Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 13 de novembro de 2010
Guerra Fria Economica (isso tambem faz parte da Era do Gelo)
Paulo Roberto de Almeida
O perigoso fracasso do G-20
Editorial - O Estado de S.Paulo, 13.11.2010
O fracasso da reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, aumenta o risco do jogo sujo no comércio internacional e de um prolongamento da crise. A desordem cambial, o assunto mais importante do encontro, continua sem solução. As moedas chinesa e americana - yuan e dólar - permanecerão depreciadas e sujeitas a maior desvalorização, porque as políticas serão mantidas nos dois países. Os demais, incluído o Brasil, continuarão pagando pelos desajustes globais.
Depois de dois dias de conversas e trocas de acusações, os chefes de governo reunidos em Seul emitiram um comunicado e vários documentos, num total de 90 páginas, sem um só compromisso importante além daqueles assumidos nas quatro conferências anteriores, desde novembro de 2008.
O lançamento de um Plano de Ação de Seul foi insuficiente para disfarçar o impasse em torno da questão mais premente. Os documentos contêm o compromisso de avançar para um sistema cambial de mercado. Todos prometem evitar a desvalorização competitiva, usada para baratear os produtos nacionais e encarecer os estrangeiros. A lembrança dos anos 30 do século passado, quando o protecionismo e a depreciação cambial derrubaram o comércio e afundaram o mundo na Depressão, continua viva. Mas a imagem das misérias de oito décadas atrás ainda é insuficiente para levar os governos das maiores economias a uma cooperação mais ampla.
Há cinco semanas, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, lamentou o enfraquecimento recente da cooperação. A pior fase da crise foi superada, como lembrou, porque os governos do G-20 agiram em conjunto para deter a quebradeira dos bancos e estimular a atividade.
Duas ou três vezes naquela semana a advertência foi repetida: a recuperação será retardada, se faltar a colaboração obtida nos primeiros encontros de cúpula do G-20. Não há solução isolada para a crise: esta frase foi um mantra na assembleia do FMI, mas as palavras parecem ter perdido o poder de acicatar consciências.
A experiência da cooperação, durante dois anos é mencionada nos oito primeiros parágrafos do comunicado final. A rememoração é acompanhada de uma advertência. Ainda há riscos e “o crescimento desigual e os desequilíbrios cada vez mais amplos alimentam a tentação de abandonar as soluções globais e partir para ações descoordenadas”. O alerta se completa: ações desse tipo “só poderão levar às piores consequências para todos”.
Mas a maior parte dos compromissos é mera repetição - às vezes com algum acréscimo - de ações já combinadas. Os governos continuam prometendo planos confiáveis de ajuste fiscal de médio prazo. Devem agir porque a dívida pública no mundo rico está quase insustentável. Mas é preciso ter cuidado, porque as economias continuam dependentes de estímulos.
Houve avanço nas propostas para reforma do sistema financeiro, graças ao trabalho técnico de instituições multilaterais. Coube ao G-20 registrar a boa nova. Já se decidiu, também, como será a redistribuição de cotas e votos no FMI, com vantagens para as grandes economias emergentes. Mas nenhuma dessas mudanças contribuirá a curto prazo para a superação da crise.
Os líderes combinaram aprofundar o trabalho de avaliação conjunta de suas políticas. Haviam dado o passo inicial na reunião de Pittsburgh, em setembro de 2009. O FMI, responsável pelo trabalho técnico, já apresentou o primeiro relatório, mostrando com números como será prejudicial um afrouxamento da cooperação. Revestido de equações, o mantra da coordenação parece ainda mais convincente.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, tomará posse num ambiente global muito menos propício que o dos primeiros seis anos da gestão petista. Deverá esforçar-se, como já prometeu, para atenuar os efeitos do problema cambial e das más condições externas.
Será prudente se combinar suas ações com a manutenção do câmbio flexível - cuidado também já prometido. Obterá resultados mais seguros e duradouros se cuidar amplamente do problema da competitividade, sem se preocupar só com o câmbio.
A Era do Gelo, 5: congelando leituras, esquecendo os titulos...
Pronto, alguém assoprou e ela conseguiu se "lembrar". Sinto, mas eu não me lembro que livro era.
Agora, a repórter não se lembrou de perguntar quais eram os três livros que a presidenta eleita estava, não lendo, mas carregando consigo (não sei se na bagagem de mão ou na despachada). Deve ser leitura por osmose...
Vou lembrar dos três livros que também carrego comigo em viagem...
Eu destaco, abaixo, apenas porque gosto de livros, e destaco que a presidente sempre viaja com três, além do iPad, que comporta mais 3 mil...
Paulo Roberto de Almeida
Nas nuvens com Dilma
Catia Seabra
Folhapress, 13.11.2010
Presidente eleita diz não ter medo de avião, confidencia que usa um "remedinho francês" para dormir e sempre viaja com 3 livros na bagagem
Dilma Rousseff não viaja se não tiver três livros na bagagem. Diz não sentir mais medo de voar e confidencia que recorre a um "remedinho francês" para insônia.
Mal entra no voo da TAM com destino a Frankfurt, a presidente eleita vai para o banheiro da cabine reservada à primeira classe, onde tira as lentes de contato, calça um par de meias verdes e veste o pijama marrom ofertado pela companhia aérea.
A Folha viajou ao lado de Dilma durante as 11 horas de voo entre Brasil e Alemanha. Dilma conversou sobre meditação e livros, aceitou posar para fotos, mas fez um pedido: "Não vá tirar uma foto minha dormindo. Todo mundo baba enquanto dorme".
(...)
Dilma dormiu durante 7 das 11 horas. Para que tivesse privacidade, improvisou-se uma cortina de madrugada.
Ela promete dedicar mais que os atuais 40 minutos à meditação transcendental, que consiste na reprodução mental de um mantra. "Para mim, é um mergulho. É muito importante", diz a presidente eleita, antes de uma breve pausa. "Corpo: esporte e caminhada. Para a cabeça, o mergulho", prossegue.
(...)
Na bagagem, carrega um iPad (computador portátil da Apple) e três livros. "Se eu não tiver três livros, sei lá. Não fico bem", afirma.
Dilma enaltece autores angolanos, rasga elogios ao belga Georges Simenon e admite que dormiu na segunda página de um de livro do mexicano Carlos Fuentes.
(...)
Ela mesma arruma a bagagem. Aberta sobre o assento, a mala expõe detalhes da presidente: além dos livros, cremes e maquiagem.
A Era do Gelo, 4: em busca da noz salvadora
Amigo da onça, ou amigo urso...
Prefiro o simpático esquilo da história...
Paulo Roberto de Almeida
Dilma terá “papel determinante” para paz regional, dizem Farc
O maior grupo guerrilheiro colombiano, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), afirmou que a presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, terá um “papel determinante” para a conquista da paz regional e para promover a integração regional.
As Farc cumprimentaram a presidente eleita por sua vitória e, em comunicado, destacaram que “sua pública convicção (de) uma saída política para o conflito interno” colombiano “catapultou nossa esperança na possibilidade de alcançar a paz pela via do diálogo e justiça social”.
“Estamos confiantes que a nova presidência do Brasil jogará um papel determinante na viabilização da paz regional e da irmandade dos povos do continente”, afirma um comunicado assinado pelo Secretariado do Estado-Maior das Farc, máxima instância do grupo, e divulgado nesta sexta-feira pela agência Anncol.
No comunicado, a guerrilha voltou pedir para a Unasul considerar sua “carta aberta” emitida em agosto, quando as Farc pediram ao bloco sul-americano que convocasse uma assembleia extraordinária para que seus membros pudessem expor sua visão do conflito armado colombiano.
Na ocasião, o governo de Juan Manuel Santos criticou a iniciativa e disse que não aceitará intermediários para resolver o conflito armado colombiano. Seguindo a linha de seu antecessor, o ex-presidente Álvaro Uribe, Santos aposta na saída militar e não negociada para o conflito.
Desde que chegou ao poder, Santos tem afirmado que as portas para o diálogo “não estão fechadas com chave”, porém, exige que as guerrilhas ofereçam provas de que querem acabar com o conflito, como por exemplo, propondo a desmobilização de seus grupos armados para que sejam julgados pela Justiça.
Essa oferta de rendição é rejeitada pela guerrilha.
Kirchner
Em outro comunicado, também divulgado nesta sexta-feira, as Farc expressam “solidariedade e condolências” pela morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner, que faleceu em 28 de outubro.
As Farc agradecem a participação de Kirchner no processo de negociação para promover a libertação unilateral de reféns da guerrilha em 2007.
Kirchner participou da missão humanitária liderada pela Venezuela para libertar a ex-candidata a vice-presidente Clara Rojas e a senadora Consuelo González de Perdomo.
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Íntegra da carta das Farc à companheira Dilma Roussef
As Farc saúdam a eleição de Dilma para a Presidência do Brasil
Compatriota Dilma Rousseff, presidente eleita do Brasil,
Daqui, das montanhas da Colômbia, nossa cordial saudação, bolivariana, com o anseio de Pátria Grande.
Permita-nos aderir à justificada alegria do grande povo de Luís Carlos Prestes pelo feito relevante de ter, pela primeira vez na história do Brasil, uma presidenta, uma mulher ligada desde sempre à luta por justiça.
Presidenta Dilma, para você, nosso aplauso e reconhecimento.
Sua ascensão à Presidência da República Federativa, somada à sua pública convicção da necessidade de uma saída política para o conflito interno da Colômbia, centuplicou nossa esperança na possibilidade de alcançar a paz pela via do diálogo e da justiça social.
Estamos certos de que a nova Presidência do Brasil terá papel determinante na construção da paz regional e na fraternidade dos povos do continente.
