The Dawn of Politics
ADAM KIRSCH
City Journal, Spring 2011, vol. 21. n. 2
Francis Fukuyama goes back to the beginning.
It’s possible that Francis Fukuyama does not take unmixed pleasure in his fame as the author of The End of History and the Last Man. Ever since Fukuyama published that book in 1992—indeed, ever since he published the article on which it was based in The National Interest in 1989—he has been shadowed by the phrase “the end of history.” Since then, he has written five more books on big, complex subjects, ranging from the decline of trust in American society to the future of genetic engineering, and he has participated in countless policy debates. Yet on the cover of his new book, The Origins of Political Order, he once again is identified as “the author of The End of History and the Last Man.”
Will this book—a 500-page survey of the growth of states “from prehuman times to the French Revolution,” with a promised second volume taking the story up to the present—finally be the one to emancipate Fukuyama from the end of history? The question is justified not simply by the size, scope, and ambition of the project but, above all, by its emphasis on origins. If the end of the Cold War represented the end of history, Fukuyama’s new book starts over at the beginning, with the emergence of the first states out of kin-based tribes more than 4,000 years ago. In the introduction, Fukuyama explains that his purpose in The Origins of Political Order is to offer a new theory of political development, to supersede the one that his mentor Samuel Huntington advanced in his 1968 study Political Order in Changing Societies.
But it is hard to avoid thinking that Fukuyama is after even bigger game. After all, he emerged in his first book as a proud Hegelian—more, as a rehabilitator of Hegel, in an age that had lost patience with all grand theories of historical progress. “The twentieth century, it is safe to say, has made all of us into deep historical pessimists,” Fukuyama wrote. But the events of 1989 made it possible once again to believe that history was marching in the direction of freedom, that liberal democracy would prove to be the solution of mankind’s long experiment in politics. This or that tyranny might win a temporary reprieve, but the ultimate judgment was sealed.
(...)
ler a íntegra desse artigo neste link ou neste outro.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Anais da Vergonha Nacional: STF viola tratado de extradicao, com Executivo
Este STF é inacreditável. Basta isso. Nem vou dizer o que penso dos meretríssimos...
Paulo Roberto de Almeida
STF OFERECE SOMBRA E ÁGUA FRESCA A ASSASSINO ITALIANO
Blog do Janer Cristaldo
Quarta-feira, Junho 08, 2011
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu enfiar os pés pelas mãos pela segunda vez neste ano. A primeira vez foi em maio passado, quando usurpou prerrogativas do Legislativo ao aprovar por unanimidade, com as fanfarras da imprensa, o reconhecimento da tal de união homoafetiva. Com uma sentença que não teve uma única voz dissonante, reformou a Constituição, atribuição que não é sua. Isso sem falar que consagrou um neologismo mal construído, que nada quer dizer, a tal de homoafetividade. Homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos. Por analogia, os heterossexuais foram sumariamente revogados. São agora todos heteroafetivos.
A segunda vez ocorreu ontem. Por seis votos a três, o STF negou a reclamação do governo italiano contra a decisão de Lula de manter um criminoso comum italiano, condenado em última instância por quatro assassinatos em seu próprio país. Coube ao presidente brasileiro rasgar o tratado de extradição entre Brasil e Itália. Ao Supremo, coube ratificar a violação do tratado.
A concessão de refúgio ao italiano vinha sendo planejada desde há uns dois anos. Em outubro de 2009, um “Manifesto em defesa do refúgio de Cesare Battisti”, com mais de uma centena de assinaturas, pedia ao STF a proteção do assassino:
“A eventual autorização de extradição nessas condições produzirá efeitos negativos não só no plano internacional, mas também no plano interno, abrindo espaço para insegurança jurídica e crise entre as instituições, causando incerteza com relação às atribuições de natureza política do poder executivo. Diante dessas ponderações, esperamos que o Supremo Tribunal Federal considere extinto o processo de extradição do cidadão italiano Cesare Battisti, reafirmando a sua tradicional função de salvaguarda dos direitos fundamentais e dos princípios constitucionais inerentes à democracia”.
O STF foi sensível ao manifesto, assinado majoritariamente – pasmem leitores! – por advogados e professores de Direito Penal, Processual e Constitucional de diversas universidades brasileiras, que deveriam ser antes de mais nada os guardiões das instituições jurídicas. Enquanto isso, o capitão-de-mato Tarso Genro – então ministro da Justiça – já havia mandado como regalo a seu amigo Fidel Castro dois pugilistas que haviam fugido da delegação cubana durante os Jogos Pan-americanos de 2007. Foram deportados para o gulag caribenho sem que tivessem cometido crime algum, a menos que fugir de uma ditadura seja considerado crime. Não vi, na ocasião, nenhum manifesto de advogados ou professores universitários em defesa dos cubanos.
As alegações dos vulturinos componentes do Supremo beiraram o ridículo. De acordo com a maioria dos ministros do STF, essa é uma questão de política internacional, na qual a Suprema Corte não deve se intrometer. "Isso não é matéria da nossa alçada", afirmou o ministro Joaquim Barbosa. Em primeiro lugar, não é uma questão de política internacional, e sim de direito comum. As alegações de que Battisti militava em uma organização política – em verdade, um grupo terrorista – não procedem. Podia ser terrorista, mas foi condenado por crimes comuns. E não foi condenado por um tribunal de exceção de algum país totalitário. Foi condenado por um tribunal ordinário de uma democracia plena.
Em segundo lugar, se não era matéria da alçada da Suprema Corte, seus ministros não deveriam ter aceito a questão. Que remetam então o processo à devida alçada. "É inconcebível para mim ter-se o governo requerente a impugnar um ato do presidente da República na condução da política internacional", disse o ministro Marco Aurélio Mello. Ora, inconcebível é ver um presidente da República revogar por conta própria e unilateralmente um tratado acordado entre dois países soberanos.
Não bastasse ter negado a extradição do italiano, o STF expediu, há meia hora atrás, um alvará de soltura em seu favor. Confesso jamais ter visto tantos intelectuais e autoridades encarniçadas na defesa de um reles assassino. Profundo mistério. Não é por acaso que seguidamente vemos, em muitos filmes de ação, bandidos de alto bordo sonhando com as praias do Rio após um golpe bem sucedido.
Se, além de malfeitores, tiverem algum contato com as esquerdas, boa acolhida, sombra e água fresca são favas contadas.
Paulo Roberto de Almeida
STF OFERECE SOMBRA E ÁGUA FRESCA A ASSASSINO ITALIANO
Blog do Janer Cristaldo
Quarta-feira, Junho 08, 2011
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu enfiar os pés pelas mãos pela segunda vez neste ano. A primeira vez foi em maio passado, quando usurpou prerrogativas do Legislativo ao aprovar por unanimidade, com as fanfarras da imprensa, o reconhecimento da tal de união homoafetiva. Com uma sentença que não teve uma única voz dissonante, reformou a Constituição, atribuição que não é sua. Isso sem falar que consagrou um neologismo mal construído, que nada quer dizer, a tal de homoafetividade. Homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos. Por analogia, os heterossexuais foram sumariamente revogados. São agora todos heteroafetivos.
A segunda vez ocorreu ontem. Por seis votos a três, o STF negou a reclamação do governo italiano contra a decisão de Lula de manter um criminoso comum italiano, condenado em última instância por quatro assassinatos em seu próprio país. Coube ao presidente brasileiro rasgar o tratado de extradição entre Brasil e Itália. Ao Supremo, coube ratificar a violação do tratado.
A concessão de refúgio ao italiano vinha sendo planejada desde há uns dois anos. Em outubro de 2009, um “Manifesto em defesa do refúgio de Cesare Battisti”, com mais de uma centena de assinaturas, pedia ao STF a proteção do assassino:
“A eventual autorização de extradição nessas condições produzirá efeitos negativos não só no plano internacional, mas também no plano interno, abrindo espaço para insegurança jurídica e crise entre as instituições, causando incerteza com relação às atribuições de natureza política do poder executivo. Diante dessas ponderações, esperamos que o Supremo Tribunal Federal considere extinto o processo de extradição do cidadão italiano Cesare Battisti, reafirmando a sua tradicional função de salvaguarda dos direitos fundamentais e dos princípios constitucionais inerentes à democracia”.
