quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Partidos nanicos perdem força e elegem só 1,1% dos vereadores em 2020 - Poder 360

 

Partidos nanicos perdem força e elegem só 1,1% dos vereadores em 2020

Os 10 partidos com menos eleitos

Em 2016, respondiam por 2,4%

Regra eleitoral mudou em 2020

Saiba onde as siglas vão melhor

Eleitores e mesários usando equipamentos de segurança e álcool gel em seção de votação em Valparaíso (GO)Sérgio Lima/Poder360 – 15.nov.2020

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26.nov.2020 (quinta-feira) - 6h55
atualizado: 26.nov.2020 (quinta-feira) - 7h44

Os números das eleições municipais de 2020 mostram declínio de partidos pequenos no número de vereadores eleitos. Elas indicam que a redução no número de siglas, 1 dos objetivos das últimas mudanças no sistema político (cláusula de desempenho e proibição de coligações proporcionais), pode estar em andamento.

Dos 32 partidos que lançaram candidatos a vereador neste ano, os 10 que menos elegeram conseguiram 1,1% das cadeiras das Câmaras Municipais. É menos do que metade do percentual atingido pelas 10 siglas de pior desempenho em 2016: 2,4%.

 

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Levantamento do Poder360 mostra que 2012 foi o momento quando os partidos pequenos tiveram mais sucesso. Naquele ano, as 10 menores legendas elegeram 4,4% dos vereadores. Os dados foram analisados a partir de 2004, ano mais antigo com informações completas no repositório de dados do TSE.

Pela 1ª vez desde 2004 ano houve 4 legendas que lançaram candidatos, mas não elegeram ninguém. São elas: PCB, PSTU, PCO e a novata UP. Em 2016 foram duas as siglas que não elegeram ninguém, maior número até então.

Ao mesmo tempo, as 10 siglas que mais elegeram vereadores tiveram 74,6% dos eleitos neste ano. Em 2016, eram 71,7%.

MDB e PSDB elegeram menos candidatos aos Legislativos municipais neste ano. A perda no pelotão de cima, no entanto, foi mais que compensada por 1 aumento de eleitos de outros partidos médios e grandes, como DEM, PP e PSD.

CONTEXTO

As eleições de 2020 foram as primeiras sem coligações para cargos proporcionais. Ou seja, os partidos precisaram obter sozinhos (e não em coligação) votos para atingir o quociente partidário. Só ultrapassando essa barreira podem eleger 1 representante.

Também está em vigor a cláusula de desempenho, que inibiu o fenômeno dos puxadores de votos. Para ocupar uma das cadeiras ganhas pelo partido na Câmara Municipal, o candidato precisa ter ao menos 10% do número de votos relativo a essa vaga. Além disso, como a cláusula dificulta o acesso de legendas pequenas à Câmara dos Deputados, ela também afeta o financiamento dessas siglas. A lei eleitoral condiciona a distribuição de dinheiro público ao desempenho nas eleições para deputados.

A cláusula de desempenho foi aprovada em 2015. Antes disso, o Supremo Tribunal Federal derrubou, no ano de 2006, a cláusula de barreira aprovada em 1995. Caso a decisão do Tribunal tivesse sido outra, o país teria menos partidos com representados no Legislativo.

Uma quantidade elevada de partidos no Legislativo, seja federal, estadual ou municipal, faz com que sejam necessárias negociações políticas “no varejo”. A ideia por trás da regra é que, quando as siglas são menos numerosas, as articulações políticas são mais simples.

DOMÍNIO REGIONAL

A maior concentração nos principais partidos pode ser vista nos Estados. Em 2016 houve 3 casos em que uma sigla elegeu mais 20% dos vereadores dentro de 1 Estado. Em 2020, o fenômeno aconteceu 12 vezes.

Caso interessante é do Rio Grande do Sul. Lá, tanto em 2020 quanto em 2016, duas legendas ultrapassaram essa marca: MDB e PP.

Nenhum partido chegou perto de fazer 20% dos vereadores em nível nacional. O MDB foi quem mais elegeu em 2020. Seus 7.310 vereadores equivalem a 12,62% do total de eleitos do país.

Leia nesta tabela as informações referentes às eleições deste ano e nesta às eleições passadas. O Poder360 puxou os dados relativos a 2020 do sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta 3ª feira (24.nov.2020). O arquivo sobre 2016 está disponível no repositório de dados o Tribunal.

