domingo, 1 de junho de 2014

O Grande Terror Stalinista - Simon Sebag Montefiore

O Terror Comunista

A matéria acima é um resumo das páginas 245 a 269 do livro "Stalin, a Corte do Czar Vermelho", Simon Sebag Montefiore, editora Companhia das Letras, 2003.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

sábado, 31 de maio de 2014

Por Carlos I. S. Azambuja

Em 29 de janeiro de 1937, em Moscou, 13 supostos membros de uma conspiração trotskistaforam condenados à morte e 200 mil pessoas, deslumbradas pela propaganda da luta de Stalin contra o terror, reuniram-se na Praça Vermelha, apesar da temperatura de -27 graus Celsius, carregando estandartes que diziam: "O veredicto da corte é o veredicto do povo". Kruschev falou para a massa, denunciando o "Judas Trotsky", expressão que implicava fortemente que Stalin era o Jesus metafórico. "Ao erguer a mão contra o camarada Stalin", disse Kruschev à multidão,"eles levantaram a mão contra tudo que há de melhor na humanidade, porque Stalin é esperança (...). Stalin é nossa bandeira. Stalin é nossa vontade. Stalin é nossa vitória" .
Nikita Kruschev, como se sabe, posteriormente, em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCUS condenou por seus crimes o kamarada Stalin, que assim, 19 anos depois, não era mais "a nossa bandeira, a esperança, a nossa vontade e a nossa vitória".

A regra no mundo de Stalin era a de que, quando um homem caía, todos os que tinham ligação com ele, fossem amigos, amantes ou protegidos, cairiam junto. Seu cunhado e seu sogro foram fuzilados. Sua esposa, sua irmã e seus pais foram exilados.
Nas Forças Armadas o terror atingiu três dos cinco marechais, quinze dos dezesseis comandantes de Unidades e os dezessete comissários políticos. Todos foram fuzilados. Eles não foram mortos pelo que haviam feito, mas pelo que poderiam fazer. Ou seja, foram mortos por uma traição em potencial.

Politburo nem especificava os nomes. Simplesmente fixava cotas de morte aos milhares. Em 2 de julho de 1937, o Politburo ordenou que os secretários locais prendessem e fuzilassem "os elementos anti-soviéticos mais hostis", que deveriam ser sentenciados por troikas, tribunais de três homens que incluíam usualmente o secretário do partido, o Procurador e o chefe local do NKVD. Os "elementos anti-soviéticos mais hostis" eram apontados pelo secretário do partido na região.

O objetivo era "acabar de uma vez por todas" com todos os inimigos e com aqueles impossíveis de educar no socialismo, de modo a acelerar o desaparecimento das barreiras de classe e, portanto, a instauração do paraíso para as massas. Essa solução final era um massacre que fazia sentido em termos da fé e do idealismo do bolchevismo, que era uma religião baseada na destruição sistemática das classes. O princípio de ordenar o assassinato como cotas industriais do Plano Qüinqüenal era, portanto, natural. Os detalhes não importavam: se a destruição dos judeus por Hitler foi um genocídio, então aquilo foi um democídio (*), a luta de classes se transformando em canibalismo.

A 30 de julho de 1937, Iejov, chefe do NKVD, encaminhou a Ordem 00447 ao Politburopropondo que, entre 5 e 15 de agosto, as regiões deveriam receber cotas para duas categorias: Categoria Um, fuzilamento; Categoria Dois, deportação. Sugeriu que 72.950 deveriam ser fuzilados e 259.450 presos. Não havia como deixar de cumprir uma sugestão do NKVD confirmada pelo Politburo do partido. As regiões deveriam apresentar mais listas. As famílias dessas pessoas deveriam ser também deportadas.

Politburo confirmou essa Ordem no dia seguinte.

Não demorou para que esse moedor de carne adquirisse tal impulso que, conforme a caça às bruxas se aproximava de seu auge e os ciúmes e as ambições locais se atiçavam, cada vez mais gente era jogada no moedor.