Atenciosamente,
Secretariado do Estado Maior das Farc
Pausa para... uma aula de historia medieval - Jacques Le Goff sobre J. Huizinga
Outono da Idade Média, obra de Huizinga, chega ao País
Para discuti-la, o 'Estado' reuniu o francês Jacques Le Goff e o brasileiro Hilário Franco Júnior
Andrei Netto
O Estado de S. Paulo, 30 de outubro de 2010
Desde o Renascimento e, mais tarde, o Iluminismo, em línguas europeias como o português, o inglês ou o francês, os vocábulos "medieval" e "moderno", além de definirem duas eras distintas da História, designam uma dicotomia: de um lado, as trevas, o ultrapassado, o atraso; de outro, as luzes, o atual, o progresso. Essa visão de mundo, decretada por humanistas do século 16 e reforçada por filósofos do século 18, trazia embutida a ideia de que, ao deixar a Idade Média, seus valores e seus princípios, a Humanidade alcançava a passarela para um futuro mais justo, democrático e legítimo: a Idade Moderna.
Jacques Le Goff: historiador é reconhecido como o maior medievalista vivo
Essa visão dos "medievalismos", cujos fragmentos de preconceito ainda perduram, começou a ser desconstruída pelas mãos do historiador americano Charles Haskins, autor de The Renaissance of the Twelfth Century, de 1927.
Antes dele, porém, outro especialista em história medieval, o holandês Johan Huizinga (1872-1945), já havia traçado em cores a vida, os valores, os hábitos e as emoções naquele período em seu clássico O Outono da Idade Média, que chega na íntegra às livrarias brasileiras, traduzida diretamente de seu idioma original.
Uma das virtudes tácitas de Huizinga em sua obra-prima é sua habilidade de relativizar as "certezas". Virtuoso de sua disciplina, o autor reconhecia as contradições da História, que ajudam, por exemplo, a entender o dualismo medieval-moderno. "É bem verdade que cada época deixa mais rastros de sofrimento do que de felicidade. Suas desgraças se tornam sua história", ponderou. No mesmo trecho, Huizinga apela à convicção "talvez instintiva" para elaborar uma equação: a soma de paz e felicidade destinadas às pessoas não pode variar muito de uma época à outra. "O brilho do final da Idade Média também não passou despercebido: ele sobreviveu na canção popular, na música, nos horizontes quietos da pintura de paisagem e nos rostos sóbrios dos retratos", escreveu, em seu tom romântico e subjetivo.
Raros são os livros de História que se tornam história, assim como poucos são os historiadores lembrados pela posteridade. Esse é o caso de Huizinga e de sua obra-prima.
Publicado em 1919, O Outono da Idade Média (Herfsttij der Middeleeuwen) derrubou as fronteiras que outros pesquisadores haviam construído entre a Idade Média tardia e o Renascimento. Para o holandês, a transição vivida no século 15, um ponto de virada da civilização ocidental, foi muito mais fluida do que supúnhamos. A Idade Média era, sim, um período de fome, doenças, miséria, ódio, mas não apenas isso. Era também tempo de prazeres, de ideais, de arte e de amor.
Para explorar os meandros, as sutilezas, os erros e acertos da obra de Huizinga, o Sabático – que na quarta-feira, em parceria com a editora do livro, a Cosac Naify, promoveu um debate na Universidade de São Paulo com os professores Lorenzo Mammì, Marcelo Cândido da Silva e Tereza Aline Pereira de Queiroz –, propôs um encontro, por assim dizer, histórico. Em Paris, o caderno reuniu o historiador francês Jacques Le Goff, 86 anos, considerado o maior especialista do mundo sobre o tema, e seu ex-orientando brasileiro, o ex-professor da USP Hilário Franco Júnior, de 61 anos. No encontro, realizado no escritório do acadêmico francês, em sua casa, no 19.º distrito parisiense, Le Goff saudou a adoção do título O Outono..., e não o da primeira versão francesa da obra, denominada O Declínio da Idade Média. "Essa é uma leitura estúpida do livro", ressaltou em diferentes momentos.
Johan Huizinga
Admiradores de Huizinga, Le Goff e Hilário travaram um diálogo fascinante e revelador sobre o autor, morto em De Steeg em 1945, durante a ocupação nazista da Holanda. A seguir, a síntese do encontro, marcado pela amizade – e pelo reconhecimento intelectual mútuo.
Hilário Franco Júnior – O Outono da Idade Média desenhado por Huizinga é tão magnífico que permitiu a Philippe Wolff tentar transformar o outono em primavera. Este é o nome de um livro de 1986: O Outono da Idade Média ou a Primavera de Tempos Novos. O que eu gostaria de saber é: o fim da Idade Média, segundo Huizinga, é realmente um outono ou é uma primavera?
Jacques Le Goff – Você, como historiador, sabe que mesmo que a História só possa ser construída a partir de documentos, baseada em pilares os mais sólidos possíveis, ela é aberta, e à medida que o tempo passa, as interpretações podem variar bastante. O Outono da Idade Média de Huizinga é um livro tão interessante que passado quase um século ele continua a ser lido, traduzido e se presta a novas interpretações. É preciso dizer que o período ao qual o livro se dedica, digamos um longo século 15, talvez também seja um dos mais mal estudados na Europa, e por isso ainda há novas descobertas e interpretações. Há uma exposição em cartaz hoje, no Grand Palais, com o título France Quinze Cent, que mostra como esse período foi uma mistura do apogeu da Idade Média e de afirmação do Renascimento. Eu creio que este seja o caso de uma virada histórica que não se parece com nenhum outro, porque se trata de um belo outono. A tradução francesa antiga era uma tradução estúpida ao se referir ao declínio da Idade Média.
No entanto, Huizinga compartilhava com muitas pessoas cultas da Europa do início do século 20 a ideia de que a Idade Média acabava no fim do século 15, um período marcado pela tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, com a tomada de Granada e com a reunificação de toda a Península Ibérica pelos reis católicos, que haviam caçado os muçulmanos, e, sobretudo, pela descoberta da América de Cristóvão Colombo, que produziu o que poderíamos chamar de primeira globalização da história. Mas eu me pergunto se o nosso conhecimento desse período e nossas interpretações não mudaram um pouco.
No que me diz respeito, eu fui voluntariamente provocador ao falar de uma longa Idade Média que se prolongou até o século 18. Continuo a pensar que há uma certa verdade na ideia de que a Idade Média vai até o fim do século 18, se observamos aspectos essenciais, como a fome, as pestes, a indústria – a economia capitalista do século 18 é uma grande virada. O que ocorre é que, na verdade, nós voltamos à visão de Huizinga, continuando ou retomando a ideia de que do fim do século 15 ao século 16 acontece um certo número de mudanças profundas, dentre as quais a descoberta da América, a Reforma na Europa. Realmente há algo de novo no século 16. Mas o que me parece novo é que, mesmo que consideremos que o fim da Idade Média acontece no fim do século 15, ela não era decadente, não era triste, mas sim soberba, até exagerada. Vemos isso com os pintores flamengos e com a riqueza econômica das cidades flamengas e italianas, em particular Veneza, antes da descoberta da América, ou na moda da época, às vezes extraordinária.
Vejo hoje um retorno a Huizinga. De outro lado, ele soube no início do século 20 fazer viver a história que ele escrevia com qualidades, dons, procedimentos que não eram nada correntes na História. Em seu livro, Huizinga se mostra o precursor de um novo tipo de História que está em pleno desenvolvimento hoje, a história das emoções, a história das paixões, lançada há cerca de 20 anos pela historiadora americana Barbara Rosenwein. E isso é O Outono da Idade Média.
Franco Júnior – Como o senhor explica a pequena posteridade do livro de Huizinga? Seria em razão de uma certa instintividade que ele explora e que é mal compreendida por certos historiadores, que se consideram grandes cientistas e que veem grandes leis históricas, ou coisas do gênero?
Le Goff – Eu creio que, na realidade, a posteridade de Huizinga foi contida em grande parte pelo nascimento e pelo desenvolvimento de uma forma de fazer a História que alcançou grande posteridade, que é a Escola dos Annales. Mas, ao contrário do que possamos pensar, a história dos Annales é sobretudo uma história econômica e social, diferente do Outono da Idade Média. De qualquer forma, acho que o sucesso dos Annales contribuiu muito para bloquear a influência de Huizinga.
Franco Júnior – Deixe-me perguntar algo mais pessoal: o senhor falava há pouco de uma longa Idade Média. O senhor se sente um pouco tributário de Huizinga, desta visão de longo termo?
Le Goff – Sim, absolutamente. Não apenas de sua visão de longa duração, mas também da ideia de alargar o domínio da História. A meu ver, entre os grandes méritos de Huizinga estava procurar fontes às quais os historiadores não se interessavam muito, seja na arte, na literatura, nos costumes. Além disso, há no Outono da Idade Média uma busca da época no coração dos homens e mulheres e um olhar muito compreensivo sobre o "parecer". Essa combinação da busca do íntimo e da procura do "parecer" me soa avançada em relação ao momento mais ambicioso do início da Escola dos Annales – algo que ela não conseguiu completar porque traçar a história universal é um objetivo utópico.
Franco Júnior – Conceitos como representação, sistema de valores, temas como o corpo, a morte, as emoções, etc., tudo está presente em Huizinga. De certa forma, tudo prenunciava a Antropologia Histórica, que o senhor desenvolveu nos anos 70.
Le Goff – Sim. E isso me permite reconhecer minha dívida em relação a Huizinga, pelas pesquisas que fiz nesse sentido, em particular sobre o corpo e as imagens. No tema das imagens tive uma grande receptividade, porque um grupo de jovens historiadores o retomou e o desenvolveu, em particular sob a direção de Jean-Claude Schmitt, Jean-Claude Bonne, de Jérôme Baschet, na França, e também na Alemanha, com Hanz Belting. (Erwin) Panofsky também pode ser incluído. Houve um esforço, do qual participei, para alargar as fontes e o domínio da História, em particular em direção ao corpo e à exploração da imagem, que são diferentes da História da Arte tradicional.
