o bolo? Uau! Essa é mágica, e sempre leio algo semelhante quando analistas abordam algum equívoco econômico, ou seja: comer o pudim e ainda assim ficar com o pudim. Entenderam?
Finalmente, vamos ajudar, mas não contem com o nosso dinheiro...
" 'Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia internacional não tenha um crescimento muito baixo. É uma responsabilidade dos emergentes, porque somos o segmento hoje que segura o crescimento internacional e queremos participar da solução'.
Dilma afirmou que o Brasil está disposto a contribuir politicamente para a solução da crise, mas não dará dinheiro de suas reservas para um fundo de estabilização:
— Vou muito claramente ao ponto: o governo brasileiro não acha que nós solucionaremos o problema europeu, por exemplo, colocando o dinheiro das nossas reservas no fundo de estabilização, porque não é esse o problema. Nós faremos qualquer medida que o mundo reparta entre si desde que fique claro qual é o caminho que querem adotar. Não achamos que a questão é falta de dinheiro, mas falta de recursos políticos."
PRA: Eu só gostaria de saber quanto valem esses "recursos políticos". Se a Grécia, por exemplo, quiser resolver definitivamente seus atuais problemas econômicos, com quais, ou quantos, "recursospolíticos" ela pode contar? E o Brasil, não vai dar nenhum?
Perguntas ao léu...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma: governo está pronto para agir no câmbio
Cristiane Jungblut e Fernanda Godoy
O Globo, 23/09/2011

NOVA YORK e WASHINGTON. A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o governo enfrenta a volatilidade do dólar com tranquilidade, e avisou que “ainda” não foram adotadas medidas extraordinárias para acalmar o nervosismo do mercado. Ela deixou claro que o governo está “completamente pronto” para isso, se necessário. A presidente, que encerrou ontem a viagem de cinco dias a Nova York, disse que o Brasil tem que se preparar para a nova fase da crise global, que será de recessão ou estagnação prolongada.
Dilma disse não acreditar que a economia internacional sairá da crise adotando mais medidas recessivas e cobrou uma solução imediata para a Grécia. Sobre a inflação brasileira, reiterou que a preocupação é constante. Segundo ela, como o Brasil sofre as consequências indiretas da crise na Europa e nos EUA, o país tem o direito de discutir as saídas:
— Não estamos tomando ainda nenhuma medida não usual. São as mesmas medidas de sempre, como swaps. Também ainda não compramos dólares em quantidade, porque acredito que as coisas vão se ajustar. Mas estamos prontos, completamente prontos. Não somos responsáveis pela crise e não somos aqueles que sofrem a crise diretamente, não há a menor dúvida. Mas também não se pode alegar que não soframos as consequências indiretas da crise — afirmou a presidente.
Após conversar com os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, e com o premier britânico, David Cameron, Dilma disse que a solução para a crise na Grécia não pode esperar até a reunião do G-20, em Cannes (França), nos dias 3 e 4 de novembro.
— É importantíssimo que a prioridade seja dada à solução da crise soberana, que se constitua um processo de resgate ordenado da Grécia, que delimite os efeitos e as consequências da situação grega, impedindo que ela afete outras economias.
A presidente criticou a política da União Europeia (UE) para a Grécia:
— Não creio em uma saída que obrigue a Grécia, sistematicamente, a fazer cortes de 20%, cortar todo o seu funcionalismo público, vender o Parthenon. Além de vender o Parthenon, o que mais que ela pode vender? As ilhas gregas? Não acho que essa solução seja correta. Eu não posso te convidar para uma festa de debutantes e não deixar você comer o bolo.
Dilma reiterou que o Brasil está sempre preocupado em combinar crescimento com controle da inflação.
— Tudo indica que a tendência internacional é deflacionária. Mais cedo ou mais tarde, essa característica vai ocorrer no mundo. Nossa preocupação com a inflação é perene. Sempre o nosso olhar está divido entre olhar a inflação e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento. E combinar essas duas formas de perceber a questão.
Para Mantega, alta do dólar é aversão a risco
Segundo ela, o país “não pode ficar pregando receituários para o mundo”, mas quer assumir suas responsabilidades:
— Uma das nossas responsabilidades é garantir que a economia internacional não tenha um crescimento muito baixo. É uma responsabilidade dos emergentes, porque somos o segmento hoje que segura o crescimento internacional e queremos participar da solução.
Dilma afirmou que o Brasil está disposto a contribuir politicamente para a solução da crise, mas não dará dinheiro de suas reservas para um fundo de estabilização:
— Vou muito claramente ao ponto: o governo brasileiro não acha que nós solucionaremos o problema europeu, por exemplo, colocando o dinheiro das nossas reservas no fundo de estabilização, porque não é esse o problema. Nós faremos qualquer medida que o mundo reparta entre si desde que fique claro qual é o caminho que querem adotar. Não achamos que a questão é falta de dinheiro, mas falta de recursos políticos.
Ao falar sobre guerra cambial, Dilma voltou a criticar a falta de articulação internacional para a formulação de políticas macroeconômicas, e criticou as políticas monetária e de juros do Fed (o banco central americano):
— Mesmo entendendo por que é importante para alguns países expandirem a sua política monetária e colocar seus juros a zero, este fato cria uma competitividade indevida. Enquanto houver esse tipo de procedimento, haverá guerra cambial.
Dilma disse que a valorização recente do dólar não foi um fato isolado no Brasil, mas sim um movimento internacional. Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou ontem como um movimento normal a desvalorização do real em relação ao dólar, como parte de uma aversão a risco:
— Estamos tendo um movimento paradoxal, porque até recentemente era o dólar que estava se desvalorizando. Mas quando o risco aumenta, o movimento é contrário.
COLABOROU Fernando Eichenberg



