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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 23 de maio de 2010

Jared Diamond - Entrevista sobre o destino das civilizacoes

Parece que importamos algumas coisas dos EUA: do bom, do mau e do feio.
Algumas dessas coisas são realmente curiosas, e ameaçam ficar...
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Paulo Roberto Almeida


Entrevista: Jared Diamond
A liberdade enriquece

André Petry, de Los Angeles
Veja, 26 de maio de 2010


O cientista e escritor diz que, para enriquecer, os países quentes precisam vencer as doenças tropicais e que sem democracia nem a China vai muito longe


Lynn Goldsmith/Corbis/Latinstock

"Os Estados Unidos tiveram mais sorte que o Brasil, mas questões históricas e culturais também explicam a diferença entre os dois países"


O professor Jared Diamond, da Universidade da Califórnia, vive numa bela casa, quase no meio do mato, numa rua sem saída nos arredores de Los Angeles. De manhã, passa até duas horas caminhando pela região, observando e ouvindo os pássaros. De volta para casa, cuja sala é carregada de enfeites de Papua-Nova Guiné, trabalha no seu próximo livro. Duas vezes por semana, estuda italiano. Biólogo, geógrafo e historiador, ele é autor de Armas, Germes e Aço, em que explica por que a sociedade europeia deu certo, e Colapso, no qual mostra como civilizações se exauriram ao devastar o meio ambiente. Seu novo livro, a ser publicado em 2012, tratará da vida nas sociedades tradicionais, como tribos indígenas, em oposição à vida nas sociedades com estado. Com tamanho leque de interesses – de passarinhos à língua italiana, de Papua-Nova Guiné à biologia –, o professor, de 72 anos, é um dos mais brilhantes explicadores do sucesso e do fracasso de países e civilizações.


Brasil e Estados Unidos são países novos, continentais, colonizados por europeus e que começaram com agricultura sob regime de escravidão. Com tantas semelhanças, por que os EUA são tão mais ricos que o Brasil?
Há vários fatores, e um deles é a geografia. As pessoas tendem a imaginar que os países tropicais deveriam ser mais ricos que os de clima temperado, já que nos trópicos se planta o ano inteiro, não é preciso trabalhar tão duro e, com inverno ameno, gasta-se menos com aquecimento. Mas os países de clima temperado são, em média, duas vezes mais ricos que os tropicais. Uma razão é que, nos trópicos, a produtividade agrícola é mais baixa. Há pestes, insetos, doenças, e os solos tropicais tendem a ser menos produtivos. Na América do Sul, os países mais ricos em agricultura são os de clima temperado: Argentina, Uruguai, Chile e a metade sul do Brasil. O poder econômico no Brasil não fica na zona tropical, nas regiões Norte ou Nordeste. Fica mais ao sul, onde o clima é mais temperado. Obviamente, isso não quer dizer que as pessoas no Rio ou em São Paulo sejam mais inteligentes. É pura geografia.


Os EUA então, favorecidos pela geografia, tiveram mais sorte que o Brasil?
Tiveram mais sorte, mas a geografia não é tudo. Questões históricas e culturais também explicam a diferença entre os dois países. A América Latina foi colonizada pelos espanhóis e pelos portugueses, e a América do Norte teve a vantagem de ser colonizada pelos ingleses e, em parte, pelos franceses. É uma vantagem porque Nova York fica mais perto de Londres do que o Rio de Janeiro de Lisboa. Isso permitiu uma troca maior entre metrópole e colônia. A Revolução Industrial começou na Inglaterra, não em Portugal ou na Espanha. Os espanhóis, aliás, temendo deixar de lucrar com suas terras imensas, resistiram à Revolução Industrial. A Inglaterra se tornou uma democracia efetiva, fazendo investimento pesado em educação, muito antes de Portugal e Espanha, que até recentemente nem eram democracias. Essas circunstâncias todas, aliadas à geografia, fizeram a diferença.


Como não se mudam a geografia nem a herança cultural e histórica, estamos condenados ao atraso?
Um país tropical que queira enriquecer precisa, em primeiro lugar, pensar em saúde pública, para evitar doenças tropicais. Se as pessoas adoecem durante metade do ano, com malária, febre amarela ou dengue, elas morrem mais cedo. Pegue-se o exemplo de um engenheiro que se forme aos 28 anos. Na África, pela expectativa de vida em alguns lugares, esse engenheiro morrerá aos 36 anos. Terá oito anos de vida profissional. No Japão, o engenheiro morrerá aos 81. São 53 anos de exercício de profissão. É indiscutível a vantagem. Malásia e Singapura são países tropicais do Sudeste Asiático. Há meio século, eram paupérrimos. Hoje, Singapura tem nível de Primeiro Mundo, e a Malásia está perto. Uma das primeiras coisas que os dois fizeram foi combater doenças tropicais. Depois, perceberam que sua vocação econômica não era plantar nem criar gado e viraram países de comércio e manufatura.


O autoritarismo pode favorecer o desenvolvimento?
Numa ditadura, pode-se fazer tudo rapidamente. Numa democracia, não. Os Estados Unidos levaram dez anos discutindo os males provocados pelo chumbo na gasolina até conseguir eliminá-lo. Na China, a ditadura mandou, e o problema se resolveu em um ano. É um exemplo da força positiva desse tipo de governo. Mas nas ditaduras as decisões podem ser rápidas, porém nem sempre são positivas. Há décadas, os ditadores chineses fizeram a estupidez de abolir o sistema educacional e despacharam os professores para a zona rural, onde aprenderiam coisas supostamente valiosíssimas cortando arroz ao lado dos camponeses. Foi o caos. A educação na China regrediu décadas. Nos EUA, nem no governo de George W. Bush seria possível fechar as escolas por dois anos. Nem no Brasil. Se o presidente brasileiro quisesse abolir as universidades e mandar professores cortar cana-de-açúcar, não conseguiria. É a força da democracia. Se tudo o que se faz numa ditadura fosse bom, ela seria melhor que a democracia. O problema é que não é. A ditadura reduz o mercado das ideias, a competição de ideias. A democracia tem vantagens a longo prazo.


Por ser uma democracia, a Índia tem vantagem sobre a China?
A democracia é uma vantagem da Índia sobre a China, sim. A economia chinesa, hoje, corresponde a 30% da americana. Será fácil para a China chegar ao dobro, mas será muito difícil chegar aos 120%, passando a economia americana, como preveem por aí. Será difícil por causa da ditadura, que não tem competição de ideias. Agora, entre a China e a Índia, há outras diferenças além de democracia e ditadura. A Índia fica mais ao sul que a China, seu clima é mais seco, há desvantagens ambientais. A China tem 2 000 anos de unidade nacional. Na Índia, há muitos que se consideram sikhs ou punjabis antes de se considerar indianos.


Entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil, embora seja o mais jovem, é o único que conjuga unidade nacional e democracia. Isso significa que poderá saltar à frente?
As quatro nações têm vantagens e desvantagens. O Brasil tem feito coisas boas. A democracia brasileira é funcional. O candidato que perde a eleição não faz uma revolução. Cai fora e se prepara para a próxima eleição. É um avanço enorme. Nas últimas décadas, o progresso industrial também foi imenso. A melhor metáfora é quando tomo um avião da Embraer. Se há cinquenta anos alguém tivesse me dito que os aviões nos EUA um dia seriam brasileiros, eu teria dado risada da piada. Com os biocombustíveis e os automóveis flex, o Brasil trilha outro bom caminho. Nesse assunto, vocês estão anos-luz à frente dos EUA.


O senhor diz que um país pode definir seu futuro pelo modo como trata o meio ambiente. O Brasil cuida bem da Amazônia?
É um quadro ambíguo. O Brasil tem tido um comportamento responsável quando evita o desmatamento para a produção de biocombustíveis ou para a criação de gado. São bons sinais. Ao mesmo tempo, os piores desmatamentos do mundo hoje acontecem no Brasil. O desmatamento altera o ciclo hidrológico, reduzindo as chuvas, o que aumenta as secas e a erosão do solo. Digamos que, se eu fosse argentino e tivesse razões para detestar o Brasil, criaria uma entidade de defesa do desmatamento da Amazônia. Seria um desastre econômico para o país, e os maiores prejudicados seriam os próprios brasileiros. E eu, como argentino, ficaria feliz. Estou falando de argentino apenas como alegoria, por favor.


É válido aceitar um pouco de desmatamento em troca de um pouco de desenvolvimento econômico?
O erro é supor que o meio ambiente e a economia estão em oposição um ao outro. A verdade é o inverso. A razão mais forte para cuidar do meio ambiente é que não fazê-lo sai caríssimo. Conter a degradação ambiental nas fases iniciais é barato e fácil. Nos estágios avançados, é caro e, muitas vezes, impossível. Por dez anos, a prefeitura de Nova Orleans, o governo de Louisiana e a Casa Branca se recusaram a gastar 300 milhões de dólares para arrumar os diques da cidade a fim de evitar inundações. Diziam que era muito caro. Veio o Katrina, e a conta subiu para perto de 200 bilhões de dólares, sem contar as mais de 1 000 mortes de americanos. As corporações empresariais, como Coca-Cola e Walmart, estão descobrindo que a ecologia pode ser um bom negócio. O Walmart é um dos maiores varejistas de frutos do mar do mundo, e é do seu interesse combater a pesca predatória, o que tem sido feito.


O Walmart tem interesse em frutos do mar hoje como tinha há dez anos. Por que só agora essas providências de proteção ao meio ambiente estão sendo tomadas?
É uma questão de cultura empresarial, que leva tempo para mudar. Conheço Rob Walton, filho do fundador do Walmart e hoje dirigente da empresa. Somos membros do conselho de uma entidade ecológica, a Conservação Internacional. Até alguns anos atrás, Rob não tinha interesse especial em questões ambientais. Um dia, o executivo da Conservação Internacional o convidou para uma viagem aos riquíssimos corais da Indonésia e Nova Guiné. Em duas semanas de barco nessa região remota, Rob viu três tubarões. É ridículo. Deveria ter visto três a cada cinco minutos, mas a pesca predatória dos japoneses vem dizimando a região. Rob acordou para o assunto. Hoje, o Walmart só compra frutos do mar de área com pesca sustentável. É uma cultura nova.


Os EUA são um império no começo do declínio?
A dianteira americana está diminuindo, não tanto pelo declínio americano, mas pela ascensão dos demais países. Nos anos 70, visitei a Espanha, sob a ditadura franquista. Antes, visitei Portugal, sob o regime de Salazar, país então muito pobre. Os dois hoje são nações de Primeiro Mundo. Na Ásia, além de Malásia e Singapura, há a Coreia do Sul, a Tailândia, Taiwan, sem falar na própria China, que está chegando lá. Isso reduz a vantagem da liderança americana, mas existem coisas preocupantes nos EUA. A Universidade da Califórnia foi o motor do salto tecnológico. As pessoas se mudavam para o Vale do Silício, em parte porque podiam mandar seus filhos a escolas de primeira linha e estudar na Universidade da Califórnia. Hoje, o governo está reduzindo as verbas da instituição. Por um ou dois anos, dá para aceitar. Mas, se isso se prolongar, será um desastre.


