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sábado, 16 de junho de 2012

Politica economica: ingenuidade dos neofitos governamentais...

Que o governo do PT, desde sua origem (digamos, perdida nas brumas do século XIX), e mais especificamente desde sua assunção ao poder, em 2003, tenha uma política econômica esquizofrênica, disso ninguém duvida, só os próprios petistas.
Foi por isso que Lula -- no único gesto sábio que ele teve durante TODA a sua vida -- preservou quase inteiramente as bases da política econômica anterior, que ele e seus companheiros (aloprados economicamente) chamavam de neoliberal. Mas como não tinham nada para colocar no lugar, foi deixada tal qual.
As modificações introduzidas foram obviamente para pior, como no crescimento contínuo das despesas públicas, alimentadas por uma também continua expansão da extorsão tributária, combinado a uma exacerbação do ativismo e do intervencionismo estatais, consubstanciados na criação de dezenas de novas empresas públicas (mais para abrigar marxistas desempregados do que para elevar a reconhecidamente baixa (in)eficiência dos serviços públicos.
Tudo o que se distanciou da pauta da política econômica anterior, foi para pior, o que foi mascarado pelo crescimento inédito da economia mundial entre 2003 e 2008 e pela enorme demanda, jamais interrompida, mesmo com a crise de 2008-2009, de commodities brasileiras pela China. Ou seja, a novidade consistiu em converter o Brasil em semi-periferia da economia chinesa, o que só foi surpresa para os ingênuos do PT.
A ingenuidade, ou a ignorância econômica, simplemente, são notáveis, e se manifestam a cada passo improvisado da política econômica.
Por exemplo, os grandes "estrategistas" econômicos do keynesianismo de botequim que aprenderam na Unicamp e nos bares adjacentes ignoram que toda medida econômica sempre têm side-effects, ou seja, consequências involuntárias, geralmente opostas às que eles pensavam criar com suas medidas mal pensadas e mal implementadas.
Essa ingenuidade congenital também ignora que efeitos que eles atribuem apenas a causas externas, na verdade, têm sua origem em medidas internas, tomadas na ignorância do contexto econômico global.
Os petistas, por exemplo, acham que a volatilidade, ou seja, os influxos e saídas rápidas de capital estrangeiro (eles ignoram que os nacionais saem mais cedo...), são o resultado de uma conspiração perversa de loiros de olhos azuis de Wall Street, ou seja, dos especuladores do grande capital monopolista financeiro internacional, ou da tal de "financeirização" do capitalismo, um monstro metafísico que eles criaram, mas não sabem o que é e sequer explicam como ele surge, vem atacar nossos belos fundamentos econômicos, e depois sai, repentinamente, nos deixando a ver navios.
Eles ignoram que a volatilidade é propriamente interna, criada por eles mesmos, com todas essas mudanças de políticas, improvisadas, ingênuas, unilaterais. Eles ignoram que a estabilidade de regras é o principal trunfo de uma economia madura, estável, acolhedora de capitais de investimento e outras oportunidades de negócios.
Eles criam a volatilidade e depois se espantam que os capitais sejam, como é mesmo?, voláteis...
Santa ingenuidade, ou melhor, pobre ignorância...
Paulo Roberto de Almeida 

