O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Imprensa 6 x Governo 0: vai ficando cansativo, eu sei...

Não levo nenhuma campanha contra o governo, este ou outros.
O que me move, basicamente, é a vontade de viver num país normal.
País normal é aquele no qual você acorda sabendo que o dinheiro que você pagou em impostos está sendo bem utilizado, que as políticas públicas são as melhores possíveis, enfim, que as manchetes que você lê no café da manhã não são as de ministros e altos funcionários públicos envolvidos em corrupção.
Com base nestes critérios, o Brasil ainda não é um país normal.
Eu gostaria que ele fosse, e tenho pouco poder para mudar muito a situação. Afinal de contas só disponho deste blog, de eventuais artigos publicados aqui e ali, pouco lidos, eu sei, e de aulas, nas quais eu posso transmitir aos meus alunos algumas verdades simples, do tipo "seis vezes sem juros" é uma coisa que não existe em países normais. Por curioso que seja, eles se surpreendem quando digo esse tipo de coisa, pelo menos os do segundo semestre da graduação.
Pois bem, como posso fazer muito pouca coisa, posso pelo menos achar estranho que eu pague, com meus impostos, funcionários que se especializam em deformar a realidade, como esse secretário de imprensa da Presidência da República, objeto do comentário desse jornalista conhecido.
Por fim: coloquei o seis a zero porque já dou o resultado por adquirido. Será a sexta vez que o governo será comandado pela imprensa. Pelo andar da carruagem, a conta deve aumentar...
Paulo Roberto de Almeida

Secretário de Imprensa da Presidência da República sabota esforço moralizador do governo. Demonstro por quê.
Reinaldo Azevedo, 16/08/2011

Governos no mundo inteiro têm uma estrutura de imprensa para se comunicar com a opinião pública. Poucos, no entanto, contam com um aparato semelhante ao brasileiro, que soma a publicidade oficial à das estatais, conferindo um poder formidável aos mandatários de turno. Aí está uma das raízes dos desmandos no Brasil, não duvidem.

Pois bem. O lulo-petismo não se conforma só com o permanente assalto ao bolso dos cidadãos para espalhar as verdades oficiais e para fazer politicagem. Todos sabemos que há, por exemplo, uma rede de blogs sujos financiada direta ou indiretamente pelo oficialismo. E isso ainda é pouco. Profissionais incrustados na máquina de comunicação, que deveriam primar pelo rigor técnico, recorrem às redes sociais para praticar uma espécie de pistolagem intelectual e política.

Vou dar destaque aqui a um sujeito que tem modestíssimos 1.045 seguidores no Twitter. Certamente acabará ganhando alguns depois deste post. Não ligo. Às vezes, sou caridoso com os desprovidos de público. Dou relevo ao que ele escreveu porque, creio, três de seus tuítes servem de emblema do que está em curso.

Refiro-me a um sujeito chamado José Ramos Filho, que é secretário de Imprensa da Presidência da República. Trabalha diretamente com Dilma Rousseff. A VEJA desta semana, como sabem, traz uma reportagem narrando a magnífica trajetória do ministro da Agricultura Wagner Rossi, o professor universitário que entrou para a política e acabou morando numa casa avaliada em modestos R$ 9 milhões. Esse é o lado, digamos, “empreendedor” de sua biografia. Há outros. Leiam lá.

Pois bem, no próprio sábado, tão logo a revista começou a chegar às bancas, o tal José Ramos Filho mandou ver em três tuítes, que me foram enviados por um leitor. Eu os reproduzo abaixo, na forma como foram redigidos.

1 - “O que dita rumos é o grito dos fatos noticiados, não o berreiro do jornalista ou de seu veículo.”
2 - “Parece que a editora abril tá querendo entrar no ramo de Diarios Oficiais…”
3 - “Na ausencia de uma bala de prata contra wagner rossi, veja tenta um tiro de cartucheira, com pregos e Chumbinhos.”

Embora José Ramos Filho seja secretário de Imprensa da Presidência, ele certamente dirá que tuitava “enquanto pessoa física”. Para o valente, tudo o que se sabe até agora de Wagner Rossi é pouco, e as notícias podem ser resumidas a um “berreiro”. Vi a cara dele. Já é um senhor careca e barbudo. Como diria Antero de Quental, a tolice de um velho é tão desagradável quanto a gravidade numa criança. Se fosse cabeludo e sem barba, não seria menos tolo. Só descrevo um tipo, que costuma ser confundido com seriedade.

Entendo por que ele está infeliz. O “berreiro” da VEJA derrubou, deixem-me ver, o ministro Antonio Palocci, o ministro Alfredo Nascimento, 26 pessoas do Ministério dos Transportes e o secretário executivo do Ministério da Agricultura, Milton Ortolan. Como diria o dito-cujo, nada como “o grito dos fatos”.

Passo para o tuíte 3. E encerrarei com o dois, em que, vocês verão, o secretário de Imprensa de Dilma faz pouco de sua chefe. Explicarei por quê. Ramos está anunciando um critério moral, que deve seguir, suponho, em sua vida privada, já que escreve “a nível de pessoa”, né? Ele acha que um ministro envolvido no desperdício de oito toneladas de comida por razões políticas não é “bala de prata”; ele acredita que um lobista com sala secreta no ministério — ex-traficante de drogas que redige pareceres e cobra propina em nome da pasta — não é bala de prata. Que homem tolerante! Se ele acha que o Brasil merece tais práticas, vai ver seleciona segundo esses critérios seus amigos na vida privada. Deus me livre!

Mas revelador mesmo é o tuíte 2. Parece enigmático? Eu explico. A mesma edição de VEJA que trouxe a reportagem que desconstrói Wagner Rossi publicou uma “Carta ao Leitor” em que afirma que os brasileiros decentes devem apoiar Dilma Rousseff QUANDO E SE ela demite larápios. O texto informa que a presidente está sendo alvo da chantagem de figurões da base aliada, que ameaçam com retaliações no Congresso.

Pois bem, o homem de Dilma na área de imprensa está afirmando que, ao redigir tal carta, VEJA se candidata a ser “Diário Oficial”. Como hostiliza a revista e como a revista apóia, sim, o esforço moralizador empreendido até agora, resta evidente que o tal José Ramos Filho está fazendo pouco do esforço de sua chefe para livrar os cofres públicos da bandidagem. Ou por outra: o secretário de Imprensa da Presidência está dizendo que esse apreço de VEJA pela moralização não é bem-vindo. Ele dispensa o apoio da revista a esse aspecto da atuação da presidente. Resta saber se o faz ou não em nome dela.

De novo: a tolice num velho é tão insuportável quanto a gravidade numa criança. VEJA atua “no ramo” do jornalismo — e é assim que colaborou para que muitos milhões de reais, bilhões talvez, que pertencem aos brasileiros fossem preservados da sanha da súcia. Este escriba já apontou aqui o arrefecimento do ânimo moralizador da presidente — para o mal do Brasil. Dá para entender por quê. Leio os três tuítes do secretário de Imprensa da Presidência como uma espécie de emblema da sabotagem do esforço moralizador empreendido até agora.

Sabotadores devem ser demitidos. Mas isso é com Dilma. Ao escolher seus assessores, escolhe também um destino. Se ele fica, então fala em nome dela.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Um grande calote, hoje quase esquecido: o golpe de Nixon contra Bretton Woods em 1971

Toda a bagunça do sistema financeiro contemporâneo começou com essa medida populista adotada por Nixon em 1971. Na verdade, ele pensava que era keynesiano; pode ser, mas ele era mesmo um populista demagógico.
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The Nixon Shock Heard 'Round the World
By LEWIS E. LEHRMAN
The Wall Street Journal, August 15, 2011

By severing the dollar's convertibility to gold in 1971, the president ushered in a decade of inflation and economic stagnation.
President Nixon delivered a nationwide television address loaded with economic news on Aug. 15, 1971.

On the afternoon of Friday, Aug. 13, 1971, high-ranking White House and Treasury Department officials gathered secretly in President Richard Nixon's lodge at Camp David. Treasury Secretary John Connally, on the job for just seven months, was seated to Nixon's right. During that momentous afternoon, however, newcomer Connally was front and center, put there by a solicitous president. Nixon, gossiped his staff, was smitten by the big, self-confident Texan whom the president had charged with bringing order into his administration's bumbling economic policies.

In the past, Nixon had expressed economic views that tended toward "conservative" platitudes about free enterprise and free markets. But the president loved histrionic gestures that grabbed the public's attention. He and Connally were determined to present a comprehensive package of dramatic measures to deal with the nation's huge balance of payments deficit, its anemic economic growth, and inflation.

Dramatic indeed: They decided to break up the postwar Bretton Woods monetary system, to devalue the dollar, to raise tariffs, and to impose the first peacetime wage and price controls in American history. And they were going to do it on the weekend—heralding this astonishing news with a Nixon speech before the markets opened on Monday.

The cast of characters gathered at Camp David was impressive. It included future Treasury Secretary George Shultz, then director of the Office of Management and Budget, and future Federal Reserve Chairman Paul Volcker, then undersecretary for monetary affairs at Treasury. At the meeting that afternoon Nixon reminded everyone of the importance of secrecy. They were forbidden even to tell their wives where they were. Then Nixon let Connally take over the meeting.

The most dramatic Connally initiative was to "close the gold window," whereby foreign nations had been able to exchange U.S. dollars for U.S. gold—an exchange guaranteed under the monetary system set up under American leadership at Bretton Woods, N.H., in July 1944. Recently the markets had panicked. Great Britain had tried to redeem $3 billion for American gold. So large were the official dollar debts in the hands of foreign authorities that America's gold stock would be insufficient to meet the swelling official demand for American gold at the convertibility price of $35 per ounce.

On Thursday, Connally had rushed to Washington from a Texas vacation. He and Nixon hurriedly decided to act unilaterally, not only to suspend convertibility of the dollar to gold, but also to impose wage and price controls. Nixon's speechwriter William Safire attended the conference in order to prepare the president's speech to the nation. In his book "Before the Fall," Safire recalled being told on the way to Camp David that closing the gold window was a possibility. Despite the many international ramifications of what the administration would do, no officials from the State Department or the National Security Council were invited to Camp David.


The president had little patience or understanding of the disputes among his economic team members. He found wearisome the mumbo-jumbo from Federal Reserve Chairman Arthur Burns. But the president had determined he would have a unified economic team and a unified economic policy, no matter what the consequences. So the White House dutifully leaked stories designed to undermine and humiliate Burns, as Connally waited in the wings with his "New Economic Policy."

At Camp David, Connally argued: "It's clear that we have to move in the international field, to close the gold window, not change the price of gold, and encourage the dollar to float." Burns timidly objected but was easily flattered by the president. By the evening of Aug. 15, Burns was on board with terminating the last vestige of dollar convertibility to gold, depreciating the dollar on the foreign exchanges, imposing higher tariffs, and ultimately ordering price and wage controls.

Nixon and Safire put together a speech to be televised Sunday night. It had taken only a few hours during that August 1971 weekend for Nixon to decide to sever the nation's last tenuous link to the historic American gold standard, a monetary standard that had been the constitutional bedrock (Article I, Sections 8 and 10) of the American dollar and of America's economic prosperity for much of the previous two centuries.

At least one Camp David participant, Paul Volcker, regretted what transpired that weekend. The "Nixon Shock" was followed by a decade of one of the worst inflations of American history and the most stagnant economy since the Great Depression. The price of gold rose to $800 from $35.

The purchasing power of a dollar saved in 1971 under Nixon has today fallen to 18 pennies (see the nearby graph). Nixon's new economic policy sowed chaos for a decade. The nation and the world reaped the whirlwind.

Mr. Lehrman is chairman of the Lehrman Institute.

Como NAO se deve fazer analise economica (nem politica, alias)...

