Eduardo Bolsonaro é mais que um chanceler. É um conflito diplomático
Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia
23 de Março de 2019
De tudo o que o governo de Jair Bolsonaro tem de indigesto para oferecer ao País – e não é pouco -, a delegação irresponsável de poder que é outorgada aos filhos do presidente ultrapassa os limites do tolerável. Pior, está se tornando muito mais que algo simplesmente nocivo. Em alguns casos, a coisa ameaça descambar para o incidente diplomático. Pelo que faz e acontece o “número 02” dos primeiros-filhos de Bolsonaro, a coisa não pode acabar bem. Eduardo Bolsonaro é um perigo iminente para o próprio pai, para o cambaleante governo e para o Brasil.
A imagem do deputado federal sentado no sofá da Casa Branca, em uma reunião privada do presidente-pai com o presidente-ídolo, foi uma das cenas mais estapafúrdias que a diplomacia brasileira já produziu. Bolsonaro, o pai, barrou do encontro o seu próprio chanceler, o inexplicável Ernesto Araújo, para levar o filho. E o fez, segundo disse, a convite do próprio Donald Trump. Se Araújo ainda está no cargo, só mesmo a falta de noção e de amor próprio do auxiliar deve conseguir justificar.
Jair Bolsonaro tem um filho para cada área-problema. Cada um deles com um potencial de inconveniências, o que já era mais ou menos previsto durante a campanha eleitoral. Os três já se prenunciavam os “donos” da República que viriam a ser. Mas ultrapassaram as piores expectativas. Nada é tão ruim que não possa, um dia, piorar. Eles ratificaram a máxima.
O mais velho, o ex-vereador do RJ e hoje senador Flávio, viria a mostrar-se entrosados com figuras do crime organizado do Rio de Janeiro. Já havia homenageado miliciano e, no poder, fez nascer a primeira personagem-problema do governo, o assessor-pagador-amigo de fé-irmão-camarada Fabrício Queiroz, até hoje livre, leve e solto pela falta de um juiz de primeira instância com coragem e com vontade de mostrar serviço, como parecia haver no passado.
O mais novo e mais querido é Carlos, o Carlucho, hoje vereador do RJ, é assessor para assuntos aleatórios, gerais e pessoais. Acompanha o pai em situações de extrema intimidade, como cuidar do pai durante o internamento deste, após a cirurgia no Hospital Albert Einstein, o que é plenamente justificável. Ou em outras cujo cabimento é questionável, como sentar no assento de trás do Rolls-Royce presidencial, com os pés no banco, em pleno percurso da posse presidencial.
(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)
Mas em termos de criar problema internacional, o cara é Eduardo. Deputado federal, conseguiu se encaixar no posto de presidente da Comissão de Relações Externos da Câmara dos Deputados, o que que lhe confere um certo álibi para viajar pelo mundo à cata de situações que acabam colocando o País em exposição desairosa. Desembarca em aeroportos com boné de propaganda de Trump como se fossem as orelhas de Mickey. Antecipa acordos políticos com Israel. E é, atualmente, a figura central da participação brasileira da possível guerra contra a Venezuela, ação criminosa que Trump e seus aliados cuidam para curto prazo.
A atuação, ou intromissão, de Eduardo Bolsonaro na área faz a importância do chanceler Ernesto Araújo ser muito menor que a dos juncos do jardim suspenso do Itamaraty. Com todo respeito à função dos juncos e das demais plantas do belo espelho d’água que margeia o palácio.
A brincadeira da hora do filho do meio é mesmo a guerra contra a Venezuela. Com aval do pai, diga-se de passagem, ele se diverte expelindo intenções bélicas, no que acaba falando em nome do governo brasileiro, embora não devesse. Faz eco a Trump e seus senhores da guerra e influencia o pai-presidente na formação de um campo de batalha que não lhe compete.
Mas, é impossível para os Bolsonaro aceitarem que esta guerra contra a Venezuela não é nossa. E que, no futuro, estará aberto um flanco enorme que vai acabar por nos engolir. Ou será que a concessão aos americanos da Base Militar de Alcântara não significa nada? Ou que o pré-sal não poderá ser, daqui a pouco, pretexto similar ao que é hoje o petróleo venezuelano para Trump?
Na sexta-feira (22), o nosso “ministro informal” das relações exteriores previu que, “de alguma maneira”, o “uso da força” será utilizado pelo Brasil e pelas Forças Armadas, no conflito venezuelano, que já dá como certo. A declaração, ele deu no Chile, onde o pai participava da formação de um perigoso (este sim) bloco de extrema-direita com países alinhados aos Estados Unidos e dispostos a pegar em armas para tirar do poder o governo legitimamente eleito de Nicolás Maduro.
À primeira vista, a impressão é de que Eduardo Bolsonaro não passa de um menino doido para brincar de guerra. E que o pai já lhe comprou o brinquedo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.