Por que isso está acontecendo?
Em parte, isso decorre do anti-intelectualismo americano e do fundamentalismo evangélico. O fundamentalismo evangélico é muito forte, tem ampla influência, inclusive sobre o conteúdo dos livros escolares. A base da biologia é a teoria da evolução de Darwin. Ela ensina que as coisas vivas evoluem. Não é possível ser biólogo, nem um bom médico, se você não acredita na evolução. É o mesmo que um físico não acreditar nas leis de Newton. Ou um químico duvidar da tabela periódica de Mendeleiev. Não dá para ser astrônomo se você acha que o mundo é plano. Mesmo assim, o fundamentalismo evangélico de direita se opõe ao ensino da evolução nas aulas de biologia. Isso acontece no Texas, para dar um exemplo. É um absurdo. É o fundamentalismo evangélico associado ao anti-intelectualismo.


Mas não estão aqui as melhores universidades do mundo?
Somos um país complexo. Nunca tivemos um presidente com Ph.D. E, se algum deles o tivesse, esconderia do eleitorado. Nenhum candidato ao Senado ou a um governo estadual exibe publicamente um título de Ph.D. Por quê? Porque pega mal. Na Alemanha, onde morei por alguns anos, a propaganda de um candidato anuncia "doutor em economia e ciência política". A chanceler da Alemanha é a "doutora Angela Merkel", acho que tem Ph.D. em física. Os alemães preferem votar em alguém com alta escolaridade. Nos EUA, não. A melhor prova é o sucesso de Sarah Palin. Ela tem orgulho de mostrar que é tola, meio imbecil. E sua popularidade decorre exatamente disso.

Destinos pos-eleitorais: o mundo espera febrilmente...

Creio que, com tanta habilidade, a FAO seja pouco, o Banco Mundial é muito, vejamos, tecnocrático, e mesmo a ONU, bem a ONU não é lá essas coisas: uma coisa muito grande, burocrática, cheia de regras, sei lá. Talvez algo novo, mais livre, leve e solto...

Lula articula seu futuro na ONU ou no Banco Mundial
KENNEDY ALENCAR - DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, Domingo, 23 de maio de 2010

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou articulações com líderes mundiais para definir seu futuro após deixar o governo. Lula gostaria de se tornar secretário-geral de uma nova Organização das Nações Unidas ou presidir o Banco Mundial, informa Kennedy Alencar.
A Folha apurou que Lula já tratou dos dois temas com outros presidentes e primeiros-ministros.
Lula negocia para assumir a ONU ou o Banco Mundial
Líderes de França, Espanha e Portugal apoiam indicação do brasileiro
Tanto o petista como o chanceler Celso Amorim já tocaram no tema com outros líderes mundiais e diplomatas próximos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou articulações com outros líderes mundiais para definir seu futuro após deixar o cargo. Gostaria de virar secretário-geral de uma renovada Organização das Nações Unidas ou de presidir o Banco Mundial.

A Folha apurou que Lula já tratou dos dois temas com outros presidentes e primeiros-ministros. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também fala com diplomatas estrangeiros.

A avaliação de Lula, Amorim e alguns líderes mundiais é que o brasileiro conquistou cacife político que o credencia a assumir um posto internacional de relevo.

Não interessaria a Lula virar secretário-geral da ONU no atual formato, muito dependente dos EUA e dos outros vencedores da Segunda Guerra Mundial -Reino Unido, França, Rússia e China.

Mas, se for aprovada uma reforma da ONU, a começar pelo Conselho de Segurança, Lula trabalhará para disputar a secretaria-geral.

O Brasil, hoje membro rotativo do CS, quer uma cadeira permanente. O obstáculo é que essa mudança dificultaria o poder deliberativo do órgão, pois seria preciso buscar consenso entre mais países.

Lula defende ainda mais poder para a FAO (Organização da ONU para a Agricultura e Alimentação), que considera pouco aparelhada para combater a miséria na África.

Na Europa, três líderes endossam a postulação de Lula para secretário-geral: o presidente de governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, o premiê de Portugal, José Sócrates, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

"Lula tem capital político tão importante no mundo que seria um grande desperdício não aproveitá-lo", disse o premiê de Portugal. Das potências emergentes, ele conta com a simpatia do premiê Manmohan Singh (Índia).

Diversos presidentes da América do Sul já sugeriram a Lula seguir esse caminho, de Hugo Chávez (Venezuela) a Cristina Kirchner (Argentina). Chávez disse à Folha que, se Lula quiser ser candidato a secretário-geral, terá o seu "apoio entusiasmado".

Há atritos na relação entre o Brasil e os EUA, mas, na opinião do governo brasileiro, eles poderiam ser superados para o petista ir para a ONU ou o Banco Mundial.

"Se a ONU continuar assim, vamos ter problemas sérios", disse Lula na quarta sobre a articulação dos EUA para aprovar sanções contra o Irã: "É preciso mudar, mas quem já está sentado na cadeira não quer mudar".

O Itamaraty acha que o presidente Barack Obama teria, no mínimo, disposição de conversar sobre o tema.

Existem óbices, no entanto, para que Lula ocupe essas posições. O atual secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, tem mandato até o final de 2011 e pode ser reconduzido.

Do ponto de vista de Lula, a presidência do Banco Mundial permitiria o financiamento de projetos nos países pobres. Ele já disse que montará um instituto no Brasil, a exemplo de seu antecessor. Empresários brasileiros procuram um prédio na zona sul de São Paulo para ser a sede.

Lancamento de livro sobre o Brasil e os Brics

Estou recebendo um convite ao qual não poderei atender: o lançamento de um livro que conta com um artigo meu, como abaixo:

Renato Baumann (org.):
O Brasil e os demais BRICs: Comércio e Política
(Brasília: CEPAL-Escritório no Brasil/IPEA, 2010, 180 p.)

Sumário
Introdução, 5
1. As Relações Comerciais do Brasil com os demais BRICs, 9
Renato Baumann, Raquel Araujo e Jhonatan Ferreira
2. A competitividade do Brasil e da China no mercado norte-americano: 2000-2008, 47
Marina Filgueiras e Honorio Kume
3. Abertura comercial e Inserção internacional: os casos do Brasil, China e Índia, 61
José Tavares de Araujo Jr. e Katarina Pereira da Costa
4. A inserção no comércio internacional do Brasil, da Índia e da China (BIC): notas acerca do comércio exterior e política commercial, 79
Ivan Tiago Machado Oliveira, Rodrigo Pimentel Ferreira Leão e Emílio Chernavsky
5. China na América Latina: uma análise da perspectiva dos investimentos diretos estrangeiros, 109
Márcio Holland e Fernando Barbi
6. O Bric e a substituição de hegemonias: um exercício analítico (perspectiva histórico-diplomática sobre a emergência de um novo cenário global), 131
Paulo Roberto de Almeida
7. Brasil e polos emergentes do poder mundial: Rússia, Índia, China e África do Sul, 155
Maria Regina Soares de Lima e IUPERJ

O livro será lançado no dia 28 de maio, das 9h30 as 13hs, no Auditorio do Ipea em Brasília, Edifício-Sede do BNDES, Setor Bancário Sul, subsolo, com a presença do organizador, de autores e de jornalistas, que debaterão os capítulos. Acredito que o meu será criticado pelo representante do MRE, que certamente não concordará com meus argumentos, e vai dizer que o Bric é um elemento importantíssimo da estratégia brasileira de inserção internacional. Mantenho meus argumentos.

Rezando para Sao Bolivar fazer chover, e poluindo a atmosfera...

De fato, os venezuelanos, os chavistas em particular, devem ter rezado um bocado para São Bolívar, para que ele fizesse chover e terminassem os horríveis racionamentos a que estiveram submetidos os venezuelanos por semanas e meses seguidos.
Não sei se deu certo, mas voltou a chover um pouco.
Enquanto isso, para desgosto dos ecologistas e de todos os que rezam pela cartilha da redução de emissões poluentes, os venezuelanos foram acumulando centrais térmicas que passarão a usar o diesel como combustível, altamente poluente, e tóxico, portanto.
Ironias da história: rezando por uma chuvinha, e poluindo a atmosfera...
Paulo Roberto de Almeida

El embalse del Guri subió 9 centímetros
Venezuela pasó la barrera de los 5 mil megavatios térmicos

Prensa Bolivariana, 22.05.2010

Presidente Chávez: Próximamente se eliminarán los racionamientos eléctricos los fines de semana y los días feriados. Posteriormente se anunciará la suspensión del racionamiento eléctrico en todo el país, en la medida en que se recuperen los embalses y se amplíe el parque termoeléctrico
Venezuela ha pasado la barrera de los 5 mil megavatios térmicos, una cifra que nunca antes había experimentando el país en materia de generación de energía eléctrica, informó el presidente de la República Bolivariana de Venezuela, Hugo Chávez.
“Ayer batimos récord en generación termoeléctrica. Nunca en Venezuela habíamos pasado de 5 mil megavatios de generación térmica, porque siempre hemos dependido del Guri, de la generación hidroeléctrica. Ayer pasamos la barrera de 5 mil megavatios térmicos. Vamos a ir equilibrando lo hidroeléctrico con lo termoeléctrico”.
Para consolidar la generación termoeléctrica China y Venezuela construirán varias plantas generadoras de electricidad empleando el coque petrolero generado en la Faja Petrolífera del Orinoco. Además, se instalarán otras termoeléctricas solamente para las empresas de Guayana, y se inaugurarán Las Picuras, en Vargas, y La Raiza, en los Valles del Tuy.
El jefe de Estado anunció que próximamente se eliminarán los racionamientos eléctricos los fines de semana y los días feriados. Posteriormente se informará la suspensión del racionamiento eléctrico en todo el país, en la medida en que se recuperen los embalses y se amplíe el parque termoeléctrico.
Las fechas serán acordadas en la reunión que sostendrá el Presidente con los integrantes del Estado Mayor Eléctrico, al término del acto de inauguración de la industria electrónica Orinoquia.
El mandatario nacional dijo que la represa del Guri subió 9 centímetros más, cifra que contribuye al alejamiento del colapso eléctrico, al tiempo de hacer referencia al aumento del nivel del agua, en 18 centímetros, del embalse Uribante-Caparo.
“Ya no hay riesgo de colapso eléctrico, gracias a Dios, a la Revolución y a los trabajadores eléctricos y al pueblo. Salimos del riesgo del colapso”.

