Pois é: tão avesso às privatizações, tão adepto do papel do Estado em "setores estratégicos", e o governo do PT entrega o controle dos aeroportos a empresas privadas de segurança...
Polícia Federal S/A
Claudio Dantas Sequeira
Revista IstoÉ, 21/05/2011
Para cortar custos e sem ouvir o Congresso, a PF simplesmente transferiu para empresas privadas a responsabilidade de controlar quem entra e quem sai do País
O controle de imigração é feito por funcionários mal remunerados, que trocam de emprego na primeira oportunidade
Quem desembarca no aeroporto internacional de Guarulhos (SP), o mais movimentado do Brasil, acredita que está sendo recebido por treinados agentes da Polícia Federal ao apresentar seus passaportes para entrar oficialmente no País. Mas, na verdade, os funcionários que checam e carimbam os documentos de viagem, fazem entrevistas de imigração e vistoriam bagagem em busca de drogas e armas são pessoas comuns, funcionários de uma empresa privada, sem nenhum treinamento ou compromisso com a defesa da soberania do Estado. O caso de Guarulhos não é uma exceção. Hoje, empresas prestadoras de serviço dominam o controle imigratório nos aeroportos, portos e até postos de fronteira. Parece óbvio, mas entregar a terceiros a fiscalização de quem entra ou sai do País é temerário e põe em risco à segurança nacional. A fiscalização deficiente é o paraíso para traficantes, imigrantes ilegais, criminosos procurados pela Interpol e terroristas, que podem transitar livremente por aqui sem que as autoridades de plantão tomem conhecimento. Enquanto o resto do mundo está debruçado em soluções para reforçar a segurança de suas fronteiras, por aqui o governo terceiriza o controle de passaportes e imigração nos aeroportos, uma atividade que nunca deveria ter saído das mãos da Polícia Federal. Hoje, estima-se que a PF gaste mais de R$ 100 milhões para transferir a responsabilidade a empresas privadas de um serviço que deveria ser executado por ela de acordo com a Constituição Brasileira.
O processo de loteamento de áreas estratégicas começou há quatro anos, sem que houvesse o necessário debate pelo Congresso, pela sociedade e contra parecer da própria Polícia Federal. Mais grave: era para ser uma solução provisória, como explica à ISTOÉ o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul. “Sempre defendi que isso só se justifica como provisoriedade”, afirma Genro. Mas, no Brasil, o que é provisório com frequência se torna permanente. O problema é que Tarso Genro havia sido informado das consequências da terceirização. Um relatório interno da PF, obtido por ISTOÉ, revela que repassar a empresas privadas tais atividades era a última das opções para reduzir o gargalo provocado pelo crescimento exponencial de passageiros. “É de longe a hipótese mais controversa de todas e esbarra em sérios problemas de ordem legal”, concluiu a delegada Silvane Mendes Gouvêa, presidente da comissão. Em ordem de prioridade, o MJ poderia aumentar o contingente policial ou passar o controle migratório para as mãos de servidores administrativos da própria PF. O documento, de 37 páginas, com cinco anexos, listou uma série de critérios que deveriam ser adotados em caso de se decidir pela terceirização. Por exemplo, para cada três terceirizados deveria haver ao menos um policial como supervisor.
Mas o que se vê hoje é um descontrole total. Em alguns aeroportos, como o Tom Jobim, no Rio de Janeiro, cada agente da PF precisa monitorar o trabalho de até dez terceirizados. A média nos terminais terceirizados é de um policial para cada sete funcionários privados. Na Tríplice Fronteira, entre Paraguai e Argentina, há 103 funcionários terceirizados para um total de 15 agentes federais. Eles fiscalizam tudo que passa na Ponte Internacional da Amizade e na Ponte Tancredo Neves. Também são responsáveis pela emissão de passaporte e controle de raio X.
Os funcionários terceirizados geralmente encaram o serviço como um bico. Ganham pouco mais que um salário mínimo e logo que conseguem algo melhor abandonam o posto. “Trabalhei seis meses na Ultraseg, em Guarulhos. Foi meu primeiro emprego”, afirma Domênica Duarte, 22 anos. O resultado é uma rotatividade altíssima que impede a qualificação desses profissionais. E a maioria das terceirizadas são empresas de mão de obra de serviços gerais, algumas sem nenhuma relação com a atividade de controle migratório. “Essas empresas fecham contratos milionários, dão calote nos funcionários e depois desaparecem”, afirma o presidente do Sindicato dos Servidores da PF no Rio de Janeiro, Telmo Correa. Funcionários contaram à ISTOÉ que a PF paga às terceirizadas R$ 3,5 mil por contratado, mas o funcionário recebe no máximo R$ 800.
Uma dessas fornecedoras de mão de obra, a Visual Locação, Serviço e Construção Civil, dos sócios Herbert de Ávila e Alessandro Fagundes, simplesmente sumiu do mapa. No ano passado, a empresa embolsou mais de R$ 33 milhões do governo federal, dos quais R$ 2,7 milhões foram destinados ao pagamento de terceirizados no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio. ISTOÉ esteve em dois endereços registrados em nome da Visual em cidades-satélites de Brasília. O escritório num velho sobrado foi abandonado há dois meses. O corretor, que pediu anonimato, diz que Herbert “não pagou o aluguel, trocou os telefones e desapareceu”. A outra “sede” da empresa fica numa casa sem reboco em área da periferia que integra o programa de incentivos fiscais do governo do Distrito Federal. Apesar do muro alto que cerca o local, pode-se ver a placa com o nome da empresa jogada num canto, enferrujada. “Há duas semanas não aparece ninguém aí”, conta um vizinho.
SIGILO
Funcionários privados que trabalham na emissão de passaportes têm acesso ao Sistema de Informações da Polícia Federal
O caso da Visual não é exceção. A Cosejes, responsável pela emissão de passaporte, embolsou o dinheiro do governo, deu calote nos funcionários e fechou as portas. “Um dia eles não depositaram. Ligamos para a empresa no Ceará e ninguém atendeu. Fomos à filial aqui em São Paulo e já não havia ninguém”, conta Alyne Scirre, 23 anos. A ex-funcionária diz que foi censurada pelos próprios policiais. “Diziam que a gente estava chorando por miséria e que o dono da Cosejes era delegado de polícia”, afirmou.
Outro problema é que as empresas terceirizadas não preenchem todos os postos de trabalho, explica o diretor de relações de trabalho da Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef), Francisco Sabino. “Em Guarulhos, a empresa que assumiu os guichês da PF em janeiro contratou 120 pessoas e não completou a cota de 200 funcionários. Por causa do acúmulo de trabalho e dos salários baixos, os terceirizados já pensam em entrar em greve”, afirma Sabino. Ele se refere à empresa SkyServ Locação de Mão de Obra Ltda., que assinou com a Superintendência da PF em São Paulo um contrato de R$ 5,9 milhões para prestar serviços neste ano. Quase a totalidade dessas empresas, aliás, torna-se alvo de ações trabalhistas na Justiça. Acontece que os funcionários são normalmente contratados como recepcionistas ou digitadores, mas acabam exercendo funções de polícia. “Éramos registrados na carteira como recepcionista. Mas fazíamos todo o trabalho de confecção do passaporte”, relata Alyne Scirre. E confirma que tinha acesso a informações particulares no banco de dados da PF. “O trabalho é todo feito por nós. Os policiais nem precisam assinar”, diz. Dentre as atividades que Alyne exercia estão o cadastramento dos dados do requerente no sistema da PF, o envio das informações para a Casa da Moeda e a verificação do documento final. Uma responsabilidade grande demais para quem dava os primeiros passos no mercado de trabalho.
SILÊNCIO
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não quis se manifestar sobre a terceirização na PF
Não bastassem os problemas de ordem prática, a terceirização também enfrenta impedimentos legais. O relatório da Polícia Federal, que passou pelas mãos de Tarso Genro e do então diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, é claro: “Em razão de a atividade de fiscalização migratória doutrinariamente enquadrar-se no exercício do poder de polícia pelo Estado, ela é por natureza indelegável. Com isso deve ser executada por servidores efetivos do Departamento de Polícia Federal.” O advogado Luiz Carlos Cavalcanti, especialista em direito constitucional e autor de um estudo sobre o caso, explica que o controle de imigração é um trabalho complexo e altamente especializado. “A habilitação do agente da PF se dá através do estudo de uma disciplina específica denominada polícia marítima aeroportuária e de fronteiras, inserida na grade curricular do curso de formação profissional. A matéria é eliminatória”, afirma Cavalcanti. Se o policial for reprovado nesta disciplina, é imediatamente desligado do curso de formação profissional e do concurso público para agente da PF. O especialista lembra que um policial federal é submetido a investigação social para entrar na carreira, segue regime disciplinar específico e responde a uma corregedoria. Já os terceirizados não estão submetidos a nenhum tipo de controle. “Ninguém sabe de onde vêm e para onde vão esses funcionários. Eles não têm nenhum comprometimento com a instituição”, afirma o diretor da Fenapef, Francisco Sabino.
“Do jeito que está qualquer um pode embarcar com passaporte falso. Os terceirizados não sabem a diferença entre um imigrante ilegal, um padre ou uma mula do narcotráfico”, afirma Telmo Corrêa, do sindicato da PF. Agente por formação, ele lembra que a atividade de fiscalização imigratória foi confiada pela Constituição, em seu artigo 144, “de maneira inequívoca” ao Departamento de Polícia Federal. E acrescenta um dado surpreendente nessa complexa equação. Com a realização da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, as empresas americanas e inglesas querem entrar no lugar das terceirizadas nacionais e assumir o controle da nossa imigração. “É um absurdo. Uma ameaça à nossa soberania”, avalia Telmo.