Em 15 Estados o posto de partido com mais vereadores mudou de mãos. O MDB perdeu 5. Tinha 13 em 2016 e passou para 8. Quem mais ganhou foi o DEM: foi de nenhum para 4.

Mesmo com a queda no número de vereadores nacionalmente, o MDB continua sendo o partido que lidera o número de eleitos em Câmaras Municipais de mais Estados (8 no total). O mapa a seguir mostra quais partidos detém mais vereadores em quais lugares.

A fatia que o partido com mais vereadores domina, porém, varia bastante. Enquanto o MDB tem 28,46% em Santa Catarina, o partido com mais vereadores do Rio de Janeiro, o DEM, tem apenas 8,19% do total de eleitos. Ou seja, o Estado tem fragmentação muito maior. O mapa interativo a seguir mostra Estado por Estado.

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Ainda uma mini-reflexão sobre o racismo e o nacionalismo — Paulo Roberto de Almeida

 Ainda uma mini-reflexão sobre o racismo e o nacionalismo 

Paulo Roberto de Almeida


Eu não diria que o racismo representa o que há de pior no ser humano, como acreditam alguns: a sensação de desconforto com a alteridade é praticamente natural na “raça” humana: deve ter existido no Cro-Magnon ao se confrontar com o Neandertal, se por acaso isso ocorreu. O racismo vem daí: é quase incontrolável nos grupos humanos diversificados.

Isto, evidentemente, não é uma justificativa para o racismo; apenas um alerta para se evitar simplificações indevidas com respeito a um dos fenômenos mais “comuns” na história humana.

Progressos civilizatórios podem minimizar os sentimentos racistas de pessoas simples (e até de algumas aparentemente “sofisticadas”), mas eles não evitam que tais sentimentos (até inconscientes) aflorem e floresçam em determinadas circunstâncias. O racismo que coexistiu e acompanhou o inconsciente alemão do romantismo nacionalista do Das Vaterlands, Das Volk, sem falar do Der Führer, é uma prova disso, numa sociedade que supostamente conviveu ou apreciou Kant, Goethe e Beethoven.

A tolerância “budista”, ou cristã, que prega a fraternidade e o amor ao próximo, qualquer que seja ele, aparece depois de alguma reflexão sobre o sentido da vida, e do respeito pela vida, costumes, aparência, linguagem e religião dos outros, diferentes.

O racismo pode vir junto com as formas mais canhestras de nacionalismo exclusivista, como no famoso Deutschland über Alles.

Aliás, se parece muito com Make America Great Again e com o “Brasil acima de tudo”, não é mesmo?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/11/2020


Mini-reflexão sobre as agruras existenciais de acadêmicos sobre as “teorias” do racismo e sua relação com o “capitalismo” - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre as agruras existenciais de acadêmicos sobre as “teorias” do racismo e sua relação com o “capitalismo”

Paulo Roberto de Almeida


Debate mais ou menos inútil para saber se as teorias racistas precedem ou não o “capitalismo”, esse superlativo conceitual que nem era usado por Marx — que preferia falar em modo de produção burguês —, mas que enche a boca de acadêmicos e de jornalistas. 

Sempre existiu racismo, em todos os tempos, latitudes e longitudes; se existiam teorias ou não, isso é coisa de acadêmicos. Fatos reais precedem teorias; se as teorias existem, pré-existem ou subsistem, isso não afeta minimamente a existência do racismo, ou dos fatos em seu redor.

Apenas acadêmicos precisam das muletas mentais das teorias para entenderem a realidade. Os historiadores mais sensatos preferem primeiro investigar os fatos: se o fazem com a ajuda das muletas mentais ou não, isso não afeta os fatos, desde que precisamente e honestamente expostos.

Em tempo: Darwin nunca teve nenhuma teoria racista; ele apenas andava atrás dos fatos, e só se angustiava com o fato desses fatos contradizerem o seu livro sagrado, daí a demora em expor a sua teoria da seleção natural. Só se decidiu pela ameaça de concorrente que chegou às mesmas conclusões por outras vias.

