Transcrevo um post do blog Libertatum, do economista Klauber Cristofen Pires, importante na presente conjuntura em que a Argentina adota mais e mais medidas protecionistas contra o Brasil e este, equivocadamente, se preparar para retaliar com outras medidas protecionistas...
Paulo Roberto de Almeida
Tributar as importações protege a indústria nacional?
Por Klauber Cristofen Pires
Terça-feira, Maio 25, 2010
Ensina-se como cláusula pétrea em matéria de Direito Tributário que a instituição de impostos sobre o comércio exterior guarda um objetivo parafiscal, isto é, não voltado prioritariamente para a arrecadação, mas para a consecução de políticas do estado, mormente a "corrigir desvios praticados pelo mercado" e "proteger a indústria nacional". Serão, porém, estes preceitos verdadeiros? (...)
Como corolário de uma ciência que mereça o nome de Economia, analisar as consequências de um ato ou fato requer investigar não somente aos resultados imediatos, mas também os de médio e longo prazo, bem como também não desprezar os resultados apenas sobre os diretamente atingidos, mas as repercussões que recairão sobre todos os outros componentes da sociedade.
Para uma melhor compreensão do assunto, valho-me da lição de Henry Hazlitt, transcrevendo abaixo um trecho de sua obra Economia numa única lição, de brilhante lucidez e fácil entendimento, sobre uma hipotética situação em que o governo decretasse uma tarifa de importação de US$ 5 sobre suéteres estrangeiros:
Americanos seriam empregados nessa indústria, o que não ocorria anteriormente. Tudo isso é verdade. Mas não haveria aumento líquido de indústrias e de emprego no país, porque o consumidor americano teria que pagar US$5 a mais pela mesma qualidade de suéter, importância que lhe teria sobrado para comprar outra coisa. Teria que cortar, em seus gastos, a importância de US$5. A fim de que uma indústria pudesse desenvolver-se ou existir, centenas de outras teriam que retrair-se. A fim de que 50 mil pessoas pudessem ser empregadas numa indústria de suéteres, 50 mil pessoas a menos seriam empregadas em outra indústria qualquer.
Como muito bem explicado pelo autor, não haveria um crescimento da indústria nacional, mas apenas a transferência da linhas de produção de muitos empreendimentos mais eficientes para a realização de um empreendimento menos eficiente. Porém espere o leitor que nem sequer aqui se trata de um jogo de soma zero: ao inibir a produção e a produtividade das empresas mais eficientes, estamos necessariamente destruindo empregos e gerando o empobrecimento da população.
Com uma ampla tabela de alíquotas de imposto de importação, bem como cotas e/ou outras formas de gravames, o que se tem é a depressão generalizada da produção e da tecnologia domésticas. Com muito menos empresas a funcionar, os empresários passam a produzir cada vez com pior qualidade e maior preço, e dependendo da política monetarista do governo, um esquema inflacionário pode acontecer como um fogo que se alastra por uma simples fagulha em uma floresta ressecada pelo sol do verão.
Este cenário já foi vivido pelo Brasil dos anos 80 e até dos anos 90, e hoje não se encontra resolvido, mas apenas um pouco melhorado. Em um tempo em que prevalecia a política conhecida como "substituição de importações", os carros aqui fabricados eram terríveis geringonças, a ponto de lembrar-me ainda de uma desesperada capa da revista "4 Rodas" com o enfático título "Arrego!", em que denunciava a passagem de 10 anos sem absolutamente nenhum lançamento pela indústria automotiva. Porém, não eram só os carros os vilões: naquele tempo, para se comprar um mero reprodutor de video-cassete era necessário fazer um consórcio, e uma porcaria de um telefone, daqueles do tipo "trim-trim", constituía um investimento a ser declarado no Imposto de Renda.
Em um país onde a carga tributária alcança 40%, temos um cenário especial, de tal forma que poucas indústrias podem competir salvo se protegidas por direitos cobrados na Alfândega. Contudo, o problema que deslindamos neste caso é duplo, tal como a culpa dupla de um bêbado que atropela alguém. um caso não justifica o outro e ambos, juntos, consomem as forças produtivas.
Se impor restrições ao comércio fosse algo bom, a China de Mao tse-Tung teria sido um exemplo para o mundo todo, mas só o que ela produziu foi uma horda de mais de um bilhão de seres humanos extremamente miseráveis. Qualquer grau neste caminho, portanto, levará a um correspondente de empobrecimento geral.
Publicado por Klauber Cristofen Pires às 11:49 AM
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Economista "desenvolvimentista" deve ser uma doenca infantil
Sinto muito mas eu não consigo evitar uma certa sensação de cansaço quando ouço a expressão "economista desenvolvimentista"; "Fulano é desenvolvimentista, Sicrano é ortodoxo..."
Tudo isso é bullshit, completo besteirol, como se houvesse economistas que pudessem ser contra o desenvolvimento, contra o crescimento, gente que, certamente assalariada de Wall Street, fica à espreita das próximas "atitudes desenvolvimentistas" de um governo "çábio", e começa logo a apregoar: "Atenção, isso pode provocar inflação, menos azeite (dinheiro) na fervura"; "Cuidado: se você não proteger essa indústria, ela vai perecer contra a competição estrangeira e isso impedirá (sic) o desenvolvimento do país".
Esse tipo de cantilena a gente houve há pelo menos 50 ou 60 anos, desde que a ideologia desenvolvimentista fez a sua irrupção no mercado de ideias, com as propostas prebischianas da Cepal, e se consolidaram como a "economia desenvolvimentista", a única correta, a única capaz de nos salvar da desgraça da teoria ortodoxa, certamente monetarista e anti-desenvolvimentista.
É o que eu penso, quando leio a matéria abaixo que diz que economistas desenvolvimentistas estão preocupados com o câmbio e a tal de doença holandesa.
Acho que quem se considera um economista desenvolvimentista deve sofrer de uma doença infantil que o impede de crescer.
As pessoas precisam se dar conta de que não existe essa coisa de economia desenvolvimentista e economia ortodoxa. Existe apenas a diferença entre a boa e a má economia, apenas isso.
Se economia desenvolvimentista fosse sinal de progresso, de crescimento, de desenvolvimento, os países latino-americanos, que as praticam desde os anos 1950 (e alguns ainda voltam avidamente às mesmas ideias agora mesmo), seriam verdadeiras potências econômicas mundiais, e não a porcaria que efetivamente são...
Paulo Roberto de Almeida
Câmbio desindustrializa o País, diz estudo
Raquel Landim e Leandro Modé
“O Estado de S.Paulo”, 23/05/2010
Levantamento feito por grupo desenvolvimentista da FGV aponta que o Brasil enfrenta problema conhecido como 'Doença Holandesa'
Um grupo de economistas desenvolvimentistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez uma radiografia completa da influência do câmbio na economia brasileira e chegou a uma conclusão polêmica: a "doença holandesa" está provocando a desindustrialização do País.
A "doença holandesa" ganhou esse nome porque uma alta dos preços do gás na década de 60 aumentou as exportações da Holanda e valorizou o florim (moeda da época). E é isso que o conceito significa: ao exportar muita commodity, o país atrai dólares, o que valoriza a moeda e prejudica outros setores.
Outro resultado surpreendente do estudo aponta que os efeitos do real forte são marginais nas exportações, mas intensos nas importações.
O levantamento dos pesquisadores é composto por sete estudos, somando mais de 263 páginas. Os estudos analisam os impactos da taxa de câmbio na estrutura da indústria, no comércio exterior, no crescimento econômico e nas finanças públicas. Avaliam ainda as relações da moeda brasileira com os preços internacionais das commodities e a eficiência dos mercados futuros de câmbio no País.
A polêmica sobre a desindustrialização voltou ao debate econômico e político por causa do robusto déficit da indústria da transformação este ano, que chegou a US$ 7,1 bilhões no primeiro trimestre. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, tem criticado o governo Lula pelo fraco desempenho da balança comercial.
A maioria dos pesquisadores que se dedicou ao levantamento é da Escola de Economia de São Paulo (Eaesp/FGV), dirigida pelo economista Yoshiaki Nakano, ligado ao PSDB. Outro professor emérito da escola, também um tucano histórico, é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Os dois são próximos de Serra, mas não estão entre os economistas mais ouvidos pelo candidato hoje.
Segundo os autores, os estudos são independentes, sem apoio financeiro de empresas, partidos ou governos. "São pesquisadores acadêmicos e esses estudos não têm influência de nenhum tipo. Em um ano de eleição, qualquer estudo pode colaborar com o debate econômico", disse o professor Márcio Holland, coordenador do trabalho e estudioso dos efeitos do câmbio há 25 anos.