O STF foi sensível ao manifesto, assinado majoritariamente – pasmem leitores! – por advogados e professores de Direito Penal, Processual e Constitucional de diversas universidades brasileiras, que deveriam ser antes de mais nada os guardiões das instituições jurídicas. Enquanto isso, o capitão-de-mato Tarso Genro – então ministro da Justiça – já havia mandado como regalo a seu amigo Fidel Castro dois pugilistas que haviam fugido da delegação cubana durante os Jogos Pan-americanos de 2007. Foram deportados para o gulag caribenho sem que tivessem cometido crime algum, a menos que fugir de uma ditadura seja considerado crime. Não vi, na ocasião, nenhum manifesto de advogados ou professores universitários em defesa dos cubanos.
As alegações dos vulturinos componentes do Supremo beiraram o ridículo. De acordo com a maioria dos ministros do STF, essa é uma questão de política internacional, na qual a Suprema Corte não deve se intrometer. "Isso não é matéria da nossa alçada", afirmou o ministro Joaquim Barbosa. Em primeiro lugar, não é uma questão de política internacional, e sim de direito comum. As alegações de que Battisti militava em uma organização política – em verdade, um grupo terrorista – não procedem. Podia ser terrorista, mas foi condenado por crimes comuns. E não foi condenado por um tribunal de exceção de algum país totalitário. Foi condenado por um tribunal ordinário de uma democracia plena.
Em segundo lugar, se não era matéria da alçada da Suprema Corte, seus ministros não deveriam ter aceito a questão. Que remetam então o processo à devida alçada. "É inconcebível para mim ter-se o governo requerente a impugnar um ato do presidente da República na condução da política internacional", disse o ministro Marco Aurélio Mello. Ora, inconcebível é ver um presidente da República revogar por conta própria e unilateralmente um tratado acordado entre dois países soberanos.
Não bastasse ter negado a extradição do italiano, o STF expediu, há meia hora atrás, um alvará de soltura em seu favor. Confesso jamais ter visto tantos intelectuais e autoridades encarniçadas na defesa de um reles assassino. Profundo mistério. Não é por acaso que seguidamente vemos, em muitos filmes de ação, bandidos de alto bordo sonhando com as praias do Rio após um golpe bem sucedido.
Se, além de malfeitores, tiverem algum contato com as esquerdas, boa acolhida, sombra e água fresca são favas contadas.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
O modo idiota de produção e o aumento do sofrimento dos estudantes
Caro leitor, caro estudante universitário,
Tente entender esta passagem do texto que vai reproduzido abaixo, in totum:
“Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.”
Ou, então, tente entender esta outra passagem:
“Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.”
Compreendeu? Não!? Não se preocupe, caro leitor. Nem eu! Aliás, nem qualquer pessoa medianamente educada e razoavelmente bem informada sobre as realidades do mundo – este nosso mundo, real, concreto, não o mundo esquizofrênico de certos acadêmicos – seria capaz de entender o que está escrito, ou subentendido nas passagens acima.
Ou se preocupe sim, se você tiver a má sorte de ter o autor desse texto como seu professor ou orientador (que azar, não é mesmo?).
O que mais me surpreendeu nesse texto, além do caráter obscuro de sua escrita, é o total descompromisso e o desconhecimento do autor em relação à conjuntura europeia, à crise de alguns dos países da região, ao funcionamento do capitalismo tal como o conhecemos, enfim, à simples realidade presente, ali, e em todas as demais regiões que parecem sofrer sob o jugo do capitalismo fetichista.
Até parece que a vanguarda esclarecida da “proletariedade” – a expressão é do autor – está apenas aguardando o agravamento da crise estrutural do capitalismo para relançar a luta revolucionária em favor de uma alteração radical da alienação atual e, finalmente, inaugurar um novo modo de produção, que talvez seja apenas um modo acadêmico de produção de teses, artigos, teses, antíteses ou de qualquer outra coisa, que eu não hesitaria em chamar de modo idiota de produção.
Confesso que tive certa dificuldade em selecionar as passagens para colocar em epígrafe, como fiz acima. Não que eu não encontrasse passagens suficientemente confusas para ser vir de exemplo desse novo modo idiota de produção acadêmica. Mas é que existem passagens demais, todo o texto é uma assemblagens de frases e parágrafos incompreensíveis, obscuros, totalmente sem sentido. Uma incrível proliferação de non-sense, de equívocos conceituais, de erros factuais, de simples bobagens textuais.
Enfim, não quero prolongar a ansiedade de todos vocês para ler – se desejarem meia hora de surrealismo acadêmico – estendendo-me demasiado neste simples texto introdutório.
Apenas quero terminar por duas mensagens a dois públicos específicos.
1) Aos infelizes alunos desse professor na UNESP: meus cumprimentos pela sorte que vocês têm, neste semestre, de não tê-lo atuando na sua (como diremos?) “alma mater”; vocês escaparam pelo menos por um semestre, talvez por dois, de um besteirol certamente maior do que este;
2) Aos colegas (por sorte temporários) deste “estagiário” no seu pós-doutorado na Universidade de Coimbra: meus pêsames, a todos vocês, pelo esforço que terão de dispender para tentar compreender o que ele quer dizer em sua linguagem gótica e absolutamente incompreensível aos comuns dos mortais.
Paulo Roberto de Almeida
PS1: O autor pode me agradecer por ter aumentado a esfera de audiência de um artigo de dificílima compreensão aos comuns dos mortais, em setores que normalmente não tomariam conhecimento desse tipo de material.
PS2: O autor parece ter passado impune pela mais recente reforma ortográfica, que eliminou diversos acentos que ele continua usando indevidamente, a começar por europeia; mas são muitos mais os erros de ortografia, os descuidos de revisão, a insistência em certos cacoetes de linguagem (como o uso do “Ora,...”), além do próprio caráter obscuro de seu modo de expressão.
PS3: Ele deve copyrights, ou pelo menos moral rights, ao verdadeiro autor da frase "moinho satânico", que ele nem mencionou quem é...
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A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global
A crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global. O artigo é de Giovanni Alves.
Carta Maior, 8 de junho de 2011
Publicado no site CARTA MAIOR de 08/06/2011 – www.cartamaior.com.br
A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global
Giovanni Alves (*)
A crise financeira de 2008 expõe com candência inédita, por um lado, a profunda crise do capitalismo global e, por outro, a débâcle político-ideológico da esquerda socialista européia intimada a aplicar, em revezamento com a direita ideológica, os programas de ajustes ortodoxos do FMI na Grécia, Espanha e Portugal, países europeus que constituem os “elos mais fracos” da União Européia avassalada pelos mercados financeiros.
Aos poucos, o capital financeiro corrói o Estado social europeu, uma das mais proeminentes construções civilizatórias do capitalismo em sua fase de ascensão histórica. Com a crise estrutural do capital, a partir de meados da década de 1970, e a débâcle da URSS e o término da ameaça comunista no Continente Europeu, no começo da década de 1990, o “capitalismo social” e seu Welfare State, tão festejado pela social-democracia européia, torna-se um anacronismo histórico para o capital. Na verdade, a União Européia nasce, sob o signo paradoxal da ameaça global aos direitos da cidadania laboral. É o que percebemos nos últimos 10 anos, quando se ampliou a mancha cinzenta do desemprego de longa duração e a precariedade laboral, principalmente nos “elos mais fracos” do projeto social europeu. Com certeza, a situação do trabalho e dos direitos da cidadania laboral na Grécia, Espanha e Portugal deve piorar com a crise da dívida soberana nestes países e o programa de austeridade do FMI.
Vivemos o paradoxo glorioso do capital como contradição viva: nunca o capitalismo mundial esteve tão a vontade para aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados nos países capitalistas centrais, articulando, por um lado, aceleração de inovações tecnológicas e organizacionais sob o espírito do toyotismo; e por outro lado, a proliferação na produção, consumo e política, de sofisticados dispositivos de “captura” da subjetividade do homem que trabalha, capazes de exacerbar à exaustão, o poder da ideologia, com reflexos na capacidade de percepção e consciência de classe de milhões e milhões de homens e mulheres imersos na condição de proletariedade.