CEGO
Nem o controle de raio X nos aeroportos está sob responsabilidade da PF, como determina a legislação
Esse risco não existiria se Genro e Corrêa tivessem escutado as recomendações da comissão da PF. A saída para os gargalos nos aeroportos era de fácil execução, como consta do relatório. “A contratação de mais policiais é a solução que resolve mais rapidamente o problema do controle migratório, uma vez que não haveria necessidade de mudança na rotina de fiscalização”, dizem os delegados no documento. A demanda por mais policiais seria atendida com recém-formados pela Academia Nacional de Polícia. Segundo levantamento da própria PF, bastaria a contratação de mais 181 policiais para atuar nos aeroportos do Rio e de São Paulo. Naquele ano, a academia formou 210 policiais, o suficiente para dar conta do recado. Entretanto, a cúpula da PF optou pelo caminho da terceirização, alegando que os policiais são uma mão de obra qualificada demais para a execução de serviços burocráticos.
Fontes da PF afirmam que Luiz Fernando Corrêa pressionou a comissão para que concluísse o relatório a seu gosto. Em vários trechos do relatório da PF, é citada a informação de que “o Ministério da Justiça estaria disposto a fornecer recursos para a contratação de terceirizados”. Na conclusão, o grupo de delegados ressalta que “não sendo escolhida pela direção-geral a alternativa de dotar com lotação efetiva de policiais os aeroportos”, o problema só poderia ser resolvido com a terceirização. O documento subsidiou a medida provisória que alterou a Lei 8.745/93 e abriu as portas para a privatização do controle migratório. Procurado por ISTOÉ, o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não se manifestou sobre o assunto. Coube ao diretor-executivo da PF, Paulo de Tarso Teixeira, fazer a defesa da instituição. “Os policiais continuam sendo responsáveis pelo controle migratório. Não houve transferência de competência da PF para ninguém”, garante Teixeira. Transferência houve. O trabalho da PF nos aeroportos foi privatizado. Mas em nada aliviou o transtorno vivido pelos brasileiros no agendamento a perder de vista da emissão de passaporte e nas longas filas de desembarque de passageiros.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Angus Maddison: um grande economista, e historiador
Minha homenagem a um economista que já me deu régua e compasso, ou seja, dados preciosos para minhas análises de longo prazo sobre crescimento econômico, inserção internacional, etc.
Uma amostra de sua página:
Angus Maddison 1926 - 2010
Angus Maddison was a world scholar on quantitative macroeconomic history, including the measurement and analysis of economic growth and development. He was professor at the University of Groningen from 1978 to 1997, and a founder of the Groningen Growth and Development Center.
This website provides access to major parts of Angus’ work as well as to new work that is being conducted in his spirit.
Original Homepage Angus Maddison– this page was kept up to date until Angus passed away in April 2010. It provides access to his latest writings and data series.
The Maddison Project – in March 2010, was launched by a group of close colleagues of Angus Maddison, with the aim to support an effective way of cooperation between scholars to continue Maddison’s work on measuring economic performance for different regions, time periods and subtopics.
Memorial Conference for Angus Maddison, 6-7 November, Amsterdam – about 70 close colleagues, friends and family of Angus gathered in Amsterdam to celebrate Angus’ work and life.
Angus Maddison: Memories of the Life of a Chiffrephile
By Bart van Ark
Uma amostra de sua página:
Angus Maddison 1926 - 2010
Angus Maddison was a world scholar on quantitative macroeconomic history, including the measurement and analysis of economic growth and development. He was professor at the University of Groningen from 1978 to 1997, and a founder of the Groningen Growth and Development Center.
This website provides access to major parts of Angus’ work as well as to new work that is being conducted in his spirit.
Original Homepage Angus Maddison– this page was kept up to date until Angus passed away in April 2010. It provides access to his latest writings and data series.
The Maddison Project – in March 2010, was launched by a group of close colleagues of Angus Maddison, with the aim to support an effective way of cooperation between scholars to continue Maddison’s work on measuring economic performance for different regions, time periods and subtopics.
Memorial Conference for Angus Maddison, 6-7 November, Amsterdam – about 70 close colleagues, friends and family of Angus gathered in Amsterdam to celebrate Angus’ work and life.
Angus Maddison: Memories of the Life of a Chiffrephile
By Bart van Ark
domingo, 22 de maio de 2011
Quem ama os seus, os corruptos protege...
Pena mais dura para riqueza ilícita empaca no Congresso
Fernanda Odilla
Folha de S.Paulo, 22/05/2011
Estão parados há mais de um ano no Congresso projetos que o próprio governo federal apresentou para impor penas severas a funcionários públicos com evolução patrimonial suspeita e empresas envolvidas em corrupção. Um dos projetos transforma em crime o enriquecimento ilícito de funcionários públicos. Foi preparado pelo ex-chefe da CGU (Controladoria-Geral da União) Waldir Pires e enviado ao Congresso pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. A Lei de Improbidade Administrativa, única que trata do tema atualmente, define o enriquecimento ilícito como a obtenção de vantagem patrimonial indevida em razão do cargo, mandato ou função pública. A lei prevê sanções como a demissão e a suspensão de direitos políticos.
O projeto que está na Câmara transforma a evolução patrimonial sem justificativa num artigo do Código Penal, com pena de três a oito anos de prisão, mesmo nos casos em que não for comprovado dano ao patrimônio público. Se o projeto tivesse sido aprovado, casos como o do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, poderiam ser analisados sob a ótica de uma lei mais rigorosa. O ministro comprou um apartamento de luxo e um escritório em São Paulo com os rendimentos de sua empresa de consultoria, que faturou R$ 20 milhões no ano passado. Palocci nega ter cometido irregularidades na condução de seus negócios privados. Integrantes de órgãos de controle interno do governo já perderam as esperanças de que o projeto que criminaliza o enriquecimento ilícito seja aprovado. Ele passou pelas comissões da Câmara e está pronto para ser apreciado no plenário desde 2007, mas nunca entrou na pauta.
Outro projeto que não foi longe no Congresso Nacional propõe aplicar a empresas envolvidas com corrupção multas equivalentes a até 30% do faturamento. A proposta foi elaborada pelo Ministério da Justiça em conjunto com a CGU e a AGU (Advocacia-Geral da União). A ideia do projeto é reforçar sanções de caráter administrativo para inibir a participação das empresas em esquemas de corrupção. “Não tem como colocar uma empresa na cadeia”, afirma o chefe da AGU, Luís Adams. Lula enviou o projeto ao Congresso em fevereiro do ano passado. Na Câmara, decidiu-se que a proposta deveria ser analisada por uma comissão especial, mas ela não foi criada até agora.
Fernanda Odilla
Folha de S.Paulo, 22/05/2011
Estão parados há mais de um ano no Congresso projetos que o próprio governo federal apresentou para impor penas severas a funcionários públicos com evolução patrimonial suspeita e empresas envolvidas em corrupção. Um dos projetos transforma em crime o enriquecimento ilícito de funcionários públicos. Foi preparado pelo ex-chefe da CGU (Controladoria-Geral da União) Waldir Pires e enviado ao Congresso pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. A Lei de Improbidade Administrativa, única que trata do tema atualmente, define o enriquecimento ilícito como a obtenção de vantagem patrimonial indevida em razão do cargo, mandato ou função pública. A lei prevê sanções como a demissão e a suspensão de direitos políticos.
O projeto que está na Câmara transforma a evolução patrimonial sem justificativa num artigo do Código Penal, com pena de três a oito anos de prisão, mesmo nos casos em que não for comprovado dano ao patrimônio público. Se o projeto tivesse sido aprovado, casos como o do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, poderiam ser analisados sob a ótica de uma lei mais rigorosa. O ministro comprou um apartamento de luxo e um escritório em São Paulo com os rendimentos de sua empresa de consultoria, que faturou R$ 20 milhões no ano passado. Palocci nega ter cometido irregularidades na condução de seus negócios privados. Integrantes de órgãos de controle interno do governo já perderam as esperanças de que o projeto que criminaliza o enriquecimento ilícito seja aprovado. Ele passou pelas comissões da Câmara e está pronto para ser apreciado no plenário desde 2007, mas nunca entrou na pauta.
Outro projeto que não foi longe no Congresso Nacional propõe aplicar a empresas envolvidas com corrupção multas equivalentes a até 30% do faturamento. A proposta foi elaborada pelo Ministério da Justiça em conjunto com a CGU e a AGU (Advocacia-Geral da União). A ideia do projeto é reforçar sanções de caráter administrativo para inibir a participação das empresas em esquemas de corrupção. “Não tem como colocar uma empresa na cadeia”, afirma o chefe da AGU, Luís Adams. Lula enviou o projeto ao Congresso em fevereiro do ano passado. Na Câmara, decidiu-se que a proposta deveria ser analisada por uma comissão especial, mas ela não foi criada até agora.
Vocacional: uma experiencia unica no sistema educacional brasileiro
Fiz parte da primeira (logo abortada) experiência de ensino integral e vocacional na história da educação braileira: eram cinco no estado de S.Paulo, e o meu era o Ginásio Estadual Vocacional Oswaldo Aranha, no bairro do Brooklin, na cidade de São Paulo (entre 1962 e 1965), mas a experiência foi encerrada como subversiva pelo regime militar em 1969
Abaixo uma matéria da FSP, de 2002, sobre o ensino vocacional:
Paulo Roberto de Almeida
O velho vocacional ensina de novo a aprende
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo, 23/07/2002
Mais uma vítima do regime militar, o ensino vocacional -um dos mais ousados conceitos pedagógicos implantados no Brasil- está de novo nas salas de aula. Criados em 1962, os ginásios vocacionais deixaram de existir no início da fase mais violenta do regime, em dezembro de 1969, um ano após o AI-5, quando pensar por conta própria e questionar valores vigentes viraram sinônimo de subversão.