Desindustrialização precoce. Os dados da FGV apontam para uma "desindustrialização precoce" da economia, provocada pelo câmbio valorizado, que, por sua vez, é uma consequência da "doença holandesa" e do fluxo de capitais para o País. "O câmbio provoca esse déficit expressivo no comércio exterior de manufaturas, que reduz a participação da indústria na economia", diz Nelson Marconi, professor da FGV e da PUC e autor de um dos estudos.
Desde os anos 80, a participação da indústria da transformação na economia brasileira vem diminuindo. Em 1980, representava 22,8% do PIB. Em 2009, estava em 15,6%. A perda de importância da indústria é um processo natural, porque as pessoas demandam mais serviços à medida que a renda aumenta. Só que, no Brasil, processo começou antes do previsto. A renda per capita estava em US$ 4.085 nos anos 80, menos da metade do que se verifica nos países ricos quando iniciam a desindustrialização.
Fenômeno brasileiro. Os autores avaliaram as taxas de câmbio do Brasil desde o início dos anos 70. O gráfico mostra que a moeda tem uma tendência de se estabilizar em níveis apreciados, sofrendo desvalorizações nas crises, como a década de 80 e em alguns períodos dos anos 90. "É um fenômeno brasileiro, que não se verifica em outros 82 países", diz Holland.
O estudo sugere que não há uma relação forte entre a quantidade total exportada pelo Brasil e o câmbio. Para os básicos também não há diferença, mas a relação é estreita para manufaturados. Um dos autores, Sérgio Kannebley Júnior, explica que o câmbio impacta mais as importações. As empresas aproveitam o câmbio valorizado para importar mais insumos.
Sem surpresa. Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, afirma que as conclusões, entre elas a de que o Brasil sofre de "doença holandesa", não o surpreenderam. "Desde 2001, venho defendendo a tese de que a poupança externa não leva ao desenvolvimento", exemplifica. "Todos os países que se desenvolveram o fizeram com base na poupança interna."
Ao lado de Paulo Gala e Eliane Araújo, Bresser assina um estudo que trata dos efeitos da taxa de câmbio na formação da poupança no Brasil. A conclusão é de que o câmbio valorizado provoca uma redução da poupança interna, na medida em que estimula o consumo da população e reduz o lucro das empresas.
Segundo Gala, a taxa de poupança de um país depende do arranjo macroeconômico, não de questões culturais. "Diz-se que os asiáticos têm uma propensão natural à poupança. Mas traga um asiático para viver em um país como o Brasil e ele vai consumir como nós", comenta.
Economista discorda e acha que tese ''é conversa para boi dormir''
A maioria das teses defendidas nos estudos da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas está longe da unanimidade na comunidade econômica. Economistas da Faculdade de Economia e Administração (FEA)da Universidade de São Paulo, do Insper (ex-Ibmec São Paulo) e da PUC do Rio discordam, por exemplo, da ideia de que o Brasil sofra de "doença holandesa".
"Isso é conversa para boi dormir. Ou melhor, para vaca dormir, uma vez que estamos falando da Holanda", ironiza o professor da FEA Simão David Silber. "Se olharmos a trajetória do câmbio nos últimos anos, veremos que a valorização do real é fruto, principalmente, da consistência na política macroeconômica." Ou seja, ao arrumar a política econômica, o País passou a atrair capitais estrangeiros.
Outro fator que, segundo Silber, explica a queda do dólar no Brasil é a expansão dos gastos públicos. O Banco Central é obrigado a manter a taxa básica de juros (Selic) elevada para conter a inflação, estimulada pelas despesas do governo. O juro alto atrai capitais estrangeiros. O investidor toma dinheiro emprestado em um país onde a taxa é baixa e aplica no Brasil, onde é alta.
O professor do Insper José Luiz Rossi concorda. "A recente valorização do real não se explica pela alta das commodities no mercado internacional, mas pelas boas perspectivas de crescimento do Brasil, pela taxa de juro maior que a de outros países e pela queda do risco país", diz.
Para o economista da PUC-RJ José Márcio Camargo, discutir doença holandesa é "um pouco fora de propósito". "O que temos de discutir é o que fazer para ter uma estratégia de desenvolvimento que gere emprego e dê qualidade de vida para a população", afirma.
Tudo isso é bullshit, completo besteirol, como se houvesse economistas que pudessem ser contra o desenvolvimento, contra o crescimento, gente que, certamente assalariada de Wall Street, fica à espreita das próximas "atitudes desenvolvimentistas" de um governo "çábio", e começa logo a apregoar: "Atenção, isso pode provocar inflação, menos azeite (dinheiro) na fervura"; "Cuidado: se você não proteger essa indústria, ela vai perecer contra a competição estrangeira e isso impedirá (sic) o desenvolvimento do país".
Esse tipo de cantilena a gente houve há pelo menos 50 ou 60 anos, desde que a ideologia desenvolvimentista fez a sua irrupção no mercado de ideias, com as propostas prebischianas da Cepal, e se consolidaram como a "economia desenvolvimentista", a única correta, a única capaz de nos salvar da desgraça da teoria ortodoxa, certamente monetarista e anti-desenvolvimentista.
É o que eu penso, quando leio a matéria abaixo que diz que economistas desenvolvimentistas estão preocupados com o câmbio e a tal de doença holandesa.
Acho que quem se considera um economista desenvolvimentista deve sofrer de uma doença infantil que o impede de crescer.
As pessoas precisam se dar conta de que não existe essa coisa de economia desenvolvimentista e economia ortodoxa. Existe apenas a diferença entre a boa e a má economia, apenas isso.
Se economia desenvolvimentista fosse sinal de progresso, de crescimento, de desenvolvimento, os países latino-americanos, que as praticam desde os anos 1950 (e alguns ainda voltam avidamente às mesmas ideias agora mesmo), seriam verdadeiras potências econômicas mundiais, e não a porcaria que efetivamente são...
Paulo Roberto de Almeida
Câmbio desindustrializa o País, diz estudo
Raquel Landim e Leandro Modé
“O Estado de S.Paulo”, 23/05/2010
Levantamento feito por grupo desenvolvimentista da FGV aponta que o Brasil enfrenta problema conhecido como 'Doença Holandesa'
Um grupo de economistas desenvolvimentistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez uma radiografia completa da influência do câmbio na economia brasileira e chegou a uma conclusão polêmica: a "doença holandesa" está provocando a desindustrialização do País.
A "doença holandesa" ganhou esse nome porque uma alta dos preços do gás na década de 60 aumentou as exportações da Holanda e valorizou o florim (moeda da época). E é isso que o conceito significa: ao exportar muita commodity, o país atrai dólares, o que valoriza a moeda e prejudica outros setores.
Outro resultado surpreendente do estudo aponta que os efeitos do real forte são marginais nas exportações, mas intensos nas importações.
O levantamento dos pesquisadores é composto por sete estudos, somando mais de 263 páginas. Os estudos analisam os impactos da taxa de câmbio na estrutura da indústria, no comércio exterior, no crescimento econômico e nas finanças públicas. Avaliam ainda as relações da moeda brasileira com os preços internacionais das commodities e a eficiência dos mercados futuros de câmbio no País.
A polêmica sobre a desindustrialização voltou ao debate econômico e político por causa do robusto déficit da indústria da transformação este ano, que chegou a US$ 7,1 bilhões no primeiro trimestre. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, tem criticado o governo Lula pelo fraco desempenho da balança comercial.
A maioria dos pesquisadores que se dedicou ao levantamento é da Escola de Economia de São Paulo (Eaesp/FGV), dirigida pelo economista Yoshiaki Nakano, ligado ao PSDB. Outro professor emérito da escola, também um tucano histórico, é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Os dois são próximos de Serra, mas não estão entre os economistas mais ouvidos pelo candidato hoje.
Segundo os autores, os estudos são independentes, sem apoio financeiro de empresas, partidos ou governos. "São pesquisadores acadêmicos e esses estudos não têm influência de nenhum tipo. Em um ano de eleição, qualquer estudo pode colaborar com o debate econômico", disse o professor Márcio Holland, coordenador do trabalho e estudioso dos efeitos do câmbio há 25 anos.
Desindustrialização precoce. Os dados da FGV apontam para uma "desindustrialização precoce" da economia, provocada pelo câmbio valorizado, que, por sua vez, é uma consequência da "doença holandesa" e do fluxo de capitais para o País. "O câmbio provoca esse déficit expressivo no comércio exterior de manufaturas, que reduz a participação da indústria na economia", diz Nelson Marconi, professor da FGV e da PUC e autor de um dos estudos.