As cotas foram logo cumpridas pelas regiões que pediram então números maiores: entre 28 de agosto e 15 de dezembro, o Politburo concordou com o fuzilamento de outras 22.500 pessoas e, depois, com mais 48 mil. As regiões estavam matando rápido demais: Nikita Kruschev, líder de Moscou, ordenou efetivamente o fuzilamento de 55.741 funcionários, mais do que estipulava a cota original do Politburo, que era de apenas 50 mil. Em 10 de julho de 1937, Kruschev escreveu a Stalin pedindo o fuzilamento de 2 mil ex-kulaks, a fim de cumprir sua cota. Os arquivos do NKVD mostram-no dando entrada em muitos documentos propondo prisões. Na primavera de 1938, ele já supervisionara a prisão de 35 dos 38 secretários provinciais e municipais, o que dá uma idéia do moedor de carne. Kruschev, uma vez que estava em Moscou, levava as listas diretamente a Stalin. "Não pode haver tantos!", exclamou Stalin, certa vez. "Na verdade, há mais", retrucou Kruschev. "Você não pode imaginar quantos existem". A seguir, a cidade de Stalinabad recebeu uma cota de 6.277 para fuzilar, mas executou 13.259.

grande terror, todavia, foi diferente dos crimes de Hitler que destruíram sistematicamente um alvo limitado: judeus e ciganos. Na Rússia, ao contrário, a morte era aleatória: o comentário esquecido há muito tempo, o flerte com a oposição, a inveja do emprego, da mulher ou da casa de outro homem. Vingança ou simplesmente pura coincidência causaram a morte de famílias inteiras. Isso pouco importava: "Melhor ir longe demais do que não ir longe o suficiente", disse o chefe do NKVD, Iejov, aos seus homens, enquanto a cota original de prisões da Ordem 00447 inflava para 767.307 prisões e 386.798 execuções.

Ao mesmo tempo, Iejov atacava contingentes nacionais, ou seja, a execução por nacionalidades, contra poloneses e alemães que viviam na Rússia, entre outros. Em 11 de agosto, ele assinou a Ordem 00485, para liquidar "diversionistas e grupos de espionagem poloneses", Ordem que consumiria a maior parte do Partido Comunista Polonês, a maioria dos poloneses no interior da liderança bolchevique, qualquer um que tivesse "contatos consulares" ou sociais e, é claro, também suas esposas e filhos. Cerca de 350 mil pessoas (das quais 144 mil poloneses) foram presas nessa operação, com 247.137 fuzilados (110 mil poloneses). Um minigenocídio. Poloneses foram os mais atingidos mas a operação incluiu a deportação de curdos, gregos, finlandeses, estonianos, letões, chineses e romenos. Na Mongólia, o NKVD fuzilou 6.311 padres, lordes e funcionários comunistas, cerca de 4% de sua população.
"Batam, destruam sem escolher!", ordenou Iejov a seus capangas. Aqueles que mostravam "inércia operacional" na prisão de "formações contra-revolucionárias dentro e fora do partido", seriam eles mesmos destruídos mas a maioria da capangada tentava ultrapassar uns aos outros com relatórios com números gigantescos de pessoas presas. Iejov chegou a especificar que "se, durante a operação, umas mil pessoas a mais forem fuziladas, não é um grande problema". Uma vez que Stalin e Iejov aumentavam constantemente as cotas, uns mil a mais aqui e ali eram inevitáveis...

Uma vez iniciado o massacre, Stalin quase sumiu da vida pública, aparecendo apenas para saudar crianças e delegações. Espalhou-se o rumor de que ele não sabia de nada (no Brasil também existiu um governante que não sabia de nada).

Em 1937 falou em público apenas duas vezes e em 1938 apenas uma. Stalin era o mentor, mas não estava sozinho. Com efeito, não é correto e nem útil pôr a culpa do terror em um único homem, uma vez que o assassinato sistemático começou logo depois de Lênin ter assumido o poder, em 1917, e só parou depois da morte de Stalin. Aquele era um "sistema social baseado no derramamento de sangue". O terror, assim, não foi apenas uma conseqüência da monstruosidade de Stalin, mas com certeza se formou, expandiu e acelerou graças ao seu caráter peculiarmente dominador, refletindo seu rancor e seu espírito vingativo. "A maior delícia", disse Stalin a Kamenev - um dos que não escaparia do moedor de carne - "é marcar o inimigo, preparar tudo, vingar-se por completo e depois ir dormir".

Enquanto as regiões cumpriam suas cotas anônimas, Stalin também matava milhares que conhecia bem. Em um ano e meio, 5 dos 15 membros do Politburo, 98 dos 139 membros do Comitê Central e 1.108 dos 1.966 delegados do XVII Congresso foram presos. Iejov entregou aoPolitburo 383 listas específicas dessas vítimas, com o pedido: "Peço sanção ao Politburo para condená-los todos dentro da Primeira Categoria".

Foi isso que diferenciou Lênin de Stalin: Lênin matou todos os seus inimigos; Stalin matou os inimigos e os amigos.

