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quarta-feira, 9 de março de 2011

Reflexões ao Léu, 6: A Grande Estratégia do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Reflexões ao Léu, 6: A Grande Estratégia do Brasil
Paulo Roberto de Almeida


O Brasil possui uma estratégia, grande ou pequena? Talvez, embora nem sempre se perceba. Os militares talvez tenham pensado em alguma, e ela sempre envolve grandes meios, para defender as grandes causas: a soberania, a integridade territorial, a preservação da paz e da segurança no território nacional e no seu entorno imediato. Enfim, todas aquelas coisas que motivam os militares. Os diplomatas, também, talvez tenham escrito algo em torno disso, e ela sempre envolve o desenvolvimento nacional num ambiente de paz e cooperação com os vizinhos e parceiros da sociedade internacional, no pleno respeito dos compromissos internacionais e da defesa dos princípios e valores constitucionais, que por acaso se coadunam com a Carta da ONU. Mas eles também acham que está na hora de “democratizar” o sistema internacional, que ainda preserva traços do imediato pós-Segunda Guerra, ampliando o Conselho de Segurança da ONU, reformando as principais organizações econômicas multilaterais e ampliando as possibilidades de participação dos países em desenvolvimento nas instâncias decisórias mundiais; enfim, todo aquele discurso que vocês conhecem bem.
Tudo isso é sabido, e repassado a cada vez, nas conferências nacionais de estudos estratégicos, em grandes encontros diplomáticos, nos discursos protocolares dos líderes nacionais. Até parece que possuímos de fato uma grande estratégia, embora nem sempre isso seja percebido por todos os atores que dela participam, consciente ou inconscientemente. Aparentemente, ela seria feita dos seguintes elementos: manutenção de um ambiente de paz e cooperação no continente sul-americano e seu ambiente adjacente, num quadro de desenvolvimento econômico e social com oportunidades equivalentes para todos os vizinhos, visando a construção de um grande espaço econômico integrado, de coordenação e cooperação política, num ambiente democrático, engajado coletivamente na defesa dos direitos humanos e na promoção da prosperidade conjunta dos povos que ocupam esse espaço.
Muito bem, mas esses são objetivos genéricos, até meritórios e desejáveis, que precisam ser implementados de alguma forma, ou seja, promovidos por meio de iniciativas e medidas ativas, o que envolve inclusive a remoção dos obstáculos que se opõem à consecução desses grandes objetivos. É aqui que entra, de verdade, a grande estratégia, quando se tem de adequar os meios aos objetivos, não simplesmente na definição de metas genéricas. A estratégia é que permite se dizer como, e sob quais condições, o povo do país e suas lideranças vão mobilizar os recursos disponíveis, as ferramentas adequadas e os fatores contingentes – dos quais, os mais importantes são os agentes humanos – por meio dos quais será possível alcançar os grandes objetivos e afastar as ameaças que se lhes antepõem. Uma verdadeira estratégia diz o que deve ser feito, na parte ativa, e também, de maneira não simplesmente reativa, como devemos agir para que forças contrárias dificultem o atingimento das metas nacionais.


Nesse sentido, se o grande objetivo brasileiro – que integra nesta concepção sua “grande estratégia” – é a consolidação de um espaço econômico democrático e de cooperação econômica no continente, devemos reconhecer que avançamos muito pouco nos últimos anos. A despeito da retórica governamental, não se pode dizer, atualmente, que a integração e a democracia progrediram tremendamente na última década. Ao contrário, olhando objetivamente, esses dois componentes até recuaram em várias partes, e não se sabe bem o que o Brasil fez para promovê-los ativamente. O presidente anterior foi visto abraçado com vários ditadores ou candidatos a tal, esqueceu-se de defender a liberdade de expressão, os valores democráticos e os direitos humanos onde eles foram, e continuam sendo, mais ameaçados, quando não vêm sendo extirpados ou já desapareceram por completo. A integração que realmente conta, a econômica e comercial, cedeu espaço a uma ilusória integração política e social que até pode ter rendido muitas viagens de burocratas e políticos, mas não parece ter ampliado mercados e consolidado a abertura econômica recíproca.


Desse ponto de vista, o Brasil parece ter falhado em sua grande estratégia, se é verdade que ele realmente possui uma. Se não possui, está na hora de pensar em elaborar a sua. Passada a retórica grandiloquente – contra-produtiva, aliás – da liderança e da união exclusiva e excludente, contra supostas ameaças imperiais, pode-se passar a trabalhar realisticamente na implementação da grande estratégia delineada sumariamente linhas acima. A julgar pelos primeiros passos, parece que começamos a retificar equívocos do passado recente e a enveredar por um caminho mais adequado e mais conforme a nossas velhas tradições diplomáticas.


Brasília, 9 de Março de 2011

terça-feira, 8 de março de 2011

Mercosul anti-americano?: no que depender do Chavez...

Mas não só dele. Muitas outras pessoas, que negavam de público (e vão continuar negando), alimentavam esse anti-americanismo infantil e basicamente estúpido, de querer sair da "dependência comercial americana", como se comércio fosse algo espúrio...

Wikileaks traz críticas dos EUA ao Mercosul
Estado de S.Pauoo, 7/03/2011

O jornal portenho “Página 12″ divulgou hoje o conteúdo de telegramas do Departamento de Estado dos EUA que indicavam que em 2007 o governo do então presidente George W. Bush considerava que “a entrada da Venezuela no Mercosul altera claramente o balanço e a dinâmica da organização”. Segundo os telegramas, filtrados pela Wikileaks, Washington considerava o bloco comercial do Cone Sul uma organização de oposição pertinaz aos Estados Unidos: “o Mercosul gradualmente foi transformando-se de uma união alfandegária imperfeita em uma organização mais restritiva e antiamericana”.

Na época, a Venezuela – governada pelo presidente Hugo Chávez – estava tentando ser aceita como sócia plena do Mercosul. Apesar da aprovação dos parlamentos do Uruguai e da Argentina, encontrava resistências nos Senados brasileiro e paraguaio (o senado brasileiro aprovou a entrada da Venezuela em 2009, enquanto que o Paraguai ainda não debateu o pedido de inclusão do país caribenho, devido à resistência da oposição e de parte do bloco governista).

As definições dos EUA sobre o Mercosul foram emitidas durante uma série de reuniões que foram realizadas nos dias 8 e 9 de maio de 2007 no Rio de Janeiro pelos embaixadores americanos no Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. O telegrama, classificado como “secreto” no dia 17 de maio de 2007 por Michael J. Fitzpatrick, da embaixada dos EUA na capital paraguaia, Assunção, leva o título de “Conferência: uma perspectiva do Cone Sul sob a influência de Chávez”.

Segundo os telegramas filtrados pela Wikileaks e publicados pelo “Página 12″, os embaixadores americanos concluíram no final da reunião que “a campanha de Chávez para expandir sua influência no Cone Sul é multifacética e está apoiada em grande parte – mas não totalmente – em uma generosa assistência energética e acordos de investimento”. Os diplomatas consideraram que “poucos países provaram que foram capazes de resistir ao atrativo da ajuda venezuelana e seus pacotes de investimento”.

Os telegramas indicam que os embaixadores consideraram necessário pedir “mais ferramentas e recursos” para enfrentar o que denominaram de “esforços políticos para fissurar a democracia, planejar estratégias econômicas para estrangular o livre comércio, a politização do Mercosul e a expansão dos laços da área de defesa”.

O então presidente Néstor Kirchner (2003-2007), falecido em outubro do ano passado, passou pelo crivo analítico dos diplomatas. “Embora Kirchner compartilhe algumas posturas esquerdistas de Chávez, ele é um pragmático”, sustentaram. O governo da presidente Cristina Kirchner, que estava em pleno feriado de carnaval, não fez declarações oficiais sobre o conteúdo dos telegramas filtrados pela Wikileaks.

Nao sabia o que fazer na vida; foi ser diplomata...

Quase isso. Mas pelo menos ele é sincero.
Resta saber se vai entrar na indústria das indenizações também...

Minha história - Jom Tob Azulay: Filho pródigo
Depoimento a JULIANA ROCHA, DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 8/03/2011

Um amigo passou em quarto lugar [no Itamaraty] e foi impedido de se matricular por ter sido líder estudantil Eu tinha que ver a lista de pessoas que não podiam ter o passaporte renovado Estava exercendo funções policiais. Eu tinha que sair

RESUMO
Jom Tob Azulay assistiu à caça às bruxas que a ditadura militar promoveu no Itamaraty, onde entrou em 1965. Testemunhou expurgos e, a contragosto, foi incumbido de executar a política do regime nos postos em que serviu. Pediu desligamento em 1976. Após décadas trabalhando como cineasta, reencontrou-se com a diplomacia e foi reintegrado ao Itamaraty.

Jom Tob Azulay, 69, pertence à geração que entrou para o corpo diplomático na ditadura militar, vendo-se na obrigação de representar um regime com o qual não se identificava. Desde o exame de admissão até deixar o Itamaraty, em 1976, assistiu à perseguição política no ministério, ao qual acaba de ser reintegrado pela comissão da anistia. Servirá na Índia, como conselheiro, até completar 70 anos, em dezembro, quando deverá se aposentar.

MENINO DO RIO
Tive uma educação típica de classe média do Rio de Janeiro, criado em Ipanema, nos anos 50. Não me envolvi com atividades estudantis na faculdade. Eu era praiano, frequentava os pontos de encontro da bossa nova.
Comecei a namorar uma dinamarquesa sete anos mais velha, que me deu uma visão de vida europeia. Me ensinou a falar francês e inglês, a me vestir, a ter certa sofisticação. Eu não sabia o que fazer e o Itamaraty era uma opção interessante.

EXAME IDEOLÓGICO
Comecei a estudar para ser diplomata em 1963, no auge do predomínio do pensamento de esquerda. Minha formação foi dentro da visão crítica da realidade do país.
Prestei o exame no ano seguinte ao golpe e não sabia como adaptar tudo o que tinha estudado à nova realidade. Sabia que a prova do Rio Branco era ideológica. Certas palavras não se podia usar, como conscientização, que era considerado neologismo.
A minha primeira frustração foi quando um dos meus grandes amigos passou em quarto lugar e foi impedido de se matricular por ter sido líder estudantil.

CAÇA ÀS BRUXAS
Teve uma caça às bruxas no Itamaraty. Eu participava das passeatas. A gente formava grupos, discuta a realidade. A incompatibilidade com o regime era percebida.
Em 1969, se institui a Comissão Câmara Canto, que ceifou 40 diplomatas. Quando fui convocado por ela, pensei que minha vida tinha acabado. Me sentia culpado em relação àquele regime.
Fui recebido por três embaixadores que me perguntaram se eu conhecia algum homossexual, comunista ou alcoólatra. Disse que não. Concordar em responder já é uma vergonha. Escapei, mas aquilo me afetou.
A única coisa digna que se deveria fazer é dizer que isso não é pergunta que se faça, e que eu não vou responder a nada que seja insultuoso. Mas se eu desse essa resposta, estava liquidado. Aquilo era uma comissão de delação, o que mostra que a instituição estava envenenada.

OS CORREDORES
Em 1969, a postura dos militares com o Itamaraty mudou porque souberam que estavam mandando informações e denúncias de tortura pela mala diplomática para a Anistia Internacional.
Havia um clima de repressão enraizado através das DSIs (Divisão de Segurança de Informações). Tinha um representante do DSI na Secretaria-Geral do Itamaraty.
O coronel Paiva Chaves tinha um gabinete. Tudo passava por ele. O Itamaraty foi humilhado, sua autoridade foi quebrada. O pior, a gente via os oficiais pelos corredores. Um dia, ouvi: "Não vamos torturar um diplomata".

