domingo, 4 de agosto de 2013

Noticias que caem de um outro mundo... (sempre podemos aprender alguma coisa...)

Surpreendido com uma chamada por um dos meus sistemas de alerta, este aqui:


R7
A Embaixada brasileira na cidade de Basse-Terre, capital de São Cristóvão e Névis, é uma das 47 criadas durante o governo Lula em países em que o Brasil ...


fui conferir a notícia. Eis o que encontrei:

4/8/2013 às 00h29 (Atualizado em 4/8/2013 às 07h54)

Diplomata brasileira relata o dia a dia de embaixada em pequeno país caribenho

Posto diplomático em São Cristóvão e Névis foi criado em 2008; país tem quatro brasileiros
Natália Guerra, do R7
Na capital, Basse-Terre, vivem pouco mais de 12 mil habitantesWikimedia Commons
A Embaixada brasileira na cidade de Basse-Terre, capital de São Cristóvão e Névis, é uma das 47 criadas durante o governo Lula em países em que o Brasil não tinha representação diplomática. 
Além do Brasil, apenas outros três países mantêm embaixadas no local: Taiwan, Venezuela e Cuba.
 Em entrevista ao R7, a oficial de chancelaria Dorila Araújo falou um pouco sobre o dia a dia do posto diplomático.
No pequeno país caribenho, vivem pouco mais de 50 mil habitantes e, segundo estimativa de 2012 do Itamaraty, apenas quatro brasileiros.
O trabalho em São Cristóvão e Névis é “basicamente o mesmo” que aquele realizado em grandes Embaixadas, segundo Dorila.
A parte mais intensa é a notarial (emissão de procurações e outros documentos), mas também há uma demanda por vistos devido a cooperações técnicas.
Após “explosão” no governo Lula, Brasil deixa de criar novos postos diplomáticos
De acordo com Dorila, existem cooperações nas áreas de gastronomia (com viagem de habitantes locais à Bahia para aulas de culinária) e de esportes, já que técnicos de futebol brasileiros fazem visitas ao país para treinar times locais.
Além disso, há brasileiros estudando nas universidades de medicina e veterinária do país.
Trabalham na Embaixada três servidores do Itamaraty e três funcionários de apoio administrativo — um brasileiro, que é casado com uma estudante de medicina, e dois habitantes locais.
Para a oficial de chancelaria, os resultados da Embaixada vão sendo colhidos à medida que a presença do País vai sendo estabelecida.
— Eles não tinham ideia de quem era o Brasil. Essa presença do Brasil no Caribe é importante. Ocupar esse espaço que estava mais ou menos relegado é uma decisão política de longo prazo.
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Pois é...
Paulo Roberto de Almeida 

O problema da educação não é falta de dinheiro - Mailson da Nobrega (Veja)

O problema da educação não é falta de dinheiro
Mailson da Nobrega
Revista Veja, 23/07/2013
A qualidade do capital humano é essencial para o desenvolvimento. A baixa qualidade da educação explica a perda da liderança econômica da Inglaterra para os Estados Unidos por volta de 1870 e para a Alemanha no fim do século XIX. Para Rondo Cameron e Larry Neal, no livro “A Concise Economic History of the World”, a Inglaterra foi o último país rico a universalizar a educação fundamental. A Revolução Industrial ocorreu, secundo eles, “na era do artesão inventor. Depois, a ciência formou a base do processo produtivo”. Em vez dos recursos da natureza – algodão, lã, linho, minério de ferro -, a indústria passou a depender cada vez mais de novos materiais, nascidos da pesquisa científica. Nessa área, americanos e alemães, com melhor educação, venceram os ingleses. A Suécia, que era atrasada no início do século XIX, se industrializou rapidamente graças à educação. Em 1850, apenas 10% dos suecos eram analfabetos, enquanto um terço dos ingleses não sabia ler nem escrever.
No Brasil, até os anos 1960, acreditava-se que a educação seria mero efeito do desenvolvimento. Em 1950 os respectivos gastos públicos eram de apenas 1,4% do PIB. A partir dos anos 1970, a visão se inverteu. Convencemo-nos de que a prosperidade depende da educação. Os gastos subiram e hoje atingem 5,8% do PIB. A educação fundamental foi universalizada na década de 90 (um século e meio depois dos Estados Unidos e quase meio século depois da Coreia do Sul). Agora, demandamos melhora da qualidade, mas a ideia está contaminada pelo hábito de esperar que a despesa pública resolva qualquer problema. Daí o equivocado projeto de lei que aumenta os gastos em educação para 10% do PIB. Na mesma linha, Dilma e o Congresso querem aplicar na educação grande parte das receitas do petróleo.
Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes


Proporcionalmente, nossos gastos em educação equivalem à média dos países ricos. Passamos os Estados Unidos (5,5% do PIB). Investimos mais do que o Japão, a China e a Coreia do Sul, três salientes casos de êxito na matéria (todos abaixo de 5% do PIB). Na verdade, a má qualidade da nossa educação tem mais a ver com gestão do que com falta de recursos. O professor José Arthur Giannotti assim se referiu aos jovens que foram às ruas pedir mais dinheiro para o setor: “Pleiteiam mais verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a ensinar” (“O Estado de S. Paulo”, 19/6/2013).
Outro educador, Naercio Menezes Filho, citou o interessante caso de Sobral (“Valor”, 21/6/2013). Entre 2005 e 2011 o município cearense avançou quatro vezes mais rápido no ensino fundamental do que São Paulo, sem aumento significativo de despesa. “O gasto por aluno que Sobral usa para alcançar esse padrão de ensino nas séries iniciais é de apenas R$ 3 130,00, enquanto a rede municipal de São Paulo gasta ao redor de R$ 6 000 por aluno, ou seja, duas vezes mais.” Destinar receitas do petróleo para a educação é um duplo equívoco: (1) o problema não é de insuficiência de recursos, mas de sua aplicação, como vimos; (2) não é correto financiar políticas públicas permanentes com recursos finitos e voláteis. No longo prazo, as reservas de petróleo se esgotarão, enquanto os preços (e as receitas) se sujeitam às oscilações do mercado mundial de commodities.
A proposta desconhece outra lição da experiência: a receita de recursos naturais não renováveis deve pertencer às gerações futuras. O exemplo a seguir é o da Noruega, onde as receitas do petróleo são carreadas para um fundo que em 2012 acumulava 131% do PIB. O fundo serve para lidar com os efeitos de quedas dos preços do petróleo e principalmente com os custos previdenciários que advirão do envelhecimento da população.
A educação brasileira precisa de uma revolução gerencial e de prioridades, inclusive para gastar melhor os recursos disponíveis. Ampliar os respectivos gastos e destinar-lhe as receitas do petróleo agrada a certas plateias, mas o resultado poderá ser apenas o aumento dos desperdícios. Será péssimo para as próximas gerações.
Fonte: Revista Veja



Bye-bye old GDP, hello new GDP: o novo calculo do PIB dos EUA (BBC)