A maioria das listas foi assinada por Stalin, Molotov, Kaganovitch e Vorochilov. No dia 12 de dezembro de 1938, por exemplo, Stalin e Molotov assinaram 3.167 execuções. Em geral, escreviam simplesmente: "A favor". Molotov admitiu: "Assinei a maioria - na verdade, todas - listas de prisão. Debatemos e tomamos uma decisão. A pressa dominava. Seria impossível entrar em todos os detalhes? (...) Às vezes, gente inocente era presa. É óbvio que um ou dois em cada dez eram presos erradamente, mas o resto está certo". Como disse Stalin: "É melhor uma cabeça inocente a menos do que hesitações numa guerra". Kaganovitch lembrava o frenesi da época: "Que emoções!"

A 5 de julho de 1937, o Politburo mandou o NKVD "confinar todas as esposas dos traidores condenados (...) em campos por cinco, oito anos" e tomar sob a proteção do Estado as crianças com menos de quinze anos: 18 mil esposas e 25 mil crianças foram levadas embora. Isso, porém, não foi suficiente. Em 15 de agosto, Iejov decretou que as crianças entre um e três anos de idade seriam confinadas em orfanatos, mas "crianças socialmente perigosas, com idade entre três e quinze anos, poderiam ser aprisionadas, dependendo do grau de perigo". Quase um milhão dessas crianças foi criada em orfanatos e, com freqüência, não viram suas mães durante vinte anos. Tudo isso atingiu um clímax quando sessenta crianças com idades entre dez e doze anos foram acusadas de formar "um grupo contra-revolucionário terrorista" e ficaram presas durante oito meses.

Em 8 de outubro de 1938, uma comissão do Politburo denunciou "erros muito graves no trabalho dos órgãos do NKVD" (trabalhos que ele, Politiburo, sempre convalidou) As troikasmortíferas que alimentavam o moedor de carne foram dissolvidas. Iejov, renunciou à chefia do NKVD em 23 de novembro de 1938, permanecendo, no entanto, como Comissário do Transporte de Água e membro candidato ao Politburo.

Dois dias depois, em 25 de novembro, Laurenti Beria, a quem Stalin apelidou de "Promotor", foi nomeado chefe do NKVD, trazendo seus capangas georgianos para Moscou. Nessa mesma data, Stalin e Molotov assinalaram o fuzilamento de 3.176 pessoas. Estiveram, portanto, muito ocupados.

Beria logo começou a trabalhar. Entre 24 de fevereiro e 16 de março de 1939, comandou a execução de 439 prisioneiros importantes, entre os quais o marechal Iegórov e os ex-membros do Politburo Kosior, Póstichev e Tchubar. Quando dessa execução, ele já estava morando nadatcha de Tchubar.

Finalmente, em 10 de março de 1939, os 1.900 delegados ao XVIII Congresso se reuniram para declarar o fim de uma carnificina que fora um sucesso, ainda que levemente prejudicada pelos excessos maníacos de Iejov. Nesse Congresso, Nikita Kruschev tornou-se membro doPolitburo, enquanto Beria era eleito candidato a ele. Essa liderança governou o país por toda a década seguinte sem nenhuma baixa. Afinal, o Congresso não havia declarado o fim da carnificina?

A morte de Stalin, em 8 de março de 1953, provocou consternação nacional. O novo grupo de dirigentes que assumiu o poder - Malenkov, Molotov, Bulganin e Kruschev - tratou logo de dar um fim em Laurenti Beria, o policial-chefe de Stalin, determinando sua prisão e o pronto fuzilamento, o que ocorreu em setembro de 1953.

Três anos depois, em fevereiro de 1956, no XX Congresso do PCUS, Kruschev lançaria as suas famosas denúncias contra Stalin, indicando que a nova sociedade soviética, dos engenheiros, dos técnicos, dos intelectuais, dos trabalhadores qualificados, do satélite e da bomba atômica, não mais podia conviver com as práticas estigmatizadas que Stalin deixara como herança. Mais tarde, Kruschev iria admitir que a era Stalin "deixou todos com sangue até os cotovelos".

A verdade é que o grande terror não teria acontecido sem Stalin. Contudo, ele também refletiu os ódios provincianos da incestuosa seita bolchevique, em que os crimes fervilhavam desde muito antes, desde os anos de exílio e guerra. A responsabilidade, no entanto, ficaria com as centenas de funcionários - os capangas de Iejov e, depois, de Béria - que ordenaram o perpetraram as mortes. Stalin e seus assessores mataram com entusiasmo, inconseqüência, quase com alegria e, em geral, assassinaram mais do que lhes foi pedido. Ninguém jamais foi processado por esses crimes, mesmo depois do desmonte do socialismo real e do desaparecimento da União Soviética.