A SAÍDA
Em Los Angeles, conheci os realizadores do filme "Brazil: A Report on Torture" -documentário com depoimentos e simulações de tortura (1971). Eu vi que estava diante de algo perturbador.
Sempre que podia, eu passava esse filme para amigos. Uma vez, passei na casa do músico Oscar Castro Neves, onde estavam Tom Jobim, Elis Regina e mais uns 40 brasileiros. As senhoras gritavam: "O que é isso?".
Na época, eu trabalhava no setor consular de Los Angeles, onde tinha que ver a lista de pessoas que não podiam ter o passaporte renovado, receber visto ou apoio e deviam ter a presença denunciada. Estava exercendo funções policiais. Aí eu percebi que tinha que sair.
Tinha crises por ser obrigado a não renovar passaporte, como o do professor Alberto Guerreiro Ramos. Então, pedi para sair em 1976. Fiquei quieto no meu canto. Por isso nunca fui preso.
Fui me dedicar à atividade que me permitia um mínimo de oxigenação: o cinema. Nesses 35 anos fora do Itamaraty, fui produtor, fotógrafo e roteirista. Foram três longas: "Os Doces Bárbaros", de 1978, "Corações a Mil", de 1983, e "O Judeu", de 1995, além do documentário "Caminhos da Diplomacia Brasileira", de 1996.

A ANISTIA
Em 2001, fui trabalhar na Ancine [Agência Nacional do Cinema]. Lá fiz diplomacia como nunca. Fiz um acordo Brasil-Alemanha, que reacendeu a alma do diplomata.
Em 2007, o [embaixador] Jerônimo Moscardo perguntou porque eu não voltava para o Itamaraty. Argumentou que saímos porque havia um clima de perseguição.
Entrei na Comissão da Anistia, onde três colegas, entre eles o ex-ministro da Defesa José Viegas, depuseram a meu favor. A volta representa o exorcismo de tudo isso. Disse na comissão que não havia como continuar. Eu não podia conviver com aquilo. No meu julgamento, passou trechos de "Brazil: A Report on Torture". Em quase 40 anos de existência do filme, foi a primeira vez que foi exibido no país.
É indescritível que o brasileiro tenha sido aquilo, tenha submetido seus filhos àquilo. Isso nunca passou porque as sociedades reprimem no seu inconsciente aquilo de que se envergonham.
Agora que fui reintegrado, vou para a Índia até dezembro, quando faço 70 anos e me aposento.

Libia: dificuldades da "no-fly zone" - Georges Friedman (Stratfor)

Mais complicado do que parece...

How a Libyan No-fly Zone Could Backfire
By George Friedman
Stratfor, March 8, 2011

Calls are growing for a no-fly zone over Libya, but a power or coalition of powers willing to enforce one remains elusive.

In evaluating such calls, it is useful to remember that in war, Murphy’s Law always lurks. What can go wrong will go wrong, in Libya as in Iraq or Afghanistan.

Complications to Airstrikes
It has been pointed out that a no-fly zone is not an antiseptic act. In order to protect the aircraft enforcing the no-fly zone, one must begin by suppressing enemy air defenses. This in turn poses an intelligence problem. Precisely what are Libyan air defenses and where are they located? It is possible to assert that Libya has no effective air defenses and that an SEAD (suppression of enemy air defenses) attack is therefore unnecessary. But that makes assumptions that cannot be demonstrated without testing, and the test is dangerous. At the same time, collecting definitive intelligence on air defenses is not as easy as it might appear — particularly as the opposition and thieves alike have managed to capture heavy weapons and armored vehicles, meaning that air defense assets are on the move and under uncertain control.

Therefore, a no-fly zone would begin with airstrikes on known air defense sites. But it would likely continue with sustained patrols by SEAD aircraft armed with anti-radiation missiles poised to rapidly confront any subsequent threat that pops up. Keeping those aircraft on station for an extended period of time would be necessary, along with an unknown number of strikes. It is uncertain where the radars and missiles are located, and those airstrikes would not be without error. When search radars and especially targeting radars are turned on, the response must be instantaneous, while the radar is radiating (and therefore vulnerable) and before it can engage. That means there will be no opportunity to determine whether the sites are located in residential areas or close to public facilities such as schools or hospitals.

Previous regimes, hoping to garner international support, have deliberately placed their systems near such facilities to force what the international media would consider an atrocity. Libyan leader Moammar Gadhafi does not seem like someone who would hesitate to cause civilian casualties for political advantage. Thus, the imposition of a no-fly zone could rapidly deteriorate into condemnations for killing civilians of those enforcing the zone ostensibly for humanitarian purposes. Indeed, attacks on air defenses could cause substantial casualties, turning a humanitarian action into one of considerable consequence in both humanitarian and political terms.

Airstrikes vs. Ground Operations
The more important question is what exactly a no-fly zone would achieve. Certainly, it would ground Gadhafi’s air force, but it would not come close to ending the fighting nor erode Gadhafi’s other substantial advantages. His forces appear to be better organized and trained than his opponents, who are politically divided and far less organized. Not long ago, Gadhafi largely was written off, but he has more than held his own — and he has held his own through the employment of ground combat forces. What remains of his air force has been used for limited harassment, so the imposition of a no-fly zone would not change the military situation on the ground. Even with a no-fly zone, Gadhafi would still be difficult for the rebels to defeat, and Gadhafi might still defeat the rebels.

The attractiveness of the no-fly zone in Iraq was that it provided the political illusion that steps were being taken, without creating substantial risks, or for that matter, actually doing substantial damage to Saddam Hussein’s control over Iraq. The no-fly zone remained in place for about 12 years without forcing change in Saddam’s policies, let alone regime change. The same is likely to be true in Libya. The no-fly zone is a low-risk action with little ability to change the military reality that creates an impression of decisive action. It does, as we argue, have a substantial downside, in that it entails costs and risks — including a high likelihood of at least some civilian casualties — without clear benefit or meaningful impact. The magnitude of the potential civilian toll is unknown, but its likelihood, oddly, is not in the hands of those imposing the no-fly zone, but in the hands of Gadhafi. Add to this human error and other failures inherent in war, and the outcome becomes unclear.

A more significant action would be intervention on the ground, an invasion of Libya designed to destroy Gadhafi’s military and force regime change. This would require a substantial force — and it should be remembered from Iraq that it would require a substantial occupation force to stabilize and build a new regime to govern Libya. Unlike in Egypt, Gadhafi is the regime, and sectarian elements that have been kept in check under his regime already are coming to the fore. The ability of the country to provide and administer basic government functions is also unknown. And it must also be borne in mind that Gadhafi clearly has substantial support as well as opposition. His supporters will not go without a fight and could choose to wage some form of post-invasion resistance, as in Iraq. Thus, while the initial costs in terms of casualties might be low, the long-term costs might be much higher.

It should also be remembered that the same international community that condemned Saddam Hussein as a brutal dictator quite easily turned to condemn the United States both for deposing him and for the steps its military took in trying to deal with the subsequent insurgency. It is not difficult to imagine a situation where there is extended Libyan resistance to the occupying force followed by international condemnation of the counterinsurgency effort.

Having toppled a regime, it is difficult to simply leave. The idea that this would be a quick, surgical and short-term invasion is certainly one scenario, but it is neither certain nor even the most likely scenario. In the same sense, the casualties caused by the no-fly zone would be unknown. The difference is that while a no-fly zone could be terminated easily, it is unlikely that it would have any impact on ground operations. An invasion would certainly have a substantial impact but would not be terminable.

Stopping a civil war is viable if it can be done without increasing casualties beyond what they might be if the war ran its course. The no-fly zone likely does that, without ending the civil war. If properly resourced, the invasion option could end the civil war, but it opens the door to extended low-intensity conflict.

The National Interest
It is difficult to perceive the U.S. national interest in Libya. The interests of some European countries, like Italy, are more substantial, but it is not clear that they are prepared to undertake the burden without the United States.

We would argue that war as a humanitarian action should be undertaken only with the clear understanding that in the end it might cause more suffering than the civil war. It should also be undertaken with the clear understanding that the inhabitants might prove less than grateful, and the rest of the world would not applaud nearly as much as might be liked — and would be faster to condemn the occupier when things went wrong. Indeed, the recently formed opposition council based out of Benghazi — the same group that is leading the calls from eastern Libya for foreign airstrikes against Gadhafi’s air force — has explicitly warned against any military intervention involving troops on the ground.

In the end, the use of force must have the national interest in mind. And the historical record of armed humanitarian interventions is mixed at best.

CSNU: sempre igual a ele mesmo, ou seja: inoperante

Retifico imediatamente: não se trata exatamente da ONU e sim dos países membros, no caso os 5P, ou cinco membros permanentes, que são também as grandes potências.
Sempre ocorre esse tipo de impasse: os três países ocidentais pretendem defender valores e princípios democráticos e de direitos humanos, e os dois outros, Rússia e China, bloqueiam a resolução, invocando sempre seu direito de veto e a questão da soberania. Se ambos fossem democracias, no sentido ocidental da palavra, isso provavelmente não ocorreria.
A ONU vive desses impasses, todos baseados na soberania absoluta das nações, um princípio da era moderna que ainda não foi transformado na era contemporânea.
Paulo Roberto de Almeida

Is China a definite 'no' on no-fly zone?
Joshua Keating
Foreign Policy, 08/03/11

The Russian government has already voiced its opposition to imposing a no-fly zone on Libya, and it has generally been assumed that China -- the other half of the U.N. Security Council's sovereignty caucus -- would be strongly against the idea as well. But the Financial Times' Daniel Dombey seems to detect some wiggle room in Beijing's rhetoric:

Beijing said on Tuesday it would urge countries “to settle the conflict and calm the situation through dialogue and other peaceful means”, according to Jiang Yu, a foreign ministry spokeswoman.

The announcement is likely to encourage western planners who are stepping up preparations for a no-fly zone.

Ivo Daalder, US ambassador to Nato, said on Monday the alliance could impose such a measure by the end of the week, although he added that the US would also seek a UN Security Council resolution.

Ms Jiang said Chinese support in the security council for action beyond sanctions “depends on whether it helps Libya to return to stability as soon as possible”.

She added: “In the decision-making process, we believe, Libya’s sovereignty, territorial integrity and independence should be respected,”

That's not exactly a ringing endorsement, though it is a bit less forceful in opposition than one might expect. Then again, the Chinese delegation may figure that with Russia putting its foot down against "superfluous" intervention, they can afford to be a bit circumspect.

Politica Externa de Dilma Rousseff - Direitos Humanos: retificando os equivocos

Nada como um dia depois do outro: sempre se pode corrigir erros da véspera, no caso, do governo anterior. Erros é uma maneira de dizer, claro; ativistas de direitos humanos teriam outros conceitos para descrever as posturas do governo Lula, sempre amigo de ditadores.
Interessante que as pessoas, no caso diplomatas, não têm nenhum problema em defender um argumento, e depois o seu contrário, sem que isto lhes cause o menor rubor na face.
Alguns chamariam isso de flexibilidade, outros de disciplina. Eu teria outros nomes...
Paulo Roberto de Almeida

Política externa
Embaixadora brasileira na ONU dá sinais de que país vai mudar voto sobre violações de direitos humanos no Irã

“O que eu posso dizer é que para todos os efeitos, nós concordamos em tudo"
Shirin Ebadi, sobre encontro com a embaixadora do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra

O governo brasileiro deu nesta segunda-feira mais um passo para corrigir um grande erro cometido durante os oito anos da administração anterior: apoiar países que violam sistematicamente os direitos humanos, como o Irã. A embaixadora do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, Maria Nazareth Farani de Azevêdo, recebeu a vencedora do Prêmio Nobel da Paz e crítica ferrenha do regime iraniano, Shirin Ebadi, para um almoço em sua casa. O encontro foi realizado em meio às reuniões do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que ocorrem desde o final de fevereiro, e que devem culminar com a votação nas próximas semanas de uma resolução, condenando as violações aos direitos humanos no Irã.