Desde os anos 80, a participação da indústria da transformação na economia brasileira vem diminuindo. Em 1980, representava 22,8% do PIB. Em 2009, estava em 15,6%. A perda de importância da indústria é um processo natural, porque as pessoas demandam mais serviços à medida que a renda aumenta. Só que, no Brasil, processo começou antes do previsto. A renda per capita estava em US$ 4.085 nos anos 80, menos da metade do que se verifica nos países ricos quando iniciam a desindustrialização.
Fenômeno brasileiro. Os autores avaliaram as taxas de câmbio do Brasil desde o início dos anos 70. O gráfico mostra que a moeda tem uma tendência de se estabilizar em níveis apreciados, sofrendo desvalorizações nas crises, como a década de 80 e em alguns períodos dos anos 90. "É um fenômeno brasileiro, que não se verifica em outros 82 países", diz Holland.
O estudo sugere que não há uma relação forte entre a quantidade total exportada pelo Brasil e o câmbio. Para os básicos também não há diferença, mas a relação é estreita para manufaturados. Um dos autores, Sérgio Kannebley Júnior, explica que o câmbio impacta mais as importações. As empresas aproveitam o câmbio valorizado para importar mais insumos.
Sem surpresa. Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, afirma que as conclusões, entre elas a de que o Brasil sofre de "doença holandesa", não o surpreenderam. "Desde 2001, venho defendendo a tese de que a poupança externa não leva ao desenvolvimento", exemplifica. "Todos os países que se desenvolveram o fizeram com base na poupança interna."
Ao lado de Paulo Gala e Eliane Araújo, Bresser assina um estudo que trata dos efeitos da taxa de câmbio na formação da poupança no Brasil. A conclusão é de que o câmbio valorizado provoca uma redução da poupança interna, na medida em que estimula o consumo da população e reduz o lucro das empresas.
Segundo Gala, a taxa de poupança de um país depende do arranjo macroeconômico, não de questões culturais. "Diz-se que os asiáticos têm uma propensão natural à poupança. Mas traga um asiático para viver em um país como o Brasil e ele vai consumir como nós", comenta.
Economista discorda e acha que tese ''é conversa para boi dormir''
A maioria das teses defendidas nos estudos da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas está longe da unanimidade na comunidade econômica. Economistas da Faculdade de Economia e Administração (FEA)da Universidade de São Paulo, do Insper (ex-Ibmec São Paulo) e da PUC do Rio discordam, por exemplo, da ideia de que o Brasil sofra de "doença holandesa".
"Isso é conversa para boi dormir. Ou melhor, para vaca dormir, uma vez que estamos falando da Holanda", ironiza o professor da FEA Simão David Silber. "Se olharmos a trajetória do câmbio nos últimos anos, veremos que a valorização do real é fruto, principalmente, da consistência na política macroeconômica." Ou seja, ao arrumar a política econômica, o País passou a atrair capitais estrangeiros.
Outro fator que, segundo Silber, explica a queda do dólar no Brasil é a expansão dos gastos públicos. O Banco Central é obrigado a manter a taxa básica de juros (Selic) elevada para conter a inflação, estimulada pelas despesas do governo. O juro alto atrai capitais estrangeiros. O investidor toma dinheiro emprestado em um país onde a taxa é baixa e aplica no Brasil, onde é alta.
O professor do Insper José Luiz Rossi concorda. "A recente valorização do real não se explica pela alta das commodities no mercado internacional, mas pelas boas perspectivas de crescimento do Brasil, pela taxa de juro maior que a de outros países e pela queda do risco país", diz.
Para o economista da PUC-RJ José Márcio Camargo, discutir doença holandesa é "um pouco fora de propósito". "O que temos de discutir é o que fazer para ter uma estratégia de desenvolvimento que gere emprego e dê qualidade de vida para a população", afirma.
Como divulgar a "verdadeira" imagem do Brasil (com o seu dinheiro, claro...)
Essa coisa de transmitir uma imagem verdadeira -- como se a mídia nacional ou internacional se esforçassem para transmitir a imagem falsa -- do Brasil para o mundo, soa um pouco como aqueles jornais do mundo soviético -- Pravda, Isveztia, etc -- que transmitiam a verdadeira imagem do sistema socialista, sempre conspurcada, distorcida, deformada e vilipendiada pelas empresas de comunicação do mundo capitalista.
Ministérios da Propaganda sempre gastam recursos públicos -- ou melhor, dinheiro arrancado do meu, do seu, do nosso bolso, e do caixa das empresas -- para simplesmente tentar "melhorar a imagem" da realidade.
Se os governos simplesmente empregassem esse dinheiro para apenas melhorar a realidade, em lugar de tratar de sua imagem, seria bem melhor. Todo e qualquer recurso empregado para tentar mostrar que o Brasil não tem só criança pobre, devastação ambiental, hospitais superlotados, escolas desequipadas, mas tem também todas aquelas coisas bonitas que o governo pretende mostrar, estaria muito melhor empregado justamente dando às crianças uma educação de boa qualidade, equipando hospitais e escolas, preservando o meio ambiente, enfim, fazendo aquilo que tem de ser feito na atividade-fim, não na "imagem" dessas coisas.
A mídia -- como gostam de dizer essas pessoas -- não teria nada de negativo para mostrar se o governo fizesse aquilo que é seu dever. Eu começaria, por exemplo, extinguindo todos as secretarias da propaganda que existem por ai, inutilidades custosas para o povo brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida
TV Brasil Internacional mostrará ao mundo verdadeira imagem do País, diz Lula
Boletim da Liderança do PT na CD, 26.05.2010
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante o lançamento da TV Brasil Internacional, que o novo canal servirá para mostrar para o mundo a verdadeira imagem do Brasil e o que o país tem de melhor. “Estamos realizando mais um sonho, de que ainda não acordamos. Essa TV pode ser o jeito de ser deste país, na cultura, no futebol, na política. Uma TV plena que vai desnudar este país maravilhoso que o mundo não conhece”, disse.
A TV Brasil Internacional iniciou a transmissão para 49 países do continente africano. O canal será transmitido em língua portuguesa, como fazem os canais das TVs públicas internacionais (BBC/Inglaterra, RTVE/Espanha, RAI/Itália, Canal Cinq/França, NHK/Japão), que transmitem na língua de origem. A programação será composta por conteúdos próprios da TV Brasil, com ênfase em aspectos informativos e culturais sobre o Brasil, ajustados ao fuso horário de Angola, que é de quatro horas a mais que o horário de Brasília.
Em seu discurso, Lula disse ainda que o novo canal servirá para mostrar aos céticos que “nem tudo que é público é ruim e o que é privado é um centro de excelência”. Para ele, é possível construir uma televisão pública sem ser apenas um canal de divulgação das ações do governo.
Ministérios da Propaganda sempre gastam recursos públicos -- ou melhor, dinheiro arrancado do meu, do seu, do nosso bolso, e do caixa das empresas -- para simplesmente tentar "melhorar a imagem" da realidade.
Se os governos simplesmente empregassem esse dinheiro para apenas melhorar a realidade, em lugar de tratar de sua imagem, seria bem melhor. Todo e qualquer recurso empregado para tentar mostrar que o Brasil não tem só criança pobre, devastação ambiental, hospitais superlotados, escolas desequipadas, mas tem também todas aquelas coisas bonitas que o governo pretende mostrar, estaria muito melhor empregado justamente dando às crianças uma educação de boa qualidade, equipando hospitais e escolas, preservando o meio ambiente, enfim, fazendo aquilo que tem de ser feito na atividade-fim, não na "imagem" dessas coisas.
A mídia -- como gostam de dizer essas pessoas -- não teria nada de negativo para mostrar se o governo fizesse aquilo que é seu dever. Eu começaria, por exemplo, extinguindo todos as secretarias da propaganda que existem por ai, inutilidades custosas para o povo brasileiro.
Paulo Roberto de Almeida
TV Brasil Internacional mostrará ao mundo verdadeira imagem do País, diz Lula
Boletim da Liderança do PT na CD, 26.05.2010
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante o lançamento da TV Brasil Internacional, que o novo canal servirá para mostrar para o mundo a verdadeira imagem do Brasil e o que o país tem de melhor. “Estamos realizando mais um sonho, de que ainda não acordamos. Essa TV pode ser o jeito de ser deste país, na cultura, no futebol, na política. Uma TV plena que vai desnudar este país maravilhoso que o mundo não conhece”, disse.