Franco Júnior – Mas há uma diferença entre a forma com que Huizinga fazia a história das imagens, das representações, e a forma como a Escola dos Annales o fazia. Qual seria essa diferença essencial?
Le Goff – Eu creio que, apesar de seu charme, o livro de Huizinga é subjetivo demais. Podemos fazer uma história dos sentimentos, mas não podemos fazer História com sentimentos. Creio que a história das imagens desenvolvida a partir da Escola dos Annales era mais próxima das fontes, com métodos de análise mais científicos em relação às práticas de Huizinga, que eram mais literárias do que científicas, ao menos em relação ao tipo de ciência que é a História.
Franco Júnior – Sua ressalva sobre a história emocional das emoções me leva a outra questão: no prefácio da primeira edição, Huizinga diz que escrever o livro foi como "observar o profundo de um céu noturno, um céu vermelho como o sangue, pesado e desértico de um cinza chumbo ameaçador. O quadro que eu tracei é mais sombrio e menos sereno do que o que eu entrevi quando comecei a trabalhar". Minha questão é: esse quadro mais sombrio é um reflexo dos séculos 14 e 15, ou da Grande Guerra, que recém-acabava e que estava presente no espírito de Huizinga?
Le Goff – Eu acredito que seja a segunda hipótese, até porque não é assim que vemos o século 14 e o século 15. Eu insisti, talvez até um pouco demais, no lado subjetivo da obra de Huizinga. Mas não se deve esquecer que a subjetividade dos historiadores transparece um pouco frente ao horror, independente de qualquer esforço de se trabalhar cientificamente. Um dos primeiros historiadores, senão o primeiro historiador a ter acentuado a subjetividade de sua obra foi Jules Michelet, que foi uma fonte dos Annales. Muito do que Huizinga pôs em O Outono está em Michelet. Há uma outra tendência da História, da qual O Outono da Idade Média talvez seja uma produção tardia: é a veia romântica. A passagem que você acaba de ler é profundamente romântica.
Franco Júnior – Em um artigo de 1986, reproduzido na edição brasileira, Peter Burke, historiador inglês, diz que O Outono... é penetrado de nostalgia e pode ser considerado um caso de medievalismo romântico à maneira de Walter Scott e Gabriel Rossetti.
Le Goff – Devo admitir que em um momento dessa conversa eu pensei em Walter Scott. Ele é uma das minhas grandes fontes de pesquisa como historiador da Idade Média e é alguém que me aproxima de Huizinga. Mas para diversos historiadores o livro de Huizinga foi um verdadeiro pioneiro em um domínio que precisa continuar a ser explorado: o da História dos valores e dos sistemas de valores. O que satisfaz, faz chorar e viver as pessoas de uma época? Esse é um domínio que ainda não produziu toda a sua riqueza. A meu ver, por muito tempo, entre 1850 e 1930, a História ficou bloqueada pela história das ideias, além, é claro, da história tradicional. Sem os outros domínios, os homens perdem suas carnes. Aliás, eis uma palavra que convém a Huizinga: há carne no Outono da Idade Média.
Franco Júnior – Mas carne viva ou morta? Porque Huizinga revela uma certa obsessão pela morte, pela história da morte...
Le Goff – Há, sem dúvida, uma certa obsessão pela morte em O Outono da Idade Média, o que tem várias fontes. Antes de mais nada, a morte é um dos valores do século 15, que foi, por exemplo, o século das danças macabras. Outra prova da fascinação de Huizinga pela morte é o seu romantismo. E outra fonte de influência é o que você citou, a Guerra de 1914-1918, na qual a Holanda foi uma das vítimas.
Franco Júnior – Por duas vezes em sua entrevista de 1975, o senhor ressaltou a semelhança entre Huizinga e Lucien Febvre. Eu me pergunto se não poderíamos fazer o mesmo em relação a Marc Bloch. Digo isso porque o subtítulo de O Outono da Idade Média é Estudo Sobre as Formas de Vida e de Pensamento, o que me lembra o célebre capítulo de A Sociedade Feudal, A Condição de Vida e a Atmosfera Mental. É possível aproximar Huizinga e Bloch? Huizinga havia lido Bloch?
Le Goff – Estou mais ou menos certo que sim. Não tenho lembranças claras, para ser sincero, mas sei que me preocupei com esse assunto, e cheguei à conclusão de que Bloch teria lido Huizinga. E eu penso que, mesmo que Lucien Febvre tenha sido mais próximo da mentalidade, da sensibilidade de Huizinga, Marc Bloch também pode ter sido influenciado, ainda que com uma certa distância. Por exemplo, esse capítulo da Sociedade Feudal, que citamos frequentemente e que foi um dos grandes trechos deste livro, não era o tema que mais o interessava.
Franco Júnior – Ah, não? Isso me surpreende...
Le Goff – O que interessava a Marc Bloch era antes de mais nada a história econômica, a história social e, eu diria, a história da mitologia. Eu acredito que qualquer que fosse o parentesco e a influência de Huizinga sobre a Escola dos Annales e sobre seus fundadores, Lucien Febvre e Marc Bloch, os Annales deram à pesquisa histórica na Europa e na França direções que os afastavam de Huizinga. E creio que esse tenha sido um fator que bloqueou, em maior ou menor proporção, a difusão do trabalho de Huizinga.
Franco Júnior – Muito interessante... Na sua entrevista, o senhor diz que O Outono da Idade Média é um livro poético e que sua poesia expressa ao mesmo tempo sua grandeza e seu limite. Nós já discutimos esse ponto. Mas, no que diz respeito aos limites de Huizinga, no fim da Idade Média havia uma forte necessidade de dar formas ao sagrado. Mesmo fazer amor era algo sagrado. Ainda assim, Huizinga dá muito pouca atenção às sensibilidades hereges, em um momento em que a Holanda era marcada por esse sentimento. A meu ver é uma das fraquezas deste livro. Qual o porquê desse desprezo?
Le Goff – Para ser franco, é algo que eu nunca me questionei, e por isso vou improvisar. Falamos bastante que é necessário conservar o título original do livro, que é o "outono", e não o "declínio". É um belo outono ensolarado. No entanto, para um protestante, é o fim de um mundo. Talvez Huizinga não tenha querido misturar em seu livro aquilo que seria o fermento de uma modernidade. As heresias, à medida que anunciavam a Reforma, referiam-se ao período posterior àquele que Huizinga queria mostrar. Mesmo que eu não aceite a tradução "declínio", tenho de admitir que Huizinga quer oferecer à Idade Média um bom túmulo. E talvez ele não tenha querido misturar o assunto.
Franco Júnior – É possível. Para encerrar, eu me permitiria fazer uma pequena provocação. O senhor me afirmou certa vez que a obra de um historiador não sobrevive a si próprio mais de 50 anos. Se Huizinga morreu em 1945, a provocação é: O Outono da Idade Média está morto?
Le Goff – Quando disse isso, devo tê-lo feito por duas razões. A primeira, que eu me referia a uma espécie de média. As obras de História, em sua maioria, sobrevivem, têm alguma influência e nos permite interpretar os fatos de outra maneira, o que as diferencia das obras mortas. Os 50 anos, eu diria, é mais ou menos o prazo de validade correto. De outro lado, eu confesso que não suporto os historiadores que evocam um tal limite como uma espécie de conjuração, na esperança de que a própria História lhes desminta. No fundo, eles esperam que ao menos uma parte de suas obras supere esse limite, que aliás não é absoluto.
Veja também:
'A Figura da Morte em Dante', um inédito de Huizinga
'Renascença e Realismo', outro inédito do escritor
Pausa para... uma palestra perfeitamente inutil...
Ciclo de Debates do Grupo de Estudos sobre Multiculturalismo, da UnB, um convite para uma palestra a ser realizada em 17/11/2010, no Ceppac, que é um Centro de Estudos de políticas para a América Latina e o Caribe (ou seja, algo aparentemente relevante e existente)
A palestra é sobre:
"A dialética global / local para além dos paradigmas de homogeneização e resistência"
Palestrante: Prof. Dr. Xxxxxx Xxxxx Xxxx (suprimo o nome para evitar constrangimentos)
Apenas transcrevo a ementa da palestra, como provavelmente o palestrante a redigiu, he himself, como diriam nos Isteites:
Esse debate tem como objetivo problematizar estudos sobre a disseminação de culturas globais centrados na noção de centro-periferia e homogeneização e resistência, com base em estudo etnográfico comparativo entre países “desenvolvidos” (EUA) e em “desenvolvimento” (Brasil). A reflexão apresentada explora as contradições internas do capitalismo contemporâneo para evidenciar como processos de produção e de impacto de formações culturais globais são componentes de um diálogo da tensão dialética contínua local-global.
Não é edificante?
PS: Eu me pergunto até onde vai o besteirol universitário e quão rapidamente caminhamos para a mediocrização completa da academia no Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
Pausa para... uma proposta perfeitamente inutil...
Criado na década de 70 no Butão, o indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB) surgiu como uma alternativa ao Produto Interno Bruno (PIB) no cálculo de desenvolvimento de uma nação. O conceito engloba nove pilares: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, saúde eficiente, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico.
O senador Cristovam Buarque acha que colocando a busca da felicidade entre as normas constitucionais fará com que os brasileiros se sintam mais felizes, sabendo que a Constituição vela por essa conquista importantíssima na vida de cada um de nós.
Não é edificante?