Deste modo, a crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global.
Ora, uma parcela considerável de intelectuais e publicistas europeus têm uma parcela de responsabilidade pela “cegueira ideológica” que crassa hoje na União Européia. Eles renunciaram há tempos, a uma visão critica do mundo, adotando como único horizonte possível, o capitalismo e a Democracia – inclusive aqueles que se dizem socialistas. Durante décadas, educaram a sociedade e a si mesmos, na crença de que a democracia e os direitos sociais seriam compatíveis com a ordem burguesa. O pavor do comunismo soviético e a rendição à máquina ideológica do pós-modernismo os levaram a renunciar a uma visão radical do mundo. Por exemplo, na academia européia – que tanto influencia o Brasil – mesmo em plena crise financeira, com aumento da desigualdade social e desmonte do Welfare State, abandonaram-se os conceitos de Trabalho, Capitalismo, Classes Sociais e Exploração. Na melhor das hipóteses, discutem desigualdades sociais e cidadania...
Há tempos o léxico de critica radical do capitalismo deixou de ser utilizado pela nata da renomada intelectualidade européia, a maior parte dela, socialista, satisfeita com os conceitos perenes de Cidadania, Direitos, Sociedade Contemporânea, Democracia, Gênero, Etnia, etc – isto é, conceitos e categoriais tão inócuas quanto estéreis para apreender a natureza essencial da ordem burguesa em processo e elaborar com rigor a crítica do capitalismo atual. Na verdade, para os pesquisadores da “classe média” intelectualizada européia, muitos deles socialistas “cor-de-rosa”, a esterilização da linguagem crítica permite-lhes pleno acesso aos fundos públicos (e privados) de pesquisa institucional.
É claro que esta “cegueira ideológica” que assola o Velho Continente decorre de um complexo processo histórico de derrota do movimento operário nas últimas décadas, nos seus vários flancos – político, ideológico e social: o esclerosamento dos partidos comunistas, ainda sob a “herança maldita” do stalinismo; a “direitização” orgânica dos partidos socialistas e sociais-democratas, que renunciaram efetivamente ao socialismo como projeto social e adotaram a idéia obtusa de “capitalismo social”; o débâcle da União Soviética e a crise do socialismo real, com a intensa campanha ideológica que celebrou a vitória do capitalismo liberal e do ideal de Democracia. A própria União Européia nasce sob o signo da celebração da globalização e suas promessas de desenvolvimento e cidadania. Last, but not least, a vigência da indústria cultural e das redes sociais de informação e comunicação que contribuíram – apesar de suas positividades no plano da mobilização social – para a intensificação da manipulação no consumo e na política visando reduzir o horizonte cognitivo de jovens e adultos, homens e mulheres à lógica do establishment, e, portanto, à lógica neoliberal do mercado, empregabilidade e competitividade.
Na medida em que se ampliou o mundo das mercadorias, exacerbou-se o fetichismo social, contribuindo, deste modo, para o “derretimento” de referenciais cognitivos que permitissem apreender o nome da “coisa” que se constituía efetivamente nas últimas décadas: o capitalismo financeiro com seu “moinho satânico” capaz de negar as promessas civilizatórias construídas na fase de ascensão histórica do capital.
Não deixa de ser sintomático que jovens de classe média indignados com a “falsa democracia” e o aumento da precariedade laboral em países como Portugal e Espanha, tenham levantado bandeiras inócuas, vazias de sentido, no plano conceitual, para expressar sua aguda insatisfação com a ordem burguesa. Por exemplo, no dia 5 de junho de 2011, dia de importante eleição parlamentar em Portugal, a faixa na manifestação de jovens acampados diante da célebre catedral de Santa Cruz em Coimbra (Portugal), onde está enterrado o Rei Afonso Henriques, fundador de Portugal, dizia: “Não somos contra o Sistema. O Sistema é que é Contra Nós”. Neste dia, a Direita (PSD-CDS) derrotou o Partido Socialista e elegeu a maioria absoluta do Parlamento, numa eleição com quase 50% de abstenção e votos brancos. Enfim, órfãos da palavra radical, os jovens indignados não conseguem construir, no plano do imaginário político, uma resposta científica e radical, à avassaladora condição de proletariedade que os condena a uma vida vazia de sentido.
Na verdade, o que se coloca como tarefa essencial para a esquerda radical européia - e talvez no mundo em geral - é ir além do mero jogo eleitoral e resgatar a capacidade de formar sujeitos históricos coletivos e individuais capazes da “negação da negação” por meio da democratização radical da sociedade. Esta não é a primeira - e muito menos será a última - crise financeira do capitalismo europeu. Portanto, torna-se urgente construir uma “hegemonia cultural” capaz de impor obstáculos à “captura” da subjetividade de homens e mulheres pelo capital. Para que isso ocorra torna-se necessário que partidos, sindicatos e movimentos sociais comprometidos com o ideal socialista, inovem, isto é, invistam, mais do que nunca, em estratégias criativas e originais de formação da classe e redes de subjetivação de classe, capazes de elaborar – no plano do imaginário social – novos elementos de utopia social ou utopia socialista. Não é fácil. É um processo contra-hegemônico longo que envolve redes sociais, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Antes de mais nada, é preciso resgatar (e re-significar) os velhos conceitos e categorias adequadas à critica do capital no século XXI. Enfim, lutar contra a cegueira ideológica e afirmar a lucidez crítica, entendendo a nova dinâmica do capitalismo global com suas crises financeiras.
Ora, cada crise financeira que se manifesta na temporalidade histórica do capitalismo global desde meados da década de 1970 cumpre uma função heurística: expor com intensidade candente a nova dinâmica instável e incerta do capitalismo histórico imerso em candentes contradições orgânicas.
Na verdade, nos últimos trinta anos (1980-2010), apesar da expansão e intensificação da exploração da força de trabalho e o crescimento inédito do capital acumulado, graças à crescente extração de mais-valia relativa, a produção de valor continua irremediavelmente aquém das necessidades de acumulação do sistema produtor de mercadorias. É o que explica a financeirização da riqueza capitalista e a busca voraz dos “lucros fictícios” que conduzem a formação persistente de “bolhas especulativas” e recorrentes crises financeiras.
Apesar do crescimento exacerbado do capital acumulado, surgem cada vez mais, menos possibilidades de investimento produtivo de valor que conduza a uma rentabilidade adequada às necessidades do capital em sua etapa planetária. Talvez a voracidade das políticas de privatização e a expansão da lógica mercantil na vida social sejam estratégias cruciais de abertura de novos campos de produção e realização do valor num cenário de crise estrutural de valorização do capital.
Ora, esta é a dimensão paradoxal da crise estrutural de valorização. Mesmo com a intensificação da precarização do trabalho em escala global nas últimas décadas, com o crescimento absoluto da taxa de exploração da força de trabalho, a massa exacerbada de capital-dinheiro acumulada pelo sistema de capital concentrado, não encontra um nível de valorização – produção e realização - adequado ao patamar histórico de desenvolvimento do capitalismo tardio.
Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capitalismo como sendo (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, além de ser crise de formação (produção/realização) de valor, ela é (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem que trabalha.
Ora, a precarização do trabalho não se resume a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários, mas implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico. A manipulação – ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital – assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.
Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.
Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais a sua incapacidade em realizar as promessas de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, o capital, em sua forma financeira e com sua personificação tecnoburocrática global (o FMI), como o deus Moloch, exige hoje sacrifícios perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.
Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.
Apesar da crise estrutural, o sistema se expande, imerso em contradições candentes, conduzido hoje pelos pólos mais ativos e dinâmicos de acumulação de valor: os ditos “países emergentes”, como a China, Índia e Brasil, meras “fronteiras de expansão” da produção de valor à deriva. Enquanto o centro dinâmico capitalista – União Européia, EUA e Japão - “apodrece” com sua tara financeirizada (como atesta a crise financeira de 2008 que atingiu de modo voraz os EUA, Japão e União Européia), a periferia industrializada “emergente” alimenta a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).