Áurea Sigrist de Toledo Piza acompanha seus alunos durante estudo do meio no bosque do Instituto Lumen Verbi
Agora, 40 anos depois, as idéias do Vocacional retornam em uma série de iniciativas de ex-alunos, ex-professores e pesquisadores que, inconformados com o fim prematuro da experiência, tratam de revivê-la. Há pelo menos uma dúzia de teses, já escritas ou em andamento, relatando essa "aventura pedagógica". Um grupo planeja ressuscitar o colégio em Paulínia (interior de São Paulo). E, em várias escolas particulares, é possível sentir traços da herança do Vocacional.
A história é típica do período em que o programa se desenvolveu. De um lado, o ideal libertário; de outro, a repressão. O curso, que deveria se estender por toda a rede pública de São Paulo, nunca passou de seis unidades espalhadas pelo Estado.
No final do ano letivo de 1969, os personagens foram obrigados a se dispersar. Professores foram presos nas salas, e os alunos, mandados para casa. Documentos tomados nessas ocupações nunca mais foram achados.
Destruída a memória, educadores se apegam hoje a depoimentos, lembranças e ao pouco que restou dos cursos para mapear os ensinamentos do Vocacional e resgatar seus valores.
É preciso, desde já, desfazer uma confusão sobre o Vocacional. Induzido ao erro pelo nome, muito leigo tende a achar que 'vocacional" tem a ver com "vocação", no sentido mais estrito do termo, que remete para a idéia prática de encaminhamento do aluno para uma opção profissional. Nada poderia ser mais distante do sentido dessa pedagogia.
Uma das ferramentas que distinguia o Vocacional era a integração das disciplinas em torno de um problema ou de uma plataforma central. Se hoje isso soa comum para quem está a par da pedagogia contemporânea, na época era revolucionário.
Eram escolhidos temas bimestrais: uma terceira série ginasial da unidade de Rio Claro estudou, por exemplo, se a "diversidade regional é compatível com o Brasil unido". O objetivo era discutir democracia, diferenças, reconhecer o esforço para manter a união, além de desenvolver a capacidade de observação analítica/crítica.
Foram desenvolvidos trabalhos sobre o ciclo do ouro em Minas Gerais, sobre o arcadismo, as obras de Portinari, o folclore presente na música brasileira, o banco nacional, e até na educação física foram estudadas as confederações e federações esportivas.
O conceito mais associado ao Vocacional talvez seja o de "aprender a aprender". O estudante conduzia suas pesquisas, valendo-se sobretudo das bibliotecas não se usavam livros didáticos. A pesquisa começava dirigida pelo professor, que mais tarde se limitava a supervisioná-la. Depois, o trabalho era livre.
A maior contribuição pedagógica do Vocacional, porém, é o método do estudo do meio em que vive o estudante. Num universo que se amplia em círculos concêntricos, os alunos começam estudando a própria comunidade. O país e o mundo vêm depois, permitindo a descoberta gradual da realidade.
O estudo do meio é o elo que mantém as disciplinas ligadas à realidade exterior e ao mundo acadêmico. "Os militares achavam subversivo, porque os alunos aprendiam a realidade como ela é, não aquela que eles mostravam como ideal", afirma Cecília Vasconcellos de Lacerda Guaraná, orientadora e diretora de três ginásios vocacionais.
Os estudos do meio não cabiam num gabarito único pela simples razão de que o meio varia a cada região, a cada bairro. Em Americana, os alunos do primeiro ano estudaram a industrialização rápida da cidade. Já os de Batatais concentraram-se nos problemas de um município agrícola. Quanto aos de São Paulo, no Brooklin, analisaram as múltiplas faces de um bairro de classe média metropolitano.
No segundo ano, o objeto de estudo foi o Estado. No terceiro, o país. Grupos de estudantes viajaram para o Rio, num percurso que incluía a pesquisa do Vale do Paraíba e a siderúrgica de Volta Redonda. Outros foram para as cidades históricas de Minas.
O cenário do quarto ano era o mundo, ou as fronteiras mais próximas dos vizinhos sul-americanos. De todos os colégios, só uma turma chegou a ir até a Bolívia. Os projetos de contato com outros países foram impedidos ou dificultados pelos militares.
"O estudo do meio era um grande veio de pesquisa por uma abordagem marxista, partindo dos ciclos econômicos, do ouro, do café, da indústria", explica Moacyr da Silva, coordenador de pesquisa e pós-graduação das Faculdades Oswaldo Cruz, que foi professor do Vocacional em 1969 e 1970.
Em sua tese, Silva recupera outro diferencial daquele sistema de ensino, a formação continuada do professor na própria escola. "O governo hoje tem gasto muito dinheiro no treinamento de professores, afastando-os da realidade em que vivem e daquela em que vão atuar", critica.
A primeira turma de professores do Vocacional fez estágio no colégio de Socorro, interior de São Paulo, uma das escolas experimentais de maior sucesso na época. "Quando fui obrigado a sair do Vocacional e fui para a USP do período militar, percebi que estava regredindo do século 21 para a Idade Média", conta Newton Cesar Balzan, que fez parte da turma pioneira em Socorro.
"Mesmo nos EUA, onde uma iniciativa monitorada pela Universidade Harvard manteve escolas experimentais em sete Estados, nada foi feito que se compare ao Vocacional", afirma Balzan, que hoje é professor na PUC-Campinas.
Balzan destaca outro diferencial desse projeto, que acabou causando atritos com autoridades e políticos: a "socialização das vagas". Em 1961, antes do início da primeira turma, pesquisas foram feitas em Americana, Batatais e na região do Brooklin, onde ficava a unidade de São Paulo. "Quando começamos as aulas, sabíamos quantas horas dormiam, o que comiam e o que liam as crianças dessas comunidades."
A seleção, que incluía entrevista com os alunos e os pais, reproduzia na classe a mesma composição socioeconômica da comunidade. Se um terço dos moradores da cidade eram operários, um terço dos alunos seriam filhos de operários.
Com o sucesso do Vocacional, a unidade do Brooklin chegou a ter 2.000 candidatos para 120 vagas. No exame geral, os candidatos das classes A e B, que representavam 19% nos bairros do entorno, ocupariam mais de 30% da faixa de aprovados, mas a proporção do bairro foi mantida. "A socialização não agradou aos políticos e houve confusão", lembra Balzan.
Entre os ex-alunos, o fascínio pelo Vocacional também persiste. "Foi um processo mais importante para mim que o da universidade. Minha visão de mundo e da realidade social foi construída ali", diz a pró-reitora da PUC-Campinas Carmen Lavras, que fez parte da única turma que completou o colegial do Vocacional, em 1970.
"O Vocacional é sempre visto pelo seu compromisso com o social, o comunitário, mas foram as artes que me educaram para a sensibilidade. Pelas mãos dos professores, nós participamos do teatro de Arena, do Oficina, das bienais, do Masp, estivemos no Estadão, na Folha", lembra Carmen, que é médica sanitarista.
"A proposta era projetar a criança para o mundo", diz Áurea Sigrist de Toledo Piza, que foi orientadora pedagógica e diretora do Vocacional até 1969.
Áurea e o marido passaram os últimos seis anos reunindo fundos para a construção de um "novo vocacional". No próximo dia 31 de agosto, ela e três outros ex-professores do Vocacional inauguram o Instituto Lumen Verbi de Educação e Cultura, em Paulínia, na região de Campinas.
A escola funciona provisoriamente desde o início do ano formando o que ela chama de "base" para o Vocacional. "Os alunos que saem hoje das quatro primeiras séries, que correspondiam ao primário, têm um nível muito inferior ao dos alunos dos anos 60. Eles precisam de uma base", diz.
Para manter os estudantes em período integral, com um currículo que inclui línguas, música, dança e até capoeira, a escola está cobrando cerca de R$ 400, na média.. "A idéia é que pais que podem mais cubram a diferença dos que podem menos", diz Áurea.
Também um "órfão" do Vocacional, o ex-aluno Ary Meirelles Jacobucci escreveu uma "breve etnografia" do ginásio de Americana. O livro faz, no título, uma pergunta que ficou sem resposta para todos que viveram aquela experiência: "Revolucionou e acabou?". Se foi tão bom, por que foi tão esquecido? E seria possível acrescentar outra ainda: "O Vocacional faria sentido hoje em dia?".
A pedagoga Ângela Rabello Maciel de Barros Tamberlini, que escreveu uma tese sobre os Vocacionais, acha que um projeto desse tipo seria importantíssimo na rede pública. "Na atual conjuntura de violência extrema, pesquisas mostram que as escolas em que há interação com a comunidade são as mais preservadas. E os Vocacionais tinham esse objetivo."
Ela afirma que o projeto tinha uma interação forte com a história da época e que "readaptações teriam de ser feitas". "Outra questão é a da desconstrução do público, do Estado, a exacerbação do individualismo. O ensino vocacional seria uma forma de resgatar esses valores", acredita.
A questão do custo foi uma das principais críticas aos Vocacionais. Setores da esquerda alegavam que o objetivo deveria ser a ampliação do acesso à educação, e que torná-la mais cara dificultaria o processo.
Os defensores dos Vocacionais diziam que a ampliação deveria ocorrer, mas com qualidade. "Em relação ao que se gasta com a educação no Brasil, é um projeto caro. O ginásio vocacional de São Caetano já foi de meio período, de forma a baratear. Uma idéia era a de parcerias, envolver os pais e a comunidade, mutirões. Mas era outra época. Foi lindo porque as pessoas acreditavam nos seus ideais. Os professores trabalhavam em período integral e passavam o final de semana com a comunidade", conta Ângela.
Colaborou Alexandra Ozorio de Almeida, da Folha de S.Paulo
Abaixo uma matéria da FSP, de 2002, sobre o ensino vocacional:
Paulo Roberto de Almeida
O velho vocacional ensina de novo a aprende
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo, 23/07/2002
Mais uma vítima do regime militar, o ensino vocacional -um dos mais ousados conceitos pedagógicos implantados no Brasil- está de novo nas salas de aula. Criados em 1962, os ginásios vocacionais deixaram de existir no início da fase mais violenta do regime, em dezembro de 1969, um ano após o AI-5, quando pensar por conta própria e questionar valores vigentes viraram sinônimo de subversão.