Quem construiu teorias equivocadas na sequência foram Gobineau e Spencer, dois acadêmicos equivocados, mas “convenientes” para os manipuladores que os seguiram, criando teorias estapafúrdias no seu seguimento. Rosenberg e Hitler, por exemplo, exageraram na dose, provocando uma das maiores tragédias, senão a maior, da Humanidade. Não eram teóricos, nem acadêmicos, mas seduziram muitos acadêmicos e jornalistas, assim como o populacho em geral.

Os fatos continuaram existindo, independentemente dos equívocos conceituais e das falcatruas monstruosas criadas em torno deles.

A teoria da seleção natural, aliás, continua subsistindo, a despeito da bestialidade do criacionismo, do desenho inteligente e de outras bobagens inventadas depois, que nem são coisas sustentáveis, de verdadeiros acadêmicos, e sim “produções” mambembes de fundamentalistas religiosos. 

Darwin morreu na sua religião, embora um pouco angustiado com a sua “descoberta” de fatos. Ele não os inventou; apenas expôs, com base na sua atenta observação da realidade.

De vez em quando é preciso colocar ordem na confusão mental.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 26/11/2020

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

A diplomacia da estupidez se esmera em afundar o Brasil, moralmente e materialmente - embaixador Ricupero (Jovem Pan)

 Nota da embaixada chinesa é ‘gota que transbordou o copo’, diz ex-ministro da Fazenda

Para o diplomata Rubens Ricupero, posicionamento do país asiático deve ser entendido como uma grande divergência diplomática

Jovem Pan | 25/11/2020, 9h10

O posicionamento da embaixada chinesa após as acusações de espionagem feitas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, ao país, deve ser entendida como uma grande – e surpreendente – divergência. A avaliação é do diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero. O jurista destaca que não há, em sua longa experiência, episódios diplomáticos semelhantes ao acontecido e avalia as graves consequências que uma possível ruptura com o país asiático traria para a economia brasileira. “Deveria tomar muito a séria a advertência que cedo ou tarde a China vai reagir com alguma coisa forte. Se reagir com uma medida forte, o Brasil vai ficar muito mal, porque o que salva o balanço de pagamentos e o nosso comércio externo é a China. Exportamos 35% de tudo que vendemos para a China. A cada dólar que exportamos para os Estados Unidos, exportamos 3,4 dólares para os chineses. Então o governo está brincando com fogo”, avalia.

Rubens Ricupero afirma que não se trata de uma subserviência ao governo chinês, mas sim a manutenção de uma “relação normal de respeito mútuo”, como o Brasil adota com outros países. “Não me lembro que tivesse visto coisa semelhante, ela [nota da embaixada] é muito forte. Inclusive tem passagens até ameaçadoras. Acho que isso ocorreu como uma espécie de gota que transbordou o copo, porque o governo brasileiro, nos últimos meses, tem se esmerado em provocar a China. O governo Brasil faz questão, uma espécie de esporte, de hostilizar a China”, afirma. O diplomata aponta que as declarações feitas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro não, até mesmo, coisas “tolas”, mas analisa que, em contrapartida, os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro são graves. “Os insultos do Eduardo Bolsonaro são gratuitos, são até coisas tolas, mas o que o presidente faz, mas coisas que ele diz ou as ações que ele toma sobre a vacina [Coronavac], por exemplo, as declarações sobre a China e sobre o 5G vão acumulando um número grande de recriminações e queixas. E os chineses, que já foram muito humilhados pelos europeus, não muito suscetíveis e tem uma sensibilidade à flor da pele”, afirma, destacando que estes posicionamentos do governo frente ao país asiático são “consequências da estupidez”. “Não há outra palavra para explicar isso”, afirma.

A nota emitida pela embaixada da China nesta terça-feira, 23, foi publicada após Eduardo Bolsonaro, pelo Twitter, acusar Pequim de praticar espionagem. Na publicação na rede social, já apagada, o filho de Bolsonaro deu a entender que o Brasil seguiria o posicionamento de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, de tentar proibir o avanço de empresas chinesas no mercado global do 5G. “O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Newtork (Rede Limpa), lançada pelo governo Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, afirmou, citando que o presidente brasileiro buscava “proteger seus participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas. Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”. No documento de 17 páginas, a embaixada afirma que a posição do deputado está na “contracorrente da opinião pública brasileira”, desrespeitando “os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia” e interferindo “na atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”. “Acreditamos que a sociedade brasileira, em geral, não endossa nem aceita esse tipo de postura. Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

https://jovempan.com.br/programas/jornal-da-manha/nota-da-embaixada-chinesa-e-gota-que-transbordou-o-copo-diz-ex-ministro-da-fazenda.html

 

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O valor da cooperação global - Editorial Estadão (O que fará agora, o chanceler acidental?)