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
A Era do Gelo, 3: politica diplomatica do governo
Amorim é desconvidado a acompanhar Lula no G20
Clóvis Rossi
Folha de S.Paulo, 12.11.2010
O ministro Celso Amorim foi desconvidado pelo Palácio do Planalto a participar da cúpula do G20 em Seul. O compromisso estava registrado na agenda do chanceler e sua reserva no Imperial Palace, hotel no qual ficou toda a comitiva, também já estava providenciada, quando um telefonema do cerimonial do Planalto à sua secretaria privada o avisou que ele não precisaria ir. O aviso criou grande mal-estar, ainda mais porque Amorim acompanhou o presidente na primeira etapa da viagem, até Moçambique.
O constrangimento só aumenta quando se compara a agenda de Lula com a do chanceler que o acompanhou nos oito anos de governo, ajudou a dar projeção internacional ao presidente e até filiou-se ao PT. Enquanto Lula despede-se da cena global na Coreia, reunido com os principais governantes mundiais no G20, Amorim está na República Democrática do Congo. A nota em que o Itamaraty anuncia a visita do chanceler ao país africano como “a primeira de um chanceler brasileiro desde 1972″ relata também que o intercâmbio comercial entre os dois países, até setembro, atingia inexpressivos US$ 41,68 milhões.
A lógica indica que o desconvite a Amorim para Seul é também o desconvite para que ele continue no Ministério de Relações Exteriores. A presidente eleita Dilma Rousseff acompanha Lula, e seria natural que, se houvesse intenção de mantê-lo, Amorim estivesse presente na apresentação internacional da futura presidente. O que não fica claro é se o desconvite implica também desgaste para o vice-chanceler Antonio Patriota, o único outro nome até agora mencionado nas especulações sobre o comando do Itamaraty, além do de Amorim. Patriota, secretário-geral do Itamaraty, é intimamente ligado a Amorim, que o promoveu, muito jovem, ao posto mais importante da diplomacia no exterior, a embaixada em Washington.
A Era do Gelo, 2: politica bancaria do governo
Da coluna diária do jornalista gaúcho Políbio Braga (12.11.2010):
Lula salvou os Ermírio de Moraes e Silvio Santos. Devia ?
O governo Lula vai marcando o seu governo por um Proes que tem vergonha de usar o nome de Proes.
. Parodiando Dorian Gray, mas em versão brega, local, indecente, o governo Lula fez o Banco do Brasil salvar os Ermírio de Morais, ao mandar o Banco do Brasil comprar 49% do Banco Votorantim, tornando-se sócio dos magnatas de São Paulo. Agora repetiu a dose, ao salvar Silvio Santos, mandando a Caixa Federal comprar 49% do Banco PanAmericano.
. Os dois bancos paulistas estavam bichados. A quebra de nenhum deles produziria risco sistêmico.
. O editor quer saber por que razão o Congresso, o MPF, a CVM e o TCU deixam de investigar o que está acontecendo, sem desprezo pela análise da moralidade e da oportunidade dos negócios.
A Era do Gelo, 1: politica cambial do governo
O que acontece com o esquilo e sua noz, eu não sei. Talvez em algum Era do Gelo 24, o coitado do esquilo consiga comer a sua noz. Até lá permaneceremos na dúvida.
Bem, isso para dizer que o pronunciamento da presidenta eleita sobre a política cambial do governo me parece tão incerto quanto o destino do esquilo e sua noz, ou o destino da noz e o esquilo que vai atraz, ou ambos, whatever...
Se alguém puder me explicar qual é a política cambial do governo a partir dessas palavras da presidenta eleita, entrevista no Jornal Nacional, eu agradeço.
Até hoje estou tentando entender...
Paulo Roberto de Almeida
[Pergunta de William Bonner sobre política cambial]
Dilma: Eu acredito que a gente não pode correr o risco de querer menosprezar… Eu te diria assim: eu acho que o câmbio é flutuante. No entanto, indícios de que há hoje no mundo uma guerra cambial são muito fortes. Acho que tem moedas subvalorizadas. Eu acredito que uma das coisas importantes são as reuniões multilaterais em que fique claro que nós, por exemplo, iremos usar de todas as armas para impedir o dumping, a política de preços que prejudica as indústrias brasileiras, e vou olhar com muito cuidado, porque não acredito que manipular câmbio resolva coisa alguma. Nós temos uma péssima experiência disso.
Confesso que não entendi...
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Dia 11 de novembro na Historia: armisticio na Grande Guerra...
Armistice Day
November 11th was originally called Armistice Day because it was on this day in 1918 that the First World War came to an end. The armistice was signed at 11:00 a.m. on the 11th hour of the 11th day of the 11th month of the year. After four years of brutal trench fighting, 9 million soldiers had died and 21 million were wounded. It was called "The War to End All Wars" because it was the bloodiest war in history up to that point, and it made many people so sick of war that they hoped no war would ever break out again.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Pausa para uma boa musica: Renato Russo - Strani Amori
Renato Russo
(link to Last FM)
Mi dispiace devo andare via
Ma sapevo che era una bugia
Quanto tempo perso dietro a lui
Che promette e poi non cambia mai
Strani amori mettono nei guai
Ma, in realtà, siamo noi
E lo aspetti ad un telefono
Litigando che sei libero
con il cuore nello stomaco
Un gomitolo nell'angolo
Lì da solo, dentro un brivido
Ma perché lui non c'è
E sono strani amori che
Fanno crescere e sorridere
Tra le lacrime
Quante pagine lì da scrivere
Sogni e lividi da dividere
Sono amori che spesso a questa età
Si confondono dentro a quest'anima
Che si interroga senza decidere
Se è un amore che va per noi
E quante notte perse a piangere
Rileggendo quelle lettere
Che non riesci più a buttare via
Dal labirinto della nostalgia
Grandi amori che finiscono
Ma perché restano nel cuore
Strani amori che vanno e vengono
Nei pensieri che lì nascondono
Storie vere che ci appartengono
Ma si lasciano come noi
Strani amori fragili
Prigionieri, liberi
Strani amori mettono nei guai
Ma, in realtà, siamo noi
Strani amori fragili
Prigionieri, liberi
Strani amori che non sanno vivere
E si perdono dentro noi
Mi dispiace devo andare via
Questa volta l'ho promesso a me
Perché ho voglia di un amore vero
Senza te
Ouro, a reliquia barbara, segundo Keynes... e Roubini
Não existe moeda perfeita, ou estável, ou que reflita o verdadeiro "valor" das coisas. Seria preciso primeiro definir o que seja valor, algo eminentemente subjetivo...
Agrego um último comentário ao que disse Nouriel Roubini, mais abaixo:
"When you had a traditional gold standard, boom and bust with severe swings in economic activity were the norm-really big ones. It was only once we moved to fiat money that central banks were able to smooth the business cycle, and make it less volatile, as we did during the financial economic crisis."
Pois é, o padrão ouro deixa os ciclos mais duros e intratáveis. Mas essa confiança nos "Lords of Finance" -- faço aqui referência ao livro de Liaquat Ahmad, sobre os banqueiros centrais que mandavam no mundo dos anos 1920 -- me parece totalmente sem sentido também: essa coisa de que os bancos centrais podem "amolecer" os ciclos econômicos acaba redundando no que se viu em 1929 e em 2007: uma bolha financeira -- pode ser imobiliária ou de bolsa, também -- estourando e provocando uma crise de proporções monumentais. O Alan Greenspan que era saudado como "salvador do mundo" em 1997-98 foi o mesmo que criou a bolha de 2007, ao deixar os juros lá embaixo durante muito tempo. Nesse sentido, esse "amolecimento" criou as condições para um novo desastre.
Acreditar que banqueiros centrais, dotados do poder de "fiat money", seja pessoas oniscientes e sempre atuando corretamente é de uma ingenuidade gritante para quem é economista (ou simples cidadão).
Fico por aqui.
Paulo Roberto de Almeida
Roubini: Here's Why a Gold Standard Won't Work
CNBC, Tuesday November 9, 2010, 1:23 pm EST
A gold standard would just make business cycles more extreme, according economist Nouriel Roubini.
What's more, a gold standard would make central banks unable to fight inflation or deflation, much less do anything to combat persistent unemployement, Roubini said in an interview with NetNet yesterday.
"A fixed exchange regime, even if it is not a gold standard... That world just doesn't work. Because in that world, monetary policy by definition instead of being countercyclical becomes procyclical," Roubini told NetNet. "Suppose you have a fixed exchange rate regime...It just exacerbates the business cycle."
Roubini asks us to imagine two countries: One that's growing very quickly, and one that's growing very slowly.
The economy that is growing quickly would tend to "overheat"-an economic phenomenon characterized by accelerated growth, inflation, and the potential for asset bubbles. In the economy that is growing more slowly, there would be a tendency toward deflationary pressure and recession. So, instead of having a central bank with the capacity to successfully counter-balance these tendencies, an economy fixed exchange rate regime is to continue to reinforce the existing negative trends in the business cycle, Roubini argues.
Although he is best known as an economist who challenges conventional views, Roubini pretty well lines-up the consensus view of mainstream economics on the gold standard or fixed exchange rate regimes: "You have the opposite of what any optimal rule about monetary policy will tell you."
The ranks of the gold standard advocates, which have long included many Austrian economists and others worried about central bank manipulation of the money supply, were seemingly joined this week by World Bank President Robert Zoellick. Hardcore gold standard folks, however, are skeptical of Zoellick.
Nouriel Roubini agrees with the skeptics. "In fairness to him [Zoellick], he was speaking about a wide variety of issues in the global economy... So it was not a proposal centered around going back to some modified gold standard," Roubini said.
Roubini seems to think a gold standard is a pretty awful idea. "There are many fundamental problems with any variant of a gold standard," he said.
