Meu primeiro livro sobre o Mercosul, foi distinguido, entre outras censuras do Itamaraty, com um parágrafo cortado pelo censor encarregado de zelar pela pureza da doutrina e da fé: se tratava justamente de um parágrafo sobre o Paraguai, onde eu objetivamente argumentava sobre as peculiaridades aduaneiras do país, o que era apenas uma constatação da realidade. Mas o Itamaraty preferiu esconder meu comentário, comprovando mais uma vez que, quando não se tem nada a dizer sobre um problema qualquer, aí mesmo é que se pretende tapar o sol com a peneira.
Tudo bem, o livro saiu sem esse parágrafo, o que não lhe fez falta, mas a censura ficou travada em minha mente, como uma violência intelectual, e gratuita, além do mais, pois eu nada dizia além do que era um fato: ou seja, o Paraguai é um país peculiar, em seu comércio exterior, não exatamente o legal, se entendem o que quero dizer.
Mas, uma das consequências implícitas do parágrafo em questão seria mais ou menos este: Brasil e Argentina talvez não devessem ter convidado o Paraguai para integrar o bloco e o Paraguai não deveria ter aceitado ingressar. Era uma situação de pós-golpe anti-Stroessner, e a adesão permitiria talvez ajudar a estabilizar a situação política paraguaia, mas não iria resolver, claro, suas peculiaridades aduaneiras no curto prazo. Em todo caso, o Paraguai ingressou, e os maiores problemas do Mercosul não foram causados por suas peculiaridades aduaneiras, e sim pelo desrespeito que Argentina e Brasil demonstram em relação às regras básicas do bloco.
Neste caso, permito-me dizer que estou com o Paraguai, contra todos aqueles que se apressam em condenar o "ritual sumário" e até o "golpe" dado naquele país, que resultou no impeachment do bispo priápico que lhe servia de presidente. Ainda que tudo isso possa ser sustentado (mas eu não sustento), tudo é uma crise política interna ao Paraguai.
Nem o Mercosul, nem a Unasul têm o direito de se imiscuir nos assuntos internos do Paraguai. Ainda que não se goste do impeachment, deve-se respeitar a soberania paraguaia. Nem havia qualquer efeito sobre o Mercosul ou a Unasul.
Agora, as ações tomadas pelos outros dirigentes desses blocos foram, sim, perfeitamente ilegais, pois não são fundamentadas em qualquer dispositivo jurídico dos tratados constitutivos dos dois blocos e seus outros instrumentos legais.
Paulo Roberto de Almeida
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2 comentários:
O principal problema do "golpe", ou "impeachment" se tu preferires desta maneira, no Paraguai não está relacionado aos aspectos jurídicos do que foi feito. A questão é a possibilidade do "spill over" (ou, como a Dilma chamou, o "perigoso precedente) que o "golpe" poderia acarretar. Muitos países sul americanos se encontram numa fragilidade institucional e poderiam passar por processos parecidos, os quais poderiam trazer uma instabilidade grande na região. Recentemente, existiu a ameaça do separatismo na Bolívia, do golpe policial no Equador, e ainda existe a problemática Venezuela, onde a possibilidade de guerra civil não se pode considerar excluída. Independente de tua posição ideológica ser de direita ou de esquerda, a instabilidade na América do Sul não seria interessante para o Brasil; portanto, acho que uma "punição" por parta dos países sul-americanos é justificável, e até mesmo necessário, para o Paraguai.
Existem paises que pretendem se imiscuir nos assuntos internos dos outros, e dar licoes de moral ou de bom comportamento democratico com se estivessem em suas casas. Isso se chaa intervencionismo e e' proibido pela Constituicao!
PRA
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