A TV Brasil Internacional iniciou a transmissão para 49 países do continente africano. O canal será transmitido em língua portuguesa, como fazem os canais das TVs públicas internacionais (BBC/Inglaterra, RTVE/Espanha, RAI/Itália, Canal Cinq/França, NHK/Japão), que transmitem na língua de origem. A programação será composta por conteúdos próprios da TV Brasil, com ênfase em aspectos informativos e culturais sobre o Brasil, ajustados ao fuso horário de Angola, que é de quatro horas a mais que o horário de Brasília.
Em seu discurso, Lula disse ainda que o novo canal servirá para mostrar aos céticos que “nem tudo que é público é ruim e o que é privado é um centro de excelência”. Para ele, é possível construir uma televisão pública sem ser apenas um canal de divulgação das ações do governo.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Cuba: hipocrisia do Le Monde
Incrível Le Monde, que abaixa um pouco mais no meu conceito: como pedir um pouco mais de esforço aos "camaradas" cubanos em face do que assistimos?
O Le Monde sempre foi um jornal "progressista". Não se esperava que ele fosse amigo das piores ditaduras ainda existentes...
A Cuba, un espoir pour les prisonniers politiques
Editorial Le Monde, 25.05.2010
Le Cuba de Raul Castro n'est pas tout à fait celui de son frère, le "Comandante Fidel". Ce qui n'était jusqu'ici qu'une vague impression est en train de se vérifier. Cuba bouge - un peu. Le changement est modeste, sûrement fragile, mais indéniable.
Il porte sur un seul sujet, certes, mais c'est l'un des plus sensibles et les plus emblématiques de ce pays dirigé d'une main de fer depuis plus d'un demi-siècle : la situation des prisonniers politiques. Car, même si elle ne le reconnaît pas, la dictature castriste, qui n'en finit pas, embastille toujours ceux qui osent la critiquer, serait-ce par les moyens les plus légaux.
Un dialogue est amorcé entre le régime et l'Eglise catholique. Les "dames en blanc", les épouses et les proches des détenus politiques étaient malmenés par les nervis du régime lorsqu'elles manifestaient silencieusement le dimanche à La Havane. L'Eglise a obtenu qu'elles puissent reprendre leur marche sans être importunées.
Plus spectaculaire, l'archevêque de La Havane, Mgr Jaime Ortega, le même qui, dans les années 1960, était emprisonné par Fidel, a obtenu l'accord des autorités pour le transfert dans leur province d'origine des prisonniers politiques qui en étaient tenus éloignés, et l'hospitalisation des plus malades d'entre eux. Une nouvelle rencontre est prévue cette semaine, l'objectif étant, pour l'Eglise, d'obtenir la libération des quelque deux cents prisonniers politiques cubains.
Le cas le plus urgent est celui de Guillermo Farinas, un ancien militaire passé à la dissidence, qui observe une grève de la faim depuis 91 jours. S'il est toujours en vie - il a perdu une vingtaine de kilos depuis la fin février -, c'est parce qu'il a accepté d'être nourri par intraveineuse dans l'unité de soins intensifs de l'hôpital où il se trouve.
Pour mettre fin à son mouvement, il exigeait la libération des vingt-six prisonniers politiques les plus malades. Aujourd'hui, alors qu'un dialogue est amorcé par l'entremise de l'Eglise, il a réduit ses exigences à la libération d'une dizaine de prisonniers.
C'est le scénario le plus probable. Il aurait le mérite d'épargner la vie de Guillermo Farinas et, pour le régime, d'éviter une nouvelle vague de condamnations internationales, comme celle qui avait suivi, fin février, la mort d'un autre gréviste de la faim, Orlando Zapata Tamayo.
Pourquoi le régime cubain choisirait-il, dans cette affaire, le dialogue plutôt que la manière forte ? La situation économique de l'île n'est, certes, pas brillante. Le modèle socialiste est un échec. Cuba ne produit presque rien en dehors de ses médecins, des cigares et du rhum. Mais l'explication économique n'est pas totalement convaincante. La population est résignée et elle a connu bien pire lorsque l'URSS, qui tenait Cuba à bout de bras, s'est effondrée.
Y a-t-il autre chose ? Peut-être. L'affaire des prisonniers préfigurerait un début d'adaptation - on n'ose dire d'ouverture - du régime à l'après-guerre froide. Il faudrait d'autres signes. On aimerait y croire.
Camarades, encore un effort !
Article paru dans l'édition du 26.05.10
O Le Monde sempre foi um jornal "progressista". Não se esperava que ele fosse amigo das piores ditaduras ainda existentes...
A Cuba, un espoir pour les prisonniers politiques
Editorial Le Monde, 25.05.2010
Le Cuba de Raul Castro n'est pas tout à fait celui de son frère, le "Comandante Fidel". Ce qui n'était jusqu'ici qu'une vague impression est en train de se vérifier. Cuba bouge - un peu. Le changement est modeste, sûrement fragile, mais indéniable.
Il porte sur un seul sujet, certes, mais c'est l'un des plus sensibles et les plus emblématiques de ce pays dirigé d'une main de fer depuis plus d'un demi-siècle : la situation des prisonniers politiques. Car, même si elle ne le reconnaît pas, la dictature castriste, qui n'en finit pas, embastille toujours ceux qui osent la critiquer, serait-ce par les moyens les plus légaux.
Un dialogue est amorcé entre le régime et l'Eglise catholique. Les "dames en blanc", les épouses et les proches des détenus politiques étaient malmenés par les nervis du régime lorsqu'elles manifestaient silencieusement le dimanche à La Havane. L'Eglise a obtenu qu'elles puissent reprendre leur marche sans être importunées.
Plus spectaculaire, l'archevêque de La Havane, Mgr Jaime Ortega, le même qui, dans les années 1960, était emprisonné par Fidel, a obtenu l'accord des autorités pour le transfert dans leur province d'origine des prisonniers politiques qui en étaient tenus éloignés, et l'hospitalisation des plus malades d'entre eux. Une nouvelle rencontre est prévue cette semaine, l'objectif étant, pour l'Eglise, d'obtenir la libération des quelque deux cents prisonniers politiques cubains.
Le cas le plus urgent est celui de Guillermo Farinas, un ancien militaire passé à la dissidence, qui observe une grève de la faim depuis 91 jours. S'il est toujours en vie - il a perdu une vingtaine de kilos depuis la fin février -, c'est parce qu'il a accepté d'être nourri par intraveineuse dans l'unité de soins intensifs de l'hôpital où il se trouve.
Pour mettre fin à son mouvement, il exigeait la libération des vingt-six prisonniers politiques les plus malades. Aujourd'hui, alors qu'un dialogue est amorcé par l'entremise de l'Eglise, il a réduit ses exigences à la libération d'une dizaine de prisonniers.
C'est le scénario le plus probable. Il aurait le mérite d'épargner la vie de Guillermo Farinas et, pour le régime, d'éviter une nouvelle vague de condamnations internationales, comme celle qui avait suivi, fin février, la mort d'un autre gréviste de la faim, Orlando Zapata Tamayo.
Pourquoi le régime cubain choisirait-il, dans cette affaire, le dialogue plutôt que la manière forte ? La situation économique de l'île n'est, certes, pas brillante. Le modèle socialiste est un échec. Cuba ne produit presque rien en dehors de ses médecins, des cigares et du rhum. Mais l'explication économique n'est pas totalement convaincante. La population est résignée et elle a connu bien pire lorsque l'URSS, qui tenait Cuba à bout de bras, s'est effondrée.
Y a-t-il autre chose ? Peut-être. L'affaire des prisonniers préfigurerait un début d'adaptation - on n'ose dire d'ouverture - du régime à l'après-guerre froide. Il faudrait d'autres signes. On aimerait y croire.
Camarades, encore un effort !
Article paru dans l'édition du 26.05.10
Chavez sobre Chavez
Andei percorrendo o novo blog de Hugo Chávez, iniciado recentemente na sequencia de seu Twitter, este com 441.876 seguidores quando acessei o que se chama, apropriadamente:
Blog de Hugo Chávez
Como se poderia esperar a presença mais visível é a de Hugo Chávez (contei 17 fotos suas quando visitei, e de nenhuma outra pessoa mais, a não ser como acompanhante de fundo, se tanto, ocasionalmente).
Para os que apreciam, e gostam do personagem, tem Chávez para todos os gostos, inclusive um de "punho e letras" (e se supõe que ele mesmo escreva o que está ali, do contrário o caudilho não seria capaz de mentir).
Leio nessa seção uma singela homenagem à sua mãe, por ocasião do dia das mães (sim, caudilhos também tem mães e são sentimentais:
Líneas de Chávez
A mi madre: ¡@madrecandanga!