Prensa Presidencial / 22 de mayo de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

Gradacoes da democracia - um exercicio de classificacao

Da democracia à ditadura: uma gradação cheia de rupturas
Paulo Roberto de Almeida

Democracias, ma non troppo
O mundo, obviamente, ainda não se ajustou ao “fim da História”, no sentido da convergência da maioria dos países para regimes políticos e para sistemas econômicos próximos das democracias de mercado (capitalistas), como sugeria, tentativamente, Francis Fukuyama. Ele o fará, gradualmente, já que o núcleo central da tese de Fukuyama é basicamente correto – retirando-se a metáfora hegeliana do “fim da História”, resta que o desenvolvimento socioeconômico e a consolidação da prosperidade social, permitidos justamente por uma economia de mercado dinâmica, trazem naturalmente um regime político mais conforme à atomização dos poderes e dos mercados capitalistas (baseados, institucionalmente, em mecanismos de representação, de negociação e de conciliação).
Já tratei dessas questões em outro trabalho e não vou voltar a elas neste momento (ver: Paulo Roberto de Almeida, “O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?”, Meridiano 47, n. 114, janeiro 2010, p. 8-17; link: http://sites.google.com/a/mundorama.net/mundorama/biblioteca/meridiano-47/sumariodaedicaono114%E2%80%93janeiro2010/Meridiano_114.pdf?attredirects=0&d=1). Essa transição quase natural para a democracia política é, no entanto, um mundo ideal, para o qual caminharemos muito gradualmente. Ele está baseado em uma adequada educação política dos cidadãos, o que, sabemos, é uma mercadoria ainda relativamente rara nas comunidades existentes neste planeta persistentemente pobre; de fato, as possibilidades de desenvolvimento econômico inclusivo não encontram grandes obstáculos técnicos à sua consecução, mas os políticos e sociais são formidáveis. No mundo real, ainda convivemos com um número lamentavelmente grande de regimes autoritários ou de ditaduras abertas.

Uma evolução positiva
Cabe, entretanto, reconhecer uma evolução positiva, que não deixa de ser um fato histórico: numa linha contínua, que levaria, de um lado, do despotismo mais exacerbado, da tirania mais execrável, até, na outra ponta, a uma democracia perfeita, podemos constatar que o mundo avançou de modo razoável no último meio século. O número, ínfimo, de democracias estáveis no período anterior à Segunda Guerra Mundial, cresceu regularmente desde então, especialmente depois da implosão e virtual desaparecimento do último sistema “escravocrata” da era contemporânea: o socialismo real. Este existiu em diversas modalidades, sendo seu modo mais tirânico o representado pelos totalitarismos stalinista e maoísta, mas também teve Estados policiais perfeitamente “weberianos” – como a ex-Alemanha oriental – e socialismos burocráticos que evoluíram ao longo do tempo (como o modelo “gulash” na Hungria e o nacionalismo estatizante da ex-Iugoslávia).
A evolução nesses países outrora dominados por um partido único – comunista, obviamente – não deixa de ser um fato auspicioso na história da humanidade, embora dois pequenos bastiões do totalitarismo comunista resistam ainda na sua irrelevância anacrônica, ao lado de várias outras tentativas de implantar, senão ditaduras abertas, pelo menos regimes politicamente fechados, caracterizados pelo cerceamento de liberdades elementares em regimes plenamente democráticos. Estes se caracterizam pela liberdade de organização, de expressão e de manifestação, pela representação livre de todos os interesses sociais presentes na sociedade, inclusive a defesa dos direitos das minorias (sociais, étnicas, religiosas, políticas), que é o que distingue verdadeiramente uma democracia plena.

Tentações totalitárias
Regimes e situações não democráticos não desapareceram, como é óbvio para quem observa o mundo como ele é. Alguns países, que tinham conhecido uma saudável evolução democrática – na América Latina, na África e na Ásia, sobretudo – voltaram experimentar desenvolvimentos autoritários. Países de democracia frágil, não consolidada, ou submetidos a conjunturas mais ou menos traumáticas de instabilidade, no seguimento de crises econômicas e sociais, ou de rupturas políticas fora da normalidade – sim, porque existem rupturas políticas dentro da normalidade, como aquela conhecida no Brasil em 2002 – podem reverter o relógio da história e recair em tentações totalitárias (não pela vontade de seus cidadãos, por certo, mas pela manipulação que fazem de massas não educadas líderes tendencialmente autoritários).
O que são esses regimes? São ditaduras “eleitas” – sim existe, como vimos ainda bem perto do Brasil –, populismos personalistas baseados na manipulação propagandística e na “compra” (literalmente) dos mais humildes e despolitizados, cesarismos plebiscitários, enfim, uma variedade sempre criativa de regimes que, no fundo, representam um decréscimo de qualidade da democracia formal – em vários casos apresentando inúmeras deficiências substantivas –, mesmo coexistindo com a manutenção do voto universal (que pode ser, como frequentemente é, manipulado). De resto, apenas o voto não caracteriza um regime democrático, como os exemplos da Albânia nos tempos de Enver Hodja, da URSS nos tempos de Stalin, ou ainda hoje na Cuba dos irmãos Castro, podem amplamente confirmar...

Um exercício de classificação dos regimes
Com base nas considerações anteriores, posso tentar agora oferecer um quadro declinante – sim, reconheço meu viés valorativo – dos regimes políticos, indo dos mais democráticos aos mais autoritários. Não vou tentar explicitar todas as razões de porque coloquei alguns países em uma “janela” e não em outra, inclusive porque este exercício não é exatamente “científico”, correspondendo mais bem às minhas percepções pessoais de como vejo o mundo e a qualidade de seus regimes políticos.

(A) Democracias plenas
Não tem adjetivos, e não tem ameaças aparentes ao seu funcionamento e à sua estabilidade. Países nórdicos, Reino Unido, Canadá, Holanda, Suíça, boa parte dos países europeus, mas não todos.

(B) Democracias com disfuncionalidades leves
São países grandes ou com deformações no modo de funcionamento de seus sistemas políticos, ou imigrações “selvagem” e certo grau de corrupção e de atos delinqüentes, ou ação agressiva de lobbies e grupos de interesse manipuladores. Eu colocaria nessa situação os Estados Unidos, possivelmente o país mais livre do mundo, e um dos mais democráticos, pelo fato de que se trata de um pais enorme, com muitas desigualdades internas e algumas disfunções derivadas de seu excessivo conservadorismo político (ou anacronismo religioso, por exemplo, o que pode levar a absurdos na educação científica e histórica, com fortes pressões criacionistas, para citar apenas um caso). A Itália, uma democracia de baixa qualidade, pela mediocridade de seus políticos e a corrupção disseminada, também entra nessa categoria, assim como diversos outros países europeus, geralmente da franja meridional ou oriental. O Japão é possivelmente um candidato pleno na categoria.

(C) Democracias de baixa qualidade
Corrupção extensiva, manipulações políticas, concentração de poder, baixo grau de representatividade, mau funcionamento das instituições de controle, e uma miríade de outros problemas derivados do baixo grau de educação política da maior parte da população. Estão nesse caso Índia e Brasil, amiúde citados como “duas grandes democracias em países em desenvolvimento”, o que deve ser tomado com certa caução. A Argentina e o México também entram nessa categoria, assim como grande parte dos países latino-americanos e vários asiáticos e a África do Sul.

(D) Regimes autoritários abertos
Uma gama imensa de situações, respondendo aos mais diversos fatores de concentração de poder, em alguns casos por falta de tradição democrática – seria o caso da Rússia, por exemplo –, em outros por regressão populista momentânea (como vem ocorrendo em alguns países da América Latina). Esses países podem tanto evoluir para uma democracia de baixa qualidade, quanto descambar para situações ditatoriais mais ou menos fechadas. É o caso, por exemplo, do Irã, país dotado de uma sociedade civil muito ativa, mas atualmente dominado por uma teocracia regressista que pode colocá-lo, conjunturalmente, na categoria seguinte, uma quase ditadura.

(E) Ditaduras disfarçadas
Conservam certa aparência de democracia, mas consolidaram grupos ou personalidades no poder que manipulam os processos políticos, perseguem os opositores, concentram todo o poder e literalmente desmantelam as instituições em seu benefício exclusivo. O exemplo mais notório é, obviamente, a Venezuela, que muitos confundem com um regime progressista de esquerda, mas que nada mais é senão um triste exemplo do velho fascismo por demais conhecido nos anos 1930. O caudilho destrói todas as instituições, ou as coloca a seu serviço exclusivo.

(F) Regimes autoritários fechados
Sistemas infensos ao voto popular ou com monopólio político de um grupo ou partido no poder: Birmânia (ou Miamar), Síria, Egito, China, grande parte dos países africanos e alguns poucos asiáticos, como alguns saídos do casulo soviético (mas mantidos com os mesmos aparatchiks do velho sistema comunista). Alguns já foram totalitários, mas se tornaram menos “carnívoros”; outros eram democracias de fachada que não resistiram ao líder providencial e candidato a insubstituível.

(G) Países totalitários
Nem é preciso explicar por que: Cuba, Coréia do Norte se enquadram perfeitamente no modelo mais lamentável que o socialismo bolchevique deixou como herança do início do século 20. Devem desaparecer, mas o sofrimento em que incorrem ou incorreram (como a China nos tempos de Mao) seus povos é indizível.

Nessas diferentes categorias, não parece haver problemas classificatórios nos escalões A, B e G, mas os estratos intermediários sempre colocam problemas, já que as dinâmicas políticas, em países não totalmente estruturados politicamente, podem tanto aproximá-los formalmente de modelos passavelmente democráticos (ainda que de baixíssima qualidade), ou, no outro sentido, fazê-los cair nas malhas das ditaduras mais ou menos abertas ou disfarçadas. Outra ainda é a situação de Estados falidos – vários africanos, ou o Haiti, no hemisfério ocidental – que sequer possuem instituições normais de um Estado em funcionamento mínimo, para atender serviços básicos de sua população, retrocedendo para a guerra civil ou vivendo de assistência pública internacional, numa espécie de tutela dos organismos internacionais (com esmolas adicionais introduzidas pelas ONGs).

Por fim, ainda que isto ofenda os “brios democráticos” de muitos brasileiros – sobretudo aqueles que vivem circulando em torno do parlamento ou que vivem de empregos ou favores do governo –, não tenho nenhuma hesitação em classificar o Brasil como uma democracia de baixa qualidade, ainda que seja uma categoria relativamente esdrúxula nos anais da ciência política: o Brasil tem todas as características dessa categoria, e atende todos os requisitos de uma democracia de baixa qualidade, inclusive porque tem muita gente ativíssima na arte de construir um regime fechado ou autoritário à solta por aí; então não há porque promovê-lo, por enquanto, para o grupo das democracias com algumas disfuncionalidades, categoria a que pertencem países que são em geral considerados perfeitamente democráticos.
Sorry, folks, mas minhas exigências democráticas são muito altas, e eu não me contento com pouco...

P.S.: Quem quiser criticar minha abordagem, é obviamente livre de fazê-lo, mas eu apreciaria receber argumentos mais consistentes do que gritos indignados. Ou seja, aceitam-se reclamações justificadas, inclusive dos pequenos déspotas que circulam por aí, fazendo a infelicidade de seus povos...

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2145: 22-23 maio 2010, 4 p.

Deveres do Professor - Escola Sem Partido

Apoio inteiramente, integralmente, se me permitem a redundância, a campanha da ONG Escola Sem Partido. Sei como "funcionam" as escolas brasileiras, sei o que "pensam" os professores -- sorry, mas as aspas são inevitáveis, sem qualque ironia -- e sei o que seria preciso ser feito (e que, infelizmente, não será).
Por isso transcrevo aqui este post do Escola Sem Partido.