A pressa de desvalorizar o real levou agora ao recuo



Editorial O Estado de S.Paulo, 16 de junho de 2012
Em março, a presidente Dilma Rousseff, denunciava o "tsunami" monetário provocado pelas autoridades monetárias de países ricos que inundava o Brasil e favorecia maior valorização do real em relação ao dólar. Prontamente, o governo brasileiro impôs um IOF de 6% sobre os empréstimos estrangeiros inferiores a dois anos, prazo que logo elevou para cinco anos. Agora, o prazo retornou a dois anos, e o IOF é de 0,38%.
Realmente, conseguiu desvalorizar a moeda nacional para uma taxa que aumentou o preço das importações, mas que não favoreceu uma nítida elevação das exportações por causa da redução do preço das commodities. E a indústria nacional, não tendo competitividade, não pôde tirar proveito da desvalorização.
Porém, a pressa do governo em obter finalmente a desvalorização da moeda nacional, limitando a entrada de recursos com o IOF, teve um efeito nitidamente negativo que apareceu no saldo das operações de câmbio do mês de maio, com uma saída líquida de US$ 2,7 bilhões, a maior registrada em dois anos.
A imposição do IOF de 6% para as operações inferiores a 5 anos transformou o tsunami em seca, apesar das pequenas correções para o financiamento das exportações.
O que fica é que o governo demonstrou ingenuidade ao pensar que, num período de crise internacional, o Brasil poderia captar com facilidade empréstimos externos de prazo superior a 5 anos. Se ainda existia uma certa admiração no exterior pela magia que presidia a condução da política econômica do País, que já não engana os observadores, era irrealista a avaliação de que, no contexto mundial atual, seria fácil captar recursos, por um prazo tão grande, para um país emergente.
Mas o governo, na sua ansiedade de resolver o problema da valorização da moeda nacional, minimizou os efeitos da sua decisão. Afastou as médias empresas do mercado internacional, inclusive os pequenos e médios bancos, e o efeito foi reduzir a oferta de crédito. Isso obrigou as empresas maiores a recorrer à emissão de debêntures, mais custosas e de prazo menor, e deixou o comércio externo sem os instrumentos financeiros que lhe permitem sustentar as suas atividades, notadamente a obtenção de linhas de crédito renováveis. Fato mais importante, mostrou que podia mudar as regras da noite para o dia. A decisão apressada permitiu o aumento das receitas, que agora vão cair. É de esperar que com essa turbulência o governo aprenda a prever melhor as consequências das suas decisões.

4 comentários:

Gabriel disse...

O senhor não vê diferença entre o capitalismo de inovação caro a Joseph Aloïs Schumpeter e o capitalismo financeiro que quase destruiu a economia mundial, e continua tentando?

É obvia aqui a falha nas regulações : falta de transparência e de informação são problemas para os liberais como os marxistas.

Na minha (humilde) opinião, o senhor esta criticando o melhor aspecto da politica econômica de Lula. O resto é uma serie de desastres (educação, saude, infraestrutura, etc.)...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Gabriel,
Eu recomendaria a vc uma coisa: a primeira diferença que se deve fazer não é entre modelos, supostos, de capitalismos, mas sim entre modelos e a realidade.
O modelo de Schumpeter é uma simples proposta teórica e não tem nada a ver com a realidade dos fluxos reais da economia.
Se vc acha que o "capitalismo financeiro" -- seja lá o que for isso -- quase destruiu a economia mundial, seria interessante que vc comecasse a pensar como isso se daria, e, antes, como isso foi possível.
O capitalismo financeiro por acaso tem o monopólio de emissão monetária?
O capitalismo financeiro por acaso tem a capacidade de fixar juros de referência?
O capitalismo financeiro por acaso tem por missão estabelecer normas e regras para financiamento habitacional?
Foi o capitalismo financeiro que obrigou os Estados a se endividarem?
Pense um pouco, por favor, e veja onde está a responsabilidade pela crise.

O melhor aspecto da política econômica de Lula foi justamente NÃO TER nenhuma política econômica sua, e ter apenas mantido a anterior, em seus fundamentos essenciais.
No que inovou, fez para pior, como o aumento contínuo das despesas públicas, a criação de dezenas de estatais e o aumento do funcionalismo em todos os níveis.
Por acaso vc acha que o Estado funciona melhor, que a corrupção diminuiu?

Antes de vir com modelos teóricos, satisfaça-se em analisar a realidade...
Paulo Roberto de Almeida

Anderson Akira disse...

Essa semana vi a notícia de que a União Européia comemorou a valorização do Euro sobre o Dólar. Me surgiu uma dúvida e gostaria que se você pudesse me respondesse: Por que a UE comemora a valorização da sua moeda e nos lamentamos?

Outra questão que gostaria de fazer é sobre sua opinião se o governo conseguirá ou não segurar essa desvalorização do real ou o mesmo voltará a se valorizar sobre o dólar.

Grato pela atenção, Anderson Akira.

Paulo Roberto de Almeida disse...

Anderson Akira,
Suas dúvidas são pertinentes, mas não existem respostas econômicas para variações cambiais em que se comprazem ou se preocupam os governos.
Governos sempre têm preocupações políticas e acham que a economia deveria ajudá-los. Ora, a economia é implacável: ela não existe para contentar governos, e sim para expressar relações da realidade.
Vou fazer um post para tentar responder suas questões.
Paulo Roberto de Almeida