O Brasil já teve, como dito, diversas crises de BP, por razões diversas, mas geralmente derivados, anteriormente, à queda de suas exportações primárias e depreciação dos preços dessas commodities. No período recente, a crise anterior, de 1998-99, foi dada pela grande valorização do real e ao déficit comercial acumulado.
Atualmente, a questão da valorização do real vem sendo parcialmente contornada pelo ativismo da política cambial, que se traduz em compra dos dólares excedentes e a manutenção de uma banda informal para o câmbio, entre 2 e 2,10 reais por dólar. Não podemos esquecer, paralelamente, o enorme custo fiscal derivado de exageradas reservas (hoje acima de 380 bilhões de dólares) e o custo de quase 10% dessas reservas anualmente, pelo diferencial de juros pagos pelo Tesouro para emitir títulos da dívida e pelos juros recebidos pelas reservas aplicadas (geralmente em T-bonds).
Mas, parte da perda de dinamismo comercial não se deve apenas a fatores cambiais, e sim à falta de competitividade dos produtos manufaturados, uma vez que o Brasil se tornou um país muito caro, por diferentes fatores. O que estamos vendo é uma erosão contínua do espaço ocupado pelas exportações brasileiras, com exceção do agronegócio, extremamente dinâmico. A perda de dinamismo poderá resultar numa crise de BP, se o déficit de transações correntes ultrapassar certo patamar do PIB, que alguns estimam em 5% (mas isso varia em função de outros elementos econômicos).
Em todo caso, caberia apertar os cintos e preparar-se para novas emoções.
Paulo Roberto de Almeida
Retrocesso na balança comercial
Diante
de tantas incertezas em torno da economia brasileira e mundial em 2013,
o desempenho atual da balança comercial brasileira pode ser considerado
o sinal mais evidente de dificuldades futuras.
Com
base nos resultados acumulados até outubro e em números preliminares,
analistas vislumbram um saldo positivo nos negócios com o exterior
abaixo de US$ 20 bilhões. Trata-se, portanto, de um retorno ao cenário
de 10 anos atrás. Em 2002, último ano do governo Fernando Henrique
Cardoso, a diferença entre exportações e importações ficou em US$ 13,2
bilhões. A expectativa de consultorias é que 2012 seja ainda pior, menos
da metade do superavit do ano passado, de US$ 29,7 bilhões.
A
fragilidade da retomada econômica internacional vem castigando o fluxo
global de mercadorias nos últimos anos e impondo um terrível alerta para
o Brasil, que ficou ainda mais dependente do seu maior parceiro
comercial, a China. Desde 2011, a perspectiva negativa gerada pelo recuo
da demanda externa, particularmente da Europa, e da fraca reação
norte-americana, se confirmou com a desaceleração do mercado chinês, a
locomotiva da economia mundial, mais distante de taxas de crescimento em
torno de 10%.
Outra vulnerabilidade
do Brasil ficou patente nos números da indústria, que apela por
protecionismo para não perder mais clientela doméstica e no exterior. O
próprio governo admitiu esse calcanhar de aquiles da economia brasileira
e colocou na pauta da política econômica o enfrentamento da baixa
competitividade dos produtos industrializados nacionais em relação,
sobretudo, aos asiáticos, e redobrou sua vigilância sobre a valorização
do câmbio.
Nesse último caso, o
Planalto reforçou o discurso nos tribunais mundiais contra o chamado
tsunami monetário, tratando o fenômeno como prática deliberada dos
países industrializados de tornar moedas de emergentes menos favoráveis a
exportações. O discurso perde força ao se excluir das críticas a China,
segunda maior economia do planeta e mais dinâmico dos países
emergentes.
As frustrações na
performance brasileira nas trocas globais também revelam falhas na
estratégia de promoção comercial e de defesa comercial, refém da
estrutura tarifária do Mercosul — com sócios complicados, como a
Argentina e, agora, a Venezuela. Pesa, ainda, a resistência ideológica
das gestões petistas a uma aproximação maior com o principal mercado
consumidor do planeta, os Estados Unidos.
A
prioridade máxima dada à diversificação de destinos comerciais se
verificou errada, por não conseguir atingir escalas suficientes para
diminuir a séria concentração de exportações de commodities
agropecuárias, metálicas e minerais para a Ásia. Volumes maiores de
produtos com menos valor agregado colocam o país em um campo minado.
Não
por acaso, o Ministério do Desenvolvimento desistiu há tempos de fixar
metas para o nosso comércio. Se a relação comercial de R$ 80 bilhões com
a China tivesse desandado mais em 2012, cairíamos facilmente no
vermelho. Enquanto isso, tratados de livre comércio se multiplicam mundo
afora e o Brasil avança pouco nas investidas, oferecendo, em
contrapartida, mercado interno cobiçado pelos exportadores de fora.
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