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sábado, 9 de junho de 2012

Uma licao de economia: primeiro, vincular fatos a causas

Um Anônimo -- essa mania de se esconder é indicativo de fraqueza, vergonha, incerteza, dúvidas pessoais, ou o quê?; pensam que eu vou triturar o crítico? -- me escreve a propósito deste post: 

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "As duas vias da América Latina: protecionismo e in...": 
Não entendo essa tendência de ver o Brasil como fechado, em quanto é obvio que nem os Estados-Unidos nem a União Européia são mercados abertos.
Entendo o posicionamento liberal do senhor, mas Washington despreza Milton Friedman e Hayek mais ainda do que Brasilia.
O Brasil tem varios problemas internos, não precisa de problemas externos.
É so ver a situação da Estonia hoje, ultraliberal : quase perdeu 20% do PIB na crise. 

Meu único comentário -- pois não tenho tempo para dar um lição de economia em que se mostra ignaro de certos fatos elementares, mas nem é minha função, ou a missão deste blog, fornecer aulas de qualquer coisa para curiosos de passagem -- seria curto, apenas uma síntese:


A primeira tarefa de quem pretende aprender qualquer coisa seria a de se desembaraçar de crenças e opiniões e se ater a fatos, objetivos, mensuráveis, dados da realidade, e, seguidamente, de vincular certos fatos a determinadas causas. Como disse um filósofo pedestre, as consequências sempre vêm depois, ou seja, determinados fatos, que podem ser causa de determinados processos produzem consequências.
Em economia, certos fatos são estabelecidos a partir de dados objetivos da realidade, não de opiniões, muito menos de teorias de autores, mesmo economistas famosos. Portanto, deixemos esses personagens de lado.
Vejamos: 
1) "tendência de ver o Brasil fechado"? Tendência???!!!
O Anônimo desconhece estatísticas comparadas de coeficientes de abertura externa. Mas ele pode aprender o que é isso, e ver como o Brasil se situa em relação a outros países.
Se ele quiser estabelecer uma correlação linear, verá que os países mais abertos são os mais ricos (com uma ou outra exceção, que tem a ver com outros fatores, o que não impede que os países, mesmo com baixo coeficiente, sejam abertos ao comércio internacional).
2) Segundo o Anônimo, o Brasil tem suficiente problemas internos, assim pode escolher ficar afastado de problemas externos. 
Bem, aqui não se trata de uma questão de economia, mas de lógica elementar. Existem livros para isso também. Não preciso indicar.
3) "A Estônia perdeu 20% do PIB porque era neoliberal". (sic)
My God, o simplismo se juntou à ignorância dos fatos para estabelecer uma das correlações mais estúpidas que já escutei.


Contra argumentos de certos Anônimos, não existem fatos que os recusem.
A fé dos Anônimos na sua própria ignorância só perde para a pachorra que têm de me escrever para desmentir meus fatos, substituindo-os pelas suas próprias crenças e pelas que acham que supostamente eu mantenho.
Como sempre faço, minha única recomendação seria esta: mais estudo, mais livros, menos bobagens tupiniquins, mais leituras de boa qualidade com o que nos vem de fora (não da mesma tribo, claro).
Paulo Roberto de Almeida 

3 comentários:

Bruno Castanho e Silva disse...

Agora que Paul Krugman resolveu escrever algumas bobagens sobre a Estônia, apontando sua abertura econômica como causadora da crise, seus leitores fiéis - que não têm idéia nem de onde seja o país - saem repetindo o mantra.

Com a visão "privilegiada" de quem mora aqui e lê o noticiário local, posso dizer que nada está mais longe da verdade. A liberalização econômica implementada desde os primeiros anos da independência transformou uma província da União Soviética num país moderníssimo, com um sistema educacional básico invejável (não há pessoa que fale menos do que 3 línguas - em geral estoniano, inglês e russo), aumento brutal na qualidade de vida e no padrão de consumo e um desenvolvimento tecnológico que a coloca à frente de muitos dos países europeus desenvolvidos na área da informática - o que se pode observar pelo número de empresas internacionais com sede aqui, pelo grande número de profissionais estrangeiros deste setor que estão no país, e até fatos mais simples, como a disponibilidade de conexão wi-fi gratuita em qualquer rua de qualquer cidade do país.
A perda do PIB já está sendo compensada - com a sua tradicional austeridade (superávit orçamentário e dívida pública em 6% do PIB) a Estônia cresceu 7,6% em 2011, mais do que qualquer outro país da UE.
Enfim, era de se esperar que keynesianos fossem tentar esconder este claro exemplo de sucesso de uma economia liberal, mas Krugman parece já ter chegado a um nível alto demais de alienação da realidade.
Abraços

Anônimo disse...

A correlação linear entre "coeficiente de abertura externa" e "riqueza" não pode ser interpretado como causa e efeito por uma ou por outra variável, mas uma simples observação.
É como se você observasse que "quem anda com chapéu na cabeça" tem uma robusta correlação linear com "riqueza" sendo que andar com chapéu na cabeça não vai fazer de você mais rico...
Essa análise de relação entre a riqueza de um pais e abertura econômica seria melhor analisado e justificado por uma analise qualitativa e não meramente quantitativa...
Da mesma forma, o conceito do "coeficiente de abertura econômica" pode ser questionado, pois um país que apresenta taxas de exportações elevadas pode ter um coeficiente tao elevado quanto um pais que apresenta taxas de importações elevadas, sendo que na realidade empírica, a política de exportação/importação dos dois países podem ser completamente diferentes...

Anônimo disse...

Pois e, professor, os seguidores do Krugman talvez devessem dar uma lida
nesse: http://www.globalpost.com/dispatch/news/regions/europe/120604/estonia-economy-technology-skype-euro-zone-debt-crisis

Abraco,
Felipe Xavier