sábado, 22 de dezembro de 2018

A arte de escrever para si mesmo - Paulo Roberto de Almeida (2012)

Vivendo para os livros... e a escrita

A arte de escrever para si mesmo


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2012.


No decorrer da maior parte da minha vida, talvez quatro quintos de uma existência dedicada à constante leitura de livros, à reflexão solitária e à redação regular de textos de diversos tipos, o que mais fiz, de fato, foi escrever para mim mesmo. 
Salvo no período mais recente, quando tenho aceito (talvez muito facilmente, e em excesso) compromissos de colaborar com revistas ou livros coletivos, a maior parte de meu tempo livre, durante os últimos quarenta anos, tem sido ocupada pela redação de textos que só tinham um único destinatário: eu mesmo. 
Não por outra razão, minha lista de originais é três vezes mais volumosa do que a correspondente aos trabalhos publicados. Na verdade, minha lista de originais cobre apenas uma parte modesta de meus escritos, aquela de trabalhos efetivamente terminados, com um ponto final, assinados, datados e localizados, e finalmente numerados na ordem sequencial de seu término, não importando quando e onde iniciados.
Os trabalhos apenas esquematizados, iniciados, mas não concluídos, comporiam uma lista ainda mais longa, se por acaso tal lista existisse. Eles estão dispersos, perdidos numa infinidade de pastas, guardadas por sua vez em outras pastas, sem muita ordem ou método, quase sem títulos evocativos, a não ser os de alguma inspiração momentânea. Em todo caso, essas centenas, talvez mais de um ou dois milhares, de working files compõem uma formidável armada – ou exército, como se queira – de reserva, aguardando retomada oportuna em algum tempo livre (que, sabemos todos, nunca virá). Só sei dizer que esses working files, escritos unicamente para mim, nunca entraram na pasta “PRAworks”, organizada em listas anuais (como para a lista de Publicados). Eles ficam simplesmente dispersos, por vezes sob títulos enigmáticos, em pastas dotadas de rótulos anódinos, o que dificulta sobremaneira sua recuperação ulterior para finalização. Muitos estão até esquecidos, coitadinhos, relegados a um limbo do qual até a intenção ou propósito iniciais também há muito se perderam. Esta é mais uma prova, além da quantidade enorme de inéditos, de que eu realmente escrevo para mim mesmo. 
Mas mesmo naqueles escritos “encomendados”, eu jamais aceitei qualquer sugestão de linhas “condutoras”, estilo discursivo ou orientação argumentativa, tanto porque sou eu mesmo quem decido como e com quais objetivos desenvolverei minha linha de raciocínio. Nisso sou absolutamente libertário, inclusive já o era mesmo nos textos oficiais, nos quais sempre escapei do diplomatês insosso no qual se deleitam tantos colegas de carreira. 
Estas são, finalmente, as características da arte de escrever para si mesmo: livre inspiração, total controle do estilo e do método de abordagem, independência de pensamento e plena autonomia argumentativa, decisão solitária sobre como e onde divulgar ( o que não é o mesmo que publicar, já que isto depende de algum editor de revistas ou livros).
Em todo caso, com uma dezena e meia de livros publicados em autoria solitária, meia dúzia de títulos editados por mim e várias dezenas de capítulos em livros coletivos, não posso dizer que eu esteja carente de editores. Recebi, é verdade, convites de editores para compor, ou seja, escrever eu mesmo, tal ou qual livro, mas declaro imediatamente que, a despeito de ter considerado certas sugestões, nunca levei adiante qualquer uma dessas demandas; tampouco ofereci projetos de livros a editores: faço apenas o que me dá vontade. Recém aceitei fazer um “sob encomenda”, sobre a integração regional, mas apenas porque eu teria total controle sobre o que e como escrever. 
Repito, e finalizo: eu escrevo para mim mesmo, leitores são apenas um detalhe do processo (com perdão dos próprios). Como não vivo do que escrevo – pelo menos ainda não – não preciso agradar qualquer público quanto à forma ou o conteúdo daquilo que produzo, em total autonomia. Se, ao cabo de alguns laboriosos exercícios de escrita, chego ao que considero a forma final de algum trabalho, e aprovei o que eu mesmo escrevi, coloco um ponto final, acrescento o local e a data (eventualmente consignando algumas etapas precedentes), registro, finalmente, na lista numérica dos originais e me dou por satisfeito. Quanto ao julgamento dos eventuais (e poucos) leitores, creio que eles devem dispor de tanta liberdade de avaliação quanto a que eu tive na concepção e redação desses meus textos. 
Ponto final, a mais um! Vale!

