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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Asilo, pero no mucho (esto "depiende" companero...) - Mario Machado

Um impecável artigo do meu amigo e colega blogueiro Mario Machado, sobre a mais recente das tresloucadas aventuras do Itamaraty, de qualquer ângulo que se olhe...
Acredito que muita coisa ainda há para esclarecer, mas os esclarecimentos aqui prestados pelo Mario nos deixam mais esclarecidos sobre o assunto, se ouso ser redundante.
Isso para dizer que gostaria de ter sido tão didático quanto ele, impecável, repito.
Meus cumprimentos...
Paulo Roberto de Almeida




Mario Machado
Coisas Internacionais: 29 Aug 2013 10:58 AM PDT

Eduardo Sabóia diplomata de carreira e encarregado de negócios na Bolívia decidiu trazer – com enorme risco para sua carreira e até risco pessoal – para o território nacional o senador boliviano Roger Pinto que estava asilado a 455 na Embaixada Brasileira em La Paz. Antes de analisar o caso acho que é interessante tecer algumas palavras sobre o Asilo Diplomático. 
Brevíssimas considerações sobre o asilo diplomático
A figura do asilo territorial e do asilo diplomático não possuem um quadro geral de referência no Direito Internacional, ou seja, não são institutos codificados em um tratado multilateral que torne as condutas previsíveis. E mesmo a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas não possui sequer menção ao tema. Que de certo deve ser um dos que o consenso é muito complicado de atingir.
Muito embora a prática do asilo seja antiguíssima havendo registros dessa prática por toda parte, embora na antiguidade fosse mais comum que se desse asilo a criminosos comuns e não a criminosos políticos, afinal quem arriscaria uma guerra com Roma, ao proteger um inimigo desse império?
Com o tempo a necessidade de combate aos crimes transnacionais e para incentivar a cooperação entre as diversas jurisdições passou-se a considerar que o asilo era devido àqueles que sofrem perseguição judicial por crimes políticos e de opinião. E passou a ser comum a extradição – sempre que instrumentos bi-laterais assim regulem – de criminosos comuns.
O marco multilateral mais importante que versa sobre o asilo é o artigo 14, da Declaração Universal dos Direitos Humanos que diz:
“1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.   
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.”
Fonte: Ministério da Justiça, disponível aqui.
A história de instabilidade e perseguição política na América Latina impulsionou a constituição de um sistema interamericano de regulação multilateral da questão do asilo com dois importantes tratados a Convenção sobre Asilo Diplomático e a Convenção sobre Asilo Territorial.
Destaco alguns artigos da Convenção sobre Asilo Diplomático:
Artigo XII
Concedido o asilo, o Estado asilante pode pedir a saída do asilado para território estrangeiro, sendo o Estado territorial obrigado a conceder imediatamente, salvo caso de força maior, as garantias necessárias a que se refere o Artigo V e o correspondente salvo-conduto.
Artigo XVII
Efetuada a saída do asilado, o Estado asilante não é obrigado a conceder-lhe permanência no seu território; mas não o poderá mandar de volta ao seu país de origem, salvo por vontade expressa do asilado.
O fato de o Estado territorial comunicar à autoridade asilante a intenção de solicitar a extradição posterior do asilado não prejudicará a aplicação de qualquer dispositivo desta Convenção. Nesse caso, o asilado permanecerá residindo no território do Estado asilante até que se receba o pedido formal de extradição, segundo as normas jurídicas que regem essa instituição no Estado asilante. A vigilância sobre o asilado não poderá exceder de trinta dias.
As despesas desse transporte e as da permanência preventiva cabem ao Estado do suplicante.
Comentário sobre o caso atual
Essa viagem pelos tratados se justifica para demonstrar que não era em nenhum momento preciso que se mantivesse o senador em nossas dependências diplomáticas por 455 dias, em uma situação de enorme desconforto e alienação familiar. Essa situação em que se encontrava o senador justifica muito bem a frase de Sabóia: “Não tenho vocação pra carcereiro”.
A operação clandestina que trouxe o senador para o Brasil com todo seu caráter cinematográfico (aqui um relato com detalhes da operação) desencadeou uma crise nos corredores do poder, no Planalto Central, afinal, a própria presidente só soube da operação depois que o senador estava em território brasileiro. Esse fato mostra, por um lado que não houve o devido respeito a hierarquia do MRE, por outro lado demonstra que o encarregado de negócios possuía fortes motivos pra acreditar que o governo não conseguiria obter o Salvo Conduto para a saída do senador boliviano e que o governo federal preferia enfrentar o desgaste de ver a questão do asilo ser apreciada publicamente pelo Supremo Tribunal Federal a tentar uma operação clandestina de retirada do senador.
Os áulicos do governo começam a levantar várias teses e se esforçam em tentar desclassificar a ação e aproveitam para desancar a diplomacia profissional que apesar do assédio ideológico do topo pra baixo tem resistido e insistido em ser órgão de Estado.
Essa verdadeira humilhação burocrática a velha Casa do Barão se manifesta na composição da Comissão de Inquérito que determinará o destino de Sabóia, que é composta por pessoas alheias a carreira diplomática. Procedimento incomum na esplanada.
A estratégia de focar na disciplina interna do Itamaraty e no direitismo do asilado tem obtido sucesso e dão a impressão que a presidente está ‘colocando ordem na casa’ ao demitir o enfraquecido Antonio Patriota. Essa linha de narrativa, também, tem conseguido evitar que se pergunte com veemência na imprensa por que eram negadas visitas ao senador e por que novamente o ministro da defesa nada sabia. Mas, no caso dele nem se aventa exoneração.
O Itamaraty agiu com uma coerência desafiadora para o governo e recebeu o senador na embaixada como havia feito em Tegucigalpa (embora no caso hondurenho o asilado estivesse acompanhado por ampla comitiva e usasse a embaixada como escritório político e não pretendia sair do país), só que desta vez interesses palacianos foram contrariados.
O fato é que Sabóia se arriscou muito e foi jogado aos leões. Sua carreira será duramente prejudicada e ele sabia disso o que demonstra quão forte foram suas motivações. Admitamos é muito fácil se indignar e cobrar soluções para graves violações de Direitos Humanos usando a internet, ou com cartazes numa avenida, difícil e por que não mais nobre é dizer: “Sua vida corre perigo, mas eu também vou correr porque vou lhe acompanhar”.
Muitos defendem a obediência cega a cadeia hierárquica e concordo que é preciso ordem e controle interno, mas quanta desgraça homens e mulheres que apenas seguiam ordens já causaram no mundo?
Um asilado bastará para afetar as relações entre Brasil e Bolívia? Um asilado fará mais que o descaso com o tráfico de drogas na fronteira? Um asilado fará mais estrago que a revista do avião do ministro da defesa? Um asilado fará mais estrago que a tomada com forte aparato militar dos bens da estatal Petrobras? Ser de direita justifica sofrer perseguição política e ser detido? Vivemos em tempos de um condor de plumagem vermelha?