 O valor da cooperação global

G-20 mostrou que Trump já é passado, e não só pela menção ao esforço global contra a pandemia.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo | 25/11/2020, 3h

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,o-valor-da-cooperacao-global,70003526920


O mais recente encontro do G-20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo, terminou com muitas incertezas acerca do combate à pandemia de covid-19 e dos devastadores efeitos econômicos por ela causados, mas ao menos serviu para recuperar a mensagem de que o mundo não superará a crise sem cooperação global.

“A inédita pandemia de covid-19 é uma poderosa lembrança de nossa interconectividade e de nossas vulnerabilidades”, diz a nota conjunta emitida ao final do encontro. E continua: “O vírus não respeita fronteiras. Combater essa pandemia demanda uma resposta transparente, robusta, coordenada, de larga escala e baseada na ciência, dentro do espírito de solidariedade. Estamos fortemente comprometidos em apresentar uma frente unida contra essa ameaça comum”.

Essa frente inclui a promessa de um esforço para fazer chegar a vacina aos países mais pobres, pois o grupo concluiu que não há como superar a crise causada pelo coronavírus sem que a doença esteja controlada em todo o mundo. Embora vago, esse compromisso é essencial e denota a conclusão, expressa pela primeira-ministra alemã, Angela Merkel, de que o desafio “só será vencido com um empenho global”.

O comunicado é chancelado por todos os chefes de Estado do G-20, inclusive Donald Trump, presidente dos EUA, e seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, ambos destacados líderes de um movimento irracional mundial destinado a minimizar a pandemia.

Se a assinatura de Bolsonaro vale o papel em que foi escrita, portanto, é lícito esperar que o presidente mude de atitude drasticamente e passe a entender a cooperação e a ciência como essenciais para enfrentar a crise. A esse respeito, o comunicado do G-20 é inequívoco: “Destacamos a urgente necessidade de controlar a disseminação do vírus, o que é a chave para a sustentação da recuperação da economia global”. Sendo assim, e ninguém de bom senso pode argumentar o contrário, Bolsonaro está obrigado a deixar imediatamente de lado sua campanha contra as medidas de prevenção destinadas a conter o coronavírus, a não ser que tenha assinado o comunicado sem o ter lido.

A participação de Bolsonaro na cúpula do G-20 não é por si mesma garantia de que o presidente compartilhe com seus colegas chefes de Estado o diagnóstico expresso no comunicado da reunião. Na sua vez de falar, o presidente brasileiro voltou a manifestar-se no conhecido tom defensivo e, como já se tornou habitual, esquivando-se de responsabilidades.

Depois, Bolsonaro faltou às sessões que discutiram a pandemia e as mudanças climáticas, os temas predominantes do mundo nos próximos anos, e não compareceu à sessão final. Seu mentor, Donald Trump, não foi muito melhor: fez apenas um discurso na abertura do encontro e foi jogar golfe.

De Trump não se esperava mesmo outra atitude, visto que se comportou dessa maneira desrespeitosa ao longo de todo o seu mandato e não seria agora, a semanas de deixar o cargo, que se emendaria. Mas Bolsonaro ainda tem dois longos anos de mandato pela frente, tempo mais que suficiente para ampliar ainda mais o isolamento brasileiro – agora sem o respaldo de um Trump derrotado pelas urnas.

A cúpula do G-20 mostrou que Trump já é passado, e não somente pela menção ao esforço global contra a pandemia. Além de enfatizar a necessidade de fortalecer a Organização Mundial da Saúde, tão vilipendiada por Trump e Bolsonaro, o grupo sublinhou que “o apoio ao sistema de comércio multilateral”, sabotado pelo atual governo norte-americano, “é hoje mais importante do que nunca”. Para completar, o G-20 reiterou os compromissos de proteção ao meio ambiente assumidos no Acordo de Paris, que Trump abandonou e Bolsonaro menosprezou.