Brasília, 15 de julho de 2012.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Herança maldita do PT: Cuba caloteia o Brasil -

Maior parte da dívida tem origem no financiamento das obras do Porto de Mariel
Mariana Carneiro

O governo vai desembolsar nos próximos dias o equivalente a US$ 6 milhões (cerca de R$ 23 milhões) para cobrir um calote de Cuba no BNDES.

O valor se refere a uma parcela que venceu em junho e que o país pagou apenas parcialmente. Dos US$ 10 milhões que deveria quitar no mês, Cuba pagou ao BNDES cerca de US$ 4 milhões.

Passados 180 dias do não pagamento, o BNDES formalizou o calote no último dia 17 e acionou o FGE (Fundo de Garantia à Exportação), que é bancado pelo Tesouro.

A maior parte da dívida tem origem no financiamento das obras do Porto de Mariel, um dos símbolos da política exterior do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que pregava a aproximação do Brasil com países latino-americanos, africanos e do Hemisfério Sul.

O Brasil emprestou US$ 682 milhões (cerca de R$ 2,6 bilhões pela cotação atual) para a Odebrecht ampliar e modernizar o Porto de Mariel.

O empréstimo começou a ser contratado em 2009 e as obras foram concluídas em janeiro de 2014. O pagamento foi parcelado em 25 anos (até 2034).

Nos primeiros contatos feitos pelo governo brasileiro para cobrar o valor devido, Cuba alegou que passava por dificuldades financeiras e se recuperava da passagem de um furacão.

Com pagamentos a conta gotas, em julho e em agosto, o país tentava demonstrar o interesse em quitar a dívida.

Mas nestes dois meses novas parcelas venceram, no valor total de US$ 11,4 milhões, e também ficaram sem pagamento.

Em setembro, uma missão foi enviada a Havana com o objetivo de negociar pessoalmente uma saída. O governo de Cuba se comprometeu então a enviar uma proposta para reescalonar os pagamentos. Mas a carta nunca foi enviada.

Na semana passada, o Itamaraty enviou a comunicação derradeira ao governo cubano, informando que, sem o pagamento, o Brasil declararia o default. Ainda assim, Cuba não fez nova comunicação.

Segundo o BNDES, até o fim de setembro, o valor em atraso em 2018 somava US$ 26 milhões. Em 2019, o banco tem a receber mais US$ 70 milhões.

Além do banco estatal, Cuba também deixou de pagar o Banco do Brasil pelo financiamento à exportação de alimentos. Até novembro, a dívida nesta linha de crédito era de aproximadamente 45 milhões de euros.

Na visão de funcionários do governo brasileiro, a decisão cubana de não pagar pode ter fundo político.

Cuba já decretou unilateralmente o fim do convênio no programa Mais Médicos, após a eleição de Jair Bolsonaro. E, embora não esteja honrando o financiamento estatal dado Brasil, tem comprado alimentos de empresas brasileiras pagando à vista.

Procurada pela reportagem, a embaixada cubana em Brasília informou que o chefe do corpo diplomático não estava.

Para Cuba, as condições de financiamento externo tendem a piorar após a decretação do calote. Em crise, o principal parceiro do pais, a Venezuela, reduziu importante fluxo de divisas via venda de petróleo abaixo do preço de mercado para os cubanos.

Como membro do Clube de Paris, o Brasil deverá informar o calote ao grupo, que assume a cobrança.

O Ministério da Fazenda, responsável pelo ressarcimento ao BNDES, informou que, após a decretação do calote, tem até 30 dias para fazer o pagamento.

Os recursos saem dos cofres do Tesouro, remanejados de outras áreas do governo. Isso porque, embora o FGE seja um fundo contabilmente superavitário, os valores arrecadados no passado a título de contratação do seguro de crédito entraram no caixa da União.