A ironia da semana: um quadrilheiro certificado sobre um suposto criminoso


José Dirceu - o próprio - em seu blog sobre o senador boliviano:

 "Molina, que deveria estar cumprindo pena (...)"

Pois é...
Coluna do jornalista Carlos Brickmann, 30/08/2013

Brasil: a economia do mundo da fantasia - Celso Ming

Acredite se quiser

30 de agosto de 2013 | 2h 23
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
O governo federal divulgou ontem a peça de ficção que tem-se repetido: o Orçamento-Geral da União. É ficção não porque contenha erros de avaliação, tanto de arrecadação quanto de despesa, mas porque trabalha propositalmente com variáveis destituídas de senso de realismo.
Lá estão previstos para 2014 um avanço do PIB de 4,0%; uma inflação de 5,0%; e uma cotação do dólar (taxa de câmbio) de R$ 2,19. Qualquer administrador de patrimônio que precisa trabalhar com parâmetros macroeconômicos confiáveis sabe que esses números não têm consistência.
Não muda as coisas quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, adverte, como ontem fez, que "esses números não devem ser tomados como previsões porque o governo não pode adivinhar" e, por isso, começa de alguma base para depois ir ajustando. Mas, se eles são inconsistentes, que valor podem ter? O governo não quer apontar suas verdadeiras estimativas provavelmente porque ainda imagina que é melhor esbanjar otimismo, para talvez com isso influenciar o estado de espírito dos formadores de opinião. Infelizmente, o resultado vai na direção oposta.
As projeções com que lidam cerca de 100 consultorias, departamentos econômicos de empresas e bancos auscultados semanalmente pelo Banco Central para a Pesquisa Focus, são bem diferentes: crescimento econômico de 2,9%, inflação de 5,8% e cotação do dólar (em fim de 2014) de R$ 2,35.
Desde 2011 é a mesma coisa: o ministro Mantega começa projetando o avanço do PIB em 4,0% ou 4,5% e termina entregando uma fração disso. Foi de 0,9% em 2012 e o próprio Mantega já não espera mais de 2,5% em 2013.
Como de tantas outras vezes, também agora o ministro condiciona o bom desempenho da atividade econômica brasileira à melhora do cenário mundial. No entanto, as principais limitações estão aqui dentro: distorções na economia, rombo progressivo nas contas externas, inflação alta, investimento baixo, mercado de trabalho aquecido demais, altos custos de produção e um desânimo crônico, que é, ao mesmo tempo, resultado e causa de tudo isso.
Para dar alguma racionalidade a uma inflação em 2014 de apenas 5,0% (acima da meta de 4,5%, mas, ainda assim, abaixo de todas as projeções que estão por aí), o governo se compromete a deixar uma sobra de arrecadação para pagamento da dívida (superávit primário) equivalente a 2,1% do PIB. Mas 2014 é um ano de eleições. Se a administração das contas públicas não passa confiança em anos comuns, como acreditar que em 2014 seja tudo diferente?
Mais uma vez, vai sobrar para o Banco Central a tarefa de segurar a inflação hoje pressionada pela esticada do câmbio e pelo represamento dos preços administrados, especialmente o das tarifas dos combustíveis.
Se repetir nas duas próximas reuniões do Copom (outubro e novembro) a mesma dose de alta dos juros básicos (Selic) definida quarta-feira, ainda neste ano poderemos ter de volta os dois dígitos (de 10% para cima), até agora tabu no governo Dilma. E, mesmo se a opção for por um último ajuste na Selic (no ano) de apenas 0,25 ponto porcentual, os dois dígitos podem perfeitamente acontecer de janeiro em diante, principalmente se o Banco Central continuar perseguindo a convergência da inflação à meta.