Portanto, crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial, mas sim, incapacidade do sistema produtor de mercadorias realizar suas promessas civilizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com estagnação, mas, sob a ótica do capital, “crise” significa tão-somente riscos e oportunidades históricas para reestruturações sistêmicas visando a expansão alucinada da forma-valor. Ao mesmo tempo, “crise” significa riscos e oportunidades históricas para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade. Como diria Marx, Hic Rhodus, hic salta!
(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “ Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: http://www.giovannialves.org /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br
Tente entender esta passagem do texto que vai reproduzido abaixo, in totum:
“Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.”
Ou, então, tente entender esta outra passagem:
“Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.”
Compreendeu? Não!? Não se preocupe, caro leitor. Nem eu! Aliás, nem qualquer pessoa medianamente educada e razoavelmente bem informada sobre as realidades do mundo – este nosso mundo, real, concreto, não o mundo esquizofrênico de certos acadêmicos – seria capaz de entender o que está escrito, ou subentendido nas passagens acima.
Ou se preocupe sim, se você tiver a má sorte de ter o autor desse texto como seu professor ou orientador (que azar, não é mesmo?).
O que mais me surpreendeu nesse texto, além do caráter obscuro de sua escrita, é o total descompromisso e o desconhecimento do autor em relação à conjuntura europeia, à crise de alguns dos países da região, ao funcionamento do capitalismo tal como o conhecemos, enfim, à simples realidade presente, ali, e em todas as demais regiões que parecem sofrer sob o jugo do capitalismo fetichista.
Até parece que a vanguarda esclarecida da “proletariedade” – a expressão é do autor – está apenas aguardando o agravamento da crise estrutural do capitalismo para relançar a luta revolucionária em favor de uma alteração radical da alienação atual e, finalmente, inaugurar um novo modo de produção, que talvez seja apenas um modo acadêmico de produção de teses, artigos, teses, antíteses ou de qualquer outra coisa, que eu não hesitaria em chamar de modo idiota de produção.
Confesso que tive certa dificuldade em selecionar as passagens para colocar em epígrafe, como fiz acima. Não que eu não encontrasse passagens suficientemente confusas para ser vir de exemplo desse novo modo idiota de produção acadêmica. Mas é que existem passagens demais, todo o texto é uma assemblagens de frases e parágrafos incompreensíveis, obscuros, totalmente sem sentido. Uma incrível proliferação de non-sense, de equívocos conceituais, de erros factuais, de simples bobagens textuais.
Enfim, não quero prolongar a ansiedade de todos vocês para ler – se desejarem meia hora de surrealismo acadêmico – estendendo-me demasiado neste simples texto introdutório.
Apenas quero terminar por duas mensagens a dois públicos específicos.
1) Aos infelizes alunos desse professor na UNESP: meus cumprimentos pela sorte que vocês têm, neste semestre, de não tê-lo atuando na sua (como diremos?) “alma mater”; vocês escaparam pelo menos por um semestre, talvez por dois, de um besteirol certamente maior do que este;
2) Aos colegas (por sorte temporários) deste “estagiário” no seu pós-doutorado na Universidade de Coimbra: meus pêsames, a todos vocês, pelo esforço que terão de dispender para tentar compreender o que ele quer dizer em sua linguagem gótica e absolutamente incompreensível aos comuns dos mortais.
Paulo Roberto de Almeida
PS1: O autor pode me agradecer por ter aumentado a esfera de audiência de um artigo de dificílima compreensão aos comuns dos mortais, em setores que normalmente não tomariam conhecimento desse tipo de material.
PS2: O autor parece ter passado impune pela mais recente reforma ortográfica, que eliminou diversos acentos que ele continua usando indevidamente, a começar por europeia; mas são muitos mais os erros de ortografia, os descuidos de revisão, a insistência em certos cacoetes de linguagem (como o uso do “Ora,...”), além do próprio caráter obscuro de seu modo de expressão.
PS3: Ele deve copyrights, ou pelo menos moral rights, ao verdadeiro autor da frase "moinho satânico", que ele nem mencionou quem é...
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A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global
A crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global. O artigo é de Giovanni Alves.
Carta Maior, 8 de junho de 2011
Publicado no site CARTA MAIOR de 08/06/2011 – www.cartamaior.com.br
A crise européia e o “moinho satânico” do capitalismo global
Giovanni Alves (*)
A crise financeira de 2008 expõe com candência inédita, por um lado, a profunda crise do capitalismo global e, por outro, a débâcle político-ideológico da esquerda socialista européia intimada a aplicar, em revezamento com a direita ideológica, os programas de ajustes ortodoxos do FMI na Grécia, Espanha e Portugal, países europeus que constituem os “elos mais fracos” da União Européia avassalada pelos mercados financeiros.
Aos poucos, o capital financeiro corrói o Estado social europeu, uma das mais proeminentes construções civilizatórias do capitalismo em sua fase de ascensão histórica. Com a crise estrutural do capital, a partir de meados da década de 1970, e a débâcle da URSS e o término da ameaça comunista no Continente Europeu, no começo da década de 1990, o “capitalismo social” e seu Welfare State, tão festejado pela social-democracia européia, torna-se um anacronismo histórico para o capital. Na verdade, a União Européia nasce, sob o signo paradoxal da ameaça global aos direitos da cidadania laboral. É o que percebemos nos últimos 10 anos, quando se ampliou a mancha cinzenta do desemprego de longa duração e a precariedade laboral, principalmente nos “elos mais fracos” do projeto social europeu. Com certeza, a situação do trabalho e dos direitos da cidadania laboral na Grécia, Espanha e Portugal deve piorar com a crise da dívida soberana nestes países e o programa de austeridade do FMI.
Vivemos o paradoxo glorioso do capital como contradição viva: nunca o capitalismo mundial esteve tão a vontade para aumentar a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados nos países capitalistas centrais, articulando, por um lado, aceleração de inovações tecnológicas e organizacionais sob o espírito do toyotismo; e por outro lado, a proliferação na produção, consumo e política, de sofisticados dispositivos de “captura” da subjetividade do homem que trabalha, capazes de exacerbar à exaustão, o poder da ideologia, com reflexos na capacidade de percepção e consciência de classe de milhões e milhões de homens e mulheres imersos na condição de proletariedade.
Deste modo, a crise européia é não apenas uma crise da economia e da política nos países europeus, mas também – e principalmente - uma crise ideológica que decorre não apenas da falência política dos partidos socialistas em resistir à lógica dos mercados financeiros, mas também da incapacidade das pessoas comuns e dos movimentos sociais de jovens e adultos, homens e mulheres explorados e numa situação de deriva pessoal por conta dos desmonte do Estado social e espoliação de direitos pelo capital financeiro, em perceberem a natureza essencial da ofensiva do capital nas condições do capitalismo global.
Ora, uma parcela considerável de intelectuais e publicistas europeus têm uma parcela de responsabilidade pela “cegueira ideológica” que crassa hoje na União Européia. Eles renunciaram há tempos, a uma visão critica do mundo, adotando como único horizonte possível, o capitalismo e a Democracia – inclusive aqueles que se dizem socialistas. Durante décadas, educaram a sociedade e a si mesmos, na crença de que a democracia e os direitos sociais seriam compatíveis com a ordem burguesa. O pavor do comunismo soviético e a rendição à máquina ideológica do pós-modernismo os levaram a renunciar a uma visão radical do mundo. Por exemplo, na academia européia – que tanto influencia o Brasil – mesmo em plena crise financeira, com aumento da desigualdade social e desmonte do Welfare State, abandonaram-se os conceitos de Trabalho, Capitalismo, Classes Sociais e Exploração. Na melhor das hipóteses, discutem desigualdades sociais e cidadania...
Há tempos o léxico de critica radical do capitalismo deixou de ser utilizado pela nata da renomada intelectualidade européia, a maior parte dela, socialista, satisfeita com os conceitos perenes de Cidadania, Direitos, Sociedade Contemporânea, Democracia, Gênero, Etnia, etc – isto é, conceitos e categoriais tão inócuas quanto estéreis para apreender a natureza essencial da ordem burguesa em processo e elaborar com rigor a crítica do capitalismo atual. Na verdade, para os pesquisadores da “classe média” intelectualizada européia, muitos deles socialistas “cor-de-rosa”, a esterilização da linguagem crítica permite-lhes pleno acesso aos fundos públicos (e privados) de pesquisa institucional.