Celso Lafer de volta ao Itamaraty - Pedro Rodrigues (Diário do Poder)

Meu querido amigo Pedro Rodrigues, futuro Secretário de Relações Internacionais do GDF, a partir de janeiro de 2019, compareceu, na noite do dia 19 do corrente, ao restaurante Carpe Diem, onde estávamos lançando, depois de uma outra cerimônia no Instituto Rio Branco, os dois volumes da obra de Celso Lafer, e ainda teve a gentileza de transcrever boa parte de uma das duas alocuções que eu havia preparado como apresentação oral naquela oportunidade.
O texto integral figura neste link deste meu blog:
https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/a-casa-de-rio-branco-recebe-celso-lafer.html

Transcrevo agora o artigo de Pedro Rodrigues na sua coluna do blog Diário do Poder desta data:

 PEDRO LUIZ RODRIGUES

Celso Lafer, de volta

Desdenhado pelos petistas que tomaram de assalto o Itamaraty, Lafer volta a ser reverenciado pela Casa
Celso Lafer, o mais competente e intelectualmente íntegro Chanceler brasileiro no que até aqui vai do século 21, esteve em Brasília na quarta-feira (19 de dezembro) para o lançamento de seu livro, em dois volumes (Relações Internacionais, Política Externa e Diplomacia Brasileira: Pensamento e Ação). Essa obra, tenho confiança, tornar-se-á leitura obrigatória dos estudiosos das relações internacionais que desejarem verdadeiramente compreender a complexa realidade externa com que o Brasil vem tendo de lidar desde o fim da Guerra Fria.
Lafer levou muita bordoada nos anos recentes, durante os quais o Partido dos Trabalhadores tentou desmontar os esteios fundamentais da Sociedade e do Estado brasileiros, para substituí-los por não se sabe o quê, pois o que deixaram como legado foi um país fraturado, mediocrizado, enchafurdado num pântano da lama fétida da imoralidade, da corrupção, da inépcia e da irresponsabilidade. O ex-chanceler foi depreciado por seu sucessor Celso Amorim e vitimado pela máquina de moer reputação do PT, lubrificada com dinheiro e intenções espúrias.
No lançamento do livro de Lafer, no Carpe Diem, encontrei-me com meu colega e amigo, o Embaixador Paulo Roberto de Almeida, que dirige o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação Alexandre de Gusmão, do Itamaraty.
Reproduzo, adiante, trechos da alocução do Embaixador Paulo Roberto de Almeida, editor pelo IPRI-FUNAG da obra de Lafer, proferida ontem na apresentação do livro, no Itamaraty.
Paulo Roberto de Almeida: 
“Esta é a publicação que estamos lançando hoje, depois de vários meses de um intenso trabalho de lapidação por parte do IPRI, mas que reúne apenas uma pequena parte da gigantesca produção intelectual já acumulada por Celso Lafer ao longo das últimas décadas, quando ele se desempenhou, não apenas como o mais importante especialista brasileiro nos temas que figuram no título desta obra, “Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira”, mas também como chanceler, duas vezes, a primeira em 1992, depois em 2001 e 2002, e também como representante do Brasil em Genebra na fase intermediária.