Como a economia dos EUA está sendo recalculada

BBC – EUA,  04/08/2013

A forma como a economia americana é medida tem mudado para incluir, pela primeira vez, cálculos de propriedade intelectual, como produção de canções pop e patentes de medicamentos.
“O PIB é provavelmente a estatística individual mais importante afetando negócios, lares e governos”, diz Steve Landefeld, diretor do Escritório de Análises Econômicas (BEA, na sigla em inglês), que mede o produto interno bruto ─ o total de bens e serviços produzidos pela economia a cada trimestre.
Calcular o PIB é uma missão difícil, diz ele, “porque estamos (tentando medir) uma economia em constante transformação”.
Agora, no que o BEA chama de a maior mudança de cálculos desde 1999, a medição da atividade econômica americana está sendo atualizada.
O objetivo é finalmente incluir algo que muitos já perceberam: a transição de uma produção econômica fabril e agrícola para uma de conhecimento, que represente os investimentos e a produção econômica em propriedade intelectual, incluindo desde os gastos em produzir um seriado de sucesso na TV até a pesquisa pela cura do câncer.
Entenda por que e como isso funciona:
Porque os cálculos estão mudando?Pense em 2007. Foi o ano das franquias cinematográficas: Homem-Aranha 3 e Shrek 3 lideraram as bilheterias.
Para os economistas, esses filmes foram alguns dos mais misteriosos produtos criados pela economia americana naquele ano.
Apesar de a renda de bilheterias, DVDs e exibições na TV ter sido incluída no cálculo do PIB dos EUA, nenhum centavo do dinheiro gasto na criação desses filmes ─ ou na criação de qualquer programa de TV ou canção ─ foi contabilizado.
O BEA estima que, em 2007, o total gasto na produção criativa (de filmes, TV e música) foi de US$ 70 bilhões (R$ 160 bilhões na cotação atual). No entanto, por conta do método do cálculo do PIB na época, nada disso foi levado em conta no resultado final.
Se a isso forem somados os gastos em pesquisa e desenvolvimento ─ como a produção de um novo medicamento para pressão alta ou um chip de computador ─, temos mais US$ 300 bilhões que não foram contabilizados.
A partir de agora, esses investimentos, bem como ajustes na forma como pensões são calculadas dentro da atividade econômica, passarão a ser incluídos nos números consolidados.
Como medir o valor de uma canção pop?
É fácil entender como os investimentos em “hits”, por exemplo, da cantora Beyoncé contribuem para a economia americana (além das coreografias da música, claro). É preciso contratar compositores, diretores de estúdio, etc.
Mas estimar o investimento exato é “bem difícil”, explica Landefeld, principalmente no que diz respeito à contribuição econômica da propriedade intelectual, como patentes e direitos autorais.
“Essas coisas não são compradas e vendidas nos supermercados. Você nunca vai dizer ‘preciso de uma patente para um novo remédio, vou sair para comprar uma’. Não há um mercado de trocas.”
Sendo assim, os estatísticos do BEA tentam, desde 2005, entender a melhor forma de tabular a produção econômica vinda da propriedade intelectual que, de maneira intuitiva, conseguimos identificar ao nosso redor.
Em resumo, eles criaram modelos de precificação aproximados, tendo como base negócios globais.
“A mudança mais semelhante (a esta em curso) havia ocorrido em 1999, quando começamos a contabilizar (no PIB) os softwares de computador”, diz Brent Moulton, chefe de contas nacionais no BEA e a pessoa responsável pela criação e implementação da revisão do PIB.
“Acho que aprendemos que seria melhor primeiro desenvolver esse tipo de estimativa com a qual pudéssemos conversar com usuários e tentar diferentes abordagens.”
Qual o impacto disso no PIB?
“No total, (o aumento de US$ 370 bilhões) é uma adição significativa ao PIB ─ cerca de 2,5%”, explica Landefeld.
Para alguns, a decisão pode ser um estratagema político do governo de Barack Obama para inflar a economia dos EUA ─ ainda que essa teoria tenha poucos seguidores.
Por outro lado, o impacto não será tão grande quanto se imagina, já que não é apenas o PIB trimestral que está sendo recalculado ─ todos os dados, desde 1929, estão sendo atualizados.
Sendo assim, ao mesmo tempo em que o tamanho geral da economia será maior, não haverá mudanças significativas nas taxas de crescimento econômico.
“(As revisões do PIB) provavelmente não mudarão o cenário atual da economia”, opina Lewis Alexander, economista-chefe da empresa de pesquisas Nomura e ex-conselheiro do secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner.
Mas Landefeld, do BEA, acha que, ao contabilizar o papel da pesquisa e desenvolvimento na produção econômica, será possível ajudar o governo ─ e outras instituições ─ a estimar melhor, por exemplo, o impacto de financiamentos e subsídios à produção científica.
“Várias decisões públicas e privadas podem ser influenciadas e informadas (pelas mudanças de cálculo)”, agrega ele.
Como isso se compara à forma como o PIB é calculado em outros países?
A mudança de cálculos se deve, em parte, a um esforço coordenado entre as maiores economias do mundo para padronizar a forma como sua produção econômica é calculada.
Austrália e Canadá começaram a implementar mudanças semelhantes, e a Grã-Bretanha e a União Europeia devem segui-los, apesar das dificuldades.
“À medida que o mundo se torna mais global, fica mais difícil monitorar essas relações produtivas”, alega Moulton. “A produção ocorre em todas as partes do mundo, e às vezes é difícil analisar o processo produtivo global e identificar o quanto pode ser atribuído a cada economia.”
A ideia é que, ao coordenar melhor essas medições, se obtenha uma imagem mais clara do crescimento econômico e dados mais precisos para orientar políticas públicas.
Disponível em:

Liberdades Economicas no Mundo, 2012 - Fraser Institute

Creio que o quadro fala por si só e não é preciso mais comentários a respeito.
Mas, recomendo uma visita a este site, para leitura do relatório completo e para as considerações metodológicas e factuais do economista James Gwartney, responsável pela confecção dos estudos a respeito das liberdades econômicas no mundo e seus efeitos sobre o crescimento e a prosperidade dos países:

  http://www.freetheworld.com/release.html

Relatório de 2012, neste link: http://www.freetheworld.com/2012/EFW2012-complete.pdf



Big Brother e as panelas de pressao: a atual obsessao securitaria americana - Joao Luiz Mauad

Estado Policial?

JOÃO LUIZ MAUAD *
Você acha que o governo tem o direito de espionar e monitorar seus próprios cidadãos, em nome da guerra contra o terror?  É daqueles que, sendo um cidadão pacato e dentro da lei, não tem nada a esconder e, portanto, acha que não precisa se preocupar com o Big Brother vigiando a sua vida? Então, você deveria dar uma olhada nesta notícia, que saiu ontem no jornal inglês The Guardian.
Segundo a matéria, uma simples pesquisa pela internet para a compra de panelas de pressão e mochilas colocou uma pacata família americana na mira da polícia anti-terror e levou a uma visita domiciliar de seis investigadores, exigindo informações sem cabimento sobre aspectos da vida privada daquela família.
Mas deixemos que a própria vítima nos dê a sua versão:
O que aconteceu foi o seguinte: Por volta das 09h00, meu marido …  estava sentado na sala de estar com nossos dois cães, quando ouviu barulho de carros parando lá fora. Ele olhou pela janela e viu que eram três SUVs pretas estacionadas na frente da nossa casa…
“Seis cavalheiros em roupas casuais saíram dos veículos e se espalharam, enquanto caminhavam em direção a casa. Dois foram para um lado da casa, dois para o outro lado e dois em direção à porta da frente.
“Um milhão de coisas passaram pela cabeça do meu marido. Nenhuma das quais era boa. Ele saiu e os homens o saudaram com emblemas cintilantes da polícia. Ele podia ver que todos tinham armas na cintura.
“Você é fulano de tal?” um deles perguntou, enquanto olhava para uma prancheta. Ele confirmou e foi perguntado se os visitantes poderiam entrar. “Claro, disse meu marido.”
“Em seguida, perguntaram se poderiam revistar a casa, mas fizeram apenas uma revista superficial. Eles caminharam ao redor da sala, estudaram os livros na prateleira (não, não havia nenhuma livro ensinando como fazer bombas ou qualquer receita de bolo anarquista), olharam para todas as nossas fotos, para o nosso quarto e nossos cães. Em seguida, perguntaram se poderiam ir ao quarto do meu filho, mas quando meu marido disse que ele estava dormindo, deixaram para lá.
“A partir dai, a polícia foi enchendo meu marido com perguntas. “De onde você é? De onde são os seus pais?” Eles perguntaram também sobre mim, onde eu estava, onde eu trabalho, onde meus pais moram.  Por fim, perguntaram se tínhamos bombas escondidas.
“Você possui uma panela de pressão?” Meu marido disse que não, mas nós temos uma panela de arroz. “Você pode fazer uma bomba com isso?” Meu marido disse que não, “minha esposa a utiliza para cozinhar quinoa”. “Que diabos é quinoa”, eles perguntaram.
“Senti uma sensação de pavor… As pesquisas que fizemos, por si sós, pareciam bastante inocentes, mas juntas podem fazer alguém suspeito. .. Principalmente eu senti uma grande sensação de ansiedade. Este é o lugar onde estamos. Onde você não tem nenhuma expectativa de privacidade. Onde tentar aprender a cozinhar algumas lentilhas pode colocá-lo em uma lista de observação. Onde você tem de prestar atenção a cada coisa que você faz porque alguém está observando cada pequena coisa que você faz.
“Tudo o que sei é que, se eu for comprar uma panela de pressão em um futuro próximo, não vou fazer isso online. Eu estou com medo. E não das coisas certas.
* ADMINISTRADOR DE EMPRESAS