Assim, soa cada vez mais caquética a campanha bolsonarista contra o “globalismo”, nome que o chanceler Ernesto Araújo dá ao multilateralismo, visto por ele como “estágio preparatório para o comunismo”. Como disse o premiê italiano, Giuseppe Conte, anfitrião do próximo encontro do G-20, “o multilateralismo não é uma opção”, mas sim “o único caminho sustentável” para o mundo.



Bolsonaro e a diplomacia da estupidez - Thomas Traumann (Veja)

 Bolsonaro e a diplomacia da estupidez

O Brasil briga com a China, com a União Europeia, com a Argentina e vai sentir o calor do novo governo Biden 

Thomas Traumann

Veja, 25/11/2020

https://veja.abril.com.br/blog/thomas-traumann/bolsonaro-e-a-diplomacia-da-estupidez/


Meu pai me contava que bastava uma lata de tinta para reconhecer um schmuck (idiota em ídiche). “Peça que ele pinte o chão de um quarto. O schmuck vai começar pela porta e, ao final, ficará preso em um canto cercado de tinta fresca por todos os lados”, dizia. A política externa brasileira é igualzinha ao estúpido da anedota. 

O governo da China parabenizou hoje o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, pela vitória, transformando o Brasil no único país que ainda acha que Donald Trump venceu a eleição de novembro. Não que isso tenha mais importância. Nesta semana, Biden indicou que o ex-veterano da guerra do Vietnã, ex-senador e ex-secretário de Estado John Kerry como seu czar do Meio Ambiente.  A função de Kerry será recolocar os Estados Unidos como signatário do Acordo Climático de Paris e incomodar os países que estão descumprindo a agenda mínima de proteção ambiental.  Ganha uma motosserra novinha quem adivinhar qual o primeiro país da lista de Kerry. 

Mas os Estados Unidos não são o único país do mundo. Tem a China. Na segunda-feira, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro postou um tuíte propagando que a China pretende usar a tecnologia 5G para espionar outros países. “Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, escreveu. A resposta da Embaixada China foi ameaçadora. “Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira e evitar ir longe demais no caminho equivocado tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, afirmou a embaixada. A China responde hoje por um terço das exportações brasileiras, sendo a maior compradora de ferro, soja e fundamental para o agro. 

Com a União Europeia, a relação é ainda pior. Jair Bolsonaro e Paulo Guedes já ofenderam a mulher do presidente da França, atacaram a Noruega e a Alemanha. A retórica de botequim da família Bolsonaro, Guedes e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, paralisou as conversas sobre o acordo comercial Mercosul-União Europeia, resultado de anos de tratativas dos diplomatas dos governos Lula, Dilma e Temer. 

Nem com os vizinhos a diplomacia da estupidez consegue conviver. Bolsonaro rompeu com a Argentina desde a eleição de Alberto Fernández, apoiou o golpe na Bolívia, atacou a ex-presidente do Chile e rompeu as pontes que faziam do Brasil um negociador para uma saída institucional para a Venezuela. O Brasil, que desde a volta da democracia era um ator relevante no cenário global, virou um pária. 

Em tese, o shmuck da anedota pode sair do quarto quando a tinta secar. Em tese ainda, na próxima vez ele pode começar a pintar pelos cantos e deixar a saída para o fim. Só em tese. É mais fácil Bolsonaro aumentar os ataques à China e piorar as relações com o mundo. Shmucks não aprendem. 


Huawei espera 'racionalidade' do Brasil e decisão sobre 5G baseada em fatos - Anne Warth (Estadão, 25/11/2020)

 Huawei espera 'racionalidade' do Brasil e decisão sobre 5G baseada em fatos, diz diretor da empresa

O brasileiro Marcelo Motta, responsável global pela cibersegurança da chinesa, diz que a companhia está à disposição do País para esclarecer "rumores" sobre sua atuação

Estadão | Anne Warth | 25/11/2020


BRASÍLIA - Principal alvo da pressão norte-americana no 5G e acusada de ser um braço de espionagem do governo chinês, a Huawei diz esperar “racionalidade” do governo na decisão que norteará o futuro da tecnologia no País. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor global de cibersegurança da Huawei, Marcelo Motta, afirma que a empresa está à disposição para esclarecer quaisquer “rumores” a respeito de sua atuação e frisa não haver “prova alguma” que desabone a companhia. “O que posso dizer é que contamos com a confiança de nossos clientes em 170 países”, disse.