(*) Democidio é um termo criado pelo investigador político R. J. Rummel com a intenção de criar um conceito mais amplo que a definição legal de genocidio. O democídio se define como o assassinato de qualquer pessoa ou pessoas por parte de um governo, incluindo genocidio, assassinatos políticos e assassinatos massivos.


Carlos I. S. Azambuja é Historiador.


Abaixo Machado! Viva a grande pensadora contemporanea! -Joao UbaldoRibeiro

Joao Ubaldo Ribeiro
O Globo, 31/05/2014

Não sei se vocês lembram, ou que fim levou, aquela história de censurarem, expurgarem ou proibirem um livro infantil de Monteiro Lobato, por aspectos considerados racistas. De vez em quando, fico um pouco impaciente e pergunto por que não proíbem logo “Os Sertões”, com tanto racismo contido na parte que todo mundo diz que leu, mas não leu, a referente ao homem. Deve ser porque de fato não leram, senão a grita ia poder começar até mesmo por Itaparica, onde somos todos, de acordo com a visão dele, mestiços neurastênicos do litoral. A antropologia da época tinha convicções que podem hoje ser qualificadas de racistas, mas era a ciência de então e no mesmo barco estão outros cuja obra haverá de merecer ser reescrita ou banida, como Oliveira Vianna ou Sílvio Romero. Imagino que devemos até nos surpreender por ainda não terem começado uma reavaliação da figura de Machado de Assis, sob a acusação de ele ter sido um mulato alienado metido a branco, ou uma condenação da crítica, por não o haver qualificado de maior escritor negro do Brasil.
Mas, no caso de Machado, dizem as novidades, não se trata de racismo, trata-se da elaboração, com a chancela e o apoio do Estado, de versões populares, ou acessíveis à maioria, de obras dele. Segundo o que saiu nos jornais, concluíram que os jovens e pessoas menos cultas não leem Machado porque não entendem as palavras e não percebem o que querem dizer certos arranjos sintáticos. Ou seja, o problema é com Machado, cujos textos obsoletos são preservados supersticiosamente e já não têm serventia para as gerações presentes. Urge, portanto, que nos livremos dessa tralha inútil e elitista, corrigindo o muito que clama por atualização.
A observação inicial que se pode fazer sobre tal premissa é que ela se fundamenta na crença, comum entre pessoas semiletradas e analfabetos funcionais, de que, na obra literária, existe uma diferença, ou separação, entre forma e conteúdo. O conteúdo seria a “história”, o “enredo”. A forma seriam as palavras usadas pelo escritor e seu jeito de narrar. O que interessa aos que reescrevem Machado é esse “conteúdo”, que pode ser contado de diversas maneiras. Assim, “Dom Casmurro” seria basicamente o mesmo, quer tendo sido escrito por Machado, quer por Dostoiévski, Balzac ou Jorge Amado. Isto, realmente, é de uma estupidez inexcedível e contribui para que ganhe corpo a noção primária de que é possível conhecer a literatura de um país, simplesmente ouvindo, da boca dos que já as leram, as histórias contadas pelos grandes escritores, não vindo ao caso suas palavras, seu estilo, suas sutilezas, suas referências.
É curioso como iniciativas desse tipo se veem como antielitistas. As elites, o que lá seja isso por aqui, querem preservar para si mesmas a fruição da grande arte. Só quem tem vocabulário e fez esforços para ser um bom leitor é que pode desfrutar de Machado de Assis? Não, senhor, agora qualquer um, mesmo com vocabulário restrito e praticamente inculto em todas as áreas, vai poder ter esse privilégio. Para isso, vamos rebaixar, vamos reduzir os textos a uma voz tatibitate, modernosa e linguisticamente irresponsável, vamos limitar o vocabulário e tomar outras medidas simplificadoras. Não se nota como essa posição — ela, sim — é presunçosa, arrogante e elitista. Não se pensa em estender a todos o que hoje é visto como das elites, pensa-se em baixar o nível e assim ser democrático, quando o que ocorre é o contrário.
Os laços lógicos desse paternalismo condescendente desafiam a imaginação e, num contexto em que cada vez mais o Estado (ou seja, no nosso caso, o governo) mete o bedelho na vida individual de seus súditos, podemos temer qualquer coisa. Quanto a Machado de Assis, não se pode fazer mais nada, além de reescrever seus textos. Mas, quanto aos autores vivos, pode-se incentivá-los (ou obrigá-los, conforme o momento) a ater seus escritos ao Vocabulário Popular Brasileiro, que um dia destes pipoca por aí, tem muita gente no governo sem ter o que fazer. Constará ele das 1.200 palavras compreensíveis pela melhor parte da juventude e do povo brasileiros e, para não ser elitista, quem publicar livro ou matéria de jornal não deve passar delas e quem usar uma palavra considerada difícil não apenas será sempre vaiado quando em público, como pagará uma multa por vocábulo metido a sebo.
Novos empregos serão abertos, para enfrentar a tarefa hercúlea de atualizar nossa literatura. Para que os poetas precisam de tantas palavras, quando as do Vocabulário seriam suficientes para exprimir qualquer sentimento ou percepção? Ou o elitista diria o contrário, menosprezando preconceituosamente a sensibilidade e a criatividade do povão? E rima, meu Deus do céu, para que se usou tanto rima, uma coisa hoje em dia completamente superada? E ordens inversas, palavras postas fora do lugar, que só podem confundir o leitor comum? Por essas e outras é que os jovens também não leem poesia.
E a lição se estende da literatura às outras artes. O povo não gosta de música erudita porque são aquelas peças vagarosas e demoradas demais. De novo, a solução virá ao adaptarmos Bach a ritmos funk, fazermos arranjos de sinfonias de Beethoven em compasso de pagode e trechos de no máximo cinco minutos cada e organizarmos uma coleção axé das obras de Villa-Lobos. Tudo para distribuição gratuita, como acontecerá com os livros de Machado reescritos, pois continuamos a ser um dos poucos povos do mundo que acreditam na existência de alguma coisa gratuita. E talvez o único em que o governo chancela, com dinheiro do cidadão, o aviltamento de marcos essenciais ao autorrespeito cultural e à identidade da nação, ao tempo em que incentiva o empobrecimento da língua e a manutenção do atraso e do privilégio.