Miseria educacional brasileira: mais dinheiro nao vai melhorar um sistema ruim -Gustavo Ioschpe

Dilma, não desperdice nossos recursos nesse sistema educacional

23 de julho de 2013 
Autor: Gustavo Ioschpe
pequeno normal grande
Gustavo Ioschpe
Excelentíssima presidente da República, deputados e senadores: Está em suas mãos a decisão de aprovar ou vetar dois projetos de lei que aumentam o gasto em educação, um deles destinando 75% dos royalties do pré-sal para a área e o outro, o Plano Nacional de Educação, estipulando que dobremos o volume de gastos nos próximos dez anos, dos atuais 5% do PIB para 10% do PIB.
Nos últimos dez anos eu venho escrevendo sobre educação brasileira, e nela militando, com apenas um propósito: melhorar radicalmente a qualidade do ensino no país para que possamos dar um salto de desenvolvimento. Faço-o por espírito público, mas também por egoísmo: quero que meus filhos vivam em um país melhor que este que temos agora. Não ganho dinheiro com esse tema, não defendo interesse de nenhum grupo público ou privado, nacional ou estrangeiro. Ajo como se munido de uma procuração para falar em nome dos milhões de alunos das péssimas escolas públicas brasileiras, que não têm voz nem vez no debate político nacional. Por isso, espero que a senhora e os senhores acreditem em mim quando digo: eu defenderia qualquer medida para a qual houvesse evidências de que impacta positivamente o nível de aprendizado dos nossos alunos. Se essa medida fosse algo tão fácil e simples quanto aprovar uma lei, então eu ficaria mais feliz ainda. E, se essa medida tivesse como consequência secundária melhorar a renda dos 5 milhões de brasileiros que trabalham no sistema educacional, isso me deixaria triplamente contente. E, mesmo que não busque popularidade nem pretenda fazer-lhes companhia em atividades eleitorais, tampouco sou masoquista, de forma que ficaria mais alegre ainda em defender algo que vem sendo pedido pelos manifestantes de rua e por uma série de almas caridosas que clamam para que a senhora e os senhores aprovem as ditas leis. Por tudo isso, adoraria me juntar a esse coro dos que bradam por mais recurso. Mas não posso. Porque não consigo faltar com a verdade. nem ignorar décadas de evidências, nem consentir que duas dádivas que recebemos – a capacidade de trabalho do povo brasileiro, que gera os impostos de que os senhores estão prestes a se apropriar; e as riquezas minerais enterradas em nossa costa – sejam tão clamorosamente desperdiçadas em um sistema que é um Midas ao contrário: transforma o ouro que recebe em desperdício e ignorância.
A senhora e os senhores devem ter ouvido que o Brasil investe pouco em educação. Que os países que deram grandes saltos educacionais aumentaram seus gastos no setor para viabilizar seus avanços. Que se gastarmos mais conseguiremos resolver nossos problemas. Que se pagarmos mais aos nossos professores haveremos de recuperar sua combalida autoestima e finalmente trazer “os melhores” alunos para o magistério, para que elevemos a qualidade dos mestres de amanhã. Bem, desculpem-me pela franqueza e pela linguagem direta, mas a urgência e a gravidade do assunto tomam-nas necessárias: isso é tudo mentira. Deslavada.
O Brasil não gasta pouco em educação
O Brasil não gasta pouco em educação. Como mostram os dados do levantamento mais respeitado do mundo na área, o Education ata Glance de 2013, investimos em nossa educação básica 4.3% do PIB, contra 3,9% do PIB dos países desenvolvidos. Se olharmos para os gastos educacionais como um todo, ainda gastamos um pouco menos, mas isso é basicamente porque nosso sistema universitário público é minúsculo e gasta bem menos, no total, do que esses países, em que a maioria da população da faixa etária correspondente cursa o ensino superior. Nosso investimento por aluno, quando comparado ao nível de renda brasileiro, é basicamente o mesmo dos países desenvolvidos. (A senhora e os senhores, cercados por gente que quer ter mais dinheiro para administrar, provavelmente viram esses dados em seus valores absolutos nominais, em dólares. Como se fizesse sentido comparar gastos nominais em países que têm renda três ou quatro vezes maior do que a nossa, e como se em alguma atividade os valores nominais de países desenvolvidos e em desenvolvimento fossem semelhantes…).