9.May.2010 / 07:15 am / 2 Comentarios
Al salir estas Líneas, el domingo 9 de mayo, estaremos celebrando el Día de la Madre. Quienes llevamos en el alma el signo del agradecimiento, nos celebramos y nos cantamos en el goce festivo de ser criaturas de un vientre fecundo.
La palabra “madre” resuena en todo lo que nace: en todo lo que se lanza a la vida para librar la batalla cotidiana por la felicidad colectiva.
Recuerdo un par de grandes voces para iluminar aún más este gran día. Una, la del poeta argentino Roberto Juarroz, que nos dice que esto de ser el que somos -o la que somos- es un largo recorrido para llegar, a la postre, a ser verdaderamente hijo o hija:
He demorado mucho, he demorado todas las mujeres y también todos los hombres, he demorado el tiempo interminablemente largo de la vida interminablemente breve, para llegar a ser varias veces tu hijo.
Y otra, la de nuestro William Osuna, que en un relámpago expresa la sorpresa sagrada del origen y se la comunica a su madre para dar testimonio de fidelidad:
Compruébalo, es verdad
tu hijo está poseído
es fiel al canto
de tu vientre.
Sirvan estos versos como el mejor de los presentes para todas las madres de Venezuela, que son sol de este día y de cada día.
Sirvan estos versos también para cantarle a mi madre, mi querida Elena, la hija de Rafael y Benita, la nieta de Pedro Pérez Delgado y Claudina Infante… Tiene razón el poeta: “He demorado todos los hombres y todas las mujeres”.
A mi mamá-abuela, la Rosa Inés, vaya mi canto y mi compromiso:
“Y entonces también,
la sonrisa alegre
de tu rostro ausente
llenará de luz
este llano caliente
y un gran cabalgar
saldrá de repente
y vendrá Zamora con toda su gente
y también Maisanta
con sus mil valientes.”
Blog de Hugo Chávez
Como se poderia esperar a presença mais visível é a de Hugo Chávez (contei 17 fotos suas quando visitei, e de nenhuma outra pessoa mais, a não ser como acompanhante de fundo, se tanto, ocasionalmente).
Para os que apreciam, e gostam do personagem, tem Chávez para todos os gostos, inclusive um de "punho e letras" (e se supõe que ele mesmo escreva o que está ali, do contrário o caudilho não seria capaz de mentir).
Leio nessa seção uma singela homenagem à sua mãe, por ocasião do dia das mães (sim, caudilhos também tem mães e são sentimentais:
Líneas de Chávez
A mi madre: ¡@madrecandanga!
9.May.2010 / 07:15 am / 2 Comentarios
Al salir estas Líneas, el domingo 9 de mayo, estaremos celebrando el Día de la Madre. Quienes llevamos en el alma el signo del agradecimiento, nos celebramos y nos cantamos en el goce festivo de ser criaturas de un vientre fecundo.
La palabra “madre” resuena en todo lo que nace: en todo lo que se lanza a la vida para librar la batalla cotidiana por la felicidad colectiva.
Recuerdo un par de grandes voces para iluminar aún más este gran día. Una, la del poeta argentino Roberto Juarroz, que nos dice que esto de ser el que somos -o la que somos- es un largo recorrido para llegar, a la postre, a ser verdaderamente hijo o hija:
He demorado mucho, he demorado todas las mujeres y también todos los hombres, he demorado el tiempo interminablemente largo de la vida interminablemente breve, para llegar a ser varias veces tu hijo.
Y otra, la de nuestro William Osuna, que en un relámpago expresa la sorpresa sagrada del origen y se la comunica a su madre para dar testimonio de fidelidad:
Compruébalo, es verdad
tu hijo está poseído
es fiel al canto
de tu vientre.
Sirvan estos versos como el mejor de los presentes para todas las madres de Venezuela, que son sol de este día y de cada día.
Sirvan estos versos también para cantarle a mi madre, mi querida Elena, la hija de Rafael y Benita, la nieta de Pedro Pérez Delgado y Claudina Infante… Tiene razón el poeta: “He demorado todos los hombres y todas las mujeres”.
A mi mamá-abuela, la Rosa Inés, vaya mi canto y mi compromiso:
“Y entonces también,
la sonrisa alegre
de tu rostro ausente
llenará de luz
este llano caliente
y un gran cabalgar
saldrá de repente
y vendrá Zamora con toda su gente
y también Maisanta
con sus mil valientes.”
Jorge Castaneda sobre Lula
TRIBUNA
Lula: jugar en primera división sin mojarse
JORGE CASTAÑEDA
El País, 24/05/2010
A Washington le irrita que un aliado sin "vela en el entierro" entorpezca sus planes, sean o no justos
Lula puede salir airoso de su mediación en Irán o acabar mal con todos
Hace tiempo que el Brasil de Lula busca un papel global, y que el mundo reconoce sus méritos y celebra sus esfuerzos. La prensa internacional ha hecho del gigante sudamericano la niña de sus ojos, colocando en un mismo plano el carisma de Lula, el Mundial de Fútbol del 2014, las Olimpiadas del 2016, el desempeño de Itamaratí (la Cancillería) en la Ronda Doha y el creciente papel brasileño en América Latina, desplazando tanto a México como a Estados Unidos, incluso en el patio trasero de ambos: Honduras.
En realidad, detrás de unas magníficas relaciones públicas y 16 años de buen gobierno (Cardoso y Lula), aunados a un crecimiento económico mediano pero sostenido, se perfilan varias aventuras diplomáticas fallidas, disimuladas por la superficialidad y la inercia mediáticas. Pero quizás se acerque la hora de la verdad, ya sea para confirmar el surgimiento de un nuevo protagonista global, ya sea para corroborar una obviedad: no bastan las ganas para ser una potencia mundial.
En efecto, el intento de Lula por lograr, de la mano de Turquía y de su mágica mancuerna diplomática (el primer ministro Erdogan y el canciller Davutoglu), un acuerdo con el régimen iraní que impidiera la imposición de nuevas sanciones a Teherán puede convertirse en un éxito notable o en una debacle. Los dos miembros no permanentes del Consejo de Seguridad de la ONU (CSONU) presentaron la semana pasada un acuerdo con el presidente Ahmadineyad cuyo propósito ostensible consiste en evitar que el programa de enriquecimiento de uranio iraní se traduzca en la fabricación de una arma atómica. Para ello, propusieron canjear, en el plazo de un año, uranio enriquecido de bajo grado iraní por varillas occidentales de uranio enriquecido de alto grado, destinadas exclusivamente al reactor de investigación de Teherán.
El propósito real residió, sin embargo, en impedir que el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas considerara -y en su caso aprobara- un paquete de nuevas sanciones contra el país gobernado por los ayatolás. Dicha eventualidad hubiera obligado a Ankara y a Brasilia a afrontar una disyuntiva del diablo: seguir el consenso anti-Teherán y traicionar su propia retórica, u oponerse a una resolución patrocinada por los miembros permanentes del Consejo de Seguridad y quedarse solos en el intento, mostrando el aislamiento y la confrontación que entraña su "nueva diplomacia".
La lógica turca es evidente. La república aún kemalista posee intereses reales en la zona. Lleva a cabo un comercio intenso con su vecino; tiene en común una población kurda significativa; recibe parte de su gas y petróleo de Irán; una proporción importante de la población iraní habla turco. Su nueva política exterior consiste en alejarse de las viejas posturaspro Estados Unidos y pro Israel (Turquía es miembro fundador de la OTAN) y en acercarse a sus vecinos -Siria, Grecia e Irán, por supuesto- y al mundo islámico en su conjunto.
La lógica brasileña es menos obvia. No hay intereses significativos de Brasil en Irán, el antisemitismo de Ahmadineyad es mal visto por la comunidad judía de São Paulo, e Itamaratí sabe muy bien que pocas cosas exasperan más a los norteamericanos que un país aliado sin "vela en el entierro" entorpezca sus propósitos, con independencia de la justeza de estos últimos. En el fondo, el gambito de Lula es otro: utilizar la inminente crisis iraní para consolidar su lugar en el firmamento diplomático internacional.
El problema es que el acuerdo de Teherán no bastó para impedir la presentación de un proyecto de resolución por Washington y los demás miembros permanentes del Consejo, que contempla una cuarta etapa de sanciones con más dientes y más amplias. Todo indica, incluso, que los norteamericanos pudieron contar desde antes del esfuerzo turco-brasileño con los nueve votos necesarios para aprobar su resolución, dada por lo menos la abstención rusa y china para evitar un veto. Austria, Japón, Gabón, Uganda y México se encontraban en principio a bordo y Bosnia-Herzegovina y Nigeria en el limbo. Ya existía en principio una coalición suficiente para imponer nuevas sanciones, incluyendo un embargo de materiales susceptibles de ser utilizados para la construcción de misiles y no sólo de la ojiva nuclear que portarían.