João Ubaldo Ribeiro é escritor

19 ENERI, Balneario Camboriu, SC, de 4 a 7 de junho de 2014

Encontro nacional promove debates sobre relações internacionais


A Universidade do Vale do Itajaí (Univali) organiza o 19º Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (Eneri), entre os dias 04 e 07 de junho, no Balneário Camboriú (SC). A programação, para estudantes e profissionais da área, no Brasil e no continente, inclui seminários e oficinas variadas sobre as relações internacionais “do futuro”, com a participação de palestrantes, diplomatas e acadêmicos.


O Eneri é um evento de debate que conta com a participação de alunos e profissionais de Relações Internacionais e promove o intercâmbio de informações através de discussões acadêmicas, com palestrantes renomados e atividades como palestras, minicursos, workshops e afins.



Os temas do encontro incluem a política externa brasileira, as novas conjunturas internacionais, a crise econômica internacional, os deslocamentos de poder, direitos humanos, globalização e regionalização, mecanismos de paz e segurança internacionais, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, governança global e a evolução da produção acadêmica em Relações Internacionais no Brasil.

De acordo com a comissão organizadora, o Eneri consolida-se como o maior evento de estudantes e profissionais de Relações Internacionais da América Latina, já organizado por diversas instituições como Facamp, Faap, Unisul, PUC-SP, UFSC e ESPM-SP, em diversas regiões do país.

O primeiro Eneri ocorreu em Brasília, em 1996, quando compareceram cerca de 300 estudantes. Na terceira edição, em Florianópolis, foi criada a Federação Nacional dos Estudantes de Relações Internacionais (Feneri), entidade representante dos estudantes e coorganizadora dos encontros.

Entre os apoiadores do 19º Eneri estão o Ministério de Relações Exteriores e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com a parceria da Fundação Alexandre Gusmão, do Le Monde Diplomatique Brasil e outros. A programação e as informações sobre a inscrição podem ser encontradas na página do evento: 
http://www.eneriunivali2014.com.br/ 

Francis Fukuyama’s “The End of History?” 25 Years Later - Cato conference, Friday June 6

Aos interessados, é possível assistir pela internet, como já fiz em diversas ocasiões. Permito-me registrar que, quando o famoso ensaio de Fukuyama completou 20 anos, fiz um artigo a respeito, disponível da seguinte forma:

2101. “O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?”, Brasília, 13 janeiro 2010, 15 p. Considerações sobre a tese de Francis Fukuyama e o fim de alternativas às economias liberais de mercado. Publicado em Meridiano 47 (n. 114, janeiro 2010, p. 8-17; ISSN: 1518-1219; link: http://seer.bce.unb.br/index.php/MED/article/view/476/291); disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5949002/2101_O_Fim_da_Historia_de_Fukuyama_vinte_anos_depois_o_que_ficou_2010_). Relação de Publicados n. 949. 