Talvez a senhora e os senhores já saibam que gastamos o mesmo que os países com os melhores sistemas educacionais do mundo, mas acreditem que esses são patamares de nações que “já chegaram lá”. Já devem ter ouvido alguém falar que, quando esses países deram seu salto educacional, gastaram perto dos 10% do PIB que tencionamos agora gastar. Novamente: é mentira. Creio que o gráfico ao lado se encarrega de desmontar essa empulhação sem maiores delongas (os dados originais e outras bibliografias estão em twitter.com/gioschpe). São dados da Unesco para países que são referência no mundo em melhoria educacional, além dos nossos vizinhos. Cobrem o período de 1970 (quando esses dados começam a ser coletados) a 2012. Tanto faz se olharmos para o período todo ou só para o momento (1970-89) em que a maioria desses países começou a dar seu salto, a conclusão é a mesma: não houve elevação de investimento antes, durante ou depois das melhorias, e os patamares de investimento chegam no máximo à casa dos 5% do PIB. Tanto faz se o PIB é de país rico, como Espanha e Inglaterra, ou de países em desenvolvimento, como China e Chile.
Finalmente, sobre os professores. Como já escrevi em vários artigos aqui, há diversas pesquisas em que os próprios professores são entrevistados, e a maioria diz que escolheu a profissão porque a ama, gosta dela e não pretende abandoná-la. Não creio que essa categoria tenha uma autoestima menor do que a média, portanto. Muito se fala dos poucos casos de países que conseguem atrair os estudantes mais talentosos para a docência, mas esse é o típico caso da exceção que confirma a regra. Mesmo nos países mais bem-sucedidos, em geral o jovem que opta pela carreira de professor não é o mais qualificado de seu grupo etário. Os mais competentes acabam optando por profissões da iniciativa privada, em que seu talento será valorizado. Professor é carreira pública, com as limitações, engessamentos e estabilidade comuns às demais funções públicas. O que a maioria dos países top consegue fazer é pegar esse jovem mediano e, através de formação excelente e acompanhamento continuado ao longo da carreira, transformá-lo em um profissional competente. É o que deveríamos buscar fazer também.
Entendo que a senhora e os senhores querem fazer algo pela educação brasileira. Porém, como diz o vulgo, de boas intenções o inferno está cheio. Estão agindo sob a premissa errada: de que nossos problemas se resolvem com dinheiro. Isso é falso. Não é nem uma questão da quantidade de dinheiro, nem da forma como esse dinheiro é gerido. Precisamos de muitas coisas para nossa educação, e as mais importantes não têm nada a ver com dinheiro. Onde focar? Na melhoria das universidades de pedagogia/licenciatura, que são totalmente teóricas e ideológicas e não preparam ninguém para a docência. Na seleção criteriosa de diretores de escola. No estabelecimento de um currículo nacional. Na criação de expectativas altas para todos os nossos alunos, especialmente os mais pobres. Coibindo o absenteísmo docente. Fazendo com que a jornada de aulas seja aproveitada, sem tempo desperdiçado com atrasos, anúncios, chamadas, conselhos de classe. Impedindo professores de achar que encher a lousa de matéria e mandar que os alunos copiem é uma aula. Alfabetizando aos 6 anos de idade. Desinchando o currículo, especialmente no ensino médio, e dando opção de cursos técnicos e profissionalizantes nessa etapa. Prescrevendo e corrigindo mais dever de casa. Utilizando avaliações constantes e intervenções rápidas quando se identifica um aluno com problema.
Poucos itens acima podem ser resolvidos na esfera federal. A maior parte é de responsabilidade de prefeitos, governadores e seus secretários de Educação. Hoje, a maioria deles faz um trabalho muito ruim. Jogar mais um caminhão de dinheiro nas mãos dessas pessoas, com esse sistema, será a garantia de um desperdício colossal. Se ao fazerem um péssimo trabalho eles são recompensados com o dobro de recursos, que incentivo terão para melhorar?! Espero que os senhores parlamentares não se rendam ao populismo. Caso sucumbam, presidente Dilma, use o seu poder de veto. Talvez não ajude na sua próxima eleição, mas certamente beneficiará os colegas do seu neto.

