sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Dawisson Lopes e a Diplomacia do Conhecimento - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de ler e resolvi retirar do Twitter e postar aqui, uma sequência de postagens do acadêmico, professor de Ciência Política na UFMG, sobre o Itamaraty sob nova direção.
Acrescentei algo ao retwitar no meu próprio Twitter.
Paulo Roberto de Almeida

Dawisson Lopes:

1) A convite do Itamaraty, participei de 2 eventos no ano passado. Os 2 tinham por objetivo discutir as principais questões da pol. externa brasileira no futuro. Nas ocasiões, usei meu tempo para discutir a relação entre DIPLOMACIA e CONHECIMENTO. Narro, na sequência, os fatos.
2) Em fevereiro, falei do lugar periférico do 🇧🇷 nas redes globais do conhecimento. Por várias métricas - de PISA a rankings universitários - nós ficamos para trás. Somos um país de poucos falantes de inglês. Produção científica volumosa, mas de baixo impacto. Investimento baixo.
3) Quando visitamos a história da política externa brasileira, contudo, encontramos a hipótese de que teria sido a "diplomacia do conhecimento", isto é, o investimento sistemático em saberes jurídicos e cartográficos, o que nos teria garantido um lugar à mesa. Ver a obra do Barão do RB.
4) O que expus aos presentes - embaixadores e acadêmicos - é que, talvez, aquele quadro cognitivo de 100 anos atrás ainda estivesse a balizar o nosso corpo diplomático. A aposta nos saberes clássicos, em oposição às novas técnicas e temas, nos limitaria possibilidades.
5) Fundamentei meu argumento em casos ao redor do mundo. Na forma como estadunidenses se relacionavam com o conhecimento para produzir política externa. Nos estudos que os chineses ora desenvolviam. Na maneira como indianos vinham mobilizando a academia e os think tanks, etc.
6) Temas como revolução industrial 4.0, nova corrida espacial, cibersegurança, biotecnologia, dentre outros, pareciam-me ainda distantes do universo cognitivo do diplomata brasileiro. Meu ponto: a "diplomacia do conhecimento", hoje, demandaria um acercamento dessas novidades.
7) Em outubro último, voltei a margear o assunto, ao tratar da relação entre fazer acadêmico e fazer diplomático. Enquanto a diplomacia não busca insumos acadêmicos para a fabricação de suas políticas, à academia faltaria, com certa frequência, mais conhecimento sobre a prática.
8) Entendo que a diplomacia brasileira poderia beneficiar-se dos conhecimentos sobre métodos e técnicas para acessar/analisar dados que a academia cultiva. Uma abordagem menos ensaística e mais embasada em metodologia científica poderia ajudar na consecução de melhores resultados.
9) Análise de política pública, estatística inferencial, big data, protocolos de comparação, dentre outros ferramentais, municiam toda a produção da atual política externa chinesa, por exemplo. Não tenho dúvida de que o ensaísmo diplomático do 🇧🇷 é um problema a superar.
10) Faço o longo prólogo para, enfim, debruçar-me sobre as mudanças propostas na formação do diplomata brasileiro, recentemente publicizadas. Houve diversas mudanças de terminologia disciplinar, de carga horária, de encadeamento na grade curricular, além de exclusões e inclusões.
11) Às principais mudanças: a) as disciplinas de História da PEB e de Pensamento Diplomático, enquanto tais, não existem mais. Foram fundidas; b) a disciplina de Planej. Diplom. perdeu metade da CH. Como professor, bem sei que esse é um jeito sutil de fazer o indesejado "sumir".
12) Tem mais: c) a disciplina de América Latina foi suprimida na grade; d) incluíram-se, por sua vez, duas disciplinas de Clássicos. A primeira, já em oferta, cobre de Platão a Kant. 25 livros que representariam, quero acreditar, a melhor tradição ocidental conforme o atual chanceler.
13) Ora: o novo 'homo diplomaticus', na verdade, não vai se aproximar do temário contemporâneo da política internacional, tampouco se atualizar sobre metodologia científica de ponta. Antes, mergulhará no ensaísmo diletante. Aperfeiçoará ainda mais a sua cultura de salão.


Paulo Roberto de Almeida:

“Diplomacia do conhecimento” é exatamento o título de um ensaio meu ainda não divulgado, mas que deve acompanhar a 3a. edição da obra “O Itamaraty na Cultura Brasileira” (1a. ed. em 2001, na gestão Celso Lafer; org. Alberto da Costa e Silva), agora em finalização. Aguardem.

Um comentário:

  1. Agtadeco imensamente a transcrição. Acho deu blog ideal aos novos interessados na carreira.

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.