A frase da semana: hierarquia e debate de ideias - Luiz Alberto Figueiredo Machado

A hierarquia não exclui o debate de ideias. Queremos um Itamaraty arejado e aberto a novos conceitos, mas o debate de ideias não substitui a obediência à institucionalidade.

Luiz Alberto Figueiredo Machado
Chanceler brasileiro, 29/08/2013

PS: Eu também gosto do debate de ideias, e ideias não se submetem a qualquer hierarquia...
Paulo Roberto de Almeida 

O novo presidente da Yale University: um monarca de cetro e coroa - Peter Salovey

A Yale University tem um novo presidente, isto é, reitor, desde julho último, mas que vai ser "entronizado" -- o verbo está correto -- no início de Outubro, para começar o seu período, mais de 300 anos depois da fundação dessa universidade de primeira linha nos EUA.
Abaixo algumas informações sobre o novo presidente de Yale e sobre seus atributos "monárquicos".
Paulo Roberto de Almeida

Presidential Inauguration

Welcome


On Sunday, October 13, 2013, Yale University will formally install the University’s twenty-third President, Peter Salovey, who took office on July 1.
In keeping with President Salovey’s commitment to make Yale even more unified, accessible, excellent, and innovative, the ceremony and the celebrations throughout the week will build and expand upon tradition and will include many events open to students, faculty, staff, alumni, our neighbors in the New Haven community, and friends across the world.
The University warmly invites the global Yale family and friends to share in this celebration, both online and on campus.

Academic Regalia

About Academic Costumes

Academic gowns represent a tradition, which comes from the universities of the Middle Ages. At that time, they were a common form of dress and were retained by the clergy when the laity adopted more modern styles. The early European universities were founded by the church; the students, being clerics, were obliged to wear the prescribed gowns at all times.  Many European universities have distinctive caps and gowns that differ from those commonly worn in the United States. Some of the gowns are of bright colors, and some are embellished with fur. The hoods are lined with the color of the institution which awarded the degree to the wearer. The color of the border or collar of the hood desig­nates the degree: Liberal Arts, white; Science, golden yellow; Philosophy, dark blue; Architecture, blue-violet; Art and Drama, brown; Divinity, scar­let; Engineering, orange; Forestry & Environmental Studies, russet; Law, purple; Management, sapphire blue; Medicine, green; Music, pink; Nursing, apricot; Public Health, salmon.  Members of the Yale Corporation wear blue velvet caps patterned after headgear of the University of Amsterdam.  The President has a distinctive blue gown approved by the Corporation and specially made for him.

Yale University President's CollarThe President’s Collar

The President’s Collar is of gold, silver, and enamel. There are eleven cloisonné and champlevé roundels which bear the arms of the Graduate School and the professional schools and three shields which bear the arms of the University and Yale College and the Great Seal of the United States. From the Collar is suspended a jewel composed of a pair of carved and polished glass medallions, back to back, between which floats a gold frag­ment embossed with the arms of the University. The gold mountings for the jewel are set with cloisonné enamel plaques, which bear the Hebrew characters referring to the sacred lots of the Bible, and the University’s motto, lux et veritas, based on an ancient Latin rendering of the Hebrew. 

Yale University MaceThe Mace and the Banners

The University Mace, emblem of the authority of the President and Fellows, was given to the University by Professor Samuel Simons Sanford, M.A.H. 1894, and has been used in academic processions since 1904.
The Mace, made of silver gilt, weighs twenty-four pounds and is forty-seven inches long. At the foot of the shaft is an acorn, out of which come oak leaves, the symbol of strength. These leaves sur­round a sphere on which appear the seal and name of the donor. On the shaft are engraved the names of all the Presidents of the University, now including President Salovey. Above the main shaft is a spherical section with a design of raised elm leaves sur­mounted by a cup that bears the arms of the University, of New Haven, of Connecticut, and of the United States. On the rim of the cup are four winged figures, which represent art, science, law, and theology. Rising above these figures is a deep blue sphere of lapis lazuli topped by a small pinecone, ancient symbol of immortality.
Other ceremonial maces are also carried in the procession as are heraldic banners representing each residential college and each school of the University. The faculty marshal of each residential college carries a distinctive mace especially designated for that college, while the student marshals carry wooden batons. Distinctive maces are also carried by faculty marshals of the Graduate School and the professional schools. Each college and each school of the University has its own heraldic banner.
The national, state, and city flags, the University, Yale College, and President’s banners, and the banners of the residential colleges, the Graduate School, and the professional schools are placed on the platform at the beginning of the inaugural ceremony.