Así, de prosperar la iniciativa de Estados Unidos, Francia y el Reino Unido (apoyada por Alemania y tolerada, en todo caso, por Rusia y por China), Brasil se hallaría en el peor de los mundos posibles. Tendrá que tomar partido, después de buscar evitarlo a través de un compromiso que adoleció de un defecto congénito. Una de las partes, es decir, Washington, nunca estuvo de acuerdo, aunque Davutoglu insista en que todo fue consultado con la secretaria de Estado Clinton. Si Brasil aprueba las sanciones en el CSONU, se habrá desdicho de su rechazo a las mismas; si vota en contra, lo hará en compañía, en el mejor de los casos, solo de Turquía y Líbano. Y si se abstiene, confirmará lo que muchos hemos reiterado: Lula quiere jugar en primera división, pero sin mojarse.
He aquí el quid del asunto. En realidad, Brasil ha logrado poco en el ámbito internacional, más allá de titulares. El objetivo diplomático número uno de Lula -lograr un escaño permanente en el Consejo de Seguridad- se ve, al término de ocho años de esfuerzos, menos viable que nunca. La aventura en Honduras resultó en una tragicomedia tropical: Brasil no pudo restituir a su asilado huésped Manuel Zelaya, este permaneció varios meses en la Embajada brasileña, y hoy Itamaratí solo puede chantajear a españoles y mexicanos con su ausencia en caso de cualquier invitación o reconocimiento al nuevo presidente hondureño. La reanudación de la Ronda de Doha sigue indefinidamente pospuesta, Copenhague no resultó y Cancún no promete, e incluso las diversas iniciativas regionales presentadas por Brasil de la mano con Hugo Chávez se hallan estancadas.
Ello se debe a una debilidad intrínseca del esquema. El tamaño de una economía (Japón) o de una demografía (India) no otorga ipso facto el estatuto de actor mundial. Más bien es la toma de partido, los valores impulsados y la eficacia a escala regional lo que, en su conjunto, pueden (o no) convertirse en una catapulta al estrellato internacional. Brasil linda con nueve países, y todos ellos padecen serios conflictos internos (Colombia, Bolivia, Venezuela) o con sus vecinos (Argentina con Uruguay, Colombia con Venezuela y Ecuador, Perú con Ecuador y con Chile, Bolivia con Chile). Pero Lula en ese pantano no ha querido incursionar: mantiene una prudente pasividad antiintervencionista, o un franco respaldo a las posiciones bolivarianas de Chávez, Correa, Morales, Daniel Ortega en Nicaragua y los hermanos Castro en La Habana. Se resiste a impulsar valores, a tomar partido, o a buscar resultados concretos en su propio terreno.
Tal vez resulte más fácil mediar entre Teherán y Washington (aunque nadie lo ha logrado desde 1979) que entre Caracas y Bogotá, o entre Buenos Aires y Montevideo. A pesar de su patente irritación, quizás Barack Obama y Hillary Clinton prefieran darle el beneficio de la duda al proyecto turco-brasileño antes que ceder a la impaciencia de Israel y de Francia. Lula puede salir airoso de su lance en las planicies persas o acabar mal con todos. Posiblemente debiera haberse mostrado satisfecho con las portadas de las revistas, sin buscar en exceso llenarlas de contenido. Suele ser más difícil.
Jorge Castañeda, ex secretario de Relaciones Exteriores de México, es profesor de Estudios Latinoamericanos en la Universidad de Nueva York.
Lula: jugar en primera división sin mojarse
JORGE CASTAÑEDA
El País, 24/05/2010
A Washington le irrita que un aliado sin "vela en el entierro" entorpezca sus planes, sean o no justos
Lula puede salir airoso de su mediación en Irán o acabar mal con todos
Hace tiempo que el Brasil de Lula busca un papel global, y que el mundo reconoce sus méritos y celebra sus esfuerzos. La prensa internacional ha hecho del gigante sudamericano la niña de sus ojos, colocando en un mismo plano el carisma de Lula, el Mundial de Fútbol del 2014, las Olimpiadas del 2016, el desempeño de Itamaratí (la Cancillería) en la Ronda Doha y el creciente papel brasileño en América Latina, desplazando tanto a México como a Estados Unidos, incluso en el patio trasero de ambos: Honduras.
En realidad, detrás de unas magníficas relaciones públicas y 16 años de buen gobierno (Cardoso y Lula), aunados a un crecimiento económico mediano pero sostenido, se perfilan varias aventuras diplomáticas fallidas, disimuladas por la superficialidad y la inercia mediáticas. Pero quizás se acerque la hora de la verdad, ya sea para confirmar el surgimiento de un nuevo protagonista global, ya sea para corroborar una obviedad: no bastan las ganas para ser una potencia mundial.
En efecto, el intento de Lula por lograr, de la mano de Turquía y de su mágica mancuerna diplomática (el primer ministro Erdogan y el canciller Davutoglu), un acuerdo con el régimen iraní que impidiera la imposición de nuevas sanciones a Teherán puede convertirse en un éxito notable o en una debacle. Los dos miembros no permanentes del Consejo de Seguridad de la ONU (CSONU) presentaron la semana pasada un acuerdo con el presidente Ahmadineyad cuyo propósito ostensible consiste en evitar que el programa de enriquecimiento de uranio iraní se traduzca en la fabricación de una arma atómica. Para ello, propusieron canjear, en el plazo de un año, uranio enriquecido de bajo grado iraní por varillas occidentales de uranio enriquecido de alto grado, destinadas exclusivamente al reactor de investigación de Teherán.
El propósito real residió, sin embargo, en impedir que el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas considerara -y en su caso aprobara- un paquete de nuevas sanciones contra el país gobernado por los ayatolás. Dicha eventualidad hubiera obligado a Ankara y a Brasilia a afrontar una disyuntiva del diablo: seguir el consenso anti-Teherán y traicionar su propia retórica, u oponerse a una resolución patrocinada por los miembros permanentes del Consejo de Seguridad y quedarse solos en el intento, mostrando el aislamiento y la confrontación que entraña su "nueva diplomacia".
La lógica turca es evidente. La república aún kemalista posee intereses reales en la zona. Lleva a cabo un comercio intenso con su vecino; tiene en común una población kurda significativa; recibe parte de su gas y petróleo de Irán; una proporción importante de la población iraní habla turco. Su nueva política exterior consiste en alejarse de las viejas posturaspro Estados Unidos y pro Israel (Turquía es miembro fundador de la OTAN) y en acercarse a sus vecinos -Siria, Grecia e Irán, por supuesto- y al mundo islámico en su conjunto.
La lógica brasileña es menos obvia. No hay intereses significativos de Brasil en Irán, el antisemitismo de Ahmadineyad es mal visto por la comunidad judía de São Paulo, e Itamaratí sabe muy bien que pocas cosas exasperan más a los norteamericanos que un país aliado sin "vela en el entierro" entorpezca sus propósitos, con independencia de la justeza de estos últimos. En el fondo, el gambito de Lula es otro: utilizar la inminente crisis iraní para consolidar su lugar en el firmamento diplomático internacional.
El problema es que el acuerdo de Teherán no bastó para impedir la presentación de un proyecto de resolución por Washington y los demás miembros permanentes del Consejo, que contempla una cuarta etapa de sanciones con más dientes y más amplias. Todo indica, incluso, que los norteamericanos pudieron contar desde antes del esfuerzo turco-brasileño con los nueve votos necesarios para aprobar su resolución, dada por lo menos la abstención rusa y china para evitar un veto. Austria, Japón, Gabón, Uganda y México se encontraban en principio a bordo y Bosnia-Herzegovina y Nigeria en el limbo. Ya existía en principio una coalición suficiente para imponer nuevas sanciones, incluyendo un embargo de materiales susceptibles de ser utilizados para la construcción de misiles y no sólo de la ojiva nuclear que portarían.