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Os artigos assinados não traduzem a opinião do Instituto Millenium. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate sobre os valores defendidos pelo Instituto e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
  1. Você só não comparou os salários dos docentes em relação aos dos países citados (EUA, Finlândia,Japão, entre outros) e não fez referência à estrutura precária das instituições de ensino. Professor , no Brasil, não tem valor. Professor no Brasil adoece sim (com sobrecarga sistêmica de atividade laboral)para ganhar um pouquinho melhor, precisa fazer Mestrado e Doutorado, além da Graduação e mesmo assim trabalha em casa também,inclusive se privando do descaço, direito de todo cidadão. Existem vários artigos científicos nessa área.Professor no Brasil tem salário de fome!Acho que o senhor está muito por fora do que é ser docente no Brasil. E ninguém só trabalha por amor, ou o senhor só trabalha por amor? Que romântico.
    Junior

    23-07-2013 13:16:21
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O Brasil e sua globalização involuntária - Gustavo Franco

O Brasil e sua globalização involuntária

29 de julho de 2013 
Autor: Gustavo H. B. Franco
pequeno normal grande
Gustavo Franco
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) é de longe a maior das forças promotoras da globalização, pois é o que inclui os países nas redes de produção internacional, de movimentação de fatores de produção e de tecnologia. Os fluxos de IDE para o Brasil subiram de US$ 26 bilhões em 2009 para patamares superiores a US$ 65 bilhões nos anos posteriores a 2011, números que podem dar a impressão de uma vigorosa trajetória de inserção da globalização, ou de aceleração no processo de formação da capital.
Nada mais enganoso: como não temos políticas destinadas a aprofundar nossos vínculos globais – pelo contrário, há tempos praticamos políticas industriais e de comércio exterior nacionalistas ou mesmo interioranas – e a formação bruta de capital permanece estagnada, não há outra explicação para o surto de IDE que não a política monetária dos países desenvolvidos.
Não se trata de questão simples de arbitragem: nunca foi tão atrativo para as empresas multinacionais alavancarem-se para adquirir ativos ou expandir atividades no Brasil e em outras economias emergentes as quais, ainda que problemáticas, exibem melhores perspectivas de crescimento que as economias desenvolvidas. Nossas autoridades deviam mostrar gratidão a Ben Bernanke ao invés exibir da tola malcriação bem resumida pela expressão “guerra cambial” que celebrizou o nosso ministro nos círculos terceiro-mundistas.
É nesse contexto que o Banco Central publica os resultados do quarto censo quinquenal do Capital Estrangeiro no Brasil, feito para o ano-base 2010. Trata-se de extraordinário trabalho de pesquisa, realizado com grande diligência e competência, que nos revela uma surpreendente transformação para os 15 anos posteriores a 1995: um país cosmopolita e internacionalizado e que estaria a requerer políticas públicas adaptadas para esta realidade singular e estranha à ideia de um país continente e ainda hipnotizado com o mito da autossuficiência.
O censo é um questionário destinado a todas as empresas brasileiras que, na data de referência, possuíssem um mínimo de 10% de participação acionária de não residentes no capital votante, ou de 20% sobre o capital total. Obedecido este conceito, o censo de 1995 teve 6.322 respondentes. Eles foram 11.404 em 2000 e 17.605 em 2005, mas em 2010 o número se reduz para 16.844 em razão de uma alteração metodológica com vistas a melhor retirar dessa amostra o chamado investimento em carteira. Dessa maneira, também foi possível determinar com mais precisão o número de empresas receptoras de IDE, considerando as cadeias de controle: exatas 13.858 empresas recebendo US$ 587,2 bilhões em capital e mais US$ 82,8 bilhões em empréstimos intercompanhias, totalizando US$ 670 bilhões, equivalentes a 31% do PIB brasileiro.
Este é o tamanho do capital estrangeiro de natureza empresarial no Brasil, a maior parte do qual chegando depois de 1995, quando o estoque de IDE no Brasil era da ordem de US$ 40 bilhões e o número de empresas recebendo IDE podia ser estimado em cerca de 4.700. Durante os 15 anos seguintes foram cerca de 9 mil novas empresas trazendo US$ 630 bilhões – algo como 2 empresas e US$ 150 milhões a cada dia útil!
A internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE ‘substitua’ comércio