O Mensalao do Brasil aos comunistas cubanos e as falsas necessidades...

O governo, além de indecoroso, é notoriamente mentiroso, no limite do criminoso.
Não sou eu quem digo isso, mas um grão-petista, um serviçal do regime, que já foi ministro da saúde e hoje é senador da república dos companheiros.
É ou não é?
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 30/082013

Num debate havido no programa “Entre Aspas”, da GloboNews, comandado por Mônica Waldvogel, o senador Humberto Costa (PT-SP) afirmou, com todas as letras, que o governo brasileiro vinha tratando da importação de médicos cubanos havia já um ano e meio. Escrevi um post a respeito na segunda-feira. Costa afirmou literalmente:
“Esse programa já vem sendo trabalhado há um ano e meio. Boa parte desses cubanos já trabalharam em países de língua portuguesa, não têm dificuldade com a língua. E, ao longo desse um ano e meio, eles vêm tendo conhecimento sobre o sistema de saúde no Brasil, doenças que existem aqui e não existem lá…
Como se constata na fala acima, Costa não está a dizer que o programa estava sendo pensado apenas nos escaninhos da burocracia, que havia uma vaga ideia a respeito ou coisa, que, quem sabe?, o Brasil poderia fazer um dia. Nada disso!
O senador está a dizer que os cubanos “vêm tendo conhecimento sobre o sistema de saúde no Brasil, doenças que existem aqui e não existem lá…” O Estadão publica um texto informando que os cubanos vêm tendo aulas há seis meses.
Seis meses ou um ano e meio? Em qualquer dos casos, fica evidente que havia um programa secreto em gestação. Chegou-se a pensar por aqui que o governo tomou medidas meio atabalhoadas, pressionado pelas manifestações.
Costa, que deve conhecer o assunto porque é um petista graúdo e porque foi ministro da Saúde, afirmou que a coisa é bem mais antiga: remonta ao tempo em que a popularidade de Dilma estava lá nos cornos da Lua, e as ruas, pacíficas.
Seis meses ou um ano e meio? A diferença é, sim, relevante:
a: como, há um ano e meio, não havia a pressão (embora houvesse a necessidade) por mais médicos nos rincões do Brasil, isso sugere que a importação dos cubanos atendia mais a uma necessidade de Cuba do que do Brasil;
b: nesse um ano e meio, o Ministério da Saúde não moveu uma palha para atrair os médicos brasileiros para as áreas carentes. Por que não? Porque, afinal, havia um programa em curso;
c: os cubanos se espalham por praticamente todos os países da América Latina que hoje têm governos de esquerda. O Brasil, até havia pouco, era uma exceção;
d: cubanos ou brasileiros, os médicos que vão para essas áreas carentes terão de enfrentar um problema fundamental: a falta de infraestrutura.

A questão do tempo — se seis ou dezoito meses — só é irrelevante diante de uma questão óbvia: quando Alexandre Padilha, ministro da Saúde, anunciou, no mês passado, que o governo desistira dos médicos cubanos, ele estava contando o oposto da verdade.

Um mandarim da republiqueta: um ministro rico, do STF, que nao dependede seu magro salario

 Toffoli mantém sigilo sobre renda para empréstimos
Fábio Fabrini e Andreza Matais | Agência Estado
Agência Brasil, 30/08/2013

Ministro diz que seus recursos são declarados à Receita
O ministro José Antonio Dias Toffoli se recusou ontem a detalhar seus ganhos além do salário no Supremo Tribunal Federal (STF), usados, segundo ele, para pagar prestações de dois empréstimos de R$ 1,4 milhão com o Banco Mercantil do Brasil.
Em resposta a consulta do Estado, a assessoria de Toffoli alegou, em nota, que "os rendimentos, recursos e o patrimônio do ministro são aqueles anualmente declarados à Receita Federal, em seu Imposto de Renda". Mas não divulgou as informações.
Como o Estado revelou ontem, as parcelas dos empréstimos, de R$ 16,7 mil mensais, comprometem 92% dos ganhos de Toffoli no Supremo, de R$ 18,2 mil em julho. Segundo o gabinete do ministro, seus rendimentos "não se resumem aos vencimentos no STF".
Toffoli é relator de processos do Mercantil, que lhe concedeu os dois empréstimos em 2011. O primeiro, de R$ 931 mil, previa inicialmente pagamento em 180 parcelas de R$ 13,8 mil mensais; já o segundo, de R$ 463,1 mil, em 204 prestações de R$ 6,6 mil.
Na época em que as operações foram contratadas, a soma das parcelas superava o salário líquido de Toffoli (cerca de R$ 17,5 mil). Em abril deste ano, após decisões do ministro nos processos, o banco reduziu os juros dos empréstimos de 1,35% ao mês 1% ao mês, o que reduziu as prestações para R$ 16,7 mil mensais.
O corte das taxas, considerado atípico até por um dos representantes do Mercantil, assegurou uma economia de R$ 636 mil no total a ser pago. A soma das prestações alcança R$ 3,21 milhões.
Segundo o Código do Processo Civil e o Regimento do Supremo, cabe arguir a suspeição do magistrado, por parcialidade, quando alguma das partes do processo seja sua credora.
O ministro relata casos do banco desde 2009, mas, mesmo com os empréstimos, não viu motivos para se afastar. Ontem, ele deixou o Supremo sem dar entrevistas.
Sem maldade
"Não sei se é conflito de interesse na prática. Se existe isso, não existe maldade", afirmou ontem o diretor executivo do Mercantil, Paulo Henrique Brant de Araújo. Segundo ele, os empréstimos "não têm nada a ver" com os interesses do banco no Supremo, tampouco a redução das taxas. "Não é a primeira pessoa para a qual o banco poderia emprestar e que tem um cargo público. Não existe esse tipo de restrição. Se houvesse, o próprio ministro deveria se manifestar."
O diretor não quis analisar o caso específico de Toffoli, devido ao sigilo bancário da operação, mas observou que um "bom pagador", com garantia segura, merece "condições boas, não atípicas". "Não necessariamente, o banco tem a obrigação de cobrar 4% ao mês", comentou.
A reportagem consultou dois gerentes da agência do Mercantil em Brasília, que ofereceram, para cliente VIP, nas mesmas condições financeiras do ministro, empréstimos de no máximo quatro anos e taxas entre 3% e 4% ao mês.
 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Saiba mais