Áurea Sigrist de Toledo Piza acompanha seus alunos durante estudo do meio no bosque do Instituto Lumen Verbi
Agora, 40 anos depois, as idéias do Vocacional retornam em uma série de iniciativas de ex-alunos, ex-professores e pesquisadores que, inconformados com o fim prematuro da experiência, tratam de revivê-la. Há pelo menos uma dúzia de teses, já escritas ou em andamento, relatando essa "aventura pedagógica". Um grupo planeja ressuscitar o colégio em Paulínia (interior de São Paulo). E, em várias escolas particulares, é possível sentir traços da herança do Vocacional.
A história é típica do período em que o programa se desenvolveu. De um lado, o ideal libertário; de outro, a repressão. O curso, que deveria se estender por toda a rede pública de São Paulo, nunca passou de seis unidades espalhadas pelo Estado.
No final do ano letivo de 1969, os personagens foram obrigados a se dispersar. Professores foram presos nas salas, e os alunos, mandados para casa. Documentos tomados nessas ocupações nunca mais foram achados.
Destruída a memória, educadores se apegam hoje a depoimentos, lembranças e ao pouco que restou dos cursos para mapear os ensinamentos do Vocacional e resgatar seus valores.
É preciso, desde já, desfazer uma confusão sobre o Vocacional. Induzido ao erro pelo nome, muito leigo tende a achar que 'vocacional" tem a ver com "vocação", no sentido mais estrito do termo, que remete para a idéia prática de encaminhamento do aluno para uma opção profissional. Nada poderia ser mais distante do sentido dessa pedagogia.
Uma das ferramentas que distinguia o Vocacional era a integração das disciplinas em torno de um problema ou de uma plataforma central. Se hoje isso soa comum para quem está a par da pedagogia contemporânea, na época era revolucionário.
Eram escolhidos temas bimestrais: uma terceira série ginasial da unidade de Rio Claro estudou, por exemplo, se a "diversidade regional é compatível com o Brasil unido". O objetivo era discutir democracia, diferenças, reconhecer o esforço para manter a união, além de desenvolver a capacidade de observação analítica/crítica.
Foram desenvolvidos trabalhos sobre o ciclo do ouro em Minas Gerais, sobre o arcadismo, as obras de Portinari, o folclore presente na música brasileira, o banco nacional, e até na educação física foram estudadas as confederações e federações esportivas.
O conceito mais associado ao Vocacional talvez seja o de "aprender a aprender". O estudante conduzia suas pesquisas, valendo-se sobretudo das bibliotecas não se usavam livros didáticos. A pesquisa começava dirigida pelo professor, que mais tarde se limitava a supervisioná-la. Depois, o trabalho era livre.
A maior contribuição pedagógica do Vocacional, porém, é o método do estudo do meio em que vive o estudante. Num universo que se amplia em círculos concêntricos, os alunos começam estudando a própria comunidade. O país e o mundo vêm depois, permitindo a descoberta gradual da realidade.
O estudo do meio é o elo que mantém as disciplinas ligadas à realidade exterior e ao mundo acadêmico. "Os militares achavam subversivo, porque os alunos aprendiam a realidade como ela é, não aquela que eles mostravam como ideal", afirma Cecília Vasconcellos de Lacerda Guaraná, orientadora e diretora de três ginásios vocacionais.
Os estudos do meio não cabiam num gabarito único pela simples razão de que o meio varia a cada região, a cada bairro. Em Americana, os alunos do primeiro ano estudaram a industrialização rápida da cidade. Já os de Batatais concentraram-se nos problemas de um município agrícola. Quanto aos de São Paulo, no Brooklin, analisaram as múltiplas faces de um bairro de classe média metropolitano.
No segundo ano, o objeto de estudo foi o Estado. No terceiro, o país. Grupos de estudantes viajaram para o Rio, num percurso que incluía a pesquisa do Vale do Paraíba e a siderúrgica de Volta Redonda. Outros foram para as cidades históricas de Minas.
O cenário do quarto ano era o mundo, ou as fronteiras mais próximas dos vizinhos sul-americanos. De todos os colégios, só uma turma chegou a ir até a Bolívia. Os projetos de contato com outros países foram impedidos ou dificultados pelos militares.
"O estudo do meio era um grande veio de pesquisa por uma abordagem marxista, partindo dos ciclos econômicos, do ouro, do café, da indústria", explica Moacyr da Silva, coordenador de pesquisa e pós-graduação das Faculdades Oswaldo Cruz, que foi professor do Vocacional em 1969 e 1970.
Em sua tese, Silva recupera outro diferencial daquele sistema de ensino, a formação continuada do professor na própria escola. "O governo hoje tem gasto muito dinheiro no treinamento de professores, afastando-os da realidade em que vivem e daquela em que vão atuar", critica.
A primeira turma de professores do Vocacional fez estágio no colégio de Socorro, interior de São Paulo, uma das escolas experimentais de maior sucesso na época. "Quando fui obrigado a sair do Vocacional e fui para a USP do período militar, percebi que estava regredindo do século 21 para a Idade Média", conta Newton Cesar Balzan, que fez parte da turma pioneira em Socorro.
"Mesmo nos EUA, onde uma iniciativa monitorada pela Universidade Harvard manteve escolas experimentais em sete Estados, nada foi feito que se compare ao Vocacional", afirma Balzan, que hoje é professor na PUC-Campinas.
Balzan destaca outro diferencial desse projeto, que acabou causando atritos com autoridades e políticos: a "socialização das vagas". Em 1961, antes do início da primeira turma, pesquisas foram feitas em Americana, Batatais e na região do Brooklin, onde ficava a unidade de São Paulo. "Quando começamos as aulas, sabíamos quantas horas dormiam, o que comiam e o que liam as crianças dessas comunidades."
A seleção, que incluía entrevista com os alunos e os pais, reproduzia na classe a mesma composição socioeconômica da comunidade. Se um terço dos moradores da cidade eram operários, um terço dos alunos seriam filhos de operários.
Com o sucesso do Vocacional, a unidade do Brooklin chegou a ter 2.000 candidatos para 120 vagas. No exame geral, os candidatos das classes A e B, que representavam 19% nos bairros do entorno, ocupariam mais de 30% da faixa de aprovados, mas a proporção do bairro foi mantida. "A socialização não agradou aos políticos e houve confusão", lembra Balzan.
Entre os ex-alunos, o fascínio pelo Vocacional também persiste. "Foi um processo mais importante para mim que o da universidade. Minha visão de mundo e da realidade social foi construída ali", diz a pró-reitora da PUC-Campinas Carmen Lavras, que fez parte da única turma que completou o colegial do Vocacional, em 1970.
"O Vocacional é sempre visto pelo seu compromisso com o social, o comunitário, mas foram as artes que me educaram para a sensibilidade. Pelas mãos dos professores, nós participamos do teatro de Arena, do Oficina, das bienais, do Masp, estivemos no Estadão, na Folha", lembra Carmen, que é médica sanitarista.
"A proposta era projetar a criança para o mundo", diz Áurea Sigrist de Toledo Piza, que foi orientadora pedagógica e diretora do Vocacional até 1969.
Áurea e o marido passaram os últimos seis anos reunindo fundos para a construção de um "novo vocacional". No próximo dia 31 de agosto, ela e três outros ex-professores do Vocacional inauguram o Instituto Lumen Verbi de Educação e Cultura, em Paulínia, na região de Campinas.
A escola funciona provisoriamente desde o início do ano formando o que ela chama de "base" para o Vocacional. "Os alunos que saem hoje das quatro primeiras séries, que correspondiam ao primário, têm um nível muito inferior ao dos alunos dos anos 60. Eles precisam de uma base", diz.
Para manter os estudantes em período integral, com um currículo que inclui línguas, música, dança e até capoeira, a escola está cobrando cerca de R$ 400, na média.. "A idéia é que pais que podem mais cubram a diferença dos que podem menos", diz Áurea.
Também um "órfão" do Vocacional, o ex-aluno Ary Meirelles Jacobucci escreveu uma "breve etnografia" do ginásio de Americana. O livro faz, no título, uma pergunta que ficou sem resposta para todos que viveram aquela experiência: "Revolucionou e acabou?". Se foi tão bom, por que foi tão esquecido? E seria possível acrescentar outra ainda: "O Vocacional faria sentido hoje em dia?".
A pedagoga Ângela Rabello Maciel de Barros Tamberlini, que escreveu uma tese sobre os Vocacionais, acha que um projeto desse tipo seria importantíssimo na rede pública. "Na atual conjuntura de violência extrema, pesquisas mostram que as escolas em que há interação com a comunidade são as mais preservadas. E os Vocacionais tinham esse objetivo."
Ela afirma que o projeto tinha uma interação forte com a história da época e que "readaptações teriam de ser feitas". "Outra questão é a da desconstrução do público, do Estado, a exacerbação do individualismo. O ensino vocacional seria uma forma de resgatar esses valores", acredita.
A questão do custo foi uma das principais críticas aos Vocacionais. Setores da esquerda alegavam que o objetivo deveria ser a ampliação do acesso à educação, e que torná-la mais cara dificultaria o processo.
Os defensores dos Vocacionais diziam que a ampliação deveria ocorrer, mas com qualidade. "Em relação ao que se gasta com a educação no Brasil, é um projeto caro. O ginásio vocacional de São Caetano já foi de meio período, de forma a baratear. Uma idéia era a de parcerias, envolver os pais e a comunidade, mutirões. Mas era outra época. Foi lindo porque as pessoas acreditavam nos seus ideais. Os professores trabalhavam em período integral e passavam o final de semana com a comunidade", conta Ângela.