Nunca antes na França, nem em qualquer outro lugar -- bem talvez em algumas faculdades econômicas brasileiras -- se fez quiromancia econômica tão bem, e de forma tão bizarra, como no caso desse francês maluco.
Receita: pegue todos os fatos, eventos, processos, acontecimentos fortuitos, surpresas de festa, especuladores perversos, um pouco de sanduíches McDonald ("Eu amo tudo isso"), jogue tudo no liquidificador (ou no moedor de carne, tanto faz), chacoalhe depois, acrescente o molho que você quiser (marxiano, à la Noam Chomsky, maoista apimentado, whatever), e depois sirva a uma plateia de estudantes passivos, que se encantam com esses conceitos estrambólicos - crise do capitalismo, esgotamento do sistema, mudanças sociais -- e aceitam qualquer bobagem que lhes seja servida.
Incrível como a decadência mental atinge até os marxistas (ou talvez sobretudo eles), que deveriam ser mais confiantes no futuro do capitalismo, já que eles convivem com o sistema desde meio século e meio aproximadamente.
Incrível como esse cara, que se pretende economista, consegue juntar tudo na sua salada mista que na verdade é misturada ao mais alto grau, até perder qualquer validade analítica.
Ou seja, malucos existem não apenas em certas universidades brasileiras; nas francesas também.
Paulo Roberto de Almeida

Crise financeira mostra regime em beco sem saída, diz Chesnais
ELEONORA DE LUCENA
Folha de S.Paulo, 15/08/2011

A crise financeira não tem final à vista. O modelo de crescimento baseado em endividamento, seguido nos países ricos, está num beco sem saída. E o calcado em exportações de insumos --como o do Brasil-- pode não funcionar por muito tempo.

A análise é do economista marxista francês François Chesnais, 77, professor emérito da Universidade de Paris 13 e autor de "A Mundialização do Capital" (1996) e organizador de "A Finança Mundializada" (2005).

Para ele, os protestos em Londres, no Chile e no Oriente Médio são expressão "de uma doença mundial criada pelo caminho tomado pelo neoliberalismo e pela dominação das finanças". Numa época de valorização do consumismo, são "reações ao extraordinário abismo social", afirma.

Juca Varella-25.mai.04/Folhapress

O economista e professor da Universidade Paris 13 François Chesnais é especialista em globalização de mercados
Folha - Qual a natureza da crise atual?

François Chesnais - O momento atual é um novo episódio na crise mundial. Ela começou há cinco anos, teve seu ponto mais crítico em setembro de 2008, com a quebra do Lehmann Brothers, e não tem um final à vista. Foi prenunciada pela crise asiática (1997-1998) e, no campo das finanças, pela quase quebra do Long Term Capital Management, no início da crise financeira russa. Eventos-chave nos anos 2000 e 2001 lançaram as bases para a eclosão da crise: o crash da Nasdaq, a resposta norte-americana ao 11 de Setembro, as guerras no Iraque e no Afeganistão, muito custosas política e financeiramente, e a entrada da China na Organização Mundial do Comércio.

Quais são as causas?

O funcionamento da economia mundial desde o início dos anos 2000 se baseou em dois pilares: o regime de crescimento guiado pela dívida, adotado pelos EUA e pela Europa, e o regime de crescimento orientado por exportações globais, no qual a China é a principal base industrial, e o Brasil, a Argentina e a Indonésia são os provedores-chave de recursos naturais. A crise representa o beco sem saída, o impasse absoluto do regime guiado pela dívida. O segundo pilar está levemente melhor, mas o crescimento baseado em exportações globais não poderá funcionar por muito tempo sem uma forte demanda externa, especialmente dos EUA e da União Europeia.

Por que há tensão nos mercados?

Os investidores financeiros estão extremamente preocupados. Há a perspectiva de um segundo mergulho da economia dos EUA, uma crise em forma de "W" nas economias avançadas. Outro risco é a vulnerabilidade do sistema bancário europeu, na zona do euro e também no Reino Unido. Há também o perigo de que o lento crescimento faça com que empréstimos públicos e privados sejam cada vez mais difíceis de serem recuperados.

Qual a situação na Europa?

Na União Europeia, desde abril de 2010, tem havido um contínuo fluxo de dinheiro público para alguns governos e para os bancos. Isso tem sido acoplado a políticas de austeridade muito drásticas em alguns países, que os arrastou à recessão (-4% na Grécia). Com isso, fica impossível o repagamento da dívida soberana. Provoca a quebra de empresas, além de levar os sistemas bancários na Grécia, na Itália e na Espanha para uma cada vez maior proximidade do colapso. Isso ameaça bancos nos países do coração da zona do euro, especialmente na França.

A situação dos bancos é preocupante?

Os eventos nas Bolsas estão sendo subordinados a situações bancárias críticas. Em 2008, a ameaça às finanças globais veio dos bancos de investimento dos EUA e das grandes seguradoras. O próximo episódio financeiro maior acontecerá quando um segmento do sistema bancário da Europa entrar em colapso na Grécia, Espanha ou Itália. A atual turbulência nas Bolsas é a expressão do pânico do investidor, que tenta antecipar esse tipo de evento. Seu principal efeito é contribuir para a efetiva ocorrência de um desastre em algum lugar. Isso afeta o comportamento do consumidor de renda mais alta e desencoraja investimentos da classe média.

Nos seus livros, o sr. descreve os detalhes do avanço das finanças. Como avalia o atual momento na história do capitalismo?

É possível traçar paralelos com o passado. Mas em nenhum período anterior foram tão elevados a quantidade de ações e títulos, os ganhos dos rentistas e nem foi tão grande a quantidade em circulação do que eu chamo de "capital monetário elevado à enézima potência". Nunca os lucros financeiros foram tão altos em comparação com a atividade produtiva. Há as consequências da globalização neoliberal contemporânea. Nunca as finanças foram tão desreguladas. Nunca a capacidade dos governos de recuperar o controle sobre as finanças foi tão fraca. A extrema fraqueza da liderança política é uma consequência direta disso. Mas há uma nova dimensão da história do capitalismo.

Qual é?

Essa nova dimensão é a crise ambiental, começando com as mudanças climáticas, que se desenvolve em paralelo à ascensão das finanças e de sua crise. Por isso, entramos nas piores condições possíveis numa era em que a civilização --como a concebemos, no Ocidente e no Oriente-- está patinando. Nossa era é uma em que as enormes e concentradas forças econômicas estão sendo chamadas a agir em tempos de crise, o que Naomi Klein chama de "a doutrina do choque": setores poderosos da sociedade não apenas protegem eles mesmos, mas usam catástrofes para ampliar sua dominação. A forma como o furacão Katrina foi tratado em Nova Orleans mostra que isso vale para grandes eventos ambientais. Alguma coisa muito perturbadora ocorreu silenciosamente na França e, imagino, em outros lugares: a "luta contra a mudança climática" foi substituída pela "adaptação à mudança climática".

Os governos deveriam jogar mais dinheiro nos mercados financeiros?

As políticas fiscais anunciadas ou já decretadas são fortemente pró-cíclicas. Elas acentuam o beco sem saída do regime de crescimento e a incapacidade que a elite dirigente tem de imaginar qualquer outra maneira de reger a economia. Não haverá fim para a crise mundial enquanto os bancos e os investidores financeiros estiverem no comando, fazendo políticas totalmente dirigidas pelos interesses dos rentistas e dando respostas à crise dominadas por tentativas de dar sobrevida ao regime guiado pela dívida.

O que precisaria ser feito para a retomada da crescimento?

Nos EUA e na Europa a recuperação requer o reestabelecimento do poder de compra das classes baixas e médias, a recriação e expansão da capacidade dos Estados de fazer os investimentos sociais e ambientais necessários e o estabelecimento de um sistema monetário internacional estável, não subordinado ao capital financeiro. As condições para isso vão incluir o cancelamento de boa parte da dívida soberana, assim como de boa parte da dívida doméstica; o reestabelecimento de uma taxação correta para a renda das finanças e do capital (um retorno aos níveis de 1970 seria um começo); o reestabelecimento de um verdadeiro controle público do sistema de crédito; um controle restrito dos fluxos de capital e uma luta efetiva contra os paraísos fiscais.

Qual sua visão sobre o poder das agências de classificação de risco?

O poder das agências de classificação de risco apenas espelha o quanto os governos foram colocados nas mãos das finanças. Mostra a extensão da abdicação do poder dos governos, que mudaram as finanças públicas de uma forma baseada em impostos para uma baseada em dívida. Meu livro mais recente, "Les Dettes Illégitimes, Comment les banques ont fait main basse sur les politiques publiques" (2011) [As dívidas ilegítimas, como os bancos fizeram para manipular as políticas públicas, em tradução livre], enfatiza que, em 1980, a dívida pública da França era de 5% do PIB. Mostro que o crescimento é consequência da diminuição dos impostos para os de renda alta, os ricos em patrimônio e lucros, e dos gastos em programas públicos de financiamento custosos, que se tornaram elefantes brancos, como o Rafale que nenhum país comprou.

E o que ocorre agora?

As agências de risco estão pressionando a elite política francesa para aprofundar as políticas de austeridade. Isso no contexto de uma situação de quase recessão --0% de crescimento e desemprego acima de 9%. A recessão mundial de 2008-2009 mostrou a fraqueza da indústria francesa e os efeitos desastrosos do jogo no mercado da União Europeia. O que é necessário é uma política industrial e tecnológica comum, um sistema de intervenção comum. É possível que, nos próximos meses, ocorra na França uma reação popular contra os próximos cortes de orçamento.

As revoltas no Norte da África e no Oriente Médio, o movimento dos "indignados" na Espanha e agora os protestos em Londres têm alguma ligação?

Eu adicionaria à lista as enormes marchas em Tel Aviv, com 200 mil pessoas, e em outras cidades contra a alta nos preços dos alimentos e o desemprego. E também esse extraordinário movimento dos estudantes no Chile. Cada um desses movimentos precisa ser analisado com cuidado. São obviamente expressão de uma doença mundial criada pelo caminho tomado pelo neoliberalismo e pela dominação das finanças.

O que os movimentos têm em comum?

Eles têm em comum o fato de terem sido estimulados pela juventude. Em muitos casos são liderados por jovens líderes que estão emergindo do movimento. São todos reações ao extraordinário abismo social num tempo em que o consumismo é projetado mundialmente pela tecnologia contemporânea e pelas estratégias de mídia. Cada um tem suas idiossincrasias nacionais e suas trajetórias políticas. Em cada caso há uma diferente mistura de um componente fundamental democrático, com conteúdo anticapitalista. Reagem ao fato de a eles ter sido negada a posse de bens que outros da sua mesma geração possuem no seu cotidiano. A crescente percepção da corrupção politico-financeira atiça a indignação e, no caso dos jovens mais pobres, os faz usar os únicos métodos que têm à disposição.

Como os partidos conservadores, social-democratas e a esquerda estão reagindo a essa situação?

Para os partidos conservadores, é sempre sobre "lei e ordem". Os social-democratas estão em profunda confusão. As forças da esquerda têm sido fortemente puxadas para o jogo institucional. Tomara que a duração, a severidade e os altos riscos da combinação entre as crises econômica e ambiental permitam o renascimento de uma forma de atividade política que comece a realmente desafiar o sistema. Na Europa, foi na Grécia que a mobilização de massa da juventude mostrou o conteúdo político mais profundo. Espero que seja o modelo para outros países.

Representacao turistico-parlamentar brasileira no Mercosul: os candidatos a diarias e passagens...