A general summary of Roubini's position on the issue would likely begin by saying that, generally speaking, a fixed exchange rate regime or gold standard limits the flexibility and range of actions that central banks can take to improve a nation's economy in fundamental ways. (For example, in a fixed exchange rate regime, central banks have less ability to maximize employment, stimulate growth, and manage price stability.) And, as Roubini specifically pointed out to me, fixed rate regimes inhibit the ability of banks to provide lender of last resort support to an economy when necessary.
According to Roubini, there are other major feasibility issues with the proposals for a transition to a global gold standard. One of the principal problems with such proposals is the current level of central banks' gold reserves.
Roubini raises the following question: If you are on a gold standard, or modified gold standard, what do you do in the event of a bank run-if you don't have enough gold to fully back the currency? Roubini explains that most central banks in today's economy have far greater financial liabilities than gold in reserve. In fact, according to Roubini, in the case of most central banks today that ratio is about 40 or 50 to 1.
Of course, many who support a gold standard would say that limiting the ability of central banks to increase their leverage would be a benefit of adopting the gold standard.
Aside from the issue of central banks insufficient current gold reserves, there are the issues that historically plagued gold standard economies. One of the most intractable of those issues was the impact that the gold standard had on traditional business cycles.
Historically speaking, Roubini says, during the days of the gold standard economies were constantly imperiled by spasmodic cycles: "When you had a traditional gold standard, boom and bust with severe swings in economic activity were the norm-really big ones. It was only once we moved to fiat money that central banks were able to smooth the business cycle, and make it less volatile, as we did during the financial economic crisis."
Of course, this directly contradicts Austrian business cycle theory, which argues that boom-bust cycles are caused by central banks departing from the gold standard.
In short, Roubini views challenge the Austrian economists where they live: at the intersection of monetary policy and the business cycle.
We eagerly await the response. Over to you Ron Paul and the Mises Institute!
Gold is back, as desired as god...
Na verdade, o ouro não vai emergir como padrão num hipotético futuro reordenamento do sistema monetário internacional -- pois os governos não vão querer renunciar ao seu monopólio monetário e à faculdade de empurrar seus problemas para o distinto público pagador -- mas ele vai continuar a ser uma "defesa" -- deficiente como possa ser -- dos cidadãos em face dessa capacidade extratora e "depressora" de sua poupança por parte de governantes inescrupulosos.
O ouro, como qualquer outra commodity, vai suportar os acasos e incertezas das possibilidades produtivas -- sempre cambiantes, com a geografia e com a tecnologia -- e os bumps and booms dos mercados de futuros, onde vale mais a percepção dos jogadores do que os dados reais de oferta. Ele é, portanto, uma base instável para qualquer sistema monetário digno desse nome. Mas, à falta de outros ativos tangíveis mais credíveis, ele se apresenta como alternativa momentânea aos céticos e aos opositores do poder absoluto dos governos inflacionistas.
Ou seja, não partilho dessa crença que ele é "A Perfect Hedge", como colocado neste relatório feito para atrair investidores em ouro. Mas, se alguém tiver dinheiro sobrando e quiser especular um pouco, o ouro pode ser a oportunidade do momento.
Acredito, pessoalmente, que ele pode subir ainda até atingir 2 mil dólares. Depois, alguns "espertos" vão descobrir que não se pode fazer nada com o ouro, nem comer, nem ficar sentado em cima muito tempo, pois é duro e frio, e aí vai começar a retirada, ou a debandada, quando a bolha estourar. Alguns vão ganhar dinheiro, e os incautos, como sempre, vão perder.
Assim vai, assim é o mundo.
O ouro, por enquanto, é o novo deus. As good as gold, como dizem os americanos...
Paulo Roberto de Almeida
Gold: Back in the News …
By Bob Bauman JD
The Sovereign Investor, November 9, 2010
Dear Paulo Roberto,
No, I don’t mean because gold hit an all time high price yesterday, as gold futures smashed through the US $1,400 per-troy-ounce mark.
I am referring to the fact that the president of the World Bank, Robert Zoellick, wrote yesterday in a Financial Times article that leading world economies should consider “employing gold as an international reference point of market expectations about inflation, deflation and future currency values.”
Can This Gold Discovery Really Make You 17-Times Your Money?
2,478 miles northwest of Sydney... Buried beneath a remote Australian peninsula... Sits a massive 3.09 million ounce gold deposit...
That’s enough gold to make the junior mining company sitting on this “mother lode” $3.8 billion richer… And enough gold to push its market cap up 1,727%...
Investors who get in before word on this windfall gets out are poised to turn every $1,000 invested into $17,000.
Just go here for a brief presentation with full details…
Zoellick's argument was simple recognition of the current reality. No matter what the U.S. Federal Reserve or other fiat money issuers say, gold is being sought out as an alternative currency right now. Smart people have faith in gold and declining faith, if any at all, in the sinking U.S. dollar.
Gold is the “anti dollar” and that's why it is wildly popular now as a result. As Zoellick put it, “Although textbooks may view gold as the old money, markets are using gold as an alternative monetary asset today.”
If any proof is needed of that statement, gold closed at records last Friday and Thursday but the precious metal has scored 17 record highs in less than five weeks in September and October. The latest string of records came after the Federal Reserve’s decision to start another round of U.S. bond buying, pumping out an inflationary additional $600 billion over eight months.
The Gold Standard
When I served as a member of the U.S. House of Representatives I co-sponsored Rep. Phil Crane’s legislation that would have returned to the U.S. to at least a partial gold standard.
I have made my pro-gold views known in these pages on several occasions. You can go back and review my pro-gold thoughts if you wish.
Martin Wolf of the Financial Times correctly wrote a few days ago, before the new gold price high:
“It is not hard to understand the attractions of a gold standard. Money is a social convention. The advantage of a link to gold (or some other commodity) is that the value of money would apparently be free from manipulation by the government. The aim, then, would be to “de-politicize” money. The argument in favor of doing so is that in the long-run governments will always abuse the right to create money at will. Historical experience suggests that this is indeed the case.”
A Perfect Hedge
Think about it. Gold cannot be inflated by printing more. It cannot be devalued by government decree — as we have seen once again in the last few days, the free market dictates the price. And, unlike paper currency or investments in stocks and bonds, gold is an asset which doesn’t depend on anybody’s promise to repay.
Although gold has been mined for more than 6,000 years, only about 120,000 metric tons have been produced. Lump that together and it’s just enough for a cube measuring only 18 meters (about 55 feet) along each of its six sides. New gold mined each year totals less than 2,000 metric tons, about the size of the living room in a small modern house. Gold remains one of the scarcest, and most sought after metals on earth.
Time and again, gold has proven the successful hedge against devaluation of an investor’s national currency. It’s one of the few investments that survives, even thrives, during times of economic uncertainty.
Sovereign Society Favorite
For those who in recent years followed Sovereign Society repeated advice to buy gold, the investment has paid off handsomely.
With gold at record high prices and the world facing a prolonged period of economic turmoil, buying gold even now may be a good hedge against the future.
People who have known prolonged prosperity may not fully understand the historic implications of gold and its role when bad times arrive. Once those bad times arrive, (as they have now), gold again is being recognized as the one perennial investment that’s still "good as gold."
Bob Bauman, JD
Legal Counsel, The Sovereign Society
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Um socialista capitalista desiludido
Vocês escolhem:
Socialistas rachados
O candidato socialista ao Governo paulista, Paulo Skaf, reage duramente contra a posição do seu PSB em favor da recriação da CPMF, o Imposto do Cheque: promete lutar duramente contra mais esse imposto. Skaf, presidente da Fiesp, a Federação das Indústrias de São Paulo, foi um dos líderes do movimento que derrubou a CPMF e não aceita, por imposição política, trair suas posições.
Eu, PRA, acho esse "socialista" da FIESP uma figura patética...
Contas publicas: deterioracao conceitual e operacional
A situação, na verdade, pode ser muito pior do que imaginamos, como ressalta o ex-prefeito Cesar Maia em sua coluna diária, que ele chama de ex-Blog:
RESTOS A PAGAR? OU FRAUDE NA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA!
Cesar Maia, 9.11.2010
1. O Globo deste domingo deu destaque de capa à matéria que mostrava que Lula estaria deixando para Dilma 50 bilhões de reais de restos a pagar, sugerindo despesas realizadas e não pagas. Bem..., se fosse assim até seria melhor. Mas é muito mais grave.
2. Os Restos a Pagar são subdivididos em Restos a Pagar Processados e Restos a Pagar Não Processados. Os RP Processados são despesas que já estão em execução. O empenho das despesas, além de autorizado, foi executado, mesmo que ainda não liquidada a despesa, ou seja, não recebido o material, não paga ainda, mas já medida a etapa da obra, o serviço realizado foi comprovado, mas ainda não pago, etc.
3. Os RP Não Processados são autorizações orçamentárias que apesar de terem sido empenhadas, nenhum procedimento de execução foi iniciado: não foi licitado, não foi contratado, não foi comprado, nada... O que cabe aos governos é cancelar os RP Não Processados, deixando eventualmente algum RP Não Processado cuja despesa já estaria em processo, mesmo que não concluído. Quem sabe uns 10%.
4. A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe totalmente RP Não Processados para Despesas Correntes, mas abre a possibilidade no caso de obras e investimentos em andamento. No entanto, os espertos têm licitado um valor pequeno de uma obra ou investimento grande e com isso o empenho de quase toda a obra não iniciada -sequer licitada- vai com uma cobertura de legalidade. Mas é -no caso- uma fraude.
5. Os governos incham ao máximo os RP Não Processados para abrir o orçamento do ano seguinte, agregando este valor de RP Não Processados ao novo orçamento, ao orçamento do ano seguinte. É uma espécie de suplementação ao orçamento seguinte a partir de uma autorização dada para o orçamento anterior.