Brasil: para trás, a toda velocidade (num carro nacional...)

Lógica perversa
João Luiz Mauad
O Globo, 23/09/2011

Ainda no início de agosto, quando do lançamento do Plano Brasil Maior, já era possível imaginar as reais intenções do governo e apaniguados em termos de “política industrial”. Embora o objetivo oficial do plano fosse “aumentar a competitividade da indústria nacional, a partir do incentivo à inovação tecnológica e à agregação de valor”, tudo mais fazia crer que iríamos mesmo descambar para velhas políticas protecionistas, que, na prática, são exatamente o oposto do que normalmente chamamos de competitividade.
Dentre os vários sinais embutidos no escopo do plano, um era clamoroso: a nomeação de 14 representantes da dita sociedade civil para compor o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), que será o “nível superior de aconselhamento institucional do Plano”. Entre os empossados, estavam empresários, sindicalistas e presidentes de entidades de classe, porém, sugestivamente, não havia um representante sequer do grupo mais interessado: os consumidores (porque pagam a conta).
Pois bem, foram necessários apenas 45 dias para que o governo cedesse ao forte lobby e resolvesse aumentar as alíquotas do IPI para veículos importados, decisão que o jornal inglês “Financial Times” avaliou como possível início de uma guerra comercial. Pensando bem, esta talvez seja mesmo a definição mais adequada para uma decisão que foge completamente à lógica econômica mais elementar. Resta saber quem serão os vencedores e os perdedores.
Durante as guerras — não as metafóricas, mas as reais —, a primeira coisa que os exércitos procuram fazer é inutilizar as linhas de suprimento do inimigo. É absurdo, portanto, que em tempos de paz os nossos próprios governos façam exatamente aquilo que um eventual inimigo faria em tempo de guerra: obstruir a livre circulação de mercadorias.
A prosperidade de uma nação se mede não pelo dinheiro em circulação, mas pela quantidade de produtos e de serviços disponíveis para consumo, a preços acessíveis. Quanto mais abundante for o mercado, não importa a proveniência dos bens, maior será o conforto dos cidadãos. O comércio em geral é uma consequência lógica dos processos de especialização e divisão do trabalho. Quanto mais amplo for este processo, melhor para todo mundo. O fim de toda a atividade econômica é o consumo. O trabalho, portanto, é apenas o meio utilizado para alcançarmos aquele fim.
O foco da política econômica no trabalho e na produção, e não no consumo, está na raiz da maioria dos problemas econômicos criados pela intervenção dos governos na economia. É a oferta que deve estar voltada para as necessidades e anseios do consumidor, e não o inverso. Fazer do consumidor um mero instrumento para beneficiar empresas é estupidez.
A malfadada política nacionalista, apelidada de "substituição de importações", executada no passado através de reservas de mercado, cotas e tarifas de importação, controles de câmbio e desvalorizações periódicas da moeda, foi a principal responsável pelo retardamento técnico da nossa indústria. Progresso tecnológico exige investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento, fato que só ocorre em ambientes competitivos, onde as empresas brigam incessantemente pelas menores fatias do mercado, vale dizer, para satisfazer o consumidor. A lei de reserva de mercado para a informática ainda é o melhor exemplo de como esse tipo de política é contraproducente.
Ademais, a própria premissa de que se estaria preservando empregos domésticos através do aumento de tarifas alfandegárias é falsa, pois o dinheiro gasto a mais por um automóvel, para benefício de algumas poucas empresas, deixará de irrigar tanto a poupança (geradora de novos investimentos) quanto o consumo de outros bens e serviços - cuja produção gera empregos para outras categorias de trabalhadores.
Em resumo, a ação do governo acarretará os seguintes resultados: transferência forçada de renda dos consumidores para meia dúzia de empresários; proteção de uma indústria ineficiente; manutenção de alguns empregos num determinado setor, em detrimento de outros tantos em outros setores; redução de novos investimentos.
Será que a boa política econômica deve incentivar a escassez e a carestia, no lugar de facilitar a abundância e os preços baixos? Qual é a racionalidade dessas leis, que operam dentro de uma lógica perversa segundo a qual todos nós (consumidores) devemos ser forçados a sustentar empresas nacionais cujo maior “mérito” é dispor de um lobby agressivo e muito bem articulado?
JOÃO LUIZ MAUAD é administrador de empresas.