Todos nós, diplomatas de carreira, servidores ocasionais da política externa do Brasil, ou simples estudiosos nesse amplo universo da interface externa do Brasil, somos devedores de Celso Lafer, que pode ser considerado uma espécie de “founding father” da disciplina de relações internacionais no Brasil. Todos nós, os nascidos nos últimos cinquenta anos, e mesmo os nascidos antes, tivemos a oportunidade, talvez até a obrigatoriedade, de ler, ou de reler, de estudar e refletir sobre alguns dos seus muitos escritos nas três áreas que compõem o título comum destes dois volumes. Celso Lafer é coetâneo e indissociável do processo de construção, de formação e de expansão da disciplina Relações Internacionais no Brasil. Mais do que isso: ele é indispensável e incontornável na floração e na consolidação da teoria e sobretudo da prática das relações internacionais do Brasil.
O subtítulo da obra não é menos significativo dessa dupla associação de Celso Lafer ao edifício em permanente construção: pensamento e ação. É isso que cada ensaio acadêmico, cada palestra ou entrevista concedida, cada artigo de jornal aqui reproduzido oferece agora aos leitores numa coletânea parcial de um universo bem maior: uma janela de oportunidade para se adentrar na informação, na reflexão e nas lições que podem ser oferecidas por alguém que, mais do que apenas escrever sobre as três áreas contempladas na coletânea, foi parte integrante do processo decisório de política externa, guiou na prática a diplomacia brasileira em momentos relevantes de nossa história recente e teve a chance de oferecer a sua vis directiva para a ação concreta que um país como o Brasil necessita adotar e tomar no plano externo. Temos também pequenos retratos e homenagens a atores e autores nas mesmas áreas-chave em que trabalhou o professor Celso Lafer, entre eles o embaixador Gelson Fonseca, aqui presente, amigo e colaborador em alguns dos seus escritos.
Por todas estas razões, somos gratos ao professor Celso Lafer por ter dado à nossa editora de livros diplomáticos, a Fundação Alexandre de Gusmão, a chance de publicar uma pequena parte de sua imensa obra já consagrada na história teórica e prática das relações internacionais. Depois de muito tempo dispersos em uma multiplicidade de plataformas editoriais, seus escritos, agora reunidos graças ao empenho do IPRI, são colocados à disposição da grande comunidade de estudiosos e praticantes da ação internacional do Brasil. Que este livro, como a anterior coletânea de textos do chanceler Oswaldo Aranha, publicada no ano passado em esforço similar conduzido pelo IPRI, sirva como referência de estudo, de informação histórica e d guia para a ação de nossos diplomatas e pesquisadores nesse universo.
Caro embaixador, professor e amigo Celso Lafer: as portas do Itamaraty e do Instituto Rio Branco estão e continuarão abertos a novas incursões suas na Casa de Rio Branco, assim como os serviços editoriais da Funag e do IPRI continuarão receptivos à publicação de seus outros escritos em todos esses temas nos que exibimos, para usar a famosa expressão de Goethe, reproduzida por Max Weber, “afinidades eletivas”. Aliás, podemos dizer que essas afinidades são mais do que simplesmente eletivas; elas são impositivas, até mesmo obrigatórias, uma vez que a vida intelectual, as atividades acadêmicas e profissionais, assim como o exercício ocasional de Celso Lafer, como servidor do Estado brasileiro em diversos momentos de sua rica trajetória, estão indelevelmente ligados à própria história do Itamaraty nas últimas décadas. Não dispensaremos essa interação, em qualquer formato que seja, no futuro previsível”.