É claro que esta “cegueira ideológica” que assola o Velho Continente decorre de um complexo processo histórico de derrota do movimento operário nas últimas décadas, nos seus vários flancos – político, ideológico e social: o esclerosamento dos partidos comunistas, ainda sob a “herança maldita” do stalinismo; a “direitização” orgânica dos partidos socialistas e sociais-democratas, que renunciaram efetivamente ao socialismo como projeto social e adotaram a idéia obtusa de “capitalismo social”; o débâcle da União Soviética e a crise do socialismo real, com a intensa campanha ideológica que celebrou a vitória do capitalismo liberal e do ideal de Democracia. A própria União Européia nasce sob o signo da celebração da globalização e suas promessas de desenvolvimento e cidadania. Last, but not least, a vigência da indústria cultural e das redes sociais de informação e comunicação que contribuíram – apesar de suas positividades no plano da mobilização social – para a intensificação da manipulação no consumo e na política visando reduzir o horizonte cognitivo de jovens e adultos, homens e mulheres à lógica do establishment, e, portanto, à lógica neoliberal do mercado, empregabilidade e competitividade.
Na medida em que se ampliou o mundo das mercadorias, exacerbou-se o fetichismo social, contribuindo, deste modo, para o “derretimento” de referenciais cognitivos que permitissem apreender o nome da “coisa” que se constituía efetivamente nas últimas décadas: o capitalismo financeiro com seu “moinho satânico” capaz de negar as promessas civilizatórias construídas na fase de ascensão histórica do capital.
Não deixa de ser sintomático que jovens de classe média indignados com a “falsa democracia” e o aumento da precariedade laboral em países como Portugal e Espanha, tenham levantado bandeiras inócuas, vazias de sentido, no plano conceitual, para expressar sua aguda insatisfação com a ordem burguesa. Por exemplo, no dia 5 de junho de 2011, dia de importante eleição parlamentar em Portugal, a faixa na manifestação de jovens acampados diante da célebre catedral de Santa Cruz em Coimbra (Portugal), onde está enterrado o Rei Afonso Henriques, fundador de Portugal, dizia: “Não somos contra o Sistema. O Sistema é que é Contra Nós”. Neste dia, a Direita (PSD-CDS) derrotou o Partido Socialista e elegeu a maioria absoluta do Parlamento, numa eleição com quase 50% de abstenção e votos brancos. Enfim, órfãos da palavra radical, os jovens indignados não conseguem construir, no plano do imaginário político, uma resposta científica e radical, à avassaladora condição de proletariedade que os condena a uma vida vazia de sentido.
Na verdade, o que se coloca como tarefa essencial para a esquerda radical européia - e talvez no mundo em geral - é ir além do mero jogo eleitoral e resgatar a capacidade de formar sujeitos históricos coletivos e individuais capazes da “negação da negação” por meio da democratização radical da sociedade. Esta não é a primeira - e muito menos será a última - crise financeira do capitalismo europeu. Portanto, torna-se urgente construir uma “hegemonia cultural” capaz de impor obstáculos à “captura” da subjetividade de homens e mulheres pelo capital. Para que isso ocorra torna-se necessário que partidos, sindicatos e movimentos sociais comprometidos com o ideal socialista, inovem, isto é, invistam, mais do que nunca, em estratégias criativas e originais de formação da classe e redes de subjetivação de classe, capazes de elaborar – no plano do imaginário social – novos elementos de utopia social ou utopia socialista. Não é fácil. É um processo contra-hegemônico longo que envolve redes sociais, partidos, sindicatos e movimentos sociais. Antes de mais nada, é preciso resgatar (e re-significar) os velhos conceitos e categorias adequadas à critica do capital no século XXI. Enfim, lutar contra a cegueira ideológica e afirmar a lucidez crítica, entendendo a nova dinâmica do capitalismo global com suas crises financeiras.
Ora, cada crise financeira que se manifesta na temporalidade histórica do capitalismo global desde meados da década de 1970 cumpre uma função heurística: expor com intensidade candente a nova dinâmica instável e incerta do capitalismo histórico imerso em candentes contradições orgânicas.
Na verdade, nos últimos trinta anos (1980-2010), apesar da expansão e intensificação da exploração da força de trabalho e o crescimento inédito do capital acumulado, graças à crescente extração de mais-valia relativa, a produção de valor continua irremediavelmente aquém das necessidades de acumulação do sistema produtor de mercadorias. É o que explica a financeirização da riqueza capitalista e a busca voraz dos “lucros fictícios” que conduzem a formação persistente de “bolhas especulativas” e recorrentes crises financeiras.
Apesar do crescimento exacerbado do capital acumulado, surgem cada vez mais, menos possibilidades de investimento produtivo de valor que conduza a uma rentabilidade adequada às necessidades do capital em sua etapa planetária. Talvez a voracidade das políticas de privatização e a expansão da lógica mercantil na vida social sejam estratégias cruciais de abertura de novos campos de produção e realização do valor num cenário de crise estrutural de valorização do capital.
Ora, esta é a dimensão paradoxal da crise estrutural de valorização. Mesmo com a intensificação da precarização do trabalho em escala global nas últimas décadas, com o crescimento absoluto da taxa de exploração da força de trabalho, a massa exacerbada de capital-dinheiro acumulada pelo sistema de capital concentrado, não encontra um nível de valorização – produção e realização - adequado ao patamar histórico de desenvolvimento do capitalismo tardio.
Deste modo, podemos caracterizar a crise estrutural do capitalismo como sendo (1) crise de formação (produção/realização) de valor, onde a crise capitalista aparece, cada vez mais, como sendo crise de abundância exacerbada de riqueza abstrata. Entretanto, além de ser crise de formação (produção/realização) de valor, ela é (2) crise de (de)formação do sujeito histórico de classe. A crise de (de)formação do sujeito de classe é uma determinação tendencial do processo de precarização estrutural do trabalho que, nesse caso, aparece como precarização do homem que trabalha.
Ora, a precarização do trabalho não se resume a mera precarização social do trabalho ou precarização dos direitos sociais e direitos do trabalho de homens e mulheres proletários, mas implica também a precarização-do-homem-que-trabalha como ser humano-genérico. A manipulação – ou “captura” da subjetividade do trabalho pelo capital – assume proporções inéditas, inclusive na corrosão político-organizativa dos intelectuais orgânicos da classe do proletariado. Com a disseminação intensa e ampliada de formas derivadas de valor na sociedade burguesa hipertardia, agudiza-se o fetichismo da mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social, que tendem a impregnar as relações humano-sociais, colocando obstáculos efetivos à formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da classe social do proletariado.
Deste modo, o capitalismo global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena do fetichismo da mercadoria, expõe uma contradição crucial entre, por um lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado, a obstaculização efetiva – social, política e ideológica - da consciência de classe de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho.
Imerso em candentes contradições sociais, diante de uma dinâmica de acumulação de riqueza abstrata tão volátil, quanto incerta e insustentável, o capitalismo global explicita cada vez mais a sua incapacidade em realizar as promessas de bem-estar social e emprego decente para bilhões de homens e mulheres assalariados. Pelo contrário, diante da crise, o capital, em sua forma financeira e com sua personificação tecnoburocrática global (o FMI), como o deus Moloch, exige hoje sacrifícios perpétuos e irresgatáveis das gerações futuras.
Entretanto, ao invés de prenunciar a catástrofe final do capitalismo mundial, a crise estrutural do capital prenuncia, pelo contrário, uma nova dinâmica sócio-reprodutiva do sistema produtor de mercadorias baseado na produção critica de valor.
Apesar da crise estrutural, o sistema se expande, imerso em contradições candentes, conduzido hoje pelos pólos mais ativos e dinâmicos de acumulação de valor: os ditos “países emergentes”, como a China, Índia e Brasil, meras “fronteiras de expansão” da produção de valor à deriva. Enquanto o centro dinâmico capitalista – União Européia, EUA e Japão - “apodrece” com sua tara financeirizada (como atesta a crise financeira de 2008 que atingiu de modo voraz os EUA, Japão e União Européia), a periferia industrializada “emergente” alimenta a última esperança (ou ilusão) da acumulação de riqueza abstrata sob as condições de uma valorização problemática do capital em escala mundial (eis o segredo do milagre chinês).