Deveres do Professor
Escola Sem Partido - Educação sem Doutrinação

22.05.2010

Ao lado da liberdade de ensinar, está a liberdade de aprender, ambas asseguradas pelo art. 206 da Constituição Federal.

A doutrinação político-ideológica em sala de aula constitui claro abuso da liberdade de ensinar; abuso que implica o cerceamento da correspondente liberdade de aprender, já que, numa de suas vertentes, essa liberdade compreende o direito do estudante de não ser doutrinado.

Ora, só um estudante consciente dos seus direitos poderá defendê-los contra a ação abusiva de professores militantes. Por isso, o EscolasemPartido.org elaborou a relação (obviamente não exaustiva) de Deveres do Professor que se vê abaixo.

Peça à sua escola ou à escola de seu filho que mande imprimir e afixar cartazes contendo essa relação de deveres em locais onde possam ser vistos por alunos e professores. Se a escola se recusar, você saberá do lado de quem ela está.

______________________

DEVERES DO PROFESSOR

1. O professor não abusará da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente político-ideológica, nem adotará livros didáticos que tenham esse objetivo.

2. O professor não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, religiosas, ou da falta delas.

3. O professor não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas.

4. Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito.

5. O professor não criará em sala de aula uma atmosfera de intimidação, ostensiva ou sutil, capaz de desencorajar a manifestação de pontos de vista discordantes dos seus, nem permitirá que tal atmosfera seja criada pela ação de alunos sectários ou de outros professores.

Brasil nuclear: um tema "debatível"

Primeiro transcrevo o post de Reinaldo Azevedo, em seu blog arqui-conhecido:

HÁ QUEM QUEIRA A BOMBA BRASILEIRA. E ESSE DEBATE TEM DE SAIR DO ARMÁRIO
Reinaldo Azevedo, 21.05.2010

É claro que há antiamericanos delirantes no governo Lula, em especial no Itamaraty, que não estão nem aí para o Irã e seu programa nuclear. Querem é torrar a paciência dos Estados Unidos; criar o tal novo eixo de poder; enfrentar o imperialismo — essas boçalidades, vocês sabem. O que essa questão esconde, no entanto, é muito mais interessante. O Brasil é signatário do Tratado de Não- Proliferação Nuclear (TNP).

E o descontentamento com esse fato une muitos esquerdistas e antiesquerdistas; petistas e antipetistas; lulistas e antilulistas; civis e militares. O Brasil se atrapalhou todo na questão iraniana; meteu os pés pela mãos; foi surpreendido, em plena decolagem do tal acordo, pela declaração do governo iraniano de que o país continuaria a enriquecer urânio etc. Tudo isso é verdade. Mas o que leva o governo a esse comportamento é, quando menos, uma tentativa de método.

O Brasil está menos discutindo o programa nuclear iraniano — no fim das contas, sabe que, se o caldo entornar, ele não decide a resposta militar nem participa dela — do que, simbolicamente, o próprio programa. Notem como a argumentação das autoridades brasileiras termina sempre na “soberania”. A convicção de que o Brasil jamais será respeitado no mundo como merece se não tiver a bomba mais reúne do que divide ideologias e ideólogos.

À boca pequena, em áreas do governo e das Forças Armadas, o exemplo da Índia é sempre lembrado. O país não é signatário do tratado, fez seu primeiro teste nuclear em 1974 e anunciou a bomba em 1998. Não obstante, celebrou um acordo de cooperação nuclear com os EUA naquele mesmo ano. E continuou perfeitamente integrado à chamada ordem mundial. É claro que a Índia não é o Irã — a não ser para o Paquistão, que também tem a bomba… Digamos que as ambições bélicas — ou escatológicas — dos indianos têm aspirações mais modestas…

Ainda que pareça improvável — impossível mesmo —, a possibilidade de o Brasil denunciar o tratado surge aqui e ali. A ação de Lula e do Itamaraty em defesa do Irã acabou saindo dos trilhos. Na sua intenção original, o que se pretendia era debater a questão nuclear no âmbito da soberania, o que o Brasil, em boa medida, já faz. O acesso da Agência Internacional de Energia Atômica às instalações brasileiras é restrito, em nome do “segredo industrial”. E o país já disse que não assina um protocolo adicional do TNP, o que é cobrado pelos Estados Unidos.

Em dezembro de 2008, o governo lançou a Estratégia Nacional de Defesa, em que a energia nuclear ocupa papel central (íntegra aqui). Transcrevo um trecho em que se nota o inconformismo com o TNP e seu caráter limitante, a crítica às potências nucleares — o que parece um tanto descabido num documento como esse — e, entendo, uma certa sugestão de que a defesa do país está acima de tratados. Leiam:

O setor nuclear tem valor estratégico. Transcende, por sua natureza, a divisão entre desenvolvimento e defesa. Por imperativo constitucional e por tratado internacional, privou-se o Brasil da faculdade de empregar a energia nuclear para qualquer fim que não seja pacífico. Fê-lo sob várias premissas, das quais a mais importante foi o progressivo desarmamento nuclear das potências nucleares.

Nenhum país é mais atuante do que o Brasil na causa do desarmamento nuclear. Entretanto o Brasil, ao proibir a si mesmo o acesso ao armamento nuclear, não se deve despojar da tecnologia nuclear.
(…)
Aumentar a capacidade de usar a energia nuclear em amplo espectro de atividades. O Brasil zelará por manter abertas as vias de acesso ao desenvolvimento de suas tecnologias de energia nuclear. Não aderirá a acréscimos ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares destinados a ampliar as restrições do Tratado sem que as potências nucleares tenham avançado na premissa central do Tratado: seu próprio desarmamento nuclear.


Quem investir neste filão da apuração jornalística não vai se arrepender. Há muita gente dentro e fora do governo que acredita que o TNP não pode ser um entrave para um país como o Brasil. A questão, como quase todas, é, se me permitem a palavra, “debatível”.

Mas é preciso tirar o debate do armário — ou das instalações e intenções secretas.

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Agora, remeto a um artigo que escrevi, pouco divulgado, até aqui, e que também menciona essa questão:

2066. “A Arte de NÃO Fazer a Guerra: novos comentários à Estratégia Nacional de Defesa
Lisboa-Paris, 25.09.2009; transcrição: Salon-de-Provence, 28.09.2009; redação preliminar: Brasília, vôo Rio-Paris, 28.11.2009, 17 p.
Análise da END do ponto de vista conceitual e puramente estratégico, complementando análise preliminar, de caráter econômico, elaborada em fevereiro (n. 1984).
Divulgado no site de estudos estratégicos da Federal de Juiz de Fora, seção Defesa (20.01.2010; link: http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/ANFG.pdf).

A democracia e o fim da Historia: aguardem

Estou escrevendo um pequeno trabalho sobre as democracias atuais (nem todas são o que parecem), que começa por remeter ao famoso trabalho de Fukuyama. Mas não pretendo discuti-lo agora, tanto porque já o fiz, e remeto aqui ao texto em questão:

O Fim da História, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?
Meridiano 47 (n. 114, janeiro 2010, p. 8-17; ISSN: 1518-1219).
Mundorama (21.01.2010).
Relação de Originais n. 2101.
Relaçnao de Publicados n. 949.

O trabalho apenas tenta classificar os tipos de regimes políticos existentes no mundo contemporâneo.

Politica Nuclear do Iran (7): The Economist coloca os pontos nos "iis" (para quem precisa)

Para os que acompanham seriamente, sem arroubos patrioteiros, e sem retórica deslocada, o problema nuclear do Irã -- que se arrasta há pelo menos cinco anos -- foi realmente uma surpresa o anúncio tripartite de que o mundo estava salvo, de que a diplomacia tinha vencido e de que uma guerra tinha sido evitada. Mas, apenas o anúncio, pois que o acordo em si -- na verdade, uma mera declaração -- representou uma frustação em termos de encaminhamento do problema. Nada, na verdade, estava arranjado.
Para aqueles que necessitam saber por que, exatamente, e não têm a quem perguntar, esta matéria da The Economist resume muito bem o problema.
Alerta preventivo (em face de tentativas passadas): não adianta pipocar comentários absurdos neste post -- como faz certo personagem que não tem nenhum argumento inteligente a postar, e fica apenas tentando provocar -- que vou deletar impiedosamente. Os leitores deste blog merecem algo mais inteligente do que mais bobagens na internet, que já tem muita...
Paulo Roberto de Almeida

Brazil, Turkey and Iran
Not just any deal will do

The Economist, May 20th 2010

Have Brazil and Turkey helped solve a brewing nuclear crisis, or made it worse?

TO IRAN’S irrepressible president, Mahmoud Ahmadinejad, the deal was a triumph for the powers of the future over “the tyrant powers [who] belong to the past”. Others, tyrannically minded or not, have yet to see whether Brazil’s president, Luiz Inácio Lula da Silva, and Turkey’s prime minister, Recep Tayyip Erdogan, really have succeeded in enticing Iran a step in from the cold in its row with the UN Security Council over its nuclear ambitions. Several years of on-off talks (mostly off, at Iran’s insistence) between Mr Ahmadinejad’s government and six other countries, America, Britain, France, Germany, Russia and China, have failed to budge Iran from its insistence that its suspect nuclear work will continue, no matter what.

Under the May 17th deal, Mr Ahmadinejad is to send abroad some of his low-enriched uranium stocks, in return for higher-enriched fuel rods Iran needs to replenish an ageing medical-research reactor. On the face of it, that resembles a bargain Iran had first struck last October with America, Russia, France and the International Atomic Energy Agency (IAEA), the UN’s nuclear guardian, before it backed off. But the fear is that, well-meaning as the leaders of Turkey and Brazil may be, Iran is abusing their efforts to get out of a fix.

To those with past experience of Iran’s tactics, both timing and terms of the new deal look deeply suspect. Iran is facing a fourth set of UN sanctions. Two days after the Tehran “breakthrough” , a draft resolution agreed by the six countries Iran has been refusing to talk to, including previously reluctant Russia and China, was circulated to the rest of the Security Council. That was despite the claim by Turkey’s foreign minister that the Tehran deal meant further sanctions were now unwarranted.

If voted through, the new resolution would add more names to a list of individuals, firms and banks sanctioned for their links to Iran’s nuclear and missile programmes and slap an arms embargo on heavy weapons. Suspect shipments to and from Iran could be searched. Iran would find it much harder to get foreign uranium for its enrichment machines, which Mr Ahmadinejad claims he set spinning merely to produce under 5% low-enriched uranium for nuclear-power reactors (though Iran has none that can use it), while others suspect it may eventually be used to make the 90%-enriched stuff needed for a bomb.