Ainda existem juizes em Brasilia? Depende: apenas alguns, cada vez maisraros - Reinaldo Azevedo

Estou impressionado com a cara de pau de alguns juizes, ou a total falta de cara, ou de alguma outra coisa parecida...
Desfaçatez e hipocrisia daqueles que sabíamos ser o que são. Mas seria ingenuidade, burrice ou má-fé de alguns outros?
PRA
Nesta quinta, felizmente, o ministro Joaquim Barbosa estava calmo. Até demais! Ou, então, não ouviu Ricardo Lewandowski chamar de “imprestável” a dosimetria da pena de José Dirceu pelo crime de formação de quadrilha. Ele empregou esse adjetivo, é certo, com aquele seu jeito manso, suave, de quem só pretende colaborar e, como costuma dizer, submeter humildemente suas opiniões à “consideração douta” de seus pares. Em alguns momentos, ao longo do julgamento, achei que o ministro tinha perdido apenas o orgulho. Agora, temo que possa estar perdendo também o juízo. E por que esse arroubo? O revisor afirmava, seguindo picada aberta por Dias Toffoli, que José Dirceu tinha tido a pena duplamente majorada pelo crime de formação de quadrilha — de que ambos o inocentaram, diga-se — em razão de um fato só. Ao estabelecer a punição, considerou-se a situação especialmente grave porque Dirceu era o chefe da Casa Civil e tinha, portanto, controle da base política, o que facilitou a ação criminosa, e porque era o chefe da quadrilha propriamente dita. Toffoli e Lewandowski — no que foram seguidos por Marco Aurélio — afirmavam que essas duas circunstâncias não se distinguiam e eram, de fato, uma coisa só. Nem eu, que penso o que penso do petismo, considero que José Dirceu conduzia a Casa Civil só como chefe de quadrilha. Suponho que exercia, ainda que fosse de vez em quando, atividades legais, próprias do cargo que ocupava. Notem: se os três ministros estão certos, então, em vez de um alívio da pena, seria preciso agravá-la ainda mais.
Esse foi apenas um dos absurdos desses dias que vivemos.
Na abertura do debate da VEJA.com, na noite desta quinta-feira, a excelente repórter Laryssa Borges informou que, durante a sessão, enquanto seus pares se ocupavam do julgamento, Dias Toffoli posava para fotos. Ora oferecia um perfil, ora oferecia outro, com a mão pousada sobre a Constituição. Repito, leitor, a informação na certeza de que não há adjetivo que se possa acrescentar que suplante a mera reiteração fática: enquanto os pares de Dias Toffoli se ocupavam do mais importante julgamento da história do Supremo, ele posava para fotos.
E Toffoli agia assim no dia em que reportagem do Estadão informou que ele é relator de um processo do Banco Mercantil do Brasil, onde contraiu dois empréstimos que somam R$ 1,4 milhão, que vai pagar a perder de vista: R$ 931 mil em 180 parcelas — 15 anos; e R$ 453 mil em 204 parcelas — 17 anos. Conseguiu reduzir os juros de 1,35% para 1%, o que vai lhe render uma economia de R$ 636 mil no total a ser pago. Já tomou duas decisões favoráveis à empresa. As parcelas mensais do empréstimo consomem R$ 16,7 mil de sua renda conhecida. Seu salário líquido no STF é de R$ 18,2 mil. Indagado a respeito, disse ter outras fontes de recursos, mas se negou a especificá-las.
Ainda que a redução dos juros do empréstimo fosse ou seja explicável e corriqueira — especialistas da área dizem que “não” —, é evidente que Toffoli deveria ter se dado por impedido. É um deboche que o ministro continue relator de uma caso que é do interesse de uma empresa com a qual mantém relações comerciais. Sim! O vínculo de um cliente com um banco é de natureza comercial. Como saber se o Mercantil teria reduzido a taxa de juros dos empréstimos não fosse ele quem é? Ora, jamais saberemos. Por isso mesmo, ele não poderia ser o relator.
Como esquecer que esse é o mesmo Toffoli que foi advogado de José Dirceu, que foi subordinado de Jose Dirceu e que agora atua com juiz de José Dirceu — votando invariavelmente a favor do agora condenado? Não ter se declarado impedido de participar do julgamento já é um dos grandes escândalos da história do STF. Seu caso não é de vinculo ideológico com esse ou com aquele; a questão não se limita a questionar as afinidades eletivas. Não! Ele manteve e mantém uma relação com Dirceu que joga uma evidente sombra de suspeição sobre suas ações e sobre os seus votos. Se vinha conseguindo se comportar com algum decoro nesse caso — deixando para Lewandowski os momentos mais patéticos —, ontem, Toffoli não disfarçou nem tergiversou. Lançou a tese bárbara de que chefiar governo e chefiar quadrilha, no fundo, são a mesma coisa e seguiu adiante. Lewandowski se encarregou de emprestar tinturas de drama e chegou a defender a concessão de um habeas corpus de ofício a Dirceu, instrumento a que se recorre quando alguém está preses a sofrer uma coação ilegal. Espantoso!
Há alguns dias, o Supremo, com maioria de seis votos — Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Dias Toffoli, Carmen Lúcia e Ricardo Lewandowski —, decidiu que cabe à Câmara e ao Senado cassar ou não seus pares condenados em processo criminal, em última instância. Vale dizer: estes seis ministros do STF que formaram a maioria estavam abrindo a possibilidade de haver um parlamentar presidiário. Muita gente alertou para esse risco — neste blog, umas 300 vezes. Três semanas depois, aí está ele. Nota: a decisão dos seis ministros não interferiu no caso Donadon. O que estou a dizer é que o parlamentar-presidiário é a manifestação concreta daquele ponto de vista. Ele foi condenado em 2010. O STF não se pronunciou, então, sobre seu mandato porque ele havia renunciado ao cargo na esperança de que seu caso fosse remetido para a primeira instância, mas o tribunal rejeitou o pedido. Ocorre que ele se candidatou a novo mandato e foi eleito.
O futuro
Que tribuna é esse? Ontem, ao rejeitar o embargo de declaração de José Dirceu, o ministro Celso de Mello, decano da Corte, mostrou como aquela Casa pode ser maiúscula. À ladainha de Lewandowski e DiasToffoli, opôs os fatos:
“Não se está a incriminar a atividade política, mas a punir aqueles, como o ora embargante, que não se mostraram capazes de exercê-la com honestidade e integridade. E longe disso, transgrediram as leis com o objetivo espúrio de conseguir vantagens indevidas e controlar de maneira criminosa o próprio funcionamento do Estado (…) Era uma posição [a de Dirceu] eminente do condenado na estrutura de poder, que, na verdade, concebeu e comandou ações criminosas voltadas à permanência de um determinado grupo no poder. Uma estrutura voltada à manipulação fraudulenta do Congresso”. Antes, havia considerado: “Nada se mostra mais lesivo, para efeito de se destacar o caráter altamente negativo, do que a presença na condução do Estado de altos dirigentes integrantes de quadrilha, formada e constituída para corromper o poder e submeter a vontade hegemônica de grupos neles encastelados a qualquer custo”.