Como abrir a economia de um pais? Breve analise da experiencia internacional - SAE/PR

Como abrir a economia de um país? Breve análise da experiência internacional - SAE/PR
Dando sequência aos debates acerca de temas relevantes para o desenvolvimento econômico brasileiro, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) lança a quinta edição do boletim Breves Notas de Políticas Públicas. Esta é a parte final de uma série de três edições especiais do Breves que tratam do processo de abertura comercial.
Tomando por base consensos acadêmicos internacionais sobre política comercial e negociações internacionais, a quinta edição do Breves trata do tema Como abrir a economia de um país? Breve análise da experiência internacional. Nesta edição são apresentadas estratégicas de abertura adotadas por alguns países, de maneira a exemplificar diferentes formas de se combinar abertura autônoma e abertura negociada.  O texto pode ser acessado no link http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secretaria_de_assuntos_estrategicos/publicacoes-e-analise/boletim-breves.
Boa leitura!
Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE-PR)

Dividas rurais: ruralistas perdoados mais uma vez? (Valor)

Bolsonaro quer perdoar dívida rural; rombo é de R$ 17 bi

Valor Econômico, 21/12/2017

 Sob grande pressão de setores do agronegócio desde a campanha, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, já sinalizou a interlocutores que apoia a aprovação, no próximo ano, de projeto de lei (9.252/2017) no Congresso que concede perdão total das dívidas acumuladas por produtores rurais e agroindústrias com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) - um impacto da ordem de R$ 17 bilhões aos cofres públicos, pelas contas da Receita Federal.
Na avaliação de advogados tributaristas, no entanto, a anistia tem vícios legais e pode ser barrada futuramente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Como gera despesas para o Orçamento sem indicar receitas equivalentes, a proposta de lei fere a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), uma lei complementar.
Além do mais, caso aprovada e sancionada por Bolsonaro, a futura lei ainda pode afrontar decisão do próprio STF, que considerou constitucional a cobrança do passivo do Funrural, em março do ano passado.
O próximo capítulo desse imbróglio em torno do Funrural, contudo, promete nova batalha que não será fácil no Congresso - onde a bancada ruralista, antes numerosa, encolheu pela metade após as eleições - e muito menos dentro do novo governo. O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, teve que intervir junto ao líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO), para barrar a votação do projeto no plenário da Câmara - os ruralistas conseguiram aprovar a urgência, mas aceitaram adiar a votação. Procurado pela reportagem, Guedes não quis se pronunciar.
"Conversei com o Bolsonaro esses dias na Granja do Torto e ele garantiu que vai cumprir sua promessa de campanha de que faria tudo para resolver o problema do Funrural, e resolver está muito claro o que é: aprovar a lei que isenta o pagamento retroativo", disse ao Valor um dos principais conselheiros de Bolsonaro, Luiz Antônio Nabhan, que será secretário de Assuntos Fundiários no Ministério da Agricultura no novo governo. "Ninguém aqui quer acabar com o Funrural, ele continua sendo cobrado. Agora, o retroativo é que é impagável."
Contribuição previdenciária que deixou de ser paga por milhares de produtores que obtiveram liminares na Justiça após um entendimento do STF em 2010, a cobrança do Funrural é considerada injusta pelo setor de agronegócios. A decisão pegou de surpresa o segmento, que sempre manteve o desejo de ter suas dívidas perdoadas.
"Não existe anistia, porque essa dívida, na verdade, não existe. Os produtores foram vítimas de uma injustiça", disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), autor do projeto. "Mas vou alterar o texto e propor um teto para a remissão, para não dizerem que estou beneficiando a JBS."
Antes de se eleger e após visitas a várias feiras agropecuárias acompanhado de centenas de produtores vestindo camisetas com os dizeres "Funrural NÃO!", Bolsonaro gravou dois vídeos defendendo o projeto de anistia aos débitos da contribuição previdenciária. A Andaterra - associação que sempre brigou pelo perdão dessas dívidas - voltou a circular as gravações nas redes sociais agora em dezembro.
Na primeira, o presidente eleito disse não ser justo que o governo penalize o agronegócio com mais impostos e que "estamos juntos nessa briga contra o Funrural". Já no segundo vídeo, foi mais enfático: "Nós devemos agora rever essa lei [do Funrural], não pagando o retroativo num primeiro momento."
Grande articuladora de um Refis para renegociar essas dívidas ao longo do ano passado, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) sempre evitou se engajar nesse movimento. Com o sinal verde dado por Bolsonaro, porém, deputados da chamada bancada ruralista vêm mudando o discurso. E até a atual presidente da FPA e futura ministra da Agricultura, a deputada Tereza Cristina (DEM-MS) - relatora do Refis na Câmara e que sempre defendeu o refinanciamento -, vem sendo convencida de que a anistia é uma alternativa, apurou o Valor.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que assume a bancada em 2019, admite que a remissão é o caminho a ser trilhado a partir do ano que vem, desde que haja concordância com o novo governo, e Bolsonaro não venha a vetar lá na frente o projeto. "Se for a voto no plenário, votaremos a favor. O Bolsonaro já disse que é contrário à cobrança [retroativa]. Como vamos votar contra? Só aceitamos aprovar o Refis porque, na época, a Fazenda dizia que em hipótese alguma daria anistia", afirma Moreira.
Antes de tentar votar o PL da anistia, no entanto, o deputado Goergen e parlamentares da bancada ruralista tentam convencer o presidente Michel Temer a assinar mais uma medida provisória para prorrogar pela sexta vez o prazo de adesão ao Refis. Em pouco mais de um ano, o governo arrecadou apenas R$ 325 milhões, quando na verdade esperava obter no mínimo R$ 1,5 bilhão. As sucessivas prorrogações e a própria Lei 13.606/2018, que criou o Refis, vêm sendo questionadas pela Unafisco, associação dos auditores fiscais da Receita, que entraram no STF com ação direta de inconstitucionalidade.