Portanto, crise estrutural do capital não significa estagnação e colapso da economia capitalista mundial, mas sim, incapacidade do sistema produtor de mercadorias realizar suas promessas civilizatórias. Tornou-se lugar comum identificar crise com estagnação, mas, sob a ótica do capital, “crise” significa tão-somente riscos e oportunidades históricas para reestruturações sistêmicas visando a expansão alucinada da forma-valor. Ao mesmo tempo, “crise” significa riscos e oportunidades históricas para a formação da consciência de classe e, portanto, para a emergência da classe social de homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho e estão imersos na condição de proletariedade. Como diria Marx, Hic Rhodus, hic salta!
(*) Giovanni Alves é professor da UNESP, pesquisador do CNPq, atualmente fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra/Portugal e autor do livro “ Trabalho e Subjetividade – O “espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Editora Boitempo, 2011). Site: http://www.giovannialves.org /e-mail: giovanni.alves@uol.com.br
Amigos, pero no mucho...
Dilma e Chávez
Editorial - O Estado de S.Paulo
08 de junho de 2011
O governo brasileiro se mostra disposto a continuar cooperando com a Venezuela e até a ampliar os programas conjuntos, mas a presidente Dilma Rousseff parece dar um novo sentido à parceria entre Brasília e Caracas, com menor ênfase à ideologia e maior atenção aos interesses concretos de cada país. A presidente Dilma Rousseff aproveitou a visita do colega venezuelano, Hugo Chávez, para lembrá-lo de alguns compromissos pendentes. A estatal PDVSA deve cerca de US$ 1,4 bilhão à Petrobrás por atividades em campos petrolíferos na Venezuela. Afora isso, a empresa venezuelana jamais pagou um centavo para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, embora devesse cobrir 40% dos custos. Além disso, o comunicado conjunto menciona "a importância de garantir a continuidade dos projetos em execução" na Venezuela - hidrelétricas, estradas, trechos do metrô de Caracas e indústria processadora de alimentos, entre outros. Mais de uma vez empresários brasileiros queixaram-se de atrasos nos pagamentos. É difícil imaginar um motivo diferente e igualmente importante para a referência à garantia de continuidade desses investimentos.
As autoridades brasileiras foram discretas em relação a quase todos esses temas. De modo geral, foram discutidos em reuniões fechadas, mas a imprensa teve acesso, informalmente, às informações necessárias para avaliar o teor das conversas. Os brasileiros deram ênfase à segurança para a realização de negócios na Venezuela.
Novos acordos e memorandos foram firmados para a cooperação bilateral. O BNDES vai emprestar US$ 637 milhões para a PDVSA construir um estaleiro em Sucre, com participação de empresas brasileiras. Além disso, a Braskem comprará óleo e derivados da estatal venezuelana e contribuirá com US$ 4 bilhões para um fundo destinado a financiar obras de infraestrutura na Venezuela. A maior parte dos outros compromissos assinados durante a visita refere-se à cooperação técnica para o desenvolvimento da agricultura, para o planejamento territorial e para um programa de construção de 2 milhões de moradias.
O Brasil tem uma boa experiência em pesquisa agropecuária, em combate à aftosa e em modernização do agronegócio. O governo está em condições de oferecer uma cooperação valiosa nessas áreas. Mas essa colaboração dificilmente produzirá algum resultado positivo, se o regime do presidente Hugo Chávez se mantiver no rumo seguido até aqui. O governo bolivariano simplesmente destruiu boa parte da capacidade produtiva das fazendas venezuelanas.
Mas não se contentou com os danos causados à produção. Para conter a alta de preços, interferiu desastrosamente no comércio de alimentos, estatizando parte do sistema distribuidor. A ação catastrófica do governo transformou o país num grande importador de comida. Em seguida, promoveu um gigantesco desperdício, armazenando mal os produtos importados e administrando o abastecimento com grande incompetência.
Nenhuma ajuda técnica poderá mudar esse quadro, se o presidente Hugo Chávez insistir em sua política de combate à agropecuária produtiva. Se a presidente Dilma Rousseff se abstiver de aplaudir os desmandos cometidos pelo colega venezuelano, mostrará mais juízo do que o seu antecessor.
Seria igualmente sensato renunciar a novos esforços diplomáticos a favor da inclusão da Venezuela no Mercosul. Essa inclusão só depende agora dos parlamentares paraguaios, porque o apoio brasileiro, argentino e uruguaio já foi conseguido. O comunicado conjunto menciona a "perspectiva de pronta conclusão do processo", mas a atitude mais prudente é deixar a solução para muito mais tarde. A presença do presidente Hug0 Chávez na mesa das deliberações será mais um problema para o já emperrado bloco regional. A presidente Dilma Rousseff mostrou-se mais cautelosa que seu antecessor ao se manter distante da campanha eleitoral peruana. Acertará mais uma vez se mantiver essa prudência em toda a ação diplomática na América Latina.
Editorial - O Estado de S.Paulo
08 de junho de 2011
O governo brasileiro se mostra disposto a continuar cooperando com a Venezuela e até a ampliar os programas conjuntos, mas a presidente Dilma Rousseff parece dar um novo sentido à parceria entre Brasília e Caracas, com menor ênfase à ideologia e maior atenção aos interesses concretos de cada país. A presidente Dilma Rousseff aproveitou a visita do colega venezuelano, Hugo Chávez, para lembrá-lo de alguns compromissos pendentes. A estatal PDVSA deve cerca de US$ 1,4 bilhão à Petrobrás por atividades em campos petrolíferos na Venezuela. Afora isso, a empresa venezuelana jamais pagou um centavo para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, embora devesse cobrir 40% dos custos. Além disso, o comunicado conjunto menciona "a importância de garantir a continuidade dos projetos em execução" na Venezuela - hidrelétricas, estradas, trechos do metrô de Caracas e indústria processadora de alimentos, entre outros. Mais de uma vez empresários brasileiros queixaram-se de atrasos nos pagamentos. É difícil imaginar um motivo diferente e igualmente importante para a referência à garantia de continuidade desses investimentos.
As autoridades brasileiras foram discretas em relação a quase todos esses temas. De modo geral, foram discutidos em reuniões fechadas, mas a imprensa teve acesso, informalmente, às informações necessárias para avaliar o teor das conversas. Os brasileiros deram ênfase à segurança para a realização de negócios na Venezuela.
Novos acordos e memorandos foram firmados para a cooperação bilateral. O BNDES vai emprestar US$ 637 milhões para a PDVSA construir um estaleiro em Sucre, com participação de empresas brasileiras. Além disso, a Braskem comprará óleo e derivados da estatal venezuelana e contribuirá com US$ 4 bilhões para um fundo destinado a financiar obras de infraestrutura na Venezuela. A maior parte dos outros compromissos assinados durante a visita refere-se à cooperação técnica para o desenvolvimento da agricultura, para o planejamento territorial e para um programa de construção de 2 milhões de moradias.
O Brasil tem uma boa experiência em pesquisa agropecuária, em combate à aftosa e em modernização do agronegócio. O governo está em condições de oferecer uma cooperação valiosa nessas áreas. Mas essa colaboração dificilmente produzirá algum resultado positivo, se o regime do presidente Hugo Chávez se mantiver no rumo seguido até aqui. O governo bolivariano simplesmente destruiu boa parte da capacidade produtiva das fazendas venezuelanas.
Mas não se contentou com os danos causados à produção. Para conter a alta de preços, interferiu desastrosamente no comércio de alimentos, estatizando parte do sistema distribuidor. A ação catastrófica do governo transformou o país num grande importador de comida. Em seguida, promoveu um gigantesco desperdício, armazenando mal os produtos importados e administrando o abastecimento com grande incompetência.
Nenhuma ajuda técnica poderá mudar esse quadro, se o presidente Hugo Chávez insistir em sua política de combate à agropecuária produtiva. Se a presidente Dilma Rousseff se abstiver de aplaudir os desmandos cometidos pelo colega venezuelano, mostrará mais juízo do que o seu antecessor.