Colaborou Alexandra Ozorio de Almeida, da Folha de S.Paulo
Acautele-se, leitor consumidor: estao construindo um pacto contra voce...
Eu chamo isso de "pacto perverso".
Ou seja, se trata de um complô contra os interesses da maioria da população, perpetrados contra ela, e em seu detrimento e desconhecimento, alegando justamente que o pacto perverso está sendo feito para proteger emprego, renda, o mercado interno, os interesses nacionais.
Não é nada disso: se trata apenas de um pacto para escalpelar os clientes consumidores, se quisermos, feito para extrair renda dos brasileiros, em benefício de duas categorias que sempre complotaram contra o interesse público.
Estou falando de um pacto entre sindicato de patrões e um sindicato de ladrões, ops, me enganei, de trabalhadores, embora eu considere que os ladrões estejam de fato no primeiro grupo. Os segundos são apenas os operários industriais, neste caso representado pela máfia sindical, que diz pretender agir em benefício dos segundos, ou seja, dos trabalhadores industriais, confundindo-os com a sociedade em geral.
Leio na imprensa de sexta-feira, 20 de maio de 2011, esta notícia:
Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria
Subtítulo: Entidades vão chamar o governo para fechar um acordo que combata a desindustrialização
Pois é, caro leitor: quando conseguirem fechar esse acordo, pode ter certeza de que você vai pagar por isto, e caro, direta e indiretamente.
Primeiro, os produtos vão ficar mais caros, pois vão dispor de mais proteção, o que significa que os industriais da Fiesp vão poder cobrar mais por eles, com tarifas altas e outras medidas de defesa comercial.
Depois, os industriais vão ter mais créditos (dinheiro público, eventualmente via BNDES), já que eles alegarão que precisam de dinheiro barato para investir.
No longo prazo, a indústria nacional vai ficar ainda mais defasada em relação aos níveis de competitividade internacional, e terá de pedir mais proteção.
Em última instância, caro leitor, você pagará por isto, direta e indiretamente: consumindo produtos mais caros (e nem por isso melhores do que a concorrência estrangeira, afastada, porém, por causa da alta proteção concedida, o que também o prejudicará no futuro) e subsidiando, via impostos e receitas públicas transferências de renda (do seu bolso) para quem já é rico, ou seja, os industriais "nacionais" (reunidos na Fiesp e na CNI).
Esse é o mesmo tipo de pacto perverso que levou a Argentina à decadência -- da qual ela ainda não saiu, diga-se de passagem, via peronismo e outros governos -- e que também conduziu a Grã-Bretanha a uma decadência de décadas, até o processo ser revertido graças à coragem de Margareth Tatcher. Na Grã-Bretanha, o pacto perverso se dava entre a TUC, de um lado (a Trade Union Congress, a CUT deles), e o Labour, de outro, o Partido Trabalhista, que quando estava no poder impulsionava medidas que protegessem os trabalhadores e patrões locais, em detrimento da concorrência e, portanto, dos consumidores britânicos.
Portanto, fique sabendo, caro leitor: quando conseguirem anunciar triunfalmente que patrões e trabalhadores, com o beneplácito do Estado, conseguiram conquistar o seu pacto, eles vão enfiar a mão no seu bolso, para transferir renda compulsoriamente para os seus próprios bolsos.
Estamos a caminho da decadência econômica e da perversão moral, apresentada como virtude.
Pelo menos a mim, não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida
Ou seja, se trata de um complô contra os interesses da maioria da população, perpetrados contra ela, e em seu detrimento e desconhecimento, alegando justamente que o pacto perverso está sendo feito para proteger emprego, renda, o mercado interno, os interesses nacionais.
Não é nada disso: se trata apenas de um pacto para escalpelar os clientes consumidores, se quisermos, feito para extrair renda dos brasileiros, em benefício de duas categorias que sempre complotaram contra o interesse público.
Estou falando de um pacto entre sindicato de patrões e um sindicato de ladrões, ops, me enganei, de trabalhadores, embora eu considere que os ladrões estejam de fato no primeiro grupo. Os segundos são apenas os operários industriais, neste caso representado pela máfia sindical, que diz pretender agir em benefício dos segundos, ou seja, dos trabalhadores industriais, confundindo-os com a sociedade em geral.
Leio na imprensa de sexta-feira, 20 de maio de 2011, esta notícia:
Fiesp e centrais negociam pacto pró-indústria
Subtítulo: Entidades vão chamar o governo para fechar um acordo que combata a desindustrialização
Pois é, caro leitor: quando conseguirem fechar esse acordo, pode ter certeza de que você vai pagar por isto, e caro, direta e indiretamente.
Primeiro, os produtos vão ficar mais caros, pois vão dispor de mais proteção, o que significa que os industriais da Fiesp vão poder cobrar mais por eles, com tarifas altas e outras medidas de defesa comercial.
Depois, os industriais vão ter mais créditos (dinheiro público, eventualmente via BNDES), já que eles alegarão que precisam de dinheiro barato para investir.
No longo prazo, a indústria nacional vai ficar ainda mais defasada em relação aos níveis de competitividade internacional, e terá de pedir mais proteção.
Em última instância, caro leitor, você pagará por isto, direta e indiretamente: consumindo produtos mais caros (e nem por isso melhores do que a concorrência estrangeira, afastada, porém, por causa da alta proteção concedida, o que também o prejudicará no futuro) e subsidiando, via impostos e receitas públicas transferências de renda (do seu bolso) para quem já é rico, ou seja, os industriais "nacionais" (reunidos na Fiesp e na CNI).
Esse é o mesmo tipo de pacto perverso que levou a Argentina à decadência -- da qual ela ainda não saiu, diga-se de passagem, via peronismo e outros governos -- e que também conduziu a Grã-Bretanha a uma decadência de décadas, até o processo ser revertido graças à coragem de Margareth Tatcher. Na Grã-Bretanha, o pacto perverso se dava entre a TUC, de um lado (a Trade Union Congress, a CUT deles), e o Labour, de outro, o Partido Trabalhista, que quando estava no poder impulsionava medidas que protegessem os trabalhadores e patrões locais, em detrimento da concorrência e, portanto, dos consumidores britânicos.
Portanto, fique sabendo, caro leitor: quando conseguirem anunciar triunfalmente que patrões e trabalhadores, com o beneplácito do Estado, conseguiram conquistar o seu pacto, eles vão enfiar a mão no seu bolso, para transferir renda compulsoriamente para os seus próprios bolsos.
Estamos a caminho da decadência econômica e da perversão moral, apresentada como virtude.
Pelo menos a mim, não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida
Kissinger on China: talk with Simon Schama - Financial Times
O velho realista cínico ataca outra vez.
Sem ter lido, ousaria afirmar que seu livro é uma coleção de banalidades.
Ele apenas quer servir de intermediário (para qualquer coisa), continuar influente, continuar sendo ouvido, e se possível ganhar algum dinheiro com isso.
Não creio que ele tenha algo de verdadeiramente relevante a dizer sobre a China...
Mas, eu sou um cético, claro, e acho Kissinger um velho safado (quando ele era jovem já era safado, e cínico...)
Paulo Roberto de Almeida
FT MAGAZINE
Henry Kissinger talks to Simon Schama
By Simon Schama
Financial Times, May 20 2011
Simon Schama with Kissinger in the offices of Kissinger Associates, New York
To whom should we look for guidance, in the toils of our Afghan perplexities? Well, obviously, the Duke of Wellington. So at any rate Henry Kissinger thinks. Don’t go imagining this has anything to do with the Indian empire, either. Ten minutes into our conversation he remarked that policymakers should be thinking … Belgium. Yes, Belgium. Pausing for a moment between observations delivered with a rumble so basso that it automatically sounds ¬profundo, the Doctor waited to see if the history professor would get it.
And suddenly I sort of did. Never mind the weird vision of the Hindu Kush relocated to the Flemish mud, both have been states that have never quite been made; theatres of contending languages and faiths, doormats for unscrupulous neighbours – the Scheldt! the Meuse! Waziristan! “Throughout the 18th century and earlier,” Kissinger resumes, like a patient tutor, “armies had marched up and down through Flanders.” As indeed they had, triggering appalling, endless wars. What was Wellington’s answer, at the dawn of Belgian independence in the early 19th century? Internationally agreed neutrality. “It lasted for 80 years.” We should be so lucky, the Doctor implies, with Afghanistan.
At 87, Henry Kissinger, who has an epic and, in some places, surprisingly moving book out on China, is history, but certainly not in the sense of past and gone. Quite the opposite. In his office at Kissinger Associates in midtown Manhattan, he invites me to sit on his left, advising that one eye no longer works as well as it should. But there is precious little evidence of much other infirmity. The wavy hair is snowy, the broad face is more lined but the analytical mind is still razor-keen, delivering serial judgments at a steadily thoughtful pace; the reflections of an old magus, Yoda rescripted by Machiavelli. Kissinger lives, technically, in Manhattan and Connecticut but his real abode seems to be in a Parnassus of classical statecraft, where, on a daily basis, Bismarck tips his hat to Metternich while a somnolent Talleyrand, from beneath powdered wig, winks knowingly at Zhou Enlai.
On the fall-out from Afghanistan: ‘An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,’ he says, his voice a deep pond of calm
There are good and not so good aspects of this lofty perch from which he surveys the panorama of national foibles. On the one hand, the Olympian prospect enables Kissinger to see the bigger picture. On the other hand, a lifetime’s immersion in the studious formalities of official business, the diplomatic obligation of wariness, has planed his conversation smooth of the knots and scuffs of the human condition. In the China book, though, human reality is very much present in his warts-and-all portraits of Mao and Zhou, Deng and Ziang Zemin. Kissinger chuckles deeply, as if gargling with pebbles, when he remembers the aged Mao, not going gentle, declaring theatrically that “God will not want me,” or insisting that he wanted to be “cursed”, to prove that even at the end he was imperially potent enough to provoke fear and rage.