Nove dias após o subsecretário para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA, Keith Krach, pregar o banimento da Huawei no Brasil, a direção mundial da empresa reagiu. Na terça-feira, 24, a Embaixada da China em Brasília reagiu à acusação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, de que praticaria espionagem por meio de sua rede de tecnologia 5G.

Pequim acionou o Itamaraty para reclamar de uma publicação de Eduardo nas redes sociais, posteriormente apagada por ele. Na mensagem, Eduardo Bolsonaro fez menção à adesão simbólica do Brasil à Clean Network (Rede Limpa), iniciativa diplomática do governo Donald Trump para tentar frear o avanço de empresas chinesas no mercado global de 5G. O filho 03 de Bolsonaro, como é chamado pelo pai, celebrou o fato como um sinal de que o Brasil “se afasta da tecnologia da China”. 

Na sexta-feira, 20, o ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu, por meio de videoconferência, com o vice-presidente global de Public Affairs e Relações Governamentais da Huawei, Mark Xueman, com o vice-presidente de Public Affairs e Relações Governamentais na Huawei Brasil, Guo Yi, e com o diretor-sênior de Relações Governamentais na Huawei Brasil, Atilio Rulli. Não foram recebidos, no entanto, pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ministério das Comunicações e pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

Brasileiro, Motta está na Huawei desde 2002 e vive na China há oito anos, quando assumiu a chefia global da área de cibersegurança da empresa. Ele relata que as acusações sobre a empresa não são novas, mas subiram de tom quando a Huawei começou a se expandir. Mundialmente, a empresa faturou US$ 123 bilhões em 2019, aumento de 19% sobre 2018. Até o terceiro trimestre de 2020, ela registrava receitas de US$ 100 bilhões, alta de 9,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

No Brasil, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estima que a Huawei esteja presente em algo entre 35% a 40% das redes atuais. As operadoras dizem que a fatia é ainda maior, variando de 45% a até 100%, dependendo da empresa. Banir a empresa é uma decisão que depende de decreto presidencial - até agora, não há um posicionamento claro sobre o tema. Confira os principais trechos da entrevista.

Qual a expectativa da Huawei em relação à decisão do governo brasileiro no 5G?

Esperamos que a racionalidade impere e que qualquer decisão não seja tomada com base em rumores. Fazemos todo o esforço para mostrar nossa transparência e expressar isso para além das operadoras, mas também para o governo. Estamos ativamente em contato com governo e Congresso. Colocamos nossos equipamentos à disposição para testes com seu próprio time de técnicos, para que o governo se blinde de comentários externos e tome suas decisões de forma soberana. É nesse sentido que temos atuado e estamos confiantes de que a racionalidade vai prevalecer. Nossa exclusão faria com que muitos processos envolvendo o 5G atrasassem no País. Seria uma pena de isso de fato ocorresse.

O que a Huawei tem feito para rebater as acusações de espionagem por parte de outros países?

Segurança cibernética e proteção de dados são prioridades máximas para a empresa e isso é de longa data. Sabemos que estaremos acabados se tivermos qualquer problema nessa área. Por isso, aprimoramos o processo de governança em segurança cibernética. Laboratórios independentes testam cada solução antes que ela seja lançada no mercado. Somos a única empresa a ter centros globais de segurança cibernética, em Dongguan (China) e Bruxelas (Bélgica). Nesses centros, clientes, operadoras e governos podem ter acesso ao código-fonte de nossas soluções e fazer auditorias usando seu próprio pessoal e ferramentas, para que tirem suas próprias conclusões, sem a influência de acusações infundadas e sem provas. Se houver fatos, clamamos que sejam mostrados. Até hoje, nada apareceu.

Como a Huawei vê a pressão dos EUA pela adesão do Brasil à Clean Network e pelo banimento da companhia?

A iniciativa Clean Network não cobre única e exclusivamente telecom, mas aplicativos, smartphones e cabos intercontinentais submarinos. O nome “Rede Limpa” é bonito, e quem não conhece pode até cair e se deixar seduzir, mas a definição está na página da Clean Network na internet. O objetivo é muito claro: tirar qualquer fornecedor chinês do espaço cibernético. É uma coisa muito séria, que exclui, de forma unilateral e sem qualquer critério técnico e racional, e transforma tudo num assunto única e exclusivamente geopolítico. Operadoras citadas como membros da iniciativa no site já manifestaram discordâncias com esse conceito de rede limpa que os EUA anunciaram. É algo completamente discriminatório, feito com o objetivo de dominar o espaço cibernético. O problema não é específico contra a Huawei. Estamos sendo usados para uma disputa entre duas grandes superpotências mundiais.