6. Em 31 de dezembro de 2009, foi inscrito no Orçamento de 2010 o valor de 14,8 bilhões de reais de RP Não Processados de 2008. É isso mesmo, de 2008 que passaram para o orçamento de 2009 ficaram de "reserva orçamentária" e relançados no orçamento de 2010. E de 2009, foram inscritos em RP Não Processados 30,8 bilhões de reais. Total 45,6 bilhões de reais.
7. Neste momento são 24,8 bilhões de RP Não Processados de 2009 que estão ainda abrindo o orçamento e 21,9 bilhões de 2010 (claro, sem levar em conta empenhos executados até início de dezembro, o que não mudará quase nada o quadro).
8. Portanto, é mais grave que gastar e deixar para o próximo governo. É não gastar e deixar para o próximo -ano ou governo-, um orçamento ampliado, dir-se-ia fraudado, sem autorização legislativa. Provavelmente, o atual governo federal vai ampliar mais tudo o que puder, os RP Não Processados, para deixar um orçamento ainda mais livre ao próximo governo. Basta lembrar o balanço do PAC.
9. Para comparar procedimentos, em 31 de dezembro de 2008, a Prefeitura do RIO registrou 351 milhões de reais de RP Processados e apenas 300 mil reais de RP Não Processado. O RP Não Processado correspondeu a 0,001%. Em 31 de dezembro de 2009, a atual Prefeitura do RIO deixou 714,5 milhões de reais de RP Processados e 145,3 milhões de reais de RP Não Processados, ou 20%.
10. No governo federal, essa relação é de 5 vezes mais de RP Não Processados sobre RP Processados: 500%. Veja o anexo. São dados oficiais do governo federal.
Viva a globalizacao, sobretudo para o Brasil e suas exportacoes
Pois bem, o recente (terceiro) censo do capital estrangeiro no Brasil, comentado abaixo pelo ex-presidente do Banco Central (e que havia conduzido o primeiro censo, em 1995), demonstra que essas empresas explicam muito do sucesso econômico brasileiro, sobretudo no comércio exterior.
Acho que dá para calar a boca de quem fica falando sem conhecer nada da questão.
A globalização e o Brasil
Dessas empresas se solicitou pouco mais que suas demonstrações financeiras e o princípio foi simples: o Banco Central apenas conhece uma pequena parte do passivo não exigível dessas empresas, o capital de titularidade de não residentes, sujeito a registro no BC e oriundo de movimentação cambial ou reinvestimento. Todo o resto do balanço era desconhecido e, durante todos esses anos quando o BC enxergava a si mesmo como "autoridade cambial", mais até que como "autoridade monetária" (ao menos a julgar pelo número de funcionários dedicados ao controle cambial), jamais perguntou às EPEs nada além de sua movimentação cambial, como se a isso elas se resumissem. Na verdade, é o que está na cabeça de muita gente, que apenas enxerga EPEs como "passivo externo".
Pois bem, o que nos dizem os censos?
Para o ano de 1995, por exemplo, pode-se dizer que cada R$ 1,00 aportado por não residentes nessas empresas gerava R$ 5,50 em vendas e R$ 6,70 em ativos. Esses números foram mais modestos nos anos de 2000 e 2005 talvez em vista o espantoso crescimento do capital integralizado por não residentes especialmente no período entre 1995 a 2000.
É preciso entender melhor, mas os números do censo do capital externo explicam a evolução da economiaPara 2005 o capital estrangeiro acumulado é de R$ 381 bilhões, representando cerca de 87% do patrimônio total dessas empresas, cujos ativos totais se elevam a R$ 1,529 trilhão, e cujo faturamento atingiu R$ 1,294 trilhão. Durante a década coberta pelos censos os ativos cresceram cerca de 12% anuais em média, e o faturamento incríveis 19%.
No tocante ao comércio exterior vale registrar que esse conjunto de empresas era responsável por 55% das exportações totais do país em 2005, proporção que vinha se elevando desde 1995, quando era de 47%. O mesmo se pode dizer dos percentuais dessas exportações que eram "intra-firma" (comércio entre partes relacionadas): em 2005, 61% das exportações das EPES eram "intra-firma", o que equivale a dizer que algo como 1/3 das exportações brasileiras totais em 2005 eram "intra-firma". Em 1995 esse percentual era pouco inferior a 20%. Não há indicador mais poderoso para a inserção do país na economia globalizada que a extensão desses vínculos que definem o que se conhece como "produção internacional" ou "off shoring".
Resta observar que as EPEs empregavam 1,3 milhão de pessoas em 1995 e cerca de 2 milhões em 2005, representando parcelas do total da população ocupada que evoluíram de cerca de 2% para 2,3%, números surpreendentemente pequenos.
É possível estimar que para 2005 as EPEs produziam pouco mais de um terço do PIB brasileiro ao passo que as ECEs cerca de um quarto. Quando se tem em conta que EPEs e ECEs empregam menos de 3% da população ocupada, é possível construir indicadores de valor adicionado por trabalhador ocupado que ressaltam dramaticamente essas diferenças de produtividade: para 2005 enquanto um trabalhador em uma EPE gerava em média R$ 351 mil de valor adicionado, para o restante do país o número foi de R$ 23 mil.
Os valores para exportações por trabalhador ocupado talvez sejam os mais impressionantes. Enquanto um trabalhador ocupado em EPEs produzia cerca de US$ 31 mil em exportações, outro produzia US$ 1,3 mil em exportações em média, em outras empresas brasileiras . As exportações representavam cerca de 6% do PIB em 1995 e subiram a 13,4% em 2005 quando o PIB a preços constantes ficou praticamente estagnado; boa parte desse avanço teve a ver com as EPEs e offshoring: em 2005, as EPEs sozinhas eram responsáveis por exportações correspondentes a 7,4% do PIB brasileiro (5,7% para ECEs). Com efeito, as EPEs tinham propensão a exportar de 15,7% ao passo que o valor nas outras empresas brasileiras sem participação estrangeira era de 3,9%. Para 2005 o contraste ainda continua: EPEs com 21,5% e empresas brasileiras com 9,2%.
Os contrastes entre as EPEs e ECEs e o restante do país são óbvios e fáceis de se exagerar pois, como observado, seria preciso "controlar" outros fatores que podem explicar alta produtividade e propensão ao comércio, como tamanho, concentração, formalização do trabalho, entre outros. Mas mesmo com esse benefício concedido à dúvida é difícil evitar que esses contrastes nos levem a afirmar que as EPEs têm sido a locomotiva de expnsão do comércio exterior do país na primeira década depois do Plano Real, quando o crescimento do país não foi nada brilhante.
Apesar de ter havido pouca ajuda do comércio exterior, os números sugerem que foi a globalização o que fez andar a nossa economia nesses anos, e de formas que ainda precisamos entender melhor.
Gustavo H. B. Franco é professor da PUC-Rio, sócio fundador da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central.
Um outro Enem é possível...
Novo fiasco do Enem
Editorial - O Estado de São Paulo, 9.11.2010
Se havia alguma dúvida sobre a capacidade do Ministério da Educação (MEC) de recuperar a imagem do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e evitar que sua desmoralização comprometesse todo o sistema de avaliação escolar, ela foi desfeita nesse fim de semana com a prova aplicada a cerca de 3,4 milhões de estudantes. Além de avaliar a qualidade do ensino médio, o Enem é usado como processo seletivo para muitas instituições públicas de ensino superior - principalmente as universidades federais.
Dessa vez os problemas decorreram de falhas de montagem de um dos cadernos da prova, o que levou os estudantes a se deparar com textos repetitivos e falta de questões. Além disso, os cartões de resposta foram impressos de forma invertida - fato que não foi comunicado à maioria dos candidatos. No sábado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), o mesmo que fracassou na organização do Enem de 2009, divulgou que quem foi induzido a erro, no preenchimento do cartão, poderá solicitar que a prova seja corrigida “ao contrário”. Isso dá a medida da inépcia administrativa do MEC.
Por um balanço extraoficial, os problemas ocorridos com o Enem envolveram 20 mil provas. Mas, segundo o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Souza Jr., o número de provas impressas com falhas seria de 30 mil. A instituição foi encarregada, juntamente com a Fundação Cesgranrio, de preparar as questões.
Embora as autoridades educacionais tenham afirmado que nenhum aluno será prejudicado, nem o Inep nem o MEC sabem ainda qual é a extensão das falhas ocorridas e de que modo elas poderão ser corrigidas. A aplicação da prova foi classificada como um “desastre” pela OAB. O Ministério Público Federal anunciou que poderá ingressar com ação judicial pedindo a anulação do exame. A Defensoria Pública da União anunciou que tomará iniciativa semelhante. No Ceará, a Justiça Federal concedeu liminar determinando a suspensão imediata do Enem. E a Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior reconheceu que a insegurança jurídica acarretará para as universidades problemas ainda mais graves do que os criados pelo Enem de 2009.
No ano passado, os problemas começaram quando se constatou que o MEC não dispunha de infraestrutura adequada para fazer inscrições pela internet. Em seguida, o Inep determinou que vários estudantes deveriam prestar o exame em colégios situados a mais de 300 quilômetros das escolas em que estavam matriculados. Depois, a prova vazou dois dias antes de sua realização, deixando claro que as autoridades educacionais não haviam tomado as medidas de segurança necessárias. Isso as obrigou a preparar um novo teste às pressas, a um custo superior a R$ 30 milhões, e aplicá-lo dois meses após a data prevista, o que desorganizou o calendário das universidades. Na sequência de confusões, constatou-se que várias questões da nova prova tinham viés ideológico. E, no dia em que ela foi aplicada, o MEC divulgou o gabarito errado.
