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sábado, 23 de junho de 2012

Ipea: uma triste historia a caminho da decadencia institucional

Seria excelente se um órgão de pesquisa aplicada fizesse pesquisa aplicada, com base no mérito individual dos pesquisadores, e com base em rigorosa aferição da qualidade dessas pesquisas por avaliadores independentes, não vinculados à instituição.
Seria excelente se um órgão de pesquisa aplicada, no Brasil, funcionasse como o NBER americano, o National Bureau of Economic Research, que funciona com muito poucos funcionários permanentes, tem uma verba enxutíssima de funcionamento, e no entanto produz trabalhos estupendos, que só são divulgados depois de intenso, extenso, profundo e implacável processo de avaliação (blind-review) por pares independentes e autônomos, e depois de uma discussão aberta, rigorosa, também implacável por outros economistas especializados no tema.
Assim trabalha o NBER.
O IPEA é patético perto disso: publica o que vem na cabeça do seu presidente maoista, e promove os assuntos que se alinham politicamente com a sua linha esclerosada de pensamento.
Convido os interessados a visitar a página do NBER, verificar o seu orçamento, constatar o seu modo de funcionamento, os seus poucos funcionários e depois comparar isso com o ineficiente IPEA da atualidade. É de chorar...
Enfim, no Brasil não existe esse tipo de rigor acadêmico-científico, o que joga o IPEA atual na vala da mediocridade, a despeito de todos os bons valores individuais ali existentes, tanto entre a turmos dos "velhos", como entre os "novos" (embora alguns dos diretores não deveriam ser convidados nem para gerenciar time de futebol da quarta divisão).
Abaixo as duas únicas matérias que detectei sobre o processo de sucessão na instituição, como sempre ocorre em se tratando de companheiros, esquizofrênico no mais alto grau.
Em todo caso, o selecionado indicado é um quadro competente e não é da "tchurma". Talvez por isso esteja sendo recebido com tanta raiva pelos companheiros, alguns aloprados "pesquisadores".
Paulo Roberto de Almeida 



Intelectuais do PT criticam economista indicado para o IPEA
Dilma e Mantega apoiam Marcelo Neri, que enfrenta resistência de desenvolvimentistas
NATUZA NERY, DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 23/06/2012

Indicado para dirigir o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o economista Marcelo Neri é hoje o nome preferido da presidente Dilma Rousseff ao posto, mas enfrenta resistência da ala desenvolvimentista do governo.
Sugerido ao cargo pelo ministro Moreira Franco (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Neri tem o aval do ministro Guido Mantega (Fazenda), egresso da Fundação Getúlio Vargas, tal como Neri.
Apesar do apoio robusto, a reação a ele cresce à medida que a definição do futuro presidente do órgão é protelada.
Economistas do Ipea tradicionalmente ligados ao PT torcem o nariz para a indicação, apesar de Neri, colunista da Folha, ter feito repetidos elogios à política de inclusão social de Lula.
Nos últimos dias, a economista Maria da Conceição Tavares, uma das gurus do pensamento petista, passou a liderar um movimento para emplacar outro titular.
Uma das alternativas é José Carlos Miranda, ex-representante do Brasil no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mas sem amplo apoio nos bastidores.
Dilma busca um nome de "peso" para comandar o instituto e, segundo interlocutores, vê esse perfil em Marcelo Neri. A expectativa é que a decisão seja tomada a partir da semana que vem.
Por trás da resistência a Neri está uma tradicional rivalidade no mundo acadêmico: o antagonismo entre os economistas da PUC-Rio, liberais, e os da Unicamp, desenvolvimentistas -defensores de uma maior intervenção do Estado na economia.
Do ponto de vista político, o PSDB é adepto da primeira escola, e o PT, da segunda.
Também está no páreo Vanessa Petrelli, presidente interina do Ipea, mas com chances consideradas pequenas.

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A presidência do IPEA e os Departamentos de Economia
Mansueto Almeida, 23/06/2012