Bem, a repetição das reuniões em Montevidéu pode ser aborrecida, mas eu proporia uma moção para que as reuniões sejam itinerantes, cada uma em um resort dos países membros e associados, quem sabe até o Caribe?
Melhor ainda, talvez, um Boeing bem grande, cedido para as ocasiões, e fazer reuniões ambulantes, cada uma num lugar diverso, com direito a pouco mais do que lunch-bags?
Sempre se poderá dizer que o Mercosul é muito diverso, com paisagens naturais maravilhosas, cidades acolhedoras, praias lindas e estações de esqui (segundo as estações) equipados, and so on.
Mas precisa ser um daqueles jumbos, para caber todo esse povo...
Paulo Roberto de Almeida

Os novos representantes brasileiros no Parlasul
fonte: Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul

A Representação Brasileira deve convocar para o início de agosto a reunião de instalação para a posse dos parlamentares brasileiros indicados ao Parlamento do MERCOSUL (Parlasul). A lista dos indicados está publicada no Diário do Congresso Nacional. A partir da posse, o Parlasul e a Representação Brasileira retomam as atividades.
O Congresso Nacional divulgou nesta quinta-feira, 14 de julho, a lista dos representantes indicados ao Parlamento do MERCOSUL. Os Parlamentares aguardam a reunião de instalação da Representação Brasileira, e a partir daí a Representação e o Parlamento retomam suas atividades. Ao todo, 27 deputados e 10 senadores - totalizando 37 parlamentares brasileiros - ocupam as cadeiras no Parlasul. O senado ainda não indicou uma vaga para titular pelo bloco das minorias. Seguem os parlamentares membros da Representação Brasileira:
Deputados Federais - Titulares

PT
Benedita da Silva (RJ)
Dr. Rosinha (PR)
Emiliano José (BA)
Jilmar Tatto (SP)
Paulo Pimenta (RS)
PMDB
Íris de Araújo (GO)
Marçal Filho (MS)
Moacir Micheletto (PR)
Raul Henry (PE)
PSDB
Eduardo Azeredo (MG)
Reinaldo Azambuja (MS)
Sergio Gerra (PE)
PP
Dirceu Sperafico (PR)
Renato Molling (RS)
DEM
Júlio Campos (MT)
Mandetta (MS)
PR
Paulo Freire (SP)
Luis Tibé - PTdoB* (MG)
PSB
José Stédile (RS)
Ribamar Alves (MA)
PDT
Vieira da Cunha (RS)

Bloco PV/PPS
Roberto Freire- PPS (PE)
PTB
Sérgio Moraes (RS)
PSC
Nelson Padovani (PR)
PCdoB
Manuela D’Avila (RS)

PRB – Titular
George Hilton (MG)
PMN
Dr. Carlos Alberto (RJ)
Senadores - Titulares

Bloco da Maioria (PMDB-PP-PSC-PMN-PV)
Pedro Simon – PMDB/RS
Roberto Requião – PMDB/PR
Wilson Santiago – PMDB/PB
Ana Amélia – PP/RS
Bloco do Governo (PT – PR-PDT-PSB-PCdoB-PRB)
Paulo Paim – PT/RS
Inácio Arruda – PcdoB/CE
Antonio Carlos Valadares – PSB/SE

Bloco da Minoria (PSDB-DEM) - Titular
Paulo Bauer – PSDB/SC
PTB
Mozarildo Cavalcanti (RR)
Deputados Federais - Suplentes

PT
Bohn Gass (RS)
Newton Lima (SP)
Sibá Machado (AC)
Weliton Prado (MG)
Zé Geraldo (PA)
PMDB
Fátima Pelaes (AP)
Gastão Vieira (MA)
Lelo Coimbra (ES)
Valdir Colatto (SC)
PSDB
Ainda não indicados
PP
Afonso Hamm (RS)
Raul Lima (RR)
DEM
Ainda não indicados
PR
Giacobo (PR)
Henrique Oliveira (AM)
PSB
Antonio Balhamann (CE)
Audifax (ES)
PDT
Sebastião Bala Rocha (AP)
Bloco PV/PPS
Antonio Roberto – PV (MG)
PTB
Paes Landim (PI)
PSC
Takayama (PR)
PCdoB
Assis Melo (RS)
PRB
Vitor Paulo (RJ)
PMN
Fábio Faria (RN)
Senadores - Suplentes

Bloco da Maioria (PMDB – PP-PSC-PMN-PV)
Cassildo Maldaner – PMDB/SC
Waldemir Moka – PMDB/MS
Valdir Raupp – PMDB/RO
Bloco do Governo (PT – PR-PDT-PSB-PCdoB-PRB)
Eduardo Suplicy – PT/SP
Humberto Costa – PT/PE
Cristovam Buarque – PDT/DF
Magno Malta – PR/ES
Bloco da Minoria (PSDB-DEM)
José Agripino – DEM/RN
PTB – Suplente
Fernando Collor (AL)

domingo, 14 de agosto de 2011

Onde esta a "nova classe media"? - José Lemos

Onde Está a “Nova Classe Média”?
José Lemos (*)

Há um bombardeio midiático tentando fazer-nos crer, que uma “nova classe média” surgiu no Brasil a partir de 2003. Afirmam que trinta (30) milhões de brasileiros deixaram de ser pobres e passaram a fazer parte dessa “nova classe média”. Sendo curioso da área, tentei confirmar essas informações. A investigação se apóia na hipótese de que a “nova classe média” deve ter emergido dos estratos de menor renda. A tentativa é de contabilizar esse novo grupo social ávido de consumo.

Buscamos fazer a comparação entre o último ano do Governo que se encerrou em 2002 com aquele que começou em 2003 e terminou em 2010. Os dados brutos que utilizamos são da PNAD de 2002 e 2009, tendo em vistas que este é o ultimo ano para o qual o IBGE disponibiliza informações atualmente.
Tomemos a população que sobrevivia em domicílios cuja renda varia de zero a dois (2) salários mínimos. Este contingente tem renda média domiciliar de aproximadamente 1,2 salários mínimos. Como cada domicílio abriga quatro pessoas, em média, segue-s que a renda per capita domiciliar é de 1/3 do salário mínimo. Em 2002 a população estimada para o Brasil era de 173,4 milhões. Para aquele ano o contingente sobrevivendo em domicílios sob aquelas condições de renda representava 32,5%, o que somava 55,5 milhões de brasileiros.

Em 2003 assumiu o novo governo que teve como herança, plantada no Governo Itamar Franco e consolidada nos dois Governos de FHC, a estabilidade monetária. Estabilidade que se assentava em fundamentos macroeconômicos que, se seguidos dariam condições para o novo governo deslanchar.

Não foi isso o que se observou. Entre 2003 e 2010 o PIB brasileiro apresentou crescimento pífio, se comparado às economias do mesmo porte do Brasil. A escolaridade media dos brasileiros ficou abaixo de oito (8) anos, e a taxa de analfabetos estabilizou em elevados 10%. Alem disso, houve retrocesso no acesso a esgoto, e avanço apenas modesto no aceso à água encanada. Mas o que aconteceu com aqueles brasileiros de renda domiciliar situada entre zero e dois salários mínimos?

Em 2003 este segmento já havia ascendido para 33,3% da população do Brasil. Atingiu 36,1% em 2009. Portanto, em termos relativos, houve um acréscimo de 3,6% da população que sobrevivia com renda domiciliar de até dois salários mínimos. Como a população cresceu entre 2002 e 2009, o contingente sobrevivendo sob aquelas condições de renda também cresceu. De fato, o IBGE estimava em 191,8 milhões a população de 2009. Assim, a população sobrevivendo naquela baixa faixa de renda somava 69,2 milhões. Isto significa que entre 2002 e 2009 um total de 16,5 milhões de brasileiros foi incorporado ao grupo da população que sobrevive em domicílios cuja renda varia de zero a dois salários mínimos. Migraram dos estratos superiores de renda.

A pergunta que não pode ficar sem resposta é: Como explicar a explosão de consumo que aconteceu neste período, sobretudo entre esse segmento de menor renda?

Para responder a esta instigante questão, buscamos informações no Banco Central (BC). Segundo o (BC), o crédito consignado com desconto em folha, entre os meses de janeiro e novembro de 2009, correspondeu a 80% do crescimento total do empréstimo pessoal. A “Nota de Política Monetária” divulgada pelo Banco Central em dezembro de 2010, ensina que o volume total de crédito consignado alcançou R$ 137,42 bilhões. Um avanço de 27,4% relativamente a dezembro de 2009.

Depreende-se que a explosão de consumo observada nesse segmento populacional, não ocorreu devido a uma mudança de status socioeconômico, como quer fazer crer a propaganda oficial. Mas devido ao endividamento em larga escala dos trabalhadores que tem vinculo empregatício. Na verdade os grandes beneficiados com essa ciranda foram os banqueiros, tendo em vistas que são empréstimos com riscos praticamente nulos para eles, e com taxa de inadimplência praticamente nula. Não é por acaso que há brigas intensas entre banqueiros para participarem desse banquete.

E a “Nova Classe Media”? Bom, se ter renda domiciliar de até dois salários mínimos caracterizar esses brasileiros, a propaganda oficial está corretíssima, pois acrescentamos mais 16,5 milhões em 2009, comparativamente ao que se observava em 2002. Falta apenas dizer na campanha publicitária que são brasileiros “felizes”, mas endividados como nunca antes na historia desse (sic) país. Nenhum Governo é perfeito.

(*) Professor Associado na Universidade Federal do Ceará.

Irlanda, da felicidade aos problemas - Colm Tóibín

Ao contrário do que o editor da revista afirma, a Irlanda não voltou à pobreza. Ela representa um dos mais extraordinários exemplos de desenvolvimento econômico e social, arrancando a si mesma da pobreza por políticas corretas. Recentemente, cometeu uma grande bobagem, devido ao excesso de riqueza, justamente: foi garantir a 100% depósitos bancários, atraiu mais capital do que deveria, e foi prejudicada pela crise dos derivativos americanos. Uma bobagem que não deveria ter feito. Mas ela não voltará à pobreza, e sim terá de administrar o buraco financeiro pelos próximos anos. Tem inteligência suficiente para superar um problema conjuntural, e continua a ter boas políticas em outras áreas.
Paulo Roberto de Almeida

O preço da felicidade, o custo da desgraça
por Colm Tóibín
Revista piauí, agosto 2011

Em texto exclusivo para a piauí, o escritor irlandês narra a trajetória de seu país, da pobreza à prosperidade e de volta à pobreza, em apenas quinze anos

Devia ser o verão de 1965, ou talvez um ano antes, e estávamos na praia na costa leste da Irlanda. Eu tinha 9 ou 10 anos. Minha mãe e meus irmãos provavelmente tinham ido nadar e isso significa que eu estava deitado no tapete escutando a conversa do meu pai com a irmã da minha mãe. A irmã da minha mãe gostava de discutir grandes assuntos como religião e política. Agora ela estava perguntando a meu pai, que era um membro ativo do partido do governo, o Fianna Fáil – que desde 1932 esteve quase sempre no poder – se ele apoiava todas as políticas e decisões de seus correligionários. Meu pai disse que sim, e isso me pareceu certo, pois nunca imaginara que ele pudesse pensar de outro modo. Eu sabia a opinião dele sobre o outro partido – o Fine Gael, principal partido oposicionista – que era a de que você podia cumprimentar seus membros quando cruzava com eles na rua, mas se alguma vez votasse neles sua mão direita gangrenaria e seria amputada.

O pai do meu pai era um nacionalista irlandês e tinha lutado contra os britânicos. Participou da rebelião de 1916, que, mesmo sendo derrotada, tornou-se o início do fim do domínio britânico na Irlanda. Em 1922, quando finalmente se retiraram, os ingleses decidiram dividir a Irlanda, ficando com o norte do país, que tinha uma população protestante maior e não queria se separar da Grã-Bretanha. E homens como meu avô eram totalmente contrários a esse arranjo. Meu avô e seus amigos queriam tudo ou nada, uma república formada por toda a ilha; os da outra facção, até ali seus camaradas na luta contra o domínio britânico, queriam aceitar a proposta britânica de uma Irlanda dividida. As duas facções, incluindo irmãos, travaram uma feroz guerra civil. Noventa anos depois, os dois principais partidos – Fianna Fáil e Fine Gael – descendem dessa guerra.