Iran pooh-poohs sanctions, claiming even new ones won’t make it give up its “right” to enrich uranium. But its leaders have been courting other Security Council members, especially Brazil and Turkey. For, whatever their economic impact, widely supported UN sanctions do give the lie to Iran’s claims that it is the victim of a Western-inspired plot to deprive it of its right to nuclear energy, rather than being in the dock for what IAEA inspectors report have been serious violations of its nuclear safeguards. Iran also refuses point blank to answer more questions about activities that have little rational explanation except as part of a weapons effort.

Iran thus wants to block or delay a sanctions vote. But even if the October deal had gone through, harsher moves would have remained in play, both because their aim is to get Iran into wider talks than just those over fuel for its research reactor; and because, without pressure, Iran would be free to drag out talks uselessly. The October fuel deal was a gamble: Iran called it an acceptance of its “right” to uranium enrichment. But the rewards, had it chosen to negotiate seriously, were deemed worth the risk.

By shipping two-thirds of its then low-enriched uranium abroad, Iran would have been left, for perhaps six months while it rebuilt stocks, with less uranium in the country than would be needed, with further enrichment, for a breakout to a nuclear bomb. This, it was hoped, might create time for wider talks. More to the point, Russia’s offer to enrich the uranium from under 5% to the almost 20% needed for the medical reactor, along with France’s readiness to turn it into the needed fuel rods, mean Iran had no excuse to do the higher enrichment work itself. For it is a quirk of uranium enrichment that to get from 20% to 90% takes less effort than making the lesser-enriched stuff in the first place.

If a deal was worth trying then, surely it is worth trying now? But much has changed. Iran’s stock of low-enriched uranium is bigger: only about half of it would be needed to produce the equivalent fuel load for the medical reactor. Iran could have a full bomb’s-worth on hand again in no time. Earlier this year, Iran started its own 20% enrichment and insists that this will continue. That wipes out the hoped for non-proliferation gain, and may be a deal-breaker.

Meanwhile the terms of the new accord are vague. Mr Ahmadinejad is to set out his ideas to the IAEA within days. But then he can take all the time he likes to haggle over details with America, France, Russia and the IAEA. Under the old deal, the uranium would have gone directly to Russia, then France for reworking. Under the new one, Turkey will take custody of it. But Turkey has no way to enrich it or make it into fuel. Does Iran expect to get the 20% enriched fuel rods from another source, while its own uranium is under Turkish guard? Also, under the deal with Turkey and Brazil, Mr Ahmadinejad can decide whether the deal is going as he likes. If it isn’t, Turkey must hand back his uranium forthwith.

For those trying to talk Iran out of potentially weapons-usable work, this seems to get them nowhere. But it could leave the Security Council split and make an end to the stand-off with Iran harder. Mr Ahmadinejad would be the winner.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Dividindo o Brasil, e mandando a conta para nos pagarmos...

É caro, mas a gente paga
Carlos Brickmann, 21.05.2010

A divisão do Pará em três Estados continua sendo articulada, apesar dos custos (mais Assembleias, mais tribunais, mais funcionalismo), apesar da falta de perspectivas, já que o Pará responde por 1,8% da produção nacional. Os Estados viverão de verbas federais, tiradas dos seus, dos meus, dos nossos impostos.

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E não esqueçamos que ainda tem todo o Amazonas, que poderia dar facilmente três ou quatro estados novíssimos em folha (com perdão pela redundância botânica), e talvez até um dos Mato Grossos (você escolhe), sem mencionar o Piorão, ou mais exatamente, o Maranhão, que pode ter um lado ruim e outro pior ainda (você escolhe), graças à dinastia dos Ribamar...
O Brasil, como diria Pero Vaz, é um país que em se plantando, tudo dá, sobretudo palácios governamentais, sedes luxuosas para os legislativos, luxuosíssimas para os judiciários, milhares de cabides de emprego (literalmente) e muitas outras coisas mais...
Se antes só existiam pouco mais da metade dos 5.500 municípios que viviam de transferências federais, agora vamos ter muito mais estados (talvez um terço do total) que só podem sobreviver com transferências federais.
Dito assim, parece que o dinheiro vem do céu, de Brasília, quando ele sai do seu bolso, dos trabalhadores e empresários dos estados que são contribuintes líquidos para a União, e que recebem menos do que pagam em termos de serviços.
Viva o Brasil (dos espertos e dos ignorantes...).
Paulo Roberto de Almeida

Cadeia Nuclear Brasileira - capacitando a industria (Noticias CGEE)

Programa Nuclear Brasileiro
Notícias CGEE, 21 de maio de 2010

Estudo identifica condições para produção nacional de energia nuclear;
objetivo é desenvolver cadeia de suprimentos para atender demanda

O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) se uniram para identificar as condições necessárias para implantar no país uma cadeia de suprimento qualificada para a produção de energia nuclear. Essa cadeia deve ser capaz de atender às necessidades postas pelo Programa Nuclear Brasileiro (PNB), em sua expansão prevista para até 2030.

A parceria resultou em um estudo - encomendado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) ao CGEE – que posteriormente possibilitará encontros entre especialistas, representantes governamentais e do setor empresarial com vistas ao levantamento de propostas e recomendações que embasem a formulação de uma política industrial e tecnológica para o setor. A cadeia de suprimento para geração de eletricidade a partir de usinas nucleares tem prioridade no estudo conduzido pelo CGEE. No entanto, também são abordadas as áreas de saúde, de produção industrial e do agronegócio.

Na área de saúde os radiofármacos e congêneres têm importantes aplicações em diagnósticos e terapias por parte das clínicas e hospitais do Brasil. Ampliar sua utilização deverá contribuir para a melhoria da qualidade destes serviços. Já no agronegócio e na indústria, a questão é competitividade. O emprego das tecnologias de irradiação em alimentos melhora suas condições de conservação e qualidade, fator determinante para o acesso dos produtos brasileiros a alguns mercados externos.

Panorama
A energia nuclear é cada vez mais aceita pela opinião pública e por grupos ambientalistas. No Brasil, pesquisas de opinião pública revelam uma aceitação que varia, em média, de 60% a 80% da população brasileira. Entre os motivos que levaram a uma percepção positiva do setor nos últimos anos se incluem o aumento da segurança nos procedimentos de produção e os fatores ambientais, já que a geração de eletricidade com base em energia nuclear não emite gases causadores de efeito estufa.

A opção por um modelo que não polui a atmosfera é uma das vantagens competitivas da energia nuclear. “Mas a principal vantagem mesmo é econômica”, afirma o presidente da CNEN, Odair Gonçalves. “A energia nuclear é mais barata que o óleo, e o valor se equipara ao do carvão e do gás natural. Além disso, exige pouco espaço de armazenamento de combustível, já que 10 g de urânio enriquecido produzem a mesma eletricidade que 1.200 kg de carvão ou 700 kg de óleo”, diz.

“Num momento de intensas discussões sobre mudanças climáticas e aquecimento global, as alternativas tecnológicas de produção de energia vêm sendo repensadas pelas sociedades, e os avanços na tecnologia nuclear permitiram um olhar diferente sobre este modelo de geração de energia elétrica”, afirma a assessora do CGEE, Liliane Rank, líder do estudo.

No começo da década, pesquisas mostravam que menos de 30% dos brasileiros apoiavam ou confiavam na produção de energia nuclear. Além das vantagens competitivas de apelo ambiental e econômico, a virada na opinião ocorreu a partir de 2003. “Neste ano, passamos a priorizar a transparência das informações sobre o setor”, explica Gonçalves, da CNEN.

Em referência à questão ambiental, é positivo o fato de que as usinas nucleares ocupam terrenos relativamente pequenos quando comparados às extensas áreas inundadas para a instalação de usinas hidrelétricas.

Expansão Nuclear

A primeira etapa do estudo liderado por Liliane Rank, concluída em novembro de 2009, deu origem a um relatório final, “Estudo da Cadeia de Suprimento do Programa Nuclear Brasileiro: contextualização e perspectivas do setor de produção de energia nuclear no Brasil”. De acordo com Liliane, a segunda fase, iniciada no primeiro semestre de 2010, deve especificar e dimensionar a demanda de suprimentos, fundamentada na expansão prevista para o setor, além de estabelecer um diálogo entre oferta e demanda para identificar oportunidades de investimentos que fortaleçam a base industrial do país.

O Plano Nacional de Energia do governo brasileiro trabalha com cinco cenários de potência instalada no país até 2030. A energia nuclear, segundo o plano, passaria dos atuais 2,1% de participação para 3% no cenário mais modesto para a produção de origem nuclear. Ou, no cenário mais favorável, para uma fatia de até 5% em 2030.

Para alcançar esses objetivos, o Brasil construirá entre quatro e oito novas usinas nucleares em seu território nos próximos 20 anos. As obras da usina de Angra 3 começam em 2010, de acordo com a CNEN. O governo definirá, ainda este ano, a localização da quarta planta, que deverá ser instalada na região Nordeste, provavelmente no estado de Pernambuco.

“Por isso o estudo é primordial”, afirma Odair Gonçalves. “Precisamos dominar a produção de algumas ligas metálicas. O estudo é fundamental principalmente para as áreas de insumos e infraestrutura”, diz. Segundo Gonçalves, a expectativa é que a indústria nacional domine toda a cadeia de suprimento até 2015.

O Brasil ostenta uma situação confortável no setor, já que é um dos três países que ao mesmo tempo detêm reservas de urânio e dominam o processo de enriquecimento, ao lado de Estados Unidos e Rússia. Além disso, a tecnologia de enriquecimento de urânio é conhecida e aplicada comercialmente por apenas sete países: Brasil, EUA, França, Rússia, Reino Unido, Alemanha, Japão e Holanda.

Diferentemente de outros países, como Estados Unidos, França, Rússia e Reino Unido, o Brasil enriquece urânio com finalidade estritamente pacífica, como prevê a Constituição do país. Essa posição histórica credenciou o governo brasileiro a participar, nos últimos meses, da busca de uma solução para o impasse entre o Irã e a comunidade internacional sobre o enriquecimento de urânio pelos iranianos.

Recomendações
O resultado das ações propostas no estudo conduzido pelo CGEE contribuirá para promover a mobilização do complexo industrial nuclear brasileiro, para que ele esteja preparado para fornecer serviços, materiais e equipamentos em grau crescente de nacionalização.

Assim, de acordo com o estudo, o parque industrial do país terá condições de atender ao Programa Nuclear Brasileiro (PNB) e de contribuir para o aprimoramento da gestão de longo prazo da implantação de novas usinas, bem como o delineamento futuro de políticas públicas de incentivo a este setor.

O documento lista uma série de sugestões que devem ser adotadas pelo setor produtivo, pelo governo e por instituições brasileiras a partir de 2010: fazer um levantamento da matriz de demanda versus oferta do setor nuclear; promover uma busca na produção nacional de enxofre; verificar os montantes dos déficits projetados no tempo, em uma comparação entre a capacidade de produção agregada ao sistema e a expansão das usinas em operação, para verificar as ordens de serviços externas necessárias até 2030.

Outras recomendações incluem identificar e promover a capacitação de empresas de consultoria na seleção de locais adequados para implantação de centrais nucleares, na preparação de relatórios de segurança para o licenciamento e na elaboração de estudos de impacto ambiental para instalações nucleares.

