O que o Brasil poderia esperar de Cuba?
A rigor, nada. Pensando bem
(e seriamente), o que, exatamente, Cuba e sua economia decrépita poderiam
fornecer ao Brasil, ao seu sistema político, ou à sua estrutura social,
cultural, educacional, científica ou seja lá o que mais for? Rigorosamente
nada, ou concedamos, alguma coisa, ainda que indistinguível (que aliás poderia
ser adquirida em qualquer outra parte, provavelmente com financiamento
comercial de médio prazo, o que Cuba de toda forma se encontra impossibilitada
de fazer).
Poucos sabem que Cuba constitui o único
país no mundo (capitalista e socialista) com o qual o Brasil assinou, por pedido expresso de Cuba, um dos tão
execrados (por certos esquizofrênicos econômicos) acordos de promoção e proteção recíprocas de investimentos. Sim, foi por insistência de Cuba, que viu nesse tipo de instrumento – tão vilipendiado por
outros motivos e com outros países – uma das poucas oportunidades de atrair
investimentos para sua economia esclerosada.
O Brasil, situação singular no
quadro dos recusados APPIs, configuraria, portanto, caso o acordo entrasse em
vigor e produzisse resultados efetivos, o papel de país “imperialista”, no
sentido leninista ou luxemburguiano da palavra, isto é, exportador de capitais.
Seria essa a função reservada ao maior país da América Latina pela mais
desimportante de todas as economias da região? Curioso, não é?
Quais outras vantagens políticas, econômicas ou diplomáticas se
poderiam esperar dessa relação absolutamente “assimétrica” (para retomar um
termo da moda)? Holofotes da imprensa, certamente, fotos na mídia mundial,
algumas, ou talvez promessas futuras e grandes conchavos para reformar a ordem
política e econômica mundiais. Duvidoso, tudo isso, pois que, como diriam os
mais jovens em sua gíria irreverente, Cuba “já era” e o “papo” tradicional dos cubanos, de mudar a
situação de miséria do Terceiro Mundo – resultado da dominação capitalista e da
exploração imperialista, lembrem-se – já deu o que tinha que dar, “bicho”. Cuba passou de moda, ainda que as camisetas de Ché Guevara continuem vendendo: trata-se, provavelmente do mais fabuloso revolucionário amigo dos capitalistas de que já se teve notícia nos anais da publicidade mundial (de graça, pois já não há direitos de autor, copyright pela imagem, pagamento sequer de direitos morais, etc...).
Cuba já
deixou de ser um asset – em outros
tempos valorizado no circuito chique do turismo político-ideológico mundial –
para virar uma liability, mesmo para os revolucionários, que já não conseguem explicar como é que morrem, ainda, dissidentes em suas prisões.
Não se imagina o
que poderiam fazer juntos países tão díspares, em termos de economia, de política e de sociedade, quanto Brasil e Cuba. O que poderiam conversar seus dirigentes? Como trocar idéias políticas (e
ensinamentos econômicos), ou ainda coordenar iniciativas e ações
diplomáticas, partindo de situações e interesses tão
diferentes entre si quanto Cuba e Brasil.
Esse “papo” de
se opor à hegemonia e à arrogância do unilateralismo imperial não resiste à
mais elementar das análises jornalísticas, dessas feitas por repórteres de
primeiro emprego. Essa “coisa” de construir “alternativas ao neoliberalismo”
não se sustenta com base na dependência financeira e na dolarização de fato da economia de Cuba. “Uma outra América” é talvez possível, mas precisa
ser justo com Cuba?
Decididamente, Cuba “já era” e “só não viu quem já
morreu”, como se diz na canção de um poeta brasileiro (antigo admirador de Cuba, por
sinal, mas já crítico, como foi a seu tempo José Saramago, depois da morte ou fuzilamento de mais alguns dissidentes).
Dá para continuar a procurar vantagens possíveis num circuito turístico
feito de muitas (e, reconheçamos, sinceras) recordações do passado e poucas,
pouquíssimas promessas de futuro? Ou será que uma das faces de Janus
apresenta-se como mais opaca do que a outra?
De fato, Cuba já não é mais futuro para nada, e é só o passado de alguns saudosistas anacrônicos, que vivem de sonhos que não voltam mais.
A menos que existam outras "coisas" de que não saibamos...
-Prezado Senhor, apenas uma curiosidade: ao finalizar seu post com a frase "A menos que existam outras coisas de que não sabemos...", encontro dificuldades de entender o "sabemos" pois em minhas leituras surge "SAIBAMOS", parece piada, mas não é.
ResponderExcluirEm tempo, tomei a liberdade de transcrever referido post em meu blog... nada melhor que a opinião de alguém competente.
Att.
Gilrikardo / Joinville SC