O almoço desta segunda - que contou ainda com embaixadores de diversos países da América Latina, África e também dos Estados Unidos na ONU - é um sinal de que o Brasil deve apoiar a resolução, que estabelece também o envio de um relator especial da entidade a Teerã. “Por uma questão de princípios e pela maneira como a ONU trabalha, as pessoas não fazem promessas umas às outras fora das sessões oficiais”, disse Ebadi ao site de VEJA sobre a conversa com a embaixadora brasileira no encontro extra-oficial. “O que eu posso dizer é que, para todos os efeitos, nós concordamos em tudo.”

Ebadi sempre criticou duramente a atitude do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de tratar como amigo o fanático que governa o Irã e nega o Holocausto, Mahmoud Ahmadinejad. A iraniana agora vê mudanças na política externa do Brasil. “O país está prestando muito mais atenção nos direitos humanos.”

Ativistas que também participaram do almoço comemoraram o fato de a embaixadora brasileira ter convidado à sua casa um símbolo contra o regime opressor iraniano e outros representantes na ONU. “ A embaixadora estava muito aberta e ela expressou grande apoio ao que a Shirin Ebadi dizia”, afirmou Julie Gromellon, representante da Federação Internacional de Ligas de Direitos Humanos junto à ONU. “O fato de a embaixadora ter convidado todos é um sinal de que o país vai votar a favor da resolução. Acredito que agora a embaixadora esteja aguardando declarações vindas de níveis mais altos do governo brasileiro para deixar isso ainda mais claro.”

Sinais - Mesmo antes de sua posse, a presidente Dilma Rousseff já vinha dando sinais de que mudará a política externa do Brasil. Em uma entrevista concedida ao jornal americano The Washington Post, em dezembro do ano passado, ela condenou o apedrejamento no Irã e qualquer outro tipo de "prática ‘medieval’ contra mulheres”. Ela se referia à sentença decretada contra a iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani por adultério pela arbitrária Justiça da Repúlica Islâmica.

A declaração de Dilma marcou um contraste com a política externa que o Itamaraty vinha adotando nos últimos oito anos. Um mês antes da entrevista da presidente, o Brasil - sob a batuta de Lula - se recusou a apoiar uma resolução na ONU que pedia o fim do apedrejamento no Irã. A medida, que acabou sendo aprovada mesmo sem o voto do Brasil, também condenava Teerã por "graves violações de direitos humanos" e por silenciar jornalistas, blogueiros e opositores.
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Brasil presta homenagem a opositora de Ahmadinejad
Jamil Chade, correspondente
O Estado de S.Paulo, 08 de março de 2011

Diplomacia brasileira oferece almoço, em Genebra, a Shirin Ebadi, Nobel da Paz; Teerã se irrita com sinais de mudança na política externa do País

GENEBRA - Pela primeira vez, o governo brasileiro abriu as portas de sua diplomacia à maior opositora do regime de Mahmoud Ahmadinejad, em um gesto político explícito contra as violações de direitos humanos no Irã. A missão brasileira perante a ONU ofereceu um almoço na segunda-feira, 7, em Genebra, em homenagem à dissidente Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz, perseguida pelo regime e refugiada na Europa.
O governo iraniano não escondeu a irritação e interpretou a atitude como um recado claro do Brasil de que a lua de mel entre Brasília e Teerã acabou.
"Se a comunidade internacional não agir, o Irã em breve se transformará numa nova Líbia", afirmou Ebadi durante o almoço, que também contou a presença de embaixadores de países como Estados Unidos e outros que defendem uma posição mais dura contra o Irã.
Sanções. Ebadi pediu que o Brasil e os Estados Unidos adotem sanções políticas contra membros do regime de Ahmadinejad, como a negação de vistos para políticos e congelamento de ativos dessas pessoas envolvidas na repressão.
A vencedora do prêmio Nobel, considerada uma das maiores opositoras de Ahmadinejad, ainda defendeu a ideia dos EUA e da Europa de estabelecer na ONU um relator internacional que investigue as violações de direitos humanos no Irã.
"Precisamos dessa investigação para abrir uma nova etapa do diálogo com o Irã. Seria um sinal importante para o povo iraniano que sofre com a repressão."
"Se o Brasil e a comunidade internacional não querem mais uma Líbia, precisam começar a se mover imediatamente para promover um novo diálogo com Ahmadinejad, antes que ele siga o caminho de Muamar Kadafi", enfatizou Ebadi, segundo relato de presentes no almoço. "O povo no Irã não vai silenciar e o governo, de outro lado, continuará com seu massacre", alertou.
A proposta (sobre sanções ao Irã) vai à votação no dia 21. O Brasil já indicou que poderá rever suas posições, algo impensável durante o governo Lula.
Na segunda-feira, a embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, que promovia o almoço, declarou aos convidados que o Brasil "apoiava" a posição de Ebadi. O Estado obteve informações de que o Itamaraty está sendo pressionado pelos EUA não apenas a aceitar a investigação, mas também para copatrocinar a resolução que pediria o estabelecimento de tal mecanismo.
Durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a opção do Itamaraty foi a de manter um diálogo apenas com o governo de Ahmadinejad. Lula chegou a criticar a oposição ao regime iraniano. Ebadi alertou que o brasileiro estava ofendendo o povo iraniano ao não atender aos apelos da oposição.
Organizações não governamentais (ONGs) comemoram os novos sinais da política externa brasileira. "Não temos ainda garantia de que o Brasil apoiará a criação de uma investigação contra o Irã. Mas abrir suas portas aos dissidentes já é um grande passo", afirmou a assessoria de imprensa da Federação Internacional de Direitos Humanos, uma das entidades envolvidas na organização do encontro.

Sun Tzu para diplomatas: meu artigo no Mundorama

Mundorama publicou meu artigo -- o primeiro de uma nova série, espero -- que adapta alguns ensinamentos do mestre chinês da estratégia para fins mais pacíficos. Só esqueceram, por enquanto, de colocar as três notas iniciais, que transcrevo ao final.
Nota: esta versão corrige pequenos erros de digitação que estão presentes na versão publicada em Mundorama.

Formação de uma estratégia diplomática:
Relendo Sun Tzu para fins menos belicosos
Paulo Roberto de Almeida
07/03/2011
Resumo: Releitura introdutória do clássico Arte da Guerra, de Sun Tzu, adaptando seus argumentos para o objetivo de formulação de uma estratégia diplomática, necessariamente distinta da concepção militar que presidiu à sua elaboração.
Palavras-chave: Sun Tzu. Arte da Guerra. Estratégia diplomática.

Os argumentos constantes do presente ensaio analítico se inserem num conjunto de trabalhos – já feitos ou em preparação – que podem ser enfeixados na categoria dos “clássicos revisitados”, entre os quais um Manifesto Comunista adaptado a estes tempos de globalização,[1] e um Moderno Príncipe,[2] que pretende aproveitar os conceitos do florentino para a política atual. Da mesma forma, pode-se reler Sun Tzu e aproveitar os ensinamentos contidos na Arte da Guerra[3] para uma reflexão de caráter conceitual sobre a estratégia diplomática – referida simplesmente como ED – no contexto das relações internacionais contemporâneas. A esse título, não se trata de refazer, obviamente, uma “arte da guerra para diplomatas”, e sim tão somente de tecer considerações sobre uma (e não a) estratégia diplomática, com base nos argumentos basicamente filosóficos – e, claro, muitas regras práticas – presumivelmente redigidos pelo conhecido mestre chinês, legitimamente considerado o “pai da estratégia” (no seu caso, militar).

Da diplomacia como um instrumento do Estado
A diplomacia é de vital importância para o Estado. Talvez não tão crucial quanto a defesa do Estado por suas forças armadas, pois destas depende a própria sobrevivência física do Estado. Este pode, teoricamente, sobreviver sem manter intensas relações internacionais, ou sem exercer uma diplomacia ativa. Mas ele dificilmente teria vida longa, ou conseguiria preservar seus interesses vitais, sem uma capacitação adequada em matéria de instrumentos defensivos (que são, igualmente, mecanismos ofensivos, credíveis, tanto para a dissuasão quanto para o ataque).
A diplomacia é, todavia, crescentemente relevante não apenas para a defesa dos interesses fundamentais de um Estado, mas, sobretudo, para se alcançar os objetivos nacionais relevantes de uma nação no contexto contemporâneo, partindo do pressuposto que a sociedade humana e a comunidade das nações se afastam, cada vez mais, do direito da força para aderir à força do direito. O mundo contemporâneo abandonou, progressivamente, os esquemas restritos dos arranjos interimperiais – embora a última instância da política internacional permaneça com as grandes potências – para adentrar no multilateralismo dos esquemas de segurança coletiva consolidados nos instrumentos onusianos. Da diplomacia depende – paralelamente ao exercício potencial do poder militar – a preservação de um ambiente de paz e de estabilidade, tanto quanto de cooperação nos planos bilateral, regional ou multilateral a que aspira todo Estado que privilegia a solução de controvérsias pela via das negociações. Esta é uma condição essencial, hoje indispensável, para o crescimento econômico sustentado, os avanços tecnológicos, o progresso social, a preservação do meio ambiente, enfim, para a prosperidade comum.
Adaptando nossa releitura de Sun Tzu ao contexto diplomático, poderíamos dizer que a arte da diplomacia implica cinco fatores principais, que devem ser objeto de nossa contínua reflexão, com vistas a aperfeiçoá-los e incorporá-los cada vez mais às nossas práticas de servidores do Estado no campo da política externa. Estes cinco fatores são: a doutrina, a interação entre a conjuntura e a estrutura, os condicionantes econômicos e geopolíticos da ação diplomática, o comando e a disciplina. A partir desses cinco fatores é possível elaborar uma “estratégia diplomática”, que será objeto da segunda seção deste ensaio introdutório.