Uma nova etapa do estudo terá por objetivo se aprofundar em temas como a produção de radiofármacos, visando o incremento nas suas aplicações na área de saúde, e na fabricação de irradiadores nacionais, mapeando a demanda para a purificação e conservação de alimentos como frutas, já que alguns países, entre eles Estados Unidos e Japão, exigem biossegurança para os produtos que importam de outras nações.

Além do CGEE e da CNEN, contribuíram para o desenvolvimento do estudo a Eletrobrás Termonuclear S.A (Eletronuclear), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), a Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A (Nuclep), a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), entre outros órgãos, institutos e associações.

Tortura: o crime supremo, a diferenca entre a civilizacao e a barbarie...

A diferença entre uma democracia verdadeira e uma ditadura é exatamente esta.
Mesmo quando um regime democrático comete uma barbaridade como a tortura -- em situações extremas, como guerra e terrorismo -- nada impede o sistema democrático de debater amplamente o problema, e de corrigi-lo, pelo menos tentativamente.
Leiam a resenha-discussão abaixo publicada no Mises Daily.
Paulo Roberto de Almeida

How Civilization Deals with Torture States
by David Gordon
Mises Daily, May 21, 2010

Rule of Law, Misrule of Men
By Elaine Scarry
(MIT Press: A Boston Review Book, 2010; Xxii + 191 pages)

Elaine Scarry, a distinguished English professor at Harvard, attracted great acclaim early in her academic career for her study The Body in Pain (1985). It is hardly surprising, then, that the use of torture in the Iraq War has attracted her attention.

In Rule of Law, Misrule of Men, her searing indictment of the Bush administration, Scarry argues that the absolute prohibition of torture lies at the basis of the rule of law.

[I]t is crucial for the country to recognize that there is one crime with a legal profile so singular that it can — even standing alone — convey the wholesale contempt for the rule of law displayed by the Bush administration. That crime is the act of torture. The absolute prohibition of torture in national and international law, as [legal philosopher] Jeremy Waldron argued… "epitomizes" the "spirit and genius of our law," the "prohibition draw[s] a line between law and savagery," it requires a "respect for human dignity" even when "law is at its most forceful and its subjects at their most vulnerable." The absolute rule against torture is foundational and minimal; it is the bedrock on which the whole structure of law is erected. (p. 133)

That is very well said. Those, such as Eric Posner and Adrian Vermeule in their Terror in the Balance (Oxford, 2007), who regard freedom and security as goods to be "traded off" against each other, with nothing counting as absolute, will dismiss Scarry; but she is perfectly right.

The fact that American forces engaged in torture, at Abu Ghraib, Guantánamo, and elsewhere is well known; what is perhaps less well-known is that this occurred with the full knowledge and approval of the highest levels of the administration. In one case, that of Mohammed al-Qahtani, a prisoner at Guantánamo, "against whom all legal charges were eventually dropped… President Bush's team was in direct contact with the room in which the physical injury was taking place" (p.135, parentheses removed). In other cases, people have been "rendered" to Egypt, Saudi Arabia, and other countries known to practice torture.

Scarry extends her criticism of torture in an original and enlightening way. Refraining from torture is but one of several essential conventions that, if observed, prevent war from altogether disrupting civilized life. Civilization depends on communication; and while few agree with St. Augustine and Kant that lying is in no circumstances justified, the use of deception needs to be radically restricted.

But does this apply to war? Are not ruses and deceptions standard procedure? That is indeed so; but, as Scarry points out, international law has condemned certain forms of deception in war as "perfidy," holding them to be inimical to the fabric of communication. Among these are "false flag" operations and abuse of the red cross symbol.

[S]ome small pieces of language in war must remain wholly intact, uncompromised, unwavering, undiluted in their meaning. These few insignia are placed hors de combat, or "out of combat"; they constitute a civil structure that remains in place in the international sphere… (p. 66)

America has used false flags in interrogations, e.g., in the case of accused al Qaeda terrorist Abu Zubayda, in an effort to persuade him that Saudi Arabians were questioning him.

Why is abuse of the red-cross symbol forbidden? Scarry notes that this prohibition rests on another prohibition: hospitals cannot be attacked under any circumstances. The United States violated this prohibition as well, in the famous effort to rescue Private Jessica Lynch from Iraqi captivity. It transpires that the assault on the hospital was altogether unnecessary. Lynch had been well treated, and her captors were endeavoring to return her to an American hospital, an effort rudely interrupted by American gunfire.

As if this were not enough, the American forces violated another rule of civilized warfare. These rules strictly forbid assassinations of enemy political leaders; lethal force may be directed only against enemy soldiers. (Scarry notes a dissenting view but argues forcefully that this is unfounded.) America brazenly flouted this rule with its deck of cards depicting members of Saddam Hussein's government. Rewards were offered for the capture of these people, dead or alive, in complete violation of this prohibition.

The depredations of the Bush administration were by no means confined to the enemy. Scarry contends that Bush reversed the proper relation between the people and its government. She maintains that the government should be transparent to the people. Laws result from public deliberation, not the scheming of secret cabals. In contrast, people are entitled to a private sphere immune from the watchful eyes of government. Privacy is a fundamental right, and the Fourth Amendment severely restricts the government's power to search our homes and businesses.

When we say that democracy requires that the people's privacy be ensured, we do not mean that our lives remain secret; we mean instead that we individually control the degree to which, and the people to whom, our inner lives are revealed. (p. 10)

The Patriot Act inverts the Constitutional requirement that people's lives be private and the work of the government officials be public; it instead crafts a set of conditions in which our inner lives become transparent, and the workings of the government become opaque. (pp. 9–10)

The Iraq War did not come about through Congressional decision, as the Constitution mandates. Quite the contrary, Bush launched the attack on his own volition, after a propaganda campaign, based on a false and misleading account of the intelligence available to the administration. That intelligence, in turn, even though it did not support the inferences Bush and his minions drew from it, had been obtained through pressure aimed at securing conclusions given in advance.

The Patriot Act, along with other measures, allows the government drastic powers of surveillance, inconsistent with the Constitution, over Americans. Not only can bank and other records be examined without regard to the limits imposed by the Fourth Amendment, but those from whom such information is demanded cannot, under criminal penalties, disclose these demands to anyone.

In earlier work, Scarry has stressed the ability of the people to act for themselves.1 She returns to that theme here. Many towns and cities have taken matters into their own hands, declaring that they will refuse to cooperate with the Patriot Act. "Despite impediments to resistance, 238 towns, cities, and counties have now created a firewall against executive trespass in their communities" (p. 32; the number comes from an essay that Scarry wrote in September 2004 and is no doubt now greater).

Scarry goes beyond this. She contends that Bush and his leading associates should be criminally prosecuted for their misconduct. Moreover, she holds, in some cases, e.g., infliction of torture, international law requires prosecution. It is not a mere option, to be accepted or rejected on grounds of prudence:

Finally — and for us, most important — the international rules against war crimes and torture do not allow prosecution to be thought of as discretionary; they do not allow an escape based on electoral euphoria or on one's doubts about one's own stamina in fighting injustice. (p. 156)

I do not think that she is correct here. She seems to me dubiously to assimilate international law to domestic law. If a nation violates a treaty, at least one school of thought holds that this terminates the treaty. The treaty, in this view, cannot be treated as ordinary legislation, where someone subject to a law must comply with it whether he wishes to or not. True enough, that is not the prevailing opinion, as the Nuremberg trials and their many successors indicate; but the new view perverts justice. To impose criminal penalties for violations of international law encourages ideological crusades and war to the finish. Those faced with criminal penalties should they lose a war will be reluctant to surrender.2

I should be inclined to think, then, that prosecution along the lines Scarry indicates is a poor idea. Violations of domestic law by the Bush administration are of course another matter; and Scarry has in any case given us in her excellent and provocative book an indictment of recent American policy difficult to answer.

David Gordon covers new books in economics, politics, philosophy, and law for The Mises Review, the quarterly review of literature in the social sciences, published since 1995 by the Mises Institute. He is author of The Essential Rothbard, available in the Mises Store.

Notes
1 See her Who Defended the Country? (2003) on the action of private citizens on the commandeered airplanes involved in the 9-11 attacks.
2 See, e.g., Danilo Zolo, Victor's Justice: From Nuremberg to Baghdad and my review in The Mises Review Fall 2009

Chavez ou democracia: a escolha dos venezuelanos, segundo a The Economist

Um bom artigo síntese (como sempre são os artigos de fundo da The Economist) sobre a situação deplorável da Venezuela, que termina com um recado para o Brasil (ou melhor, para o atual governo brasileiro).

The wrecking of Venezuela
The Economist, May 16, 2010

Venezuelans are starting to fall out of love with their president. Will they be allowed to vote him out of power?

With his bellicose bombast, theatrical gestures and dodgy jokes, Hugo Chávez, Venezuela’s president for the past 11 years, has turned himself into one of the world’s most recognisable and controversial rulers. His fans salute him as a saviour for the downtrodden of the planet, a man who is leading a grass roots revolution against American imperialism and its local sepoys. But to many others, including this newspaper, he has come to embody a new, post-cold-war model of authoritarian rule which combines a democratic mandate, populist socialism and anti-Americanism, as well as resource nationalism and carefully calibrated repression.

This model has proved surprisingly successful across the world. Versions are to be found in countries as disparate and distinct as Iran, Russia, Zimbabwe and Sudan. In one way or another, these regimes claim to have created a viable alternative to liberal democracy.

In Mr Chávez’s case, that claim has been backed up above all by oil. On the one hand, he has deployed oil revenues abroad to gain allies, and to sustain the Castro brothers in power in Cuba. On the other, having kicked out Western multinationals, he has signed investment deals with state-owned oil companies. Last month China agreed to lend Venezuela $20 billion, mainly for oil development. Mr Chávez has armed his revolution with Russian jets, tanks and rifles (albeit bought on tick). Meanwhile, a Spanish judge accuses his government of sheltering members of ETA, the Basque terrorist group. Intercepted e-mails from leaders of Colombia’s FARC guerrillas suggest that they have received help, and possibly arms, through Venezuela. Of course Venezuela’s government denies such claims. So just how much of a menace is Mr Chávez, and what, if anything, can be done about him?
Venezuela’s dark age

Certainly his threats against Colombia—which include a total trade embargo if Juan Manuel Santos, a former defence minister, wins this month’s presidential election—and the evidence of his veiled support for the FARC are troubling. They are a constant, if so far manageable, source of regional tension. And his efforts to build a block based on self-proclaimed “revolutions”, anti-Americanism and managed trade in the heart of democratic Latin America have served to undermine the very cause of regional integration that he claims to champion. But rhetoric aside, his influence in the region peaked a couple of years ago. He lost one ally, albeit in regrettable circumstances, when Honduras’s president, Manuel Zelaya, was overthrown last year. Several others are on the defensive.

Much more important is the damage Mr Chávez is doing to his own country. His “21st-century socialism” is a precarious construction. The brief fall in the oil price of 2008-09 was enough to sink Venezuela’s economy into stagflation—even as the rest of Latin America is enjoying vigorous economic recovery. Venezuelans are suffering declining real wages, persistent shortages of staple goods (meat is the latest to become scarce) and daily power cuts.

