• Ex-diretor da estatal indica políticos que estariam envolvidos em esquema de corrupção; delação ainda precisa ser comprovada
Se vier a ser confirmado, o relato de Paulo Roberto Costa sobre desvio de recursos da Petrobras ajudará a esclarecer um escândalo de corrupção que, pelos valores envolvidos e pelo número de políticos implicados, encontrará poucos paralelos na história brasileira.
Consta que, num acordo de delação premiada, o ex-diretor da estatal apontou 12 senadores, 49 deputados federais e pelo menos um governador atualmente no cargo que se beneficiaram do esquema. Tratava-se, em resumo, de abocanhar o equivalente a 3% dos contratos da maior empresa brasileira.
As cifras eram apetitosas. A construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, por exemplo, já consumiu mais de R$ 40 bilhões. Calculado sobre o valor total da obra, o butim alcançaria, só nesse caso, R$ 1,2 bilhão --o mensalão petista, segundo a Procuradoria-Geral da República, mobilizou R$ 141 milhões em dois anos.
A sangria dos cofres da Petrobras durou muito mais tempo. A crer no depoimento de Paulo Roberto Costa, ocorreu de 2004 a 2012, período no qual ele comandou a diretoria de Abastecimento, aonde chegou por indicação do PP.
Reportagem da revista "Veja" publicada neste final de semana arrolou alguns nomes que teriam aparecido nas declarações de Costa. Estão lá personagens de relevo na política nacional, como Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Henrique Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara.
Também figuram o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), os ex-governadores do Rio e de Pernambuco, Sérgio Cabral (PMDB) e Eduardo Campos (PSB), morto em agosto, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entre outros.
Diga-se, contra os citados, que a pilhagem é mais que plausível. Intermediando negócios da estatal com fornecedores, o próprio Costa seria responsável pelas propinas. O ex-diretor da Petrobras, aliás, já foi preso duas vezes; contas na Suíça, atribuídas a ele, reuniam US$ 23 milhões (R$ 52 milhões).
Reconheçam-se, por outro lado, as fragilidades do que se sabe até agora. De que maneira o dinheiro era distribuído? Abastecia campanhas ou contas pessoais? Por que, entre tantos nomes envolvidos, divulgaram-se apenas esses? E por que a um mês da eleição?
São perguntas que impõem certa cautela, assim como a própria condição de Paulo Roberto Costa. Ele tem todo o interesse em tentar encurtar sua prisão, o que pode fazer não apenas narrando fatos reais, mas também confundindo a Justiça --hipótese em que os verdadeiros criminosos entenderiam o recado e tratariam de ajudá-lo.
É crucial, portanto, que as autoridades competentes procedam com isenção, transparência e velocidade. A demora nas investigações só beneficia quem se alojou no governo com o propósito de dilapidar o patrimônio público.
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