O que está por trás da intenção dos EUA?

O futuro da economia é digital. Temos uma liderança reconhecida no mercado dentro do 5G. Atendemos grandes e pequenas operadoras com banda larga fixa e móvel e temos uma participação relevante no mercado de redes e de infraestrutura. Mas a maioria das empresas Over The Top (OTTs) - plataformas e aplicativos de distribuição de conteúdo - são americanas. O TikTok talvez seja o único aplicativo chinês de sucesso mundial. Nessa camada, os EUA são líderes isolados, e é difícil competir com empresas como Google e YouTube, que possuem grande escala e alcance global. A margem de lucro dessas empresas é gigantesca, de 25% sobre a receita. Mas quantos empregos elas geram localmente? O que recolhem em impostos nos países em que atuam? Nenhuma operadora ou fabricante de redes consegue esse resultado. A margem é muito pequena, de 2% a 3%. A Huawei passou anos com resultados negativos e nossa margem nunca superou 8%.

Quais riscos a adesão à Clean Network traz para o desenvolvimento da internet?

Essa iniciativa Clean Network sai do escopo de rede e avança para apps e smartphones, o que é muito ruim para o desenvolvimento da internet. Talvez isso não esteja claro para o governo. A própria Internet Society já se pronunciou contra essa iniciativa, que vai contra o princípio de conectar pessoas. Outra camada em que os EUA são líderes é na computação em nuvem: 92% dos dados do mundo ocidental estão em nuvens de empresas americanas como a Amazon Webcharge (AWS), a Microsoft Azure e o Google Cloud. Os dados acabam ficando nessas nuvens e é sobre elas que são construídos os aplicativos. Existe muita competição na camada de redes de telecomunicações, na camada de smartphones, mas nas camadas de nuvens e aplicações há pouquíssimos competidores de porte dos grandes players norte-americanos.

Quais benefícios o 5G pode trazer para a economia mundial?

Quando o 5G estiver instalado e desenvolvido, os benefícios irão muito além de velocidade alta e tempo de resposta baixo. Em vez de um único fornecedor global de aplicativos, muitos aplicativos serão locais, desenvolvidos primordialmente por empresas locais. No agronegócio e na manufatura inteligente, o processamento de dados de aplicações será local. O 5G trará investimento para as economias com ganhos de eficiência e desenvolvimento. Quando se colocam restrições para o avanço do 5G, simplesmente se trava o desenvolvimento da economia local.

De que maneira um atraso no 5G pode atrapalhar o desenvolvimento do País?

Quando se impõem restrições, a competição é menor e o preço é maior. Haverá lentidão para trazer os sistemas, desenvolver as indústrias locais e, consequentemente, a economia brasileira. Fizemos uma pesquisa com a Deloitte, que estimou que o 5G trará ao Brasil um incremento de R$ 2,93 trilhões no PIB em 15 anos, comparativamente aos R$ 7,25 trilhões do PIB de hoje. Isso representa uma taxa média anual de crescimento do PIB de 2,5%. Imagine o impacto que isso terá.

Países, como Reino Unido, Japão e Austrália, baniram a Huawei de suas redes 5G. O Brasil pode ficar isolado se não o fizer também?

É uma pena que a chegada da tecnologia 5G tenha sido politizada. Vários dos países que baniram a Huawei são aliados de longa data dos EUA e sucumbiram a uma pressão geopolítica. O caso do Reino Unido é emblemático: em janeiro, autorizaram a entrada do 5G da Huawei e em julho mudaram de ideia, apesar de todos os testes realizados. Isso, nas palavras do próprio governo, vai atrasar a chegada do 5G por lá em dois a três anos, e haverá um forte impacto nos custos das operadoras. Por outro lado, as maiores redes 5G estão hoje na Coreia do Sul e na China, com tecnologia Huawei, assim como em todo o Oriente Médio. Na Europa, Suíça, Alemanha e Espanha se posicionaram positivamente em relação à Huawei. Existe uma gama de países que não sucumbiram a esse tipo de pressão. Muitos países podem reavaliar seu posicionamento em razão da mudança no governo dos Estados Unidos, com a vitória do democrata Joe Biden, enquanto outros adiaram sua decisão em razão disso.