The blackouts are in part the result of drought. But they are also the most dramatic sign that the bill for a decade of mismanagement of the economy and of public services is now falling due (see article). There are plenty of other ugly portents. In one of the world’s biggest oil exporters hard currency is running short: to buy a dollar in the tolerated parallel market now requires almost twice as much local currency as the official exchange rate (and three times more than the privileged rate for “essential imports”). Investors rate the country’s debt as the riskiest of anywhere. Crime and corruption are flourishing.
The coming choice between Chávez and democracy

Awkwardly for Mr Chávez, all this is happening when he faces a legislative election in September, the prelude to a vital presidential ballot in December 2012. That points to the contradiction at the heart of his project. He sees his revolution as permanent and irreversible. But he derives his legitimacy from the ballot box. He has been elected three times, and won four referendums. He has hollowed out Venezuela’s democracy, subjugating the courts, bullying the media and intimidating opponents. But he has been unable, or unwilling, to disregard or repress opposition to the same degree as Iran’s Mahmoud Ahmadinejad or even Russia’s Vladimir Putin, let alone the Castro brothers in Cuba.

Public opinion still matters in Venezuela. Remarkably, opinion polls show that two Venezuelans out of five still support Mr Chávez (higher than the proportion of the British electors who voted for the Conservative Party, the senior partner in the country’s new coalition government). That is tribute to his skill in convincing the poor that he is their champion, to the opposition’s mistakes, to years of record oil prices and to the ruthlessness with which he ransacks the economy for the short-term benefit of his supporters. It means he is unlikely to fade away. But provided that the opposition comes up with a plausible alternative, it is not fanciful to imagine that in 2012 Venezuela will face a stark choice: Mr Chávez or democracy.

All the evidence is that Venezuelans, including many chavistas, are democrats and want to remain so. But Mr Chávez is pushing on regardless with his revolution, nationalising ever more businesses, expropriating private properties and selectively locking up or harassing his opponents. So the question increasingly being asked in Caracas is whether Mr Chávez’s rule will end peacefully or not.

The answer will lie largely with Venezuelans themselves. But outsiders, especially in Latin America, can play their part, by urging that the opposition receive guarantees that it can take part both this year and in 2012 on equal terms. That goes particularly for democratic Brazil, whose president, Luiz Inácio Lula da Silva, has embraced Mr Chávez far more than is desirable for his own country’s long-term interest. Mr da Silva has helped entrench prosperity, freedom and democracy in Brazil. He should hope the same happens for Venezuela. Mr Chávez, unfortunately, is not the man to bring that about.

E já que estamos falando de futebol, nada como uma historieta ao estilo do presidente...

Lula Futebol Clube
Nelson Motta
O Estado de S.Paulo, 21 de maio de 2010

Como Lula adora metáforas futebolísticas, nada melhor para tentar explicar a um amigo inglês, fanático por futebol mas ignorante de Brasil, como é a política do governo Lula.

Contei que o time entrou em campo com a prata da casa, mas logo reforçou a defesa com vários jogadores comprados de times adversários, como os veteranos Jader e Renan, e o veteraníssimo Ribamar, craques em roubar bolas e parar atacantes com faltas.

O "professor" Lula segue a máxima de Nenem Prancha - "jogador tem que ir na bola como quem vai num prato de comida" - mas não contava com a voracidade dos companheiros.

Um dos problemas do time é que, muitas vezes, alguém pede bola sem receber, faz corpo mole e abre o bico. Com a defesa batendo cabeça, Lula perdeu o seu impetuoso armador Delúbio e o volante Silvinho "Land Rover", que distribuía o jogo na intermediária, expulsos por mão na bola.

E quase tomou uma goleada no primeiro tempo. Foi salvo pelo craque Thomaz Bastos, cérebro do meio de campo, que organizou a defesa, resistiu a todos os ataques e ainda virou o jogo na segunda etapa.

Mas o time voltou insistindo em avançar pelo costado esquerdo da cancha, com o bisonho Tarso no lugar de Thomaz Bastos, que saiu exausto, e com as investidas desastradas do canhotinha Amorim, que levaram várias bolas nas costas e dribles desmoralizantes. Mas no meio de campo os competentes Meirelles e Palocci mandavam no jogo, chutando com as duas, e impondo seu futebol de resultados, sem jogar para a arquibancada.

Quando perdeu seu capitão, o catimbeiro Dirceu, e depois a revelação do meio campo, Palocci, que levaram cartão vermelho, Lula improvisou o cabeça de área Rousseff como capitão e os perebas Lobão e Geddel como volantes. E mesmo assim está dando uma goleada. Mas a bola ainda está rolando.

Uma originalidade do time de Lula é que, talvez pela fraqueza dos adversários, quase todos os gols que tomou foram feitos pelos seus próprios defensores, como os pernas de pau Valdebran e Gedimar, no fim do primeiro tempo.

Mas sua maior jogada foi instituir o "Bola-Família", que deu 70% da lotação do estádio para a sua torcida.

Sendo generoso com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro: Bolsa-Atleta...

...e, como sempre ocorre no Brasil, outros espertinhos se apressam em pedir extensão da generosidade para seu próprio benefício. Se tem para eles, por que não para mim?

Ministério dos Esportes
‘Bolsa Copa’ vai para o Congresso
Opinião e Notícia, 21/05/2010

O presidente Lula encaminhou nesta semana ao Congresso Nacional o projeto de lei “Bolsa Copa do Mundo”, que prevê a distribuição de um prêmio no valor de R$ 100 mil a cada um dos ex-jogadores campeões mundiais de futebol das Copas de 1958, 1962 e 1970.

Além disso, cada ex-jogador também teria direito a receber uma pensão mensal vitalícia de até R$ 3,4 mil. Esse valor seria equivalente à diferença entre a aposentadoria máxima da Previdência Social, que é de R$ 3.416,54, e a renda atual do beneficiado em questão.

Todos os convocados para as Copas, titulares ou reservas, seriam beneficiados. De acordo com o governo, o prêmio de R$ 100 mil será pago em parcela única e “beneficia inclusive herdeiros legais de jogadores já falecidos, e estará isento de Imposto de Renda e contribuição previdenciária. O pagamento será feito com recursos do Ministério do Esporte”. Já o auxílio mensal, “também será pago à esposa ou companheira, filhos menores de 21 anos ou inválidos, desde que a invalidez seja anterior à data em que atingiram 21 anos”.

Polêmica
O projeto de lei vem causando polêmica no meio esportivo. Na última sexta-feira, 14, a campeã olímpica do salto em distância, Maurren Maggi, pediu a extensão do “Bolsa Copa” para os atletas olímpicos. O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, não apóia a criação do benefício. Ele afirma que os clubes já destinam 1% do valor do contrato dos jogadores à Federação dos Atletas, que seria responsável por ajudar os ex-jogadores.

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O site que transmitiu essa "notícia" (sic), ainda tem a petulância de perguntar:

Caro leitor, você concorda com o critério utilizado para a criação do "Bolsa Copa"?
* Sim, os jogadores que foram campeões do mundo nos anos de 1958, 1962 e 1970 merecem esse reconhecimento.
* Não, a bolsa deveria se estender para outros esportes.


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Volto a comentar:

Além das cenas de demagogia explícita, em pleno ano eleitoral, é evidente que isso vai excitar a vontade "esmolenta", se ouso dizer, de brasileiros normais, que pensam que dinheiro nasce em árvores, ou que o governo arranca dinheiro de alguma cornucópia infinita.
Quando é que brasileiros responsáveis vão condenar, absolutamente, esse tipo de demagogia barata com o seu próprio dinheiro?
Paulo Roberto de Almeida

Panicos em bolsas e queda dos mercados: licoes da historia

Acabo de receber o seguinte alerta do Washington Post sobre mais uma "sexta-feira negra" nos mercados de valores:

News Alert: Dow Jones industrial average falls below 10,000 at open
09:32 AM EDT Friday, May 21, 2010
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The Dow Jones industrial average fell below 10,000 at open after major stock indexes posted their biggest drops in more than a year and pushed the market to “correction” mode.
Investors again looked to Europe for direction. The German parliament approved the country's share of a $1 trillion plan to help contain debt problems in the European Union but major stock indexes fell more than 1 percent in Europe. Traders are worried stronger countries like Germany and France will be saddled with heavy debts to help weaker EU countries.


Por acaso estava lendo este livro excelente, que comprei em Hong Kong, de

Liaquat Ahamad:
Lords of Finance: 1929, The Great Depression, and the Bankers Who Broke the World
(London: Windmill Books, 2009)

e lá pela página 48, tratando das quedas nas bolsas e seu fechamento na Europa, nos dias imediatamente precedentes da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o autor escreve:

"The first signs of crisis hit New York on Tuesday, July 28, when Austria declared war on Serbia. The Dow fell by 3 points, from 79 to 76, a decline of 4 percent... (...) On Thursday, July 30, the United States woke to news of a Russian general mobilization, and stocks experienced their single largest down day since the panic of 1907, falling 7 percent".

Ou seja, nada de extraordinário em relação ao que está acontecendo agora, com esses tremores causados pela Grécia e aqueda geral nos mercados.
Capitalismo é isso, sempre balançando.
O mais patético é que tem gente que ainda afirma, com toda a pose do mundo, que:

"Os mercados não funcionam, precisamos controlá-los".

Mas essas são precisamente as provas de que os mercados funcionam perfeitamente. Cada vez que existe um sinal de algo estranho, os mercados reagem imediatamente, e no sentido correto, tentando proteger ativos que estariam sendo ameaçados. O comportamento de manada amplifica os movimentos, mas isso é mais um sinal de que os mercados funcionam perfeitamente.
Eles estão punindo os excessos das pessoas -- podem chamar de especuladores, mas todos nós somos especuladores, a qualquer momento -- em pretender ganhos em discordância dos dados econômicos fundamentais.
Mercados são certeiros, e sempre penalizam os incautos...

Bem, espero não ter angustiado ninguém...

Sergio Buarque de Hollanda: certeiro, sobre a postura internacional do Brasil

O leitor Gustavo Machala postou um comentário ao post anterior, sobre a "Politica Nuclear do Iran (6)", que parece encaixar-se perfeitamente, ainda que involuntariamente, a atual diplomacia brasileira.
Claro, ele estava escrevendo em geral, com base em sua compreensão do que se poderia chamar de "caráter nacional brasileiro" (aliás, objeto de um belo livro por Dante Moreira Leite), e traduziu muito bem o que constitui, essencialmente, nossa postura internacional.
Transcrevo aqui, para que não se perca como simples nota de rodapé, como ele mesmo antecipa:

PRA,
Relendo algumas coisas de Raízes do Brasil, de SBH, encontrei um trecho que me lembrou da atuação da diplomacia brasileira no governo Lula, principalmente o caso recente de iniciativa na questão nuclear no Irã. É apenas curiosidade (não dá mais que pé de página em qualquer hipótese), mas acho que vale ser citado:

"Ostensivamente ou não, a idéia que de preferência formamos para nosso prestígio no estrangeiro é a de um gigante cheio de bonomia superior para com todas as nações do mundo. (...) Não ambicionamos o prestígio de país conquistador e detestamos notoriamente as soluções violentas. Desejamos ser o povo mais brando e o mais comportado do mundo. Pugnamos constantemente pelos princípios tidos universalmente como os mais moderados e os mais racionais."

