sexta-feira, 15 de julho de 2016

Tecnica do golpe de Estado - militares turcos nao leram Curzio Malaparte

Em 1931, Curzio Malaparte, um nome de invenção do escritor italiano nascido no final do século 19 como Kurt Erich Suckert (o Malaparte era uma gozação com os Bonaparte), publicou em francês (porque na Itália do fascismo seria difícil), um livro -- que não foi o mais famoso de uma carreira famosa, ainda que camaleônica, indo do fascismo ao comunismo, passando pelo partido republicano e um aceno à Igreja Católica -- escrito a partir das experiências de golpes de Estado contemporâneos, o putsch bolchevique de Lênin, em 1917, a Marcha sobre Roma de Mussolini, em 1992 (da qual ele participou, como entusiasta que era de o fascismo, mas de esquerda, ou seja socialista), e a tentativa de golpe de Hitler em Munique, em 1923, que resultou na prisão do nazista (e no crescimento do partido nacional socialista), cujo título era curto e grosso:

Técnica do Golpe de Estado (Technique du Coup d'État)

Trotsky, retratado no livro (junto com Stalin, Lênin, o próprio Mussolini, e Hitler), leu essa edição francesa e retrucou ao autor, por telegrama desde Copenhagen, pouco antes de partir para o México, onde viria a ser assassinado quase dez anos depois por um mercenário a serviço de Stalin (objeto de um grande romance-verdade de José Padura, El Hombre que Amaba los Perros, além de um outro romance policial-politico de Jorge Semprun, La Deuxième Mort de Ramón Mercader.

Pois bem, parece que os militares golpistas da Turquia não leram nem o livro de Curzio Malaparte, nem aprenderam com os grandes golpes de Estado, que são, paradoxalmente, muito comuns na história política da Turquia, quase tanto, ou mais, quanto em países da América Latina, Brasil inclusive.
O livro explica as várias técnicas (e a palavra era não apenas moderna, naquela época, como absolutamente essencial para explicar o que pretendia esse jornalista-romancista que depois virou romancista exclusivamente, mas sempre mesclando suas obras com elementos retirados da realidade) que os golpistas precisam absolutamente empregar para conduzir um golpe bem sucedido, assim como fizeram Lênin, Mussolini, e menos bem Hitler e outros trapalhões por aqui e em outras partes.
Malaparte retrata o ambiente em Petrogrado antes do putsch dos bolcheviques (muitos deles absolutamente contrários ao golpe proposto por Lênin, pois para eles isso seria contrariar o princípio da revolução da classe operária, que Lênin sabia que não viria), e faz o perfil psicológico dos principais personagens, assim como fez com Hitler e Mussolini, sobre os quais ele insinua gestos efeminados.

Acho que os militares turcos precisariam ler não só Curzio Malaparte, como aprender com o know-how, a técnica, a verdadeira tecnologia de golpes de Estado dos generais latino-americanos (não sei se ainda temos alguns golpistas por aqui, pois já fazem quase 30 anos que não se fazem mais golpes decentes por aqui, e não sei se algum deles deixou um manual operacional para um golpe bem sucedido.

Quem sabe algum gozador bem informado não prepara um:

Coup d'État for Dummies,
ou The Idiot's Guide for Coup d'États,
ou ainda, How to Iniciate, Complete, and Survive a Successful Coup d'État,
ou mesmo um All that you always wanted to know about a good coup d'État and never had someone to ask,
ou quem sabe então um: The Complete Guide on How to Perform a Wonderful Coup, and Become Youself a Brilliant Chef d'État ?

Pronto, já dei minha contribuição para um bom golpe de Estado.
Quem desejar ler o manual (um pouco surrealista, hoje) de Curzio Malaparte, tem uma nova edição italiana na

Piccola Biblioteca Adelphi
2011, 3ª ediz., pp. 270 
isbn: 9788845926327 
 € 12,75
http://www.adelphi.it/libro/9788845926327

Divirtam-se (if you may...)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2016

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