sábado, 9 de novembro de 2019

Diplomacia bolsonarista: a que isolou o Brasil no mundo - Paulo Roberto de Almeida


Diplomacia bolsonarista isolou o Brasil no mundo 

Paulo Roberto de Almeida

Antes, durante e depois do dia das bruxas, a América do Sul está enfrentando uma conjunção “astrológica” – para quem gosta dessas coisas – excepcional, com manifestações, distúrbios, rupturas, eleições, sucessões problemáticas, inovações jurídicas, enfim, a maior das confusões, e isso tudo mais ou menos junto, o que promete um final de ano especialmente problemático.
No meio de toda essa movimentação, o Brasil, que sempre foi um país propenso a ser intermediário, mediador, conciliador, proponente de bons ofícios e país disposto a atuar sempre no sentido das melhores soluções pacíficas, de consenso, em plena agitação política, o Brasil, retomo, ou sua diplomacia, está singularmente ausente, totalmente indesejado e INCAPAZ de desempenhar o mesmo papel positivo que sempre teve, uma vez que, pela própria capacidade de seus diplomatas, sempre esteve à frente de iniciativas diplomáticas tendentes a buscar a melhor solução possível para os conflitos existentes.
Hoje, a verdade é que NINGUÉM QUER O BRASIL, uma vez que o seu presidente ofendeu quase todos os interlocutores vizinhos, elogiando ditadores e violadores de direitos humanos, xingando candidatos que não combinam com sua filosofia de extrema-direita, e o seu chanceler recrudesceu estupidamente em cima do que disse o presidente, continuando a ofender os vizinhos.
SITUAÇÃO LAMENTÁVEL a de nossa posição atual na região, numa situação depreciada e até evitada pelos demais países da América do Sul. Vejamos um pouco mais.

1) Argentina: não existe diálogo com o próximo governo, e a cúpula do Mercosul será feita ANTES da posse do presidente Fernández, o que augura um péssimo começo para as relações bilaterais e para qualquer reforma do Mercosul, com baixa expectativa para que o acordo com a UE entre em vigor.
2) Uruguai: o candidato da direita fez com que o embaixador do Brasil fosse chamado na chancelaria para que lhe fosse entregue um recado direto ao presidente: “Não se meta em nossa eleição”.
3) Chile: ao elogiar Pinochet, e ofender o pai da ex-presidente Michelle Bachelet, atual Comissária de Direitos Humanos da ONU, o presidente obrigou o presidente Sebastian Piñera a se dissociar das grosserias proferidas pelo presidente brasileiro.
4) Bolívia: o presidente Bolsonaro e o seu chanceler acidental jamais serão convidados para desempenhar qualquer papel na atual crise nascida das últimas eleições no país, e o Brasil sempre foi, e poderia ser, um país tendente a uma solução negociada na situação atual, mas a parcialidade do governo brasileira torna impossível tal missão.
5) Peru: a crise deriva em grande medida da corrupção da Odebrecht no país vizinho, e havia uma grande cooperação jurídica entre os dois países. Aparentemente, essa cooperação está prejudicada pela confusão institucional nos dois países.
6) Colômbia: a despeito de ter um governo de direita, o governo da Colômbia não parece demonstrar nenhuma disposição para qualquer coordenação com o Brasil no encaminhamento dos problemas atuais, em especial na longa crise venezuelana.
7) Equador: a crise no país parece estar terminando, mas tampouco o Brasil teria um papel significativo na profunda crise que ocorreu, e ainda não foi inteiramente superada, no país andino, com o qual o Brasil já teve excelentes relações.
8) Venezuela: desde o dia 1ro de janeiro, por equívocos lamentáveis do chanceler e seus mestres aloprados, não existe qualquer diálogo com o governo de fato em Caracas, por erros de cálculo da diplomacia bolsonarista, por seguidismo idiota das iniciativas eleitoreiras do governo Trump – e seu ex-conselheiro expurgado John Bolton –, por outros erros monumentais dos mesmos aloprados em relação ao Grupo de Lima, e não parece haver perspectivas de que a situação melhore no futuro breve.
Concluindo: se o Brasil está isolado no mundo, e está, com exceção dessas ditaduras de direita apreciadas pelo presidente idem, o Brasil está ainda mais isolado no continente, pois, ao que parece, nenhum, absolutamente nenhum dos governos da região deseja ter o Brasil como interlocutor de confiança para exercer qualquer papel de bons ofícios nos atuais problemas que infelicitam a região.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9/11/2019

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.