A política de ambos os lados era nacionalista, anti-imperialista e não propriamente de esquerda. O ideário não ia além da vaga noção de uma Irlanda autossuficiente. A guerra que travaram não foi uma guerra de classes. Assim, enquanto alguns ingleses partiram e perderam suas propriedades, a burguesia irlandesa não foi afetada pela independência. Os proprietários rurais mantiveram suas terras; os lojistas, suas lojas; os banqueiros, seus bancos. E a revolução irlandesa foi também comandada principalmente por católicos. O fim da guerra civil viu crescer, ao sul da fronteira, um Estado católico insular profundamente conservador e, ao norte, numa imagem especular, um estado protestante insular profundamente conservador. O partido do meu avô, Fianna Fáil, do qual meu tio também era membro, e no qual meu pai logo ingressaria, tomou o poder no sul em 1932; tornou-se ainda mais conservador e mais católico do que o outro partido, Fine Gael. O Partido Trabalhista continuou pequeno, sempre a terceira força; o movimento sindical também era conservador, e quase não tinha influência.

O problema para o novo Estado irlandês era como proporcionar trabalho à população. Os melhores empregos eram no funcionalismo público. Quase não havia indústria; a Irlanda era ainda um país basicamente agrícola. Dos anos 20 em diante muitos jovens emigraram para a Grã-Bretanha e Estados Unidos em busca de trabalho. Em 1939 Seán Lemass, que se tornaria primeiro-ministro vinte anos mais tarde, disse que os problemas econômicos da Irlanda tinham “criado uma situação em que o desaparecimento da raça era uma possibilidade que não podia ser ignorada”. O isolamento do país se acentuou ainda mais por causa da posição de neutralidade que assumiu durante a Segunda Guerra Mundial. Depois da guerra, enquanto a Europa era reconstruída com dinheiro do Plano Marshall, a Irlanda ficou, assim como a Espanha e Portugal, à margem da nova prosperidade.
Era, nos anos 50, um lugar atrasado, do qual era um alívio, quase um prazer, emigrar. Quatro em cada cinco crianças nascidas na Irlanda entre 1931 e 1941 emigraram. No final daquela década estava claro que era preciso fazer algo para modernizar o país. Em 1958 foi publicado o Primeiro Programa para a Expansão Econômica. A Irlanda tinha sido admitida no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional em 1957. A partir de 1958, o país se abriu para o investimento estrangeiro e para o capital externo, predominantemente americano.

(leia a íntegra deste artigo neste link)

Cartazes sovieticos do realismo socialista (alguns surreais, na verdade)

A Rede Histórica selecionou 50 posters e pediu para que Irina Starostina traduzisse para o português. Confira o resultado!
http://historica.me/profiles/blogs/50-posters-sovieticos
Nós exigimos paz!

Ubiratan Iorio lanca seu novo livro: Escola Austriaca de Economia

Livraria da Vila - Al. Lorena, 1731 - São Paulo - 24/08/2011 19:00

Algumas frases permanentes, com verdades elementares...

O Socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros.
Margaret Thatcher

É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.
Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que tira de outro alguém.
Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a
.
Adrian Rogers (1931)

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Quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Européia?
Apenas 3:
- Grécia
- Portugal
- Espanha.
Os 3 estão endividados...

Forum Liberdade e Democracia - Instituto Millenium (BH, 29/08/2011)


Cada um tem o Lula que merece - João Luiz Mauad

O Lula deles
João Luiz Mauad
O Globo, 13/08/2011

O fato de que estamos aqui hoje para debater o aumento do limite da dívida americana é um sinal de fracasso das nossas lideranças. É um sinal de que o governo dos Estados Unidos não pode pagar suas próprias contas. É um sinal de que agora dependemos da assistência financeira de países estrangeiros para financiar as políticas fiscais irresponsáveis do nosso governo.... O aumento do limite da dívida da América nos enfraquece nacional e internacionalmente. Liderança significa responsabilidade pelas próprias decisões. Em vez disso, Washington está jogando o ônus de suas más escolhas de hoje nas costas dos nossos filhos e netos. A América tem um problema com a dívida e uma falha de liderança. Os americanos não merecem isso. Eu, portanto, sou contra o aumento do limite da dívida.”

Sabe de quem são essas duras palavras, caro leitor? Acredite, o discurso acima foi proferido pelo então senador Barak Obama, ainda em 2006, quando o Congresso daquele país discutia o limite da dívida federal, durante o mandato de George W. Bush. Na época, o aumento aprovado trouxe o teto da dívida para US$ 9 trilhões. Sob a presidência de Obama, o número já fora elevado para US$ 14,3 trilhões. Antes do recente aumento, portanto, a dívida já estava 60% maior do que quando ele sinalizava um suposto "fracasso de liderança", há cinco anos.

Malgrado a enormidade dos números, os políticos norte americanos chegaram a um acordo, ao apagar das luzes, evitando assim que o governo daquele país ficasse inadimplente perante os seus credores internos e externos. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos – pelo menos por enquanto.

Durante a longa queda de braço, fomos bombardeados por notícias e comentários - ecoados principalmente do notório New York Times, carro-chefe da mídia liberal (esquerdista) americana, à frente o estridente “nobelado” Paul Krugman - acerca do radicalismo e irresponsabilidade dos conservadores, capitaneados pelos fundamentalistas/terroristas do Tea Party, que insistiam numa postura de prudência e parcimônia – oh! Grande heresia! - em relação aos gastos do governo e, consequentemente, em relação à dívida pública. Aliás, os economistas podem discordar sobre o montante da dívida que um governo pode carregar com segurança, mas há certo consenso de que 100% do PIB é demais, especialmente quando se olha para os efeitos sobre a atividade econômica.

Mas os ditos radicais do Tea Party cometeram o supremo pecado de contrariar São Obama e, principalmente, a visão progressista segundo a qual quanto mais o governo gasta e se intromete na vida privada das pessoas, melhor para todo mundo. Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que um endividamento constante e progressivo do governo possa ser algo sadio, o que se viu foi o linchamento sem trégua dos atrevidos que se recusavam, constitucional e democraticamente, a dar carta branca para o executivo gastar a vontade.

Neste ponto, pode ser útil esclarecer exatamente sobre o quê estavam discutindo os dois lados. A questão não era propriamente se o governo federal deveria ou não expandir os seus gastos. Quase ninguém em Washington propôs o encolhimento do leviatã. Ao contrário, no final de dez anos tanto os gastos nominais quanto a dívida total serão bem maiores do que são hoje. Tenha-se em mente ainda que esses aumentos virão após uma das mais rápidas expansões de gastos federais na história dos EUA – desde que Obama tomou posse, houve um aumento de aproximadamente 30% em relação ao último ano de Bush.

Ademais, pouco se falou sobre isso, mas durante a maior parte do tempo o impasse esteve ancorado não no radicalismo do Tea Party, mas na intransigência do presidente, que insistia, mesmo contra a opinião majoritária do seu próprio partido, em aprovar limites muito maiores, além de aumentos de impostos.

Finalmente, pode-se discutir o que for, mas não é apropriado dizer que não havia legitimidade do legislativo para debater o tema, afinal eles foram eleitos exatamente para isso. Ao contrário da escatologia do NYT, a verdade é que o Congresso americano deu uma lição de democracia ao mundo, apesar do comportamento malsão de Obama, que, com discursos irresponsáveis, insistia em jogar a opinião pública contra os congressistas. Quisera eu que os nossos políticos discutissem os temas importantes da nação como fizeram os yankees, sem barganhas por cargos, liberação de verbas ou mensalões, mas apenas defendendo o que consideram melhor para o país.

Um economista sensato sobre politicas insensatas - Affonso Celso Pastore

Entrevista: Pastore foi presidente do Banco Central de 1983 a 1985
O governo brasileiro terá de se dobrar à realidade, diz ex-BC
Leandro Modé
O Estado de S. Paulo, 13 de agosto de 2011

Segundo Affonso Celso Pastore, se o País tentar garantir a meta de crescimento em meio à crise global, corre o risco de causar desequilíbrios, com alta da inflação ou endividamento

SÃO PAULO - O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore mal conseguiu dormir nas noites que se seguiram ao rebaixamento da nota de crédito do governo dos EUA. A perda de sono resultou não apenas das preocupações com a piora do cenário global após a decisão da agência Standard & Poor’s, mas, principalmente, da dedicação para entender a complexa conjuntura global. Em momentos como o atual, consultores econômicos como ele são demandados como nunca pelos clientes.

Por mais complicada que seja a situação, eles precisam dar respostas que ajudarão bancos, empresas e até mesmo pessoas físicas a embasar decisões que movimentam cifras enormes. Ainda de olhos vermelhos, fruto das noites quase em claro, Pastore conversou com o Estado em seu escritório, na zona oeste de São Paulo, na tarde de quinta-feira. "Essa foi a primeira das últimas noites em que realmente dormi bem, de tão cansado que estava."

Para Pastore, o que ocorre hoje é parte da crise iniciada em 2008. E o cenário básico traçado por ele não é dos mais animadores, inclusive para o Brasil. "No quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios", afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O que significa a diminuição da nota dos EUA para a economia global?

O rebaixamento da nota dos EUA é um episódio menor. Se só ele tivesse ocorrido, o dólar teria se desvalorizado e teria havido uma subida da taxa de juros americana. Só que ocorreu o contrário. Ou seja, há algo mais. No caso, a Europa, cuja percepção de risco cresceu mais que a americana. Para ter um entendimento completo disso, é preciso olhar para duas crises paralelas. A dos EUA, que já vem de algum tempo, mostra que a capacidade de o país crescer é muito menor do que o mercado pensava.

Por quê?

A crise de 2008 - esta, aliás, é a continuidade daquela - produziu uma destruição de riqueza que nunca aconteceu. Quando a riqueza cresceu durante a bolha, as famílias se endividaram gastando renda futura. Em outras palavras, o grau da alavancagem atingiu níveis sem precedentes - 130% da renda disponível. O estouro da bolha e a crise de 2008 fizeram a riqueza das famílias voltar ao nível em que estava antes de a bolha se formar. Só que o grau de endividamento ficou muito mais alto. Significa que é preciso poupar para pagar as dívidas. É o chamado processo de desalavancagem. (Kenneth) Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, chamou a atenção para isso, ao falar em grande contração, e não grande recessão. O erro das pessoas foi achar que se tratava de uma recessão como as passadas.

E quando elas se deram conta de que não era?

Houve três episódios que fizeram essa percepção aumentar. O primeiro foi quando Obama teve de negociar o limite da dívida dos EUA. Ficou patente que ele perdeu o grau de liberdade na execução da política fiscal. O segundo ponto foi o fim do QE2 (quantitative easing, na sigla em inglês, que na prática significa injeção de dinheiro na economia por meio do banco central). Na sequência desses dois episódios, veio a revisão dos dados do Produto Interno Bruto (PIB), que mostrou que a recuperação havia sido muito frágil. A rigor, o PIB dos EUA ainda não voltou ao nível pré-crise. Se não houvesse a questão da Europa, isso deveria ter produzido uma mudança nos preços das ações, que deveriam ter caído.

E a Europa?

