O artigo abaixo discute a mediocridade da retomada americana e diz porque os estímulos keynesianos à la Krugman não funcionam.
Paulo Roberto de Almeida
How the Recovery Went Wrong
Harvey Golub
The Wall Street Journal, May 22, 2102
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Cristiane Bonfanti
Correio Braziliense, 21/05/2012
Itens estrangeiros respondem hoje por 45% do faturamento anual do setor e indústria nacional quer apoio para reagir
A indústria de brinquedos brasileira não tem mais o brilho que irradiava até os anos 1990. Do início artesanal marcado por bonecas de pano e carrinhos de madeira até a grande revolução do plástico e a febre dos eletrônicos, ela viveu fases de glória, mas entrou em declínio após a abertura do mercado realizada pelo ex-presidente Fernando Collor para produtos importados. O movimento, além de baratear o custo dos brinquedos, trouxe a China para a disputa direta pelos consumidores nacionais. Hoje, nada menos que 45% de um faturamento anual de
R$ 3,4 bilhões do setor no Brasil vêm dos itens estrangeiros.
As fábricas nacionais não pararam, mas nenhum investimento tem sido suficiente para que avancem na mesma velocidade da entrada de importados. Dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) mostram que, entre 2006 e 2011, enquanto o faturamento das peças produzidas no país cresceu 106%, de R$ 856 milhões para R$ 1,76 bilhão, o dos importados aumentou 106,3%, de R$ 822 milhões para R$ 1,69 bilhão. A China é senhora quase absoluta: ela envia 87,66% do total de importações. A Indonésia fica em segundo lugar, com 2,13%, e a Malásia, em terceiro, com 2,50%.
Synésio Batista da Costa, presidente da associação, observa que um dos principais pontos de perda de competitividade é o custo da mão de obra. Enquanto na China um trabalhador médio fica em US$ 327 por mês, no Brasil, ele sai por US$ 1 mil. "Além disso, o brasileiro trabalha 44 horas por semana e o chinês, 70 horas por semana. É uma diferença que não dá certo. É preciso melhorar o câmbio, os portos, acabar com essa substituição tributária que beneficia o importador. Precisamos parar de ser roubados", revolta-se.
Com uma trajetória que se confunde com a história da indústria de brinquedos no Brasil, a Estrela também sentiu o baque e tem recorrido à China para sobreviver. Desde os anos 1990, a companhia começou a amargar deficit e hoje tem um prejuízo acumulado de R$ 222,3 milhões. Se, antes, Estrela era sinônimo de boneca, hoje ela nem sequer faz parte do imaginário de muitos pequenos, que encontram nas vitrines um leque muito mais variado de opções. Para afugentar a crise, desde 2007, a empresa também passou a produzir na China, por meio de empresas terceirizadas. Nas contas do presidente da marca, Carlos Tilkian, entre 30% e 40% do faturamento anual já vêm de produtos importados. "Esse índice depende fundamentalmente do câmbio. Essa é uma forma de mantermos posição de competitividade até que mudanças macroeconômicas aconteçam", afirma. Agora, ele estuda, inclusive, passar a exportar a partir da China, o que eliminaria o chamado Custo Brasil, o conjunto de fatores que encarece o investimento no país.
Além de questionar as vantagens oferecidas pelo Brasil para a entrada de importados, como a redução de impostos, a Abrinq está em negociação com o Ministério da Fazenda para que o setor entre na lista dos ramos beneficiados por uma alíquota entre 1% e 2% sobre o faturamento bruto em substituição aos 20% de contribuição patronal do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) cobrados atualmente. "Há um elenco de vantagens para os importados. Estamos tentando ganhar essa guerra centavo a centavo", diz Costa. "O governo não tem feito nada para impulsionar o setor", reclama.
Alternativas
Motivos não faltam para tanta lamúria. Dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostram que o total desembolsado para a fabricação de brinquedos passou de R$ 6,6 milhões em 2007 para R$ 18 milhões em 2010. Em quatro anos, o montante chegou a R$ 37,2 milhões. No entanto, o valor representa ínfimos 0,008% do total de R$ 460,5 bilhões repassados pelo banco de fomento no mesmo período. Não à toa, os fabricantes procuraram uma alternativa e, nos últimos cinco meses, lançaram 1,2 mil produtos. A meta é reduzir para 40% a participação dos itens estrangeiros no faturamento do setor até o fim do ano. "Não podemos esperar o governo", frisa o presidente.
Para Felipe Queiroz, analista da Austin Rating, a crise vivida pelos fabricantes de brinquedos apenas reflete a realidade econômica brasileira. "Essa lacuna é muito maior quando você analisa o setor têxtil, que está quase acabando por causa da concorrência avassaladora dos países orientais. O governo tem aberto os olhos para o risco de desindustrialização do país, mas não bastam medidas pontuais", alerta. Na opinião do economista, o mais eficiente seria uma reforma tributária, com efeito contínuo. "Além disso, temos o gargalo da infraestrutura. Os aeroportos estão acima de seu limite operacional e as estradas, sucateadas", destaca.