A doutrina tem a ver com a concepção mesma da diplomacia, a sua razão de ser. Ela diz respeito aos princípios inspiradores da diplomacia, aos valores que fundamentam a sua ação, às diretrizes que guiam essa ação na prática. Ela também se refere a uma noção clara dos interesses nacionais e aos instrumentos indispensáveis à implementação dos objetivos fundamentais do Estado, cujo pressuposto elementar é, obviamente, o ato de dispor de uma doutrina básica para sua atuação política – sem esquecer uma estratégia militar – no cenário diplomático internacional.
A interação entre a conjuntura e a estrutura pode ser vista como o equivalente funcional daquilo que Sun Tzu chamava de tempo. Essa interação supõe a combinação da sincronia e da diacronia – ou seja, o momento presente e a flecha do tempo –, que constituem os dois vetores de atuação diplomática ao longo de um determinado período. Toda diplomacia lida com o aqui e o agora, mas ela o faz tendo em vista as consequências futuras das ações adotadas na presente conjuntura e levando em consideração a herança recebida do passado recente, que imprime sua marca sobre a mente dos diplomatas e determina, em grande medida, a forma como eles vão agir no presente.
Os condicionantes econômicos e geopolíticos representam o fator que Sun Tzu chamava de espaço, isto é, o ambiente concreto no qual devem se movimentar os “exércitos” diplomáticos, em busca da materialização dos objetivos nacionais.
O comando atende aos mesmos critérios estabelecidos pelo mestre chinês da arte da guerra para esse conceito. Ele tem a ver com a capacidade exibida pelas lideranças diplomáticas – o estadista, o chanceler, os altos responsáveis pela formulação da doutrina e pela definição das principais diretrizes diplomáticas – de indicar claramente aos membros da comunidade diplomática nacional quais são os objetivos pelos quais eles devem se bater.
Sun Tzu considerava que o comando deveria ter as seguintes qualidades: sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e disciplina. Dessas cinco qualidades, a primeira é certamente necessária ao comandante, assim como a quarta, embora esta deva pertencer mais ao comandante militar do que propriamente ao chefe da diplomacia. Maquiavel certamente descartaria a segunda e a terceira, ou seja, a sinceridade e a benevolência, embora considerasse esta última como um recurso a que o condotier poderia apelar quando estivesse em situação de força, justamente. Quanto à ultima, deve ser considerada mais como uma variante do rigor consigo mesmo do que o exercício da disciplina “contra” seus próprios subordinados, que é o objeto do último fator da arte da diplomacia.
A disciplina, no plano da diplomacia, tem a ver com organização e métodos, ou seja, a construção de uma ferramenta burocrática que seja, ao mesmo tempo, eficiente e inovadora, prudente e ousada, preparada no plano da informação e do conhecimento e apta a seguir instruções de forma ordenada e coerente, atuando como uma agência homogênea e uniforme. Isto é possível quando o estamento burocrático-diplomático possui processos de socialização e de construção de um pensamento relativamente unificado e convergente.
Com base nesses cinco fatores, as autoridades diplomáticas de um Estado podem planejar seus objetivos externos – a que chamaremos de “estratégia diplomática – a partir de um conjunto adicional de fatores instrumentais que têm a ver, essencialmente, com a implementação prática desses objetivos, quaisquer que sejam eles. Entre esses fatores figuram os seguintes: a capacidade dos dirigentes diplomáticos em formular metas realistas e adequadas para a mobilização efetiva do estamento profissional diplomático; a avaliação correta dos limites e possibilidades oferecidas pelo sistema internacional para que aqueles objetivos possam ser alcançados; o uso eficiente de todos os mecanismos e instrumentos do sistema internacional – instituições formais, grupos informais, coalizões temporárias de interesse, combinação de iniciativas bilaterais, coordenação regional e exploração dos canais multilaterais – segundo a natureza de algum objetivo específico; coordenação interna das agencias públicas que detêm alguma interface internacional e instruções claras aos agentes diplomáticos nas diversas frentes negociadoras para se alcançar eficácia máxima nas iniciativas diplomáticas desse Estado.
Mesmo sob condições democráticas e, portanto, transparentes, a eficiência e a eficácia na ação diplomática de um Estado dependem, em parte, do tratamento discreto que possa atribuir a determinados temas de seu interesse crucial na frente externa. Toda negociação diplomática é, por definição, uma barganha entre interesses por vezes convergentes, mas em certa medida contraditórios, quando não divergentes ou opostos (na medida em que todo e qualquer acordo sempre implica em custos políticos e econômicos, a começar pela perda relativa de soberania, o que se deve limitar o máximo possível). Daí a necessidade de se encaminhar um determinado tema com base em argumentos de utilidade geral e de benefício recíproco que podem oferecer a base para um entendimento mais próximo dos interesses nacionais.
Esta questão implica também que o trabalho de avaliação deve envolver não apenas os interesses próprios do Estado em questão, mas igualmente os interesses do Estado, ou dos Estados com os quais se negocia, de maneira a permitir as acomodações necessárias. Dito isto, caberia, portanto, passar aos argumentos principais, que têm a ver com a elaboração e a implementação de uma estratégia diplomática (ED).

Da estratégia diplomática como uma das artes especializadas do Estado
Analogamente ao seu equivalente militar, mas nisso talvez destoando um pouco de Sun Tzu, poderíamos dizer que a ED consiste na mobilização de instrumentos políticos, econômicos e militares – ponderados com base numa avaliação comparada e em análises conceituais e factuais sobre as intenções dos demais participantes do jogo diplomático – com vistas à consecução de objetivos nacionais bem definidos, mas sem o recurso à, ou a ameaça do uso da, força militar ou à guerra. Nesse sentido, a ED se opõe à, ou se distingue da, estratégia militar, que pressupõe, de sua parte, o uso ou a ameaça de uso da força bruta, segundo linhas que já foram suficientemente discutidas ao longo da história, desde Sun Tzu até os modernos estrategistas militares, passando por Clausewitz, Henry Kissinger ou Raymond Aron.
No plano puramente conceitual, a formulação de uma ED implica a análise dos fatores contingentes, de obstáculos conjunturais e de barreiras de caráter estrutural que dificultam – em alguns casos até obstaculizam – o atingimento dos objetivos nacionais, tais como definidos pelos estrategistas de um determinado Estado, uma comunidade variada que pode envolver desde estadistas até burocratas do planejamento governamental, passando por representantes da cidadania e consultores independentes (membros da academia, especialistas setoriais, etc.). No plano operacional, a ED pressupõe a mobilização de todos os instrumentos à disposição desse Estado para o atingimento daqueles objetivos, o que implica o uso dos meios propriamente diplomáticos, mas também o apoio das forças armadas e da comunidade econômica do país.
Todo Estado moderno, atuante, inserido na sociedade internacional, normalmente dotado de órgãos executivos e de planejamento, possui ou deveria possuir uma ED. Não se deve, evidentemente, superestimar uma ED: não se trata de algo fixo ou rígido, estruturalmente determinado; mas de uma concepção determinada por fatores conjunturais e até contingentes, concomitante às iniciativas dos Estados e às ações humanas.
Uma ED realista e flexível deve submeter-se, desde logo, a constantes revisões, tantos são os fatores de mudança conjuntural e as alterações no cenário político internacional que influenciam ou impactam os objetivos nacionais de um Estado. Ela deve estar, portanto, sujeita a avaliações regulares por parte de um staff especialmente preparado para essa finalidade e dedicado funcionalmente a esse tipo de tarefa. Não conviria, aliás, que o órgão encarregado da elaboração de uma ED fosse exclusivo e excludente, ou seja, trabalhando unicamente em torno da ED, e sim que ele seja aberto a insumos externos e à colaboração de especialistas e consultores alheios ao próprio órgão, de forma a manter uma atmosfera aberta e inovadora, permitindo até revisões radicais da “velha” ED (ou seja, indo temporariamente num sentido contrário à “razão de Estado”).

Uma ED, ainda que elaborada por um governo determinado, não é, ou não deveria ser, uma concepção e uma ação de um governo, e sim uma iniciativa e uma postura de Estado, ou seja, interessando antes à Nação do que aos partidos e personalidades ocupando temporariamente o poder. Como atividade típica de Estado, a ED deve estar sujeita ao escrutínio de todas as forças, movimentos e grupos de opinião representativos da Nação, ser objeto de discussão e de avaliação quanto a seus fundamentos concretos, seus instrumentos operacionais, seus objetivos explícitos e suas metas implícitas. Normalmente é isso que ocorre em sistemas democráticos, tanto mais intensamente quanto mais abertos e transparentes são os elementos centrais que definem e ajudam a implementar uma ED.
Os processos de concepção, elaboração e de revisão da ED se dão no corpo do Estado, envolvendo as agências voltadas para as relações exteriores, os órgãos de defesa e o governo central, ademais das instâncias dedicadas precipuamente ao planejamento de políticas e de análises aplicadas; eles passam pelo parlamento e alcançam a sociedade, por meio da opinião pública, devidamente informada pelos órgãos de informação.

O planejamento de uma ED implica, antes de qualquer outra ação, tratar dos meios próprios a uma organização diplomática: de nada serve ter uma ED sem a ferramenta que a implementará. Estamos falando aqui de funcionários, equipamentos, recursos, organização, enfim, todos os meios com os quais todo e qualquer Estado leva sua ED da fase de concepção à de aplicação no terreno. Na diplomacia, como na guerra, nada existe estaticamente, ou de forma puramente passiva, mas, sim, compõe-se de interações dinâmicas; os meios precisam ser sempre mantidos, aperfeiçoados, substituídos, instruídos e monitorados.
Diferentemente da guerra, porém, não é preciso ter um planejamento logístico destinado a concentrar forças e operações ofensivas num espaço de tempo delimitado e num terreno previamente estudado. Em outros termos, as ações diplomáticas não necessitam de uma “concentração de fogo” para se lograr alguma vantagem decisiva no calor da batalha. A dinâmica diplomática é mais cumulativa, do que “destrutiva”, e as operações podem ser delongadas em função de uma avaliação contínua e mutável das condições do “terreno”, em função da interação com o “adversário”, que, no ambiente diplomático, não significa uma atitude de confrontação como na guerra e nas demais operações militares. A ED é bem mais intangível do que a EM, baseada no planejamento, certamente, mas em última instância na força bruta.
Diferente da guerra, também, a conduta diplomática se baseia menos em meios materiais, ou equipamentos “pesados”, e mais em negociações diretas, quase pessoais, entre os atores. Não se trata de “aniquilar” o inimigo, mas sim de convencer e compor com um parceiro, mais que um adversário. A guerra desgasta, se mantida durante muito tempo, ao passo que a diplomacia avança com a composição de interesses. A “logística” da diplomacia possui uma lógica própria, baseada – aliás, como no caso das operações militares – na presença sobre o “terreno” e na interação constante com o “adversário”; diferentemente, porém, não se trata de vencê-lo, mas de compor com ele um novo terreno de interações e de cooperação.
Essa presença tem um “preço”, que é o custo da manutenção de representantes diretos – os “agentes avançados” dos serviços de inteligência militar – e do envio de missões temporárias e permanentes, assim como o engajamento pleno em negociações em nível bilateral, regional ou multilateral. Esse preço pode ser o equivalente funcional da manutenção, bastante custosa no âmbito militar, de equipamentos pesados que se destinam, na verdade, a não serem usados, mas que servem basicamente para dissuasão. No caso da diplomacia, a “dissuasão” é na verdade o diálogo e o entendimento, se possível no mais alto nível (mas de ordinário mantida pelo representante permanente, normalmente chamado de embaixador).
A condução da diplomacia será, evidentemente, diferente, segundo o Estado ostenta um regime político centralizado ou unitário, próximo do autoritarismo, ou se esse Estado exibe características claras de descentralização, com dispersão relativa dos centros de poder e participação de vários atores políticos e sociais. O Estado do mestre chinês da arte da guerra, não obstante a descontinuidade ocasional trazida por uma sucessão extraordinária de dinastias, invasões e de reconstruções sucessivas do sistema político, exibiu notável continuidade na centralização imperial, no limite do despotismo “hidráulico”. Nesse tipo de regime, a condução da diplomacia obedece, simplesmente, a vontade do soberano, com alguma participação dos cortesãos e membros do aparato estatal restrito (antigos mandarins, modernos aparatchiks).