A crise europeia é, ao mesmo tempo, uma crise de dívida soberana e um potencial de crise bancária. As duas coisas sempre vêm juntas, como mostra um livro de Rogoff e Carmen Reinhart (Oito Séculos de Delírio Financeiro: Desta Vez é Diferente). Há vários tipos de contágio envolvidos. Há países insolventes, como Grécia, Irlanda e talvez Portugal, e países com dívidas grandes, casos de Espanha e Itália, que começaram a receber contágio dos menores. Segundo Rogoff, esse tipo de crise se resolve de três formas: ou se faz uma reestruturação ordenada das dívidas, ou se tem inflação ou acaba em default (calote).

Em qual dessas três possibilidades o sr. acredita?

Os europeus terão de ir para a reestruturação, que será custosa para os países, que terão de absorver os prejuízos dos bancos quando houver o corte das dívidas. E a Europa terá de ter cabeça fria para conseguir condição política de fazer isso.

Já há quem fale em uma década perdida para as economias desenvolvidas.

A analogia aqui é com o Japão. Houve uma desalavancagem das empresas japonesas, não das famílias, como nos EUA de hoje. Há um livro magistral sobre isso (The Holy Grail of Macroeconomics), escrito por Richard Koo, que mostra o seguinte: quando o Japão foi para taxa de juros nula, não conseguiu fazer a economia crescer porque o melhor uso que as empresas podiam ter era pagar dívida. As empresas nos EUA não estão endividadas, o que tem enganado gestores de fundos. O ponto, tanto nos EUA quanto na Europa, é que as pessoas não consomem. É preciso, portanto, desalavancar as famílias. Esse processo é longo. Pode levar uma década para acertar isso.

Estamos a caminho de uma segunda recessão, o que chamam de double dip?

É possível, sem dúvida, de várias formas. A primeira é a seguinte: os EUA não crescem. Em sua última decisão, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) se comprometeu a não mexer no juro básico até 2013. Mas há sinais que pode fazer um QE3. Como o quantitative easing potencialmente produz estímulo de demanda? Há dois canais. O primeiro é gerar um efeito riqueza. Me parece que, hoje, esse efeito é muito pequeno, se é que vai ter. O QE2, por exemplo, não mexeu em um único cent nos preços das casas. O segundo canal de transmissão se dá por meio da desvalorização do dólar (que favorece as exportações americanas e, por tabela, o crescimento econômico). O problema é que o mundo está ficando irritado com a depreciação do dólar. Os países sentem que voltou um comportamento que, no século 19, chamava ‘beggar thy neighbour’, que é a depreciação competitiva da moeda para ganhar mercado do outro.

Mas há reações no mundo.

Sim, hoje, há reações em vários lugares, inclusive no Brasil - ainda que, por aqui, de forma meio atabalhoada. Não quero dizer que o mundo sairá do regime de câmbio flutuante, mas cito um exemplo usando dois países, a Austrália e a China. Os australianos nunca intervêm no câmbio, enquanto os chineses adotam câmbio fixo. Se o Fed anunciar um QE3, é uma nova força para enfraquecer o dólar. Se o mundo se comportar como a Austrália, os EUA atingem o que desejam (aumentar suas exportações). Mas, se reagir como a China, os EUA não conseguem desvalorizar sua moeda. No limite, nesse cenário, poderá haver estagflação (estagnação com inflação) nos EUA. Acho que o mundo não caminhará para nenhum dos extremos - nem Austrália nem China.

E o Brasil?

Deve olhar isso tudo com muita cautela. Pode acontecer no mundo uma coisa extrema. Se houver a solução crítica, desordenada, será reproduzido, em tese, o que houve na fase pós-quebra do Lehman Brothers. Cai comércio mundial, desabam preços das commodities, PIB do mundo e do Brasil caem. Nesse caso, o Brasil terá de reagir de forma semelhante a 2008. Semelhante, frise-se, não igual. Teremos de usar dinheiro das reservas para financiar exportações e comprar recebíveis, reduzir compulsórios se houver empoçamento de liquidez nos bancos. Podemos usar melhor o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para evitar prejuízos. Ainda assim haverá desaceleração mais forte. Em um caso desses, seria preciso baixar a taxa de juros. Mas não é preciso fazer isso no pressuposto de que pode acontecer. Tem de fazer se acontecer.

O sr. acredita que acontece?

O meu cenário base é o de que isso provavelmente não ocorre, apesar do impasse político da Europa. A história recente joga a favor de a Europa ter racionalidade. Pessoas influentes na região sabem que deixar a situação atual convergir para uma crise bancária dispara um fenômeno à la Lehman Brothers.

E a China?

Não adianta dizer que a China vai salvar o mundo porque é um país que está neste globo, não em Marte ou em Vênus. Se EUA e Europa desaceleram, a China desacelera, por mais que a gente ache que a China é um fenômeno inexplicável. Em resumo, desacelera todo mundo e desacelera o Brasil. Com isso, há uma força desinflacionária aqui. Tudo o mais constante, a primeira providência será o Banco Central interromper a alta dos juros e ficar em compasso de espera. Se tiver de baixar, baixa. Independentemente da velocidade que baixe, quando o mercado perceber que entrou em um ciclo de queda, a curva de juros já inclina negativamente, de forma que o BC não pode e não deve ser precipitado nessa redução. Deve ir com cautela. Digo isso explicitamente para não dizerem que estou defendendo redução amanhã. Como, aliás, um bando de gente tem feito.

Qual seria o efeito no Brasil de um eventual QE3?

Um QE3 levaria a uma nova rodada de enfraquecimento do dólar e, como as commodities globais estão correlacionadas com a moeda americana, os preços de commodities subiriam. É claro que há duas forças contraditórias aqui, pois há a desaceleração do mundo. Ao se colocar as duas coisas juntas, não se sabe direito para onde vai (o preço).

Como deve reagir o governo?

Nesse cenário, por que eu defendo que uma reação do governo se dê no campo monetário, e não no fiscal? Em primeiro lugar, porque o campo fiscal já está suficientemente desarrumado. E ficou provado no mundo que a tal reação keynesiana, que muitos economistas têm defendido também no Brasil, provocou tudo isso que estamos vendo nos EUA e na Europa. (John Maynard) Keynes (considerado o mais importante economista do século 20) nunca escreveu que essas políticas levariam ao aumento da dívida pública. Ele nunca prestou atenção a esse fato. O mundo provou depois que déficits aumentam a dívida.

Em se confirmando esse cenário, o Brasil vai crescer menos. Só que o governo brasileiro tem a meta de crescer 4,5% ao ano. Não dá para cumprir essa meta nos próximos anos?

Não vou dizer que vai ou não vai, porque lá pelas tantas a Europa pode resolver seu problema. Mas, no quadro que vejo hoje da economia mundial, o Brasil vai crescer menos. E o governo vai ter de se dobrar à realidade. Não há o que fazer. Se tentar escapar disso, vai gerar desequilíbrios. Ou na conta corrente ou na inflação ou no endividamento. De alguma forma, será algo que trará custos mais adiante.

O Brasil como ditadura monocratica decidida por um juiz: censura ao Estadao

Abaixo, um editorial que dispensa qualquer comentário.
O Brasil não é um país normal no plano econômico. Do contrário, o governo não deixaria prevalecer essa mentira diária do "seis vezes", ou "dez vezes sem juros".
Mas ele tampouco é um país normal no plano jurídico-político. Do contrário, os tribunais superiores (inferiores seria mais correto) não deixariam prevalecer a censura de imprensa e o não julgamento de mérito de uma ditadura monocrática de um juiz sabujo a serviço de oligarcas.
Paulo Roberto de Almeida

Anos de silêncio
Editorial Gazeta do Povo
Curitiba, 14 de agosto de 2011

Justiça que tarda certamente falha. Desde 31 de julho de 2009, o jornal O Estado de S.Paulo está proibido, por meio de liminar, de publicar notícias baseadas nas investigações da Polícia Federal sobre ilícitos praticados pelo empresário maranhense Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney. As apurações da operação chamada antes Boi Barrica, depois Faktor, levaram ao indiciamento do empresário por lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha e falsidade ideológica. E lá se vão dois anos desde que o Estadão foi silenciado.

A decisão de amordaçar o jornal foi tomada pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) Dácio Vieira, amigo da família Sarney. E é essa decisão que se mantém até hoje, apesar de ter sido tomada de forma monocrática (proferida por um único magistrado) e em antecipação de tutela (antecipação parcial ou total dos efeitos de uma futura decisão). Esse fato causa estranheza, já que os argumentos apresentados pela família Sarney carecem da chamada “fumaça do bom direito”, requisito exigido para que a liminar fosse concedida. Pior: a decisão de Vieira mantém-se até hoje, apesar de ele ter sido considerado suspeito para julgar e ter sido excluído do caso, tendo perdido a relatoria do processo.

O caso está parado no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Há 14 meses, espera-se que o ministro do STJ Benedito Gonçalves decida qual o foro adequado para o processo: a Justiça do Maranhão ou a instância equivalente no Distrito Federal. Enquanto isso, a tal liminar de Vieira permanece de pé e um julgamento de mérito da questão parece estar longe de acontecer. E enquanto não se decide o mérito, perpetua-se a injustiça, principalmente, quando está a se tratar de valores tão sensíveis e caros à democracia.

No episódio Estadão, claramente, não está a se tratar da intimidade e da honra de pessoas anônimas e sobre fatos que não dizem respeito a toda coletividade. Pelo contrário. Está a se falar de informações de interesse público. Pessoas públicas. Dados colhidos em investigações da Polícia Federal. E essas informações, indiscutivelmente, a sociedade tem o inviolável direito de conhecer. A proteção da privacidade limita-se à vida particular do cidadão. Não vale quando se está em jogo ato de interesse público ou em prejuízo do que é público.

A proteção do sigilo de Justiça, diriam alguns, poderia justificar a proibição feita ao Estadão. É importante lembrar, porém, que o sigilo é da Justiça, não da imprensa. À imprensa não pode ser imposto o papel de guardar sigilos que não são seus. A imprensa é essencial à sociedade e à democracia justamente porque, sendo independente, pode descobrir o que é guardado a sete chaves pelo poder público. E é por isso que ela é capaz de fiscalizar o poder. De que serviria a imprensa se ela não pudesse revelar segredos de interesse público?

Quando o segredo de Justiça oculta dados de flagrante interesse público, a imprensa tem, sim, o dever de desvendá-lo, usando, é claro, meios lícitos. E ao desvendá-los, deve avaliar a pertinência dessa publicação. A imprensa certamente não cumpriria o seu papel se optasse por fingir que não viu o que interessa a toda a população, mantendo-a na mais completa ignorância.

O que se está a proteger, então, ao impedir a divulgação dessas informações? A quem interessa? Aos quatro ventos todos cantam a importância da liberdade de imprensa. Um valor, certamente, caro à democracia. Mas um valor que, na prática, é difícil de se efetivar. Ou pelo menos difícil de se efetivar quando estão em jogo interesses poderosos. Interesses que parecem se sobrepor ao interesse maior: o público. A verdade é que todos são muito liberais, a não ser quando a liberdade contraria o seu interesse particular.

A proibição imposta ao Estadão há dois anos não está a prejudicar apenas aquele veículo. Macula a liberdade de imprensa país afora. É por isso que a Gazeta do Povo é solidária. Não apenas ao jornal O Estado de S.Paulo, mas principalmente a todos os cidadãos que estão desprovidos das informações as quais aquele jornal foi impedido de divulgar. São os leitores os maiores prejudicados. E é a esses que somos solidários. Ao proteger a honra e a intimidade de Fernando Sarney, sobrou aos brasileiros a violação ao seu direito de serem informados. Ficaram sem notícias sobre como o filho do presidente do Senado, ao se aproveitar do poder e influência do pai, tornou-se caso de polícia.

Atencao senhores bandidos (ou candidatos a...): a Policia Federal continuara algemando...