Paulo Roberto de Almeida

Francis Fukuyama’s “The End of History?” 25 Years Later

Featuring Francis Fukuyama, author of “The End of History?”; Michael Mandelbaum, School of Advanced International Studies, Johns Hopkins University; Marian Tupy, Cato Institute; Adam Garfinkle, editor,American InterestPaul Pillar, Nonresident Senior Fellow, Foreign Policy, Center for 21st Century Security and Intelligence, Brookings Institution; and John Mueller, Ohio State University and Cato Institute.

1:00 to 2:30 PM (Washington time, one hour less than Brazil) 
Panel 1

Moderator: John Mueller
Ohio State University and Cato Institute

Francis Fukuyama
Stanford University

Adam Garfinkle
American Interest

Michael Mandelbaum
School of Advanced International Studies, Johns Hopkins University

2:30 to 2:45 PM - Break

2:45 to 4:15 PM  
Panel 2

Moderator: Christopher Preble
Cato Institute

Marian Tupy
Cato Institute

John Mueller
Ohio State University and Cato Institute

Paul Pillar
Center for 21st Century Security and Intelligence, Brookings Institution

Discussant: Francis Fukuyama
Stanford University

4:14 to 4:30 PM
Concluding Remarks

Christopher Preble
Cato Institute

4:30 to 5:30 PM - Reception

In an article that went viral in 1989, Francis Fukuyama advanced the notion that with the death of communism history had come to an end in the sense that liberalism — democracy and market capitalism — had triumphed as an ideology. Fukuyama will be joined by other scholars to examine this proposition in the light of experience during the subsequent quarter century.
If you can’t make it to the Cato Institute, watch this event live online at www.cato.org/live and follow @CatoEvents on Twitter to get future event updates, live streams, and videos from the Cato Institute.

A frase da semana (de sempre): Thomas Jefferson sobre os livros


sábado, 31 de maio de 2014

Itamaraty: wikileaks do Anonymous deve criar embaracos na politica externa

Segurança

Invasão ao Itamaraty permitiu que hackers tivessem acesso a documentos da Copa

Palácio do Itamaraty, BrasíliaGrupo Anonymous divulgou mais de 300 documentos que teriam sido acessados na invasão ao sistema do Ministério de Relações Exteriores