I have tried my best not to like Henry Kissinger for the usual Nixon-Cambodia-Chile reasons, but more than once I’ve been comprehensively disarmed. Seventeen years ago I was assigned the review of his book Diplomacy, which I anticipated would be an eye-opener about the culture of the craft; the ways in which momentous decisions can turn on picayune matters of ostensibly trivial protocol. I had in mind the lengthy debate, at once absurd and weighty, over the shape of the table in the Vietnam peace talks in Paris. Were there not telegrams whose poor wording triggered disaster? Cocktail party fiascos that had turned into international incidents? Instead, Diplomacy turned out to be a fairly conventional but elegant narrative of 19th-century foreign policy; the statecraft of the grandees of European power. In its way it was just fine: often illuminating, especially about Bismarck, on whom Kissinger had done much research at Harvard, and the 1815 Congress of Vienna, which had been the centrepiece of his A World Restored, still the best thing on its subject. I said as much in the review, while regretting the missing sociology of diplomatic practice.
A week or so after the review appeared the phone rang. The courteous voice was deep, dark and German. Oh sure, I thought. Two days earlier a mischievous friend had impersonated Kissinger on the phone convincingly enough to dupe me into believing I was being berated for the review, before I got wise to the trick. When a second call came, I was on the verge of answering with my own, pretty good, Nixon impression before realising, in the nick of time, that this was, in fact, the actual Doctor, expressing a polite mystification about the sort of book I had wanted him to write and asking me if I would consider explaining more fully in person? After the deep breath I thought, hell, why not? At the front door of his apartment, I told myself: this might be a bad idea, but it was too late. With one hand Kissinger (rather than the expected Manhattan flunky) hospitably opened the door and – this was the moment of disarmament – with the other dropped a dog biscuit into the open and appreciative mouth of a floppy hound. Wars have been averted with less.
Disconcertingly, nearly 20 years later, Kissinger remembered the incident (his memory remains prodigious), continuing the Schama-Disarmament programme by telling me that he’d tried to incorporate some of the insights I had wanted in his new China book. Caught off balance by the light touch of the flattery, I recalled that I had indeed noticed passages that dealt with the display of Chinese power as a kind of cultural performance: the banquets, the toasts, the exquisite calibration, inherited from imperial precedents, as to how and when foreign envoys might be admitted to an audience with The Chairman. Without this shrewd attentiveness to what he nails as “hospitality as an aspect of strategy” Kissinger believes the opening to China might never have happened; and the world would be a very different place.
The China book, then, is different from anything Kissinger has hitherto essayed in print: a journey towards cultural empathy by two powers that seemed, at the outset, prohibitively ill-equipped to acquire that knowledge. Looking at Nixon and Mao, listening to their utterances, they should have been the oddest of odd couples. But paving the way for the “quasi-alliance” were Kissinger and Zhou Enlai, and the heart of the book is the story of their personal rapprochement, born of a mutual effort to understand an alien and incomprehensible culture.
. . .
On setting off for his first meeting with Zhou Enlai: ‘Nobody sat down and said, “Now you really ought to understand how the Chinese think”’
But then, of course, the first alien and incomprehensible culture that Henry Kissinger had to negotiate was that of the United States of America. He was already 15 when his family arrived in New York in 1938, fleeing the Nazi Reich. There were ways and communities to ease the shock: a lively crowd of German-Jewish expatriates on the Upper West Side; the stammtisch by the Hudson; the cosmopolitan City University of New York and then the band of military intelligence interpreters, full of people like him. At Harvard, it was another story: the parched cerebrations of the college Brahmins. It was an unlikely mentor, William Yandell Elliott, of Murfreesboro, Tennessee, who was Kissinger’s first and lasting guide to the American mind at its most exacting. “He was a big personality,” Kissinger recalls, a member of the “Fugitive Poets” of Vanderbilt University, a gang that included Allen Tate and John Crowe Ransom. Elliott had brought his outsize personality and tough mind to Washington for Franklin Roosevelt and stayed connected with that world. Harvard undergraduates, perhaps especially ones with thick German accents and earnest intellectual urgency, may not, initially, have been his shot of bourbon. “He made it quite clear when I was assigned to him that that was one burden too many,” says Kissinger, smiling wistfully. “He said, ‘Why don’t you go write an essay on Kant?” The Categorical Imperative and the ¬Practice of Politics? Right up young Henry’s street even when the ex-Rhodes Scholar Elliott required him, Balliol-style, to read it out at their next meeting. When he had finished, the Fugitive Poet conceded: “You really have an interesting mind.” “In effect he said he would now look after my intellectual development. As a first step he made me readThe Brothers Karamazov.”
What Kissinger took from Elliott was that without grasping the long arc of time, any account of politics and government would be shallow and self-defeating. That long view is on full display in the China book, which insists – entertainingly – on going back to the origins of Chinese classical culture and on through the many dynasties of the Middle Kingdom before even touching the epoch of decline, dismemberment and revolution. Kissinger smiles at the scene with which he opens his book, in which Mao gathered together the leaders of the party to listen to his account of a war that occurred during the Tang dynasty. “It would be like one of our leaders going back to the wars of Charlemagne.” And you get the feeling that Kissinger believes that it would do them no harm if they did. Instead he laments that “contemporary politicians have very little sense of history. For them the Vietnam war is unimaginably far behind us, the Korean war has no relevance any more,” even though that conflict is very far from over and at any minute has the capability of going from cold to hot. “This [the United States of Amnesia as Gore Vidal likes to call it],” he sighs, “is a tremendous handicap … when I talk to policy¬makers and I cite some historical analogy they think, ‘There he goes again with his history.’”
Kissinger’s beau idéal of analytical thinking informed by deep historical knowledge remains the formidable circle of advisers around Harry Truman. Their commanding figure, George Kennan, says Kissinger, had “a beautiful mind; magnificent scope. Kennan’s article on containment [the famous Long Telegram of 1946 on the ambitions of the Soviet Union] was, he says, “seminal; you wouldn’t change a comma.” But as a diplomat, Kissinger recollects Kennan was a hot temper in the cold war; never quite able to control the rush of blood, shouting tactlessly at Tempelhof airport that conditions in Moscow were still “just like Nazi Germany”. “He thought in more or less absolute terms,” Kissinger says, smiling. “The contingencies that might arise were unbearable to him.”
Mastering contingency is what Kissinger’s style of foreign policy has been all about, never more so than in the Chinese scenario. The objective historical situation in which the mutual suspicions of the Russians and the Chinese were bound to lead to explosive conflict was always there. But it took Kissinger and Zhou, counter-intuitively in tandem, to follow the logic of the situation to achieve a breathtaking realignment. Knowing what we do now about the self-destructive overreach of Soviet power, were Chinese fears of Russian aggression, Mao’s “ill waters”, overdone? Not at all, Kissinger responds. Both sides were nervous, which is what made the situation in 1969 genuinely dangerous. Brezhnev, he says, exuded “a sense of ominous danger emerging out of China”. Stalin’s last years were haunted by the same conundrum, never “solving the problem of how their influence in China would continue”. Mao was sufficiently alarmed at the imminence of a pre-emptive Soviet strike that “he dispersed all his government ministers over China and only Zhou remained in Beijing.”
How much did Kissinger know about Chinese history and culture when he set off for his first rendezvous with Zhou? “Oh at the beginning … nothing.” Since at that point secrecy was paramount, Kissinger was denied any briefing from the usual agencies. Back to Harvard he went, hoping for a crash course from the great scholars of modern Chinese history, J.K. Fairbank and Owen Lattimore. “They wanted to talk to me about why China should be admitted to the UN and gave me all sorts of methodologies by which we could ease the admission, which I am sure was very wise but nobody sat down and said, ‘Now you really ought to understand how they think.’” What followed, then, was intensive self-education, but also Kissinger’s certainty that if anything was to be accomplished he had to shrug off the bureaucratic and State department default obsessions of raising legalistic issues of claims and indemnities and the like with the Chinese, instead moving directly to first principles, beginning with the mutual agreement that there was, in fact, one China not two, a position then upheld by the Nationalist government in Taiwan as much as by the Communist government in Beijing.
Nixon in 1972, whom he served as national security advisor and secretary of state
Kissinger talks about this momentous shift in global alignments as though it could only be accomplished through the kind of personal interaction customary to classic 19th-century statecraft. But at the centre of it all (not to forget the strange, turbulent, contorted personality of Nixon) was, after all, Mao, whose magnitude, for good or ill, Kissinger never wants to sell short. What about the deranged contradictions in Mao’s imperial fiats: decreeing a Great Leap Forward that condemned millions to die in an engineered famine, or unleashing the trauma of the Cultural Revolution only to slam on the brakes once it threatened to bring down the state itself? “They were a rebellion against mortality,” Kissinger says, a little gnomically, but offering an interesting addendum. It was Deng’s generation – and Deng himself, twice purged and who lost a son to the fury of the Red Guards – which has been permanently scarred by the “unimaginable abomination”. But their children are beginning to think that perhaps Mao “was on to something … but as always pushed it too far”. With the misery and terror of the Cultural Revolution just a parental memory, the next generation, Kissinger says, feels “nostalgic for … an alternative sense of community”. “There is in Chongqing right now,” he tells me, “a party secretary, Bo Xilai, who has been leading a kind of Maoist philosophical revival. One of my associates who has been in China tells me that university graduates who 10 years ago all wanted to be Goldman Sachs executives now want to be government officials.” And what would Mao himself have made of contemporary China? “I think he’d be troubled. He really did believe in an ethical mission for the Chinese. I think the selfishness of the Chinese yuppies would bother him.”