Essa invasão de capital estrangeiro produtivo no Brasil não encontra precedente e coloca em questão as definições habituais de abertura e inserção externa, eis que representa um envolvimento muito mais profundo com a economia global do que os diminutos graus de abertura comercial do Brasil poderiam sugerir. Certamente temos aqui um curioso, mas não inusitado paradoxo: a internacionalização da economia parece ocorrer em consequência de práticas protecionistas que fazem com que o IDE “substitua” comércio, tal como no caso clássico da Europa do pós-guerra. É o nacionalismo, via substituição de importações, que sai pela culatra.
Para o ano de 2010, o leitor terá ouvido que o fluxo de IDE naquele ano alcançou US$ 48,5 bilhões, ou seja, representou uma injeção de capital de aproximadamente R$ 85,3 bilhões em empresas com sede no Brasil. Com esse acréscimo, o conjunto das 13.858 empresas do censo fechou o ano com um patrimônio total de R$ 974 bilhões, dos quais R$ 819 bilhões (84%) de titularidade de não residentes. Essas empresas tinham ativos de R$ 2,4 trilhões e faturamento de R$ 1,6 trilhão, respectivamente 65% e 42% do PIB, e eram responsáveis por 38% das exportações totais do País e 43% das importações em 2010.
Em 2010, as 13.858 empresas do censo empregavam 2,3 milhões de pessoas, representando apenas 2,4% da população ocupada, como tem se observado nos censos anteriores. Com base na relação entre valor bruto da produção e valor adicionado, é possível estimar que o valor adicionado produzido pelas empresas do censo contribua para o PIB brasileiro com cerca de um quarto de seu valor. Parece óbvio, portanto, que existem dramáticas diferenças de produtividade entre essas empresas e o restante do País: para 2010, enquanto um trabalhador de uma das empresas do censo gerava R$ 397 mil de valor adicionado em média, para o restante da população ocupada o número era de R$ 31 mil, ou menos de um décimo.
Contrastes semelhantes se observam no terreno do comércio exterior: enquanto um trabalhador ocupado em uma empresa do censo produzia cerca de US$ 38 mil em exportações, outro em outras empresas brasileiras produzia US$ 2,4 mil em exportações em média. As exportações brasileiras representavam 6,5% do PIB em 1995, subiram a 14,7% em 2005 e caíram a 10,5% em 2010. As empresas do censo exportavam 16% de seu faturamento em 1995, chegaram a 22% em 2005 e caíram a 17% em 2010, porcentuais bem maiores que os observados para outras empresas brasileiras e provavelmente determinantes para o coeficiente de abertura comercial do País.
Os contrastes entre empresas do censo e as outras empresas brasileiras são fáceis de se exagerar, pois seria preciso “descontar” outros fatores que podem explicar alta produtividade e propensão ao comércio, como tamanho, concentração, formalização do trabalho, entre outros. Mas, mesmo com esse benefício concedido à dúvida, é difícil evitar a impressão de que as empresas com conexões relevantes com a economia globalizada têm sido a locomotiva de crescimento e para o comércio exterior do país na primeira década e meia depois do Plano Real, mesmo sem terem sido objeto de nenhuma política pública específica. De muitas maneiras, a globalização é como a internet: as possibilidades são infinitas, sobretudo se as autoridades encaram o assunto com o espírito aberto e sem o cabotinismo ideológico dos últimos anos.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 28/07/2013

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