domingo, 2 de junho de 2019

“Querida: meus eleitores e apoiadores encolheram!” - Diogo Mainardi, pesquisa de opinião

A frase é obviamente fictícia, adaptada de um famoso filme de Hollywood: “Honey, I shrink the kids” (Querida, encolhi as crianças). Mas ela bem pode servir ao presidente para se dirigir à sua esposa.
E o mesmo poderia, teoricamente, ter ocorrido com o outro candidato no segundo turno, representando o PT.
Ambos tiveram certo número de votos, talvez a metade, ou mais, que não representavam adesão efetiva às suas causas respectivas, mas apenas o “anti”: antipetismo e anticorrupção no caso do vencedor, antidireitismo e “antifascismo” no caso do perdedor.
Era inevitável a diminuição dos apoios em caso de descontentamento com os primeiros passos do governo em ação, mas surpreende a redução radical do apoio no caso de Bolsonaro.
Pesquisas mais qualitativas podem explicar as razões do encolhimento, algumas das quais já aparecem nesta nova consulta resumida por Diogo Mainardi no Antagonista.
Paulo Roberto de Almeida

Bolsonaro perde os antipetistas que votaram nele no segundo turno
Diogo Mainardi (de Veneza)
O Antagonista, 2 de junho de 2019

O governo de Jair Bolsonaro é aprovado por 31% dos eleitores e desaprovado por 36%, segundo o instituto Ideia Big Data.
O número mais chamativo, porém, é outro: dos 31% que o aprovam, só 8% o aprovam totalmente; dos 36% que o desaprovam, 18% o desaprovam totalmente.
A pesquisa mostra que Jair Bolsonaro perdeu sobretudo os eleitores antipetistas que votaram nele no segundo turno, por ser o menos ruim.
O diretor do Ideia Big Data disse para o Estadão que essa parcela do eleitorado passou a desaprová-lo por causa “dos ruídos provocados por integrantes do governo nas redes sociais e da ausência de medidas para gerar empregos e combater a crise econômica”.
E também:
“Muito do apoio que Bolsonaro teve no segundo turno foi mais por rejeição ao PT do que por identificação com a plataforma dele. Bolsonaro não expôs de maneira plena suas plataformas durante a campanha e muitos estão conhecendo só agora as propostas do presidente para diversas áreas.”
PRA: agrego minha avaliação da situação atual.
Aparentemente, esse encolhimento deve continuar, uma vez que pelas características da BolsoFamiglia, e seu comportamento simbiótico interferindo nas ações do governo, a sua aceitação pelo público mais esclarecido não corre nenhum risco de melhorar. Ao contrário: tudo prenuncia a continuidade do caos administrativo, das confusões congressuais, da deterioração da situação econômica e o aumento da oposição, não necessariamente de esquerda, mas dos chamados “mercados” e dos liberais verdadeiros, que percebem que o capitão não tem os requerimentos desejáveis para o cargo de presidente, é um poço de contradições e altamente influenciável por ideólogos destrambelhados, por evangélicos nocivos nos planos cultural e educacional, por reacionários muito além de uma direita razoável e, sobretudo, por membros aloprados de sua própria família.
Resumindo: para mim, este governo já perdeu credibilidade e deve continuar sua trajetória pantanosa até onde a vista alcança. Pobre Brasil, pobres desempregados (literalmente), pobres membros conscientes e competentes do governo (pois existem, embora a direção geral seja medíocre).
Estamos condenados a mirar agora em 2022, mas o Brasil vai continuar se arrastando penosamente em direção da modernidade, com melhorias muito lentas no bem-estar geral da população, isto se conseguir escapar de nova recessão (na qual já está) ou de uma nova crise grave e estagnação ou depressão, que também são possíveis, tamanha é a incompetência de quem está no comando. Uma liderança medíocre só pode produzir resultados medíocres.
Em algumas áreas, essa mediocridade é visível, a olhos nus. Nas relações exteriores, por exemplo, onde o patético chanceler é manifestamente inseguro e manipulado por outras pessoas, que todos sabem quem são (já escrevi bastante sobre essa deterioração lamentável de nossa diplomacia). Na Educação, o quadro é ainda mais dramático, pois além de incompetente o ministro é autoritário e ridículo. No caso da triste figura que ocupa Direitos Humanos, não se trata nem de ideologia evangélica, mas de estupidez pura e simples. O do Meio Ambiente é apenas uma questão de caráter.
No caso do presidente, nem preciso dizer o que é: jornalistas e analistas políticos mais competentes já fizeram o diagnóstico, ou a psicanálise...
Como sempre, assumo responsabilidade e assino embaixo do que escrevo.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 2 de junho de 2019

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