Shouldn’t the obstinately brutal record of the Chinese government on human rights give us pause when we cosy up to them? As if sensitive to all those accusations that he has been, at times in his career, insufficiently moved by these issues, Kissinger says: “I periodically raise human rights issues, usually on behalf of individuals, always without publicity. But for the advocates of human rights, publicity is a moral imperative because it puts us on the right side of history. I respect them for that.”
With Barack Obama last year at talks on a new arms reduction treaty
Not so much, though, as to get in the way of treating China as an indispensable element in any stabilisation of perilous situations in Korea and Afghanistan. Without China’s active participation, any attempts to immunise Afghanistan against terrorism would be futile. This may be a tall order, since the Russians and the Chinese are getting a “free ride” on US engagement, which contains the jihadism which in central Asia and Xinjiang threatens their own security. So was it, in retrospect, a good idea for Barack Obama to have announced that this coming July will see the beginning of a military drawdown? The question triggers a Vietnam flashback. “I know from personal experience that once you start a drawdown, the road from there is inexorable. I never found an answer when Le Duc Tho was taunting me in the negotiations that if you could not handle Vietnam with half-a-million people, what makes you think you can end it with progressively fewer? We found ourselves in a position where to maintain … a free choice for the population in South Vietnam … we had to keep withdrawing troops, thereby reducing the incentive for the very negotiations in which I was engaged. We will find the same challenge in Afghanistan. I wrote a memorandum to Nixon which said that in the beginning of the withdrawal it will be like salted peanuts; the more you eat, the more you want.”
Kissinger laughs even as he sketches a scenario for an Afghanistan even grimmer than anything anyone has yet imagined, where the presence or absence of al-Qaeda will be the least of its problems. What might happen, he says, is a de facto partition, with India and Russia reconstituting the Northern Alliance, and Pakistan hooked to the Taliban as a backstop against their own encirclement.
Suddenly, spring goes chilly. The prospect looms of a centennial commemoration of the first world war through a half-awake re-enactment. Not Belgium but Sarajevo. Think proxy half-states; the paranoia of encirclement; the bristling arsenals, in this case nuclear; the nervous, beleaguered Pakistanis lashing out in passive-aggressive insecurity. “An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,” says the Doctor, his voice a deep pond of calm. “Therefore some kind of international process in which these issues are discussed might generate enough restraints so that Pakistan does not feel itself encircled by India and doesn’t see a strategic reserve in the Taliban.” He looks directly at me. “Is it possible to do this? I don’t know. But I know if we let matters drift this could become the Balkans of the next world war.”
Suddenly the irrefutable clarity of his pessimism makes Dr Strangelove look like Dr Pangloss. Around America this week, biblical placards are appearing proclaiming that the world will definitely end on May 21. If they’re right, you won’t be reading this. But if Kissinger is right, they may yet have a chance to move the date back a bit. Don’t say history and Henry Kissinger didn’t warn you.
‘On China’ by Henry Kissinger is published by Allen Lane
Sem ter lido, ousaria afirmar que seu livro é uma coleção de banalidades.
Ele apenas quer servir de intermediário (para qualquer coisa), continuar influente, continuar sendo ouvido, e se possível ganhar algum dinheiro com isso.
Não creio que ele tenha algo de verdadeiramente relevante a dizer sobre a China...
Mas, eu sou um cético, claro, e acho Kissinger um velho safado (quando ele era jovem já era safado, e cínico...)
Paulo Roberto de Almeida
FT MAGAZINE
Henry Kissinger talks to Simon Schama
By Simon Schama
Financial Times, May 20 2011
Simon Schama with Kissinger in the offices of Kissinger Associates, New York
To whom should we look for guidance, in the toils of our Afghan perplexities? Well, obviously, the Duke of Wellington. So at any rate Henry Kissinger thinks. Don’t go imagining this has anything to do with the Indian empire, either. Ten minutes into our conversation he remarked that policymakers should be thinking … Belgium. Yes, Belgium. Pausing for a moment between observations delivered with a rumble so basso that it automatically sounds ¬profundo, the Doctor waited to see if the history professor would get it.
And suddenly I sort of did. Never mind the weird vision of the Hindu Kush relocated to the Flemish mud, both have been states that have never quite been made; theatres of contending languages and faiths, doormats for unscrupulous neighbours – the Scheldt! the Meuse! Waziristan! “Throughout the 18th century and earlier,” Kissinger resumes, like a patient tutor, “armies had marched up and down through Flanders.” As indeed they had, triggering appalling, endless wars. What was Wellington’s answer, at the dawn of Belgian independence in the early 19th century? Internationally agreed neutrality. “It lasted for 80 years.” We should be so lucky, the Doctor implies, with Afghanistan.
At 87, Henry Kissinger, who has an epic and, in some places, surprisingly moving book out on China, is history, but certainly not in the sense of past and gone. Quite the opposite. In his office at Kissinger Associates in midtown Manhattan, he invites me to sit on his left, advising that one eye no longer works as well as it should. But there is precious little evidence of much other infirmity. The wavy hair is snowy, the broad face is more lined but the analytical mind is still razor-keen, delivering serial judgments at a steadily thoughtful pace; the reflections of an old magus, Yoda rescripted by Machiavelli. Kissinger lives, technically, in Manhattan and Connecticut but his real abode seems to be in a Parnassus of classical statecraft, where, on a daily basis, Bismarck tips his hat to Metternich while a somnolent Talleyrand, from beneath powdered wig, winks knowingly at Zhou Enlai.
On the fall-out from Afghanistan: ‘An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,’ he says, his voice a deep pond of calm
There are good and not so good aspects of this lofty perch from which he surveys the panorama of national foibles. On the one hand, the Olympian prospect enables Kissinger to see the bigger picture. On the other hand, a lifetime’s immersion in the studious formalities of official business, the diplomatic obligation of wariness, has planed his conversation smooth of the knots and scuffs of the human condition. In the China book, though, human reality is very much present in his warts-and-all portraits of Mao and Zhou, Deng and Ziang Zemin. Kissinger chuckles deeply, as if gargling with pebbles, when he remembers the aged Mao, not going gentle, declaring theatrically that “God will not want me,” or insisting that he wanted to be “cursed”, to prove that even at the end he was imperially potent enough to provoke fear and rage.
I have tried my best not to like Henry Kissinger for the usual Nixon-Cambodia-Chile reasons, but more than once I’ve been comprehensively disarmed. Seventeen years ago I was assigned the review of his book Diplomacy, which I anticipated would be an eye-opener about the culture of the craft; the ways in which momentous decisions can turn on picayune matters of ostensibly trivial protocol. I had in mind the lengthy debate, at once absurd and weighty, over the shape of the table in the Vietnam peace talks in Paris. Were there not telegrams whose poor wording triggered disaster? Cocktail party fiascos that had turned into international incidents? Instead, Diplomacy turned out to be a fairly conventional but elegant narrative of 19th-century foreign policy; the statecraft of the grandees of European power. In its way it was just fine: often illuminating, especially about Bismarck, on whom Kissinger had done much research at Harvard, and the 1815 Congress of Vienna, which had been the centrepiece of his A World Restored, still the best thing on its subject. I said as much in the review, while regretting the missing sociology of diplomatic practice.
A week or so after the review appeared the phone rang. The courteous voice was deep, dark and German. Oh sure, I thought. Two days earlier a mischievous friend had impersonated Kissinger on the phone convincingly enough to dupe me into believing I was being berated for the review, before I got wise to the trick. When a second call came, I was on the verge of answering with my own, pretty good, Nixon impression before realising, in the nick of time, that this was, in fact, the actual Doctor, expressing a polite mystification about the sort of book I had wanted him to write and asking me if I would consider explaining more fully in person? After the deep breath I thought, hell, why not? At the front door of his apartment, I told myself: this might be a bad idea, but it was too late. With one hand Kissinger (rather than the expected Manhattan flunky) hospitably opened the door and – this was the moment of disarmament – with the other dropped a dog biscuit into the open and appreciative mouth of a floppy hound. Wars have been averted with less.
Disconcertingly, nearly 20 years later, Kissinger remembered the incident (his memory remains prodigious), continuing the Schama-Disarmament programme by telling me that he’d tried to incorporate some of the insights I had wanted in his new China book. Caught off balance by the light touch of the flattery, I recalled that I had indeed noticed passages that dealt with the display of Chinese power as a kind of cultural performance: the banquets, the toasts, the exquisite calibration, inherited from imperial precedents, as to how and when foreign envoys might be admitted to an audience with The Chairman. Without this shrewd attentiveness to what he nails as “hospitality as an aspect of strategy” Kissinger believes the opening to China might never have happened; and the world would be a very different place.
The China book, then, is different from anything Kissinger has hitherto essayed in print: a journey towards cultural empathy by two powers that seemed, at the outset, prohibitively ill-equipped to acquire that knowledge. Looking at Nixon and Mao, listening to their utterances, they should have been the oddest of odd couples. But paving the way for the “quasi-alliance” were Kissinger and Zhou Enlai, and the heart of the book is the story of their personal rapprochement, born of a mutual effort to understand an alien and incomprehensible culture.
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On setting off for his first meeting with Zhou Enlai: ‘Nobody sat down and said, “Now you really ought to understand how the Chinese think”’
But then, of course, the first alien and incomprehensible culture that Henry Kissinger had to negotiate was that of the United States of America. He was already 15 when his family arrived in New York in 1938, fleeing the Nazi Reich. There were ways and communities to ease the shock: a lively crowd of German-Jewish expatriates on the Upper West Side; the stammtisch by the Hudson; the cosmopolitan City University of New York and then the band of military intelligence interpreters, full of people like him. At Harvard, it was another story: the parched cerebrations of the college Brahmins. It was an unlikely mentor, William Yandell Elliott, of Murfreesboro, Tennessee, who was Kissinger’s first and lasting guide to the American mind at its most exacting. “He was a big personality,” Kissinger recalls, a member of the “Fugitive Poets” of Vanderbilt University, a gang that included Allen Tate and John Crowe Ransom. Elliott had brought his outsize personality and tough mind to Washington for Franklin Roosevelt and stayed connected with that world. Harvard undergraduates, perhaps especially ones with thick German accents and earnest intellectual urgency, may not, initially, have been his shot of bourbon. “He made it quite clear when I was assigned to him that that was one burden too many,” says Kissinger, smiling wistfully. “He said, ‘Why don’t you go write an essay on Kant?” The Categorical Imperative and the ¬Practice of Politics? Right up young Henry’s street even when the ex-Rhodes Scholar Elliott required him, Balliol-style, to read it out at their next meeting. When he had finished, the Fugitive Poet conceded: “You really have an interesting mind.” “In effect he said he would now look after my intellectual development. As a first step he made me readThe Brothers Karamazov.”