O Fim do Capitalismo: apertem os cintos, escrevam testamentos...

Trechos da crônica de uma colunista catastrofista (e anticapitalista), que prevê, a partir das profecias de uma economista conhecida, o fim do capitalismo, as we know it...
Vou me preparar: não só vou fazer meu testamento, doando todos os meus livros para o Asilo dos Velhinhos Socialistas, como vou antes tirar a poeira do meu Marx, para reler previsões ainda mais apocalípticas sobre o futuro do capitalismo (que só tem passado, a julgar pelas duas declinistas).
Nem vale a pena citar nome e endereço da colunista em questão. Más ideias não precisam ter copyright...
Paulo Roberto de Almeida

O colapso neoliberal 

por "X", em "Y", 22/09/2011

(...)

...o fato é que nenhuma economia sobrevive eternamente apenas com os truques da financeirização, com papéis girando no vazio, sem lastro nem produção material que a sustente.

Crise que, aliás, já está começando. Porque é isso que o mundo está fazendo há alguns meses: financeiramente despencando.

Como previu a economista Maria da Conceição Tavares, a extrema direita republicana pautou Obama; asfixiou a política fiscal da maior economia do planeta. O anúncio de cortes de gastos públicos da ordem de US$ 2,4 trilhões de dólares sobre um metabolismo econômico já terminal, equivale a uma espécie de suicídio. Só a convicção autista (e o oportunismo) do Tea Party no laissez-faire – cujo equivalente nativo é a mídia e seus luminares – poderia inspirar-se em lorotas para pautar os destinos da economia e da sociedade. Porque a maioria das pessoas continua acreditando nisso, eis a realidade.

Contudo, os mercados sabem que a coisa não funciona assim. Investidores e especuladores há muito farejaram o desastre e se anteciparam fugindo em massa de ações e títulos, candidatos a perder o valor de face na recessão em curso. Algumas fontes têm reforçado que os atuais arrochos, ajustes e cortes públicos são uma espécie de canto de sereia, de liquidação final antes da Queda irreversível, prevista para a segunda metade de 2000.

Segundo Conceição, não é um quadro como o de 1929: “ Aquele teve um ápice, com recidivas, mas ensejou um desdobramento político que inauguraria um outro ciclo, com Roosevelt e o New Deal. O que passamos agora é diferente de tudo isso.Este é um colapso enrustido, arrastado, latejante. Sim, você tem a comprovação empírica do fracasso neoliberal, mas e daí? São eles que estão no comando, ou será o quê esse arrocho fiscal nos EUA enfiado pelo Tea Party na goela do Obama? Vivemos um colapso do neoliberalismo sob o tacão dos ultra-neoliberais: isso é a treva! Não é um fascismo explícito, como se viu na Europa, em 30. Até porque o nazismo, por exemplo – e isso não abona em nada aquela catástrofe genocida –  postulava o crescimento com forte indução estatal. O que se tem hoje é o horror de um vazio político de onde emergem as criaturas do Tea Party e coisas assemelhadas na Europa. Não há ruptura na crise, mas sim, permanência e aprofundamento.”