Así, de prosperar la iniciativa de Estados Unidos, Francia y el Reino Unido (apoyada por Alemania y tolerada, en todo caso, por Rusia y por China), Brasil se hallaría en el peor de los mundos posibles. Tendrá que tomar partido, después de buscar evitarlo a través de un compromiso que adoleció de un defecto congénito. Una de las partes, es decir, Washington, nunca estuvo de acuerdo, aunque Davutoglu insista en que todo fue consultado con la secretaria de Estado Clinton. Si Brasil aprueba las sanciones en el CSONU, se habrá desdicho de su rechazo a las mismas; si vota en contra, lo hará en compañía, en el mejor de los casos, solo de Turquía y Líbano. Y si se abstiene, confirmará lo que muchos hemos reiterado: Lula quiere jugar en primera división, pero sin mojarse.
He aquí el quid del asunto. En realidad, Brasil ha logrado poco en el ámbito internacional, más allá de titulares. El objetivo diplomático número uno de Lula -lograr un escaño permanente en el Consejo de Seguridad- se ve, al término de ocho años de esfuerzos, menos viable que nunca. La aventura en Honduras resultó en una tragicomedia tropical: Brasil no pudo restituir a su asilado huésped Manuel Zelaya, este permaneció varios meses en la Embajada brasileña, y hoy Itamaratí solo puede chantajear a españoles y mexicanos con su ausencia en caso de cualquier invitación o reconocimiento al nuevo presidente hondureño. La reanudación de la Ronda de Doha sigue indefinidamente pospuesta, Copenhague no resultó y Cancún no promete, e incluso las diversas iniciativas regionales presentadas por Brasil de la mano con Hugo Chávez se hallan estancadas.
Ello se debe a una debilidad intrínseca del esquema. El tamaño de una economía (Japón) o de una demografía (India) no otorga ipso facto el estatuto de actor mundial. Más bien es la toma de partido, los valores impulsados y la eficacia a escala regional lo que, en su conjunto, pueden (o no) convertirse en una catapulta al estrellato internacional. Brasil linda con nueve países, y todos ellos padecen serios conflictos internos (Colombia, Bolivia, Venezuela) o con sus vecinos (Argentina con Uruguay, Colombia con Venezuela y Ecuador, Perú con Ecuador y con Chile, Bolivia con Chile). Pero Lula en ese pantano no ha querido incursionar: mantiene una prudente pasividad antiintervencionista, o un franco respaldo a las posiciones bolivarianas de Chávez, Correa, Morales, Daniel Ortega en Nicaragua y los hermanos Castro en La Habana. Se resiste a impulsar valores, a tomar partido, o a buscar resultados concretos en su propio terreno.
Tal vez resulte más fácil mediar entre Teherán y Washington (aunque nadie lo ha logrado desde 1979) que entre Caracas y Bogotá, o entre Buenos Aires y Montevideo. A pesar de su patente irritación, quizás Barack Obama y Hillary Clinton prefieran darle el beneficio de la duda al proyecto turco-brasileño antes que ceder a la impaciencia de Israel y de Francia. Lula puede salir airoso de su lance en las planicies persas o acabar mal con todos. Posiblemente debiera haberse mostrado satisfecho con las portadas de las revistas, sin buscar en exceso llenarlas de contenido. Suele ser más difícil.
Jorge Castañeda, ex secretario de Relaciones Exteriores de México, es profesor de Estudios Latinoamericanos en la Universidad de Nueva York.
Domesticando a arrogancia (nem sempre é possivel)
Hubris: reflexões sobre certas concepções do mundo
Paulo Roberto de Almeida
É muito comum, entre pessoas ou grupos que estão ascendendo em riqueza e poder, o excesso de confiança em sua própria capacidade de mudar o contexto no qual estão inseridos e influenciar outros atores e o mundo à sua volta. A isso se chama, numa adaptação do vocábulo mais frequentemente usado em inglês, assertividade. Em outras situações, pode ser também uma manifestação de arrogância.
Os mesmos sentimentos, ou posturas, podem ser exibidos por países, ou, mais exatamente, por governos, ou ainda mais precisamente, por líderes políticos de economias que estão crescendo rapidamente e que pretendem, em conseqüência, dar demonstrações dessa nova condição exercitando seus músculos na cena internacional. Essa nova postura pode ser exercida em duas direções. De um lado, para o “bem”, ou seja, para estimular a cooperação entre os países e os povos, reforçando os vínculos de solidariedade, ao mesmo tempo que se oferecem garantias de paz e segurança à comunidade internacional. Mas ela também pode se apresentar como uma manifestação do “mal”, isto é, voltando-se para projetos de conquista e de dominação que deterioram o ambiente de paz e segurança no mundo, quando não resultam diretamente em guerras e destruições, ou até em algo pior: genocídios e violações generalizadas dos direitos humanos.
Esse tipo de situação é mais comum do que se pensa nas relações internacionais e, embora o mundo atual seja caracterizado bem mais pela força do direito do que pelo direito da força, ele não está isento de novos exemplos do gênero. A Alemanha e o Japão, pelo menos duas vezes, globalmente (e outras vezes regional ou localmente), a partir do final do século 19 e até a primeira metade do século 20, são os casos típicos que ilustram perfeitamente bem este ponto. Registre-se que ambos seriam, como foram, candidatos a perversidades reincidentes se não tivessem sido contidos pelas superpotências, ou pela única verdadeira potência que emergiu no século 20. Não é preciso relembrar aqui os sofrimentos imensos que essas duas potências arrogantes impuseram a seus próprios povos em guerras de conquista, mas sobretudo aos povos de países vizinhos, em função desse comportamento agressivo, colonialista, militarista, racista, terrivelmente destrutivo, demonstrado por ambas em várias ocasiões e em diferentes direções. Trata-se, obviamente, de casos limites, mas são apenas os exemplos mais recentes de uma tendência que foi registrada na história humana de forma recorrente em muitas ocasiões anteriores.
Um outro sentimento que acompanha também frequentemente essas fases de ascensão pessoal ou nacional é uma espécie de paranóia, derivada de certas teorias conspiratórias. Se trata da sensação de que outros países, mais avançados obviamente, rejeitam o “novo rico” e atuam deliberadamente para impedir a ascensão do emergente. Trata-se de um sentimento mais comum do que se pensa, igualmente, inclusive porque muitas vezes ele não é reconhecido explicitamente, ou então se faz o raciocínio inverso: o sentimento de que é a sua própria ascensão que traz desconforto aos demais, que procuram, assim, barrar o caminho ao emergente. Como isso se dá? As razões são múltiplas, mas algumas são mais comuns.
Quem ostenta, por exemplo, uma noção do comércio internacional como um jogo de soma-zero – algo como uma competição esportiva, em que só um pode ganhar, enquanto o outro perde absolutamente, o que é próximo de uma guerra – tende a atribuir aos outros a iniciativa dos bloqueios e dos constrangimentos: “se eu ganhar, será uma perda para você”, daí o bloqueio, o ato de “chutar a escada”, como diria um conhecido economista paranóico-coreano (não deveria, pois o exemplo de seu país é um claro desmentido a essa tese).
Vejamos o que escreveu um alemão famoso sobre a atitude dos “imperialistas ocidentais” em face da ascensão da Alemanha imperial de antes de 1914 (mas o mesmo poderia ser aplicado à Alemanha do entre-guerras): “O avanço sustentado da Alemanha sobre os mercados mundiais despertou o antagonismo dos velhos países industriais, que sentiram que suas chances nos mercados estavam sendo ameaçadas”. O alemão em questão era Hjalmar Schacht, que depois de conseguir estabilizar o marco alemão na Alemanha de Weimar viria a ser o ministro da economia de Hitler, conduzindo o programa de recuperação econômica pós-crise de 1931 com métodos pouco ortodoxos e pouca consideração pelos direitos humanos.
Não muito longe do Brasil, talvez até no próprio Brasil, já se ouviu o mesmo tipo de “reclamação”: o país começa a crescer e isso “incomoda os outros”, sendo que os outros são, invariavelmente as “velhas potências imperialistas”. Curioso que não se faz o mesmo tipo de crítica em relação à China, por exemplo, que está atuando de forma não muito diferente daquela seguida pelos velhos poderes colonialistas em direção dos “países periféricos” um século atrás, ou mais...
O sentimento de arrogância, a sensação de poder acrescido, a noção de que tudo pode ser feito a partir da vontade individual ou coletiva, desde que o ator emergente se engaje resolutamente na direção de sua maior afirmação no antigo contexto de sua atuação tradicional, pode obscurecer a capacidade de examinar realisticamente uma dada situação, resultando daí aqueles erros de cálculo que em linguagem trivial se menciona como tentativa de “dar um salto maior que a perna”. Também ocorre de a nova situação dar a impressão de ter sido criada pelo mesmo ator no comando ocasional da nova condição, como se tudo aquilo não fosse o resultado, por vezes longo e penoso, de um processo coletivo de acumulação de forcas, de crescimento gradual e paulatino, de aquisição progressiva de novas capacidades.