Não me refiro a bandidos pés-de-chinelos, pois destes ninguém se ocupa, como soe acontecer. Mas aos bandidos de colarinho branco, que possuem poderosos protetores (talvez candidatos a...).
Por vezes me assalta uma dúvida: e se, no Brasil, os bandidos de colarinho branco, desses que não gostam de ser algemados, fossem em maior número, infinitamente maior, do que os bandidos pés-de-chinelos?
Pois é: neste caso, a PF iria precisar de um reforço orçamentário para comprar mais algemas. Considero que seu uso é não apenas necessário, mas útil: elas possuem valor didático-pedagógico. Sem elas, esses presos de colarinho branco ficam se sentindo poderosos.
Nós, simples mortais, temos o direito de vê-los humilhados um pouquinho, nem que seja por poucas horas, até que um juiz complacente os liberte mediante pedidos de habeas-corpus por brilhantes advogados que eles estão pagando com o dinheiro que roubaram de todos nós.
Apoio totalmente o uso de algemas, e seria até capaz de recomendar um cascudos regulamentares no momento da prisão, como se faz aliás com bandidos pés-de-chinelo.
Afinal de contas, temos de democratizar a justiça no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Nota de Esclarecimento: atuação da Polícia Federal no Brasil
13 de agosto de 2011

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal reagiu com veemência às declarações de várias autoridades e políticos, entre eles o ex-presidente Lula, condenando a atuação da PF na prisão de quase 40 integrantes do Ministério do Turismo. Ao invés de condenarem o 'assalto' aos cofres públicos, a preocupação dos reclamantes está focada na imagem dos agemtes públicos que enriquecem às custas dos impostos pagos pelos cidadãos. É o seguinte o teor da Nota ao Público expedida pela ANDPF:

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal vem a público esclarecer que, após ser preso, qualquer criminoso tem como primeira providência tentar desqualificar o trabalho policial.
Quando ele não pode fazê-lo pessoalmente, seus amigos ou padrinhos assumem a tarefa em seu lugar.

A entidade lamenta que no Brasil, a corrupção tenha atingido níveis inimagináveis; altos executivos do governo, quando não são presos por ordem judicial, são demitidos por envolvimento em falcatruas.

Milhões de reais - dinheiro pertencente ao povo - são desviados diariamente por aproveitadores travestidos de autoridades. E quando esses indivíduos são presos, por ordem judicial, os padrinhos vêm a publico e se dizem “ estarrecidos com a violência da operação da Polícia Federal”. Isto é apenas o início de uma estratégia usada por essas pessoas com o objetivo de desqualificar a correta atuação da polícia. Quando se prende um político ou alguém por ele protegido, é como mexer num vespeiro.

A providência logo adotada visa desviar o foco das investigações e investir contra o trabalho policial. Em tempos recentes, esse método deu tão certo que todo um trabalho investigatório foi anulado. Agora, a tática volta ao cenário.

Há de chegar o dia em que a história será contada em seus precisos tempos.

De repente, o uso de algemas em criminosos passa a ser um delito muito maior que o desvio de milhões de reais dos cofres públicos.

A Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal colocará todo o seu empenho para esclarecer o povo brasileiro o que realmente se pretende com tais acusações ao trabalho policial e o que está por trás de toda essa tentativa de desqualificação da atuação da Polícia Federal.

A decisão sobre se um preso deve ser conduzido algemado ou não é tomada pelo policial que o prende e não por quem desfruta do conforto e das mordomias dos gabinetes climatizados de Brasília.

É uma pena que aqueles que se dizem “estarrecidos” com a “violência pelo uso de algemas” não tenham o mesmo sentimento diante dos escândalos que acontecem diariamente no país, que fazem evaporar bilhões de reais dos cofres da nação, deixando milhares de pessoas na miséria, inclusive condenando-as a morte.

No Ministério dos Transportes, toda a cúpula foi afastada. Logo em seguida, estourou o escândalo na Conab e no próprio Ministério da Agricultura. Em decorrência das investigações no Ministério do Turismo, a Justiça Federal determinou a prisão de 38 pessoas de uma só tacada.

Mas a preocupação oficial é com o uso de algemas. Em todos os países do mundo, a doutrina policial ensina que todo preso deve ser conduzido algemado, porque a algema é um instrumento de proteção ao preso e ao policial que o prende.

Quanto às provas da culpabilidade dos envolvidos, cabe esclarecer que serão apresentadas no momento oportuno ao Juiz encarregado do feito, e somente a ele e a mais ninguém. Não cabe à Polícia exibir provas pela imprensa.

A ADPF aproveita para reproduzir o que disse o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos: “a Polícia Federal é republicana e não pertence ao governo nem a partidos políticos”.

Brasília, 12 de agosto de 2011
Bolivar Steinmetz
Vice-presidente, no exercício da presidência

Minitratado do Inusitado - Paulo Roberto de Almeida

Minitratado do Inusitado
Paulo Roberto de Almeida
(ver toda a série neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/04/minitratados-um-exercicio-ludico.html)

O que é o inusitado? Como diz o próprio conceito, trata-se de algo fora do normal, além do padrão costumeiro das coisas, que só ocorre de forma imprevista, em momentos não esperados, como uma surpresa. Diz-se, assim, dos acontecimentos raros, ou mesmo inéditos, que rompem com o processo habitual dos fenômenos correntes, ou de eventos pouco frequentes, que literalmente “caem do céu”, qualquer que seja sua qualidade – boa ou má – e seu impacto circunstancial. Sendo inusitado, sempre haverá um impacto, temporário ou permanente em função de sua intensidade.

Nos assuntos humanos, o inusitado pode assumir diferentes formas, todas elas, ou quase todas, provenientes de fontes externas (uma vez que ninguém “planeja” o inusitado). Quase sempre, é um evento independente, ou alguém, que produz o efeito inusitado na vida de outro alguém, que é então tomado de surpresa, como deve ser, para receber a classificação de inesperado, ou inusitado, justamente. O inusitado deve ser contrastado com a normalidade das coisas, com o ritmo habitual – frequentemente aborrecido – com que a vida se desenrola, vindo então romper a monotonia do cotidiano, causando surpresa, admiração, no mais das vezes contentamento, em alguns casos surpresas desagradáveis.
Como não se pretende num minitratado como este falar das tragédias e infelicidades humanos, fiquemos com o inusitado agradável, aqueles que nos promete melhores dias, uma vida mais feliz, uma mudança para melhor. Claro, todos esperam ter um aumento de salário, ganhar na loteria, ter mais possibilidades de mudar para uma vida mais atraente, livre das preocupações habituais com dinheiro, trabalho ou amor. Por que não provocar, então, o seu “próprio” inusitado? Porque isso é geralmente impossível no domínio das possibilidades humanas: todas as pessoas normais – pelo menos as mais “racionais” – são movidas por aquele princípio que os economistas chamam de maximização do bem-estar, mais corriqueiramente pela busca da satisfação pessoal, ou o aumento do prazer, segundo os freudianos. Advém daí que essas pessoas, dotadas de expectativas racionais, pretendem construir o seu futuro de bem-estar maximizado – se possível imediatamente – de maneira convencional, atuando sobre os meios e ferramentas à disposição, e nisso não existe nenhum caráter de inusitado em todo o empreendimento.

O inusitado surge, de fato, de forma totalmente inesperada: um acontecimento político, ou econômico, que altera fundamentalmente as regras do jogo – e cria novas oportunidades para as habilidades de quem é “atingido” pelo inesperado; o aparecimento de novos personagens no cenário habitual de nosso cotidiano, despertando novas sensações ou sentimentos há muito julgados “aposentados”; a oferta surpreendente de novas possibilidades de atuação profissional – acadêmica ou de mercado – que mobilizam nossas vantagens comparativas naturais (ou adquiridas); enfim, todo e qualquer evento fortuito que constitua uma boa surpresa, que altera o itinerário usual de nossas vidas, merece essa alcunha de inusitado; se não fosse assim, não seria “o” inusitado, e sim as pequenas surpresas da vida. Todo mundo tem “direito” a pequenas surpresas ao longo da vida, um pequeno número, contudo, recebe a grata surpresa de um verdadeiro inusitado, sempre saudado com prazer e sorrisos.

Pensando bem, nem mesmo ganhar na loteria constitui um inusitado na acepção própria da palavra, uma vez que o jogador buscou aquilo conscientemente, de forma otimisticamente sonhadora, mas ainda assim planejada, e situada no terreno das possibilidades (ainda que com uma única chance em vários milhões de “azares”). Jogar na loteria é especular com a sorte, uma atividade que os especuladores profissionais conduzem todos os dias nas bolsas de valores e nos mercados de futuros, com maiores e melhores chances de ganhar do que amadores, como somos todos nós. O inusitado merece esse nome porque ocorre justamente quando não estamos especulando com nada, muito menos tentando fazer com que ele ocorra.
Ele se dá numa aparição repentina, num olhar trocado, num piscar de olhos, num sorriso disfarçado, até mesmo numa busca ao acaso na internet (o Google pode ter milhões de inusitados inesperados, que só aparecem quando desdobramos alguns dos seus milhões de itens que aparecem em qualquer busca inocente). Muito do que acontece em nossas vidas tem correlações causais, e mecanismos indutivos que fazem com que certos eventos sejam de fato determinísticos, ou pelo menos possíveis dentro do terreno das combinações da causa e efeito normalmente existentes em algum processo qualquer (trabalho, política, economia, ganhos materiais, etc.). Só o inesperado corresponde a uma química misteriosa – como aquela do amor – que responde a “leis” desconhecidas para nós, uma combinação de moléculas não captada no reino de nossa imaginação, uma sensação diferente que invade nosso ser, inebria nosso pensamento e nos destaca, pelo menos durante algum tempo, deste mundo terreno que é o nosso de todos os dias.
A única coisa a ser feita, nesses casos, é abrir-se ao inusitado, e não planejar mais nada, pela próxima meia hora, ou mais. Como diria um general famoso:
On s’engage, et puis on voit...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de agosto de 2011
(sem revisão, so far...)

Esta aumentando o numero de idiotas no mundo?: a proposito do criacionismo (e suas derivacoes catolicas)

Tenho sido alertado, por diversos meios, para o crescimento do número de católicos normais -- com escusas pelo "normais", mas é que podem existir os anormais, também, como em qualquer outro agrupamento humano -- que pregam, como os evangélicos e outras tribos religiosas mais fundamentalistas, o direito de escolas religiosas, neste caso católicas, ensinarem também a versão "criacionista" da criação do mundo e da espécie humana paras as crianças matriculadas nesses estabelecimentos.

Com perdão dos mais sensíveis, já vou classificar esse tipo de iniciativa entre as idiotices que assaltam o mundo, de modo preocupantemente crescente, se ouso dizer.
Com efeito, o besteirol criacionista -- como vêem sequer atribuo a esse ajuntamento de bobagens o estatuto de "versão", sequer de "teoria", o que seria uma ofensa ao pensamento racional e científico -- vem sendo desde muito tempo propagado por seitas religiosas as mais diversas, geralmente vinculadas à vertente reformista, ou protestante, dos cultos cristãos. Começou, provavelmente, com os batistas -- que ensinam a tradição bíblica elementar, e totalmente ingênua -- da criação do mundo e dos homens, depois se espalhou por outras seitas evangélicas, algumas assumindo uma suposta "teoria" do "desenho inteligente" -- que não deixa de ser misticismo igual -- que tenta, como as outras, colocar deus como a origem de todas as coisas.
Enfim, tudo isso tem sua função nas pregações religiosas, que, como se sabe, tentam sempre congregar seus fiéis em torno de preceitos básicos que sempre colocam seu deus no centro de tudo, assegurando com isso a fidelização de pessoas que poderiam, de outro modo, buscar outras explicações para os chamados "mistérios do mundo" (que não são mistérios, obviamente, apenas fenômenos ainda não devassados pela pesquisa científica).
O que era, até pouco tempo atrás, o apanágio de seitas protestantes, unicamente, e que faziam disso um cavalo de batalha em escolas laicas, ou públicas, por querer impor suas crenças num sistema basicamente neutro e infenso às religiões, parece estar contaminando, ultimamente, grupos ou indivíduos católicos igualmente, o que é, além de idiota, preocupante.

