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domingo, 3 de novembro de 2019

Contradições libertárias-bolsonaristas - Paulo Roberto de Almeida

Ontem eu tive uma aula sobre os paradoxos cognitivos de um país politicamente surrealista-dadaísta, situado a centro-leste da América do Sul. 
Alegados liberais, supostos libertários, conservadores autodidatas expressando seu contentamento com a personalidade mais autoritária, mais estatizante, mais ignorante e potencialmente uma das mais corruptas e criminosas de que se tem notícia na vida política dos últimos 500 anos nesse bizarro país.
Eis as notas que tomei depois do convescote, com direito a hurras e palmas de aprovação ao patético personagem e algumas vaias a quem buscava demonstrar a verdadeira face do nefando dirigente:



Participando de um encontro  em principio voltado para ideias de liberdade, congregando, portanto, liberais, libertários, anarco-capitalistas e até conservadores, descobri, supreso, que essa tribo variada compreende inclusive admiradores ferrenhos de Bolsonaro. Contradição total.

Sinceramente não compreendo, e estou chocado até agora, como pessoas que se acreditam liberais podem, ao mesmo tempo, aprovar e admirar um tipo tosco, vulgar, autoritário, ignorante e sobretudo estatista até os ossos como Bolsonaro. Ingênuos, confusos, contraditórios? Escolham...

Uma verdadeira contradição nos termos a pessoa se pretender liberal ou mesmo conservadora e ser ao mesmo tempo admiradora de um personagem tão medíocre, situado nas antípodas do que seja o liberalismo ou o conservadorismo, protetor de milícias criminosas. São os novos sem noção?

Descobri, também, que alguns que se pretendem liberais conseguem ser tão intolerantes — contra os socialdemocratas, por exemplo — quanto a extrema-direita o é contra marxistas, petistas, esquerdalha, etc. Chocante esse sectarismo fundamentalista, tudo isso em nome da liberdade?!?

Paulo Roberto de Almeida 
São Paulo, 3/11/2019

Um comentário:

Robinson Rosário Pitelli disse...

Prezado PR, creio que posso imaginar seu estranhamento diante de pessoas que se comportam de forma tão contraditória. Gostaria de reproduzir um trecho do livro A Alma Imoral do Rabino Bonder que me parece descrever de forma metafórica essa faceta dos humanos:
QUOTE
O poeta e filósofo Sh'lomo Gabirol (Miv'har ha-penimim) menciona quatro estágios distintos no reconhecimento da estreiteza de um lugar. Há os que: 1) sabem e sabem que sabem; 2) sabem, mas não sabem que sabem; 3) não sabem e sequer sabem que não sabem e 4) não sabem, mas presumem que sabem.

O primeiro está no estágio dos acampados diante do mar (referência ao impasse dos hebreus ao se depararem com o Mar Vermelho, fugindo do Egito em busca de Canaã, enquanto o milagre da abertura das águas não acontecia). Esperam por sua chance de atravessar. Reconhecem o novo “bom” e permanecem à espera de um novo “correto” que melhor se adapte ao novo “bom”.

O segundo deve ser despertado. O lugar é estreito (Egito) e eles assim o percebem, mas a possibilidade de empreender uma caminhada rumo ao futuro (Canaã) lhes escapa. O presente, avalizado pelo passado, é demasiadamente forte para que se enxergue além. Nessa condição, não será possível ao corpo se sentir encurralado... e marchar.

O terceiro não reconhece a estreiteza mesmo quando esta já se instalou. Necessitam com urgência de terapia para dar conta da sensação de angústia que se origina em não saber o que há de tão inadequado em sua maneira de perceberem seus corpos.

Já o quarto também não reconhece a estreiteza, apesar de possuir um discurso que a desafia. A estreiteza, no entanto, é uma figura de abstração, o que não significa que um indivíduo compreenda de fato as diversas escravidões a que está submetido. Não há dúvida, esta é a situação que oferece maior dificuldade. A “amplidão” do pensamento teórico desse indivíduo cria a ilusão de que está à margem do mar. Mas, por nunca ter realmente percebido a estreiteza, não terá como passar no meio do mar. O seco não se fará disponível em nenhum momento, pois não existe condição de “marcha” para quem realmente não se percebe em estreiteza.
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