What Kissinger took from Elliott was that without grasping the long arc of time, any account of politics and government would be shallow and self-defeating. That long view is on full display in the China book, which insists – entertainingly – on going back to the origins of Chinese classical culture and on through the many dynasties of the Middle Kingdom before even touching the epoch of decline, dismemberment and revolution. Kissinger smiles at the scene with which he opens his book, in which Mao gathered together the leaders of the party to listen to his account of a war that occurred during the Tang dynasty. “It would be like one of our leaders going back to the wars of Charlemagne.” And you get the feeling that Kissinger believes that it would do them no harm if they did. Instead he laments that “contemporary politicians have very little sense of history. For them the Vietnam war is unimaginably far behind us, the Korean war has no relevance any more,” even though that conflict is very far from over and at any minute has the capability of going from cold to hot. “This [the United States of Amnesia as Gore Vidal likes to call it],” he sighs, “is a tremendous handicap … when I talk to policy¬makers and I cite some historical analogy they think, ‘There he goes again with his history.’”
Kissinger’s beau idéal of analytical thinking informed by deep historical knowledge remains the formidable circle of advisers around Harry Truman. Their commanding figure, George Kennan, says Kissinger, had “a beautiful mind; magnificent scope. Kennan’s article on containment [the famous Long Telegram of 1946 on the ambitions of the Soviet Union] was, he says, “seminal; you wouldn’t change a comma.” But as a diplomat, Kissinger recollects Kennan was a hot temper in the cold war; never quite able to control the rush of blood, shouting tactlessly at Tempelhof airport that conditions in Moscow were still “just like Nazi Germany”. “He thought in more or less absolute terms,” Kissinger says, smiling. “The contingencies that might arise were unbearable to him.”
Mastering contingency is what Kissinger’s style of foreign policy has been all about, never more so than in the Chinese scenario. The objective historical situation in which the mutual suspicions of the Russians and the Chinese were bound to lead to explosive conflict was always there. But it took Kissinger and Zhou, counter-intuitively in tandem, to follow the logic of the situation to achieve a breathtaking realignment. Knowing what we do now about the self-destructive overreach of Soviet power, were Chinese fears of Russian aggression, Mao’s “ill waters”, overdone? Not at all, Kissinger responds. Both sides were nervous, which is what made the situation in 1969 genuinely dangerous. Brezhnev, he says, exuded “a sense of ominous danger emerging out of China”. Stalin’s last years were haunted by the same conundrum, never “solving the problem of how their influence in China would continue”. Mao was sufficiently alarmed at the imminence of a pre-emptive Soviet strike that “he dispersed all his government ministers over China and only Zhou remained in Beijing.”
How much did Kissinger know about Chinese history and culture when he set off for his first rendezvous with Zhou? “Oh at the beginning … nothing.” Since at that point secrecy was paramount, Kissinger was denied any briefing from the usual agencies. Back to Harvard he went, hoping for a crash course from the great scholars of modern Chinese history, J.K. Fairbank and Owen Lattimore. “They wanted to talk to me about why China should be admitted to the UN and gave me all sorts of methodologies by which we could ease the admission, which I am sure was very wise but nobody sat down and said, ‘Now you really ought to understand how they think.’” What followed, then, was intensive self-education, but also Kissinger’s certainty that if anything was to be accomplished he had to shrug off the bureaucratic and State department default obsessions of raising legalistic issues of claims and indemnities and the like with the Chinese, instead moving directly to first principles, beginning with the mutual agreement that there was, in fact, one China not two, a position then upheld by the Nationalist government in Taiwan as much as by the Communist government in Beijing.
Nixon in 1972, whom he served as national security advisor and secretary of state
Kissinger talks about this momentous shift in global alignments as though it could only be accomplished through the kind of personal interaction customary to classic 19th-century statecraft. But at the centre of it all (not to forget the strange, turbulent, contorted personality of Nixon) was, after all, Mao, whose magnitude, for good or ill, Kissinger never wants to sell short. What about the deranged contradictions in Mao’s imperial fiats: decreeing a Great Leap Forward that condemned millions to die in an engineered famine, or unleashing the trauma of the Cultural Revolution only to slam on the brakes once it threatened to bring down the state itself? “They were a rebellion against mortality,” Kissinger says, a little gnomically, but offering an interesting addendum. It was Deng’s generation – and Deng himself, twice purged and who lost a son to the fury of the Red Guards – which has been permanently scarred by the “unimaginable abomination”. But their children are beginning to think that perhaps Mao “was on to something … but as always pushed it too far”. With the misery and terror of the Cultural Revolution just a parental memory, the next generation, Kissinger says, feels “nostalgic for … an alternative sense of community”. “There is in Chongqing right now,” he tells me, “a party secretary, Bo Xilai, who has been leading a kind of Maoist philosophical revival. One of my associates who has been in China tells me that university graduates who 10 years ago all wanted to be Goldman Sachs executives now want to be government officials.” And what would Mao himself have made of contemporary China? “I think he’d be troubled. He really did believe in an ethical mission for the Chinese. I think the selfishness of the Chinese yuppies would bother him.”
Shouldn’t the obstinately brutal record of the Chinese government on human rights give us pause when we cosy up to them? As if sensitive to all those accusations that he has been, at times in his career, insufficiently moved by these issues, Kissinger says: “I periodically raise human rights issues, usually on behalf of individuals, always without publicity. But for the advocates of human rights, publicity is a moral imperative because it puts us on the right side of history. I respect them for that.”
With Barack Obama last year at talks on a new arms reduction treaty
Not so much, though, as to get in the way of treating China as an indispensable element in any stabilisation of perilous situations in Korea and Afghanistan. Without China’s active participation, any attempts to immunise Afghanistan against terrorism would be futile. This may be a tall order, since the Russians and the Chinese are getting a “free ride” on US engagement, which contains the jihadism which in central Asia and Xinjiang threatens their own security. So was it, in retrospect, a good idea for Barack Obama to have announced that this coming July will see the beginning of a military drawdown? The question triggers a Vietnam flashback. “I know from personal experience that once you start a drawdown, the road from there is inexorable. I never found an answer when Le Duc Tho was taunting me in the negotiations that if you could not handle Vietnam with half-a-million people, what makes you think you can end it with progressively fewer? We found ourselves in a position where to maintain … a free choice for the population in South Vietnam … we had to keep withdrawing troops, thereby reducing the incentive for the very negotiations in which I was engaged. We will find the same challenge in Afghanistan. I wrote a memorandum to Nixon which said that in the beginning of the withdrawal it will be like salted peanuts; the more you eat, the more you want.”
Kissinger laughs even as he sketches a scenario for an Afghanistan even grimmer than anything anyone has yet imagined, where the presence or absence of al-Qaeda will be the least of its problems. What might happen, he says, is a de facto partition, with India and Russia reconstituting the Northern Alliance, and Pakistan hooked to the Taliban as a backstop against their own encirclement.
Suddenly, spring goes chilly. The prospect looms of a centennial commemoration of the first world war through a half-awake re-enactment. Not Belgium but Sarajevo. Think proxy half-states; the paranoia of encirclement; the bristling arsenals, in this case nuclear; the nervous, beleaguered Pakistanis lashing out in passive-aggressive insecurity. “An India-Pakistan war becomes more probable. Eventually,” says the Doctor, his voice a deep pond of calm. “Therefore some kind of international process in which these issues are discussed might generate enough restraints so that Pakistan does not feel itself encircled by India and doesn’t see a strategic reserve in the Taliban.” He looks directly at me. “Is it possible to do this? I don’t know. But I know if we let matters drift this could become the Balkans of the next world war.”
Suddenly the irrefutable clarity of his pessimism makes Dr Strangelove look like Dr Pangloss. Around America this week, biblical placards are appearing proclaiming that the world will definitely end on May 21. If they’re right, you won’t be reading this. But if Kissinger is right, they may yet have a chance to move the date back a bit. Don’t say history and Henry Kissinger didn’t warn you.
‘On China’ by Henry Kissinger is published by Allen Lane
Subrepticiamente, eles vao roubando a nossa lingua e destruindo a nossa cultura...
Subreptício! Gostou da palavra?
Ela jamais entraria num desses manuais de língua e de expressão oral das novas pedagogas do MEC.
Muito complicado para isso.
As novas formas de expressão oral e escrita das novas saúvas do Brasil condenam vocabulário muito requintado, rebuscado, complexo, prolixo enfim, qualquer coisa que escape à compreensão do brasileiro médio, o que parece resumir-se em menos de mil palavras, ao que parece.
Eu sempre me surpreenderei com a capacidade do Brasil de retroceder...
Paulo Roberto de Almeida
Ela jamais entraria num desses manuais de língua e de expressão oral das novas pedagogas do MEC.
Muito complicado para isso.
As novas formas de expressão oral e escrita das novas saúvas do Brasil condenam vocabulário muito requintado, rebuscado, complexo, prolixo enfim, qualquer coisa que escape à compreensão do brasileiro médio, o que parece resumir-se em menos de mil palavras, ao que parece.
Eu sempre me surpreenderei com a capacidade do Brasil de retroceder...
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