A Igreja Católica há muito já se afastou das bobagens geocêntricas que tinham levado a processos memoráveis num passado distante, e mais recentemente ela já se reconciliou com a teoria darwinista, que permanece a base de qualquer estudo científico em matérias biológicas e naturais para qualquer pessoa que pretenda seguir carreira nessas áreas. O processo de laicização e de secularização já avançou bastante em sociedades cristãs do Ocidente, de maneira que as escolas públicas, agora separadas das Igrejas em grande medida, com padrões curriculares obrigatórios ou não, ensinam as teorias científicas sobre o mundo e as sociedades humanas. Escolas religiosas são livres para ter disciplinas ligadas a seus credos, mas se um país formaliza currículos básicos nas áreas científicas, o mais provável é que a ciência tenha precedência, até obrigatória, sobre a religião, nos currículos padronizados que serão objeto de exames e de requerimentos necessários para outras etapas de ensino. A religião é confinada, como é o certo, a seu domínio exclusivo, separado do ensino formal de ciências, de história, de filosofia, etc.
É curioso, portanto, ver católicos empenhados em que o criacionismo seja ensinado nas escolas, ao mesmo título e com a mesma ênfase que as teorias científicas.

Sinto muito, mas só posso classificar essa atitude como retorno à idiotice, que eu pensava estar recuando em função da disseminação do pensamento científico no mundo.
Creio que vou ter de revisar um trabalho anterior sobre o assunto:

Está aumentando o número de idiotas no mundo?
revista Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; ISSN: 1519-6186).
Via Política (29.04.2007).

A revolta das classes medias, everywhere - Tom Friedman, Moises Naim

Dois artigos sobre as manifestações recentes em diversos países:

A Theory of Everything (Sort of)
By THOMAS L. FRIEDMAN
The New York Times, August 13, 2011

LONDON burns. The Arab Spring triggers popular rebellions against autocrats across the Arab world. The Israeli Summer brings 250,000 Israelis into the streets, protesting the lack of affordable housing and the way their country is now dominated by an oligopoly of crony capitalists. From Athens to Barcelona, European town squares are being taken over by young people railing against unemployment and the injustice of yawning income gaps, while the angry Tea Party emerges from nowhere and sets American politics on its head.

There are multiple and different reasons for these explosions, but to the extent they might have a common denominator I think it can be found in one of the slogans of Israel’s middle-class uprising: “We are fighting for an accessible future.” Across the world, a lot of middle- and lower-middle-class people now feel that the “future” is out of their grasp, and they are letting their leaders know it.

Why now? It starts with the fact that globalization and the information technology revolution have gone to a whole new level. Thanks to cloud computing, robotics, 3G wireless connectivity, Skype, Facebook, Google, LinkedIn, Twitter, the iPad, and cheap Internet-enabled smartphones, the world has gone from connected to hyper-connected.

This is the single most important trend in the world today. And it is a critical reason why, to get into the middle class now, you have to study harder, work smarter and adapt quicker than ever before. All this technology and globalization are eliminating more and more “routine” work — the sort of work that once sustained a lot of middle-class lifestyles.

The merger of globalization and I.T. is driving huge productivity gains, especially in recessionary times, where employers are finding it easier, cheaper and more necessary than ever to replace labor with machines, computers, robots and talented foreign workers. It used to be that only cheap foreign manual labor was easily available; now cheap foreign genius is easily available. This explains why corporations are getting richer and middle-skilled workers poorer. Good jobs do exist, but they require more education or technical skills. Unemployment today still remains relatively low for people with college degrees. But to get one of those degrees and to leverage it for a good job requires everyone to raise their game. It’s hard.

Think of what The Times reported last February: At little Grinnell College in rural Iowa, with 1,600 students, “nearly one of every 10 applicants being considered for the class of 2015 is from China.” The article noted that dozens of other American colleges and universities are seeing a similar surge as well. And the article added this fact: Half the “applicants from China this year have perfect scores of 800 on the math portion of the SAT.”

Not only does it take more skill to get a good job, but for those who are unable to raise their games, governments no longer can afford generous welfare support or cheap credit to be used to buy a home for nothing down — which created a lot of manual labor in construction and retail. Alas, for the 50 years after World War II, to be a president, mayor, governor or university president meant, more often than not, giving things away to people. Today, it means taking things away from people.

All of this is happening at a time when this same globalization/I.T. revolution enables the globalization of anger, with all of these demonstrations now inspiring each other. Some Israeli protestors carried a sign: “Walk Like an Egyptian.” While these social protests — and their flash-mob, criminal mutations like those in London — are not caused by new technologies per se, they are fueled by them.

This globalization/I.T. revolution is also “super-empowering” individuals, enabling them to challenge hierarchies and traditional authority figures — from business to science to government. It is also enabling the creation of powerful minorities and making governing harder and minority rule easier than ever. See dictionary for: “Tea Party.”

Surely one of the iconic images of this time is the picture of Egypt’s President Hosni Mubarak — for three decades a modern pharaoh — being hauled into court, held in a cage with his two sons and tried for attempting to crush his people’s peaceful demonstrations. Every leader and C.E.O. should reflect on that photo. “The power pyramid is being turned upside down," said Yaron Ezrahi, an Israeli political theorist.

So let’s review: We are increasingly taking easy credit, routine work and government jobs and entitlements away from the middle class — at a time when it takes more skill to get and hold a decent job, at a time when citizens have more access to media to organize, protest and challenge authority and at a time when this same merger of globalization and I.T. is creating huge wages for people with global skills (or for those who learn to game the system and get access to money, monopolies or government contracts by being close to those in power) — thus widening income gaps and fueling resentments even more.

Put it all together and you have today’s front-page news.

A version of this op-ed appeared in print on August 14, 2011, on page SR11 of the New York edition with the headline: A Theory of Everything (Sort of).

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Explosión social en Reino Unido
Test: ¡Adivine el país!
MOISÉS NAÍM
El País, 14/08/2011

Hoy comenzamos con un test. Seleccione el país de donde proviene la siguiente noticia: "En las últimas semanas, calles y plazas han sido tomadas por miles de personas que protestan contra el Gobierno y por la situación del país. En algunos lugares, las manifestaciones se han tornado violentas". Las opciones son: Azerbaiyán, Chile, China, España, Filipinas, Grecia, Indonesia, Israel, Portugal, Reino Unido, Rusia, Tailandia. La respuesta es fácil: en todos. Y la lista podría, por supuesto, incluir Bahréin, Egipto, Jordania, Marruecos, Libia, Siria, Túnez o Yemen.

Este año comenzó con la primavera árabe y siguió con el verano furioso. La furia callejera se ha vuelto contagiosa y la indignación popular se ha globalizado. Es imposible diferenciar una foto de jóvenes enfrentados a la policía en Santiago de Chile de otra con la misma imagen en Londres. O una que muestra a los indignados acampados en la Puerta del Sol en Madrid de otra con las tiendas de campaña de los miles de manifestantes en las calles de Tel Aviv.

Es tentador buscar una explicación única para todas estas protestas. Si bien es cierto que la mala situación económica, la desigualdad y la falta de oportunidades para los jóvenes están presentes en muchas de ellas, más cierto aún es que cada una de estas movilizaciones está impulsada por fuerzas muy propias. Los estudiantes chilenos salen a la calle porque quieren mejor educación, los ingleses porque quieren robar un televisor. Los israelíes protestan por el alto costo de la vida y la falta de vivienda y los indignados españoles porque... No sé bien por qué. Por todo.

En Reino Unido el debate público sobre las causas de los saqueos es particularmente revelador. Cada quien tiene una explicación distinta: familias débiles y rotas, ineptitud policial, inmigración, multiculturalismo, discriminación racial, las políticas sociales, los recortes presupuestarios, la desigualdad económica, la tolerancia frente a conductas antisociales, los defectos del sistema educativo, la sobredosis de blackberrys y redes sociales y muchas más. Lo que esta variedad de explicaciones significa es que, en realidad, nadie entiende el origen de esta súbita explosión de violencia callejera. Decir que revela un profundo malestar social o, como señaló el primer ministro inglés, David Cameron, que hay segmentos de su sociedad que están muy enfermos, es equivalente a diagnosticar a un paciente diciendo que tiene un virus indeterminado. Este diagnóstico puede ser cierto, pero ayuda muy poco a encontrar la cura.

Por otro lado, aunque no sabemos qué pasó esta semana en Reino Unido, sí contamos con un análisis riguroso y reciente de la inestabilidad social que hubo en Europa entre 1919 y 2009. Jacopo Ponticelli y Hans-Joachim Voth, de la Universidad Pompeu Fabra, en Barcelona, acaban de publicar un fascinante ensayo en el cual, tras analizar rigurosamente una enorme base de datos para 26 países europeos, determinan que en estos 90 años "los recortes en el gasto público aumentaron significativamente la frecuencia de disturbios, marchas anti-Gobierno, huelgas generales, asesinatos políticos e intentos de derrocar el orden establecido". Esto no es una sorpresa, pero está bien que alguien lo haya comprobado científicamente.

La gran pregunta, sobre la que tampoco tenemos respuestas concluyentes, es si las acciones en la calle logran cambiar las cosas. Por ahora, la única afirmación, tan segura como inútil, es que en algunos casos sí y en otros no. La toma de la plaza de Tahrir produjo cambios cataclísmicos en Egipto. En Tiananmen, no. ¿En la Puerta del Sol? Tampoco, por ahora. No se sabe qué hace que las protestas callejeras se transformen en fuente de cambio político o solo sirvan de ejercicio catártico sin más consecuencias en la práctica.

Este es un terreno intelectualmente resbaladizo. Por ejemplo, los profesores Ponticelli y Voth, basándose en los mejores análisis disponibles, afirman que, en contraste con lo que cabría suponer, "los Gobiernos que imponen recortes presupuestarios no son significativamente penalizados en las elecciones por los votantes, pero tampoco hay evidencia de que la expansión del gasto resulte en ganancias electorales". Si esto es así, se preguntan los profesores, ¿por qué entonces los Gobiernos posponen tanto como pueden las medidas de austeridad y cuando las ponen en práctica lo hacen a medias?

Según ellos, es porque los políticos ya saben lo que las investigaciones académicas confirman: hay pocas decisiones gubernamentales que saquen a la gente a protestar a la calle más rápidamente que los tijeretazos fiscales.

Así, en vista de que en muchos países los recortes al gasto público se han hecho inevitables, ya sabemos qué debemos esperar. La furia callejera de este verano se va a prolongar. Son afortunados -y pocos- los países que la podrán evitar.

Brasileiros na Guerra Civil Espanhola, 1936-1939 - artigos PRA

Estou sempre sendo consultado por pesquisadores ou simples curiosos (familiares de ex-combatentes, por exemplo) sobre a participação de brasileiros na guerra civil espanhola, tema que pesquisei a partir do conhecimento direto de alguns desses voluntários (geralmente comunistas) que empreenderam o esforço militar, como resultado de diversas formas de mobilização feitas em torno de um dos grandes conflitos bélicos à margem das duas guerras globais ocorridas no continente europeu no século XX.