Em entrevista recente à Carta Maior, ela comenta que em 2008 tivemos um efeito oposto: “Capitais em fuga migraram de várias partes do mundo, de filiais de bancos e multinacionais, para socorrer a quebra das matrizes na Europa e nos EUA. Então, o que houve foi uma desvalorização cambial; o Real ficou mais fraco. Isso facilitou as coisas pelo lado das exportações e da contenção de importações, ainda que quase tenham levado à breca aqueles que especulavam contra a moeda brasileira, fazendo hedge fictício para ganhar na desvalorização. Mas do ponto de vista macroeconômico, foi um quadro mais favorável. Hoje é o inverso.”

“Há uma conjunção de colapso do neoliberalismo com a desagregação política que realimenta e reproduz o processo.  Mas o poder que conta está em outras mãos, as dos responsáveis pela crise. Vivemos um colapso neoliberal sob o tacão dos ultra-neoliberais. Não estamos falando de gente normal, é preciso entender isso. Não são neoliberais comuns. Isso é a treva! E ela se espalha desagregando, corroendo. Será uma crise longa por conta dessa dimensão autofágica que não enseja um desdobramento político à altura, que inaugure um novo ciclo, como foi com Roosevelt e o New Deal em 29.”

“Aliás, as bases sociais do New Deal não existem mais nos EUA. Obama é o reflexo disso. É uma liderança intrinsecamente frouxa. Não tem a impulsão trabalhista e progressista que sustentou o New Deal. É frouxo. Seu eleitorado é difuso. Ele se comunica com os eleitores pelo twitter e daí? É uma força difusa, desorganizada, estruturalmente à margem do poder. Está fora do poder efetivo no Congresso, que é da direita, dos ricos, dos grandes bancos e grandes corporações, como vimos agora no desenho do pacote fiscal. Está fora da indústria também que foi para a China. Esse limbo estrutural é o Obama. Ele pode até ser reeleito e tomara que seja. Porque a alternativa a Obama é amedrontadora.”

Para Conceição, é o declínio de um império, como foi o declínio do poder da Inglaterra no final século XIX. O poder inglês foi sendo confrontado por nações com industrialização mais moderna. Um arranjo com estrutura de integração superior entre indústria e capital financeiro e que, aos poucos, ultrapassaria a hegemonia inglesa. Foi uma quebra, uma inflexão entre o capitalismo concorrencial e o capitalismo monopolista.  A Inglaterra, berço da Revolução Industrial, perdeu o posto para os norte-americanos e alemães. Algo que se arrastou durante décadas. Foi uma Depressão – a primeira que tivemos no capitalismo, que durou de 1873 a 1918. Levou à Primeira Guerra, que resultou na Segunda.
E o novo hegemon? Conceição é categórica: “As forças que se articularam na sociedade norte-americana – basicamente forças conservadoras, de um reacionarismo profundo – não têm condições de produzir uma nova hegemonia propositiva. Claro, eles têm as armas de guerra. E vão se impor através delas por mais algum tempo. Mas daí não sai um novo hegemon. Vamos caminhar para um poder multilateral, negociado, sujeito a contrapesos que nos livrarão de coisas desse tipo, como a ascendência do Tea Party nos EUA. Uma minoria que irradia a treva para o mundo.”

Mas tocando na questão do próprio capitalismo, é preciso considerar também a tensão intrínseca entre o capitalismo e seu próprio excesso. Segundo as teorias de Zizek, ao longo do século XX, percebeu-se um padrão: para esmagar o inimigo, o capitalismo começou a brincar com fogo e mobilizou seu “excesso obsceno” disfarçado de fascismo, mas esse excesso ganhou vida própria e tornou-se tão forte, que o capitalismo “liberal” foi obrigado a unir forças com seu verdadeiro inimigo – o comunismo – para derrotá-lo.

Significativamente, a guerra entre o capitalismo e o comunismo foi uma guerra fria, ao passo que a grande guerra quente foi lutada contra o fascismo. O caso do Talibã não é semelhante? Depois que criar um monstro para combater o comunismo, eles o transformaram em seu principal inimigo. Consequentemente, mesmo que o terrorismo mate todo mundo, a guerra americana contra o terrorismo não é nossa, mas uma luta interna dentro do universo capitalista.

Assim, o primeiro dever dum intelectual progressista (categoria na qual me incluo) é apresentar os fatos, não lutar as lutas do seu inimigo. Certo?