Dias Toffoli tem ainda mais 24 anos de Supremo caso fique lá até os 70. Ricardo Lewandowski, mais 5. Celso de Mello sai em 2015 se não antecipar a sua aposentadoria. O que virá pela frente? Com a saída de um Mello, o outro, o Marco Aurélio, passará a ser o decano, de quem se espera sempre que a sabedoria suplante a vaidade; a temperança, o ânimo para a provocação; a fala transparente e cordata, a tentação da ironia. Marco Aurélio, um homem inteligente, tem mais dois anos para treinar essa humildade superior que, até agora, não alcançou.
Espero que o caso Donadon leve alguns ministros — os que forem equipados para isso (há casos perdidos) — à reflexão. No caso do mandato dos parlamentares condenados em processo criminal, o tribunal tinha dois caminhos a seguir, e ambos encontravam respaldo no texto constitucional. Seis deles escolheram o pior: o que permite a existência de parlamentar-presidiário e, o que é espantoso, sem direitos políticos.
Em alguns dias, o tribunal vai se defrontar com a questão dos embargos infringentes. Mais uma vez, dois caminhos remetem a textos legais. Mais uma vez, duas leituras reivindicam o amparo na letra da lei. Um deles, o que admite os embargos — ignorando a Lei 8,038 — conduz à desmoralização do Supremo e da Justiça. O outro, que rejeita o expediente porque, afinal, uma lei pode mais do que um Regimento Interno, dará aos brasileiros a certeza de que ainda existem juízes em Brasília.

A frase da semana: Evo Morales (sim, ele mesmo)

Não é possível que existam grupos ou autoridades que protegem corruptos.