Para facilitar o acesso dos interessados a meus trabalhos a esse respeito, indico a seguir os dois artigos publicados, sendo o segundo um simples resumo do primeiro:

BRASILEIROS NA GUERRA CIVIL ESPANHOLA, 1936-1939: COMBATENTES BRASILEIROS NA LUTA CONTRA O FASCISMO
Paulo Roberto de Almeida
Revista Sociologia e Política
(Curitiba, PR; UFPR; ano 4, nº 12, junho 1999,
Dossiê: Política Internacional, pp. 35-66; ISSN 0104-4478)
link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/608BrasilEspanhaRevSocPol1999.pdf
Relação de Trabalhos n° 608. Relação de Publicados nº 238.

O Brasil e a Guerra Civil Espanhola: Participação de brasileiros no conflito
Revista Hispanista, n. 37
link: http://www.hispanista.com.br/revista/artigo37esp.htm

Revolucionarios (de meia pataca?)

Por acaso caí neste quadrinho tão significativo de certa esquerda camaleônica, que me permito postar aqui, por simpático.
Creio que clicando em cima e ampliando, fica mais fácil de ler as palabritas dos atores.
Paulo Roberto de Almeida

Congresso Brasileiro de Direito Internacional, Brasília, 24-27/08/2011

O Congresso Brasileiro de Direito Internacional ocorrerá pela primeira vez, em Brasília, de 24 a 27 de agosto de 2011, e o tema central da discussão será Institucionalização e efetividade do Direito Internacional . A capital federal foi escolhida, por ser um centro acadêmico e universitário importante e voltado ao estudo do Direito e das Relações Internacionais. O UniCEUB e Itamaraty vão sediar o evento, que contará com mais de 50 conferencistas nacionais e estrangeiros.

Inscrições e mais informações podem ser conferidas no site da ABDI:
http://www.direitointernacional.org/prog_oficial.php

Devo participar de um painel no dia 25, as 11h30, como abaixo:

Painel: MERCOSUL: AVANÇOS E RETROCESSOS
Auditório Santiago Dantas
Presidência: Raquel Coelho Lenz César - PhD em Direito Publico pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Harvard LL.M., Especialista em Violência Urbana pela UFPE, Advogada e Professora de Direito Constitucional da Universidade Federal do Ceará.
MERCOSUL AOS 20 ANOS: AVANÇOS E LIMITAÇÕES
Paulo Roberto de Almeida - Diplomata, professor universitário e pesquisador
OS BLOCOS ECONÔMICOS COMO CONSTRUCTO POLÍTICO E A INGERÊNCIA DAS FORMAS DE GOVERNO: OS LIMITES DA SUPRANACIONALIDADE
Jorge Fontoura - Doutor em Direito pela Universidade de Parma, Consultor jurídico do Senado para assuntos internacionais, Professor do Instituto Rio Branco.
A IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DO MERCOSUL NA PERSPECTIVA DA JURISPRUDÊNCIA DAS CORTES SUPREMAS
Luís Coni - Professor do UNICEUB
MARCO GERAL DO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO E O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO
Tercio Waldir de Albuquerque - Advogado, professor de Direito Internacional e Presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB/MS.

A programação completa tem 72 páginas, e pode ser vista neste link:
http://direitointernacional.org/arquivos/programacao_2011.doc

Bom congresso a todos.
Paulo Roberto de Almeida

ALADI: crescendo, apesar de tudo...

ALADI eligió a “Chacho” Álvarez y abre la puerta a Nicaragua
Infolatam
Montevideo, 11 agosto 2011

Las claves
La ALADI, que tiene su sede permanente en Montevideo, está integrada por Argentina, Bolivia, Brasil, Colombia, Cuba, Chile, Ecuador, México, Paraguay, Perú, Uruguay y Venezuela como miembros plenos. Panamá está en etapa de concretar su adhesión, ya aprobada.
El Consejo de Ministros de la Asociación Latinoamericana de Integración (ALADI) eligió hoy al ex vicepresidente argentino (1999-2000) Carlos ‘Chacho’ Álvarez para regir los destinos de la organización durante los próximos tres años y le abrió la puerta a Nicaragua para ser nuevo miembro.

Los participantes en la reunión, con Álvarez a la cabeza, hicieron hincapié en que la actual crisis internacional hace que la integración de América Latina cobre mayor importancia y en la necesidad de que los países de la región incrementen su comercio y tomen sus propias decisiones sin imposiciones desde afuera.

‘Hay que vigorizar los organismos de integración que tenemos en América Latina y el Caribe. Tenemos buenas perspectivas y podemos ser optimistas’, afirmó el nuevo secretario general de ALADI.

Álvarez destacó que en los últimos tiempos ‘todos los países de la región están revalorizando la pertenencia a América Latina, contrariamente a lo que pasó tiempo atrás cuando se miraba más hacia los países desarrollados’.

La crisis económica internacional ‘nos hace a todos reflexionar y le da aún mas importancia a la construcción de espacio común latinoamericano’, aseguró.

En el encuentro participaron los ministros de Relaciones Exteriores de Argentina, Héctor Timerman, y Venezuela, Nicolás Maduro, así como Luis Almagro, de Uruguay, que fue elegido para presidir el Consejo de Ministros.

El canciller argentino pidió a los países de América Latina y el Caribe que a la hora de decidir su comercio miren hacia sus vecinos y también que se preparen para impedir que la crisis global afecte a la región.

La crisis económica internacional que vive Estados Unidos y Europa ‘no ha llegado a nuestras costas’ pero ‘debemos empezar a tomar medidas para evitar que una crisis con origen fuera de la región nos doblegue, como sucedió en el pasado’, afirmó Timerman.

‘Una de esas formas de trabajar es tomar medidas juntos, decidir de forma conjunta cuales son los mejores mecanismo para aliviar los posibles efectos y seguir creciendo’, destacó.

Timerman también hizo hincapié en la necesidad de reforzar el comercio entre países de América Latina y el Caribe.

‘No tenemos que ir a buscar fuera lo que tenemos en la región’, afirmó Timerman

El canciller venezolano por su parte afirmó que los países de América Latina y el Caribe están creciendo a pesar de la crisis económica internacional, porque ‘después de muchos años fueron capaces de elegir su camino sin que se les imponga desde fuera’.

‘Si damos una mirada a veinte, quince o diez años atrás veremos que la región estaba sometida a fórmulas extrañas e intereses distintos a los de nuestros pueblos’, afirmó Maduro.

La región ‘recibía recetas económicas y programas de ajustes que fueron desindustrializando y destruyendo el aparato económico de nuestros países’, agregó.

Pero en los últimos tiempos, la región ‘con gobiernos de diversa ideología ha venido tomando un camino de construcción de un pensamiento propio para afrontar los retos económicos’.

‘En buena medida esa decisión le ha permitido hacer frente con éxito a la tremenda crisis económica que sufre el capitalismo en Estados Unidos y en Europa’, aseguró el canciller venezolano.

El Consejo de Ministros aprobó además la adhesión de Nicaragua al organismo lo que le abre la puerta para ser en un futuro miembro pleno.

La ALADI, que tiene su sede permanente en Montevideo, está integrada por Argentina, Bolivia, Brasil, Colombia, Cuba, Chile, Ecuador, México, Paraguay, Perú, Uruguay y Venezuela como miembros plenos. Panamá está en etapa de concretar su adhesión, ya aprobada.

Brics: "milagre" chegando ao fim - Satyajit Das

Um crítico crítico (se me permitem a redundância) dos queridinhos do momento dos economistas e contestadores da arrogância imperial. Não creio que ele tenha razão inteiramente, mas muito do que ele diz parece coerente com os dados da realidade.
Paulo Roberto de Almeida

ENTREVISTA
Satyajit Das, economista, autor do best-seller "Traders, Guns & Money"
"O milagre dos BRICS está chegando ao fim"
Para indiano, Brasil terá de adotar medidas adicionais de controle de capital e de estimulo à economia doméstica
O Estado de S.Paulo, 12/08/2011

Se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de guerra cambial as ações dos governos mundiais que culminaram com um real sobrevalorizado, o que se verá no curto prazo será uma conflagração bem mais sangrenta, feroz e de custos elevados para os países exportadores de commodities, como o Brasil.

O alerta é do indiano Satyajit Das, 53 anos, autor de Traders, Guns & Money, o best-seller que elucidou os bastidores do mundo dos derivativos, muitos dos quais deram origem à bolha de crédito nos EUA. Das trabalhou por mais de 33 anos em grandes instituições financeiras internacionais, entre elas a Merrill Lynch e o Citicorp (antes da fusão com o Travelers Group, tornando-se Citigroup).

Na opinião de Das, o acirramento da guerra cambial virá dos EUA, por meio da desvalorização do dólar. E a desaceleração da maior economia global deve acabar com o "milagre" do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, agora, também a África do Sul.

A seguir, trechos da entrevista concedida à Agência Estado.

Qual será o impacto sobre o Brasil de uma desaceleração econômica forte nos EUA e Europa?

O milagre dos Brics está chegando ao fim. O que as pessoas esquecem é que os Brics se beneficiaram do crescimento mundial para elevar suas exportações. Embora o Brasil tenha um mercado doméstico bem mais desenvolvido do que outros Brics, o País ainda depende muito do capital estrangeiro. A escassez do capital estrangeiro e a falta do crescimento das exportações por causa da desaceleração mundial vai afetar todos os Brics, embora de forma diferente. O Brasil, por sua vez, se beneficiou da injeção de liquidez em razão dos gastos orçamentários nos EUA nos últimos anos, mas isso também teve um lado nocivo: a baixa taxa de juros americana traduziu-se em pressões no câmbio e mais inflação. E os EUA vão sair dessa situação via desvalorização do dólar. E, se o seu ministro da Fazenda (Guido Mantega) já falou em guerra cambial, ele não viu nada: o que aconteceu foi apenas um prelúdio. Não chegamos ao primeiro ato dessa ópera. Vai acontecer ainda uma guerra cambial e comercial feroz. Será cada país por si.

Há como o Brasil evitar isso?

Não, porque vocês são uma nação exportadora muito grande. Sua economia foi desenhada ao redor do negócio de exportação de commodities, e vai crescer mais ainda como exportadora quando os campos de petróleo do pré-sal, como o Tupi, entrarem em operação.

E o real, que muitos dizem estar até 40% sobrevalorizado, continuará se valorizando?

Sim, absolutamente. O real vai continuar se fortalecendo porque não tem nada a ver com o real, e sim com a fraqueza do dólar. O Brasil mantém taxas de juros elevadas e o Federal Reserve (Fed) permanece injetando dinheiro no sistema financeiro para manter o dólar desvalorizado pois é a única forma de os EUA pagarem sua dívida.

O Brasil tem sido agressivo no controle de capital estrangeiro. Isso deve ser reforçado?

Lógico, especialmente o de curto prazo. Nesse cenário que descrevo, os países precisam de controle de capital, de desenvolver a economia doméstica e de se certificar de que o envolvimento do capital estrangeiro seja bem controlado, pois o capital estrangeiro pode ser muito perigoso neste momento.

Os EUA resvalaram novamente para uma recessão?

Se os EUA estão ou não na chamada recessão técnica, ou seja, dois trimestres seguidos de desempenho econômico abaixo de zero, não quer dizer nada. O que está em jogo é o seguinte: se quisermos sair dessa situação de superendividamento mundial, é preciso um crescimento econômico forte e também de inflação, os quais não existem (nos países desenvolvidos).

Foi o rebaixamento da nota de risco soberano dos EUA pela S&P que provocou turbulência no mercado financeiro mundial?

A queda forte nos mercados não tem nada a ver com a S&P e o rebaixamento dos EUA. O fato é que as pessoas estão acordando para o fato de que o mundo tem muita dívida e desde a crise financeira de 2008 não foi feito nada para diminuí-la. O que os reguladores e as autoridades econômicas mundiais fizeram foi pôr "band-aid" num ferimento feito por bala de revólver. Eles injetaram mais dinheiro no sistema.