Em 2010, as dificuldades começaram com falhas de logística e amadorismo no planejamento, o que levou à substituição do presidente do Inep. Em seguida, descobriu-se que os dados pessoais dos candidatos às três últimas edições do Enem tinham vazado. Com isso, informações que deveriam ser mantidas em sigilo foram expostas no site do Inep com acesso livre. Depois o MEC se atrapalhou na escolha dos órgãos responsáveis pela formulação das questões, o que acabou criando problemas para a licitação da gráfica e atrasando a contratação de cerca de 300 mil pessoas, entre coordenadores, aplicadores e profissionais encarregados da correção.
Esse é o quadro, descrito com o máximo de objetividade, da desmoralização do Enem. Mas o principal responsável por ele não parece preocupado. Muito pelo contrário. De fato, o presidente do Inep, José Joaquim Soares Neto, dizendo-se “orgulhoso” pela aplicação do Enem, considera que “não houve problemas graves”.
Apreciação sobre a qual os alunos prejudicados teriam muito a opinar…
Nao digam que os mercados sao "perversos"...
Tem gente que acha que a volatilidade e os capitais "especulativos" são serem alienígenas que ficam à espreita, pela janela, para atacar ao menor sinal.
Sinto decepcionar esse tipo de gente, mas a volatilidade, na verdade, é interna, intrínseca às políticas econômicas erráticas, às declarações não pensadas de certos personagens políticos, enfim, a esses fatores contingentes que soem aparecer em momentos de transição política (mesmo na continuidade aparente que vive o Brasil).
Com respeito à fuga de capitais, sinto, também, decepcionar os incautos, mas os primeiros que fogem são os internos, os domésticos, os caipiras, ou seja, os nacionais - que costumam ser melhor informados do que os estrangeiros -- são os primeiros a se retrair, e buscar paragens mais amenas em centros financeiros off-shore.
Enfim, mercados não são perversos, pela simples e única razão que eles não tem cérebro, nem coração, ou seja, eles são absolutamente frios, totalmente sem coração, indiferentes aos sofrimentos e angústias de dirigentes e simples populares, aplicadores ou poupadores, especuladores ou investidores sérios.
Mercados são o que são, pois eles são os resultados não dirigidos -- muitas vezes impensados -- de milhares de pessoas que intervêm a qualquer momento, com qualquer motivações. Percepções guiam os mercados, mas quem é capaz de prever percepções, quando as informações são tantas e tão desencontradas?
Portanto, deixe os mercados em paz e faça o que tem de fazer, de modo tranquilo: toda riqueza é fruto do trabalho, não da especulação, toda receita é fruto de um trabalho prévio e não existe no ar, toda despesa tem consequencias diretas, para quem paga, e para quem recebe. Mercados são capazes de "perceber" quando algo não está bem, e aí reagem intempestivamente.
Cavec canem, beware of the dog, cuidado com o cão: o cão é o mercado...
Paulo Roberto de Almeida
Mercado cobra de Dilma definição de equipe econômica
Por Ricardo Balthazar e Toni Sciarretta
Folha de S.Paulo, 9.11.2010
A indefinição em torno dos nomes que a presidente eleita Dilma Rousseff escolherá para formar sua equipe de governo alimentou especulações de todo tipo no mercado financeiro nos últimos dias. Os investidores dizem ter dúvidas sobre a disposição de Dilma para conter a expansão dos gastos públicos, medida que julgam necessária para ajudar o Banco Central a combater a inflação. Além disso, eles se preocupam com a possibilidade de que Dilma centralize em seu gabinete as principais decisões econômicas, o que poderia reduzir a liberdade que o BC tem para subir os juros quando achar necessário. “Um presidente com mais influência na economia é algo que não vemos há algum tempo e sem dúvida trará muita incerteza ao mercado”, disse Aloisio Teles, da corretora japonesa Nomura, em nota para clientes ontem.
Embora Dilma tenha se comprometido com políticas austeras na campanha eleitoral, notícias desencontradas sobre a formação de sua equipe e o destino do presidente do BC, Henrique Meirelles, agitaram o mercado de juros futuros, onde os investidores negociam contratos para se prevenir contra mudanças nas taxas de juros. As taxas caíram nos contratos com vencimento nos próximos dois anos e subiram bastante nos contratos de prazo mais longo, sinal de que os investidores apostam numa redução dos juros no início do novo governo e preveem dificuldades depois.
As taxas de juros dos contratos com vencimento em 2017 saltaram ontem de 11,70% para 11,91%, uma variação expressiva num mercado em que pequenas oscilações fazem enorme diferença. No final do dia, as taxas recuaram para 11,86%. “Movimentos bruscos como esse só ocorrem quando há mudança de expectativa”, afirmou o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto. “Muita gente pensa que Dilma talvez queira reduzir os juros por decreto, embora não seja assim que as coisas funcionem.”
Divida Externa do Brasil e FMI: esclarecendo duvidas, eliminando erros
Divida do Brasil com o FMI: a farsa de sua quitacao - Flavio Morgenstern
Se tratava, como o próprio título indica, de um artigo de Flavio Morgenstern, explicando a situação real da dívida externa e interna do Brasil, precedido de alguns comentários meus sobre o fato de que a propagandeada "quitação da dívida externa do Brasil junto ao FMI", não passava, justamente, disso, de um ato de propaganda, mistificando a realidade, enganando a maior parte das pessoas e, pior, não seguida de comentários de jornalistas especializados esclarecendo que o Brasil saia pior da situação do que estava antes dessa "quitação" fantasmagórica.Não vou retomar cada passo das relações do Brasil com o FMI, algo sobre o que já escrevi a respeito, e justamente acabo de atualizar meu capítulo sobre diplomacia financeira num livro que vai ser publicado em terceira edição -- Relações Internacionais e Política Externa do Brasil -- que trará explicações mais extensas a esse respeito.
Se ouso resumir a situação, inclusive em intenção de comentaristas que me escreveram no post acima, com colocações superficiais, a favor e contra, a respeito do assunto, seria isto.
1) "Dívida" do Brasil com o FMI:
A rigor, não existe uma dívida do Brasil para com o FMI e nunca existiu. O que existiram foram planos de contingência e empréstimos condicionais -- créditos stand-by -- que foram negociados entre 1998 e 2001 (e renovados pelo governo Lula) para enfrentar situações de crise como as que abalaram os mercados financeiros na segunda metade dos anos 1990 e no início dos anos 2000, por causa da Argentina E DAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS DE 2002 (e desculpo-me pela caixa alta, mas é bom que se diga como são os fatos, não a propaganda).
O Brasil contraiu um primeiro empréstimo do FMI, no quadro de um pacote muito mais amplo em 1998, para enfrentar um problema que diversos outros países enfrentavam: a fuga de capitais de mercados emergentes, que tinha começado com o problema do México, em dezembro de 1994, prolongou-se extensivamente nas crises dos mercados asiáticos de 1997 e assumiu contornos dramáticos com a moratória russa de agosto de 1998. O Brasil não entrou em crise e nunca deixou de pagar suas obrigações externas. Os pacotes foram preventivos e serviram para reforçar suas reservas ou alimentaram o caixa para saldar compromissos externos.
O primeiro pacote -- FMI, BIRD, BID e países membros do BIS -- foi de 48,5 bilhões de dólares. Em contrapartida (as famosas condicionalidades que muitos criticam), o Brasil assumiu o compromisso de "fazer superavit primário", ou seja, reservar uma parte de suas receitas fiscais (então estimada em 2,5% do PIB) para saldar os juros de sua dívida interna, doméstica, que estava crescendo demais.
Aos que reclamam dessas condicionalidades, eu apenas diria o seguinte: tente viver acima de seus vencimentos ou de sua renda, e vá pedir dinheiro ao seu gerente de banco apenas para continuar gastando com restaurantes e compras diversas. Tente viver acima de seus meios, para ver o que acontece. Era isso que estava fazendo, E QUE AINDA FAZ, o Brasil. Nada mais sensato, pois, do que recomendar um pouco de rigor fiscal, que é o que todo mundo faz com suas próprias contas pessoais.
O segundo pacote, contraído em meio à crise argentina de 2001, foi apenas para reforçar as reservas, com uma disponibilidade de 15 bilhões de dólares. Não foi usado, serviu apenas de garantia.
O terceiro pacote, de US$ 30 bilhões, só de dinheiro do FMI, foi feito em meio às eleições de 2002, quando OS MERCADOS ASSUSTADOS COM A POSSIBILIDADE DE O PT DAR CALOTE NA DIVIDA EXTERNA, começaram a cotar por baixo os títulos da dívida brasileira no exterior (que cairam a menos de 50% do seu valor de face, ou seja, você podia comprar um título de 100 dólares pagando apenas 48 dólares, e receberia igual do governo brasileiro os 100 dólares no seu termo). O dólar, como se sabe, foi às alturas, saindo de 1,7 reais para quase 4 contra um dólar, e a taxa de risco do Brasil foi a 24 mil pontos, ou seja 24 pontos percentuais acima das taxas de referência dos EUA.
Foi esse último empréstimo de US$ 30 bilhões que foi aceito e renovado pelo governo do PT, pelo ministro Palocci, em 2003, quando ele assumiu, mas apenas pela quantia de 14,8 bilhões de dólares, dinheiro NÃO UTILIZADO, mas que serviu apenas para reforçar as reservas.
Diga-se de passagem que foi o ministro Palocci que decidiu aumentar as garantias oferecidas pelo Brasil, não solicitadas pelo FMI, de aumentar o superavit primário de 2,5% do PIB para 3,25% do PIB, em total autonomia e independência (como compete a qualquer país membro do FMI).
Esse "empréstimo" -- na verdade, uma carta-compromisso fazendo a concessão desse crédito de 14,8 bi -- ficou em vigor até 2005, quando o governo decidiu pela sua "liquidação" e montou toda aquela operação de propaganda para dizer que tinha "liquidado a dívida com o FMI".
Vamos agora aos fatos.