Evo Morales, presidente da Bolívia.

(O presidente provavelmente esqueceu que assinou, com todos os seus colegas da Unasul, uma declaração defendendo o direito de asilo político; estavam pensando no transfuga americano em Moscou, se esqueceram de um refugiado na embaixada do Brasil em La Paz...)

Medicos pedindo socorro - Milton Simon Pires

CARTA AO DOUTOR PACIENTE – A MEDICINA PEDINDO SOCORRO.

Milton Simon Pires

Meus amigos, a internet está cheia de “cartas” aos responsáveis pelo caos na saúde. Eu mesmo escrevi várias delas – “Carta à Presidente Dilma”, “Carta ao Ministro da Saúde”, “Carta aos Médicos Brasileiros”...e por aí vai..Hoje tive a ideia de escrever uma pra vocês..Vamos ver se consigo ser feliz...
Vejam só que ironia, são tantos os nomes que deram a vocês...São tantos de vocês que já atendi na minha vida (vários em estado tão grave que sequer se lembram de mim) que, acreditem, não sei como vou chamá-los! Há quem faça questão que eu os chame de “usuários” - coisa que sempre me sugere que vocês estejam usando cocaína ou crack – e isso não vou fazer. Se, por outro lado, os chamo de pacientes, vai parecer que aqui “sou doutor” e estou fornecendo orientações profissionais – nesse caso a PVP (Patrulha Virtual Petralha) ia “deitar e rolar”..rsss..rsss..Que dilema, né?? Vou chamá-los de “cidadãos” e, se ainda existe isso no Brasil Petista, manter a escolha até o fim do artigo.
Pois bem: Cidadãos brasileiros, faço aqui um apelo ao que ainda possa restar de inteligência nacional não contaminada pela má-fé, pelo fanatismo e pela irresponsabilidade petista. Lembrem-se que somos nós, os médicos brasileiros, os responsáveis na linha de frente na guerra pelas suas vidas. Não se deixem enganar por um governo corrupto que, no desespero de se manter no poder, quer trazer para o Brasil gente sem a mínima qualificação. Por favor não argumentem dizendo que lhes falta estudo para tomar partido nessa história. Usem do bom senso! Vejam onde se tratam esses corruptos mensaleiros quando precisam de um médico. Observem se, alguma vez, qualquer um deles buscou atendimento no SUS.
Meus amigos, o Brasil não tem mais hospitais! Nós não conseguimos mais fazer medicina sem exames de laboratório e equipamentos específicos. Nós não suportamos mais ir para o interior do país para sermos despedidos ao bel prazer de qualquer prefeitinho de partido nanico. Nós sabemos que o dinheiro da saúde está sendo desviado por secretários municipais corruptos que deveriam estar na prisão há muito tempo. Por favor, confiem nos seus médicos antes de confiarem nos seus políticos! Nós estivemos, e estaremos sempre, com vocês até o fim de suas vidas; bandidos políticos não! Não acreditem no governo e nessa imprensa brasileira de aluguel quando dizem que “não queremos atendê-los, que não queremos ir para o interior, ou que somos contra médicos estrangeiros entrarem aqui”. Isso é tudo MENTIRA! Isso é feito para que vocês sintam raiva dos médicos e o maldito Governo Federal ganhe politicamente com isso. Eu escrevo a vocês com tripla autoridade: sou médico, fui e ainda sou paciente várias vezes, e – acima de tudo – conheço profundamente os petistas porque fui um deles! Não se deixem enganar pensando que estrangeiros vão resolver seus problemas. Não acreditem que seja uma boa ideia vetar vários itens na Lei do Ato Médico! A grande maioria dos enfermeiros brasileiros e dos demais profissionais da saúde são pessoas honestas e de bom coração! Elas não estão ao lado desse maldito partido e sabem que estão sendo usadas politicamente pelo PT para “brigar” com os médicos.
Amigos, lembrem-se: caiu o Império Romano, Napoleão fracassou, o Terceiro Reich só existe nos livros! A ditadura Lulo-Petista e esse maldito Partido-Religião também vão desaparecer! Ajudem-nos! Senão por uma questão de solidariedade; por uma de pura inteligência! São vocês que vão perder...E vão perder muito mais do que nós. O PT afirma que estamos preocupados com dinheiro; eu afirmo que estamos pensando nas suas vidas!
Não sabia como chamá-los no início do texto. Como as linhas foram de puro desespero sinto-me como se estivesse (agora eu mesmo) no lugar de vocês esperando no SUS. Decido então que hoje vocês são os “Doutores Pacientes”...Esse artigo era a voz da Medicina...da Medicina pedindo socorro!


Porto Alegre, 14 de agosto de 2013.