Matias Spektor: tribulações de uma diplomacia em gestação

Futuro chanceler joga para a torcida, mas faz gol contra
Coluna / Matias Spektor
Folha de S. Paulo – 21/12/2018

Antes de tomar posse, governo eleito acumula pontos opostos a seus próprios interesses

“Mais de 100 mil seguidores no Twitter e 47 mil curtidas de apoio no último tuíte”, celebrou o chanceler designado em referência a seu próprio perfil na rede social.

Interpretando os números como índice de sua própria força, o futuro ministro toca a sua agenda, embalado pela tese da qual tem certeza: a família Bolsonaro o escolheu como diplomata-chefe porque pretende fazer da diplomacia um sinalizador da ideologia e das convicções do próximo presidente da República.

O problema de jogar para a torcida é que o envaidecimento cega o próprio jogador, que termina fazendo gol contra.

E agora, antes mesmo de tomar posse, o governo eleito vai marcando pontos contra seus próprios interesses.

Todas as jogadas seguem o mesmo roteiro. O chanceler aferra-se a um argumento falso. Sem embasamento empírico, ele joga para assegurar o apoio da chefia e o aplauso fácil do torcedor fervoroso. No processo, ignora os custos que a estratégia tem para o país.

O exemplo mais recente é a retirada do Brasil do Pacto Global para Migração. Utilizou-se do argumento inverídico segundo o qual esse instrumento limitaria a soberania nacional logo quando as Forças Armadas brasileiras mostraram liderança global ao dar um show de profissionalismo e gestão na crise migratória com a Venezuela. O time estava ganhando em grande estilo, acumulando prestígio para o Brasil. 

Outro exemplo é a postura do governo eleito sobre mudança do clima. O Brasil é uma grande potência ambiental, tendo voz e peso próprios num dos tabuleiros mais importantes das relações internacionais hoje.


Descartando aquilo que os cientistas dizem, espalhando inverdades e confundindo interesse partidário com interesse nacional, o governo eleito abre mão do exercício de influência numa das poucas áreas em que o Brasil tem poder de fato na política global.
O mesmo ocorre com o alinhamento a Washington. O governo poderia utilizar a promessa de aproximação aos Estados Unidos para demandar concessões pontuais e acumular recursos de poder. Mas não. Optou por entregar tudo a troco de nada no exato momento em que Trump perde força.

O governo também poderia tirar proveito da disputa entre Estados Unidos e China, batalha de nossa era. Aproveitaria o contexto global para arrumar as pendências com os americanos e, de quebra, fazer o necessário pivô para montar a estratégia de inserção do Brasil na Ásia.

Em vez disso, optou-se por alimentar a fantasia de uma Santa Aliança anti-China cujo único resultado concreto será fazer com que Pequim jogue seu peso diplomático contra Bolsonaro.

Não à toa, candidatos à sucessão do chanceler já deixaram o banco de reserva.

Russia, URSS, Russia: a trajetoria da economia politica - Adam Leeds

Se eu tivesse tempo, faria o download do podcast, que deve durar mais de uma hora (talvez o faça), mas fica o registro para os interessados:
https://ceterisneverparibus.net/wp-content/uploads/2018/12/012-CnP_Episode_Adam-Leeds.mp3
Paulo Roberto de Almeida

Adam Leeds on the Development of Soviet and Russian Economics, Episode 12

Podcast: Play in new window | Download (Duration: 1:16:28 — 46.7MB)
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In this episode, Adam Leeds talks with Reinhard about his thesis “Spectral Liberalism: On the Subject of Political Economy in Moscow”, for which Adam won the 2018 “Joseph Dorfman Best Dissertation Prize” awarded by the History of Economics Society. We talk about the development of Soviet and Russian economics and its relationship with politics starting from the late tsarist era, the Soviet Union under first Lenin and Stalin, the post-Stalin era, Gorbachev’s reforms, ending with the development in the 1990s and early 2000s. The topics we discuss include Adam’s research approach of oral history, methodological issues about conducting interviews in Russia, and the relationship between anthropology and the history of economic thought.
Adam is an anthropologist (with an interest in the history of economics) and an assistant professor at Department of Slavic Languages at Columbia University.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...