Seria igualmente sensato renunciar a novos esforços diplomáticos a favor da inclusão da Venezuela no Mercosul. Essa inclusão só depende agora dos parlamentares paraguaios, porque o apoio brasileiro, argentino e uruguaio já foi conseguido. O comunicado conjunto menciona a "perspectiva de pronta conclusão do processo", mas a atitude mais prudente é deixar a solução para muito mais tarde. A presença do presidente Hug0 Chávez na mesa das deliberações será mais um problema para o já emperrado bloco regional. A presidente Dilma Rousseff mostrou-se mais cautelosa que seu antecessor ao se manter distante da campanha eleitoral peruana. Acertará mais uma vez se mantiver essa prudência em toda a ação diplomática na América Latina.
FMI: uma candidatura dos antiglobalizadores - Todo o meu apoio
Eu gosto muito dos antiglobalizadores, como vocês sabem. E tenho muito a lhes agradecer.
Pelas bobagens que eles dizem, eles fornecem metade -- talvez mais -- da matéria prima que se me apresenta, de graça, para eu escrever meus artigos sobre a globalização, especialmente pelo lado das falácias econômicas (uma série que eu preciso retomar, mas que graças aos antiglobalizadores, justamente, já tenho material no pipeline para quatro ou cinco artigos).
Pois bem, eles nunca deixarão de me surpreender esse audaz bando de antiglobalizadores (que preferem chamar a si mesmos de altermundialistas). Que seja.
Eles apresentam agora um candidato, uma candidata para o FMI.
Pois eu dou todo o meu apoio.
O FMI ficaria muito mais divertido, e infinitamente mais interessante, com um antiglobalizador em sua direção.
Vamos ter um pouco de diversão.
Ou, let's have some fun, como diriam os franceses...
Paulo Roberto de Almeida
Soutenez la première candidature altermondialiste à la tête du FMI
Attac France a rendu publique hier la candidature de sa coprésidente Aurélie Trouvé à la direction du FMI (voir ci-dessous le communiqué de presse).
Pour que celle-ci soit prise en compte, il faut qu'elle soit soutenue par un gouverneur du FMI d'ici vendredi 10 juin, date limite de dépôt des candidatures.
Un comité de soutien à cette candidature est nécessaire pour appuyer cette demande auprès des gouverneurs.
Pour en faire partie, merci de transmettre vos coordonnées (nom, prénom, qualité) à l'adresse fmi@attac.org, ou en renseignant directement celles-ci sur le site d'Attac France → http://www.france.attac.org/soutenez-la-premiere-candidature-altermondialiste-la-tete-fmi
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La coprésidente d'Attac candidate à la direction générale du FMI
Le FMI joue un rôle décisif dans la régulation – ou plutôt l’absence de régulation – de la finance internationale. C’est pourquoi l’association Attac a décidé de proposer une candidature pour succéder à Dominique Strauss-Kahn.
Aurélie Trouvé, 31 ans, est maître de conférences en sciences économiques et coprésidente d'Attac depuis quatre ans. Elle est spécialiste des marchés agricoles, actuellement l’un des domaines de prédilection de la spéculation financière internationale. Elle bénéficie du soutien technique et politique du Conseil scientifique d’Attac, qui comporte de nombreux économistes spécialistes des questions financières. Si elle ne bénéficie pas encore du soutien officiel d’États, sa candidature suscitera l’intérêt de tous ceux, gouvernants ou citoyens, qui désirent remettre l’industrie financière à sa place, celle de soutien aux initiatives de l’économie réelle.
Depuis l’éclatement de la crise financière en 2008, ni le G20, ni le FMI, pas plus que le comité de Bâle ou les autorités nationales de régulation financière, n’ont pris de mesures pour réduire significativement l’instabilité des marchés financiers internationaux. La spéculation fait aujourd’hui rage sur les matières premières et les titres des dettes publiques.
Avec Dominique Strauss-Kahn, la politique du FMI a consisté, comme par le passé, à défendre inconditionnellement les intérêts des créanciers des États endettés, en imposant à ces derniers des plans d’austérité brutaux : Hongrie, Ukraine et Lettonie en 2008, Islande en 2009, Grèce, Espagne, Portugal, Irlande en 2010… Les banques et les fonds d’investissement sont les principaux bénéficiaires de politiques qui détruisent les solidarités sociales et mènent l’Union européenne au bord du gouffre.
Tout indique que Christine Lagarde fera encore pire que Dominique Strauss-Kahn. Christine Lagarde a été à la tête d'une technostructure du Ministère de l'Economie (Direction Générale du Trésor et Direction du Budget), composée de fonctionnaires ultralibéraux acquis aux intérêts financiers. C'est ainsi que la France a refusé en 2010 de soutenir l'Allemagne sur la question de l'interdiction de la spéculation sur les CDS (vente à nu à découvert). Les représentants de la France à Bruxelles ont toujours freiné les maigres initiatives de la Commission sur la régulation financière. Sur la question de la taxation des transactions financières, malgré le discours apparemment offensif de Nicolas Sarkozy, le ministère de Christine Lagarde s'est toujours refusé à produire des notes et études préparant une décision, et la France ne s'est jamais engagée réellement auprès de ses partenaires de l'Union européenne ou de l'Eurogroupe.
Aurélie Trouvé propose une réorientation fondamentale du FMI, partant du principe que la stabilité financière mondiale est un bien public qui doit être démocratiquement géré par la communauté internationale dans son ensemble. Son programme pour le FMI comporte donc :
- l’arrêt des plans d’austérité, et la mise en place d’une taxe sur les transactions financières et d’une stricte régulation des transactions sur les produits dérivés
- la coordination des politiques économiques au plan international, amenant les pays présentant des déséquilibres excessifs (Chine, Allemagne, Japon du côté des pays excédentaires, États-Unis du côté des pays déficitaires) à se rééquilibrer de façon coordonnée par des ajustements des taux de change ainsi que des politiques budgétaires et salariales actives ;
- le développement d’une monnaie internationale basée sur un panier des principales devises, comme alternative au dollar ;
- l’émission de Droits de tirage spéciaux pour aider les pays en difficulté durant la période de réduction des déséquilibres internationaux ou face à des chocs conjoncturels imprévus ;
- la démocratisation du FMI, par l’élargissement de son Conseil d’administration à tous les pays de la planète et l’intégration du FMI dans le système onusien, avec une voix pour chacun des 187 pays membres du Fonds : il s’agit d’en finir avec le pouvoir exclusif des grandes puissances.
C’est sur cette base qu’Attac a envoyé hier 1er juin 2011 au FMI la candidature officielle de Mme Aurélie Trouvé, 31 ans, économiste. Toute candidature doit être présentée par un des gouverneurs et administrateurs du FMI. L'association Attac compte sur le fair play de Christine Lagarde, actuel gouverneur du FMI pour la France.
Attac France,
Paris, le 6 juin 2011
Pelas bobagens que eles dizem, eles fornecem metade -- talvez mais -- da matéria prima que se me apresenta, de graça, para eu escrever meus artigos sobre a globalização, especialmente pelo lado das falácias econômicas (uma série que eu preciso retomar, mas que graças aos antiglobalizadores, justamente, já tenho material no pipeline para quatro ou cinco artigos).
Pois bem, eles nunca deixarão de me surpreender esse audaz bando de antiglobalizadores (que preferem chamar a si mesmos de altermundialistas). Que seja.
Eles apresentam agora um candidato, uma candidata para o FMI.
Pois eu dou todo o meu apoio.
O FMI ficaria muito mais divertido, e infinitamente mais interessante, com um antiglobalizador em sua direção.
Vamos ter um pouco de diversão.
Ou, let's have some fun, como diriam os franceses...
Paulo Roberto de Almeida
Soutenez la première candidature altermondialiste à la tête du FMI
Attac France a rendu publique hier la candidature de sa coprésidente Aurélie Trouvé à la direction du FMI (voir ci-dessous le communiqué de presse).
Pour que celle-ci soit prise en compte, il faut qu'elle soit soutenue par un gouverneur du FMI d'ici vendredi 10 juin, date limite de dépôt des candidatures.
Un comité de soutien à cette candidature est nécessaire pour appuyer cette demande auprès des gouverneurs.