Siria: entre o sofrimento, o cinismo e mais sofrimento - Reinaldo Azevedo

Creio que, excluindo Rússia e China, que pretendem preservar o status quo na Síria (ou seja, a preservação do regime atual), nenhuma das outras grandes potências, inclusive os EUA, sabem bem o que fazer dessa batata quente. Provavelmente a opinião pública as impede de declarar publicamente, e cinicamente, que a única solução viável, no momento, é a preservação do atual status quo, ou melhor, impasse total. Nem o ditador pode prevalecer, ou seja vencer a oposição, nem esta pode ganhar, pois não se trata da "boa" oposição, mas de fundamentalistas fanáticos.
Assim, a solução por enquanto é ter as duas frentes alimentadas respectivamente pelos dois blocos de grandes potências, se matando reciprocamente, até alguém desistir, e não creio que vai ser o ditador.
Não existe muitos outros caminhos. O ditador vai pagar um preço, mas este seria muito maior se os jihadistas tomassem o poder em seu lugar.
Triste Síria, está se acabando. Não creio que volte a ser como antes... infelizmente (o que não quer dizer que fosse uma maravilha, ao contrário: era uma ditadura ordinária, mas não havia muçulmanos massacrando cristãos...).
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 29/08/2013

No post anterior, informa-se que o Parlamento britânico, prudentemente, negou-se a dar uma autorização ao governo para participar de um ataque miliar à Síria. A rigor, David Cameron poderia mandar as forças britânicas numa espécie de expedição punitiva, mas preferiu ter a chancela do Parlamento — e não foi bem-sucedido. Como se vê, a questão é bem menos simples do que faz crer certa imprensa. E, desde o primeiro dia, tenho chamado a atenção de vocês para essa complexidade. Raramente fui tão criticado por aquilo que não escrevi — e eu jamais sugeri (afirmar então…) que Bashar Al Assad é alguém em que se deva confiar. Não! É um carniceiro. Ocorre que, entre dois males, quando inexiste uma terceira opção, a única escolha ética e moralmente aceitável é o mal menor. Escolha, note-se bem, não para um engajamento na causa desse mal menor. Isso nunca!
Também o Parlamento britânico tem fundadas dúvidas se foram mesmo as forças de Assad que determinaram o ataque químico. A ONU ainda não tem as provas — os EUA dizem que já fizeram a sua própria investigação e concluíram que sim. Já vi “provas irrefutáveis” sendo desmoralizadas depois. Como esquecer o caso de Richad Goldstone (leia aqui ), que fez um relatório condenado Israel no caso da incursão em Gaza, admitindo, mais tarde, o erro?
Assad é carniceiro, mas não é burro. Pode até ser que gente da sua laia tenha feito o ataque, mas duvido que seja uma tática de guerra — ele sabia que esse era o limite que poderia efetivamente derrubá-lo.
O tirano, infelizmente para os sírios e para o Oriente Médio, ainda é o mal menor no país. Seus adversários armados — e que não vão entregar as armas se ele cair — são os terroristas da Al Qaeda, são os jihadistas. Se Assad for deposto, as forças militares regulares vão se decompor. Os alauítas, que estão no comando, vão dar o fora — ou correm o risco de morrer. Um arsenal químico — que, então, os EUA e a Europa admitem existir — estará ao alcance dos terroristas.
O país tem 90% de muçulmanos e 10% de cristãos — quase 2 milhões de pessoas. Mais de 70% do total são sunitas. Os alauítas, que governam o país (minoria muçulmana à qual pertence Assad), ficam em torno de 10% também. Os principais grupos terroristas que atuam hoje no país são sunitas e incitam o ódio contra as duas outras comunidades. Os cristãos, particularmente, já enfrentam um clima de terror.
Assim, a queda de Assad não traz consigo apenas o risco de o país ficar à mercê dos terroristas — a menos que Obama esteja disposto a ter o seu próprio Iraque; há também o perigo de uma guerra religiosa. Os cristãos ficarão entre a fuga em massa e a perseguição implacável dentro do país. Aqui e ali são censurados porque dariam apoio ao ditador. Não é bem assim: estão entre Assad, que sempre lhes garantiu a necessária segurança, e o jihadismo, que os quer mortos ou fora da Síria. Qual seria a sua escolha, leitor?
Isso, obviamente, não implica que Assad possa sair por usando armas químicas e matando quem lhe der na telha porque, afinal, o terror seria muito pior. Se usou ou autorizou as tais armas, alguma sanção há de haver. Derrubá-lo, no entanto, para garantir que seus atuais adversários cheguem ao poder seria uma prova de estupidez.
Autorização da ONU para atacar, enquanto China e Rússia não mudarem de ideia, os EUA não terão. A Grã-Bretanha, por enquanto, ficará fora de uma possível intervenção. Isso é muito menos do que foi concedido à Otan no ataque à Líbia.
Obama, nesse caso, junta imprudência e hesitação. Por imprudente, seu governo anuncia ter as provas; hesitante, não quer atacar sozinho — ou fora de um arco mais amplo. A ação, dizem os EUA, não é para derrubar Assad. Mas, se não é, então serve a que propósito que não seja a ainda mais sofrimento? A confusão encontraria uma solução natural se, do outro lado, houvesse ao menos forças aptar a participar do concerto internacional. Ocorre que estamos falando de terroristas.

Creio que a maioria do Parlamento britânico andou operando com os mesmos critérios que me pautaram até aqui.