Veja.com, 31/05/2014
Uma invasão do sistema de e-mails do Itamaraty resultou no vazamento de quase 300 documentos, entre eles relatórios e telegramas classificados pelo serviço diplomático como "secretos" e com potencial para incomodar o governo brasileiro. Mesmo sem terem acessado o sistema interno de arquivo do Ministério, os hackers conseguiram extrair de computadores do Itamaraty análises para negociações internacionais, textos de subsídios para reuniões bilaterais a serem usados pela presidente Dilma Rousseff e o próprio ministro das Relações Exteriores e até agendas com telefones de autoridades.
O Itamaraty não reconhece a veracidade dos documentos revelados pelo grupo Anonymous, que assumiu ser o autor do ataque aos servidores do Ministério. De acordo com o porta-voz, embaixador Antônio Tabajara, os documentos estão abertos e apresentados em formatos que podem ter sido editados ou alterados de alguma forma. Ainda assim, os textos têm, em sua maioria, o timbre do Itamaraty e o formato tradicional dos chamados telegramas, os textos de comunicação entre o ministério e os diversos postos diplomáticos no Brasil e no exterior.
Entre eles, está o relatório preparado para o então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, na visita do seu colega americano, o secretário de Estado John Kerry. Em meio à crise com os Estados Unidos pela descoberta do que a National Security Agency (NSA) havia espionado cidadãos e empresas brasileiras - inclusive a própria presidente Dilma - o documento trata apenas brevemente do assunto. Aconselha ao ministro que levante o tema, mas deixe claro que a crise não vai influenciar nas negociações entre os dois países. Recomenda que o pedido de "uma clara manifestação de apoio à candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança, pelo menos análoga à declaração de apoio à candidatura da Índia" - algo que o Brasil ainda não conseguiu e pede, ainda que os EUA retire Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo.
Também aparece um resumo das conversas entre autoridades brasileiras e o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante uma visita ao Brasil em maio do ano passado e uma lista de ministros do Esporte que planejam vir ao país para a Copa do Mundo. Outros documentos que citavam questões de segurança durante a Copa também foram vazados, mas muitos não seguiam os padrões do Itamaraty.
Um hacker conhecido com AnonManifest usou um ataque com phishing para invadir a base de dados do Itamaraty e acessar o seu sistema de documentação, como noticiou a coluna Radar on-line. O ministério desativou o seu sistema de correio eletrônico depois do ataque e instruiu os usuários das suas três mil contas de e-mail a mudar suas senhas. A Polícia Federal está investigando a invasão.
De acordo com o Itamaraty, já foi feito o mapeamento do que teria sido vazado e não foi identificado nada altamente prejudicial aos interesses do governo. As investigações estão sendo feitas pelo Gabinete de Segurança Institucional e a Polícia Federal, mas o sistema do ministério já voltou ao ar desde a última quarta-feira.
Os hackers usaram o esquema chamado phishing, em que e-mails aparentemente de pessoas conhecidas são enviadas para colegas com inclusão de um link para um documento supostamente importante. Ao abrir o arquivo são instalados no sistema os chamados cavalos de troia, que recolhem informações sigilosas dos usuários, como senhas, e abre acesso para que os hackers possam retirar dali documentos arquivados.
Comércio — Estão na lista, também, todos os documentos para as reuniões do Mercosul de 2011, 2012 e 2013, relatando as posições brasileiras em diversos assuntos e a análise que a diplomacia brasileira faz dos vizinhos, algumas vezes em termos que não seriam usados nas negociações.
Há reclamações, como, por exemplo, dos demais membros não aceitarem reconhecer a cachaça como produto tipicamente brasileiro, ou análise de propostas consideradas irreais, a ponto de o diplomata responsável, dizer, por exemplo, que se os vizinhos - especialmente a Argentina - insistissem em algumas mudanças seria melhor desistir da implementação do código aduaneiro comum. Há, ainda, análises para negociações econômicas em curso e sigilosas, sumários para visitas de Estado - como a do vice-presidente Michel Temer à Rússia - e análises das posições brasileiras em questões como a guerra na Síria e a questão nuclear no Irã. Documentos claramente pessoais, como fotos de uma capa de revista e contratos de empregados domésticos mostram que os textos foram tirados dos HDs de computadores dos servidores do ministério, não apenas no Brasil, mas no exterior.
(com agência Reuters e Estadão Conteúdo)

Brasil: o NAO crescimento so pode ser um complo contra o governo

Só pode ser isso: uma conspiração de capitalistas nacionais de má vontade contra o governo, especuladores internacionais idem, investidores externos cegos ante as fabulosas oportunidades oferecidas pelo Brasil, consumidores fartos de consumir, e São Pedro, claro, que se esqueceu que Deus é brasileiro. Só pode ser um complô maldoso de todas essas forças que explica o mistério da nossa estagflação, a combinação antikeynesiana de inflação e baixo, ou nenhum, cresimento.
Logo contra eles, os nossos keynesianis de botequim.  
Paulo Roberto de Almeida 
Com o desastre econômico do primeiro trimestre, uma expansão miserável de 0,2% combinada com inflação alta e enorme rombo comercial, a presidente-gerente Dilma Rousseff completou três anos e três meses de fracasso econômico registrado oficialmente. O fracasso continua, como confirmam vários indicadores parciais, e continuará nos próximos meses, porque a indústria permanece emperrada e o ambiente econômico é de baixa produtividade. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece desconhecer a história dos últimos três anos e um quarto. Em criativa entrevista, ele atribuiu o baixo crescimento brasileiro no primeiro trimestre a fatores externos e a problemas ocasionais. A lista inclui a instabilidade cambial, a recuperação ainda lenta das economias do mundo rico e a inflação elevada principalmente por causa dos alimentos. Culpa dos gringos, portanto, e isso vale igualmente para o judeu Simão, também conhecido como São Pedro, supervisor e distribuidor das chuvas e trovoadas.