Pour en faire partie, merci de transmettre vos coordonnées (nom, prénom, qualité) à l'adresse fmi@attac.org, ou en renseignant directement celles-ci sur le site d'Attac France → http://www.france.attac.org/soutenez-la-premiere-candidature-altermondialiste-la-tete-fmi
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La coprésidente d'Attac candidate à la direction générale du FMI
Le FMI joue un rôle décisif dans la régulation – ou plutôt l’absence de régulation – de la finance internationale. C’est pourquoi l’association Attac a décidé de proposer une candidature pour succéder à Dominique Strauss-Kahn.
Aurélie Trouvé, 31 ans, est maître de conférences en sciences économiques et coprésidente d'Attac depuis quatre ans. Elle est spécialiste des marchés agricoles, actuellement l’un des domaines de prédilection de la spéculation financière internationale. Elle bénéficie du soutien technique et politique du Conseil scientifique d’Attac, qui comporte de nombreux économistes spécialistes des questions financières. Si elle ne bénéficie pas encore du soutien officiel d’États, sa candidature suscitera l’intérêt de tous ceux, gouvernants ou citoyens, qui désirent remettre l’industrie financière à sa place, celle de soutien aux initiatives de l’économie réelle.
Depuis l’éclatement de la crise financière en 2008, ni le G20, ni le FMI, pas plus que le comité de Bâle ou les autorités nationales de régulation financière, n’ont pris de mesures pour réduire significativement l’instabilité des marchés financiers internationaux. La spéculation fait aujourd’hui rage sur les matières premières et les titres des dettes publiques.
Avec Dominique Strauss-Kahn, la politique du FMI a consisté, comme par le passé, à défendre inconditionnellement les intérêts des créanciers des États endettés, en imposant à ces derniers des plans d’austérité brutaux : Hongrie, Ukraine et Lettonie en 2008, Islande en 2009, Grèce, Espagne, Portugal, Irlande en 2010… Les banques et les fonds d’investissement sont les principaux bénéficiaires de politiques qui détruisent les solidarités sociales et mènent l’Union européenne au bord du gouffre.
Tout indique que Christine Lagarde fera encore pire que Dominique Strauss-Kahn. Christine Lagarde a été à la tête d'une technostructure du Ministère de l'Economie (Direction Générale du Trésor et Direction du Budget), composée de fonctionnaires ultralibéraux acquis aux intérêts financiers. C'est ainsi que la France a refusé en 2010 de soutenir l'Allemagne sur la question de l'interdiction de la spéculation sur les CDS (vente à nu à découvert). Les représentants de la France à Bruxelles ont toujours freiné les maigres initiatives de la Commission sur la régulation financière. Sur la question de la taxation des transactions financières, malgré le discours apparemment offensif de Nicolas Sarkozy, le ministère de Christine Lagarde s'est toujours refusé à produire des notes et études préparant une décision, et la France ne s'est jamais engagée réellement auprès de ses partenaires de l'Union européenne ou de l'Eurogroupe.
Aurélie Trouvé propose une réorientation fondamentale du FMI, partant du principe que la stabilité financière mondiale est un bien public qui doit être démocratiquement géré par la communauté internationale dans son ensemble. Son programme pour le FMI comporte donc :
- l’arrêt des plans d’austérité, et la mise en place d’une taxe sur les transactions financières et d’une stricte régulation des transactions sur les produits dérivés
- la coordination des politiques économiques au plan international, amenant les pays présentant des déséquilibres excessifs (Chine, Allemagne, Japon du côté des pays excédentaires, États-Unis du côté des pays déficitaires) à se rééquilibrer de façon coordonnée par des ajustements des taux de change ainsi que des politiques budgétaires et salariales actives ;
- le développement d’une monnaie internationale basée sur un panier des principales devises, comme alternative au dollar ;
- l’émission de Droits de tirage spéciaux pour aider les pays en difficulté durant la période de réduction des déséquilibres internationaux ou face à des chocs conjoncturels imprévus ;
- la démocratisation du FMI, par l’élargissement de son Conseil d’administration à tous les pays de la planète et l’intégration du FMI dans le système onusien, avec une voix pour chacun des 187 pays membres du Fonds : il s’agit d’en finir avec le pouvoir exclusif des grandes puissances.
C’est sur cette base qu’Attac a envoyé hier 1er juin 2011 au FMI la candidature officielle de Mme Aurélie Trouvé, 31 ans, économiste. Toute candidature doit être présentée par un des gouverneurs et administrateurs du FMI. L'association Attac compte sur le fair play de Christine Lagarde, actuel gouverneur du FMI pour la France.
Attac France,
Paris, le 6 juin 2011
Livros: uma historia perturbadora (e se ja tivesse acontecido?)
Abaixo a publicidade de um novo romance, no site da Barnes and Nobles.
Por vezes eu me pergunto se isso já não aconteceu no Brasil.
Não exatamente como uma rebelião de robôs inteligentes contra nós.
Mas, mais exatamente, pelo lado contrário: uma dominação dos mais néscios entre nós...
Perturbador, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
Robopocalypse
by Daniel H. Wilson
Imagine a near future in which the myriad technologies we have come to rely on—for everything from directions to national defense—turn against us. In this seductively disturbing novel, an artificial intelligence that calls itself Archos assumes the sinister persona of a shy boy, fomenting a global machine rebellion that may well destroy humanity—or, for the first time in history, unite us. Daniel Wilson's novel will have you turning pages and looking over your shoulder at the same time.
Por vezes eu me pergunto se isso já não aconteceu no Brasil.
Não exatamente como uma rebelião de robôs inteligentes contra nós.
Mas, mais exatamente, pelo lado contrário: uma dominação dos mais néscios entre nós...
Perturbador, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
Robopocalypse
by Daniel H. Wilson
Imagine a near future in which the myriad technologies we have come to rely on—for everything from directions to national defense—turn against us. In this seductively disturbing novel, an artificial intelligence that calls itself Archos assumes the sinister persona of a shy boy, fomenting a global machine rebellion that may well destroy humanity—or, for the first time in history, unite us. Daniel Wilson's novel will have you turning pages and looking over your shoulder at the same time.
FMI: quem disse que os EUA dominam ilegitimamente?
Este artigo da Economist coloca as coisas nos devidos lugares.
Para chegar a esta conclusão, basta saber contar (mas isso vocês não vão aprender num livro do MEC...)
Paulo Roberto de Almeida
IMF influence
Light-weight BRICS
The Economist, June 6th 2011
How IMF voting shares compare with global economic heft
MANY argue that IMF vote-shares (and the amounts countries are required to put into the fund's kitty) should reflect countries' relative economic heft. At the moment, however, that is far from being the case. Taken together, the economies of the European Union countries amount to just under 24% of the global economy. The economies of Brazil, Russia, India, China and South Africa together make up about 21% of world GDP. But the European countries have 32% of the votes in the IMF, while the BRICS have 11%. No wonder the BRICS' representatives to the fund issued a rare joint statement deploring Europe's lock on the top job at the IMF, which is made possible in part by the fact that Europe and America between them have nearly 50%of the votes in the IMF's board. Proportionately, sub-Saharan Africa, (excluding South Africa) is the most over-represented region, with 3.1% of the vote but a mere 1.35% of the world economy
Para chegar a esta conclusão, basta saber contar (mas isso vocês não vão aprender num livro do MEC...)
Paulo Roberto de Almeida
IMF influence
Light-weight BRICS
The Economist, June 6th 2011
How IMF voting shares compare with global economic heft
MANY argue that IMF vote-shares (and the amounts countries are required to put into the fund's kitty) should reflect countries' relative economic heft. At the moment, however, that is far from being the case. Taken together, the economies of the European Union countries amount to just under 24% of the global economy. The economies of Brazil, Russia, India, China and South Africa together make up about 21% of world GDP. But the European countries have 32% of the votes in the IMF, while the BRICS have 11%. No wonder the BRICS' representatives to the fund issued a rare joint statement deploring Europe's lock on the top job at the IMF, which is made possible in part by the fact that Europe and America between them have nearly 50%of the votes in the IMF's board. Proportionately, sub-Saharan Africa, (excluding South Africa) is the most over-represented region, with 3.1% of the vote but a mere 1.35% of the world economy
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