O sentimento de onipotência, a própria vontade de potência de que falava um filósofo alemão lamentavelmente associado ao nazismo – et pour cause – derivam dos mesmos processos de arrogância, paranóia e entorpecimento da capacidade de medir a “razão das coisas”. O confronto com a realidade não ocorre enquanto houver espaços de crescimento desimpedido, como ocorre em situações de grandes transformações no ambiente externo, local, regional ou internacional. Em algum momento, porém, os limites acabam sendo colocados, seja pelo esgotamento dos próprios recursos internos, seja pela fricção com interesses alheios, por vezes de parceiros mais poderosos ou igualmente agressivos. O despertar para a realidade pode ser brutal.
Nem sempre, “príncipes” conseguem evitar o sentimento de arrogância, o que é compreensível, considerando-se que todos os seus assessores competem para realçar ainda mais suas supostas qualidades e as excelências dos seus governos. Nas antigas tragédias gregas, a hubris era castigada pelos deuses, de forma por vezes exemplar. Na ausência de retenção similar, em nossas modernas sociedades laicizadas, espera-se que os conselheiros do príncipe soem os alertas providenciais, cada vez que o seu mestre e senhor ultrapassar os limites do se pode considerar razoável como manifestação de arrogância. Poucos se arriscam nesse exercício, porém, talvez por considerar que seu senhor e mestre é um verdadeiro Zeus da sabedoria e da onipotência. Sinal que eles também foram contaminados pela hubris que cega...
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 26 de maio de 2010
Paulo Roberto de Almeida
É muito comum, entre pessoas ou grupos que estão ascendendo em riqueza e poder, o excesso de confiança em sua própria capacidade de mudar o contexto no qual estão inseridos e influenciar outros atores e o mundo à sua volta. A isso se chama, numa adaptação do vocábulo mais frequentemente usado em inglês, assertividade. Em outras situações, pode ser também uma manifestação de arrogância.
Os mesmos sentimentos, ou posturas, podem ser exibidos por países, ou, mais exatamente, por governos, ou ainda mais precisamente, por líderes políticos de economias que estão crescendo rapidamente e que pretendem, em conseqüência, dar demonstrações dessa nova condição exercitando seus músculos na cena internacional. Essa nova postura pode ser exercida em duas direções. De um lado, para o “bem”, ou seja, para estimular a cooperação entre os países e os povos, reforçando os vínculos de solidariedade, ao mesmo tempo que se oferecem garantias de paz e segurança à comunidade internacional. Mas ela também pode se apresentar como uma manifestação do “mal”, isto é, voltando-se para projetos de conquista e de dominação que deterioram o ambiente de paz e segurança no mundo, quando não resultam diretamente em guerras e destruições, ou até em algo pior: genocídios e violações generalizadas dos direitos humanos.
Esse tipo de situação é mais comum do que se pensa nas relações internacionais e, embora o mundo atual seja caracterizado bem mais pela força do direito do que pelo direito da força, ele não está isento de novos exemplos do gênero. A Alemanha e o Japão, pelo menos duas vezes, globalmente (e outras vezes regional ou localmente), a partir do final do século 19 e até a primeira metade do século 20, são os casos típicos que ilustram perfeitamente bem este ponto. Registre-se que ambos seriam, como foram, candidatos a perversidades reincidentes se não tivessem sido contidos pelas superpotências, ou pela única verdadeira potência que emergiu no século 20. Não é preciso relembrar aqui os sofrimentos imensos que essas duas potências arrogantes impuseram a seus próprios povos em guerras de conquista, mas sobretudo aos povos de países vizinhos, em função desse comportamento agressivo, colonialista, militarista, racista, terrivelmente destrutivo, demonstrado por ambas em várias ocasiões e em diferentes direções. Trata-se, obviamente, de casos limites, mas são apenas os exemplos mais recentes de uma tendência que foi registrada na história humana de forma recorrente em muitas ocasiões anteriores.
Um outro sentimento que acompanha também frequentemente essas fases de ascensão pessoal ou nacional é uma espécie de paranóia, derivada de certas teorias conspiratórias. Se trata da sensação de que outros países, mais avançados obviamente, rejeitam o “novo rico” e atuam deliberadamente para impedir a ascensão do emergente. Trata-se de um sentimento mais comum do que se pensa, igualmente, inclusive porque muitas vezes ele não é reconhecido explicitamente, ou então se faz o raciocínio inverso: o sentimento de que é a sua própria ascensão que traz desconforto aos demais, que procuram, assim, barrar o caminho ao emergente. Como isso se dá? As razões são múltiplas, mas algumas são mais comuns.
Quem ostenta, por exemplo, uma noção do comércio internacional como um jogo de soma-zero – algo como uma competição esportiva, em que só um pode ganhar, enquanto o outro perde absolutamente, o que é próximo de uma guerra – tende a atribuir aos outros a iniciativa dos bloqueios e dos constrangimentos: “se eu ganhar, será uma perda para você”, daí o bloqueio, o ato de “chutar a escada”, como diria um conhecido economista paranóico-coreano (não deveria, pois o exemplo de seu país é um claro desmentido a essa tese).
Vejamos o que escreveu um alemão famoso sobre a atitude dos “imperialistas ocidentais” em face da ascensão da Alemanha imperial de antes de 1914 (mas o mesmo poderia ser aplicado à Alemanha do entre-guerras): “O avanço sustentado da Alemanha sobre os mercados mundiais despertou o antagonismo dos velhos países industriais, que sentiram que suas chances nos mercados estavam sendo ameaçadas”. O alemão em questão era Hjalmar Schacht, que depois de conseguir estabilizar o marco alemão na Alemanha de Weimar viria a ser o ministro da economia de Hitler, conduzindo o programa de recuperação econômica pós-crise de 1931 com métodos pouco ortodoxos e pouca consideração pelos direitos humanos.
Não muito longe do Brasil, talvez até no próprio Brasil, já se ouviu o mesmo tipo de “reclamação”: o país começa a crescer e isso “incomoda os outros”, sendo que os outros são, invariavelmente as “velhas potências imperialistas”. Curioso que não se faz o mesmo tipo de crítica em relação à China, por exemplo, que está atuando de forma não muito diferente daquela seguida pelos velhos poderes colonialistas em direção dos “países periféricos” um século atrás, ou mais...
O sentimento de arrogância, a sensação de poder acrescido, a noção de que tudo pode ser feito a partir da vontade individual ou coletiva, desde que o ator emergente se engaje resolutamente na direção de sua maior afirmação no antigo contexto de sua atuação tradicional, pode obscurecer a capacidade de examinar realisticamente uma dada situação, resultando daí aqueles erros de cálculo que em linguagem trivial se menciona como tentativa de “dar um salto maior que a perna”. Também ocorre de a nova situação dar a impressão de ter sido criada pelo mesmo ator no comando ocasional da nova condição, como se tudo aquilo não fosse o resultado, por vezes longo e penoso, de um processo coletivo de acumulação de forcas, de crescimento gradual e paulatino, de aquisição progressiva de novas capacidades.
O sentimento de onipotência, a própria vontade de potência de que falava um filósofo alemão lamentavelmente associado ao nazismo – et pour cause – derivam dos mesmos processos de arrogância, paranóia e entorpecimento da capacidade de medir a “razão das coisas”. O confronto com a realidade não ocorre enquanto houver espaços de crescimento desimpedido, como ocorre em situações de grandes transformações no ambiente externo, local, regional ou internacional. Em algum momento, porém, os limites acabam sendo colocados, seja pelo esgotamento dos próprios recursos internos, seja pela fricção com interesses alheios, por vezes de parceiros mais poderosos ou igualmente agressivos. O despertar para a realidade pode ser brutal.
Nem sempre, “príncipes” conseguem evitar o sentimento de arrogância, o que é compreensível, considerando-se que todos os seus assessores competem para realçar ainda mais suas supostas qualidades e as excelências dos seus governos. Nas antigas tragédias gregas, a hubris era castigada pelos deuses, de forma por vezes exemplar. Na ausência de retenção similar, em nossas modernas sociedades laicizadas, espera-se que os conselheiros do príncipe soem os alertas providenciais, cada vez que o seu mestre e senhor ultrapassar os limites do se pode considerar razoável como manifestação de arrogância. Poucos se arriscam nesse exercício, porém, talvez por considerar que seu senhor e mestre é um verdadeiro Zeus da sabedoria e da onipotência. Sinal que eles também foram contaminados pela hubris que cega...
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 26 de maio de 2010
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