quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O que o Brasil poderia esperar de Cuba?: uma pergunta ambígua...

O que o Brasil poderia esperar de Cuba?

A rigor, nada. Pensando bem (e seriamente), o que, exatamente, Cuba e sua economia decrépita poderiam fornecer ao Brasil, ao seu sistema político, ou à sua estrutura social, cultural, educacional, científica ou seja lá o que mais for? Rigorosamente nada, ou concedamos, alguma coisa, ainda que indistinguível (que aliás poderia ser adquirida em qualquer outra parte, provavelmente com financiamento comercial de médio prazo, o que Cuba de toda forma se encontra impossibilitada de fazer).
Poucos sabem que Cuba constitui o único país no mundo (capitalista e socialista) com o qual o Brasil assinou, por pedido expresso de Cuba, um dos tão execrados (por certos esquizofrênicos econômicos) acordos de promoção e proteção recíprocas de investimentos. Sim, foi por insistência de Cuba, que viu nesse tipo de instrumento – tão vilipendiado por outros motivos e com outros países – uma das poucas oportunidades de atrair investimentos para sua economia esclerosada. 
O Brasil, situação singular no quadro dos recusados APPIs, configuraria, portanto, caso o acordo entrasse em vigor e produzisse resultados efetivos, o papel de país “imperialista”, no sentido leninista ou luxemburguiano da palavra, isto é, exportador de capitais. 
Seria essa a função reservada ao maior país da América Latina pela mais desimportante de todas as economias da região? Curioso, não é?
Quais outras vantagens políticas, econômicas ou diplomáticas se poderiam esperar dessa relação absolutamente “assimétrica” (para retomar um termo da moda)? Holofotes da imprensa, certamente, fotos na mídia mundial, algumas, ou talvez promessas futuras e grandes conchavos para reformar a ordem política e econômica mundiais. Duvidoso, tudo isso, pois que, como diriam os mais jovens em sua gíria irreverente, Cuba “já era” e o “papo” tradicional dos cubanos, de mudar a situação de miséria do Terceiro Mundo – resultado da dominação capitalista e da exploração imperialista, lembrem-se – já deu o que tinha que dar, “bicho”. Cuba passou de moda, ainda que as camisetas de Ché Guevara continuem vendendo: trata-se, provavelmente do mais fabuloso revolucionário amigo dos capitalistas de que já se teve notícia nos anais da publicidade mundial (de graça, pois já não há direitos de autor, copyright pela imagem, pagamento sequer de direitos morais, etc...).
Cuba já deixou de ser um asset – em outros tempos valorizado no circuito chique do turismo político-ideológico mundial – para virar uma liability, mesmo para os revolucionários, que já não conseguem explicar como é que morrem, ainda, dissidentes em suas prisões. 
Não se imagina o que poderiam fazer juntos países tão díspares, em termos de economia, de política e de sociedade, quanto Brasil e Cuba. O que poderiam conversar seus dirigentes? Como trocar idéias políticas (e ensinamentos econômicos), ou ainda coordenar iniciativas e ações diplomáticas, partindo de situações e interesses tão diferentes entre si quanto Cuba e Brasil. 
Esse “papo” de se opor à hegemonia e à arrogância do unilateralismo imperial não resiste à mais elementar das análises jornalísticas, dessas feitas por repórteres de primeiro emprego. Essa “coisa” de construir “alternativas ao neoliberalismo” não se sustenta com base na dependência financeira e na dolarização de fato da economia de Cuba. “Uma outra América” é talvez possível, mas precisa ser justo com Cuba?
Decididamente, Cuba “já era” e “só não viu quem já morreu”, como se diz na canção de um poeta brasileiro (antigo admirador de Cuba, por sinal, mas já crítico, como foi a seu tempo José Saramago, depois da morte ou fuzilamento de mais alguns dissidentes). 
Dá para continuar a procurar vantagens possíveis num circuito turístico feito de muitas (e, reconheçamos, sinceras) recordações do passado e poucas, pouquíssimas promessas de futuro? Ou será que uma das faces de Janus apresenta-se como mais opaca do que a outra?
De fato, Cuba já não é mais futuro para nada, e é só o passado de alguns saudosistas anacrônicos, que vivem de sonhos que não voltam mais.
A menos que existam outras "coisas" de que não saibamos...

Um comentário:

  1. -Prezado Senhor, apenas uma curiosidade: ao finalizar seu post com a frase "A menos que existam outras coisas de que não sabemos...", encontro dificuldades de entender o "sabemos" pois em minhas leituras surge "SAIBAMOS", parece piada, mas não é.

    Em tempo, tomei a liberdade de transcrever referido post em meu blog... nada melhor que a opinião de alguém competente.

    Att.

    Gilrikardo / Joinville SC

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