Conclusão
pessoal (PRA)
Minha sugestão é a de SPG retorne à sua prancheta de
planificador voluntário, refaça todos os exercícios de políticas possíveis, com
base em sólidos dados empíricos, e que ele apresente algo mais conforme a
realidade do mundo. Seus argumentos sobre as “potências dominantes”
(ocidentais, claro) pertencem ao terreno da paranoia; suas crenças em relação à
China são altamente irrealistas; seus contorcionismos conceituais no que tange
as próprias políticas dos países membros do Mercosul se aproximam da
mistificação, ou do autoengano, simplesmente.
Quando se é um acadêmico, simplesmente, é possível
demonstrar alto grau de alienação, e ainda assim ser admirado por plateias
inteiras de estudantes passivos, sem que isso cause qualquer comoção, ou tenha
qualquer impacto no mundo real. Quando se tem, contudo, um cargo de alta
responsabilidade política, como é o caso de SPG, os desvarios propositivos
podem ser altamente prejudiciais àquilo mesmo que seu autor pretende promover:
o desenvolvimento harmonioso dos países objetos dessas especulações de
feiticeiro aprendiz do Mercosul. Basta que propostas altamente irrealistas,
como são as que examinamos aqui, sejam tomadas pelo seu valor de face por
decisores armados de orçamentos, e aí o desastre é assegurado: podemos ter
certeza que recursos respeitáveis serão gastos inutilmente, sem qualquer efeito
sobre a realidade dos mercados, ou com impactos mínimos (já que com dinheiro se
pode fazer muita coisa, até plantar bananas na Groenlândia, por exemplo).
Não é a primeira vez que SPG apresenta seus desvarios
de planificador utópico do futuro, seja em relação ao Brasil – em 2022, por
exemplo – seja em relação ao próprio Mercosul. Sua capacidade de encantar
plateias já conquistadas e convencidas dos malfeitos do neoliberalismo é
enorme, e isso lhe deve granjear muito apoio em círculos consideráveis da
opinião pública nacional, sobretudo nessa ambiente contaminado pelas utopias antimercado
que constituem as faculdades de humanidades brasileiras. Seu potencial de
causar estragos nas políticas públicas brasileiras é também enorme,
considerando-se os cargos que exerceu e a influência que ainda tem em amplos
setores da máquina governamental brasileira e sua audiência em vários países
vizinhos (até pelo cargo de responsabilidade que ocupa atualmente). Em face
disso, só posso prever a continuidade de certas irracionalidades na condução de
vários “negócios” públicos, aqueles, pelo menos, em que o aprendiz de
feiticeiro (no bom sentido da palavra) for autorizado a pousar sua varinha
mágica. Não sei quem poderá salvar o Mercosul desse tipo de experimento
saint-simoniano conduzido candidamente, como corresponde às almas animadas por
boas intenções.
Nessas condições, o único futuro que pode ter o
Mercosul é o aprofundamento de suas contradições internas – institucionais e
operacionais – e o completo descaminho na irrelevância econômica e nos desvios
retóricos das mesmas políticas que fizeram da América Latina, nos últimos 60
anos, o maior cemitério de experiências frustradas em matéria de integração
desde os tempos do Zollverein e do Benelux.
Quem – ou o quê – poderá salvar o Mercosul? Respostas
(sérias, por favor) para este modesto escriba voluntário, que não tem nenhum
poder, nem influência sobre as políticas em curso, apenas alguma capacidade de
agitar ideias contrarianistas, que podem, eventualmente, contribuir para um
debate realista, em um continente entregue a experimentos inéditos em uma rica história
de cinco séculos. Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Paris, 14 de maio de 2012
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