No triste cenário das contas nacionais divulgadas nesta sexta-feira, só se salva a produção agropecuária, com crescimento de 3,6% no trimestre e de 4,8% no acumulado de um ano. Os detalhes mais feios são o investimento em queda e o péssimo desempenho da indústria. Em sua pitoresca entrevista, o ministro da Fazenda atribuiu o baixo investimento à situação dos estoques e ao leve recuo - queda de 0,1% - do consumo das famílias, causado em grande parte pela alta do custo da alimentação. A explicação pode ser instigante, mas deixa em total escuridão o fiasco econômico dos últimos anos, quando o consumo, tanto das famílias quanto do governo, cresceu rapidamente.

O investimento em máquinas, equipamentos, construções civis e obras públicas - a chamada formação bruta de capital fixo - caiu, como proporção do produto interno bruto (PIB), durante toda a gestão da presidente Dilma Rousseff.

No primeiro trimestre de 2011, quando o governo estava recém-instalado, essa proporção chegou a 19,5%. Caiu seguidamente a partir daí, até 17,7% nos primeiros três meses de 2014. Durante esse período o consumo das famílias aumentou velozmente, sustentado pela expansão da renda e do crédito, mas nem por isso os empresários investiram muito mais.

Além disso, o governo foi incapaz de ir muito além da retórica e das bravatas quando se tratou de executar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nem as obras da Copa avançaram no ritmo necessário, apesar do risco de um papelão internacional.

A estagnação da indústria reflete o baixo nível de investimentos, tanto privados quanto públicos, e a consequente perda de poder de competição. Por três trimestres consecutivos a produção industrial tem sido menor que nos três meses anteriores. Encolheu 0,1% no período julho-setembro, diminuiu 0,2% no trimestre final de 2013 e 0,8% no primeiro deste ano. Não há como culpar as potências estrangeiras ou celestiais por esse desempenho.

O conjunto da economia brasileira é cada vez menos produtivo, embora alguns segmentos, como o agronegócio, e algumas empresas importantes, como a Embraer, continuem sendo exemplos internacionais de competitividade.

O baixo crescimento do PIB, apenas 0,2% no trimestre e 2,5% em 12 meses, reflete essa perda de vigor, associada tanto à insuficiência do investimento em capital fixo quanto à escassez crescente de pessoal qualificado. Não por acaso, o País apareceu em 54.º lugar, numa lista de 60 países, na última classificação de competitividade elaborada pelo International Institute for Management Development (IMD), da Suíça.

O baixo desempenho da economia, especialmente da indústria, tem tudo a ver com a piora das contas externas. O efeito mais evidente é a erosão do saldo comercial. No primeiro trimestre, período de referência das contas nacionais atualizadas, o País acumulou um déficit de US$ 6,1 bilhões no comércio de mercadorias. O resultado melhorou um pouco desde abril, mas na penúltima semana de maio o buraco ainda era de US$ 5,9 bilhões. O Banco Central (BC) continua projetando um saldo de US$ 8 bilhões para o ano, muito pequeno para as necessidades brasileiras. No mercado, a mediana das projeções coletadas em 23 de maio na pesquisa semanal do BC indicava um superávit de apenas US$ 3 bilhões.

Estranhamente, os deuses parecem ter poupado outros países dos males atribuídos pelo ministro da Fazenda ao quadro externo. Outras economias continuaram crescendo mais que a brasileira e com inflação menor, apesar de sujeitas à instabilidade dos mercados financeiros e a outros problemas internacionais. A inflação no Brasil tem permanecido muito acima da meta oficial, 4,5%, e a maior parte das projeções ainda aponta um resultado final em torno de 6% para 2o14. Até agora, o recuo de alguns preços no atacado pouco afetou o varejo e os consumidores continuam sujeitos a taxas mensais de inflação superiores a 0,5%. O ritmo poderá diminuir nos próximos meses, mas, por enquanto, as estimativas indicam um repique nos quatro ou cinco meses finais de 2014.

O aperto monetário, interrompido pelo BC na quarta-feira, pode ter produzido algum efeito, mas o desajuste das contas do governo ainda alimenta um excesso de demanda. Na quinta-feira o Tesouro anunciou um superávit primário de R$ 26,7 bilhões nos primeiros quatro meses. Quase um terço desse total, R$ 9,2 bilhões, ou 31%, correspondeu a receita de concessões e dividendos. As concessões renderam 207,4% mais que no período de janeiro a abril do ano passado. Os dividendos foram 716,4% maiores que os do primeiro quadrimestre de 2013. Chamar isso de arrecadação normal e recorrente sem ficar corado vale pelo menos um Oscar de ator coadjuvante. A economia vai mal, mas a arte cênica brasileira ainda será reconhecida. Há mais valores entre o céu e a terra do sonham os críticos da política econômica.

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