2) Dívida comercial do Brasil nos mercados financeiros:
Pelo seu crédito, ou pelo direito de uso eventual do dinheiro do FMI (que também é seu, como membro de pleno direito), o Brasil pagava juros de companheiro, de 4,5% na média, ou seja, o dinheiro do FMI era MUITO MAIS BARATO do que qualquer outra operação comercial que o Brasil pudesse fazer nos mercados financeiros.
Mas, claro, apenas para dizer que "não dependia mais do FMI", o governo do presidente Lula declarou, de forma nitidamente enganosa, que estava se libertando da dependência do FMI, devolvendo um empréstimo que ele nunca tomou (na verdade, simplesmente dizendo que não renovaria mais o programa, e que o dinheiro reservado e carimbado em nome do Brasil era dispensável). Por decisão própria, o governo CONTINUOU MANTENDO A META DE SUPERAVIT PRIMÁRIO, por decisão própria, não por imposição do FMI.
O que ficou, então? Apenas empréstimos comerciais, Global Bonds, que o Brasil lança nos mercados comerciais, com taxas de juros nunca inferiores a 8%, em geral, na faixa de 9 a 11%, pelo menos naquela época (hoje se encontram Global Bonds de 7%, mas os mercados estão líquidos novamente e a taxa de risco do Brasil continuou caindo, graças à boa gestão do Banco Central).
Em resumo, o Brasil "trocou" -- não é a mesma coisa, claro, mas serve de comparação -- um "empréstimo" do FMI a 4,5% para ficar com empréstimos comerciais a 10%.
Se isso é vantajoso, apenas os novos donos da matemática da dívida podem dizer.
3) Dívida interna, e dívida total do Brasil:O fato é que para acumular as reservas que o Brasil acumulou, e proclamar que tem superávit com o mundo -- na verdade a dívida externa continua existindo, mas seu montante é inferior às reservas -- o Brasil faz dívida interna, a 10% ou mais, para poder comprar os dólares dos exportadores.
A consequencia é que temos acumulado uma dívida doméstica muito mais catastrófica do que qualquer dívida externa, inclusive comercial, pois os juros da Selic são sempre superiores aos dos mercados externos e mais do que o dobro do "dinheiro do FMI" (tão execrado).
Quem quiser saber mais sobre a dívida doméstico tem como se informar no site do Tesouro.
4) Iludindo os "incautos" e fazendo propaganda enganosa:
Termino e concluo: apenas os ingênuos acham que o Brasil se libertou do FMI, qualquer que seja o sentido que se dê a essa expressão. O Brasil nunca esteve obrigado a nada que não quisesse fazer, mas como em toda operação de crédito externo, existem garantias que tem de ser dadas pelo uso do dinheiro alheio. Pode-se garantir que as condições do FMI são muito melhores do que empréstimos "soberanos" que implicam custos maiores.
Pior do que tudo é contrair dívida interna para poder manter reservas que ainda tem um custo fiscal -- diferencial de juros internos e externos -- superior a 20 bilhões de dólares por ano.
Esse é o custo da propaganda do governo.
Paulo Roberto de Almeida
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Ironias da historia: um peronista morto pela Republica Sindical...
Não digo peronistas (embora existam alguns), mas equivalentes funcionais, digamos assim...
Paulo Roberto de Almeida
Argentina After Kirchner
Peronist strongman Néstor Kircher may be dead, but the power of Big Labor is alive and well–and holding back economic reform.
By MARY ANASTASIA O'GRADY
BY MARY ANASTASIA O'GRADY
Buenos Aires
The night before former Argentine President Néstor Kirchner died of a heart attack—12 days ago—he is rumored to have had a heated argument with the leader of this country's largest labor union, known by its Spanish initials CGT. Some say it's what killed the Peronist strongman.
The dispute is instructive because it highlights the power of Big Labor in this country and explains why, despite the passing of this powerful politician who acted like a mob boss, there is still little hope that Argentina's economy will begin to modernize any time soon. It is also a cautionary tale ...
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Eu também acho que discutir com líderes sindicais pode fazer mal à saúde...
Posicao brasileira no G20: alguem entendeu?
Nova proposta dos EUA divide G-20
Assis Moreira | De Seul
Valor Econômico, 08/11/2010
O Valor teve acesso ao "draft" (rascunho) do Plano de Ação de Seul, pelo qual os chefes de Estado se comprometerão com medidas para evitar uma guerra cambial e impulsionar "um crescimento forte, sustentável e equilibrado da economia mundial no médio prazo".
É nesse plano que Washington insiste em estabelecer que o déficit ou superávit das contas correntes dos países não supere 4% do Produto Interno Bruto (PIB). A partir desse patamar seriam deflagradas negociações para sua redução.
"Países com déficits sustentáveis vão reforçar seu desempenho exportador e impulsionar a poupança nacional", diz a proposta americana. "Países com superávits sustentáveis vão adotar políticas cambiais, estrutural e fiscal para impulsionar fontes domésticas de crescimento".
A diferença, em relação à proposta dos Estados Unidos rejeitada em encontro de ministros de Finanças do G-20, é que agora Washington atenua a pressão sobre a Alemanha, país com maior superávit, de 6,1% do PIB, e que contaria na média da zona do euro. Termina por deixar o peso do ajuste mais sobre a China, com saldo de 4,7% nas contas externas.
Washington argumenta que o objetivo não é estabelecer metas quantitativas e sim bandas indicativas, para se alcançar até 2015 desequilíbrios nas contas correntes em níveis sustentáveis. E seria uma maneira alternativa de tratar da moeda chinesa desvalorizada, que dopa suas exportações para o resto do mundo.
Mas Cui Tiankai, vice-ministro chinês das Relações Exteriores, ridicularizou a ideia americana. Há questões na economia mundial que merecem muito mais atenção, como o impacto do afrouxamento monetário nos EUA, afirmou.
O sentimento é de que os EUA relançaram a guerra de moedas antes do G-20 com a anunciada injeção de liquidez de US$ 600 bilhões. Emergentes mais dinâmicos estão sob pressão de mais valorização da moeda, riscos de bolhas pelo excesso de liquidez e de crédito.
A Índia acusa os EUA de terem minado o espírito de cooperação multilateral que os líderes do G-20 vêm tentando duramente estabelecer para afrontar a atual crise das moedas. Para importantes negociadores, sugerir a banda é "forçar a barra" no contexto atual e a proposta deverá ser novamente rejeitada.
Também descontente com a posição americana, o Brasil quer obter do G-20 o aval para que os emergentes possam impor controle de capital para evitar desestabilização de suas economias com o fluxo de capitais. E insistirá para que os países desenvolvidos estimulem suas economias para o consumidor voltar a gastar, em vez de esperar ação apenas dos emergentes.
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Pois bem, agora vejamos [PRA]:
Se o problema brasileiro é a valorização do real, um problema que ele divide com todos os demais países (pois todos eles sofrem com a desvalorização do dólar, salvo a China), a maneira correta de evitar isso é conter o afluxo maciço de dólares em sua economia, o que ele pode fazer de duas maneiras: importando mais, diminuindo a taxa de juros interna, que é o principal fator de atração desses capitais. Controles de capitais não são as medidas mais adequadas, pois eles aumentam a taxa de risco (spread) nos empréstimos externos, ou seja, quando o Brasil pretender importar capitais estrangeiros, pagará mais caro por isso, já que costuma recorrer a esses mecanismos arbitrários e aleatórios, essencialmente negativos, que impõem um custo para o próprio país.
Agora, se pretende que os países desenvolvidos estimulem suas economias, está sendo contraditório com o que já disse o ministro da Fazendo, para quem esses mecanismos não servem para nada, e são o mesmo que atirar dinheiro de helicóptero (ainda que fique difícil imaginar um helicóptero viajando pelo mundo, atirando dinheiro pela janela). Os EUA injetaram 600 bi na economia justamente para isso, e agora o ministro vem reclamar? Aliás, este é o mesmo fator que faz com o dólar se desvalorize. O ministro precisa resolver do que ele pretende reclamar...
Paulo Roberto de Almeida
Seminar: Brazil’s Foreign Policy - A Critical Appraisal, Washington
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The Brazil Institute at the Woodrow Wilson International Center for Scholars, the Inter-American Dialogue and the Center for Latin American Issues at George Washington University Invite you to a discussion on
Brazil’s Foreign Policy of Today and Tomorrow: A Critical Appraisal
Tuesday, November 16, 2010 – 9 a.m. to 11:30 a.m.
Woodrow Wilson International Center for Scholars 5th Floor Conference Room
RSVP (Acceptances only): james.hodges@wilsoncenter.org
Speakers: Roberto Abdenur, former Deputy Foreign Minister and former Ambassador to China and the United States; Sergio Amaral, former Minister of Development, Industry and Commerce, and former Ambassador to England and France; Marcos Azambuja, former Deputy Foreign Minister and former Ambassador to Argentina and France; Antonio Carlos Pereira, Editor, Opinion Page, O Estado de S. Paulo
Moderator: Paulo Sotero, Director of the Brazil Institute, Woodrow Wilson Center
Discussants: James Ferrer, Director, the GWU Center for Latin American Studies; Peter Hakim, President Emeritus, Inter-American Dialogue
For more information on the Brazil Institute, visit www.wilsoncenter.org\brazil
Woodrow Wilson Center – 1300 Pennsylvania Avenue, N.W. – Washington, DC 20004
domingo, 7 de novembro de 2010
Alguns trabalhos mais recentes - Paulo R. Almeida
Já fiz o meu "gol" número 1.000, por acaso com a publicação de um livro que estava quase dez anos no pipeline: um guia dos arquivos americanos sobre o Brasil, elaborado em colaboração com pesquisadores e assistentes, em Washington, em 2001.
Paulo Roberto de Almeida