Estou assustado com a briga pela presidência do IPEA, por um motivo simples. O IPEA está longe de ser “uma jóia da coroa” como é a Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Eletrobrás, etc. Nessas empresas, faz todo sentido a briga política por nomeações devido ao volume de recursos que essas instituições controlam.
Um simples contrato com algumas dessas empresas pode ser uma benção para o fornecedor. Mas e o IPEA? Por que tem sido tão difícil para o governo nomear o presidente do IPEA? Acho que é fácil explicar essa briga.
Como já destaquei acima, o IPEA não é uma instituição rica como as demais empresas mistas ou estatais, mas comparando com o orçamento de qualquer departamento de economia, o IPEA é sem dúvida uma jóia da coroa no mundo acadêmico.
Em 2011, o orçamento da instituição foi de R$ 301 milhões. Mais ou menos um terço desse valor, R$ 105 milhões, foi direcionado para o pagamento de aposentados, R$ 122,9 milhões para o pagamento de funcionários ativos, R$ 50 milhões para custeio (aqui entra o custo das pesquisas), R$ 19 milhões para investimento (o IPEA está construindo uma sede propria nova) e o que resta (R$ 3 milhões) vai para reserva de contingência.
Bom, R$ 50 milhões  para pesquisa (e para cobrir os custos administrativos associados à pesquisa) é um cifra invejável no mundo acadêmico. Ademais, como o IPEA é um órgão do governo, ele consegue aumentar ainda mais o orçamento por meio de convênios com Ministérios e tem ainda um empréstimo anual do BID para mais pesquisas e contratação de bolsistas. É uma facilidade que não existe no mundo acadêmico.
Se eu fosse político, jamais perderia meu sono tentando influenciar nomeações para o IPEA. Seria muito mais interessante concentrar esforços para nomear diretores de estatais ou  mesmo tentar nomear o ministro das cidades, esporte, turismo, integração nacional ou saúde – ministérios nos quais a execução do orçamento de investimentos se dá, preponderantemente, por meio de transferências voluntárias para estados e municípios.
Mas R$ 50-60 milhões por ano para pesquisa é muito dinheiro na realidade do mundo acadêmico – que nem sempre consegue recursos para pesquisa por mérito e tem dificuldade de conversar com o setor privado.  A direção de uma instituição como o IPEA, implica, algum espaço para definir temas de pesquisa e, assim indiretamente (ou diretamente) beneficiar alguns pesquisadores e departamentos de algumas universidades mais do que outros.
E isso é relativamente fácil. Basta abrir o chamado para uma pesquisa de acordo com o perfil técnico do departamento de uma universidade ou do pesquisador que se quer contratar –os órgãos de controle têm muito pouco controle sobre isso ou nenhum, mas isso é comum com quase todas as instituições de pesquisa do mundo.
Assim, a briga pela presidência do IPEA é, na verdade, a briga de alguns pesquisadores por dinheiro para pesquisa, financiamento para viagens e  patrocínio de congressos. Sinceramente, seria melhor que essa briga fosse resolvida no âmbito do Ministério da Educação e do MCT, os dois ministérios que tratam de recursos para pesquisa das universidades.
Assim, seria ótimo, para o IPEA e para o próprio governo, que a Presidenta Dilma e o Ministro Moreira Franco pudessem tomar a decisão de nomeação do novo presidente (ou presidenta) do IPEA fora do jogo político por “verbas de pesquisa” de alguns departamentos de economia, que têm o péssimo hábito de dividir a pesquisa entre “aqueles do nosso lado” e “os outros que não são do nosso lado”.

3 comentários:

Leandro Pereira disse...

Marcelo Neri é um bom economista. Já assisti diversas entrevistas dele em alguns canais de tv. Pior do que está não pode ficar...

Eduardo Rodrigues, Rio disse...

-- Setor público mais produtivo do que o setor privado? --

"Não é de hoje que o Ipea goza de pouca credibilidade. Embora ainda haja gente séria dentro dele, há anos que sua especialidade deixou de ser medir a realidade ou fazer previsões. (...) Pesquisadores e cientistas igualmente sérios podem ter visões divergentes de como conduzir a ciência. O Ipea dos últimos anos, por outro lado, abandonou a seriedade científica e tem se dedicado cada vez mais a fazer propaganda vulgar do mais puro estatismo. Tudo com dinheiro de impostos, claro. De um estudo como o aqui analisado, não cabe divergir; cabe desmontar e acusar o embuste. (...) É notório que os gastos com esse questionável instituto, que saem do nosso bolso, não param de subir, chegando a mais de R$ 300 milhões anuais. Para que tanta verba? Acho que agora, finalmente, entendemos o motivo: pela definição do próprio Ipea, gastar mais dinheiro já é, por si só, aumento de produtividade. Todos os que prezam a ciência econômica podem apenas torcer para que a chegada do novo presidente, Marcelo Neri, mude os rumos da instituição."

Eduardo Rodrigues, Rio disse...

Prezado Paulo, permita-me corrigir um lapso meu a respeito do meu comentário acima. Eu apenas postei o comentário mas não escrevi o seu teor, o qual é um trecho de um texto de Joel Pinheiro da Fonseca. Ademais, o estudo ao qual ele se refere está no link abaixo. Obrigado.

http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1395