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(Fim da transcrição)

PRA: Pois é: o mundo vai ficar terrível com todas essas catástrofes anunciadas. Melhor abolir o capitalismo, certo? Façam seus testamentos...

Arapongas unidos, jamais serao vencidos...

Pois é: o caçador de marajás, o homem macho que acabou com o SNI e desmantelou o pouco de inteligência que restava no governo federal, hoje está unido aos antigos "secretas" para impedir o acesso à informação...
Nada como um dia depois do outro...
Paulo Roberto de Almeida

Senado pretende votar Lei de Acesso a Informação na semana que vem

De acordo com senador Romero Jucá (PMDB-RR) o Senado deverá votar o projeto de lei que regulamenta o acesso a informação assim que a pauta do Plenário estiver liberada

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) afirmou na tarde de hoje (22) que assim que abrir uma janela no trancamento da pauta do Plenário da Casa, o que pode acontecer já na semana que vem, o projeto de lei 41/2010 que regulamenta o acesso a informação pública deverá ser finalmente votado. De acordo com o senador, o projeto é uma das prioridades do governo no Congresso e já foi concedido tempo suficiente para que fosse discutido nas comissões. O projeto chegou ao Senado em abril do ano passado.
De acordo com o senador, os integrantes da base aliada que forem contrários ao texto enviado pela Câmara poderão apresentar voto em separado, caso do senador Fernando Collor (PTB-AL), relator do projeto na Comissão de Relações Exteriores.
No entanto, ficou decidido na reunião ordinária da CRE, hoje pela manhã (22), que será votado na próxima semana um requerimento do senador Francisco Dornelles (PP-FJ) para realizar audiência pública com o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general José Elito Carvalho Siqueira, para debater o projeto sobre acesso a informação.
Presidente da comissão, Collor aproveitou para criticar a resposta que o GSI enviou sobre o pedido de informação feito na semana passada pelo senador. Das oito perguntas, apenas quatro foram respondidas, e as respostas foram classificadas como “genéricas” por Collor. A senadora Ana Amélia (PP-RS) sugeriu que um novo requerimento seja enviado ao GSI. Porém, o senador Aníbal Diniz (PT-AC) informou que pediria verificação de votação, caso o requerimento fosse votado. Por isso, Collor desistiu de votar, uma vez que não haveria quórum suficiente. Manifestaram-se a favor do novo requerimento os senadores Sérgio Souza (PMDB-PR) e Luís Henrique (PMDB-SC).
De acordo com o GSI, existem apenas dois documentos classificados como ultrassecretos no governo federal. O general José Elito informou ainda que existem documentos classificados como secretos (4.116); confidencial (56.644) e reservados (8.344). De acordo com a resposta, o GSI produz por ano cerca de 2.850 documentos sigilosos e 1.860 “documentos ostensivos”.
Collor disse estranhar que existam apenas dois documentos ultrassecretos, enquanto a “esmagadora maioria” seria de documentos confidenciais.
Acrescentou ainda que, de acordo com a resposta obtida do governo, o ministro confirma não só haver subscrito o PLC 41/10 como também haver participado das discussões sobre o texto original do projeto. Segundo o senador, o documento enviado pelo GSI não esclarece se o número mencionado de documentos classificados inclui os referentes à Agência Brasileira de Informação (Abin). – O GSI informa que acompanha tramitação e aguarda a eventual aprovação do projeto, para posterior adaptação do órgão às novas regras. Coloca-se em posição passiva diante da matéria, apesar de ser talvez o maior interessado na nova lei – disse Collor, ao comentar a resposta obtida.
Collor ainda relatou diversas conversas sobre o tema mantidas com integrantes do governo, incluindo o ex-ministro chefe da Casa Civil Antônio Palocci e a presidenta Dilma Rousseff. Ainda que o pedido de urgência do governo pela aprovação do projeto tenha sido enviada há mais de três meses, o senador disse ter sido pego de surpresa e reiterou a necessidade de maior debate sobre a matéria na comissão.
O senador também disse que “os acordos internacionais hoje existentes sobre a matéria viabilizam a troca de informações sigilosas, bem como o credenciamento de pessoas envolvidas em negociações de caráter sigiloso. Até o momento, o Brasil celebrou tratados sobre a matéria com seis países: Portugal, Espanha, França, Rússia, Israel e Itália”.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...