A condução da diplomacia nas modernas condições democráticas se faz sob forte pressão de forças sociais suscetíveis de expressar posições distintas e de influenciar o processo de tomada de decisão no plano externo. A despeito da legitimidade que possam exibir essas demandas, seria conveniente que o Estado, em especial seu aparelho diplomático, preservasse sua latitude de ação e ampla margem de opções, de maneira a escolher as melhores vias – que envolvem alianças ocasionais, coordenações formais e até iniciativas individuais – para alcançar os objetivos nacionais desse Estado. Pode-se inclusive conceber certa autonomia de iniciativa e de ações atribuída ao negociador principal, da mesma forma como se concede pleno poder de comando ao general em seu campo de batalha. Em momentos decisivos, essa autonomia deve ser plena, já que a autoridade responsável pelo sucesso (ou fracasso) de uma negociação ou iniciativa diplomática é o próprio agente no terreno, não o soberano em sua capital distante.
Em todas essas questões, Sun Tzu tem muito a ensinar aos diplomatas profissionais (e até aos iniciantes).

Brasília, 5 março 2011.

Notas:
[1] Ver Paulo Roberto de Almeida, Velhos e novos manifestos: o socialismo na era da globalização (São Paulo: Juarez Oliveira, 1999).

[2] Cf. Paulo Roberto de Almeida, O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Brasília: Senado Federal, 2010).

[3] O clássico de Sun Tzu pode ser encontrado facilmente na internet, numa infinidade de edições eletrônicas, em várias línguas e nas mais diferentes traduções e adaptações para o Português, voltadas tanto para o contexto militar quanto para o mundo dos negócios.

Paulo Roberto de Almeida é Doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1984); diplomata de carreira do serviço exterior brasileiro desde 1977; professor de Economia Política Internacional no Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasilia – Uniceub; autor de diversos livros de história diplomática e de relações internacionais (www.pralmeida.org – pralmeida@mac.com).

Reflexões ao Léu, 5: Livros e leituras... - Paulo Roberto de Almeida

Reflexões ao Léu, 5: Livros e leituras...
Paulo Roberto de Almeida

Quantos livros já fui, estou sendo, serei capaz de ler nesta minha curta vida de leitor desorganizado? Devo confessar que comecei tarde, apenas aos sete anos, e perdi algum tempo de minhas ecléticas leituras da atualidade concentrado demais no marxismo-leninismo. Que fazer? Já fui guevarista, marxista-leninista, social-democrata radical, antes de virar este anarquista literário que me parece bem...
Mas, voltemos: quantos livros eu poderei computar em minha contabilidade de leituras responsáveis? Sinceramente não sei, e sempre me indago sobre se é possível um balanço desse tipo, tantos são os livros que lemos de relance, que começamos e deixamos, que largamos no meio do caminho por desinteresse, que perdemos, que nos roubam (ah, esses amigos infiéis!), que tropeçamos neles numa biblioteca ou livraria...

Segundo cálculos que nos oferece meu amigo o embaixador Francisco Seixas da Costa, atualmente em Paris depois de ter passado por Brasília, a conta é limitada: talvez pouco mais de seis mil livros. Sacrebleu! Só isso?
Escreve ele num dos posts de seu saborosíssimo blog Duas ou três coisas...:

“... se alguém, entre os 15 e os 75 anos (as idades são flexíveis, mas trata-se de uma média de 60 anos de leitura), tiver lido, com regularidade, dois livros por semana, sabem quantos livros leria no final? 6.240 livros!”
Um outro especialista consultado por ele, calculava que “o número máximo real não pode mesmo passar dos cinco mil livros lidos, em toda uma vida. E, para isso, teria de ser um excelente e regular leitor.”
(“Os Livros e as Vidas”, 4/03/2011)

Extremamente preocupantes esses cálculos, pois isto significa que eu estarei deixando de fora pelo menos outros cinco ou seis mil livros, que estão esperando seja em minha biblioteca particular, seja naquelas que frequento mais assiduamente, ou nas livrarias e casas de amigos (sim, de vez em quando aproveito uma visita para remexer em bibliotecas alheias).
Que tragédia! Quantos livros eu deixarei de ler, quanta coisa perdida para sempre?! (Nessas horas eu tendo a me aproximar da teoria da reencarnação, desde que algum ente supremo da mesma “seita” me garantisse que eu voltaria como bibliotecário, do contrário estaria sumariamente demitido.)
Calculo, por cima, que para terminar os livros da minha biblioteca e os que passeiam por aí, interessantes, eu necessitarei ainda de uns 15 ou 20 anos, isso se ler dois ou três por semana, como recomendaria o embaixador e seu amigo leitor.

Bem, talvez não fosse exagerado, mas isso me lembra uma historieta com Winston Churchill, quando lhe perguntaram sobre as razões de seu sucesso.
“Conservação de energia”, disse ele. “Nunca fique de pé, quando puder ficar sentado. E nunca fique sentado quando puder ficar deitado”.

Acho que Churchill tinha razão: vou logo deitar na rede e retomar os quatro ou cinco livros que tenho espalhados pela casa...

Brasília, 8 de Março de 2011

A frase da semana: Machado de Assis

O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço.

Machado de Assis, em "Instinto de nacionalidade" (1873)
transcrito por John Gledson, "Prefácio" a:

Machado de Assis:
Papéis Avulsos
(São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011), p. 7-34, cf. p. 10

segunda-feira, 7 de março de 2011

Um samba chines na economia -- nada mais previsivel

Quando um país deixa de ser competitivo, até suas festas nacionais são "out-sourced", como diriam os economistas...

Carnaval brasileiro é 'made in China', diz 'Financial Times'
BBC, 07 de março de 2011

Jonal diz que mercadorias baratas importadas do país asiático dominam mercado de fantasias do Brasil - Produtos baratos da China inundam carnaval brasileiro

Uma reportagem do jornal britânico Financial Times afirma nesta segunda-feira que o carnaval no Brasil é "made in China". A reportagem mostra a importância que os produtos chineses ganharam na cadeia produtiva carnavalesca brasileira. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), 80% das fantasias vendidas para o Carnaval são importadas do país asiático.

"Importações baratas da China inundaram o país latino-americano nos últimos anos, em parte como resultado da rápida apreciação da moeda, causando interrupções em diversas partes da economia e colocando um dos maiores dilemas políticos para a nova presidente, Dilma Rousseff", afirma a reportagem. "Agora até mesmo o famoso Carnaval, a festa de quatro dias que termina na terça-feira, é made in China", diz.

O presidente da Abit, Jonatan Schmidt, disse à repórter do FT que "há quinze anos, tudo era diferente - tudo era brasileiro".

Uma lojista ouvida pela reportagem do diário financeiro conta que importa mercadorias da China a preços 40% abaixo dos praticados por companhias brasileiras. Com o real mais forte, a loja, que em 2005 importava 30% do seu estoque, hoje importa 60%.

"Não é só a taxa de câmbio", diz a comerciante. "Há carência de novos equipamentos e investimentos no setor têxtil. A demanda é tão forte agora que a indústria não consegue suprir."

Citando economistas, o jornal diz que os esforços do país para combater a apreciação do real são ineficientes e que "a única solução real, não apenas para a indústria têxtil mas para a indústria em geral, é melhorar a qualificação, investir em maquinário e desenvolver a infraestrutura".

A reportagem sugere que o Carnaval, se continua em espírito sendo uma festa brasileira, é em termos econômicos uma festa dos importados. "Apesar dos esforços da estatal petroleira Petrobras para expandir a sua própria produção de poliéster no Nordeste, é improvável que o Carnaval seja made in Brazil no futuro próximo."

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Espionar o G20?: muito barulho por nada..., ou quase nada...

Much Ado Abouth Nothing, diria Shakespeare.
Eu diria, quase nada...
Pois os piratas (provavelmente chineses) que invadiram computadores no Ministério das Finanças da França, encarregado dos preparativos da última reunião ministerial do G20, estavam provavelmente interessados em saber o que os membros desse grupo informal de "coordenação" poderiam fazer em relação às manipulações cambiais da China, contra os interesses econômicos de seus parceiros no grupo.
Chineses são especialistas nisso.
Destaco os trechos pertinentes da matéria:

M. Baroin a assuré que seules les informations autour de l'organisation du G20 "intéressaient les hackers". Une plainte contre X a été déposée par Bercy. La Direction centrale du renseignement extérieur a été saisie. (...)
L'Anssi a procédé à de nombreuses vérifications dans l'ensemble des services de l'Etat concernés par le G20 afin de s'assurer que l'attaque ne s'était pas propagée au-delà de Bercy.


Parece que estão superestimando a capacidade do G20 na economia mundial...
Paulo Roberto de Almeida

Bercy victime d'une vaste opération de piratage informatique
Le Monde, 07.03.11

Le ministère des finances a été l'objet d'une intrusion informatique d'ampleur pendant plusieurs mois.

Il s'agirait de la plus importante attaque informatique jamais menée contre l'Etat français. Selon des informations diffusées lundi 7 mars sur le site Internet du magazine Paris-Match, et confirmées dans la matinée par Bercy, le ministère de l'économie et des finances a été l'objet d'un piratage sans précédent. Selon une source "proche du dossier" citée par le magazine, la direction du Trésor aurait été la principale cible des "hackers" entre le mois de décembre et ce week-end.

LA PISTE CHINOISE ÉVOQUÉE
François Baroin a confirmé ces informations lundi matin sur Europe 1, tout en soulignant qu'une vaste opération de maintenance avait été menée ce week-end sur le réseau informatique du ministère. Il a également ajouté que la France avait "des pistes" sur l'identité des pirates, sans plus de précision. Il pourrait s'agir de "professionnels déterminés et organisés", selon Patrick Pailloux, directeur général de l'Agence nationale de la sécurité des systèmes d'information (Anssi), au vu de la préparation minutieuse, du mode opératoire sophistiqué et des moyens importants engagés par les hackers.

Paris-Match évoque quant à lui la piste chinoise. Mais Patrick Pailloux se montre très prudent. Comme dans toutes ces affaires de cyberattaques, "de très nombreux ordinateurs ont servi de relais à l'insu de leurs propriétaires à travers le monde" et il sera très difficile de remonter la piste.

M. Baroin a assuré que seules les informations autour de l'organisation du G20 "intéressaient les hackers". Une plainte contre X a été déposée par Bercy. La Direction centrale du renseignement extérieur a été saisie.

CENT CINQUANTE ORDINATEURS ATTAQUÉS
Au total, plus de cent cinquante ordinateurs du ministère ont été infiltrés et de nombreux documents piratés. La méthode des espions est classique : à partir d'une adresse e-mail piratée, le "hacker" prend le contrôle de l'ordinateur de sa cible grâce à un cheval de Troie, en l'occurrence une pièce jointe. Chacun de ses correspondants au sein de l'administration peut à son tour être infiltré, selon le site de l'hebdomadaire.

L'Anssi a procédé à de nombreuses vérifications dans l'ensemble des services de l'Etat concernés par le G20 afin de s'assurer que l'attaque ne s'était pas propagée au-delà de Bercy. D'autres tentatives d'attaques ont été repérées mais elles auraient échoué. "A ma connaissance, seul Bercy a été touché", estime Patrick Pailloux, directeur général de l'Anssi, cité par Paris-Match. Il faudra néanmoins plusieurs semaines aux autorités pour identifier les 150 fonctionnaires ciblés par les espions et sécuriser le système informatique.