Falta de critérios
Professor de estratégia empresarial do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Sergio Lazzarini considera que o grande problema do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é a falta de critério na hora de conceder empréstimos. A seu ver, isso impede que o Brasil priorize a infraestrutura e áreas de impacto social, como a educação e o saneamento básico. "Ele tem aumentado o montante repassado, mas não analisa se o empresário realmente precisa do dinheiro. Muitos têm condições de captar dinheiro no exterior a taxas menores", observa.
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Yolanda Fordelone
O Estado de S.Paulo, 13/05/2012
Comparações entre produtos chegam a mostrar preços 65% inferiores aos do Brasil
Ao contrário do que se poderia imaginar, a alta do dólar em pouco mais de R$ 0,30 em 12 meses não favoreceu a compra de produtos importados no Brasil. Segundo levantamento feito em lojas do Brasil e Estados Unidos, 15 itens entre eletrônicos, roupas, tênis e até livros ainda são mais caros aqui. Os preços nos EUA chegam a ser 65% inferiores aos do Brasil, mesmo considerando a taxa de câmbio do turismo, sempre acima do câmbio comercial.
"Desde que a taxa de câmbio ficou mais baixa, a indústria brasileira não consegue competir com o exterior. Alguns insumos até têm conseguido ficar mais baratos do que no exterior, como alguns tecidos, mas em geral o produto final ainda é mais caro", diz o professor de economia da ESPM-RJ, Roberto Simonard.
Um dos motivos que explicam a diferença de preços é essa baixa competitividade causada por custos maiores no mercado local. "O preço ilustra a ineficiência da nossa infraestrutura. O custo de transporte e logística para trazer um produto da China, por exemplo, é muito maior do que nos Estados Unidos", completa o professor da Fipecafi, Mario Amigo.
A ineficiência passa pelo problema da burocracia para importar e em diversos outros âmbitos. "Uma importação pode chegar a demorar de dois a três meses para ser liberada. Há estimativas de que a burocracia em geral represente 40% do custo de uma empresa, o que acaba sendo repassado no preço dos produtos", diz o professor da Fecap, Erivaldo Vieira.
Outro motivo apontado por especialistas é a alta carga tributária. Um perfume importado da marca Lacoste, por exemplo, apresentou preço 61% menor nos Estados Unidos do que no Brasil. Sobre perfumes importados, é cobrado um imposto de 78,43% no País.
"É uma questão não somente de diminuir os impostos, mas deixá-los mais transparentes, na embalagem dos próprios produtos. A transparência aumenta a concorrência, porque o consumidor passa a entender o que realmente paga", avalia o professor do Insper, Ricardo Rocha.
Em alguns casos, como em relógios e livros, há a questão do ganho de escala. "A economia dos Estados Unidos é dez vezes maior que a nossa. É muito diferente produzir 200 mil relógios em vez de 20 mil. Os custos ficam reduzidos, mais diluídos", analisa Vieira.
Diferença. Não é à toa que os gastos de brasileiros no exterior no primeiro trimestre bateram recorde e somaram US$ 5,38 bilhões. A economia pode ser grande ao comprar produtos em outro país. Entre os 15 produtos pesquisados, a maior diferença de preços foi observada em um relógio da marca Timex. Nos EUA, o produto é 65,72% mais barato do que no Brasil.
Entre os eletrônicos, o celular Galaxy teve a maior diferença, de 62,16%. O videogame Playstation 3, item muito consumido por brasileiros lá fora, é vendido pela mesma loja nos Estados Unidos por um preço 50% menor, e lá o produto ainda vem com um jogo e uma câmera com sensor de movimento. Na compra do Ipad 2, de 16 gigabytes, o consumidor encontra um valor 43% mais baixo nos EUA.
Mas até em itens inusitados, como chocolate, há uma grande diferença de valores. Na caixa do chocolate Ferrero Rocher, com 24 unidades, o preço nos EUA é 49% menor. O item de menor diferença foi o uísque Black Label 12 anos (18%).
Tamanha diferença, porém, pode representar uma armadilha para o turista. "As regras da Receita Federal devem ser muito bem observadas", lembra Rocha. Brasileiros não pagam imposto, por exemplo, na compra de máquinas fotográficas, relógios de pulso, joias e celulares usados.
As aquisições estão limitadas a 20 produtos e há tarifa caso o valor ultrapasse US$ 500 por via aérea. "Se o objetivo é comprar, também não é indicado viajar com muita bagagem, para não pagar sobrepeso no avião", diz Amigo.
Além de ir com um orçamento já limitado de gastos, a melhor opção é utilizar dinheiro em espécie. "Deve-se tomar cuidado com a variação cambial do cartão de crédito", afirma Simonard, ao lembrar que em geral as parcelas são calculadas de acordo com o fechamento do câmbio no futuro. Além disso, no cartão de crédito há o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%.
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