Sérgio Buarque de Holanda:
Raízes do Brasil
(São Paulo: Companhia das Letras, 1995), p. 177

Politica Nuclear do Iran (6): Uma ducha fria em certas pessoas

Quando foi comemorado, da forma mais estrepitosa possível, o imenso sucesso diplomático alcançado em Teheran, pela dupla turco-brasileira, alguns leitores e comentaristas mais afoitos não se privaram de me escrever -- inclusive equivocadamente, em outro post que não tinha nada a ver com o assunto -- para, numa espécie de provocação, incitar-me a comentar o assunto.
Teve um até que me tratou por "tio" (sic), disparando algo do gênero: "E aí, tio, não vai comentar a vitória histórica da diplomacia brasileira?" (passons...)
O tempo voa, e no dia seguinte já tinha uma ducha fria no entusiasmo dos neófitos, com o anúncio de uma resolução sobre sanções.
Eu, obviamente, não "torço" para nenhum lado, apenas para o da verdade, o da paz e o da segurança mundial. Sob esses poucos critérios, muito simples deduzir como estaria o mundo -- mais próximo ou mais distante desses objetivos -- se uma ou outra solução prevalecer. Desde o primeiro post desta série, eu advertia que não tinha a menor ideia de como este assunto vai terminar, mas antecipava que o final não seria muito feliz. Talvez eu nem suspeitasse que ele faria infeliz a mais gente do que os suspeitos de sempre (como diria aquele personagem de Casablanca).
Abaixo, um artigo para alimentar o debate...
Destaco apenas um trecho, que tem a ver com as pretensões a "pacificador" do Brasil:
Mas por que o Brasil não tenta mediar o conflito entre Venezuela e Colômbia em torno das Farc? Ou a disputa prolongada entre Argentina e Uruguai em torno de uma fábrica de celulose na fronteira entre os países? Ou a disputa territorial entre Chile e Peru? Ou o conflito entre Equador e Colômbia suscitado pelo ataque de 2008 contra uma base da guerrilha colombiana no Equador?
São boas perguntas, para começar. Se alguém tiver respostas sérias, que não sejam ofensivas, nem transponham o limite da pertinência, pode comentar, que eu publico; que estejam na linha e no espírito do que vem sendo publicado aqui, pelo menos...
Paulo Roberto de Almeida

O tropeço do Brasil no Irã
Andrés Oppenheimer
Folha de S.Paulo, 21.05.2010

A autoproclamada vitória diplomática do Brasil no Irã no início da semana levou comentaristas a afirmar que o país teria se convertido num novo protagonista da diplomacia mundial. Mas é provável que tenham se enganado, ou, no mínimo, falado antes da hora.

Em vez disso, o anúncio feito na segunda pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que Brasil e Turquia tinham mediado um acordo com o Irã para resolver a crise internacional em torno do programa nuclear iraniano pode ficar na história como caso típico de megalomania diplomática.

O anúncio pode também levantar perguntas crescentes sobre o porquê de Lula estar tentando resolver sozinho os maiores problemas do mundo - como o programa nuclear iraniano ou, semanas antes, o conflito israelo-palestino - ao mesmo tempo em que praticamente não move uma palha para tentar mediar disputas que estão muito mais perto de casa, na própria América Latina.

Após firmar o acordo entre os três países durante sua visita ao Irã, Lula, enlevado, ergueu suas mãos com o homem-forte iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e proclamou que o acordo foi "uma vitória da diplomacia".

Pelo pacto, o Irã concordou em enviar 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido à Turquia. Em troca, receberia mais ou menos um ano mais tarde 120 quilos de urânio enriquecido da Rússia e da França. O acordo é semelhante ao proposto em outubro por EUA, Rússia, China e Europa, que o Irã chegou a sinalizar que aceitaria para depois recuar.

Defensores do esforço de mediação brasileiro-turco observam que o Irã fez concessões importantes no novo acordo: até agora, Teerã vinha rejeitando a ideia de armazenar seu urânio no exterior e exigia que qualquer troca fosse feita de maneira simultânea.

Sanções
Contudo, horas apenas depois de Lula ter declarado vitória, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, anunciou que o governo Obama tinha fechado um acordo com Rússia, China, França e Reino Unido para impor sanções ao Irã.

Em outras palavras, as potências mundiais viram o trato feito pelo Irã com o Brasil e a Turquia como mais uma tentativa de Teerã de ganhar tempo enquanto continua a construir armas nucleares em segredo. Especialistas em proliferação nuclear dizem que o pacto Brasil-Turquia-Irã para reativar o plano de outubro foi falho porque as circunstâncias mudaram significativamente desde então: o Irã continuou a enriquecer urânio a todo
vapor nos últimos sete meses.

Isso significa que o acordo prevê a troca de uma porcentagem muito menor do estoque de urânio iraniano do que previa o plano anterior. "Não acho que tenha sido uma vitória diplomática", diz Sharon Squassoni, especialista em proliferação nuclear do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington. "Foi, na verdade, uma iniciativa preventiva da parte do Irã para evitar novas sanções. Como tal, fracassou."

Vizinhos
Minha opinião: não há nada de errado em uma potência emergente como o Brasil tentar resolver grandes crises internacionais, apesar de Lula ter um histórico lamentável de sempre partir para o resgate de alguns dos ditadores mais implacáveis do mundo. Eu gostaria muito de ver o Brasil assumindo riscos para apoiar a democracia e os direitos humanos.

Mas por que o Brasil não tenta mediar o conflito entre Venezuela e Colômbia em torno das Farc? Ou a disputa prolongada entre Argentina e Uruguai em torno de uma fábrica de celulose na fronteira entre os países? Ou a disputa territorial entre Chile e Peru? Ou o conflito entre Equador e Colômbia suscitado pelo ataque de 2008 contra uma base da guerrilha colombiana no Equador?

O Brasil provavelmente considera que as disputas latino-americanas não fazem jus a sua estatura internacional. É possível que tema que exercer um papel pacificador maior na região seja acompanhado de responsabilidades econômicas que não deseja assumir.

Mas não é possível ser um anão diplomático em sua própria região e tentar ser um gigante longe de casa. Se o Brasil quiser ser um ator construtivo nos assuntos internacionais, poderia começar por comportar-se como tal em casa.

Estudo da OCDE sobre os funcionarios publicos brasileiros

Primeiro comentário (PRA): as médias da OCDE não podem ser consideradas como relevantes para fins de comparação. Como se sabe, a maioria dos países da OCDE é formada de países europeus do welfare state, cujos Estados, ou setores públicos, estão sobredimensionados com relação aos requerimentos de uma economia dinâmica e isso já se reflete nos déficits orçamentários, nas crises fiscais, no baixo crescimento e na estagnação previsível da maior parte das economias e sociedades européias.
Se o estudo parte das médias da OCDE para comparar com o Brasil já começa errando, pois não se pode fazer tal tipo de comparação esquecendo a história e as tendências econômicas profundas.
Seria um exercício fútil de eurocentrismo, ou de ocdecentrismo exagerado...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil tem baixa proporção de empregos públicos, mas a custo alto, diz OCDE
BBC Brasil, 20 de maio, 2010

Funcionalismo público vem crescendo a 15% ao ano desde os anos 1990

A proporção de empregos públicos em relação à força total de trabalho no Brasil é relativamente baixa na comparação com os países desenvolvidos, mas seu custo relativo ao PIB é alto, de acordo com um estudo realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com o Banco Mundial e o governo brasileiro.

Segundo o estudo divulgado nesta quinta-feira, centrado no caso do Brasil em comparação com países da OCDE, o total de servidores públicos no Brasil, incluindo os empregados das empresas estatais, representa entre 11% e 12% do total de empregos no país.

Entre os 31 países da OCDE (grupo que reúne os países desenvolvidos), a média das porcentagens de servidores públicos em relação aos empregos totais é de 22%. De todos os países da OCDE, o Japão é o único com uma proporção menor que a brasileira, abaixo dos 10%.

Na comparação entre as proporções das remunerações dos servidores públicos em relação ao PIB, a porcentagem no Brasil é próxima à média da OCDE, em torno de 12%.

Em uma comparação entre 26 países (Brasil e 25 membros da OCDE), a proporção brasileira do custo das remunerações no setor público em relação ao PIB é a 10ª maior.

A Dinamarca, com uma proporção de cerca de 17%, tem a proporção mais alta, enquanto o Japão, com pouco mais de 6%, tem a mais baixa.
Quando considerados ainda em conjunto o custo das remunerações dos servidores públicos e os serviços públicos produzidos pelo setor privado e pagos pelo governo, isso atinge 27% do PIB, deixando o Brasil em quinto na comparação com os países membros da OCDE.

Segundo o estudo, isso se deve a uma combinação de fatores, como as remunerações excessivamente baixas no setor privado para certas funções, a proporção maior de cargos qualificados no setor público e “a escolha que tem sido feita de pagar relativamente bem os servidores públicos em posições essenciais para motivar seu compromisso e atrair e reter uma força de trabalho altamente qualificada”.

Crescimento acelerado

O documento aponta ainda uma tendência de crescimento acelerado dos empregos públicos desde a década de 1990, apesar da queda, entre 1995 e 2003, no número de funcionários públicos do governo federal (que representam cerca de 15% dos empregos totais no setor público).
De acordo com o estudo, o número de funcionários do governo federal caiu de cerca de 570 mil para cerca de 485 mil durante o governo Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2003, e aumentou depois nos anos seguintes, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, para chegar a 540 mil em 2008.

Apesar disso, o ritmo de aumento no total de servidores públicos nos três níveis (municipal, estadual e federal) teria crescido ao mesmo ritmo, de 15% ao ano, entre 1999 e 2003 e de 2003 a 2007.

O relatório observa que “esses aumentos foram justificados pela necessidade reconhecida de melhorar o acesso aos serviços públicos, especialmente na área da saúde e educação, e para superar deficiências pré-existentes na capacidade do governo”, mas ressalta que “a situação deve ser acompanhada de perto”.

“Considerando o importante papel atribuído à ação do governo na economia e na sociedade pelo governo Lula, as tendências relacionadas aos cargos e empregos públicos não são surpreendentes, mas os dados devem encorajar uma atenção específica à evolução da produtividade das ações do governo e, como consequência, na eficiência da gestão de pessoal”, sugere o documento.

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Comentário adicional: a maioria dos funcionarios publicos federais (e alguns estaduais e municipais tambem) é formada de privilegiados em relacao aos trabalhadores do setor privado.
Não existe diferencial de produtividade que explique o diferencial de salários, talvez o contrário...
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Paulo Roberto Almeida