DES MOYENS "PAS À LA HAUTEUR DES ENJEUX"

Le député UMP Bernard Carayon, auteur de plusieurs rapports sur les questions d'intelligence économique, a estimé dans un communiqué que cette affaire "souligne la vulnérabilité des systèmes d'information publics". Selon lui, "les moyens français ne sont pas à la hauteur des enjeux : l'Agence nationale de la sécurité des systèmes d'information ne dispose que d'une trentaine d'ingénieurs pour exercer sa mission".

Il préconise, lui, "un audit immédiat des systèmes d'information des administrations publiques" et la création d'un organisme permettant de développer la recherche dans ce domaine. Il prône aussi de rapprocher les entreprises afin de créer "une offre industrielle de confiance, française ou européenne, pour préserver notre indépendance, en s'appuyant sur l'Agence européenne pour la sécurité des réseaux et de l'information".

WordPress cible de cyber-attaques depuis la Chine
La plate-forme de blogs WordPress a été victime jeudi et vendredi d'attaques informatiques provenant vraisemblablement de Chine mais a retrouvé un fonctionnement normal dimanche 6 mars, a affirmé son fondateur Matt Mullenweg.
WordPress, qui héberge des millions de blogs dans le monde, a été la cible d'attaques "très importantes" par déni de service (DDoS) qui ont par moments perturbé les connexions, a déclaré M. Mullenweg au blog TechCrunch. Selon M. Mullenweg, 98 % des attaques venaient de Chine et avaient probablement "des motivations politiques".

Maliciels et attaques informatiques
ZOOM
Intrusion informatique : avant Bercy, le ministère du Trésor canadien
COMPTE RENDU
Google désactive à distance des applications malveillantes sur Android
LES FAITS
Prison ferme pour les adolescents britanniques qui avaient créé le "Facebook du piratage"
LES FAITS
Attaques informatiques contre la Corée du Sud

Economia brasileira: o que esperar em 2011? - George Vidor

Um retrato honesto, factual, objetivo.

Desenho de 2011
George Vidor
O Globo, 7/03/2011

O quadro macroeconômico para 2011 no Brasil já está desenhado: juros básicos na faixa de 12% ao ano com o propósito de fazer a inflação recuar para menos de 5,5%, o que também dependerá do ritmo de crescimento do país (em torno de 4,5%). Já existem alguns sinais de redução na velocidade tanto no ritmo da atividade econômica como no da inflação, que ficarão mais evidentes, em breve.

Os números do primeiro trimestre serão acompanhados com lupa pelos analistas financeiros, pois esses indicadores é que darão pistas sobre a provável duração do novo ciclo de aperto monetário. Na quinta-feira, o Banco Central divulga a ata da reunião do Comitê de Política Monetária, descrevendo o cenário que levou as autoridades a se decidirem pelo aumento de 0,5 ponto percentual na Taxa Selic, o que, aliás, já era aguardado pela maioria das instituições financeiras ouvidas pelo próprio BC.

Os juros deverão permanecer elevados ao longo de 2011 e o melhor que se pode esperar é que as taxas parem de subir já na próxima reunião do Copom, marcada para meados de abril.

Entre os sinais de moderação observados pelos analistas estão os da contratação de mão de obra pela indústria da construção civil. No ano passado, as contratações formais, com carteira assinada, deram um salto no setor, com aumento de mais de 20%. Mas muitas das obras em execução, especialmente de novos edifícios e casas, estariam agora numa fase em que a necessidade de contratações se estabiliza (o período crítico teria sido no fim de 2009).

Por efeito estatístico, mesmo que a economia brasileira parasse de crescer daqui por diante, o Produto Interno Bruto de 2011 já evoluiria 1,7% (em 2010, esse efeito foi de 3,7%). Se a economia brasileira vier mesmo a se expandir os desejados 5%, crescerá bem acima da média dos últimos dez anos.

A safra brasileira de algodão em 2011 será a maior da história. Deve atingir o patamar de dois milhões de toneladas, motivada pelos preços internacionais do produto, que, em termos relativos, somente haviam alcançado cotações semelhantes durante a Guerra de Secessão nos Estados Unidos, quando os estados sulistas confederados, na época essencialmente agrícolas, rebelaram-se contra o Norte que se industrializava, deflagrando o conflito fratricida mais sangrento já visto pela humanidade. Mas isso foi na segunda metade do século XIX.

A colheita nem começou e os produtores já se comprometeram com trading internacionais a exportar um milhão de toneladas. Com isso sobrará para o mercado interno — se sobrar... — um milhão de toneladas, exatamente o volume consumido pela indústria nacional.

As empresas do setor têxtil estão apreensivas, pois ficaram espremidas entre o custo da matéria-prima (que, em um ano, aumentou quase 250%) e a concorrência de produtos acabados da China e de outros países asiáticos, que jogam os preços para baixo.

Como não é possível segurar o preço do algodão, ditado pelo mercado internacional, nessa altura dos acontecimentos as indústrias vão negociar com os produtores o fornecimento de matéria-prima (Mato Grosso atualmente responde por 45% da produção nacional).

A indústria têxtil e de confecções cresceu no ano passado 4,5%, menos que a média da economia (7.5%). É uma extensa cadeia produtiva, que envolve também a indústria química, os fabricantes de aviamentos (botões etc.), a rede do varejo, os estilistas, a mídia especializada, e por aí vai.

A Granja Brasil, empreendimento imobiliário lançado há 12 anos em Itaipava, na Região Serrana do Rio, adotou o sistema de fracionamento em novos lançamentos. Para os apartamentos grandes, com área interna de 600 metros quadrados (e preços que podem chegar a R$2,5 milhões) o fracionamento é oferecido como opção para quem sobe a serra eventualmente, pois o proprietário passa a ter direito a ocupar o imóvel por um certo número de fins de semana por ano (com os feriados longos em esquema de rodízio). Tal opção está conjugada ao recém-inaugurado hotel Clarion, dentro do condomínio, cujo foco são altos executivos que vão a Petrópolis durante a semana, a negócios. Os proprietários de apartamentos fracionados terão direito a desconto de 50% na diária do hotel, em fins de semana, e poderão usufruir de serviços de arrumadeira, lavanderia etc.

Nos Estados Unidos e na Europa esse sistema já é comum. No Brasil é relativamente recente, pois havia dificuldade em se lavrar escritura de apartamentos fracionados (no caso de terreno vazio isso já era rotineiro) e os potenciais investidores não se sentiam atraídos por essa opção.

Livro: A Economia Brasileira - Antonio Dias Leite
Com uma versão atualizada e revisada, a Editora Elsevier está lançando a segunda edição do livro do ex-ministro Dias Leite sobre a economia brasileira (com o subtítulo “Onde estamos, para onde vamos”). O prefácio dessa nova edição foi escrito por Arminio Fraga.

Dias Leite, professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi presidente da então Companhia Vale do Rio Doce e depois ministro de Minas e Energia nas décadas de 60 e 70. Meu sogro, que foi colega dele na Escola de Engenharia na antiga Universidade do Brasil, no Largo de São Francisco, no Rio, dizia que Dias Leite já se destacava como um dos mais brilhantes alunos da faculdade.

O livro é muito interessante porque alterna análises históricas com alguns conceitos, em linguagem didática e acessível a qualquer tipo de leitor que tenha gosto pela economia, tema geralmente visto como árido demais.

Libia e o Conselho de Direitos Humanos da ONU: reino da hipocrisia

Moises Naim é um jornalista que gosta de fazer ironias.
Esta, por exemplo:

"El 4 de enero de este año, el Consejo de Derechos Humanos, órgano de Naciones Unidas, publicó su informe sobre Libia. El texto no contiene ni un asomo de crítica al Gobierno de Gadafi y más bien resalta que "varias delegaciones expresaron su reconocimiento al compromiso del país con la defensa de los derechos humanos...". La delegación de Brasil, por ejemplo, enfatizó "el progreso social y económico de Libia y reconoció sus esfuerzos con respecto a personas con discapacidades"."

Provavelmente não houve tempo, no dia 4 de janeiro, para mudar instruções que estavam previsivelmente prontas desde o governo anterior, quando o ditador líbio ainda era tratado como um amigo e quando a ONU praticava sua hipocrisia habitual, com a cooperação do governo brasileiro.

O problema parece justamente este: o governo brasileiro diz que sempre vai agir em consonância com decisões da ONU, mesmo quando estas exibem sua dose de hipocrisia habitual.
Que tal se, por uma vez, o governo brasileiro atuasse de acordo com seus princípios, ou melhor, com os princípios da Constituição (que talvez não sejam os seus, ainda...)?
Que tal se o governo brasileira atuasse com base em valores, pelo menos por uma vez?
Paulo Roberto de Almeida

Ola de cambio en el mundo árabe: Muamar, Hugo y Dani
MOISÉS NAÍM
El País, 06/03/2011

Chávez y Ortega son los dos únicos jefes de Estado que no han condenado a Gadafi

¿Quién hubiese imaginado que Muamar el Gadafi pasaría a la historia como el gran creador de consenso internacional? No es fácil poner de acuerdo a las 192 naciones del planeta. Gadafi lo ha logrado. El mundo entero ha denunciado al dictador libio por masacrar a civiles inocentes. El mundo entero, excepto dos jefes de Estado: Hugo Chávez y Daniel Ortega; el eje de los despistados.

Hasta la Liga Árabe le ha retirado el apoyo a Gadafi. Pero Hugo y Dani, no. Seguramente los convenció Fidel Castro, quien mantiene que la violencia en Libia es culpa de la OTAN, y no de Gadafi. En esto, el dictador libio discrepa de su colega, el exdictador cubano. Según Gadafi, detrás de los disturbios en su país está Al Qaeda. Esta diferencia plantea un problema para Hugo y Dani. Quizás, y para evitar tener que tomar partido por Fidel o por Muamar, concluirán que la desestabilización de Libia es una operación conjunta de la OTAN y Al Qaeda.

Pero quien definitivamente no está de acuerdo con el eje de los despistados es otro de sus aliados: Mahmud Ahmadineyad. "Es difícil imaginar que exista una persona que pueda matar y bombardear a su propia gente. Esto es muy feo... Los exhorto a escuchar a su pueblo y reflexionar sobre sus demandas. La gente debe ser libre y tener poder de decisión sobre su futuro. Todo el mundo está en shock con lo que está pasando en Libia... deben hacer caso al pueblo", declaró el indignado líder iraní. Este es otro candidato al eje de los despistados. Pero por una razón distinta: el pobre Ahmadineyad no parece haberse enterado de que, al mismo tiempo que hacía estas declaraciones, su Gobierno estaba reprimiendo salvajemente a sus opositores -de nuevo-. Cuando descubra que no hay mucha diferencia entre él y Gadafi seguramente tendrá un shock tan profundo como el que le produjo ver la manera en la que el libio trata a su pueblo.

Las tensiones entre Gadafi y Ahmadineyad no son nuevas, y una reveladora manifestación de ellas es que el líder iraní nunca recibió el Premio Gadafi de los Derechos Humanos. Este premio, creado en 1988, se otorga anualmente a quienes "hayan colaborado de forma sublime en la prestación de servicios humanos destacados o en la realización de labores gloriosas en defensa de los derechos humanos" (sic). A Hugo le tocó en 2004 y a Dani en 2009. Unos años después, Chávez correspondió al reconocimiento del libio obsequiándole una réplica de la espada de El Libertador, explicando además que "Muamar el Gadafi es para los libios lo que Simón Bolívar es para los venezolanos". Casi nada.