Quais os diferenciais da Huawei em relação a seus competidores no 5G?

Para se ter uma ideia, o Brasil tem hoje 100 mil antenas de 2G, 3G e 4G. Na China, há 800 mil antenas apenas para o 5G. A Coreia tem a maior rede 5G em termos de densidade de antenas. Estamos presentes nos países que precisam da melhor solução técnica e de escala. A saída da Huawei do mercado brasileiro comprometeria a expansão das redes para operadoras e consumidores de forma muito ruim. Onde a Huawei foi banida, o preço da infraestrutura de telecomunicações subiu de duas a cinco vezes em áreas rurais. Com esse aumento de custo, os competidores deixam de atender a várias áreas e isso chega a inviabilizar negócios. Um pacote pré-pago nos EUA é oito vezes mais caro que no Brasil e na China.

Como a Huawei encara as insinuações de que cederia a pedidos do governo chinês por informações confidenciais em atendimento à lei de inteligência nacional?

Não existe lei na China que exija que a Huawei implemente backdoors (ou "porta dos fundos", em inglês, é o método usado para ter acesso às informações dos usuários contornando medidas de segurança) em suas soluções. Além disso, as leis chinesas não têm validade extraterritorial: valem apenas no território chinês e se aplicam apenas às empresas que lá estão. Mesmo que existisse uma lei exigindo backdoor, ela valeria apenas na China, diferentemente de outros países que se valem de suas leis para avançar sobre outras nações. A Huawei apenas fornece equipamentos para operadoras, mas não os opera. As redes das operadoras são fechadas e a Huawei não tem acesso a elas, muito menos aos dados. Somos a empresa mais transparente do mundo em segurança cibernética. Somos a única que abre o código-fonte. Nosso segredo industrial está aberto para ser auditado. Qual privilégio os EUA têm para desconfiar da Huawei e para que ninguém desconfie deles ou de quaisquer outras empresas, independentemente da nacionalidade?

A direção mundial da Huawei teve audiência com o ministro da Economia, Paulo Guedes, na semana passada. A empresa está preocupada com um possível banimento?

O Brasil é extremamente importante para nossa empresa. O time vem ao Brasil de forma rotineira. Não houve nada de extraordinário nesse período, são coisas normais. É óbvio que esse assunto do 5G chama nossa atenção. Estamos com abertura completa para fazer qualquer tipo de esclarecimento ao governo. Estamos comprometidos a esclarecer quaisquer pontos e dúvidas que existam. Estamos no País há 22 anos. Temos cinco escritórios no Brasil, um centro de distribuição e um centro de treinamento. São 1,2 mil funcionários diretos, 15 mil indiretos. Pagamos R$ 1,4 bilhão em impostos locais no Brasil no ano passado. Foram R$ 627 milhões em compras locais e R$ 150 milhões em investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Como a Huawei avalia as dúvidas no mercado sobre o grau de transparência em relação a informações financeiras e societárias?

Não somos uma empresa pública, somos uma empresa privada. Não temos ações em Bolsa, mas isso não significa que não sejamos transparentes. Há informações sobre a quantidade de funcionários, quem tem participação na empresa, como o board (conselho de administração) é selecionado. O fundador da Huawei tem menos de 1% das ações, e a maior parte dos papéis está nas mãos dos funcionários. Isso é algo que atrai funcionários, que se sentem também donos da companhia. Nossos resultados anuais são auditados pela KPMG e são divulgados a cada trimestre, embora não sejamos obrigados a fazê-lo. Temos centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados no mundo inteiro: nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Índia, Suécia e também no Brasil. Somos hoje uma empresa mais global do que única e exclusivamente chinesa. A Huawei é uma empresa líder em solicitação de patentes. Desde 2016, temos 20% das patentes do 5G, resultados de investimentos de US$ 4 bilhões realizados entre 2009 a 2019.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,huawei-espera-racionalidade-do-brasil-e-decisao-sobre-5g-baseada-em-fatos-diz-diretor-da-empresa,70003527670


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