El presidente venezolano no es el único que ha distinguido al líder libio en el campo de los derechos humanos. El 4 de enero de este año, el Consejo de Derechos Humanos, órgano de Naciones Unidas, publicó su informe sobre Libia. El texto no contiene ni un asomo de crítica al Gobierno de Gadafi y más bien resalta que "varias delegaciones expresaron su reconocimiento al compromiso del país con la defensa de los derechos humanos...". La delegación de Brasil, por ejemplo, enfatizó "el progreso social y económico de Libia y reconoció sus esfuerzos con respecto a personas con discapacidades". Myanmar compartió estos conceptos. Por su parte, "Bielorrusia notó con satisfacción que Libia suscribía todos los tratados internacionales sobre derechos humanos y cooperaba con los organismos de dichos tratados".

La resolución de la Asamblea General de Naciones Unidas que creó el Consejo de Derechos Humanos establece que, al votar por los países que aspiren a formar parte del mismo, "se debe tomar en cuenta su contribución a la promoción y protección de los derechos humanos". Libia fue elegida con el apoyo de 155 países.

Pero ni siquiera este baluarte de la hipocresía internacional pudo mantener a Libia en su seno. Así, el Consejo de Derechos Humanos de la ONU, después de largas deliberaciones, concluyó que la contribución de la Libia de Gadafi a los derechos humanos había caído por debajo de los estándares aceptables y la expulsó.

Pero Hugo y Dani no abandonan a sus amigos. "No voy a condenar a Gadafi... a mí no me consta que sea un asesino", dijo el presidente de Venezuela.

Y al oír esto me vino a la mente la vieja frase de George Orwell: "El lenguaje político... está diseñado para que las mentiras suenen a verdades y que el asesinato sea respetable".

No; los despistados no son ellos. Son quienes les creen.

domingo, 6 de março de 2011

Why America Will Stay on Top - Paul Johnson, historiador britânico

Dito assim, parece mais uma receita para acomodar os americanos: "ah, nós somos inventivos, criativos, flexíveis, geniais, sempre vamos estar na frente de outros povos..."
Pode ser um caminho mais rápido para a decadência.
A China, que no momento é um caso absolutamente extraordinário na história econômica mundial, configura um caso inédito de crescimento econômico inacreditável para os padrões conhecidos combinado a uma das mais férreas ditaduras do cenário político mundial (nisso não muito diferente de seus padrões históricos, diga-se de passagem).
Mas a China não vai crescer assim o tempo todo e não será uma ditadura o tempo todo. Pode ser que ela venha a se tornar o país mais inovador do mundo, no futuro, quando parar de copiar, inventar seus próprios produtos, e se pautar pela liberdade irrestrita de opinião e de organização, o que ainda não é o caso (mas pode ser, antes ainda do que imaginamos).
Os americanos precisam continuar trabalhando duro, e aperfeiçoar-se educacionalmente, pois podem ficar para trás.
Em todo caso, a entrevista de Paul Johnson é interessante, tirando sua opinião sobre a Sarah Palin, uma das políticas mais idiotas que já encontrei no cenário americano (a concorrência é dura, pois os políticos americanos costumam ser singularmente idiotas).
Gostei da receita de Churchill quanto ao sucesso: conservação de energia...
Bem, a maior parte do que vai abaixo é pura opinião, mas ainda assim é interessante.
Paulo Roberto de Almeida

THE WEEKEND INTERVIEW - Paul Johnson, historian
Why America Will Stay on Top
By BRIAN M. CARNEY
The Wall Street Journal, MARCH 5, 2011, page A13

London - In his best-selling history of the 20th century, "Modern Times," British historian Paul Johnson describes "a significant turning-point in American history: the first time the Great Republic, the richest nation on earth, came up against the limits of its financial resources." Until the 1960s, he writes in a chapter titled "America's Suicide Attempt," "public finance was run in all essentials on conventional lines"—that is to say, with budgets more or less in balance outside of exceptional circumstances.

"The big change in principle came under Kennedy," Mr. Johnson writes. "In the autumn of 1962 the Administration committed itself to a new and radical principle of creating budgetary deficits even when there was no economic emergency." Removing this constraint on government spending allowed Kennedy to introduce "a new concept of 'big government': the 'problem-eliminator.' Every area of human misery could be classified as a 'problem'; then the Federal government could be armed to 'eliminate' it."

Twenty-eight years after "Modern Times" first appeared, Mr. Johnson is perhaps the most eminent living British historian, and big government as problem-eliminator is back with a vengeance—along with trillion-dollar deficits as far as the eye can see. I visited the 82-year-old Mr. Johnson in his West London home this week to ask him whether America has once again set off down the path to self-destruction. Is he worried about America's future?

"Of course I worry about America," he says. "The whole world depends on America ultimately, particularly Britain. And also, I love America—a marvelous country. But in a sense I don't worry about America because I think America has such huge strengths—particularly its freedom of thought and expression—that it's going to survive as a top nation for the foreseeable future. And therefore take care of the world."

Pessimists, he points out, have been predicting America's decline "since the 18th century." But whenever things are looking bad, America "suddenly produces these wonderful things—like the tea party movement. That's cheered me up no end. Because it's done more for women in politics than anything else—all the feminists? Nuts! It's brought a lot of very clever and quite young women into mainstream politics and got them elected. A very good little movement, that. I like it." Then he deepens his voice for effect and adds: "And I like that lady—Sarah Palin. She's great. I like the cut of her jib."

The former governor of Alaska, he says, "is in the good tradition of America, which this awful political correctness business goes against." Plus: "She's got courage. That's very important in politics. You can have all the right ideas and the ability to express them. But if you haven't got guts, if you haven't got courage the way Margaret Thatcher had courage—and [Ronald] Reagan, come to think of it. Your last president had courage too—if you haven't got courage, all the other virtues are no good at all. It's the central virtue."

***
Mr. Johnson, decked out in a tweed jacket, green cardigan and velvet house slippers, speaks in full and lengthy paragraphs that manage to be at once well-formed and sprinkled with a healthy dose of free association. He has a full shock of white hair and a quick smile. He has, he allows, gone a bit deaf, but his mind remains sharp and he continues to write prolifically. His main concession to age, he says, is "I don't write huge books any more. I used to write 1,000 printed pages, but now I write short books. I did one on Napoleon, 50,000 words—enjoyed doing that. He was a baddie. I did one on Churchill, which was a bestseller in New York, I'm glad to say. 50,000 words. He was a goodie." He's also written short forthcoming biographies of Socrates (another "goodie") and Charles Darwin (an "interesting figure").

Mr. Johnson says he doesn't follow politics closely anymore, but he quickly warms to the subject of the Middle East. The rash of uprisings across the Arab world right now is "a very interesting phenomenon," he says.

"It's something that we knew all about in Europe in the 19th century. First of all we had the French Revolution and its repercussions in places like Germany and so on. Then, much like this current phenomenon, in 1830 we had a series of revolutions in Europe which worked like a chain reaction. And then in 1848, on a much bigger scale—that was known as the year of revolutions."

In 1848, he explains, "Practically every country in Europe, except England of course . . . had a revolution and overthrew the government, at any rate for a time. So that is something which historically is well-attested and the same thing has happened here in the Middle East."

Here he injects a note of caution: "But I notice it's much more likely that a so-called dictatorship will be overthrown if it's not a real dictatorship. The one in Tunisia wasn't very much. Mubarak didn't run a real dictatorship [in Egypt]. Real dictatorships in that part of the world," such as Libya, are a different story.

As for Moammar Gadhafi, "We'll see if he goes or not. I think he's a real baddie, so we hope he will." The Syrian regime, he adds, "not so long ago in Hama . . . killed 33,000 people because they rose up." Then, "above all," there is Iran. "If we can get rid of that horrible regime in Iran," he says, "that will be a major triumph for the world."

Frank judgments like these are a hallmark of Mr. Johnson's work, delivered with almost child-like glee. Of Mahatma Gandhi, he wrote in "Modern Times": "About the Gandhi phenomenon there was always a strong aroma of twentieth-century humbug."

Socrates is much more to Mr. Johnson's liking. Whereas, in Mr. Johnson's telling, Gandhi led hundreds of thousands to death by stirring up civil unrest in India, all the while maintaining a pretense of nonviolence, Socrates "thought people mattered more than ideas. . . . He loved people, and his ideas came from people, and he thought ideas existed for the benefit of people," not the other way around.

In the popular imagination, Socrates may be the first deep thinker in Western civilization, but in Mr. Johnson's view he was also an anti-intellectual. Which is what makes him one of the good guys. "One of the categories of people I don't like much are intellectuals," Mr. Johnson says. "People say, 'Oh, you're an intellectual,' and I say, 'No!' What is an intellectual? An intellectual is somebody who thinks ideas are more important than people."

And indeed, Mr. Johnson's work and thought are characterized by concern for the human qualities of people. Cicero, he tells me, was not a man "one would have liked to have been friends with." But even so the Roman statesman is "often very well worth reading."

His concern with the human dimension of history is reflected as well in his attitude toward humor, the subject of another recent book, "Humorists." "The older I get," he tells me, "the more important I think it is to stress jokes." Which is another reason he loves America. "One of the great contributions that America has made to civilization," he deadpans, "is the one-liner." The one-liner, he says, was "invented, or at any rate brought to the forefront, by Benjamin Franklin." Mark Twain's were the "greatest of all."

And then there was Ronald Reagan. "Mr. Reagan had thousands of one-liners." Here a grin spreads across Mr. Johnson's face: "That's what made him a great president."

Jokes, he argues, were a vital communication tool for President Reagan "because he could illustrate points with them." Mr. Johnson adopts a remarkable vocal impression of America's 40th president and delivers an example: "You know, he said, 'I'm not too worried about the deficit. It's big enough to take care of itself.'" Recovering from his own laughter, he adds: "Of course, that's an excellent one-liner, but it's also a perfectly valid economic point." Then his expression grows serious again and he concludes: "You don't get that from Obama. He talks in paragraphs."

***
Mr. Johnson has written about the famous and notorious around the world and across centuries, but he's not above telling of his personal encounters with history. He is, he says, "one of a dwindling band of people who actually met" Winston Churchill.

"In 1946," he tells me, "he came up to my hometown because he was speaking at the Conservative Party conference up the road. And I managed to get in just as he was about to leave to make his speech. And I was 16. He seemed friendly, so I was inspired to say, 'Mr. Winston Churchill, sir, to what do you attribute your success in life?' And he said without any hesitation"—here Mr. Johnson drops his voice and puts on a passable Churchill impression—"'Conservation of energy. Never stand up when you can sit down. And never sit down when you can lie down,'" he relates with a laugh. "And I've never forgotten this," he says, "because as a matter of fact, it's perfectly good advice."

Here he adds the kicker: "Interestingly enough, Theodore Roosevelt, who had a lot in common with Winston Churchill in many ways, but was quite a bit older, said of him, 'Oh, that Winston Churchill, he is not a gentleman. He doesn't get to his feet when a lady enters the room.'"

Mr. Carney is editorial page editor of The Wall Street Journal Europe and the co-author of "Freedom, Inc." (Crown Business, 2009).

Novas formas da guerra: sabotagem informatica

O artigo abaixo apenas confirma o que já se sabia: israelenses e americanos fizeram um ataque direto ao programa nuclear iraniano, mas usando simplesmente um virus de computador programado para desorganizar o processo de enriquecimento de urânio nas centrais iranianas. Parece que foi tão eficiente quanto um ataque aéreo com mísseis...
Paulo Roberto de Almeida

US and Israel were behind Stuxnet claims researcher
BBC News Technology, 4 March 2011

Iran's Bushehr reactor is believed to have been on of the intended targets for Stuxnet.
Israel and the United States created the Stuxnet worm to sabotage Iran's nuclear programme, a leading security expert has claimed.

Ralph Langner told a conference in California that the malicious software was designed to cripple systems that could help build an Iranian bomb.

Mr Langner was one of the first researchers to show how Stuxnet could take control of industrial equipment.

It is widely believed that its target was machinery used to enrich uranium.

Speaking at the TED conference in Long Beach, California, Mr Langner said: "My opinion is that Mossad [Israel's intelligence agency] is involved."

However he speculated that Israel was not the main driver behind the creation of Stuxnet.

"There is only one leading source, and that is the United States," said Mr Langner.

In a recent report on Stuxnet, the security firm Symantec said that it would have taken a team of between five and 10 developers, six months to create the worm.

Mr Langner said that the project would have required "inside information", so detailed that "they probably knew the shoe size of the operator."

Stuxnet first came to light in July 2010. Nearly 60% of reported infections were inside Iran.

Damaging centrifuges
The worm targets industrial control systems, known as programmable logic controllers (PLCs), made by Siemens.

While PLCs are used to control a wide variety of automated systems, it is believed that it was those inside Iran's nuclear facilities that were the intended target.

Analysts who have examined the Stuxnet code say it could have been used to damage centrifuges which play a crucial role in the process of enriching uranium for both nuclear power and weapons.

The United States and Israel have led an international campaign to halt Iran's nuclear programme, however there is no hard evidence to link either country to the creation of Stuxnet.

Earlier in the week Iran's Interior Ministry denied that Stuxnet had been responsible for a shutdown at the country's Bushehr nuclear reactor.

A report by the International Atomic Energy Agency showed that Russian engineers working at the plant had removed 163 fuel rods.

Iranian sources said that the action was taken as a result of problems with the rods, rather than Stuxnet.

Sun Tzu para diplomatas: uma estrategia diplomatica

Eu não disse a Arte da Guerra para diplomatas, e sim Sun Tzu para diplomatas, o que é muito diferente.
Meu mais recente trabalho publicado:


Formação de uma estratégia diplomática: relendo Sun Tzu para fins menos belicosos
Brasília, 5 março 2011, 8 p. Sun Tzu revisitado com o objetivo de traçar uma estratégia diplomática.
Espaço Acadêmico (ano 10, n. 118, março 2011, p. 155-161; ISSN: 1519-6186)
Relação de Originais n. 2251; Publicados n. 1023.

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval: bloco Barao do Rio Branco (desfilando duas vezes)

Não, não é o próprio, infelizmente, e não sei se ele sabia sambar, mas o fato é que o Barão (o único, verdadeiro, impoluto) morreu pouco antes do Carnaval de 1912, o que levou o governo Hermes da Fonseca a decretar a postergação da festa para abril.
Crime de lesa povo! Para quê!?
Não adiantou nada. O povo festejou em fevereiro e em abril novamente.
Esse é o mote do livro de meu colega Luis Claudio Villafane Gomes Santos, O Dia em Que Adiaram o Carnaval, objeto desta simpática matéria no Globo de hoje.
Paulo Roberto de Almeida

O ano em que houve dois carnavais
Roberta Jansen
O Globo, 5 de março de 2011, página 28

Morte do Barão do Rio Branco fez governo adiar a festa, mas povo brincou duas vezes

É o sonho dos foliões mais animados; uma verdadeiro pesadelo para quem é avesso aos festejos: comemorar o carnaval duas vezes por ano. Por incrível que pareça, isso já aconteceu uma vez no Brasil, em 1912, por conta da morte do Barão do Rio Branco – tido como responsável pela consolidação do território nacional e, por isso, aclamado herói. A fascinante e bem pouco conhecida passagem foi resgatada pelo historiador e diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos. No recém-lançado O Dia em que adiaram o carnaval – política externa e a construção do Brasil (Ed. Unesp), ele a utiliza como ponto de partida para discorrer sobre a construção da nacionalidade brasileira.

Não que o povo tenha ficado feliz com a morte do Barão. Longe disso. Ele realmente era muito admirado pela população. Sua morte, em 10 de fevereiro de 1912, a uma semana do início das comemorações do carnaval daquele ano, foi bastante lamentada. Como mostra Santos, em seu livro, o jornal “A República” não economizou na emotividade: “Nenhum brasileiro atingiu mais alto o culto da veneração popular. O Barão do Rio Branco era verdadeiramente um patrimônio nacional. A nação que o amou em vida, há de idolatrar-lhe reverentemente a sua memória”. A “Gazeta de Notícias” também não fez por menos, registrando, ao noticiar a morte, que “o país inteiro soluça”.

– Pela documentação que juntei, houve, de fato, uma reação muito forte da população – conta o historiador.

Como registra Santos, de forma espontânea, independentemente do luto oficial, o comércio fechou as portas, bem como os bancos e escritórios privados, além das repartições públicas. Os cinemas e os teatros não funcionaram naquele dia. E bailes e festas foram cancelados. Logo, o governo determinou que, em virtude do luto, as comemorações não começassem no dia 17 de fevereiro, conforme previsto no calendário, mas fossem transferidas para 6 de abril, em sinal de respeito.

Acre é anexado: nova vitória de Rio Branco
José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, era adorado pelo povo. Em 1902, quando retornou ao Brasil para assumir o Ministério das Relações Exteriores, ele foi aclamado nas ruas pela mesma população que, dez anos depois, chorava copiosamente sua morte.

– Ele já era um personagem bem popular quando voltou do exterior – atesta Santos.

– Uma multidão o esperava no porto, onde desembarcou, e acompanhou sua carruagem pelas ruas. Quando, num determinado ponto, os cavalos não puderam prosseguir, estudantes se ofereceram para puxá-la. Enfim, uma volta triunfante, extraordinária.

E não é para menos. O Barão, que na época ocupava o posto de Embaixador na Alemanha, tinha servido de advogado brasileiro em duas arbitragens internacionais cruciais à delimitação de nossas fronteiras: a de Palmas, em 1895, em que conseguiu assegurar para o Brasil boa parte do território dos estados de Santa Catarina e Paraná em litígio com a Argentina; e a do Amapá, em 1900, em que obteve uma vitória sobre a França na disputa da fronteira com a Guiana Francesa.

Foi justamente o prestígio obtido nesses dois casos que fez com que o então Presidente Rodrigues Alves escolhesse o Barão do Rio Branco – a quem sequer conhecia pessoalmente – para ocupar o posto máximo da diplomacia do país naquele ano de 1902, em que o governo se via às voltas com uma nova discussão sobre fronteiras, desta vez com a Bolívia, pelo então território do Acre. A despeito da oposição de nomes de grande peso da época, como os de Rui Barbosa e Pinheiro Machado, o Barão conseguiu aprovar o Tratado de Petrópolis, pelo qual o país anexava o Acre mediante pequenos territórios na fronteira com o Mato Grosso, uma indenização em dinheiro, e a ferrovia Madeira-Mamoré.

– Houve uma grande discussão no Congresso e na imprensa, e forte oposição ao tratado. Mesmo assim, ele acabou sendo aprovado, no que, até hoje, é considerada uma grande vitória do Rio Branco – afirma Santos. – Ou seja, o Barão, que já tinha retornado ao país com a popularidade em alta, obteve sucesso com a questão do Acre logo no seu primeiro ano, promovendo uma escalada de sua popularidade.

Por tudo isso, sustenta Santos, a tristeza gerada pela morte do Barão é bastante plausível.

– Os jornais todos da época registram uma grande comoção popular, com pessoas chorando nas ruas, cinemas fechados, um impacto grande – diz o historiar. – Dado o contexto, a reação me parece coerente.

Foi diante dessa situação que o governo do Marechal Hermes da Fonseca decidiu, então, adiar o Carnaval. Não funcionou. Os brasileiros acabaram festejando duas vezes. Uma, em fevereiro mesmo, a despeito do luto. Outra, de 6 a 10 de abril, seguindo as determinações governamentais. A irreverência prevaleceu, como atesta a letra da marchinha feita para o segundo Carnaval: “Com a morte do Barão/Tivemos dois carnavá/Ai que bom, ai que gostoso/Se morresse o marechá”, numa referência nada sutil à possível morte do presidente.

Carnaval remonta ao período colonial
E se a consolidação do território brasileiro, com a definição de suas fronteiras, foi crucial na construção de uma identidade nacional, como mostra Santos, o carnaval também o foi.

– O carnaval tem uma história que vem da Colônia, com o chamado entrudo, em que as pessoas jogavam água, farinha, xixi umas nas outras – conta Santos. – Com o fim do Império, ele começa a incorporar os batuques africanos; o Rei Congo, em que os negros representam suas realezas. Na virada do século XX, quando o Rio vive um período importante de modernização, começa também a importar aspectos do Carnaval europeu, do Rei Momo, do Pierrô e da Colombina. Então, esse momento da virada do século, é justamente o momento em que o carnaval começa a ganhar uma aceitação social mais ampla.

E é também na virada do século, mais precisamente em 1896, que o futebol entra no país. Junto com a noção de territorialidade, dois importantes símbolos nacionais.

– Ou seja, dois dos mais fortes simbolo nacionais são bem recentes – afirma Santos. – Símbolos da identidade que parecem eternos e muito antigos, na verdade, não o são. É o mesmo caso da extroversão e alegria do brasileiro que é bem recente.

Mas, como frisa o pesquisador, não se tratam, necessariamente, de noções construídas pelo Estado.

– O Estado tem um papel importante, mas ninguém controla a construção da identidade – diz o diplomata. – Há uma circularidade das ideias. As massas, as classes subalternas trabalham as ideias. O produtos final, ninguém controla. Não há exatamente uma pessoa conduzindo o processo.

Por falar em crescimento: impossivel com nossa taxa de investimento

Investimento no Brasil é o terceiro menor entre 20 países emergentes
Érica Fraga
Folha de S.Paulo, 04/03/2011

A taxa de investimento brasileira está entre as mais baixas do mundo emergente e, segundo pesquisa recente do Banco Central com analistas, permanece muito aquém do necessário para garantir crescimento de 5,5% ao ano. Depois de crescer a um ritmo recorde de 21,8% em 2010 (apesar de forte desaceleração no último trimestre), investimentos em máquinas e instalações produtivas atingiram o equivalente a 18,4% do PIB. Essa taxa de investimento representa recuperação em relação aos 16,9% de 2009, mas seguiu abaixo do nível pré-crise, de 19,1% em 2008.

Entre um grupo de 20 países considerados emergentes pela Bolsa eletrônica S&P, o Brasil está entre os três que menos investem (na frente apenas de Egito e Filipinas). De acordo com Robert Wood, analista de Brasil da consultoria EIU (Economist Intelligence Unit), na América Latina, países como Peru, Chile e Colômbia têm conseguido aumentar suas taxas de investimento para níveis próximos a 25% do PIB. Já China e Índia atingiram taxas de investimento próximas de 47% e 32% do PIB, respectivamente, em 2010.

A taxa de investimento do Brasil -baixa em comparação com a de seus pares- limita a capacidade de expansão econômica do país. O BC fez um levantamento recente com analistas do mercado financeiro em que perguntou que taxa de investimento seria “condizente com um crescimento potencial de 5,5%”. Em média, a resposta foi 24%, quase seis pontos percentuais acima do patamar atual.